domingo, 30 de maio de 2010

Edu Dracena sobre Dorival Junior: “Tem que perguntar pra ele o que ele quer fazer”

Foto: Ricardo Saibun
A frase do título, do zagueiro Edu Dracena, sobre a lamentável condução do time pelo técnico Dorival Junior na derrota do Santos por 4 a 2 para o Corinthians, pela 5ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2010, na tarde deste domingo, no Pacaembu, é reveladora. A condução equivocada do treinador, aliás, não é só a deste jogo, e nem diz respeito apenas ao time dentro de campo.

Muita gente é contra demitir técnico. Tem aquele discurso politicamente correto de hoje em dia segundo o qual é uma atitude “não-profissional”. Mas a ladainha não é que o clube tem que ser conduzido profissionalmente, como empresa? Ora, nenhuma empresa que queira lucrar pode ser comandada por um fraco. Concordo com o comentário de Felipe num post anterior: “De fato, esse time do Santos é muita areia para o caminhão do Dorival...”

E o zagueiro Edu Dracena, que não é nenhum bobo, dispara: “Tem que perguntar pra ele o que ele quer fazer”. Dorival perdeu a mão e o comando e não entende o que é dirigir um grande time. É ressentido, autoritário e moralista, além de não ter punch para encarar técnicos do porte de Mano Menezes. Hoje, fez uma lambança poucas vezes vista por este escriba que vos fala. Quando perdia por 2 a 1, tirou Neymar e pôs Madson (estranha substituição, que taticamente nada agregou ao time). Tirou o lateral Pará para colocar o atacante Marcel e o zagueiro Edu Dracena para entrar Zezinho. Que confusão. Poderia ter tomado uma goleada histórica, se o Corinthians tivesse mais vontade no fim.

Com um time considerado quase unanimemente o melhor do Brasil no primeiro semestre, Dorival Junior quase entregou o campeonato paulista (quando resolveu recuar o time contra o Santo André), quase perdeu a classificação na Copa do Brasil (a mesma coisa, quando, com 2 a 0 a favor, se acovardou e colocou Rodrigo Mancha, tomando quatro gols do Grêmio em 20 minutos em Porto Alegre) e, nessa sequência, chegou à lambança de hoje.

Desde que engoliu aquele rotundo “não” de Paulo Henrique Ganso, que se recusou a ser substituído na final contra o Santo André, Dorival parece estar acabrunhado e com o ego ferido. Mas deveria ser humilde, porque quem ganhou o título paulista foi Ganso, não ele. Algumas de suas intervenções soam como: “aqui quem manda sou eu”. É um homem do século passado, do tempo de Oswaldo Brandão. A diretoria do Santos, que assumiu prometendo o paraíso da modernidade, precisa entender que Dorival Junior não segura um clube grande e o Santos não tem futuro com ele. Pelo menos não com o elenco atual, porque o comando ele perdeu.

Após tirar Neymar, tomou o terceiro gol do Corinthians em seguida, como um castigo merecido. Na adrenalina da derrota, Edu Dracena, que pode estar de saída para a Europa, fez o desabafo já citado. Quando um jogador tarimbado como Dracena chega a esse ponto, vocês hão de reconhecer que algo está errado.

Apito amigo
O meia Marquinhos não esqueceu que o Corinthians, em seu terceiro jogo pelo Brasileiro no Pacaembu, ganhou a terceira partida seguida com a ajuda da arbitragem: contra o Atlético-PR e, sobretudo, ante o Fluminense. Diante do Santos, o árbitro anulou um gol legítimo do Peixe no fim do primeiro tempo que teria mudado o jogo, dando impedimento inexistente de Marquinhos. Façam as contas: num campeonato de pontos corridos, só aí são de quatro a seis pontos em três partidas.

Quando o Santos ganhou do Corinthians pelo Paulistão (2 x 1), os corintianos choraram as pitangas, ameaçaram, reclamaram, xingaram o juiz... E agora? Agora claro que é normal, porque foi a favor.

Veja os gols de Corinthians 4 x 2 Santos



PS (03h05): O Marquinhos estava impedido mesmo no gol anulado pelo árbitro Sálvio Spinola. Isso é fato e reconheço (vi melhor no tape do que quando vi primeiro). Por outro lado, no segundo gol do Corinthians, Edu Dracena foi visivelmente empurrado, e por isso a bola sobrou para Bruno César.

Essas ressalvas não tiram os méritos da vitória corintiana, que foi incontestável (a questão arbitragem é, aliás, secundária como tema do post). São apenas constatações. Como o é o fato de que, como dito acima, as arbitragens erraram três vezes a favor do Timão no Pacaembu, neste brasileiro.


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pensamento para sexta-feira [5] - Gabriel Megracko

SOLIDÃO


.

Folhas farfalham. É o vento.
As flores murcham. É o tempo.
Estrelas brilham. Manto Preto.
Lágrimas pingam do pássaro negro.

No alto, lá no alto da tristeza,
Vejo a nuvem em forma de alegria.
Intocável, passageira de si mesma;
Impossuível

A imagem de mim mesmo é vazia.
Nesta noite ninguém veio ser visível.
O silêncio faz a mão dançar os dedos.
Nenhum corpo vai fazer nascer o dia.

No colo mudo só o sonho é macio.
Só as almas perambulam livremente.
Nem os ratos ficam sós no meio-fio,
Porque o vazio é a coisa só da gente

Impossível.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Casa Branca já reconhece oficialmente Brasil como liderança mundial emergente

A Casa Branca anunciou sua Nova Estratégia de Segurança dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 27, num documento de 60 páginas. Nele, o Brasil é tratado com grande destaque, geopolítica e economicamente.

“Nós damos as boas-vindas à liderança do Brasil e procuramos ultrapassar as datadas divisões Norte-Sul para perseguir um progresso em questões bilaterais, hemisféricas e globais”, diz o documento.

Presidente Lula recebe primeiro-ministro da Turquia,
Recep Tayyip Erdogan, em Brasília, nesta quinta

“O sucesso macroeconômico do Brasil, aliado com seus passos para diminuir as desigualdades socioeconômicas, fornece importantes lições para os países em toda América e África”, afirma o texto.

O Brasil é considerado ainda “líder em combustíveis renováveis” e “um parceiro importante para enfrentar a mudança climática global e para promover a segurança energética”.

Sobre a liderança militar exercida pelos EUA, o documento afirma: “esgotaremos todas as outras possibilidades antes de iniciar uma guerra, e analisaremos cuidadosamente os custos e riscos dessas ações".

Diz também que será preciso isolar Irã e Coréia do Norte se esses países não cooperarem na busca pela paz.

"Boas-vindas”
Ao contrário dos relatórios da era Bush, que destacavam o termo “guerra ao terror”, o primeiro texto de estratégia de segurança da gestão Obama propõe parcerias “profundas e mais efetivas com outros centros de influência fundamentais”. Além do Brasil, nesse contexto são citadas China, Índia, Rússia, África do Sul e Indonésia.

Uma observação que não quer calar: mesmo com a importância da notícia, um texto de cerca de 4.600 caracteres do Estadão na internet não cita sequer uma vez a palavra Brasil. O título do texto: “EUA renovam estratégia de segurança e reconhecem outras lideranças mundiais”.

PS (à 0h33): Antes que alguém questione: não é contraditório que a Casa Branca divulgue esse documento, ao mesmo tempo em que a secretária de Estado Hillary Clinton combate a mediação de Brasil e Turquia por um acordo nuclear com o Irã?

Não, não é contraditório. Porque a Estratégia de Segurança dos Estados Unidos é um documento divulgado periodicamente, a cada governo, que traça as diretrizes geopolítcas dos Estados Unidos. Por exemplo, os últimos relatórios são de 2002 e 2006, assinados por George W. Bush, e eles consagravam a doutrina dos falcões de Washington, a "guerra ao terror", doutrina tão importante aos republicanos, que produziu a invasão do Iraque. A questão do Irã é conjuntural.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Furo para melhorar o humor do ex-governador

Foto: Washington Alves/VIPCOMM
Não sei se é mais uma “barriga” ou se é um “furo”. Mas está lá no blog da Sonia Racy que Kléber, o centroavante do Cruzeiro, já é do Palmeiras. Mais até do que a notícia em si (se for confirmada), o que chama a atenção é o tom da abordagem da solerte jornalista (aquela mesma, que conseguiu que Caetano Veloso dissesse que "Lula é analfabeto"). Talvez melhore o humor de Serra, que anda pra lá de azedo depois das mais recentes pesquisas eleitorais.

A nota da Sonia Racy, na íntegra:

Gol de placa
por Direto da fonte

“Finalmente uma notícia empolgante para o palmeirense Serra. Luiz Gonzaga Belluzzo acaba de realizar um sonho antigo.

Conseguiu tirar o centroavante Kléber do Cruzeiro para jogar no Palmeiras.


