quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O inesgotável ódio a Lula – exemplos são muitos

O ocorrido a propósito do título concedido pelo instituto francês Sciences Po ao ex-presidente faz lembrar outros episódios em que a mídia demonstra seu preconceito raivoso

Atualizado às 21:28

Os protestos de jornalistas brasileiros contra a concessão do título Honoris Causa ao ex-presidente Lula, pelo instituto francês Sciences Po, o primeiro da instituição a um latino-americano, é mais um de muitos emblemas do preconceito, e um dos maiores (mas há outros). A partir do texto “Escravistas contra Lula”, do jornal argentino Página 12, o blogueiro Eduardo Guimarães abordou o tema no seu Blog da Cidadania. Outros blogs continuaram a repercussão.

O propósito deste post aqui não é recontar o fato (que pode ser conhecido em detalhes nos links acima), mas lembrar alguns outros episódios marcantes do ódio de classe e, por ele ser nordestino, do racismo contra Lula.

1) Larry Rohter - Ocorreu-me o “célebre” texto do jornalista Larry Rohter, para o New York Times, “Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional”. O que mais incomodou naquela matéria de maio de 2004, de resto mais tola do que séria, foi menos o texto em si do que o regozijo com que foi recebida pela imprensa brasileira.

A Folha de São Paulo, por exemplo, começava assim a matéria repercutindo o assunto: “O jornal The New York Times, o principal dos EUA e um dos mais influentes do mundo, publica na página 6 da edição deste domingo (9) uma reportagem...”

O leitor percebe que as qualificações da frase “o principal dos EUA e um dos mais influentes do mundo” servem como recurso de retórica para respaldar a “verdade” de que Lula é um beberrão. Curiosamente, nem a Folha nem o jornalista do NYT se lembraram de registrar que o então presidente George W. Bush é um reconhecido e assumido amante do álcool, e não se trata aqui do combustível para carros.

Acontece que – e ignorar isso é um dos principais erros da “nossa” mídia – o povão que adora Lula não bebe no pântano do preconceito, mas, ao contrário, é vítima dele. Quando, em um dos milhões de botecos do Brasil, o cara cansado da lida toma sua cachacinha no fim do dia, e vê uma informação como essa na TV do boteco, por meio da qual a intenção é difamar o presidente cachaceiro, aquele homem do povo não recebe a informação como querem os donos dos meios: o que ocorre é uma identificação imediata com o homem mais poderoso da República, mas que, entretanto, faz o que ele – pedreiro, metalúrgico, pintor ou mecânico – faz.

2) Capa da Folha - Na noite do dia 29 de setembro de 2006, o Jornal Nacional ignorou a queda de um avião da Gol para ocupar todo o tempo falando do “dinheiro do dossiê”, tentando evitar que Lula se reelegesse já no primeiro turno. No dia seguinte, a Folha de S. Paulo deu a capa que para mim é um dos maiores símbolos do preconceito da elite “escravocrata” (como diz o Página 12) brasileira contra Lula. A mensagem é subliminar. Acima, a foto do dinheiro apreendido pela Polícia Federal; abaixo, a imagem do presidente Lula, encapuzado, de forma a colar nele a imagem de um criminoso.

3) Capa da Veja - Desferindo toda sorte de mísseis de seu jornalismo indecente contra Lula desde seu primeiro mandato, a revista Veja trabalhou sistematicamente por oito anos tentanto propagar o preconceito da “elite branca”, a burguesia “cínica e perversa” (Claudio Lembo), mas não conseguiu nada, a não ser proporcionar um lazer tacanho a seus próprios leitores. Entre muitas capas em que exibe o nível vulgar de seu “jornalismo”, talvez a que expresse com maior propriedade o ódio de classe ao “sapo barbudo” é a que vai aí ao lado.

4) Caetano Veloso - Mais chocante do que as esperadas agressões da mídia, não se pode esquecer que ninguém menos do que Caetano Veloso chamou o então presidente Lula de “analfabeto”. Sobre esse fato, eu já escrevi na época: Uma triste polêmica

Vou parando por aqui, pois esses são apenas alguns dos episódios que manifestam ódio e preconceito contra Lula. Quantas vezes já lemos (por exemplo na seção de cartas do Estadão, onde podemos quase ver a baba da raiva) que Lula “não trabalha” ou ouvimos por aí que “é vagabundo”?

A propósito, e para encerrar, lembro de Bernardo Kucinski, em artigo na Rede Brasil Atual de 2008. Diz ele: “O preconceito contra Lula tem pelo menos duas raízes: a visão de classe, de que todo operário é ignorante, e a supervalorização do saber erudito, em detrimento de outras formas de saber, tais como o saber popular ou o que advém da experiência ou do exercício da liderança. Também não se aceita a possibilidade de as pessoas transitarem por formas diferentes de saber”.

Publicado originalmente às 19:24 de 29/09/2011

Apesar da CBF, como é bom ganhar
dos hermanos – com todo respeito


Brasil 2 x 0 Argentina

Os gols estão infelizmente na voz de Galvão Bueno (quando o Youtube disponibilizar vídeo com outra narração, eu atualizo):





Sobre o jogo

Não sou um torcedor exemplar da seleção brasileira, digo, balcão de negócios. Mas Brasil x Argentina é um clássico que me faz perder os pudores políticos. No me gusta Ricardo Teixeira e Mano Menezes. Porém, não consigo ficar neutro. A vitória do Brasil sobre os hermanos por 2 a 0 no Mangeirão, em Belém do Pará, numa disputa entre dois times jovens, teve o sabor da vitória do futebol brasileiro, independentemente das mazelas que regem a burocracia desse gigantesco negócio chamado futebol, pelo qual responde, em nosso país, a entidade que atende pelo nome de Confederação Brasileira de Futebol, vulga CBF.

Tirando a parte desagradável, Neymar e Ronaldinho Gaúcho, com seus balés e dribles desconcertantes; Cortês, do Botafogo, agradável surpresa na lateral esquerda, que tem jogado bem pelo Botafogo e demonstrou personalidade ao manter o padrão na seleção; Danilo do Santos pela direita (nenhuma surpresa); e o excelente goleiro do Botafogo Jefferson, que para mim é o nome a pôr fim à dinastia de Julio Cesar, são os nomes da primeira vitória digna de nota de Mano Menezes como treinador do time após mais de um ano de comando.

Os gols brasileiros foram muito bonitos, ambos em contra-ataques, bem ao estilo gaúcho de Mano Menezes. No primeiro, Lucas recebeu passe magistral de Danilo e soube definir unindo velocidade e precisão; no segundo, Cortês fez toda a jogada a partir da defesa, até tocar para Diego Souza que, de primeira, cruzou para Neymar executar o goleirão Orión, nome de constelação.

Obervações:

- a dupla de zaga Rever e Dedé me agrada. Chega de Lúcio;

- sem Paulo Henrique Ganso, falta criatividade ao meio de campo, hoje (ontem) com os muito discutíveis Ralf e Rômulo. Gaúcho não é um armador. Mas acho que, se estiver com vontade, Ronaldinho tem que estar nesse time, digo, balcão de negócios.

PS (às 12:46): Uma observação necessária. Ganhar da Argentina é muito bom, pela rivalidade esportiva. Mas, âmbito esportivo à parte, adoro Buenos Aires e tenho amigos argentinos. Pronto, deixei claro.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Líbia: "Vi morrer crianças, mulheres, homens... como se fossem animais"

Foto: Reprodução

Este abaixo é o trecho de matéria publicada ontem no jornal espanhol El País, com impressionante depoimento de um refugiado:

Praticamente todos os edifícios grandes foram destruídos”, afirmou um refugiado. “Não vi guerra mais suja do que esta, queixava-se o líbio de origem palestina Sami Alderramán. Os rebeldes combatem desde as 11 da manhã às sete da tarde. Mas o pior são os bombardeios da Otan, que ocorrem frequentemente a partir das 11 (23 horas). E disparam contra qualquer edifício. (...) Vi morrer crianças, mulheres, homens... como se fossem animais. Eu peguei minha família e a coloquei num porão, e quando pudemos saímos dali. Não há luz, apenas alimentos.... Nos últimos seis meses, pode ser que tenham morrido em Sirte umas 3 mil pessoas.” A matéria do El País  está aqui.

