terça-feira, 31 de agosto de 2010

Verdades e mentiras sobre o estádio do Corinthians em Itaquera

A questão do estádio do Corinthians, em Itaquera, gerou um debate de certo modo acalorado no post abaixo [que, aliás, não tinha nada a ver com o estádio, e sim com a rodada do Brasileirão]. Por isso vai aqui uma nota.Para Paulo M, se concretizado, o projeto vai “ajudar a estruturar melhor uma região marginalizada da cidade, que é a zona Leste”. Mas diz ser desagradável “ver gente do tipo Kassab fazendo parceria com o Andres Sanchez pra viabilizar o projeto e se promover”... “A prefeitura de SP está fazendo tudo pra impugnar as obras de reforma do Palestra Itália.”

Estátio em Itaquera (projeto)/Reprodução
Já Felipe Cabañas afirma não se incomodar com o fato do Corinthians “ter tido ajuda política para viabilizar a construção de seu estádio”, lembrando que “o São Paulo também teve, inclusive dinheiro público, o que, até agora, não parece ser o caso no estádio do Corinthians”. Para ele, “o maior auxílio [político] no caso do Corinthians partiu do corintiano mais ilustre, Lula (...) Por que não? Não tem nada escuso aí.”
E diz que “não é a prefeitura que está querendo impugnar as obras [do Palestra Itália], mas a Associação de Moradores de Perdizes e Barra Funda que entrou no Ministério Público alegando que não há estudo de impacto” para tal obra.

Não sei se é a associação de moradores, a prefeitura ou, politicamente, ambos se juntando para atrapalhar as obras do Palestra. O prefeito paulistano, aliás, disse ontem que vai apoiar o Palestra. O que sei, como alguém que morou por mais de 20 anos na região, é que parece quase absurdo se fazer uma obra dessa magnitude naquela confluência entre avenida Sumaré, a rua Turiassu estreita e sufocada pela inauguração de mais um shopping, o Bourbon, e a avenida Pompéia.

A região está quase saturada pela especulação imobiliária que verticalizou o bairro sem que a prefeitura de “dr. Kassab” ou seu antecessor José Serra (sim, ele foi prefeito, lembram?) jamais tenham se preocupado com nada que não fossem os mega interesses ($). É verdade que a cidade tem três estádios históricos, que pedem só reforma, como diz Paulo M no comentário acima citado, e que “de repente, quase do nada (...) aparece assim um quarto como única opção!”

Particularmente, acho que:

1) seria absurdo fazer uma reforma monstro no Pacaembu e seu entorno para abrigar a Copa do Mundo. Aquela região toda é tombada. Um dos poucos locais ainda preservados e aprazíveis da cidade seria destruído. Só se precisa saber o que se vai fazer com o estádio do Pacaembu, que é da população. Se não, uma hora dessas aparece um tucano e privatiza.

2) O projeto da arena do Palmeiras (ao lado) é cercada mesmo por muitos entraves, urbanísticos, burocráticos e até políticos. Se o projeto está sendo boicotado ou não, não tenho condições de dizer. Mas os planos de intervenções na região próxima ao Palestra vão continuar (veja aqui). Nesse contexto, a arena palmeirense teria mais espaço. Mas, a tempo da Copa do Mundo? O presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, ao oferecer o Palestra, disse que não era para abrir a Copa, mas sediar outros jogos que não o da abertura. A verdade é uma só: não interessa à FIFA e aos investidores aproveitar o que já existe.

3) O Morumbi seria a solução mais óbvia, mas estava rifado desde o início pela FIFA. Por questões políticas, pela velha rixa São Paulo F.C. x Ricardo Teixeira e altos interesses financeiros. A FIFA quer porque quer um estádio novo, e ponto. Interesses, minha gente, interesses econômicos gigantescos. Reportagem da revista CartaCapital mostrou isso, semanas atrás (leia aqui: “A ganância vitima o Morumbi”).

4) Finalmente, o campo do Corinthians. Tecnicamente (urbanisticamente) parece ser a melhor solução. Do ponto de vista dos corintianos, se for viabilizado mesmo, finalmente o clube vai ter onde mandar seus jogos. Eu acho justo que o time de maior torcida do estado tenha seu campo e me parece apropriado que uma Copa do Mundo seja um catalisador desse processo. O clube aproveitou o imbróglio e se lançou. Está em seu direito. Diz que não vai haver dinheiro público. Mas nem tudo são flores: o projeto está orçado em R$ 300 milhões, para 48 mil lugares, que seriam bancados pela Odebrecht. Mas não poderia abrir a Copa com esse tamanho. No mínimo, teria que ter 65 mil, mas aí os custos subiriam para R$ 470 milhões. Quem paga a diferença?

Dogma
Aqui, uma observação: virou moda o discurso, quase um dogma, segundo o qual dinheiro público não pode ser usado nessas obras. É o que dizem os porta-vozes da moralidade. Meio hipócrita, isso.

Primeiro, porque, de uma maneira ou outra, por meio de isenções fiscais, contrapartidas ou parcerias, o dinheiro público sempre estará em projetos muito grandes e/ou importantes. Dizer o contrário é faltar com a verdade. O Estado existe também para investir. Ou acham que é só para vender patrimônio? Dizer que esse dinheiro deveria ir para hospitais, escolas etc é sofisma. Em segundo lugar, o dinheiro pago pelo contribuinte nos pedágios paulistas, por exemplo, não é dinheiro público? Por que os defensores da moralidade não falam disso? A Polícia Militar não está em todos os jogos de futebol? E a PM é paga com que dinheiro?

A questão é saber usar o investimento, capitalizar, tornar útil socialmente (como Luiza Erundina tentou fazer com o autódromo de Interlagos e foi impedida pelos direitistas da Câmara). Crime não é o estado investir – se houver transparência –, é deixar apodrecendo o que foi investido, como acontece com algumas obras dos Jogos Pan-Americanos. Quando Kassab e o atual governador, Alberto Goldman, garantiram que não ia haver dinheiro público nas obras, receberam aplausos da mídia. Logo quem.

Repercussão: O jornal britânico Financial Times critica o projeto do estádio corintiano aprovado de surpresa e diz que ele não vai ficar pronto no prazo estipulado pela FIFA. Leia aqui.

domingo, 29 de agosto de 2010

Com dois golaços, Santos bate Goiás e seus brucutus

A vitória de 2 a 0 do Santos sobre o Goiás neste sábado, no Pacaembu, foi convincente. Sem Ganso, operado no mesmo dia e saudado pelos jogadores alvinegros, que entraram em campo com uma faixa, “Força, Ganso”, o time, claro, não rendeu o habitual. Mas demonstrou garra, encurralou os goianos durante quase todo o jogo e não saiu com uma goleada por falta de sorte, às vezes pontaria e pela ótima atuação do goleiro Harlei, que defendeu um pênalti aos 24 do segundo tempo, quando ainda estava 0 a 0.

Neymar x brucutus
Para começar, a nota negativa que revoltou os quase 20 mil santistas no estádio: o árbitro Alício Pena Júnior fez valer uma espécie de consenso sem vergonha que é alimentado por boa parte dos jornalistas esportivos também sem vergonhas: o de que Neymar é cai-cai. O jovem craque foi caçado em campo, levou pontapés, rasteiras e puxões e o juiz não marcava falta. Nos primeiros 15 minutos de jogo, os jogadores do Goiás tiveram salvo-conduto para dar pancadas. E nada de falta. Durante todo o jogo, valeram-se do chamado “rodízio”. E o juiz, “molão” e incompetente? Nada. O estilo "brucutu" não serve só para caracterizar a violência desleal, mas também, na falta do bom futebol, serve como principal recurso para anular o talento.