Vejam bem, é a Sonia Racy quem diz, alegre e contente com o “gol de placa” de Belluzzo, para alegria do ex-governador paulista. Quem quiser conferir a nota no próprio veículo, está aqui.

Corrigindo*: Por falar em furo, José Serra, ultimamente, anda dando uma de repórter esportivo. Na semana passada, em seu twitter, anunciou, num "furo universal", que Diego Souza estava de malas prontas para o Atlético-MG. Chegou-se a supor que Belluzzo mesmo tinha dado a informação ao tucano verde (mas Belluzzo sabe tão pouco de Palmeiras que é melhor buscar outras fontes, hein, ex-governador?).

Atualizado às 22h10
*Atualizado às 12h05

terça-feira, 25 de maio de 2010

Já que estamos em cinema, "Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo"

Pedi para o jovem editor de arte do jornal salvar uma foto do filme. Ao avisar-me que a fotografia já estava na pasta, ele ressalvou: “a foto está lá, mas não está muito boa”.
“Não está boa por quê?”
“Porque está escura e desfocada”, constatou ele.

O diálogo é perfeito para ilustrar a sensação de estranhamento causado pelo filme Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo, dirigido pelos cineastas Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus) e Karim Aïnouz (Madame Satã e O Céu de Suely). Estranhamento que é do próprio protagonista, diante da estrada que percorre para realizar uma pesquisa de campo e levantar dados técnicos sobre uma extensa área por onde deve passar um canal, no árido do Nordeste, trabalho que, na verdade, é um pretexto para fugir da dor da separação da mulher amada. Estranhamento do espectador, transformado nos olhos do próprio narrador (a câmera nervosa, em busca de uma saída que parece impossível).

No percurso, o geólogo José Renato atravessa a aridez geográfica, metáfora de sua própria angústia e melancolia. Diante de seus olhos, a paisagem é de fato escura e desfocada. A estrada, sempre igual. Os habitantes dos lugares por onde passa, alguns dos quais serão desapropriados para as obras do canal, pobres, miseráveis mesmo, parecem sequer ter a noção de que existem outros mundos. As prostitutas com quem se relaciona para tentar em vão esquecer o amor perdido, igualmente pobres habitantes da terra devastada pela natureza.

O personagem-narrador não é um estrangeiro por acaso. Os personagens de Karim Aïnouz têm mesmo essa característica em comum, a de serem estrangeiros, física ou metaforicamente. O cineasta, nascido no Ceará, é filho de mãe cearense e pai argelino como o escritor e filósofo Albert Camus (1913-1960), autor de O Estrangeiro, obra fundamental do existencialismo francês.

Apesar de tudo, do não-estar, da paisagem escura e desfocada e do estranhamento, o filme apresenta uma saída. No mundo do geólogo José Renato, a luz está logo ali, atrás das sombras. Diz o próprio diretor Aïnouz: “[o filme] é um diário de viagem absolutamente clássico, um ‘road movie’, em que o personagem sai de um lugar para outro e a travessia o transforma, como alguém que atravessou um deserto ou cruzou o oceano”.

O road movie é uma mistura de ficção e documentário, e foi realizado com sobras de filmagens de um curta-metragem sobre o sertão. Foi exibido na mostra Horizontes do Festival de Veneza em 2009.

Pelo menos até quinta-feira, 27, o filme ainda está em cartaz em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre. Ou então veja depois em DVD. Você vai odiar ou adorar. Eu celebro o experimentalismo.

Ficha técnica
Filme: Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo
Brasil - 2009
Direção: Marcelo Gomes e Karim Ainouz
Roteiro: Marcelo Gomes, Karim Ainouz e Eduardo Bernardes
Fotografia: Heloísa Passos
Edição: Karen Harley
Elenco: Irandhir Santos (voz em off)

Leia também:

A opinião do cineasta Eduardo Escorel sobre o filme

Entrevista com Eduardo Escorel a este blog, em março de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Diretor tailandês ganha a Palma de Ouro em Cannes

O filme Lung Boonmee raluek chaat (em tradução livre, “Tio Boonmee, aquele que se lembra de suas vidas passadas”), do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes neste domingo, 23.

O diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul

O filme conta a história de um homem doente que lembra de suas antigas reencarnações, inclusive como animais.

“Agradeço aos espíritos e fantasmas da Tailândia que me permitiram estar aqui”, disse Apichatpong em seu discurso de agradecimento em Cannes, segundo matéria de Thiago Stivaletti para o Uol.

O prêmio de melhor ator foi dividido entre Javier Bardem por Biutiful, de Alejandro González Iñárritu (México/Espanha) e Elio Germano, por La Nostra Vita, de Daniele Luchetti (Itália). Juliette Binoche ganhou como melhor atriz, por Copie Conforme, de Abbas Kiarostami (França/Itália/Bélgica).

Juliete Binoche fez um protesto no palco, exibindo uma placa com o nome do cineasta iraniano Jafar Panah, preso no Irã, num apelo por sua libertação.

Entre os muros da escola
Por falar em Cannes, Entre os muros da escola (do diretor francês Laurent Cantet, no original: Les Murs), vencedor da Palma de Ouro em 2008, está “em cartaz” no Telecine Cult (terça, 25, às 19h45) . É um filme muito interessante para quem é professor, embora trate de uma realidade muito distante da nossa, mas com pontos em comum (a violência nas escolas, por exemplo, que aqui é incomparavelmente maior).

François Marin (na foto, em cena do filme) é professor de francês (interpretado por François Bégaudeau) de uma turma de alunos entre 13 e 15 anos da oitava série. Na França de hoje, os bancos das escolas francesas são divididos entre negros africanos, asiáticos latino-americanos e, claro, brancos franceses.

A fratura social do país está retratada nessa história em que o professor tem de resolver, além dos problemas cotidianos de qualquer docente, os gerados pelas diferenças sociais e raciais. Os debates se dão em sala de aula. Os alunos são politizados. Quando chamados a falar, os negros exibem seu inconformismo quase inconsciente, às vezes revolta, contra a aculturação e a colonização branca, de que têm uma consciência ainda em formação.

É muito significativo que, em certo debate na sala de aula, os alunos expressem o orgulho de sua raça citando os craques do futebol, oriundos de seu país, que brilham na Europa. Como Zidane (de origem argelina), Didier Drogba (Costa do Marfim), Kanouté (Mali) e outros. Um dos alunos torce para o Marrocos na Copa Sul-Africana de Nações, outro para Mali, mas há o negro que, embora consciente e de origem africana, se diz francês. É hostilizado.

A fratura da sociedade francesa, cristalizada na revolta nos subúrbios da França em 2005, é a associação mais imediata ao assistir ao filme. Outra: o futebol francês só conseguiu o título mundial de futebol em 1998 quando a nação da “liberdade, igualdade e fraternidade” incorporou os negros à sua seleção.

Por fim, não tem como não pensar que o mundo dos jovens da França atual é muito diferente daquela realidade água-com-açúcar dos filmes de François Truffaut. Quem não se lembra do personagem Antoine Doinel, interpretado por Jean-Pierre Léaud em uma série de filmes como Os Incompreendidos (Les quatre cents coups - 1959), O Amor aos Vinte Anos (Antoine et Colette - 1962) e Beijos Proibidos (Baisers volés - 1968)?

A realidade francesa de hoje é muitíssimo mais complexa do que a que vemos no pueril retrato social feito por Truffaut nos anos 60. Vale a pena conferir o filme de Laurent Cantet.

Entre os muros da escola (Entre les murs - 2008)
Telecine Cult
terça, 25, às 19h45

domingo, 23 de maio de 2010

Internazionale é campeã da Europa após 45 anos

Com o estilo de futebol italiano típico, uma defesa quase intransponível com Samuel, Lúcio e Chivu, protegidos pelo argentino Cambiasso, a Internazionale contou com Diego Milito para definir em contra-ataques e bater o Bayern Munique por 2 a 0, sem muitas dificuldades, conquistando a Liga dos Campeões 2009-2010. A final foi no estádio Santiago Bernabéu, em Madrid. A Inter não ganhava o título desde a temporada 1964-1965.

Atletas da Inter na cerimônia de premiação
O meia holandês Sneijder, considerado cérebro da equipe da Bota, teve atuação apagada.Surpreendentemente, pelo menos para mim, que acostumou a vê-lo na área fazendo gols, o camaronês Samuel Eto’o fez uma partida tática, pela direita, ajudando na marcação.

O time de José Mourinho mereceu o título, embora jogando um futebol feio, de força. Mas com este futebol derrubou o Barcelona, o melhor time do mundo, nas semifinais. Já o Bayern de Louis van Gaal não impôs resistência e dependeu do talento de outro holandês, Robben, que nada pôde fazer contra a muralha da Inter.