Atentemos para o fato de que, se a estimativa do homem estiver próxima da verdade, o número de mortos civis vítimas dos bombardeios e da luta sangrenta entre forças leais a Muamar Khadafi apenas em Sirte, cidade natal do ditador, é equivalente aos que morreram nas Torres Gêmeas em Nova York no 11 de setembro de 2001.

Ontem, terça-feira, 27 de setembro, as forças leais ao chamado “novo governo” chegaram ao centro de Sirte. Segundo as agências internacionais, os combatentes anti-Khadafi assumiram o controle do porto e de vários pontos estratégicos. Segundo os combatentes, Muamar Khadafi estaria em Ghadamis, perto da fronteira com a Argélia. Ele teria dito que vai lutar até o fim.

A pergunta que fica: a Líbia vai se transformar num novo Iraque?

Leia também: Amanhece em Trípoli

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Na reta final, Brasileirão é uma teia de incógnitas


Atlético-MG e Cruzeiro são os times grandes mais ameaçados pelo rebaixamento. Na parte de cima da tabela, após 26 rodadas, não há sequer uma ameaça de favoritismo



Internacional, Flamengo, Cruzeiro, Santos e São Paulo são os cinco únicos times grandes que nunca foram rebaixados no Campeonato Brasileiro. Em 2011, após 26 rodadas, o Cruzeiro dá sinais de que pode abandonar essa lista de privilegiados. Cada vez mais perto da zona do rebaixamento, a Raposa está apenas quatro pontos à frente do primeiro time da lista dos que hoje cairiam. E qual é esse time? Justamente o Atlético-MG.

Vai sair faísca. Raposa e Galo se enfrentam exatamente na última rodada, talvez precisando do resultado para ficar na Série A, embora a contratação de Vágner Mancini possa dar aquela levantada que costuma acontecer quando um time em declínio contrata um novo treinador. É a esperança cruzeirense.

Faltando 12 rodadas, a situação do Z 4, a zona da degola, é a seguinte:


No ano passado, na mesma 26ª rodada, o Atlético-MG também estava a bordo do barco dos náufragos, mas conseguiu escapar graças à chegada de Dorival Júnior. Dos quatro times que em 2010, faltando 12 jogos, eram os últimos, o Galo se salvou junto com o Atlético-GO. Os atléticos deram seus malfadados lugares a Vitória e Guarani. Veja as tabelas abaixo, comparando a situação da zona do desespero na 26ª e na última rodada do Brasileirão de 2010.


A luta para não cair tem sido um martírio para a fanática torcida atleticana. O Galo parece gostar do namoro e até de casar com a série B, onde jogou em 2006 após ser rebaixado com o técnico Lori Sandri no ano anterior.

Na parte de cima, emoção

Olhando para a parte de cima da tabela, vemos que após 26 rounds a coisa é a materialização do equilíbrio, mas um equilíbrio que a meu ver decorre de um nivelamento por baixo. Nenhum time tem pinta de campeão e o Santos, que é o melhor de todos, saiu muito tarde da ressaca da Libertadores. A derrota para o Figueirense na Vila por 3 a 2, embora tenha decepcionado os santistas que já apostavam em quantas rodadas o time chegaria à liderança, não é o fator determinante de o time perder o título.

Em 2010, o Fluminense foi campeão com 71 pontos (veja tabelas comparando 2010 e 2011). Este ano, dado o extremo equilíbrio e a oscilação tremenda dos times, esse número deve baixar. Suponhamos que o campeão chegue a 69 pontos. Se assim for, hipopteticamente o Peixe precisaria de mais 34. Ou, de 14 jogos que tem a fazer, onze vitórias e um empate, podendo perder ainda dois jogos (o time deve duas partidas, contra Grêmio e Botafogo).

Entre Vasco, Corinthians, São Paulo e Botafogo (um jogo a menos) é impossível prever o que vai acontecer. O Vasco da Gama, campeão da Copa do Brasil, abre a 5ª colocação para uma vaga a mais na Libertadores.

O Fluminense pode comer pelas beiradas e beliscar o bi, mas acho improvável. Na próxima rodada, no sábado, o Flu recebe o Santos. Será quase um mata-mata. Jogão será Vasco x Corinthians em São Januário. São Paulo x Flamengo no Morumbi também promete. E o Botafogo vai a Goiás pegar o desesperado Atlético-GO.

Preparem as trombetas.

Clique na imagem para ampliar

Crônica sobre os dez anos da Revista Fórum

A mesmice do noticiário político, esportivo e cultural dos últimos dias e a preguiça justa de quem trabalha diuturnamente, e às vezes precisa de descanso, me impediram de atualizar o blog nesse período.

Esse marasmo foi quebrado pela ótima festa de 10 anos da revista Fórum. O evento foi realizado na Casa Fora do Eixo, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Que é, para quem não conhece, um casarão que se ocupa como um território livre. Por esse território livre passaram no sábado, 24 de setembro, além do editor da Fórum Renato Rovai, figuras muito influentes, influentes, pouco influentes, nada influentes, importantes, desimportantes, carismáticas e neutras.

Foi agradabilíssimo tomar uma cerveja com Carmem Machado e Thiago Balbi, da editoria de arte de Fórum.

E com o Glauco Faria da Fórum e do Futepoca, que entra na categoria dos santistas como Gabriel, que, monitorando via rádio o que acontecia na Baixada Santista, informou por fim que o Santos havia perdido do Figueirense por 3 a 2 na Vila. O Victor, do Cartão Laranja, recebeu a informação com incredulidade, mas se resignou. A também santista e prima Sílvia (que tem o sobrenome do avô que não conhecemos), que não conhece a Vila Belmiro, foi informada pelo Glauco que na religião alvinegra praiana não conhecer a Vila é uma falta grave, para não dizer pecado.

O dia/noite foi também de rever o companheiro atleticano Frédi Vasconcelos, que, embora não tenha me confessado isso, está muito preocupado com a possibilidade de o Galo cair pra segundona de novo, e o companheiro fotógrafo Gerardo Lazzari, torcedor empedernido do Estudiantes, da Argentina.

Pelos debates, circularam, entre várias outras, as figuras de Luiz Carlos Azenha, Rodrigo Vianna, Luis Nassif, Maria Frô, Vange Leonel, José Dirceu e Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, que me marcou por um sorriso franco, num cumprimento de longe.

A festa dos 10 anos da Fórum me lembrou um evento de 28 anos atrás, quando eu não tinha nem 23 anos, em 22 de setembro de 1983, e a PUC-SP comemorava ao contrário a invasão de seu campus pelo coronel Erasmo Dias em 22 de setembro de 1977. Naquela data de 1983, brilhavam figuras como Edu, o “Imperador”, José Arrabal, mestre de vários alunos, Eloi Gugelmin, Maravilha, Zanata, Paulo Baroukh e alguns mais, os amigos deles, nós, outros, e todos, dentre os quais alguns eu sei onde estão e o que fazem. Outros não.

Atualizado à 01:15

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Rogério Ferrari: “Na Palestina, a câmera era a minha pedra”


ENTREVISTA

Este post e esta entrevista (feita no domingo, 18 de setembro, por telefone) são dedicados à semana do embate nas Nações Unidas pelo reconhecimento pleno do Estado da Palestina, conforme defendeu a presidente Dilma Rousseff hoje, ao abrir a Assembleia Geral da ONU.

Arquivo pessoal

Conheci o antropólogo e fotógrafo Rogério Ferrari em 2006 em Salvador, onde eu estava cobrindo o 2º Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual para a revista Fórum. Na época conheci seu livro A Eloquência do Sangue, edição de fotografias feitas entre janeiro e março de 2002 na Cisjordânia e na faixa de Gaza, aonde foi com pouco dinheiro para “fazer um trabalho que representasse um contraponto às informações difundidas historicamente com relação à Palestina”.

As fotos do livro, em preto e branco, retratam a luta das pedras (mas não só pedras, alguns fuzis também) contra o poderoso exército de Israel. Retratam os funerais dos jovens, o cotidiano de luta e dor, as pichações, as crianças palestinas, os check points e as barreiras militares. Muitas fotos foram feitas dentro do teatro da guerra propriamente. São fotos com movimento, fortes, impressionantes. E acima de tudo belas.