O fato é que Neymar tem mesmo que se livrar sozinho desse futebol brucutu, ao qual arbitragem, cartolagem e jornalistagem incentivam fazendo vistas grossas. Muitas vezes cair e aparentemente encenar é a defesa que o jovem craque tem, porque se fica com o pé no chão e não se protege, se machuca. O jogo terminou com o jogador levando um pontapé por trás. O Santos precisa tomar alguma atitude.

O jogo
Sem Ganso, o Santos teve pouca criatividade no meio de campo. Marquinhos teve atuação discreta. Léo, pela esquerda, deixou muito a desejar. Sem tempo de bola, sem ritmo. Mais uma vez, Arouca foi um gigante. Keirrison começou jogando, mas está fora de forma. Ainda assim quase marcou logo aos 9min, cabeceando do terceiro andar, no chão, para a primeira grande defesa de Harlei. O primeiro tempo acabou 0 a 0 com o Santos encurralando o Goiás.

Veja os gols de Santos 2 x 0 Goiás



Rodriguinho jogou mal na primeira etapa, errando muitos passes, mas melhorou na segunda. Com o tempo passando, o Goiás ameaçava nos contra-ataques. Aos 2min do segundo tempo, Bernardo quase abriu o placar para os goianos com uma bomba de fora da área. Rafael salvou a meta santista.

Aos 24, Zé Eduardo sofreu pênalti claro ao entrar driblando pela direita. Se o pênalti tivesse sido sofrido por Neymar, não sei se o juiz teria marcado. Neymar bateu mal e perdeu. No twitter, ele escreveu depois: “Ganhamos mais uma e preciso urgentemente fazer as pazes com o panalty ta foda viu !! Rsrs”.

A torcida apoiou o time o tempo todo, mas o gol não saía. Finalmente, aos 30min a justiça se fez. Madson recebeu de Neymar passe primoroso em profundidade e cruzou para Zé Eduardo fazer um golaço de voleio, no melhor estilo de Bebeto. É de se louvar a excelente atuação de Madson, que entrou no lugar do apagado Keirrison e mudou o jogo, dando velocidade e opções ao ataque santista, pela movimentação que tonteou a zaga adversária. Aos 36min, Alan Patrick, outra jovem promessa da fábrica de craques alvinegra, que entrara pouco antes no lugar de Marquinhos, faz outro belo gol. Santos 2 a 0. Com 27 pontos, o Peixe está em terceiro lugar no Brasileiro. O Corinthians e o Fluminense que se cuidem.

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Atualização à 0h40

Rogério Ceni, soberbo
O São Paulo conseguiu um empate heróico, 2 a 2 contra o Fluminense no Maracanã, e poderia ter saído do RJ com a vitória, se Marcelinho não tivesse jogado fora o terceiro gol são-paulino aos 41min do segundo tempo, após um passe açucarado de Jorge Wagner. Foi o melhor jogo da rodada, tirando Santos 2 x 0 Goiás, porque esse eu vi in loco e porque tinha Neymar, e Neymar é foda.

Mas a nota sobre o Tricolor paulista não teria sentido se não fosse para falar de Rogério Ceni. Que, mais uma vez, mostrou ser um dos maiores jogadores da história do São Paulo. Soberbo. Líder, artilheiro e goleiro. Fez um gol e defendeu um pênalti, batido por... Washington, que talvez passe para a história conhecido como "Aquele". "Lembra do Washington? Aquele", dirá um torcedor no futuro.

Tirando Ceni, Richarlyson foi o melhor jogador no Maracanã. Marcou, desarmou e, na falta de quem o fizesse, armou o meio campo são-paulino com sua perna esquerda. Mas o time do Morumbi precisa evoluir muito. Marlos tem que entender que não é mais do que Marlos (ele pensa que é um gênio). O time necessita de um meia, problema crônico no São Paulo. E falta atacante. Fernandão sozinho não vai resolver. E o Fernandinho é muito ruim.
Clique aqui para ver os gols de Fluminense 2 x 2 São Paulo.

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Atlético-MG 1 x 2 Palmeiras
O Palmeiras achou uma vitória importantíssima em MG, no Ipatingão. Virou o jogo pra cima do Atlético-MG de Vanderlei Luxemburgo e venceu por 2 a 1. Em 18° lugar, com 14 pontos, o Galo começa a ser forte candidato ao rebaixamento. Luxemburgo é um mistério. Sua derrocada como técnico de futebol é impressionante. E o Palmeiras de Felipão volta a respirar.

Sobre o jogo Palmeiras 2 x 1 Atlético-MG, uma nota para remeter ao dito acima sobre a violência contra Neymar. Valdívia, até os 10min do segundo tempo, tinha sofrido dez faltas. De novo, "rodízio". É uma covardia. Isso não é futebol.
Clique aqui para ver os gols de Galo 1 x 2 Palmeiras

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Não vi Corinthians 2 x 1 Vitória. Então, não posso falar. Mas clique aqui, se quiser ver os gols.

Boa semana. Vou tomar a saideira.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"Roda Viva": Marília Gabriela estreia entrevistando Eike Batista

Reprodução
Depois da polêmica com José Serra, que resultou no afastamento de Heródoto Barbeiro do "Roda Viva" (veja link abaixo), assunto que a TV Cultura tratou nesse período com uma discrição invejável, o programa será finalmente comandado pela jornalista Marília Gabriela a partir da próxima segunda-feira, 30 de agosto.

O entrevistado da estréia da high society woman – cujo maior sonho é entrevistar Chico Buarque – será o empresário Eike Batista. Estimulante, não, leitor? Augusto Nunes (ex-Estadão, JB, e e Zero Hora) e Paulo Moreira Leite (ex- Época e Diário de S. Paulo) participarão da bancada fixa do programa, que agora será gravado, e não mais ao vivo.

Segundo o site Comunique-se, o "Roda Viva" terá novo formato e cenário.

Clique aqui para ir ao post com o vídeo do “bate-boca” entre José Serra e Heródoto Barbeiro.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Astronomia e astrologia

Duas notícias me chamaram a atenção hoje (que já é ontem). Uma diz respeito à astronomia. Outra, à astrologia.

1) Astronomia:

Segundo se divulgou em vários sites, estudantes do universo (ou seja, astrônomos) descobriram um sistema planetário muito interessante. A descoberta parece demonstrar o quão ignorantes somos, e como somos ínfimos no universo, e como são tolas as tentativas humanas de medir tamanho e duração do universo por meio de teorias que são revolucionárias hoje, mas amanhã não vão passar de risíveis tentativas de revelar o irrevelável. Nunca mais ninguém disse nada de novo depois de Einstein (E = mc2).

Segundo as informações divulgadas em todas as agências internacionais, foi descoberto um sistema solar com ao menos cinco planetas orbitando a estrela HD 10180 (imagem: reprodução/concepção artística). Esse sistema seria muito parecido com o do nosso sol e estaria a 127 anos-luz da constelação de Hidra (que eu não tenho a menor noção de onde fica), ou a 127 anos-luz de nós, terráqueos, segundo outras fontes. De qualquer maneira, é muito longe. Ano luz = distância que a velocidade da luz percorre em um ano. Fisicamente, nenhum corpo pode atingir a velocidade da luz. E ainda há quem não acredite que haja vida em outros planetas. (Eu não estou fazendo uma declaração a favor de que existem OVNIs. Não acredito em OVNIs, embora já tenha visto luzes descritas como manifestação dessas supostas naves espaciais.)