Inter que, detalhe, entrou em campo com 11 jogadores não-italianos: Júlio César; Maicon, Samuel, Lúcio, Chivu; Zanetti, Cambiasso, Sneijder; Eto’o, Milito e Pandev.Provavelmente para quebrar essa marca de um time apátrida, Mourinho colocou o zagueiro Marco Materazzi (aquele mesmo, que Zidane derrubou com uma cabeçada em 2006) aos 42 do segundo tempo. Só pra ganhar o bicho, como se dizia antigamente.

A Copa da África do Sul está chegando.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Pensamento para sexta-feira [4] – Nietzsche

Aforismo 215 - IDEAL E MATÉRIA

Tu tens um nobre ideal em vista: mas serás tu próprio feito de uma pedra suficientemente nobre para poder dela tirar a estátua do teu deus? E, no caso negativo, nada do teu trabalho chegará a outro resultado que não seja uma escultura bárbara? À injúria do teu ideal?

Friedrich Nietzsche – in A Gaia Ciência

Dorival Júnior, o moralista

Foto: Eduardo Metroviche
O treinador Dorival Júnior resolveu dar uma de general. Os jogadores Neymar, André, Paulo Henrique Ganso e Madson foram afastados da partida contra o Atlético-GO, como punição por terem contrariado sua ordem para se apresentarem à concentração às 23h da quinta-feira. Eles só apareceram às 3h.

Os grandes e jovens jogadores do Santos acabam de ser campeões paulistas e levar o clube a uma final inédita de Copa do Brasil, doando-se como se doam os grandes, tendo levado o Santos novamente às manchetes do mundo todo.

“Ué, mas eles não acabaram de conquistar tudo agora? Deixa os meninos irem na balada. Que moralismo!”, ouvi de um jovem são-paulino agora há pouco.

É muitas vezes nos maiores momentos que os homens mostram se são de fato grandes ou medíocres. Os atletas citados e punidos deveriam ter sido recompensados com alguns dias de folga e liberados da partida contra o Atlético-GO, como prêmio por tão grandes alegrias que deram a sua torcida. Ao invés disso, moralismo e punição neles.

Dorival Júnior – que já errou escalando-os contra o Ceará – deveria saber que um grande exército comandado por um general inferior não terá sequer a sua Waterloo.

PS (terça, 25, 12h30):
Na minha modesta opinião (nunca joguei futebol como profissional), não há nada mais importante em um elenco do que o chamado "alto astral" e a união. Não quero ser mal interpretado com o que escrevi acima na sexta-feira. Como profissionais que são, os jogadores têm, sim, de respeitar as normas. Mas, em casos específicos como esse, as punições me parecem contraproducentes.

Será que o dr. Sócrates, por exemplo, apoiaria tal punição? Mais: afastar e negociar o meia Mádson, após uma campanha vitoriosa do time neste semestre, é o melhor, considerando que o baixinho é tão querido no elenco e pela torcida? Ou Dorival vai angariar antipatias e promover divisões no elenco, com sua postura de general? Minha antipatia ele já tem.

Vinte e cinco anos depois da “democracia corintiana”, algumas coisas têm de ser consideradas, afinal tudo muda na história, e o futebol não está fora da história.

Mas o estilo militar continua. O "comandante" antecipou para segunda-feira a concentração (que deveria ser na terça, 25) dos jogadores solteiros para o jogo com o Guarani. Não sei. Os tempos mudaram. Dorival pode ser bem sucedido nesse estilo linha dura, mas também pode quebrar a cara.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Santos faz 3 a 1, elimina o Grêmio na Vila e Silas morre pela boca


Santos FC/Divulgação
A vitória do Santos por 3 a 1 contra o Grêmio, que dá ao time da baixada santista a condição de disputar uma inédita final de Copa do Brasil contra o Vitória, em 28 de julho e 4 de agosto, foi mais uma vez sofrida, bela e incontestável (veja os gols abaixo), como têm sido as decisões de que tem participado o time de Neymar, Ganso, Robinho, André e companhia. Nos mata-matas contra Santo André, Atlético/MG e Grêmio, o Santos mostrou mais uma vez que não gosta de jogo fácil, mas de futebol bonito.

O Grêmio, que venceu por 4 a 3 em Porto Alegre, diga-se, foi um adversário que só valorizou a vitória paulista. Até os 25min do primeiro tempo, dominando o meio campo, e se aproveitando de atuações apagadas dos craques alvinegros, que erravam passes sem parar, ameaçou a meta de Felipe constantemente. A partir dos 25, porém, o Santos conseguiu acalmar os nervos que estavam à flor da pele, pôs a bola no chão e começou a conquistar a vitória.

O maior problema do Peixe era a ausência de Arouca, suspenso. Mas, descontada a primeira metade do primeiro tempo, quando os gaúchos dominaram as ações, pode-se dizer que Rodriguinho, no lugar de Arouca, cumpriu a missão com competência.

Final da ópera
O segundo tempo veio com um Santos disposto a mostrar que não foi o time mais badalado do primeiro semestre por acaso. Com a Vila lotada, os comandados de Dorival Júnior fizeram três golaços. Depois do gol de Paulo Henrique, daqueles decisivos e definitivos, o Grêmio se expôs e seu gás acabou. Eram 6 minutos do segundo tempo.

O técnico gremista, Silas, falou em entrevista, antes de começar a segunda etapa, que o plano era segurar até os 15 minutos, porque a partir daí os espaços se abririam. Mas com o gol tão cedo, ele morreu pela boca, porque a partir da vantagem santista os espaços se abriram para o Santos.

Depois de impor um rolo compressor e encurralar o Grêmio em seu campo, e mesmo com o 1 a 0 que já lhe dava a classificação, o time da Baixada fez 2 a 0 aos 24: Robinho (e que golaço!) encobriu o goleiro Victor de primeira, com tamanha categoria que me fez pensar: por Robinho eu torço pela seleção brasileira na Copa. Não por ele ser do Santos, mas por pinturas como essa, que nos fazem adorar o futebol.

Voltando, aos 29, Rafael Marques achou um gol para um Grêmio já praticamente batido, que começava a apelar para a violência e até então, no segundo tempo, não tinha ameaçado a meta alvinegra. E voltou ao jogo. Foram 11 minutos de agonia, mais para a torcida do que para o time do Santos, que se manteve concentrado. E o contra-ataque que Wesley consumou de maneira magistral aos 40, fulminante, driblando o goleiro Victor (que na minha opinião saiu mal e precipitadamente), matou o Tricolor.

O Grêmio perdeu a cabeça e terminou a partida dando porrada, apequenando (ou confirmando?) suas próprias tradições.

Silas
Algumas palavras sobre o treinador do Grêmio. Silas falou bastante, e mais do que devia, durante a semana. Disse, por exemplo, relembrando seus tempos de jogador do São Paulo: "Meu retrospecto na Vila Belmiro é muito bom. Acho que não perdi lá, ou pelo menos não me lembro”. E acrescentou: “não acho difícil jogar lá. É como o Alfredo Jaconi (estádio do Juventude de Caxias do Sul)”.

Os jogadores do Santos ouviram isso, claro. O pretensamente esperto técnico só motivou o adversário.

Após o jogo e a vitória peixeira, Neymar desabafou: “falam que eu sou cai-cai, mas quem caiu foi o Grêmio”. E, na entrevista coletiva, o zagueiro Edu Dracena respondeu ao comandante gremista: “[O Silas] tá começando agora. No futuro pode ser um grande treinador”.

Tira teima
Esta foi a terceira semifinal entre Santos x Grêmio na década. Em 2002, o Peixe de Leão, que veio a ser campeão brasileiro, eliminou o Grêmio de Tite ganhando de 3 a 0 na Vila e perdendo de 1 a 0 no Olímpico. Em 2007, o Tricolor gaúcho de Mano Menezes tirou o Alvinegro da Libertadores com 2 a 0 a favor em POA e 3 a 1 contra na Vila.

E, pela Copa do Brasil, neste 2010, o Santos de Dorival Júnior bateu o Grêmio do falastrão Silas. Jogando futebol.

Atualizado às 20h28

Veja os gols de Santos 3 x 1 Grêmio


quarta-feira, 19 de maio de 2010

A mazela da poluição sonora

Antigamente (não tão antigamente assim), uns caminhões de gás eram a própria materialização da poluição sonora, com aquela musiquinha. Nem todo mundo sabe que aquela musiquinha é uma degradação eletrônica de Pour Elise, de Beethoven.

Para conseguir espaço no “mercado”, logo surgiram outros caminhões de gás, que, para superar Pour Elise eletrônica, acionavam uma buzina violenta e ensurdecedora, bem de manhã. Uma coisa que, por não achar outro termo, só pode ser chamada de perversa.
Uma vez o cara buzinou tão agressivamente, e tão cedo, que acordei com o coração aos pulos, de susto. Eram uns caminhões clandestinos. Levantei da cama e pela janela xinguei o cara; aquilo era uma agressão inominável. Como assim, ser arrancado da cama por um idiota daqueles e ainda ficar quieto? Xingado, o motorista desceu do caminhão e ainda proferiu ameaças ao meu portão. Chamei a polícia. Deu em nada, mas hoje esses caminhões não existem mais. Ainda tem o caminhãozinho da Ultragás e outras empresas, que também incomodam, mas menos do que os de outrora.