Ferrari passou três meses na Palestina para produzir as fotos de A Eloquência do Sangue (edição do autor), esgotado. Mas há uma edição mais recente, francesa (Ed. Le passager clandestin – 2008), que inclui o trabalho feito nos campos de refugiados palestinos na Jordânia e no Líbano. “É uma versão mais atual, que é uma intenção de dar amplitude dessa tragédia e dessa resistência”, diz o fotógrafo.

Autor de outras obras construídas a partir de fotografias in loco sobre os curdos e os zapatistas, Rogério Ferrari lança em setembro livro e exposição sobre outro povo excluído: Ciganos, quem são eles?

Os livros do fotógrafo (veja abaixo, depois desta entrevista) podem ser adquiridos por meio do e-mail do próprio autor, em seu site neste link: Rogério Ferrari.

Por Eduardo Maretti

Fatos Etc.: No seu livro A Eloquência do Sangue há um texto do poeta palestino Mahmud Darwish que diz: “O que vemos agora é expressão de um povo que não tem outra escolha a não ser resistir”. Dá para esperar que algo mude essa resistência e essa dor a partir das Nações Unidas?
Rogério Ferrari: Com relação À ONU, é difícil ter uma expectativa positiva porque, a exemplo de tudo o que está acontecendo no mundo, ela está longe de ser realmente uma representação dos interesses da comunidade internacional. O que acaba prevalecendo é a influência e o poder dos Estados Unidos, com a conivência de outras potências. A Palestina é uma expressão maior dessa incompetência e conivência da ONU com relação a esse conflito, na medida em que todas as resoluções por ela aplicadas sobre Israel são desrespeitadas e não há nenhuma conseqüência, por conta da blindagem que Israel tem, sobretudo pelo apoio dos EUA. Apesar de todo o discurso de Obama, os EUA vão ser contra o reconhecimento da Palestina como Estado permanente. Então é uma incógnita, e incógnita seria a expressão do nosso otimismo, por conta da possibilidade de alguma surpresa. Mas, sabendo como se comporta a ONU e os exemplos do que vem sendo a ordem política internacional, grande expectativa a gente não pode ter.

Foto: Rogério Ferrari/2002

Você acha que o mundo mudou para melhor, para pior ou continua igual com Barack Obama?
Eu acho que mudou não por conta de uma política resultante da presença de Obama como presidente dos Estados Unidos, mas em decorrência de tudo o que a gente tem visto acontecer, que, de alguma forma, independe da vontade dos Estados Unidos, a exemplo do Egito, que é uma situação que estabelece uma relação diferente, a transformação de um Estado árabe poderoso como o Egito, antes completamente conivente e apoiador da política dos EUA e parceiro de Israel.

Você tem atração por trabalhos com claro cunho social e político. O que especialmente te levou à Palestina?
Fui justamente por conta dessa condição mínima de fotógrafo, fotojornalista, de fazer um trabalho que representasse um contraponto às informações que são difundidas historicamente com relação à Palestina. À exceção de alguns meios alternativos que poucas pessoas acessam, a informação corrente é a que estigmatiza o palestino com a ideia de terrorista e tudo mais, tudo isso que a gente já sabe. A decisão de ir pra lá foi movida por essa inquietação, por esse propósito de proporcionar uma informação sob um outro ponto de vista que não estigmatiza o conflito, primeiro colocando os palestinos como terroristas e algozes e também plantando a versão de que é um problema de religião, quando a gente sabe que é um problema básico e fundamental de terra e do direito de um povo à autodeterminação.

Capa de A Eloquencia do Sangue
Em sua viagem, você chegou a ficar várias horas sob a mira de fuzis de soldados israelenses em determinado dia, não é?
Sim, isso aconteceu. O que acontece com o povo palestino é humilhação e agressão. Os check points e as barreiras militares. Saramago disse que, guardadas as proporções, não há uma diferença essencial entre as cidades palestinas e os campos de concentração em que viveram os judeus a repressão nazista. Eu, por estar lá e ter uma aparência árabe, fui submetido a essa situação que o povo palestino passa todos os dias, que é a revista, a agressão, a ameaça. Fiquei oito horas detido sob a acusação de ser membro da Jihad islâmica,com fuzil apontado para a cabeça, com revista ostensiva, interrogatório em árabe, enfim, uma situação que dá a dimensão do que é ser palestino, ainda que eu tenha passado por isso não mais do que três vezes. Então, vivendo isso, você tem condição de entender por que a decisão de tornar-se um homem bomba, de fazer a resistência se utilizando do corpo como último recurso.

Você teve medo de morrer, nesse ou em outros momentos?
Esse momento foi realmente um momento em que eu senti medo porque eu estava numa situação de completo isolamento, cercado, diferentemente de outras circunstâncias que, porém, eram mais arriscadas em situação de conflito, de estar no meio dos palestinos fazendo a resistência com pedras, e do outro lado os israelenses com o exército super-armado, atacando as cidades e atirando frontalmente. Então tinham duas dimensões: a de estar numa situação que eu escolhi, não por propensão a ser mártir, mas correndo o risco que era próprio do trabalho que eu me dispus a fazer, e uma outra, numa circunstância que eu senti um medo maior porque eu estava isolado e detido no meio dos israelenses que poderiam fazer qualquer coisa comigo.


Foto: Rogério Ferrari/2002 - clique para ampliar
Algumas fotos do seu livro são feitas dentro do teatro da guerra mesmo. O que você sentia?
É uma sensação realmente confusa, porque não é uma adrenalina no sentido da busca da aventura, do risco, de me nutrir do espetáculo da guerra, tanto que eu não me considero nem me digo um correspondente de guerra, nesse aspecto de estar buscando os conflitos e as situações de guerra pra retratar, mas, sim, é uma escolha a partir de uma identificação política e ideológica com determinados assuntos. No caso da Palestina, digamos que a câmara era minha pedra, e eu procurei dentro do possível não estabelecer essa distância, essa relação objetiva como se supõe que deve haver no jornalismo. Isso poderia de alguma forma ser considerado uma imprudência, uma inconseqüência, por conta do risco. Mas foi uma coisa que eu me dispus a fazer e, consciente ou inconscientemente, às vezes eu me via em situações que... realmente eu poderia não mais estar aqui.

O que mais te marcou ou foi impactante?
São dois sentimentos: de imediato, provoca uma sensação de impotência, tamanho o domínio, tamanha a opressão e tamanha conivência e paralisia do mundo diante desse conflito, e de outro lado a determinação do povo palestino de não se render. E paralelamente a isso, diante de tanta repressão e sofrimento, você vê um povo altivo, hospitaleiro, que expressa o desejo de paz.

Você pretende em algum momento voltar à Palestina?
Espero em algum momento poder voltar pra compartilhar a vitória palestina e de alguma forma também ampliar o trabalho e poder retratar coisas mais atuais. A idéia de voltar, eu quero pensá-la mais quanto à perspectiva de celebrar a vitória do que voltar pra retratar a mesma realidade. Porque um aspecto da tragédia palestina, sobretudo do ponto de vista fotográfico, se você esteve lá vinte, trinta anos atrás, é a mesma realidade de hoje.

Outros livros do autor:

Ciganos, quem são eles? (lançamento: setembro de 2011)
- Zapatistas - a velocidade do sonho. Entrelivros - Thesaurus - Brasília, 2006
- Curdos uma nação esquecida. Edição do autor - Salvador, 2007
- Palestine. Passager Cladestin. França. 2008

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dilma abre 66ª Assembleia Geral da ONU – veja discurso na íntegra

Presidente foi muito aplaudida ao falar da Palestina: “Lamento não poder saudar desta tribuna o ingresso pleno da Palestina nas Nações Unidas" 

Leia trechos e assista (link abaixo), na íntegra, ao discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura da 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no qual ela expressou com firmeza as posições brasileiras sobre assuntos como os abaixo, entre outros.

Voz feminina

“Pela primeira vez na historia das Nações Unidas uma voz feminina inaugura o debate geral. É a voz da democracia. É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nessa tribuna que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo.”



Crise financeira internacional

“Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. (...) Como todos os países sofrem as consequências da crise, todos têm o direito de participar das soluções.”

Conselho de Segurança

“O Brasil está pronto para assumir suas responsabilidades como membro permanente do Conselho [de Segurança da ONU].”