2) Astrologia:

Oscar Quiroga, o horoscopista do Estadão, fez uma previsão: a de que José Serra seria eleito presidente da República. Mais: estamos exatamente na semana em que o futurólogo, quatro meses atrás, garantiu que os astros abençoariam o ex-governador: “O sinal mais marcante e auspicioso de sua candidatura se dará entre os dias 1º e 25 de agosto de 2010, quando a Lua progredida estará em trígono com Vênus e Júpiter de seu mapa natal, indicando sucesso e bem-aventurança”. O momento de bem-aventurança tucana previsto por Quiroga se esgota nesta quarta-feira, 25 (veja aqui, no blog movimentoordemvigilia). Que oráculos será que o astrólogo consultou?

Ao Terra Magazine (leia clicando aqui), o mago também foi enfático: “O que posso afirmar concretamente é que, apesar de este país estar flertando perigosamente com o autoritarismo, que cosmicamente já não tem mais cabimento no seu processo de evolução, isto garante que a Dilma Rousseff não vencerá esta eleição”.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Lula encontra Ganso e Neymar em São Paulo: "foi uma lição que o Santos deu"

O presidente Lula é corintiano, todo mundo sabe. E, como também não é desconhecido do povo brasileiro, de bobo ele não tem nada. Sabe capitalizar o que tem a ver com popularidade.

Foto: Domingos Tadeu/PRTrês craques em encontro na capital paulista

Na tarde desta segunda, Lula encontrou-se com os craques Paulo Henrique Ganso e Neymar, no Hotel Transamérica, em São Paulo. “Isso [manter os dois atletas no país] foi uma lição que o Santos deu. Espero que outros times sigam a decisão política do Santos”, disse Lula.

No encontro, o ministro dos Esportes, Orlando Silva, e o presidente do Santos, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro. “Estou convencido de que a decisão de Neymar e Ganso de ficar no país vai marcar um nova era do nosso futebol”, disse o ministro.

Leia sobre o "fico" de Neymar

Veja o vídeo do encontro entre Lula e os meninos da Santos:

sábado, 21 de agosto de 2010

Datafolha: Dilma tem 47% contra 30% de Serra

Acaba de sair, no meio da madrugada, nova pesquisa que vai fazer com que José Serra acabe se transformando de fato no Zé terminal nesta campanha. Citação literal do Uol Eleições: "Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (21) pelo jornal Folha de S.Paulo mostra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, com 47% das intenções de voto, contra 30% de José Serra (PSDB) e 9% de Marina Silva (PV). Na pesquisa anterior, divulgada no último dia 13, a petista tinha 41%, contra 33% do tucano e 10% da candidata do PV. Os outros candidatos não pontuaram". Leia aqui

Lula: “Estamos começando hoje, aqui em Osasco”

Numa arena, ou gaiola, em que os jornalistas ficam nos comícios, lá estávamos, no bairro do Rochdale, em Osasco, mais uma vez (como em 28 de setembro de 2008, nas eleições municipais) para cobrir a visita do presidente metalúrgico à cidade. Repórteres de jornais regionais, como o Visão Oeste, e da chamada “grande imprensa”, Folha, Globo, Estadão, Band, RedeTV etc se misturam ali. Uma fauna diversificada.

Antes do comício, às vezes, do alto, na gaiola dos jornalistas em que está, você vê uma pessoa do povo que suplica, quase, para que você a ponha lá em cima, ela quer chegar perto do presidente. Duas mulheres bastante humildes estendem uma faixa com os dizeres: “Meu sonho é tirar uma foto com Lula”. Uma delas me pede para chamar uma repórter que está com uma filmadora. Ela quer que a menina filme a faixa, que a levemos para perto do presidente para realizar seu sonho. Dizemos a ela que é impossível. Impossível. Outras pessoas querem o mesmo, entrar ali. Mal sabem que estamos numa gaiola e que não vamos também chegar perto de Lula.

Quando Lula fala, é uma hipnose coletiva. Fala do Corinthians. Gritos, aplausos e algumas poucas vaias. Diz que o Corinthians perdeu a Libertadores porque menosprezou o primeiro jogo, achando que resolveria no segundo e dançou. Isso para dizer que a campanha não está ganha para Dilma Rousseff, e nem a de Mercadante perdida. No caso de São Paulo, está apenas no início, frisou enfaticamente. "Estamos começando hoje, aqui em Osasco".


Diz que eleição se disputa com o coração, e não só com a cabeça, que os prefeitos e a militância têm que ir pras ruas, para a porta dos trens, para a porta dos ônibus. Lula conclamando a militância é impressionante. “Eleger este companheiro aqui [dirigindo-se a Mercadante] é um desafio que está colocado.” (Lula apavora seus adversários porque até eles sabem que nada podem contra ele.)

E sobre os pedágios em São Paulo: “quem quiser ir agora na festa do peão de boaideiro em Barretos, vai pagar sessenta e cinco reais. Isso não é pedágio, isso é roubo”. Um jornalista não sei de que veículo passa por mim e diz, como para si mesmo, mas alto: “esse é o cara!”

O presidente fala da arrogância do tucanato que governa o estado de São Paulo desde 1982, ainda sob as vestes do PMDB: “um ministro meu, pra marcar audiência com o governador que agora é adversário da Dilma, às vezes passava seis meses e não conseguia uma audiência, porque eles não queriam conversar. A falta de humildade deles... não reconhecem sequer o dinheiro que nós repassamos pro estado de SP”.

Lula diz que o presidente ridicularizado porque não sabia falar inglês e espanhol, e “portanto não ia ser respeitado lá fora, vai passar para a história como o presidente da República mais respeitado no exterior que esse país já teve”. O que é verdade. Quando foi chamado de analfabeto por Caetano, demonstrou claramente ter ficado chateado. Mas Lula sabe de sua grandeza e por isso não precisa de falsa modéstia.

“Eu lembro da eleição de 89, quando a elite que concorria contra nós dizia: ‘a dona Marisa vai ter muito trabalho pra lavar todos os vidros do Palácio da Alvorada’. Desprezando as pessoas pobres porque eles achavam que nós nascemos apenas para servi-los e não para ser servidos por eles”.

Quando assumiu, prometeu que criaria 10 milhões de empregos. Criou 14 milhões. Aumentou o salário mínimo em 74%. 700 mil jovens de baixa renda puderam entrar na faculdade pelo ProUni. (Em sua fala, Dilma lembra que o DEM, partido do vice de Serra, Indio da Costa, tem uma ação para tentar acabar com o ProUni no STF.) Nos 8 anos de Lula, 30 milhões de pessoas ascenderam à classe média. Os números são indefensáveis, por isso a campanha do PSDB está perdida, sem rumo e sem proposta.

Dilma se saiu bem, considerando que é uma neófita em palanques perto de cobras-criadas como Marta Suplicy e Mercadante. Discursou com segurança. “Nós mudamos o país porque não olhamos só números e cifrões, olhamos as pessoas. Atrás dos prédios existem pessoas”, disse a provável futura presidente do Brasil diante de Lula, esse líder que emociona seu povo e a todos os que acreditaram que o Brasil podia mudar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Neymar é do Santos

Fotos: Ricardo Saibun/ Santos FC - 19/08/10
Eu disse num post anterior que a gestão de Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro começou de maneira auspiciosa no Santos Futebol Clube e que agora, infelizmente, ele teria “de lutar contra o temido euro” para manter as jóias da Vila Belmiro (só pra constar: o termo "joia" não foi inventado pelo jornal Lance!) . Eu estava pessimista.