Tem aquele miserável carro da “pamonha de Piracicaba”, que anda meio raro, mas ainda incomoda, principalmente na periferia, embora não seja mais “de Piracicaba”.

Evangélicos vs. PSIU
E, na capital de São Paulo, o PSIU foi praticamente extinto por iniciativa do vereador Apolinário (DEM) com a conivência de situação e oposição, além do prefeito, para favorecer o lobby das igrejas evangélicas, que agora podem fazer seus rituais (nem vou adjetivar) com os decibéis que quiserem, e ninguém quer interferir para não perder seus votos. Não sou só eu, que posso ser acusado de esquerdozóide ou endemoniado, quem diz. Está, por exemplo, no blog do Milton Jung, num ótimo texto de Carlos Magno Gibrail, que você pode ler clicando aqui.

E a poluição sonora, essa mazela tão grave, continua também a se manifestar por outras formas, animal e humana.

A animal (que também é humana): poodlezinhos carentes, vira-latas neuróticos, pastores alemães deturpados e outras variações caninas, não importa quais, que à noite resolvem latir, ganir, chorar e até uivar, como se estivéssemos num mundo inferior de Dante, e você não consegue nem dormir, nem assistir a um filme. Agora mesmo, 01h47 desta quarta-feira, por coincidência, uma sinfonia de cães estúpidos está latindo. E todo mundo acha normal. (Nem todo mundo. Um dia, um rapaz, num boteco em Perdizes, bairro paulistano onde eu morava, estava inconformado: "vou dar chumbinho pruns cachorros, mano, não consigo mais dormir", disse, entre goladas de cerveja. Eu argumentei a favor da vida dos cães, mas entendi os motivos dele.)

A humana
: alarmes de carros ou empresas, geralmente pequenas, que só servem para inundar o ar de barulho, já que alarmes não impedem que os carros desapareçam, e todo mundo acha normal, porque todo mundo já está louco.


Os carros de som dos políticos em campanha, que grassam como praga em cidades periféricas à capital em épocas de eleição.

E essa nova modalidade de guardas-noturnos, que andam pelos bairros com suas motinhos dando apitinhos, pra avisar que estão ali, seja para proteger, seja para roubar? Podiam proteger e roubar, mas pelo menos que fosse em silêncio, catzo.

E como não ouvir as caçambas e aqueles caminhões cujas correntes relincham metálica, acintosamente no meio da madrugada, e se você reclama os caras ainda te ameaçam? Ou os guinchos? Ou as motos com escapamento aberto ou estourando, que agridem a sociedade incessante e impunemente, noite após noite.

E ainda querem me proibir de fumar meu cigarrinho. Dou minha palavra: no dia em que o estado combater e punir os responsáveis pela malfadada poluição sonora, eu paro de fumar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Em pesquisas, Dilma supera Serra; no Irã, Lula promove acordo pela paz mundial

Analistas políticos globais e quetais estavam eufóricos na semana passada, uma "semana ruim" do governo e de "sua candidata" (entre outros motivos, pelo fator Romeu Tuma Júnior). Mas, nesta segunda, 17, os ventos mudaram um pouco de rumo.

Depois das pesquisas Vox Populi e CNT/Sensus, divulgadas respectivamente no sábado, 15, e segunda-feira, 17, que colocam Dilma Rousseff à frente de José Serra, e após o acordo fechado por Brasil, Turquia e Irã, importante vitória diplomática do presidente Lula e do Itamaraty, é de se esperar agora quais os próximos lances da oposição e da mídia militante. Torpedos devem estar a caminho. Aguardemos se serão disparados antes ou depois da Copa do Mundo. Creio que depois.

Veja os números das recentes pesquisas:

Vox Populi (divulgada sábado, 15 de maio)
Dilma Rousseff (PT) - 38%
José Serra (PSDB) - 35%
Marina Silva (PV) - 8%
(margem de erro: 2,2 pontos percentuais)

CNT/Sensus (divulgada segunda, 17 de maio)
Dilma Rousseff (PT) - 35,7%
José Serra (PSDB) - 33,2%
Marina Silva (PV) - 7,3%
(margem de erro: 2,2 pontos percentuais)

O acordo com o Irã

Ricardo Stuckert/Agência Brasil
Como se já não bastassem os números favoráveis a sua candidata, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva apostou num diálogo que – a menos que seja boicotado pelas potências – pode vingar. O Irã está com a palavra no momento em que o Conselho de Segurança da ONU estava prestes impor sanções ao país dos antigos persas por sua suposta intenção de construir a bomba nuclear. Até a Rússia já dava sinais de aderir às sanções exigidas pelos Estados Unidos. A China se menteve cautelosa e quieta.

Pelo acordo, o Irã vai enviar à Turquia 1,2 mil quilos de urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20%. Ainda não está claro até que ponto Mahmoud Ahmadinejad é um interlocutor confiável.

Os EUA continuam apostando no ceticismo retórico, pondo em dúvida justamente a confiabilidade do presidente iraniano, e mirando o fracasso do acordo: "Nós reconhecemos os esforços feitos por Brasil e Turquia", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, com a ressalva: a proposta "precisa agora ser encaminhada claramente à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), antes de ser considerada pela comunidade internacional". ´

Como disse Paulo em comentário no post anterior ao acordo, neste blog, “os EUA estão é morrendo de medo de que a intervenção de Lula dê certo”.

Em entrevista ao site Opera Mundi, o consultor da AIEA Leonam dos Santos Guimarães disse que o acordo entre Brasil, Irã e Turquia é satisfatório e que o ceticismo das potências mundiais “não faz sentido”. Leia aqui.

Segundo a Agência Brasil, “um documento com dez itens foi a base do acordo”. Veja o texto da repórter Renata Giraldi neste link.

Na segunda rodada, Brasileirão 2010 ainda não motiva nem clubes nem torcedores

O decantado Campeonato Brasileiro de pontos corridos ainda não conseguiu empolgar nem os próprios clubes. Com “a cabeça na Libertadores”, o São Paulo misto perdeu do Botafogo no Morumbi” (1 a 2) e o Cruzeiro empatou com o Avaí no Mineirão (2 a 2); “com “a cabeça na Copa do Brasil”, o Santos não saiu de um pífio empate (1 a 1) contra o Ceará na Vila Belmiro (desfalcado apenas de Robinho e Léo) e o mistão do Grêmio foi derrotado no Olímpico pelo Corinthians (1 a 2).

Quarta-feira, pelas quartas de Libertadores, o São Paulo recebe o Cruzeiro no Morumbi, às 21h50. O Tricolor pode perder por até um gol de diferença, já que em BH bateu a Raposa por 2 a 0, e por isso o time paulista é franco favorito para ir à semifinal.

Também na quarta às 21h50, disputando uma vaga na final da Copa do Brasil, Santos e Grêmio duelam na Vila. O Peixe tem que ganhar por qualquer placar para disputar o título contra o vencedor de Vitória x Atlético-GO (no jogo de ida, 4 a 3 para o Tricolor Gaúcho contra o time de Dorival Junior, num jogo memorável).

Vasco 0 x 0 Palmeiras ("pelo amor dos meus filhinhos!")

A única partida à qual assisti neste fim de semana, Vasco 0 x 0 Palmeiras, em São Januário, foi indigna da história dos dois clubes. Houve momentos bisonhos, como um chute do vascaíno Caíque, que foi parar na lateral. Ou uma trombada bizarra entre o goleiro Marcos e o meia Cleiton Xavier, que só não resultou em gol do Botafogo porque o volante Souza, que ficou com a sobra da “dividida” entre Marcos e Cleiton, chutou para fora, de maneira que o velho narrador Silvio Luiz teria assim narrado: “pelo amor dos meus filhinhos!” Ou furadas espetaculares. Lances típicos de comédia ou várzea, e não de um jogo de primeira divisão do Nacional. Pelo menos, dei risada.

Se você vir “os melhores momentos” de Vasco 0 x 0 Palmeiras (abaixo), pode ter uma falsa impressão. Porque, em verdade vos digo!, não foi um jogo de primeira divisão.



O duelo teve cerca de 60 passes errados dos dois times. O Vasco dominou o primeiro tempo, mas não anotou nenhum tento porque seu ataque não parece com apetite para isso. O propalado Felipe Coutinho não mostrou a que veio. A partir dos 15min do segundo tempo, o Palmeiras passou a comandar as ações, mas não chegou a pressionar o Vasco, ameaçando a meta cruz-maltina só em lances isolados.