Direitos humanos

“Há violações em todos os países, sem exceção. Reconheçamos essa realidade e aceitemos todos as críticas.”

Palestina (Dilma foi interrompida por aplausos)

“Lamento não poder saudar desta tribuna o ingresso pleno da Palestina nas Nações Unidas. O Brasil já reconheceu o Estado Palestino como tal nas fronteiras de 1967 (...) Assim como a maioria dos países aqui presentes, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título (...) Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras, e estabilidade política em seu entorno regional

“Venho de um país onde descendentes de árabes e judeus são compatriotas e convivem em harmonia, como deve ser.”

Leia também: Ato em São Paulo pede reconhecimento do Estado da Palestina

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ato em São Paulo pede reconhecimento do Estado da Palestina

Embaixador palestino Ibrahim Alzeben fala ao  blog: "somos otimistas de que o Direito vai prevalecer"

Foi realizado hoje, 20 de setembro, no centro de São Paulo, ato reunindo movimentos sociais, sindicatos e lideranças políticas pelo reconhecimento do Estado da Palestina. A manifestação contou com cerca de mil pessoas, se iniciou na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, e depois seguiu em passeata à Câmara Municipal.

O pedido para que o Estado palestino se torne um membro pleno da ONU deve ser encaminhado à Assembleia Geral da na sexta-feira pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. A questão deve também ser apreciada pelo Conselho de Segurança da ONU, onde os Estados Unidos (junto com Grã Bretanha, China, Rússia e França) têm poder de veto e já disseram que o usarão. A decisão do Conselho pode não sair nos próximos dias.

Na manifestação na capitalpaulista, eu conversei com o embaixador palestino em Brasília, Ibrahim Alzeben, sobre suas expectativas.

Foto: Eduardo Maretti
Ibrahim Alzeben no centro de São Paulo

O senhor está otimista em relação ao pedido de reconhecimento do Estado Palestino nas Nações Unidas?
Ibrahim Alzeben: Nós estamos vendo com determinação e esperança, e sempre somos otimistas de que o Direito vai prevalecer, que a paz vai prevalecer.

Como o senhor vê a abordagem pela mídia brasileira do pleito palestino na ONU?
Alzeben: A mídia está acompanhando de maneira muito positiva, muito objetiva, e agradecemos realmente todos os espaços que estão nos cedendo para esclarecer esse processo, esclarecer essa luta.

O senhor não acha que os grandes jornais claramente apóiam Israel?
Alzeben: Eu não posso afirmar ou dizer isso, porque eu chamo a todos os meios a informar a verdade, a serem o mais objetivos possível. É uma luta pela libertação, é uma luta pela paz, é uma luta pela convivência entre israelenses e palestinos, com base no respeito mútuo e na independência e soberania de ambos os Estados e ambos os povos.

Leia também: Criação do Estado da Palestina é a causa mais importante do início do século XXI

Dilma vai abrir Assembleia das Nações Unidas nesta quarta-feira

Do Blog do Planalto: “Em sua participação na Reunião de Alto Nível sobre Doenças Crônicas Não-Transmissíveis [na sede da Organização das Nações Unidas] nesta segunda-feira (19/9), em Nova York, a presidenta Dilma Rousseff defendeu que é fundamental aliar programas de saúde pública a políticas de promoção e inclusão social. A presidenta ressaltou a grande incidência de doenças crônicas em populações mais pobres.”

Disse Dilma em seu discurso: “O Brasil defende o acesso aos medicamentos como parte do direito humano à saúde. Sabemos que é elemento estratégico para a inclusão social, para a busca de equidade e para o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde.”

Capa desta semana
No entanto, se você der uma olhada (nem precisa ler) nos maiores jornais de São Paulo, a impressão é que não são brasileiros. A Folha de hoje não traz sequer uma chamada de capa a respeito. O Estado de S. Paulo traz uma chamada sem foto: “Dilma defende na ONU quebra de patente de remédio". Retirando o fato de seu contexto eminentemente político, a matéria do Estadão foi jogada na página A16, na editoria “Vida”, como se a presidente estivesse fazendo um discurso num seminário do Conselho Federal de Medicina.

Nesta quarta-feira, 21 de setembro, Dilma vai ser a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas. Mundo afora a chefe de Estado Brasileira é mais reconhecida do que pela medíocre mídia de seu próprio país. Esta semana, ela foi capa da revista americana Newsweek. Mas aqui, entre as semanais tupiniquins, nada.

domingo, 18 de setembro de 2011

Santos abate o Timão no Pacaembu e quebra tabu de cinco anos

Corinthians não perdia do Peixe no Pacaembu desde 2006 e não era derrotado em clássicos no estádio há 17 partidas

Meus amigos corintianos que me desculpem, mas o 3 a 1 no Pacaembu ficou barato (veja gols abaixo). Com dez jogadores desde os vinte e poucos minutos do segundo tempo, o Santos, entretanto, poderia ter saído de São Paulo com uma goleada de quatro ou cinco a um fácil, não fosse Alan Kardec ter perdido no segundo tempo dois gols – depois de passes lindos de Neymar – que teriam matado o jogo antes. Mas Kardec se redimiria.

Ricardo Saibun/ Divulgação Santos FC

O primeiro tempo foi do Corinthians, que dominou o jogo, as ações e taticamente prevaleceu a partir do meio de campo, onde Ralf e Paulinho levaram a melhor sobre os volantes santistas Adriano e Henrique. Os buracos entre o meio campo e a intermediária santista eram claros. Aliás, os dois times tinham hoje meios de campo sem a menor criatividade. Ibson, que tem muito prestígio, não apareceu na primeira etapa. Mas a superioridade do alvinegro do Parque São Jorge, materializada com o gol de Liedson logo aos 12 minutos, foi insuficiente para sair para o intervalo ganhando, graças ao gol de Henrique aos 37, ao chutar de primeira, meio mascado, um rebote de escanteio batido por Neymar.

Curioso, mas apesar de o Santos ter jogado muito mal no primeiro tempo, da bola na trave que Liedson mandou quando ainda estava 1 a 0, me pareceu que bater a zaga corintiana estava fácil.

O Corinthians parece ter voltado ao segundo tempo abatido. Tentou pressionar, mas foi pressionado e antes de conseguir impor seu domínio diante da Fiel no Pacaembu lotado (37 mil pessoas), Borges desempatou ao escorar cruzamento de Alan Kardec. Ibson melhorou e encontrou o futebol cadenciado e elegante que o caracterizou no Flamengo. E Kardec mesmo puxou a bola que matou o Timão. Ao cruzar para Neymar, encontrou a perna de Chicão, que mandou para as próprias redes.

Corinthians 1 x 3 Santos. Indiscutível. O Corinthians não perdia do Santos no Pacaembu desde 2006 e não era derrotado em clássicos no estádio há 17 partidas.

Com a derrota, o Timão fica com 43 pontos, deixa a liderança e cai para terceiro lugar. Está atrás de Vasco (45 pontos) e São Paulo (44). O Peixe, com dois jogos a menos, tem 32 e ocupa a 11ª posição.

Veja os gols de Corinthians 1 x 3 Santos:



Atualizado à 00:21

Dilma está em Nova York, onde abre a Assembleia da ONU

Debate sobre a criação do Estado da Palestina será o principal do encontro

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, chega a Nova York na manhã deste domingo. Ela vai abrir a 66ª sessão da Assembleia Geral da ONU, onde será a primeira mulher a abrir os trabalhos. Não sei se vocês lembram que, na campanha eleitoral de 2010, circulou a informação de que Dilma não podia entrar nos EUA, por ter sido “terrorista”. Pois é.

Clique para ampliar
Roberto Stuckert Filho - Presidência da República

O principal tema da Assembleia – que deve acontecer até o dia 23 de setembro – será o debate sobre a criação do Estado da Palestina. Nela, Dilma vai anunciar o apoio do Brasil ao pleito da Palestina. A posição expressa pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2010 foi o apoio à criação do Estado palestino de acordo com as fronteiras de 1967, antes da Guerras dos Seis Dias.

Leia também: Criação do Estado da Palestina é a causa mais importante do início do século XXI

sábado, 17 de setembro de 2011

Mídia se preocupa com IPI de carro importado

A manchete de capa do jornal O Estado de São Paulo de sexta-feira, 16 de setembro, é a seguinte: "Governo eleva IPI e carro importado pode ficar até 28% mais caro".