A se julgar pelo desfecho do caso Chelsea, vou procurar um adjetivo melhor que auspicioso. Como o presidente do Santos anunciou agora há pouco, em entrevista coletiva, que Neymar continua na Vila, tem que se parabenizar o presidente e a direção do Santos. Segundo Luis Álvaro, o jogador tem um novo contrato de cinco anos e a multa contratual passará a 45 milhões de euros em dezembro. Dessa maneira, o Santos começa a mostrar que as coisas podem ser diferentes.

O título deste post é uma homenagem ao próprio Neymar, que, dia desses, diante da repetição da mesma pergunta por um repórter e de ele, jogador, responder na terceira pessoa, "Neymar é do Santos", três vezes, completou: "você é surdo?"

É isso aí, torcida brasileira, Neymar é do Santos!


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sinais de desânimo nas hostes tucanas

A frase com que Eliane Catanhêde abre sua coluna desta terça-feira, 17, na Folha de S. Paulo, é emblemática, embora pudesse até virar um gancho para o José Simão: "A esperança, inclusive a dos tucanos, é a última que morre" (leia aqui, para assinantes).

Depois das pesquisas divulgadas nos últimos dias, que mostram Dilma Rousseff (PT) com larga vantagem sobre José Serra (PSDB), nota-se claro desânimo nas hostes tucanas refletidas na mídia. Estarão reconhecendo que já era? Na sexta, o Datafolha deu 41% a 33% a favor da candidata de Lula. Na segunda, foi o Ibope a apontar 43% a 32%, ou 11 pontos percentuais de diferença.

Foto: Roberto Stuckert Filho

Dessa vez, o senador Sérgio Guerra não veio a público desqualificar as pesquisas, como fez com Sensus e Vox Populi, institutos que seu partido não leva em conta, segundo disse. Mas o nobre parlamentar tinha que reclamar, e, pode-se dizer, reclamou de um sortilégio (Dilma ter sido entrevistada pelo Jornal Nacional antes). “José Serra, com desempenho absolutamente superior, teve apenas um dia de repercussão. Entrevistada primeiro, Dilma ficou três dias em exposição”, choramingou em seu twitter, dia 13, sexta-feira, logo após a divulgação dos números do Datafolha. Já depois da pesquisa do Ibope, o senador não disse nada, só fala de sua própria campanha.

Foto: Valter Campanato/Ag Br
O generalizado desânimo contaminou até o vetusto editorial de O Estado de S. Paulo desta mesma terça-feira. Em “Duelo à sombra de Lula”, o jornal da família Mesquita também manifesta seu conformismo: “nem o mais fervoroso adepto do ex-governador paulista ousa imaginar” que ao final da campanha “ele voltará à primeira colocação” no processo eleitoral, diz o jornalão, que continua: agora, “o máximo” que Serra pode pretender é que seu “desempenho” nos debates e o horário eleitoral na TV o levem ao segundo turno. O editorial termina com uma frase que não deixa margem a dúvidas: “um governo com quase 80% de aprovação não tem motivo para perder esta eleição”, conforma-se o jornal do Bairro do Limão.

Ao contrário de Catanhêde, que maquia melhor sua decepção, a colunista política do Estadão, Dora Kramer, destila uma raiva que mal consegue disfarçar. Se a eleição está ganha (para Dilma), “para que mesmo eleição, campanha, gastos inúteis de tempo, dinheiro...”, questiona. E acaba não resistindo: “se o eleitorado cotejar os atributos do candidato ganha Serra; se resolver votar apenas referido em Lula ganha Dilma”.

Para a jornalista, “Serra é o que é” e Dilma “se presta a quaisquer construções”, explica ela, ainda alimentando alguma esperança, no texto chamado “Na frente dos bois”, título com o qual Kramer manifesta sua opinião de que a eleição ainda não está decidida. Nisso concordo com ela.

Mas o desespero na campanha tucana chegou ao ponto de mudarem o nome do candidato. Não é mais Serra. Agora é Zé, solução criticada desse modo por Eliane Catanhêde: Quem é "Zé"? Um "Zé ninguém”, escreveu. Cuidado, Catanhêde, que O Zé pode pedir tua cabeça no jornal.

PS [atualizado às 21h53]: no Vox Populi divulgado pela Band agora há pouco, Dilma tem 45% e Serra, 29%. Diferença de 16 pontos.

Clique abaixo para ler:

Um balanço da gestão de Luis Álvaro no Santos
– em agosto de 2010

Foto: Divulgação/ Santos FC
A gestão de Luis Alvaro Ribeiro à frente do Santos teve um início auspicioso. Fora dar um basta no eterno Marcelo Teixeira, cumpriu sua primeira promessa, feita logo após se eleger: a de que os santistas iriam ver, a partir dali, um time aguerrido e formado por jogadores do Santos, e não jogadores “de aluguel”.

De time desacreditado e sobre o qual pairava a nuvem da incógnita, o clube termina a primeira metade da temporada campeão paulista e da Copa do Brasil, com 137 gols marcados em 51 partidas na temporada até o dia de hoje (16 de agosto), média de 2,7 por jogo. O futebol da geração de Neymar, Paulo Henrique Ganso, André e outros, com o apoio positivo do já mais experiente Robinho, destruiu adversários impiedosamente. Com a exceção do Palmeiras, que não impediu, porém, a conquista dos títulos.

A cartada de Luis Alvaro ao trazer Robinho, lance arriscado, provou-se acertada e vitoriosa, com bons resultados em campo e no marketing. E com frutos até na auto-estima do santista, ao ver um de seus maiores ídolos voltar para ser duas vezes campeão em poucos meses.

Dorival
Aqui, umas palavras sobre o "professor" Dorival Júnior. Bem intencionado, bom caráter, ele pecou, porém, pela pouca experiência em times grandes. Seus maiores feitos, até chegar ao Santos: o título com o Vasco da Gama na Segundona de 2009, o vice campeonato paulista em 2007 com o São Caetano (o campeão foi o Santos de Vanderlei Luxemburgo) e o 5º lugar no Campeonato Brasileiro de 2007, pelo Cruzeiro. Acho que Dorival errou quando resolveu convocar os solteiros (!) para concentrar 24 horas depois do oitavo mata-mata seguido entre Paulistão e Copa do Brasil. Após eliminar o Grêmio nas semifinais, os meninos mereciam relaxar. A atitude do "professor" Dorival me fez lembrar o folclórico Oswaldo Brandão. Que tem seus méritos, mas já estamos em 2010, cacete.

Desafio
Porém, o presidente santista está agora frente ao desafio de lutar contra o temido euro, turbinado pelos infernais bilionários russos (donos do Chelsea) e árabes (do Manchester City), por exemplo. Sem André e Wesley, fora Robinho, o time ainda pode perder Neymar. Sobra muito pouco, ou, só Ganso, do time que encantou o país e que, amadurecido, em 2011, disputaria a Libertadores. Será uma pena, para os santistas e também para o futebol brasileiro.

Foto:Ricardo SaibunO que fazer sem essa dupla rara?