Poucas vezes vi um jogo cujo placar fosse tão justo quanto esse Vasco 0 x 0 Palmeiras na tarde-noite deste domingo. Chegou um momento em que eu torci para ninguém fazer gol, porque nenhum dos dois times merecia marcar. A peleja terminou sob estrepitosa vaia, como notou o narrador do Sportv, Milton Leite. Pelo amor dos meus filhinhos!

sábado, 15 de maio de 2010

A missão ousada e arriscada de Lula no Oriente

O protagonismo do Brasil cresce ainda mais no tabuleiro geopolítico mundial, com a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estes dias, à Rússia. Ele estará hoje, sábado, no Catar e domingo no Irã, onde se encontra com o presidente Mahmoud Ahmadinejad.

A missão do presidente brasileiro recebeu apoio incondicional da Rússia, como “talvez a última oportunidade antes da adoção das medidas que todos conhecemos no marco do Conselho de Segurança das Nações Unidas", nas palavras do presidente russo Dmitri Medvedev nesta sexta-feira, 14, em entrevista coletiva no Kremlin.

Lula e Medvedev, no Kremlin
Os EUA pressionam para que as sanções contra o Irã sejam aprovadas no Conselho de Segurança da ONU, no qual apenas cinco países, os membros permanentes, têm poder de veto: Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China.

Lula e seu chanceler, Celso Amorim, defendem a tese de que as sanções exigidas pelo governo Obama só agravariam o conflito, que ainda se mantém no âmbito diplomático. Quanto a Obama, na questão iraniana suas posições não diferem do governo Bush, é triste admitir. Pelo menos na retórica, é justo ressalvar. Os EUA continuam a agir como o eterno ventríloquo de Israel, e não o contrário.

O The New York Times abordou o tema, hoje (sexta-feira), enfatizando o óbvio: que a posição brasileira é a de que sanções provavelmente intensificariam o conflito. Mas o mais importante diário dos EUA, sem perder uma espécie de elegância na abordagem, usa o depoimento de fontes para criticar duramente a posição brasileira, na pessoa de Lula.

O NYT menciona preocupações no Brasil de que um fracasso na tentativa de Lula dialogar com Teerã colocaria “Mr. da Silva” como um “amador” em seu intento de conseguir um assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança. “Críticos no Brasil questionam por que ‘Mr. da Silva’ abraçou o Irã nos últimos meses sob o risco de se indispor com os Estados Unidos”, diz o jornal.

Finalmente, cita uma fonte, que é Michael Shifter, presidente da Inter-American Dialogue, de Washington, especializada em política exterior. “Há uma sensação em Washington que parte disso é uma tremenda autoconfiança de Lula, que ele acredita ser um mágico que pode operar milagres e conseguir o que outros tentaram e não conseguiram.” O diário estadunidense ironiza, dizendo que, enquanto Lula afirma acreditar que suas chances de êxito no encontro com Ahmadinejad são de 99%, o colega russo Medvedev diz serem de 30%.

Enfim, o New York Times expressa a posição de Washington. Que muitas vezes não precisamos nem traduzir, porque está nas páginas de nossos próprios jornais, como se pôde constatar quando da visita de Lula ao Oriente Médio.

O atual lance do presidente do Brasil no tabuleiro do xadrez mundial é ousado, mas arriscado. Porque ele desafia interesses políticos de Titãs.

O Brasil nunca chegou a tal protagonismo na cena internacional, em que, historicamente, sempre partilhou do princípio nefasto segundo o qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.

Princípio que, envernizado e recoberto de enfeites light, corremos o risco de voltar a viver se José Serra ganhar a eleição. Mas esse já é outro assunto.

Leia a matéria do New York times aqui. (Lógico, se quiser).

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pensamento para sexta-feira [3] – Sympathy for the Devil

O comentário de Alexandre, no post Grêmio 4 x 3 Santos, ao som de "Sympathy for the Devil", me inspirou este “Pensamento para sexta-feira [3]”.

Muito simpático esse “Sympathy for the Devil a todos” do referido comentário no post. Então, Sympathy for the Devil a todos! Bom fim de semana. Sejam felizes!

A quem se interessa, a letra e tradução da canção, que é uma verdadeira sinfonia pop, com letra (poema) de rara beleza, vai neste link.

E, abaixo, uma performance de “Sympathy...", com destaque para a guitarra solo de Keith Richards, animal:

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Grêmio 4 x 3 Santos, ao som de "Sympathy for the Devil". E o São Paulo matou o Cruzeiro

Escrevo este post ao som de Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, para falar desse grande jogo que foi Grêmio 4 x 3 Santos, pela semifinal da Copa do Brasil.

Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what's puzzling you
Is the nature of my game

Não dá pra falar sobre os lances do jogo, lance a lance, ao estilo crônica esportiva brasileira. Quem viu, viu. O Grêmio no Olímpico é temível. O Santos fez uma grande partida e dominou até Rodrigo Mancha entrar no lugar de Marquinhos, mais ou menos aos 10min do segundo tempo, quando estava 2 a 0 para o Peixe e a torcida já comemorava. O time de Dorival Júnior perdeu a chance de fazer 3 a 0, lembrando que o goleiro Felipe pegara um pênalti quando o placar já marcava 2 a 0. Porém, Mancha fez justo o contrário do que entrou para fazer: ao invés de dificultar as ações do Tricolor gaúcho no meio-campo, perdeu duas bolas cruciais e... 2 a 2, em questão de minutos.

Veja os gols de Grêmio 4 x 3 Santos



E, em questão de minutos, 4 a 2 para o temível Grêmio do Olímpico. Quando caiu em si, aos 31 min do segundo tempo, o Alvinegro estava sendo goleado. Mas apareceram Ganso e Robinho. Aos 38min, o meia deu um passe magistral (mais um) para o atacante. Até então apagado, o camisa 7 matou no peito e fez um gol de Santos. Daqueles que só quem é santista entende.

A volta, na Vila, vai ser pegada. Mas os 4 a 2, que estavam muito bem para o Grêmio, se tornaram um 4 a 3 difícil para os gaúchos, graças a esse lindo gol. Na quarta-feira, dia 19 de maio, contando com Neymar, o Santos só precisa vencer e é favorito.

Tchau, Cruzeiro
O São Paulo virtualmente eliminou o Cruzeiro da Libertadores. Com os 2 a 0 no Mineirão, só uma catástrofe deixaria o time de Ricardo Gomes de fora. A Raposa teria que fazer 3 a 1, ou 4 a 2, no Morumbi. Ou lutar pelos 2 a 0, fora de casa, para ir aos pênaltis. Algum cruzeirense será que acredita?

É uma grande vitória do treinador são-paulino. Ninguém esperava, e ouvi torcedores do Tricolor dizendo que perder para o Cruzeiro seria bom, “pro Ricardo Gomes cair”. Agora, o São Paulo está praticamente na semifinal da Libertadores. O que vão dizer esses são-paulinos agora?

Nota de pesar: o Flamengo eliminou o Corinthians mas já está virtualmente fora da Libertadores, após perder para o bom time do Universidad de Chile por 3 a 2 em pleno Maracanã.

Assista aos gols de Cruzeiro 0 x 2 São Paulo



PS: Atualizado às 11h52

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Começa o festival de Cannes


Começa hoje o mais glamouroso festival de cinema, em Cannes. Vendo a lista de filmes que serão exibidos em competição, gostaria de poder assistir a alguns. O problema é o hiato entre o desejo e o possível: o vencedor da Palma de Ouro de 2009, A Fita Branca, do diretor austríaco Michael Haneke, só estreou no Brasil em fevereiro deste ano (está no Belas Artes).

Os filmes que me chamam a atenção (pelos diretores) e que veria, se possível (mas não será, tão cedo):

- Biutiful (Lindo), de Alejandro González Iñárritu (o diretor do ótimo Babel - 2006)

- Copie Conform (Cópia Autenticada), do iraniano Abbas Kiarostami

- La Princesse de Montpensier (A Princesa de Montpensier), de Bertrand Tavernier, diretor do excelente A Isca (L'Appât - 1995), ganhador do Urso do Ouro em Berlim

- Film Socialisme (Filme Socialismo), de Jean-Luc Godard

Fora os filmes em competição, há sempre a chance de ver em primeira mão o novo filme de um velho e bom cineasta. E advinha quem mostra uma película recém-saída do forno? Ele mesmo, Woody Allen, cujo Tudo pode dar certo ainda está em exibição em São Paulo. Em Cannes, ele apresenta You Will Meet a Tall Dark Stranger (Você Conhecerá um Estranho Alto e Negro).