Fiquei encafifado com essa manchete. A primeira expressão que veio à minha mente ante as letras garrafais foi: "mas e daí?" Com tantas notícias e potenciais manchetes, por que a preocupação com o imposto sobre carro importado a ponto de virar manchete de um dos grandes jornais do país? A resposta a essa pergunta fica para o leitor resolver. Que o leitor decifre esse enigma.

A preocupação não é exclusiva do Estadão, diga-se. Pipocou pela mídia nos últimos dias. Eu ia escrever algo, mas vi que o deputado Brizola Neto já abordou o tema em termos com os quais eu concordo. Segue abaixo.

Exagero? De quem?

Por Brizola Neto - no Tijolaço.

É discutível a questão dos benefícios ao consumidor e da concorrência entre as montadoras instaladas aqui – que mal ou bem geram emprego e, embora importando muito, movimentam a cadeia produtiva interna – mas a nossa imprensa parece estar tomada de um furor concorrencial quase bélico.

Tendo Miriam Leitão como “Joana D’Arc” (perdão, Joana), apelam à OMC para derrubar o “furor protecionista” de nosso Governo. É bom lembrar que, e muito corretamente, a propriedade de meios de comunicação no Brasil também tem seus mecanismos protecionistas, por outras razões. Econômicas ou culturais, as razões que um país tem para proteger-se são justas, se isso não implica exclusão total das influências ou produtos externos.

E não é que num destes areoubos internacionalistas, a Folha acaba apelando para um exemplo que desnuda todo o exagero com que o tema está sendo tratado? veja o que se publica sob o título Para gerente de loja de carros de luxo, governo “exagerou”:



A decisão do governo de elevar em 30 pontos percentuais o IPI para carros importados amargou o café de Breno Floriano, 32, gerente comercial de uma loja de veículos de luxo em Ribeirão Preto (303 km de São Paulo).Segundo ele, o aumento do imposto vai encarecer em até R$ 300 mil os custos de importação de um veículo.

O Rolls Royce Phanton que acabou de comprar, por exemplo, vai custar R$ 1,309 milhão, ante os R$ 1,010 milhão previstos inicialmente.Ribeirão Preto é reconhecida com um dos principais polos de consumo de carros de luxo do país. “Com esse custo a mais, vai ficar difícil vender carros importados. Acho que governo exagerou na medida”, disse.

Exagero, desculpe, é achar que o direito de comprar com imposto reduzido um Rolls-Royce Phanton de R$ 1 milhão deva se sobrepor aos interesses da economia nacional. Até porque quem quer este Maria Antonieta sobre rodas que está na foto do post, pode e deve pagar bastante imposto pelo seu luxo. Aliás, já paga, porque um gerente de loja ter um carro desses é sinal que a loja salga e muito no preço.

Se quer fazer economia, tem carro brasileiro para isso. Se quer ser esnobe, passe no caixa
.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Domingo tem Corinthians x Santos,
o maior clássico paulista


Este ano, Timão e Peixe jogaram quatro vezes: uma vitória de cada um e dois empates. Mas o Santos ganhou a decisão do Paulistão


Clique na foto para ampliar
Foto: Santos F. C./Divulgação

Esta é uma semana de Corinthians x Santos, nessa ordem porque o mando é do time da capital, no Pacaembu.

Na minha opinião, esse é o maior clássico dos clássicos paulistas. Ao contrário dos corintianos da geração mais nova (hoje entre 20 e 30 anos, que têm no São Paulo F. C. o principal rival), para mim e minha geração, como para a geração do meu pai, Santos x Corinthians é o maior clássico paulista*, o mais cheio de histórias. Digo geração de meu pai, e não ele mesmo, porque seu Oswaldo é palmeirense, e não corintiano. Porém, foi ele quem me levou pela primeira vez ao estádio, num dia frio e de garoa de 1971, para ver Santos 1 x 1 Corinthians, com Pelé e Rivelino em campo. Não me lembro de nada, era muito criança, só do deslumbre, a magia de ver o campo verde e enorme.

Mas seu Arnaldo, que tem os mesmos 82 anos do meu pai, tripudiou com júbilo quando o seu Corinthians eliminou o Santos na semifinal do Paulistão 2001, com aquele gol espírita de Ricardinho, maledeto. No bar do Sony, na avenida Alfonso Bovero, no Sumarezinho em São Paulo, disse ele na ocasião, com os olhinhos vibrantes e expressando uma raiva purgada: “Bem feito! Isso é procês pagarem!”

Esse (de 2001) é apenas um entre muitos fatos históricos do embate. Tem os 11 anos do Timão sem ganhar do Peixe; o gol de Paulo Borges que quebrou esse tabu; outro tabu, o de Robinho, que nunca perdeu para o rival; os 7 a 1 que os corintianos acham o máximo, mas que foi um acidente provocado por um elenco rebelado...

Mas não quero falar das ricas histórias do clássico dos alvinegros, pois me faltaria tempo hoje. Este post serve mais [para] lembrar os últimos confrontos entre os times, em 2010 e 2011.
Seguem, abaixo, os resultados dos dois períodos. Os linkados remetem às postagens neste blog dos respectivos duelos.
2011______________________________________

Paulistão - Primeira fase

Corinthians 3 x 1 Santos - 
Post“Crônica de uma derrota anunciada” (mais um papelão de Adilson Batista, então técnico santista)

Paulistão - Finais

Corinthians 0 x 0 Santos 
Santos  2 x 1 Corinthians (Santos de Neymar bate Corinthians e é campeão paulista)

Brasileirão 2011

Santos 0 x 0 Corinthians - Santos e Corinthians homenageiam Walter Abrahão na Vila, um dos piores confrontos entre os times de que me lembro.

2010______________________________________

Paulistão – primeira fase

Santos 2 x 1 Corinthians - Santos de Neymar e Marquinhos bate Corinthians de Felipe. Nesta partida, os jogadores do Timão saíram de campo revoltados e reclamando das atitudes dos meninos da Vila, ameaças de revide na próxima partida. Mas o Corinthians não foi nem classificado para as finais. Diante da grita e reclamações corintianas contra as dancinhas dos garotos, o chapéu de Neymar em Chicão com o jogo parado, José Trajano disse na ESPN Brasil: 
"O Santos está sendo acusado de jogar bonito".

Brasileirão 2010

Corinthians  4 x 2  Santos - 
“Tem que perguntar pra ele o que Dorival Junior quer fazer”

Santos 2 x 3  Corinthians - 
Com vitória na Vila Belmiro, Corinthians fica mais perto do título. Como se viu, o Timão chegou só perto do título, no ano do centenário.

*PS (atualizado às 15:25): Para ficar mais claro: para a maioria dos santistas, o clássico com o time do Parque São Jorge é o maior de todos. Para os corintianos, a maior rivalidade, entre as gerações mais jovens, varia. Para uns, é Palmeiras; 
mas, para a maioria dos corintianos, pelo que vejo, o arqui-rival é o São Paulo. Ao contrário das gerações anteriores de torcedores do Timão, que tinham no Santos o maior rival.

[atualizado à 01:43 de16/09]

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Entidades lançam consulta pública sobre marco regulatório das comunicações

A sociedade civil continua se mobilizando em torno das discussões para revisar a legislação sobre a comunicação no país. A luta pela esperada – e por enquanto ainda distante – Ley de Medios brasileira é o objetivo da consulta pública promovida por uma série de entidades nacionais que atuam pela democratização da comunicação.

A iniciativa tem o apoio de várias instituições, como Intervozes, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), CUT, Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária, entre outras.

A consulta (que fica aberta até 7 de outubro) é baseada nas discussões ocorridas no seminário Marco Regulatório – Propostas para uma Comunicação Democrática, realizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), em maio de 2011, no Rio de Janeiro. O texto da plataforma é a sistematização dos resultados dos grupos de trabalho realizados durante o seminário realizado em maio, que teve por base as resoluções da I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) .

Pretende-se reunir as contribuições das diversas organizações, coletivos, blogs e ativistas da sociedade civil que atuam pela democratização da comunicação. Um dos principais pontos de toda a discussão diz respeito ao artigo 220, § 5º da Constituição brasileira, que determina expressamente: "Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio". Ora, tal mandamento jamais entrou em vigor e os donos da mídia brasileira, que têm pavor de que a Constituição se cumpra, usam todos os artifícios e mentiras para evitar a regulamentação desse artigo e do 221.