Sobre Neymar, e tantos outros jovens craques que nós revelamos para exportar à Europa, se ele for de fato negociado, creio que terá sido um equívoco. Dele, Neymar, e de seu staff, bem entendido. Luis Álvaro nem ninguém pode impedi-lo de sair se for o que ele deseja. Mas a volta vitoriosa de Robinho este ano mostrou que sua saída em 2005 foi precipitada. A opção de sair foi dele. Parece ter-se arrependido.

Neymar chegou à seleção aos 18 anos jogando pelo Santos. A próxima Copa do Mundo será onde? No Brasil. Ao contrário do que dizem o empresário do atleta e seu pai, nada garante que ir para o Chelsea agora será bom para a carreira de Neymar. Até o Mano Menezes, segundo as informações, aconselhou o guri a ficar no Santos. Acrescento eu: em Londres, ele encontraria outra realidade, eventualmente até hostil, e muito diferente da camaradagem que divide com seus parceiros no Santos. Brilhar sozinho é muito mais difícil. Mas isso já seria outro post.

domingo, 15 de agosto de 2010

Os 10 Melhores Termos de Busca do Mês [5] - julho de 2010

Prezados, segue, mais uma vez com duas semanas de atraso, a lista dos 10 melhores (ou piores) termos de busca do mês (em itálico). A criatividade e falta do que fazer (provavelmente a principal razão de ser da web) imperam. Como pode, por exemplo, um navegante chegar ao meu blog digitando no Google o termo roubaram tio ganso??? Que diabos eu tenho a ver com isso?

Enfim, a lista top 10 de julho segue abaixo.


1)
barbeiro 24h sao paulo
– Meu amigo, há vários sites de serviços onde você encontra esse tipo de informação. Neste blog você nunca encontrará.


2) cronograma de uma estação de tren
– Acho que, se a idéia é o título de um conto, prezado e criativo internauta, poderia tirar a palavra “cronograma”, substituir por "Memórias" e escrever direito a palavra “trem” (com "m" de Maria). Ficaria “Memórias de uma estação de trem”. Um conto assim intitulado provavelmente atrairia mais leitores. cronograma de uma estação de tren não dá. Nenhuma editora publica.


3) latas inteligentes propagandas
– Em relação a latas, eu só me preocupo com o conteúdo. Se é bom, eu bebo.





4)
datafolha comete erro com a lusa 2010
- Talvez não haja instituição mais vilipendiada e roubada na história moderna do que a Portuguesa de Desportos.Tudo bem. Mas, se a frase é de indignação, conte comigo, sofrido torcedor luso. Como se já não bastassem todos os erros de arbitragem, agora até o Datafolha resolveu conspirar contra a velha Lusa!

5) minha televisao nao tem tensão contínua
– E eu com isso? Que raios meu blog tem a ver com isso? Não sei nada de física. Fatos Etc não é um blog científico, nem de assistência técnica, nem muito menos, como dito acima, de serviços 24 horas. Deve ter um japonês no seu bairro que entende do negócio. Todo bairro tem um.



6) gaylo detona
– Aqui está a frase de um sujeito que provavelmente datilografa (hoje em dia se diz: digita) muito mal. Mas mal mesmo. Até porque o “y”, no teclado, não está perto do “a” nem do “l”. Confira na bela foto ao lado.



7) ideias para questionar
– Querido leitor, poderia ser mais específico?


8) mano convoca jucilei
– É verdade. Pode conferir aqui. O que é engraçado neste item não é o termo de busca em si, mas o que faz pensar: dizem que Mano é muito próximo de um certo empresário. Diz-que ele convoca alguns jogadores justamente porque é mano do tal empresário. Mas outras fontes dizem que Mano não convoca um ou outro para quê? Para não dar muito na vista, dar uma disfarçada, justamente por ser mano do tal empresário. Vai saber.



9) roubaram tio ganso
– Então faça um B.O. e não encha o saco!


10) ver fatos de espanhóla
– Opa. Também quero ver!!!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Pensamento para sexta-feira [8] - Gabriel Megracko


.
Se a quantidade de vezes que o meu coração sofreu
desse estrelas no céu,
o céu seria o mesmo.

Se de cada sorriso meu
brotasse um lírio ostentoso,
teríamos tantos lírios lindos
como temos hoje.

Se a cada choro teu
morre uma criança,
pode chorar sem culpa,
há na morte alguma esperança.

Quando o vento soprar forte,
é o pulso do sol no sangue do tempo.
Quando o sino soar morte,
é a chama de Deus queimando por dentro.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

José Serra no Jornal Nacional: uma farsa jornalística

Que meiguice. A entrevista com o ex-governador tucano de São Paulo no Jornal Nacional foi uma aula de cordialidade.

A “entrevista” começou com William Bonner. Questionou o porquê de o candidato evitar críticas ao presidente Lula. Claro que Serra não disse “porque eu não sou trouxa”. Disse, em resumo, que Lula não é candidato. “Não há presidente que possa governar na garupa, ouvindo terceiros ou sendo monitorado por terceiros”, pontificou, tentando reforçar a imagem que ele mesmo tenta desesperadamente plantar em Dilma Rousseff. Quando Serra terminou a resposta, Bonner disse: “entendo”, o que me fez lembrar aquela voz masculina com que uma operadora de telefonia/TV a cabo atende os consumidores. Bonner retoma, quase como um assessor: “O senhor avalia o risco que corre de essa sua postura (de evitar críticas a Lula) ser interpretada como receio de enfrentar a popularidade do presidente Lula? “Não – responde Serra –, as pessoas estão preocupadas com o futuro, quem tem mais condições de tocar o Brasil pra frente”. Cita a saúde. Se fosse uma entrevista de verdade, o que qualquer um perguntaria? Perguntaria: “não seria pelo fato de a população estar pensando no futuro que Dilma está à frente nas pesquisas?”

Aos 02min15 dos 12min previstos, Fátima Bernardes entra perguntando, com uma delicadeza exemplar, por que o candidato evita comparar “o governo atual com o governo anterior”. Passagem notável. Tão temerosa estava ela de desagradar o temível candidato à sua frente citando “governo Fernando Henrique”, que o próprio Serra o mencionou, dizendo que FHC, elogiado por Antonio Palocci, fez muitas contribuições ao Brasil, “entre elas o plano Real”.

Ao contrário da entrevista com Dilma, quando foi agressiva e mal educada (leia e veja aqui), Fátima Bernardes ridícula e timidamente tentava dizer alguma coisa:
“Mas...”
E Serra: “Um momento, Fátima, desculpe”, e continuava.
E outra vez, ela: “Mas...”
E o ex-governador falando. Até que Fátima conseguiu, com uma postura de aluninha dedicada: “Mas, por exemplo, avaliar fracassos e sucessos não ajuda o eleitor na hora de ele decidir pelo voto dele?” E o professor Serra responde, solícito: “Por isso, e é isso que eu tô fazendo”... E aí fala de suas “obras” (genéricos, a campanha contra a Aids. O de sempre).

Bonner pede licença, educadamente, para falar de alianças políticas. “O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o PSDB, está ao lado do PTB, partido envolvido no escândalo do mensalão petista... O PSDB errou lá atrás quando condenou o PTB, ou está errando agora quando se alia a esse partido?” Observem: nenhuma menção ao DEM de José Roberto Arruda, que era o preferido de Serra para ser seu vice.