Não custa lembrar que, em 1962, um filme brasileiro – O Pagador de Promessas, dirigido pelo brasileiro Anselmo Duarte – ganhou pela primeira e única vez o principal prêmio de Cannes, justamente a Palma de Ouro.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Dunga mantém "coerência", privilegia "soldados" e deixa craques de fora

Treinador na coletiva
Nem Paulo Henrique Ganso, nem Neymar. Dunga manteve a chamada coerência, com quase a mesma lista da partida contra a Irlanda, no início de março (veja abaixo os 23 convocados para a Copa do Mundo e *mais os sete da "lista de espera"). Grafite no lugar do deprimido e gordo Adriano, que não tinha mesmo que ir, foi uma solução normal (outra opção era Diego Tardelli) assim como Ronaldinho Gaúcho, um deus de papel. Espero que não estejam nem na lista dos sete que será divulgada no fim da tarde.

Não dá para dizer que Dunga está errado, considerando que seu discurso sempre foi o da lealdade ao grupo com que fez uma campanha vitoriosa nas Eliminatórias e ainda conquistou a Copa das Confederações (2009) e a Copa América (2007). Mas o fato é que jogadores talentosos substituídos por um elenco do soldados leais é extremo. É muito pouco.

Dupla santista ficou de fora
Eu levaria Ganso, principalmente, e Neymar. Por que não?Josué, Kléberson e Júlio Baptista, na minha opinião, são aberrações nesse time, considerando tantas outras possibilidades. Há quem não entenda a não convocação do goleiro Victor, do Grêmio, preterido. Irão Gomes (que sempre achei um frangueiro) e Doni, que nem está jogando na Roma.

“Eu não quero coerência por ter coerência, quero que os jogadores acreditem no que eu falo”, disse Dunga na coletiva. É uma frase emblemática que resume o pensamento do treinador que comandou por três anos e meio a seleção.

Agora, na lista há quatro considerados “meias”: Kaká, Ramires, Elano e Júlio Baptista. Nenhum deles é um meia. Nem Kaká, que joga como os jogadores que antigamente chamávamos ponta-de-lança (Leivinha, do Palmeiras, por exemplo).

Meias são Alex, do Fenerbahce (foto), Ricardinho (Atlético/MG), Diego (Juventus de Turim) e Paulo Henrique Ganso. Mas não teremos nenhum deles lá. Eu levaria Ganso ou Alex.


Os 23 convocados por Dunga:


Goleiros
Júlio César (Inter/ITA)
Doni (Roma/ITA)
Gomes (Tottenham/ING)

Laterais
Maicon (Inter/ITA)
Daniel Alves (Barcelona/ESP)
Michel Bastos (Lyon/FRA)
Gilberto (Cruzeiro)

Zagueiros
Lúcio (Inter/ITA)
Juan (Roma/ITA)
Luisão (Benfica/POR)
Thiago Silva (Milan/ITA)

Volantes
Felipe Melo (Juventus/ITA)
Gilberto Silva (Panathinaikos/GRE)
Josué (Wolfsburg/ALE)
Kleberson (Flamengo)

Meias
Kaká (Real/ESP)
Ramires (Benfica/POR)
Elano (Galatasaray/TUR)
Júlio Baptista (Roma/ITA)

Atacantes
Luís Fabiano (Sevilla/ESP)
Robinho (Santos)
Nilmar (Villarreal/ESP)
Grafite (Wolfsburg/ALE)

A lista dos sete (*atualizado às 17h58)

A chamada "lista de espera", composta por jogadores que podem substituir algum (uns) dos 23 inicialmente convocados, é composta pelos seguintes atletas:

– Paulo Henrique Ganso (Santos), Ronaldinho Gaúcho (Milan), Alex (Chelsea), Diego Tardelli (Atlético-MG), Sandro (Inter), Marcelo (Real Madrid) e Carlos Eduardo (Hoffenhein).

Marcelo podia muito bem ir no lugar do discreto e fleumático Gilberto (aliás, para que quatro laterais?). Ganso podia entrar no lugar de vários. À escolha. E o Gaúcho, como eu disse, não levaria de jeito nenhum. Nem no lugar do Josué.

O tal Carlos Eduardo nunca vi jogar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Linha 4 - Amarela do Metrô: inaugurações serão a conta-gotas

O atraso da fatídica Linha 4 - Amarela do Metrô continua. No último sábado, entrevista do próprio secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portela, à Rádio Bandeirantes, mostrou que a inauguração da tão esperada linha que vai ligar o Butantã ao centro de São Paulo virou quase um jogo de apostas. “Nós imaginamos até o final de maio, início do mês seguinte, a inauguração”, disse.

Em 23 de março, a Folha de S. Paulo falava da "expectativa" de inauguração das estações Faria Lima e Paulista "nos próximos dias".

A revista Veja São Paulo, sempre solícita para com os projetos dos governos tucanos, anunciou no fim de março com entusiasmado título: “Metrô: trecho da Linha Amarela deve ser inaugurado na próxima semana”. Quarenta dias depois, nada.

Foto: Eduardo MarettiEstação Butantã começa a operar lá para outubro...

Outra coisa: não pense você, leitor otimista, que a operação das estações da Linha Amarela vai começar a todo vapor. “O primeiro trecho a ser inaugurado - que terá apenas as estações Paulista e Faria Lima - vai funcionar inicialmente somente das 9 horas às 15 horas”, informa-nos matéria do Estadão de 20 de abril.

Já o trecho da linha entre as estações Butantã e Pinheiros está prometida, no momento, para outubro. Ou seja, aproximadamente no período próximo do primeiro e do segundo turnos da eleição de 2010. Simples assim.

domingo, 9 de maio de 2010

Brasileirão 2010 começa em marcha lenta

A primeira rodada do Campeonato Brasileiro 2010 deixou claro que a emoção dos recentes mata-matas pelas finais dos estaduais, da Copa do Brasil e da Libertadores vai como que ofuscar, deixar em segundo plano o início do mais importante campeonato do país. Só depois da Copa do Mundo as coisas vão começar a se esclarecer e ficar mais interessantes.

Os campeões do Rio e de São Paulo abriram as cortinas, como diria Fiori Giglioti, e fizeram um bom espetáculo no sábado, no Engenhão. Botafogo 3 x 3 Santos.

Neymar deixou sua marca no Engenhão
O time misto do Santos (que poupou Robinho, Paulo Henrique Ganso, Pará, Edu Dracena e Arouca) teria saído com os três pontos não fosse a defesa, que continua vulnerável, tomando sem parar gols em rebotes na entrada da área. Foi assim o único gol do Atlético-MG na vitória peixeira (3 x 1) pela Copa do Brasil na quarta-feira, gol que ameaçou até o fim a classificação do Santos às semifinais. E foram assim os dois primeiros tentos dos três do time do Botafogo na abertura do Brasileiro. No terceiro, de Herrera, no apagar das luzes, Felipe saiu na indecisão caçando borboleta. Não dá, é muito gol. Preocupante.

Com razão, o centroavante André saiu de campo reclamando, tanto no fim do primeiro tempo como no término do segundo no Engenhão: “não podemos tomar esses gols bobos”. De fato: nos últimos cinco jogos (quatro decisivos – contra Santo André e Atlético-MG - e um importante, com o Botafogo), a defesa santista tomou cinco gols do Santo André (3 x 2; 2 x 3), quatro do Galo (2 x 3; 3 x 1) e três do Botafogo (3 x 3). Média de 2,4 por partida.

Veja os gols de Botafogo 3 x 3 Santos:





Palmeiras sofre

Não assisti à vitória de 1 a 0 do Palmeiras contra o Vitória no Palestra. Segundo ouvi, o time de Antônio Carlos foi recebido pela torcida aos gritos de “time sem vergonha”. No momento, as perspectivas do Palmeiras são meio sombrias. Se o time não se achar, pode ser rebaixado.

Parece que falta vontade ao atual elenco alviverde. Para piorar, o clube começa o Brasileiro com o treinador na corda bamba. A sorte do Palmeiras (que será azar para outros times) é que o Nacional deste ano ficará uns 40 dias parado durante a Copa do Mundo.


Flamengo 1 x 1 São Paulo

Assisti a esse empate morno entre o atual campeão brasileiro, Flamengo, e o anteriormente tricampeão São Paulo (2006-2007-2008). Ambos com a cabeça na próxima quarta-feira, quanto têm compromissos decisivos pelas quartas-de-final da Libertadores.

O time do Morumbi pensando na dificílima partida em BH contra o Cruzeiro; o Flamengo, no perigoso Universidad de Chile que vai receber no mesmo dia, no Maracanã.

O Rubro-negro jogou sem Leonardo Moura, Adriano e Vágner Love, poupados. O São Paulo não levou a campo Hernanes, Dagoberto e Alex Silva, pelo mesmo motivo. Tudo pela Libertadores.


Timão sem convencer

E o Corinthians conseguiu estrear vencendo, sem convencer. De virada, 2 a 1, contra o Atlético-PR no Pacaembu, mas com dois jogadores a mais e um pênalti discutível (veja os gols abaixo). O Timão pelo menos conseguiu sair do trauma da eliminação da Libertadores vencendo.