Todas as informações estão neste link: novo marco regulatório. Nele, você se informar, saber como participar e acessar também o texto da plataforma.

Segundo o governo...

Na semana passada, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse à agência Carta Maior que novo marco regulatório para rádio e TV passará por consulta pública antes de ser concluída e submetida à presidenta Dilma Rousseff. “Por ora, não há previsão de quando a consulta começará. É provável que seja ainda este ano”, diz a matéria.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Catanhêde, o paraíso e a CPMF

Ficamos sabendo, em texto de hoje na Folha de S. Paulo, que a porta-voz do Partido da Massa Cheirosa (veja vídeo abaixo), Eliane Catanhêde, anda fazendo comprinhas em Miami. Minha curiosidade de ler o arrazoado da jornalista foi motivada por texto do blog Tijolaço, pois uma coisa que hoje em dia eu raramente faço, e só por dever de ofício, é ler os artigos de Catanhêde, Rossi e figuras do tipo.

E lá está o texto da Catanhêde, toda empolgada porque em Miami “a classe média vai ao paraíso”, ou seja, “às compras”, incentivada pelo real supervalorizado. No Paraíso, fique sabendo, você pode comprar um bom lençol, que aqui no Brasil sairia por R$ 600, gastando módicos 50 dólares.

Mas toda a peroração consumista da cheirosa Catanhêde é na verdade um pretexto para introduzir a explanação de que “a revoada consumista” tem várias causas (além do câmbio, claro), entre as quais o “excesso de impostos/taxas/contribuições”. E aí ela finalmente entra no assunto que tanto tem comovido a mídia tupiniquim: “E ainda me vêm com essa história de recriação da CPMF?”, questiona.

Ignorar que a CPMF é um tributo justo é má-fé, simplesmente. Para facilitar, suponhamos que sua alíquota seja de 0,1% (a décima parte de 1%). Isso significa que uma pessoa que movimenta R$ 1 milhão no banco pagará sobre essa movimentação R$ 1 mil (mil reais). Acham vocês muito? Já uma pessoa que recebe, digamos, dois salários mínimos (R$ 1090,00) desembolsará R$ 1,09 (um real e nove centavos).

Pode-se comprar uma passagem para a cidade do tenente Horatio Caine por, digamos, 800 dólares, ou 1.360 reais. A pessoa pagaria de CPMF sobre esse valor R$ 1,36, para ir até Miami comprar um bom lençol. Menos da metade do que uma passagem de ônibus em São Paulo. Agora, se você está com preguiça de ir a Miami, sabe quanto pagaria de CPMF (à alíquota de 0,1%) por um lençolzinho básico de 600 reais? Pagaria 60 centavos.

Se isso não é um exemplo de justiça tributária, não sei o que seria.

Outra vantagem inequívoca da CPMF é que ela é um instrumento de fiscalização muito útil, servindo para controlar a chamada economia informal e lavagem de dinheiro, já que possibilita o cruzamento de informações via movimentações financeiras.

E Catanhêde é contra a CPMF por quê, se a jornalista é uma ardorosa combatente da corrupção e das coisas escusas? Afinal, no mesmo texto em que divulga as maravilhas do paraíso de Miami, ela conclama o povo cheiroso para manifestações de atos públicos no dia 20, cujo “grito de guerra” é "abaixo a corrupção”. Vejam vocês.

Francamente, a Eliane Catanhêde anda meio confusa. E agora, além de confusa, consumista.

Da série Recordar é Viver

Abaixo, a empolgada jornalista na convenção do PSDB ano passado, quando, pela Folha Online, disse que o partido dos tucanos é o partido da "massa cheirosa". Na época, a euforia se devia principalmente à adesão militante de Aécio Neves à candidatura Serra, que nunca ocorreu.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Continuam as inaugurações a conta-gotas do metrô paulistano

Estações da Linha 4 Amarela começam a operar de segunda a sábado em horário normal, mas Companhia do Metrô não tem previsão para funcionamento aos domingos

O paulistano, principalmente os moradores da zona Oeste, incluindo alunos, professores e funcionários da Universidade de São Paulo, finalmente terão metrô em horário integral durante a semana, até o sábado.

Estação Luz da Linha 4 a partir do dia 15/ Divulgação

O trecho entre as estações Butantã e Paulista, da Linha 4-Amarela, começa a operar das 4h40 às 24h, de segunda-feira a sexta-feira e, aos sábados, das 4h40 à 1h de domingo. Aí está a ressalva: aos domingos ainda não haverá operação. Será que é porque, para o governo de São Paulo, paulistano pobre tem que trabalhar, trabalhar e trabalhar, deixando o lazer dos domingos como privilégio de quem tem carro?

Liguei à assessoria de imprensa do Metrô, que negou essa idéia. Segundo ela, aos domingos ainda serão feitas horas de testes restantes e manutenção. A assessoria diz que foi assim com outros ramais inaugurados antes e cita a Linha 5 Lilás, inaugurada em 2002 e que só passou a operar aos domingos em 2008.

De acordo com a assessoria, não há previsão de quando começará a funcionar aos domingos. O ramal tem no momento quatro estações: Paulista, Faria Lima, Pinheiros e Butantã. As estações República e Luz começam a funcionar pela Linha Amarela na próxima quinta-feira, 15. Mas, de acordo com o padrão conta-gotas do governo paulista no setor, vão operar das 10h às 15h, de segunda a sábado.


Linhas Lilás e Verde
A partir desta segunda, as estações Tamanduateí e Vila Prudente, da Linha 2 Verde, passam a funcionar das 4h40 até meia-noite, de domingo a domingo.

Para terminar, um detalhe que vai na direção da minha tese: a linha 5 Lilás, que atende uma região periférica e mais pobre da cidade (Capão Redondo, Campo Limpo, Largo Treze) é a única que não opera até à 1 hora da madrugada do sábado para o domingo, fechando à meia-noite. Quer dizer, pobre da periferia tem que voltar da balada mais cedo?

Confira tabela da Companhia do Metrô com os horários de funcionamento de todas as linhas clicando neste link (ainda não atualizada com novos horários inaugurados hoje).

Leia também:

Governo de SP pode levar de 30 a 55 anos para cumprir meta para o metrô

Imprensa se esquece dos fatos quando fala de metrô paulista

O outro 11 de Setembro

Por Valter Pomar*

As revistas semanais e jornalões dedicam grande espaço ao 11 de setembro de 2001, quando ocorreu o ataque contra as torres do World Trade Center, em Nova York. Convém lembrar, também, de outro 11 de setembro, ocorrido no ano de 1973, quando um golpe militar derrubou o governo da Unidade Popular, no Chile.

As cenas deste 11 de setembro chileno também envolvem aviões: o Palácio de La Moneda foi bombardeado pelos golpistas. No interior, um punhado de pessoas, entre as quais o presidente Salvador Allende, resistia bravamente.

Allende recusou a oferta, feita pelos golpistas, de um avião para tirá-lo “em segurança” do país. Fez bem: ao mesmo tempo em que faziam a oferta, os golpistas tramavam derrubar o avião em pleno voo, conforme provam gravações feitas à época.

Allende também recusou a oferta, feita por setores da esquerda chilena, de sair do Palácio La Moneda, a esta altura convertido numa armadilha, e comandar a resistência a partir da periferia operária de Santiago. Optou, conscientemente, por resistir até o fim. Seu suicídio foi um gesto político de extrema coragem pessoal.

Por qual motivo lembrar de Allende, da Unidade Popular e do golpe de 11 de setembro de 1973? Por um motivo muito simples: hoje, em diferentes países da América Latina, as forças de esquerda enfrentam dilemas estratégicos muito parecidos com aqueles vividos então pela esquerda chilena. Conhecer, estudar e criticar aquela tentativa de construir uma “via eleitoral para o socialismo” é fundamental para que tenhamos sucesso hoje.

*Valter Pomar integra o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores

sábado, 10 de setembro de 2011

Fatos Etc. chega ao post 500


Este post comemorativo, o número 500 de Fatos Etc., serve apenas para agradecer principalmente aos amigos, colaboradores e leitores assíduos, mas também aos eventuais e até mesmo àqueles que, por exemplo via Google ou outros sites de busca, chegaram ao link do blog por acaso.