Fátima entra de novo, meiga, para falar da demora na escolha do vice de Serra, atribuída ao “perfil centralizador” do tucano. Que beleza, diria um narrador esportivo. Entre sorrisos, o candidato responde: “Fátima, eu não sou centralizador”. Uma simpatia. Diz que Índio da Costa é jovem e tem ficha limpa, é sua bandeira no Congresso.

Bonner volta para falar do governo de SP. Quase pedindo desculpas: “Seu partido está no poder em SP há 16 anos, então é razoável (vejam bem, razoável, diz Bonner)” avaliar algumas ações dos governos tucanos. Para falar do problema dos pedágios caríssimos nas estradas paulistas, o apresentador, antes, menciona as estradas federais (assunto que Serra adora, para fugir do assunto pedágios paulistas), levantando a bola para o “entrevistado” (sinceramente, fiquei até com saudade do Heródoto Barbeiro). “Não é o assunto concessão que está na ordem do dia”, diz Serra, citando números para mostrar que o governo federal administra mal o setor.

Aí, Fátima, docemente, interrompe para pedir ao ex-governador que faça suas considerações finais. “Já passou?”, pergunta Serra, simpático que só ele. Fala de sua origem modesta, de seus pais, que “nunca sonharam que um dia eu estaria aqui no JN falando como candidato à presidência da República”... A ladainha de sempre.

Uma farsa. Mesmo assim, Serra se perdeu no fim. Estourou o tempo. “O senhor me obriga a interrompê-lo. Me perdoe, me perdoe”, repete um absurdamente doce William Bonner. “É em respeito aos demais candidatos que estiveram aqui. Eu sei que o senhor vai compreender”, explica.

Convenhamos, não seria justo que o ex-governador ligasse para o manda-chuva da Globo para pedir a cabeça de Bonner, pois, se ele fez alguma coisa errada, foi sem intenção.

Era Mano Menezes começa com a cara do Santos

A era Mano Menezes começou na seleção brasileira. Uma era simbolizada pela alegria de jogar futebol , só nossa. A cara do time não poderia ser outra senão a dos meninos do Santos. No estádio New Meadowlands, em Nova Jersey, com 77 mil pessoas, o Brasil foi comandado por um Paulo Henrique Ganso com porte e futebol de veterano, envergando a camisa 10 que foi de Pelé e Zico e deve pesar uma tonelada. Neymar, quase sempre pela esquerda, jogou tão à vontade que nem parecia ser outro estreante. Robinho, capitão, menino já experiente, se movimentando, e Pato, bem também, completaram a linha de frente da esquadra verde-e-amarela, a deixar aparvalhada a zaga adversária. Final: Brasil 2 a 0 fácil, com gols de Neymar e Pato ainda no primeiro tempo. Triste para mim, santista, foi ver Robinho e André, que entrou no segundo tempo no lugar de Pato, já não mais atletas do histórico Santos de 2010.

Foto: Reprodução

Paulo Henrique Ganso, o maestro

Depois de um início meio inseguro, a equipe foi se tornando consistente e tomou conta do jogo, com segurança e a rapidez nascida do espírito desse ofensivo Santos campeão paulista e da Copa do Brasil. “O que vimos não foi resultado do treinamento, mas da qualidade individual dos jogadores”, disse o treinador Mano Menezes na coletiva pós-jogo.

Mas o amplo domínio brasileiro e a estréia vitoriosa não podem esconder o fato de que a seleção norte-americana, um time normalmente difícil de bater, disputou essa partida de maneira protocolar. Apesar do time de Mano ter entrado em campo para vencer primeiro a ansiedade, e contra um time já montado, que disputou a Copa do Mundo, convenhamos, o selecionado de Donovan e companhia não demonstrou muito interesse na partida.

André Santos, pela lateral esquerda, jogou com segurança, e procurando o jogo com personalidade. A zaga, com Thiago Silva e David Luiz, nos fez esquecer por 90 minutos (e quiçá, para sempre) a interminável dupla Lúcio e Juan. E o meio-campo com os volantes Lucas e Ramires enterra a memória do grotesco Felipe Melo e brucutus de seu tipo.

As notas negativas foram duas: Daniel Alves, um jogador medíocre e nervosinho que destoou do espírito do time, não tem lugar na lateral direita; e Ederson, para mim um ilustre desconhecido, entrou no lugar de Neymar e teve uma noite lamentável, pois não jogou nem um minuto e saiu depois de fazer sua única e bizarra jogada, ao tentar uma pedalada desajeitada, pisar em falso e chutar o vento. Caiu com uma contusão muscular e foi substituído por Carlos Eduardo. Uma ressalva: o goleiro Victor não inspira muita confiança.

Fica como registro a ficha técnica da estréia da seleção brasileira de Mano Menezes, e os gols da partida.

Estados Unidos 0 x 2 Brasil
10/08/2010
Estádio New Meadowlands, Nova Jersey

EUA
Howard (Guzan); Spector, Bocanegra (Goodson), Bradley e Gonzalez; Donovan (Findley), Bedoya (Gomez), Bornstein e Buddle (Altidore); Edu e Benny Feihaber (Kljestan).
Técnico: Bob Bradley.

Brasil
Victor; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e André Santos; Lucas, Ramires (Hernanes) e Ganso (Jucilei); Robinho (Diego Tardelli), Neymar (Ederson) (Carlos Eduardo) e Alexandre Pato (André). Técnico: Mano Menezes.

Gols: Neymar, aos 28, e Alexandre Pato, aos 45 minutos do primeiro tempo
Cartões amarelos: David Luiz (BRA)
Público: 77.223 pagantes
Árbitro: Silviu Petrescu (CAN). Auxiliares: Joe Fletcher (CAN) e Daniel Belleau (CAN)

Veja os gols da partida:



Visita de Serra a São Bernardo acaba em pancadaria

Uma visita de José Serra e Geraldo Alckmin a São Bernardo do campo (ABC paulista), nesta terça-feira, 10, acabou em pancadaria em uma lanchonete. Um cinegrafista da Rede Bandeirantes teria sido agredido por seguranças do candidato tucano à presidência da República. Clique aqui para ler.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Dilma Rousseff no Jornal Nacional

Devo dizer que não vejo o “Jornal Nacional”. Quase nunca. Fátima Bernardes e sua alma gêmea, o Bonner, são demais para meu fígado. (Mas também já era assim nos tempos de Cid Moreira.) Meus amigos ficam indignados com Miriam Leitão, Lucia Hippolito, Merval Pereira, Diogo Mainardi, William Waack e coisas que os valham. Eu me irrito um pouco com isso. Não entendo por que perder tanto tempo lendo, ouvindo e vendo essa gente.

Mas, de tanto que falaram, acabei vendo a entrevista de Dilma Rousseff ao “Jornal Nacional”. Um esquema espúrio. Só que o tiro da Globo saiu pela culatra. Tentaram acossar Dilma dizendo, por exemplo, que ela não passa de marionete de Lula. No afã de colar na candidata petista o estigma de pouco experiente, de satélite de Lula, só fizeram colar nela sua proximidade com o presidente mais popular da história brasileira. Estão desesperados, metem os pés pelas mãos. Perdem-se, sem querer dão mais alguns pontos percentuais a Dilma, que se saiu muito bem no palanque Global.

A ansiedade de William Bonner e Fátima Bernardes, nas tentativas frustradas de pegar Dilma Rousseff no contrapé, chegou a dar dó. No início dá raiva, mas depois vem uma certa pena. Tanta soberba, e os dias passam, inúteis, como diria Borges. Deu-se mal, o casal da Rede Globo. Eles deram audiência às idéias que tentam combater.