O discurso do Mano Menezes agora é o de buscar o título ou no mínimo uma vaga na Libertadores. Obsessão.

Com base no que vejo hoje, diria que o campeão brasileiro seria um desses quatro: Cruzeiro, Santos, Grêmio e Flamengo. Talvez (talvez) o Atlético-MG correndo por fora, com Luxemburgo mais inspirado... Mas hoje não é amanhã. Ninguém sabe o que será o pós-Copa do Mundo.

Veja os gols de Corinthians 2 x 1 Atlético-PR:


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pensamento para sexta-feira [2] - Carlos Drummond de Andrade - "Para sempre"

Leila – o nome da minha mãe, do Paulo e do Alexandre – significa "Noite" (ou "negra como a noite"), em árabe. A doce Leila adorava as manhãs e os dias de céu azul como o de hoje. "Que dia lindo!", costumava dizer.

Ela estaria feliz nesta semana de alegrias que nos deu nosso Santos Futebol Clube, campeão paulista. Era fã do Mauro Ramos de Oliveira, nosso zagueiro central campeão do mundo, capitão da seleção brasileira.

Tinha outros ídolos também: Roberto Carlos, Tyrone Power, Elizabeth Taylor, Clark Gable e muitos outros. Adorava cinema.

Leila se foi em 4 de fevereiro de 1999, na hora do pôr do sol. Não a verei domingo, dias das mães. Se pudesse, gostaria que ela ouvisse o poema de Drummond:

PARA SEMPRE

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

(Carlos Drummond de Andrade)


E na voz do próprio poeta:

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Flamengo detona sonho corintiano da Libertadores; Santos despacha o Galo na Vila

Segundo concluí dos relatos que ouvi, do jogo que não vi, sobre a mais importante notícia esportiva do dia 5 de maio de 2010, o Corinthians foi eliminado da Libertadores num jogo extremamente nervoso, que poderia ter se decidido a favor do Alvinegro numa cobrança de falta de Chicão, nos estertores da partida. Mas o goleiro Bruno defendeu.

De acordo com esses mesmos relatos, o Timão abafou no primeiro tempo e fez os 2 a 0 que lhe bastavam para ir às quartas. Mas a partida não foi boa, me disseram. “Se você assistir ao videotape, vai ver que, sem ser ao vivo, sem adrenalina, o jogo foi ruim e o Corinthians não fez muita coisa no segundo tempo”, disse um amigo que viu o jogo.

Como vimos aqui em casa Santos x Atlético/MG, um grande duelo, muito bem disputado, não posso ir além de dizer que o golpe foi duro nas hostes alvinegras do Parque São Jorge. Provavelmente, o santo guerreiro, que existe há muito mais tempo que o Timão, não ouviu os apelos dos que suplicaram por uma Libertadores no ano do centenário. Como eu disse aqui neste blog, os anos de centenário costumam ser cruéis para com os aniversariantes.

Mas provavelmente o time de Mano Menezes não teria caído logo nas oitavas se diante dele não estivesse a terrível camisa do Flamengo. Ironia: Vágner Love, ex-palmeirense, num golaço pela esquerda (não vi o jogo, mas vi os gols), decretou a derrocada corintiana. É mais do que comprovado que vencer uma camisa é muito mais difícil do que vencer um time.

Veja os gols de Corinthians 2 x 1 Flamengo :



Ao que parece, um árduo segundo semestre espera o Corinthians em 2010.

Santos na semifinal da Copa do Brasil
Depois da grande partida do Mineirão, quando perdeu por 3 a 2 num dia de Diego Tardelli, o Santos precisava de uma vitória simples. O time de Dorival Júnior, apesar de todo o espetáculo que deu no Paulistão e na própria Copa do Brasil, continua tendo que provar a toda hora que futebol bonito pode ganhar, apesar dos pragmáticos de plantão.

Não vou esquecer tão cedo a frase de José Trajano, no programa “Linha de Passe” (ESPN Brasil), quando da vitória do Peixe sobre o Corinthians (2 x 1) pelo Paulistão: “O Santos está sendo acusado de jogar bonito”.

No triunfo (mais uma vez) incontestável, desta vez sobre o Galo, Paulo Henrique Ganso de novo foi decisivo. Deu um passe desmontante (desculpe o neologismo) para Neymar cruzar e André fazer o primeiro gol; marcou, segurou a bola e fez o diabo.

Arouca jogou muito no meio, sobrecarregado como sempre. Pará fez outra partida exuberante, teoricamente como lateral direito. Mas ele se movimentou sem parar (trocadilho justo), cobriu lacunas no meio, deu bicão e (depois de recuperar a bola) deu o passe a Robinho, que cruzou para Neymar fazer o segundo gol.

O lateral esquerdo Léo foi de novo nota negativa do Peixe. Há muito tempo ele mais atrapalha do que ajuda. O problema é que não tem um reserva para Léo. Contundido, foi substituído pelo inseguro Alex Sandro (ou será Alexsandro?). Disse que já estava meio baleado antes. Ora, então por que entrou, eu perguntaria à comissão técnica? Para já queimar uma substituição de antemão?

O Galo diminuiria aos 45 do primeiro tempo, com Correa aproveitando uma sobra de “segunda bola” (mais uma falha da defesa santista), gol que permitiu ao time de Vanderlei Luxemburgo respirar no segundo tempo.

Confira os gols de Santos 3 x 1 Atlético/MG



Mas Ganso, na segunda etapa, voltou a ser protagonista. Exemplo: foi visto tirando de cabeça do centro da grande área de sua defesa uma bola que deveria ser de Durval ou Edu Dracena, que ninguém sabe onde estavam.

O terceiro gol saiu (de quem?) de Ganso, que dominou pela direita, tocou para Robinho (que fez um grande jogo, mais tática do que tecnicamente) cruzar para, no rebote, Wesley decretar o xeque-mate.

Palmeiras, São Paulo
A decepção paulista, fora o São Paulo que ganhou na bacia das almas de um timinho do Peru na terça-feira, começou antes, no início da noite, pelo Palmeiras. Apesar do gigantismo do grande goleiro Marcos, o Verdão tropeçou no pobre Atlético de Goiás.

Semifinais da Copa do Brasil

Santos x Grêmio
Atlético-GO x Vitória

Atualizado às 11h17

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Novo filme de Woody Allen não é de seus melhores, mas vá ver

Houve uma certa polêmica em torno do novo filme de Woody Allen, Tudo pode Dar Certo (Whatever Works), em cartaz em São Paulo. Uns críticos consideraram um “filme menor” de Allen; outros, tomando as dores do diretor, avaliam a obra como “um autêntico Woody Allen”.

Eu fico no meio termo. Chamou-se a atenção para o fato de que o filme marca o retorno do cineasta a sua amada Nova York. Mas não há nem como comparar com a obra-prima Manhattan (1979), por exemplo, se for para falar da capital cultural dos Estados Unidos. Ou com Hannah e suas Irmãs (1986), que tem um roteiro com semelhanças (o que não é um problema, em se tratando de Woody Allen). Mas Hannah... conta com um elenco fantástico e é divinamente dirigido.

O filme
Em Tudo Pode Dar Certo, Boris Yellnikoff (interpretado por Larry David) é um homem frustrado, mal humorado, hipocondríaco, ateu, inteligente e culto, que quase ganhou o prêmio Nobel de Física e já tentou o suicídio. O personagem padrão que o próprio Allen tantas vezes já foi, com elementos a mais ou a menos. Mas perde para os que o próprio Allen interpreta. E a atuação dos atores não chega a empolgar.

Um belo dia, ele encontra à porta de sua casa uma linda jovem de 21 anos, Melody Saint Ann Celestine (Evan Rachel Wood), que fugiu de casa, implora para comer alguma coisa, pede para ficar uns dias em sua casa e... Bom, não é difícil imaginar que acabam tendo mais do que um caso, que aparecem outros personagens, que há encontros e desencontros amorosos, coincidências incríveis etc.

Clichês? Sim, clichês allenianos, deliberados. No filme, aliás, ele zomba de si próprio, quando seu personagem ele-mesmo, Boris Yellnikoff, censura a deslumbrante Melody quando ela usa clichês de linguagem ou conceituais. Como, por vezes, o protagonista-narrador se dirige ao público da sala de cinema diretamente, tudo acaba soando como um grande autodeboche, que respinga no público. Se na sala de exibição houver um mal humorado como Boris Yellnikoff, ele talvez se irrite, xingue Woody Allen de cretino, sem imaginação, repetitivo, idiota...

Provavelmente, Allen adoraria tais elogios. E, se Tudo pode dar Certo não é um dos melhores filmes do genial diretor nascido no Brooklyn, vá ver assim mesmo. Mesmo que seja para ouvir jazz.