Construir uma audiência não é tarefa fácil, demanda trabalho e paciência. Mas o esforço tem sido recompensado, já que o acesso ao blog cresce desde que ele foi ao ar, em 11 de novembro de 2009, com o post Fez-se a luz!.

Para ilustrar essa afirmação, segue a comparação do número de page views registrados em dois períodos:

- de 1° de janeiro de 2010 a 10 de setembro de 2010, foram 13.169 visualizações de página;

- no mesmo período deste ano, ou seja, de 1° de janeiro de 2011 a este sábado, 10 de setembro de 2011, os page views chegam a 33.095, o que representa um crescimento de 151%.

Abaixo, a lista dos posts mais acessados do blog, por temática, desde sua primeira postagem até hoje, com os respectivos links.

Jornalismo

Heródoto Barbeiro sai do Roda Viva após questionar Serra sobre pedágio


"Que bandeira é aquela?" (sobre gafe do Jornal Nacional ao confundiras as baneiras da Líbia e do Líbano)

Futebol

Verdades e mentiras sobre o estádio do Corinthians em Itaquera

Santos x Peñarol fazem final da Libertadores e revivem 1962

Para não dizer que não falei de Rogério Ceni

Cultura

Amy Winehouse em Belgrado

Nota sobre "A Sangue Frio" de Truman Capote

Contradições e problemas do cinema nacional, segundo Eduardo Escorel (entrevista com o diretor)

Política

Ato de Ana de Hollanda sobre Creative Commons causa perplexidade e indignação (entrevista com Sérgio Amadeu)

Os gestos de José Serra

Dilma Rousseff no Jornal Nacional (eleições de 2010)

Um post que não se enquadra nas "categorias" acima merece ser destacado porque teve um acesso enorme em 21 de maio de 2011 (foi a quinta postagem mais acessada da história do blog, mas apenas no dia de sua publicação e no dia seguinte; quando ficou claro que o mundo não ia acabar naquele fim de semana, o acesso ao post cessou! Eita povo crédulo). É este:

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Corinthians ganha fôlego com triunfo convincente ante o Flamengo

Três rodadas atrás, ao final do primeiro turno, vaticinava eu: “Taça está entre Corinthians,Vasco, Botafogo e Flamengo”. Terminada a 22ª rodada, o Flamengo já saiu da lista, enquanto o São Paulo (41 pontos) está no calcanhar do líder Corinthians (43 pontos). Vasco (41, saldo de gols menor que o Tricolor) e Botafogo (40) formam o embolado G-4. Lembre-se que o Botafogo tem uma partida a menos (contra o Santos no mês de outubro) e seria líder hoje com uma hipotética vitória.

Idário Café/Vipcomm
Renato Abreu e Alessandro: batalha renhida
O convincente triunfo do Corinthians contra o Flamengo por 2 a 1 no Pacaembu deu novo fôlego e moral à equipe, e fez a roda girar de um extremo a outro: se tivesse perdido, o time de Tite estaria amargando o quarto lugar (atrás do Botafogo no saldo de gols) e de malas prontas rumo à crise. O que não faz uma vitória. Com ela, o Alvinegro lidera a competição na terceira rodada do returno. Mas tem uma sequência difícil pela frente: Fluminense (Engenhão), Santos (Pacaembu) e São Paulo (Morumbi).

Antes de continuar, para os amigos corintianos se deleitarem com  minha imparcialidade, veja os gols de Corinthians 2 x 1 Flamengo (esse Liedson entende do negócio. Mas, convenhamos, o primeiro gol dele foi uma lambança do volante Willians e da zaga flamenguista como um todo, um verdadeiro presente de mãe).



Os próximos adversários do Botafogo serão Coritiba (Couto Pereira), Flamengo (Engenhão) e Grêmio (Olímpico).

O surpreendente Vasco da Gama terá Figueirense (f), Grêmio (c) e Atlético-GO (c).

E o imprevisível São Paulo encara nas próximas três rodadas o Grêmio (f), e na sequência dois alvinegros no Morumbi: Ceará e Corinthians.

Impressionante o mergulho do Flamengo de Vanderlei Luxemburgo: uma sequência de oito jogos (três empates e cinco derrotas) sem vitória. De 24 pontos disputados, apenas três ganhos e o adeus ao título. Os depoimentos flamenguistas ao final no jogo foram o gesto conhecido no boxe como "jogar a toalha".

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Criação do Estado da Palestina é a causa mais importante do início do século XXI

Está prevista para daqui a duas semanas a reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas na qual será votado o pedido do reconhecimento do Estado palestino com fronteiras entre países árabes e Israel anteriores à guerra de 1967, conhecida como Guerra dos Seis Dias. Naquele conflito, Israel ocupou Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, e a ocupação permanece até hoje.

Clique para ampliar
Do site Palestina Já


Diversas entidades brasileiras que apoiam a causa – certamente a mais importante e justa desse início de século e que merece o seu e o meu apoio –, divulgaram um vídeo para promover a campanha (veja abaixo).

A deliberação sobre a matéria não será apenas na Assembleia Geral, mas também no Conselho de Segurança da ONU, onde o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, faz saber à comunidade internacional que seu país vetará o pedido. O argumento é de que as negociações devem continuar para se chegar a uma situação de paz concreta. “Caso o Conselho de Segurança não aprove, igualmente vamos à Assembleia Geral, para mostrar ao mundo a verdadeira vontade da humanidade”, disse o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim al-Zeben, à Agência Brasil, na semana passada.

Se a assembleia aprovar o pedido e o conselho rejeitar (os EUA têm poder de veto), a Palestina poderá se tornar um Estado não membro. A aposta sionista é de que essa situação vai gerar efeitos mais simbólicos do que práticos. Por isso, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor, afirmou, segundo a EFE: "Os palestinos vão acordar no dia seguinte muito satisfeitos com a votação, mas vão se dar conta de que nada vai mudar em sua vida”.

Resta saber qual será o preço a ser pago pelos EUA devido a sua posição e se estão dispostos a pagar esse preço. A animosidade contra eles crescerá, e não só no Oriente Médio. De acordo com o jornal The New York Times, o governo do senhor Obama faz uma campanha diplomática tentando, imaginem, convencer os palestinos a abandonar a busca pelo reconhecimento de sua nação como Estado.

"Derramamento de sangue"

Já os recados israelenses, acostumados a dotar as palavras da brutalidade das armas, são bem menos diplomáticos do que seus protetores americanos. Segundo a Associated Press, “forças israelenses tentam evitar um derramamento de sangue quando os palestinos marcharem em apoio ao pedido de reconhecimento de seu Estado”. Israel, diz a agência, “se prepara para os piores cenários e até autorizou colonos da Cisjordânia a atirar contra palestinos que se aproximarem de suas comunidades”. Os palestinos dizem que as manifestações serão pacíficas.

Do total de 193 países membros, a causa palestina deverá contar na ONU com os votos de 140, aproximadamente, inclusive o Brasil.

Ato em São Paulo

Está prevista para o dia 20, às 17 horas, em São Paulo, a "Caminhada pelo Estado da Palestina Já". O ato é organizado por partidos e entidades civis e terá início em frente ao Teatro Municipal, na praça Ramos de Azevedo.

Assista ao vídeo de apoio à campanha.



Atualizado às 22:18

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Neymar e Barcelona: a distância entre
o fato e o factóide

A pressa em se descobrir e divulgar para onde vai o jovem craque é apenas mais um caso da imprensa que faz lembrar o velho ditado: "quem tem pressa come cru"

O maior furo jornalístico esportivo dos últimos tempos, a “venda” de Neymar para o Barcelona, do repórter Luís Augusto Mônaco, de O Estado de S. Paulo/Jornal da Tarde, divulgada no sábado com grande alarde, não se confirmou, pelo menos por enquanto. Ou seja, é um furo n’água.

Foto: Divulgação/Santos FC

Na matéria divulgada no sábado, o texto assinado por Mônaco começa assim: “Neymar é do Barcelona. O Santos assinou contrato com o clube espanhol, que tem como Lionel Messi seu principal jogador. Pelo documento, o atacante se apresenta em janeiro de 2013”. (como santista, não acho um mau negócio, se se considerar a premissa de que cedo ou tarde o jovem craque vai embora).