Veja aqui a entrevista de Dilma Rousseff ao Jornal Nacional
:

Leia também:

No jornal Visão Oeste: Em primeiro debate, Dilma compara Lula e FHC

Mino Carta sobre as pesquisas: "Não me surpreenderei se o Datafolha começar uma operação de pouso em proveito de sua credibilidade."

domingo, 8 de agosto de 2010

Um balanço do Campeonato Brasileiro de 2010 após 13 rodadas: Fluminense favorito

O Campeonato Brasileiro de 2010 completou cerca de um terço de seus jogos. Na 13ª rodada, de 38 previstas, algumas observações óbvias, ou nem tanto.

1) Que coisa horrenda esse uniforme do Flamengo na partida com o Corinthians no Pacaembu. Uma avacalhação. Não acredito que os rubro-negros de verdade tenham olhado para aquilo com orgulho.


Que time listrado é esse?

2) O Fluminense me parece o favorito ao título no momento. Não só por liderar a competição com 29 pontos (apenas um a mais do que o vice Corinthians) depois de vencer o Grêmio por 2 a 1 no Olímpico. Mas, principalmente, porque o time, que já era forte, inclusive pelo capital desembolsado pela patrocinadora, parece que incorporou o espírito vencedor de Muricy Ramalho, um cara cujo futebol eu não gosto, mas é inegavelmente competitivo. Não fosse, não teria sido tricampeão brasileiro (2006, 2007 e 2008) com o São Paulo. O Flu, que já tem Conca, Frédi, Washington e que, hoje, jogou no 3-5-2, terá Deco em breve. Com a chegada de Deco e a volta de Frédi, hoje contundido, Muricy terá à disposição um ataque pra ninguém botar defeito (Washington e Frédi) assessorado por um meio de campo invejável. Como as equipes de Muricy são sempre muito fortes na defesa e na marcação, vai ser difícil bater esse time. Washington, de volta ao Flu, deve ter sucesso. É um matador, mas ele precisa que as bolas cheguem. No São Paulo, que vive a carência crônica de um meia clássico, isso nunca aconteceu.


3) São Paulo que, ao fracassar com Ricardo Gomes (foto: Wander Roberto/VIPCOMM), viu cair por terra a “tese” de que, no clube do Morumbi, o esquema é vencedor seja quem for o treinador. Milton Leite chamou a atenção para isso no Sportv, após o empate do Tricolor com o Atlético-PR em 1 a 1 na Arena. Segundo o narrador, o fiasco de Ricardo Gomes evidenciou “a arrogância do São Paulo de achar que faz tudo sempre certo”, e de propagar que Muricy ganhou mais pelos méritos do clube do que dele próprio. A insistência também arrogante dos são-paulinos, manifestada desde a sua cúpula até o torcedor ali da esquina, em propagandear que tudo o que não é Libertadores é desprezível, também vai ser outra “tese” colocada em xeque neste segundo semestre. Não será uma tarefa tão simples para o São Paulo, tendo que se remontar completamente, chegar entre os quatro primeiros do Brasileiro. Aliás, se o campeão da Copa Sul-Americana (que este ano vai à Libertadores) for um time brasileiro, serão só três as vagas do Nacional para a mesma Libertadores.

4) No Palmeiras, as coisas só não estão muito nebulosas por causa de Luiz Felipe Scolari. Desde que ele chegou, o clube já contratou Kleber, Tadeu, Tinga, Valdivia, o volante Rivaldo (ex-Avaí) e o atacante Luan (Toulouse). Mas Felipão, que nunca teve papas na língua, já está reclamando das coisas que não acontecem, dos jogadores que não estréiam, da burocracia no Palestra. Neste domingo, o Alviverde outra vez não ganhou: ficou no 1 a 1 com o Goiás, cedendo o empate, num jogo que estava ganho, aos 44 do segundo tempo. O gol do verdão foi do péssimo Ewerthon (foto), que deve ter feito uma de suas últimas partidas conmo titular. Felipão voltou a manifestar seu, digamos, realismo: “Seguindo com um ponto por jogo vamos chegar a trinta e poucos pontos e vamos brigar para não cair”, disse ele, após o jogo. A última vitória do Verdão foi contra o Santos (2 a 1 no Pacaembu, dia 15 de julho). Já são cinco jogos sem vencer, e quase um mês.

5) O vice líder Corinthians, apesar dos protestos de meus amigos corintianos, continua sem me convencer. No empate com o Palmeiras (1 a 1 na semana passada), o Timão foi inferior. O Alvinegro vai ter que demonstrar de fato se a saída de Mano Menezes, que não era apenas um treinador, mas um líder na Fazendinha, vai ser superada. Adilson Batista ainda não provou ser "o cara" em sua carreira. No Cruzeiro, fez um bom trabalho, mas não ganhou nenhum título importante. A vitória contra o Flamengo neste domingo por 1 a 0 (veja o gol e os melhores momentos do jogo, abaixo) foi conquistada com muito suor, e quase escapou, aos 43min do segundo tempo, quando Julio Cesar fez uma defesa milagrosa, corrigindo um erro dele mesmo ao sair jogando errado.

6) Já o Santos, classificado para a Libertadores, campeão paulista e da Copa do Brasil, com seus 134 gols em 48 partidas em 2010 (média de 2,8 por jogo), vai em vôo de cruzeiro. No Brasileirão, o que vier é lucro, mas o time deve crescer e pode acossar Corinthians e Fluminense na disputa pelo título nacional.

7) (Atualizado às 15h40) Como o leitor deve ter notado, a intenção deste pequeno balanço foi falar dos times que me parecem, no momento, com chances de título (exceto o São Paulo, que acho muito difícil ser campeão). Só não falei do Internacional. Finalista da Libertadores, o Colorado de Celso Roth pode sem dúvida chegar lá, pelo time que tem. Mas, ganhando a Libertadores ou não, o Inter já está no Mundial da FIFA. O time vai focar o Brasileiro ou vai "priorizar" o Mundial?

Veja os melhores momentos de Corinthians 1 x 0 Flamengo

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pensamento para sexta-feira [7] – Amy Winehouse

Segundo a colunista Mônica Bergamo (para assinantes), está confirmada a vinda de Amy Winehouse ao Brasil em janeiro.

Enquanto ela não vem, vamos apreciando, com "Hey Little Rich Girl" (Live In London), abaixo, ou "Back to Black", que já postei neste blog, aqui, em magnífica interpretação.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Santos é campeão da Copa do Brasil na abençoada Salvador

Eu gosto muito da cidade de Salvador. Acho mais bonita do que o Rio de Janeiro, com o perdão dos chatos e mitificados bossa-novistas (desculpem o hífen).

Ser campeão em Salvador é uma honra. Apesar do campo de jogo, um brejo indigno da final de um campeonato nacional.

Fotos: Ricardo Saibun
Depois da partida de ida, em que o Santos bateu o Rubro-negro na Vila por 2 a 0, só os santistas devotos de São Tomé (como eu) ou pessimistas poderiam duvidar do título. A derrota em Salvador, Vitória 2 x 1 Santos, nesta quarta-feira, 4, não mudou o rumo da História, que foi justa ao conceder ao Santos de Ganso, Neymar e Robinho o título contra o (desculpem) medíocre time do Vitória.