Resumindo: o filme não é dos melhores de Allen, tem vários defeitos, mas emociona. Ninguém é gênio por acaso.

Como uma leitora comentou no post sobre Manhattan, Woody “é igual pizza: mesmo quando é ruim, é bom!”.

Woody Allen no imdb.com

terça-feira, 4 de maio de 2010

O cigarro e o ateísmo

Sabia que existe a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea)? Pois existe, mas eu não estou aqui para convencer ninguém da existência ou inexistência de Deus.

É que a instituição divulgou nota de protesto por uma fala do candidato tucano, José Serra, à presidência da República. Em um evento evangélico em Santa Catarina, Serra, o homem saudável, mistura descrença no Altíssimo ao ato de fumar um cigarrinho: "a pessoa que fuma sabe que o cigarro vai fazer mal, mas continua assim mesmo. Depois, adoece e mesmo assim continua fumando. Assim é uma pessoa sem Deus. Sabe que Ele está ali, mas não o procura".

Segundo a associação dos ateus, a frase do ex-governador "é insultuosa porque iguala uma convicção filosófica a uma doença".

A íntegra da nota de protesto da associação está aqui.

Eu vou pitar um. Até a próxima.

Os cinco posts mais acessados de abril


Abaixo, as cinco publicações deste blog mais acessadas no período de 1 a 30 de abril:

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Paulo Henrique Ganso leva o Santos
ao 18° título paulista

O Santos é campeão paulista de 2010. Não podia ser diferente, mas ninguém esperava uma parada tão dura, uma final tão espetacular [após o primeiro jogo, vencido pelo Santos por 3 a 2]. Meio minuto, 1 a 0 para o Santo André. O empate, gol de Neymar, foi um gol “de Pelé”, mas só que foi de Neymar. Aí é que está. Chega de falar de Pelé! O Santos já está em Neymar, já passou por Robinho. E foi campeão liderado por Paulo Henrique Ganso. [Foi o sexto título do clube conquistado no Pacaembu - veja PS abaixo do post]

Infelizmente, a arbitragem foi protagonista do jogo. Primeiro, ao perder o comando, deixar o confronto virar confronto. O Santo André fez um grande jogo, mas catimbado, tentando conturbar. E conseguiu, bem ao estilo barraco de time pequeno.

A arbitragem anulou um gol legítimo do Santo André, quando ainda estava 1 a 1. Mas o Ramalhão logo em seguida fez 2 a 1 com justiça. A partida seguiu catimbada, por parte dos andreenses. O juiz Sálvio Spinola, depois de duas confusões seguidas, expulsou o atacante Nunes do Santo André e o lateral Léo, do Santos. A expulsão de Léo foi para compensar, porque Nunes deveria ter sido expulso sozinho. Sinceramente.

O Santos empatou, mas caiu na armadilha do time do ABC, e Marquinhos (peça importante, o bispo do jogo) fez uma falta grotesca. Foi expulso com justiça. Fim do primeiro tempo: Santo André 3 x 2 Santos. O Peixe com 9 jogadores contra 10.

Veja os gols do jogo:



No segundo tempo, o Santos administrou. Uma espécie de jogo de xadrez ficou claro no campo do Pacaembu. Paulo Henrique foi a rainha do título, se estamos falando de xadrez. Conseguiu inclusive evitar o erro final de Dorival Júnior, que já havia tirado Robinho e Neymar para pôr André e Roberto Brum, respectivamente. (Já pensou, você tirar Robinho e Neymar do seu time numa final?).

Enfim, Neymar saiu, Brum entrou e foi expulso, e o Santos ficou com oito contra dez.

Mas foi campeão mesmo assim. E ponto final. O futebol venceu.

FICHA TÉCNICA
Santos 2 x 3 Santo André
2/05/2010 – Pacaembu – São Paulo

Gols: Nunes, aos 30s, Neymar, aos 7 min e aos 32min, Alê, aos 20min, Branquinho, aos 44 minutos do primeiro tempo.

Santos
Felipe; Pará, Edu Dracena, Durval e Léo; Rodrigo Mancha, Arouca, Marquinhos e Paulo Henrique; Neymar (Roberto Brum) e Robinho (André) (Bruno Aguiar)
Técnico: Dorival Júnior

Santo André
Júlio César; Cicinho (Rômulo), Cesinha, Halisson e Carlinhos; Ale (Edson Pio), Gil, Branquinho (Rodrigão) e Bruno César; Rodriguinho e Nunes
Técnico: Sérgio Soares

Árbitro: Sálvio Spinola Fagundes (SP)
Assistentes: Maria Eliza Barbosa e Daniel Paulo Ziolli
Público pagante: 35.001
Renda: R$ 2.349.455,00

Cartões amarelos: Júlio Cesar, Rodriguinho, Carlinhos, Cicinho, Ale, Rômulo e Halisson (SAD); Pará, Neymar e Paulo Henrique Ganso e Edu Dracena (SAN)
Cartão vermelho: Nunes (SAD); Léo, Marquinhos e Roberto Brum (SAN)

PS [atualizado às 16h39]: este foi o sexto título do Santos no estádio do Pacaembu. Desde 1967, o clube não gritava "É campeão" nesse campo. Mais um tabu derrubado.

No Pacaembu

Títulos conquistados
1956 – Santos 4 x 2 São Paulo – Paulista
1959 – Santos 3 x 0 Vasco da Gama – Rio-São Paulo
1962 – Santos 5 x 2 São Paulo – Paulista
1966 – Santos 0 x 0 Corinthians – Rio-São Paulo
1967 – Santos 2 x 1 São Paulo – Paulista
2010 - Santos 2 x 3 Santo André – Paulista

Títulos perdidos
1959 – Santos 1 x 2 Palmeiras – Paulista
1966 – Santos 2 x 3 Cruzeiro – Taça Brasil
1995 – Santos 1 x 1 Botafogo – Brasileiro
2009 –Santos 1 x 1 Corinthians – Paulista

sábado, 1 de maio de 2010

Os 10 Melhores Termos de Busca do Mês [2] - abril de 2010

Aqui vai a segunda edição dos melhores termos de busca do mês, agora de abril ("o mais cruel dos meses", segundo T. S. Eliot).

Como já falei antes, estou copiando a ideia do blog Só Casando.

Para quem não sabe: muitas pessoas chegam aos blogs pesquisando (no Google, por exemplo), e para pesquisar digitam termos para chegar aos blogs, entende? É isso. Abaixo vão alguns termos (em itálico) pelos quais o povo chegou ao meu blog (a grafia é literalmente o que foi digitado na busca). Sob cada um desses termos esta redação de um homem só tenta dar uma resposta ao leitor que nem leitor sei se é.

Os 10 Melhores Termos de Busca (abril)

manchester x baia de monique no ottreffor

–Se eu comentar, a Bia Barbosa, do Intervozes, vai me acusar de um monte de coisas. Não dá mais nem pra contar piada, cacete. Mas o que o cara quis dizer foi Manchester x Bayern de Munique, no Old Trafford.

"eliane catanhede" cheirosa
Eu hein, Rosa!


acontecimentos identicos nos dias 15/4 16/1

– A busca por explicações das efemérides e das coincidências é muito importante para a espécie humana. Mas é mais importante ainda que essas buscas sejam claras.

robinho sentado em cima do zagueiro do sao Paulo
– Não fui eu quem disse! O Google pode provar.

O que acontece quando bebemos cerveja
– Ficamos bêbados. Pelo menos esse é o objetivo dos verdadeiros bebedores de cerveja, apesar da má qualidade da cerveja que bebemos.

quem falou que neymar do santos simulou a queda?
– Grande parte da “imprensa esportiva”, mas eu me lembro do Mauro César, da ESPN Brasil, defender a tese com muita convicção. Puta cara mal humorado! Mas o fato é que mesmo a duras penas deu a lógica no primeiro jogo da final do Paulistão.

"quantos metros tem o rogerio ceni e o marcos e o felipe do corinthans e o felipe do santos"
– Prezado leitor, se considerarmos que nenhum dos quatro chega a 2 metros, nem tem menos que 1m85 (suponho), com certeza a soma da altura deles é maior do que 7m40 e menor do que 8 metros.

corinthians x flamengo previsoes dos astrologos 2010
– É muito difícil, até para os astrólogos, prever o que vai acontecer. Mas, se você procura previsões sérias, fuja de Oscar Quiroga.

qual o problema do cinema brasileiro, por que não vai ?
– Na atual conjuntura, não acredito que haja nenhuma pessoa neste mundo com mais credibilidade pra responder essa pergunta do que Chico Xavier. Mas o cineasta Eduardo Escorel tem a sua opinião...

propagandas sensuais
– Mais uma vez, recorro a São Google, a memória de todos nós. Ele sabe que de modo algum eu ameaço a moral e os bons costumes. Só falei da Devassa, e acho que tem umas novelas da Globo mais proibíveis do que a inocente Devassa.