Já no domingo, com apoio, claro, do jornal, tentando provavelmente diminuir os danos a sua credibilidade, o repórter assina outro texto em que o editor se esforça por dissimular o equívoco, ou, no mínimo, a pressa. O título da matéria do dia seguinte é: “Santos sempre preferiu vender o atacante Neymar para o Barcelona”, com a linha fina logo abaixo mantendo que “Presidente nega, mas novas fontes confirmam que o negócio está fechado”.

Negociação está “fechada” ou “avançada”?

O texto do domingo tenta sustentar: “Apesar do enfático desmentido do presidente santista Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, pessoas próximas à transação confirmam 'em off' a informação publicada no sábado por O Estado de S. Paulo”. Entretanto, por fim, reconhece: “Um integrante do Grupo Guia (Gestão Unificada de Inteligência e Apoio), que assessora Luís Álvaro, admitiu que a negociação com o Barcelona ‘está muito avançada’" (grifo meu).

Mais à frente: “E na Espanha uma fonte afirmou à reportagem que o vazamento da notícia ‘talvez atrase um pouco’ a finalização do negócio”, diz a reportagem do domingo, dia 4, e continua: “Entre os clubes está tudo certo, mas falta fechar o contrato com o jogador. Isso deverá ser feito pelo pai de Neymar, porque Wagner Ribeiro decidiu não cuidar mais da carreira do garoto nem falar com o Barça”.

Ora, caro leitor, convenhamos, se “só falta fechar com o jogador”, então a notícia de sábado não existe, apesar da operação de salvamento da informação, mais popularmente conhecida como “emenda ficou pior do que o soneto”. Entre a afirmação cabal “Neymar é do Barcelona” e a dissimulada emenda “a negociação está muito avançada” vai uma distância gigantesca, exatamente a distância entre o fato e o factóide.

Por fim, ao tentar salvar o furo n’água, a matéria se vale do velho expediente do off e de fontes não identificadas: “pessoas próximas à transação confirmam em off”; “na Espanha uma fonte afirmou”.

Acredito que o destino do jovem craque seja mesmo o Barcelona. Mas imaginem se, encerrado o primeiro turno da eleição presidencial de 2010, um jornal desse a manchete: “Dilma é eleita presidente”. O fato de ela ter vencido no segundo turno não salva a informação anterior.

A última notícia do jornal Marca, da Espanha, sobre o episódio é da madrugada de hoje, e traz a fala do pai de Neymar. Segundo ele, o craque “está encantado” com o interesse por seu futebol na Europa. Mas ressalva: “ele quer ficar para o centenário do Santos [em 2012]”, disse.

A palavra do clubeEm nota oficial divulgada neste domingo, o Santos F. C. nega veementemente a informação de Luís Augusto Mônaco de O Estado de S. Paulo. Leia a íntegra do comunicado neste link.

*(Atualizado às 14: 35 de 07/09/2011) - Post publicado, em versão ampliada, no Observatório da Imprensa

sábado, 3 de setembro de 2011

O estádio do Corinthians vai se chamar Luiz Inácio Lula da Silva?

Se alguém tinha alguma dúvida, agora é definitivo: no que depender da nação corintiana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entra para a galeria dos imortais do Parque São Jorge. Ele marcou presença no evento em comemoração dos 101 anos do clube, quando foi anunciada a formalização da assinatura do contrato com a Odebrecht para a construção do estádio em Itaquera, na zona Leste da capital.

Roberto Setton/UOl
Ex-presidente marca presença na zona Leste
A arena terá capacidade para 48 mil pessoas. Os 20 mil lugares que faltam para o Fielzão poder abrir a Copa de 2014, segundo exigência da FIFA, devem ser bancados pelo governo de São Paulo. Provavelmente serão lugares móveis para abrigar torcedores apenas no Mundial. Esse plus custará R$ 70 milhões, estima-se. Sem contar esse adicional, o orçamento para a obra é de R$ 820 milhões, entre incentivos fiscais da prefeitura paulistana somando R$ 400 milhões e o empréstimo do BNDES de R$ 420 milhões.

A presença de Lula na festa deste sábado tem caráter muito simbólico, já que é conhecido o lobby que ele fez, desde que ocupava o Palácio do Planalto, para que o Itaquerão se viabilizasse. “É um dia histórico, tão histórico quanto o gol do Basílio contra a Ponte Preta em 1977”, disse o ex-presidente, corintiano roxo, em discurso. Quanto à interrogação do título deste post ("O estádio do Corinthians vai se chamar Luiz Inácio Lula da Silva?), o diretor de marketing do clube, Luis Paulo Rosenberg, negou essa possbilidade na tarde deste mesmo sábado.
Agora, finalmente, parece que o projeto decolou. Na quinta-feira, 1° de setembro, as primeiras colunas da arena foram instaladas no terreno.

Mas nem tudo são flores na história da construção do sonho corintiano. O projeto é alvo de inúmeras denúncias, por parte dos moradores locais, de desrespeito a direitos e desapropriações compulsórias.

Esse é um projeto monumental que exige esforços federal, estadual e municipal. E portanto, se há arbitrariedades, as três esferas têm culpa no cartório. Em São Paulo, há outros planos faraônicos, de responsabilidade apenas da prefeitura, cuja agressão urbanística e cultural à cidade terá impacto imprevisível. É o caso de uma obra na zona Sul, a da Água Espraiada, cujo orçamento é de R$ 4 bilhões (mais de 4 vezes o custo do estádio corintiano).

Leia mais sobre o tema no post: A cidade de Gilberto Kassab

Atualizado às 19:33

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

José Dirceu a Renato Rovai: "Não é uma questão política, o que a Veja fez é crime"

O jornalista Renato Rovai, editor da Revista Fórum, publicou hoje em seu blog uma entrevista exclusiva com o ex-ministro José Dirceu, em que fala da espionagem e tentativa de invasão, por um repórter da Veja, de seu apartamento no hotel Naoum, em Brasília (leia post aqui ). A reportagem de capa da edição de Veja da semana traz uma foto de Dirceu de óculos escuros e o título: “O poderoso chefão”.

Diz o ex-ministro da Casa Civil a Rovai:

“Na verdade, o que precisamos avaliar é por que eles fizeram essa matéria. Se foi por causa do julgamento no Supremo ou se é uma tentativa de criar algo novo contra o governo. Porque se você analisar eles fracassaram na questão da separação da Dilma, de dividir a base dela, entendeu? De tirar o PMDB e o PR da base. E para piorar, para eles, o PV acabou decidindo apoiar a Dilma.”

Para José Dirceu, “a estratégia de rachar a base do governo não deu certo. E – com a reportagem – eles voltam para a estratégia deles”.

Perguntado se vai processar a revista dos Civita, ele diz: “Isso eu tenho que fazer na hora que tiver a informação de que a câmera foi plantada e souber quem fez isso. Muita gente considera isso gravíssimo”. “Não é uma questão política, o que a Veja fez é crime. Eles têm que ser processados por crime, não é porque falaram isso ou aquilo de mim.”

Dirceu revela que pode “ir aos Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos)” contra a revista.

Perguntado por Rovai se recebeu alguma solidariedade de diretores de redação ou de proprietários de veículos comerciais tradicionais, a resposta foi: “Não. Eles querem me ver morto ou preso”.

Leia a íntegra da entrevista: Zé Dirceu diz que vai à OEA e SIP contra Veja

Revista Fórum – dez anos

A propósito, a edição de setembro da Revista Fórum, comemorativa dos dez anos da publicação, que deve estar chegando às bancas, traz a histórica entrevista do mesmo José Dirceu publicada na edição de novembro de 2005, feita poucos dias antes da sua cassação no Congresso, que repercutiu em toda a mídia nacional (claro, em edições que a deturparam) e foi assim descrita pelo colunista Elio Gaspari, da Folha de S. Paulo: “[...] a entrevista, dada aos repórteres Renato Rovai, Frédi Vasconcelos, Glauco Faria e Eduardo Maretti, é a melhor peça produzida por uma cabeça petista desde que a crise [do mensalão] começou. Quando não convence, revela [...]”.

A edição da Fórum traz também, entre outras, a entrevista que eu fiz com o fotógrafo Sebastão Salgado em novembro de 2002.