Como santista, não acho que tem um herói da conquista inédita da Copa do Brasil de 2010. Mas, como santista, me permito dizer que a conquista se deve a: Rafael; Pará, Edu Dracena, Durval e Alex Sandro; Arouca, Wesley e Paulo Henrique Ganso; Neymar (Marcel), Robinho (Rodriguinho) e André (Marquinhos). Técnico: Dorival Júnior.

Porém, meus favoritos são alguns: Pará, Edu Dracena [autor do gol do título em Salvador], Arouca, Wesley, Ganso, Marquinhos, Neymar e Robinho. Esses foram os capitães, os que ganharam o título de fato. Na Vila e em Salvador com chuva. Neymar é um craque e um símbolo: não consigo entender como pode ter torcedor que se diz santista e vai à Vila Belmiro vaiar Neymar. O Santos precisa parar de mandar seus jogos na Vila, que quase nunca enche, é provinciana e só tem babacas.


Robinho é particular. Tem uma mania de ser campeão pelo Santos. Pobres adversários. Oxalá ficasse na Vila, mas parece que não vai ficar. Não interessa. Ele já é, pelo Santos, bicampeão brasileiro (2002 e 2004), campeão paulista e da Copa do Brasil (2010). Um santista me pediu para lembrar que Robinho não jogou contra o Corinthians em 2010. O recado está dado.

O Santos está na Libertadores de 2011. É o 13° campeão da Copa do Brasil, com 7 vitórias, 4 derrotas e nenhum empate, 39 gols a favor e 15 contra. Recorde. Nunca nenhum time fez tantos gols na Copa do Brasil.

Veja a comemoração dos jogadores do Santos após a conquista do título:

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A realidade no Irã governado por fanáticos

Meses atrás, a revista CartaCapital deu uma foto que me fez lembrar da velha máxima “uma imagem vale mais do que mil palavras”. A fotografia – de uma mulher iraniana condenada por adultério e enterrada até o peito para ser executada por apedrejamento – teve também o poder de me tirar o humor naquele domingo.

O tema está em pauta nas últimas semanas, devido aos apelos de pessoas e entidades do mundo todo pela vida de outra mulher, Sakineh Ashtiani (foto acima), de 43 anos, presa em Tabriz, noroeste do Irã, condenada à morte pela mesma maneira cruel, medieval e bárbara. Pelo que li, como foi condenada em primeira instância, ela ainda vai ter um segundo julgamento, do qual pode se livrar do apedrejamento... para ser executada na forca. Essa é a clemência dos iranianos dos aiatolás.

Segundo a Anistia Internacional, Sakineh obteve o voto por sua absolvição de dois de cinco juízes no julgamento, mas “os outros três, incluindo o presidente do tribunal, a consideraram culpada com base em ‘conhecimento do juiz’, uma cláusula na lei iraniana que permite aos juízes determinarem subjetivamente, e possivelmente arbitrariamente, se o acusado é culpado”. Leia mais aqui, no site da Anistia Internacional, onde você pode obter endereços de autoridades iranianas e participar da campanha pela vida da mulher.

Diante dos clamores, o presidente Lula ofereceu asilo a Sakineh, e ainda não obteve resposta oficial (*). Se é que vai receber. Rejeitando a oferta brasileira, o governo iraniano de Mahmoud Ahmadinejad, acusado pelos Estados Unidos e aliados de enriquecer urânio para fins militares, dirá “não” a um dos poucos países importantes hoje no mundo com quem pode dialogar. Se é que é possível dialogar com esse regime de bárbaros.

Diante da visão maniqueísta antiamericana, às vezes corremos o risco de achar que tudo o que é contra os Estados Unidos é bom. Eu sempre procuro evitar maniqueísmos (para mim sempre equivocados) e suas conseqüências deturpadoras. Por exemplo, não concordo de modo algum com a política dos EUA sobre o Irã, mas tampouco acho que os aiatolás e seu regime merecem clemência. Fanáticos, radicais, doentes, mantêm um status quo de obscurantismo medieval injustificável e macabro. Tudo bem, dizem, é problema deles.

Não é só deles, não. Hoje, no último ano da primeira década do século XXI, as coisas que acontecem do outro lado do mundo são cada vez mais próximas. O que provoca duas sensações: a de que os acontecimentos em qualquer parte do mundo nos dizem respeito; e a sensação de impotência diante de casos como o de Sakineh.

Não é só a rica história persa que é fascinante no Irã. Há, no presente, coisas preciosas, como o belo e importante cinema feito por diretores como, entre outros, Majid Majidi (diretor de Filhos do Paraíso), Abbas Kiarostami (Gosto de Cereja), Ebrahim Foruzesh (O Jarro) e Mohsen Makhmalbaf (que dirigiu Gabbeh e o belíssimo A Caminho de Kandahar, cujo tema é a condição da mulher não no Irã, mas no Afeganistão). Nesse cinema, impera a poesia e a delicadeza, antíteses da brutalidade do regime dos aiatolás.

E é isso.

* PS: escrevi acima que ainda não houve "resposta oficial" à oferta de Lula de receber Sakineh Ashtiani no Brasil. E continuo afirmando. As declarações do porta-voz do Ministério do Exterior iraniano, Ramin Mehmanparast, divulgadas e repetidas durante todo o dia de hoje na internet, não me parecem suficientes para ser aceitas como uma resposta "oficial". Considerando o regime centralizador e autocrata (ou teocrata) do Irã, um mero porta-voz não tem a palavra final sobre nada, muito menos uma resposta oficial.

Atualizado às 21h21.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

"The Ghost Writer", de Polanski: um tributo a Hitchcock

The Ghost Writer, o recente thriller de Polanski, não ganhou o Urso de Ouro em Berlim à toa. De fato, é um “Polanski em grande forma”, como diz Emerson no blog Nos dias de Hoje.

Kim Cattrall e Ewan McGregor
O diretor do antológico O Bebê de Rosemary continua com seu estilo peculiar de fazer filmes. Quando você começa a se entediar achando que o filme virou clichê, ele destrói o clichê. Como Coppola, Polanski usa bem a máquina de Hollywood.

Dizem que The Ghost Writer irritou o establishment britânico. Se irritou, não foi sem razão: apoiado na linguagem hollywoodiana do cinema, o filme literalmente sugere que Tony Blair, o ex-primeiro-ministro britânico, é menos do que um agente da CIA. Tudo bem, ele é um produto da CIA. Mas, um mero laranja. O filme de Polanski é um tributo a Hitchcock, mas com ingredientes políticos.

Ewan McGregor (como "the ghost") e Pierce Brosnan (Adam Lang, o primeiro-ministro) são de novo o registro de Polanski como o brilhante diretor de atores que é. Na cena do avião em que o primeiro-ministro e seu ghost writer discutem, quase no fim do filme, Brosnan dá uma risada tão magnífica! A fraqueza do personagem revelada pela risada de Brosnan é algo que só se vê em personagens de grandes diretores. A bela loira Kim Cattrall, como Amelia Bly, assessora e protetora do chefe, divide com Olivia Williams (Ruth Lang, esposa) o posto de mulher fatal tão cara ao cinema noir. Quem será a malvada? Haverá malvada?

Uma observação: o título do filme é The Ghost Writer. Não tem nada a ver o título para exibição no Brasil, “O Escritor Fantasma”. Uma tradução literal burra. Todo mundo minimamente informado sabe o que é ghost writer.

Veja o trailer do filme
The Ghost Writer: