quarta-feira, 31 de julho de 2013

Índice de Desenvolvimento Humano, Cantanhêde e a retórica tucana


Ontem, estava dando uma olhada nos jornalões quando me deparei com o texto “Bom, mas tem de melhorar”, da nossa Eliane Cantanhêde, sempre ela, na Folha. O tema é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), cuja evolução, segundo Cantanhêde, “confirma que o Brasil, mesmo que aos trancos e barrancos, vai no bom caminho”. 

Continua a colunista: “foi sob o comando do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e do grande líder de massas Luiz Inácio Lula da Silva que o país efetivamente deu seu grande salto”.

Comentando o fato de o IDH do Brasil ter melhorado 47,5% em 20 anos, a fã dos partidos de “massa cheirosa” nota que “o maior salto” desse avanço é no Norte/Nordeste, mas o Sul/Sudeste continua "na dianteira” e São Paulo, “locomotiva do Brasil” é a terra de onde “o carioca Fernando Henrique e o pernambucano Lula saíram para o Planalto e para mudar a cara do país”.

Realmente é notável que Cantanhêde coloque o metalúrgico de Garanhuns e o perfumado professor da Sorbonne lado a lado, como dois homens que mudaram “a cara” do Brasil.  

Mas a colunista, evidentemente, não poderia jamais admitir que o “salto” do Nordeste, “o maior” entre as regiões brasileiras, e que realmente começou a mudar a cara do país, foi incentivado pelo metalúrgico barbudo, e não pelo professor que disse um dia a seguinte pérola sobre seu então ex-ofício: "Se a pessoa não consegue produzir, coitado, vai ser professor” (em 27/11/2001), o que lembra bastante, conceitualmente, seu pedido para que esquecêssemos o que ele escreveu.

Cantanhêde prossegue dizendo que “caminhando ao lado dos dois regimes –um continuação do outro –, estávamos a população em geral, a academia, a indústria, o agronegócio e a imprensa independente cobrando, provocando, apontando erros e exigindo sempre mais. Assim se constrói um país melhor”.

Muito bem. Pelo menos tivemos a oportunidade de ler a colunista (que, repito sempre, ocupa hoje um lugar que na Folha já foi de Claudio Abramo) reconhecer que, afinal, Lula fez alguma coisa pelo Brasil. Já é um avanço.

Mas as plumagens tucanas, isso ela não pode negar. A ideia de que “um (Lula) é continuação do outro (FHC)”, como diz, é uma das mais genuinamente tucanas que se conhece. O sofisma é bastante repetido em épocas de eleições, e é também comumente ouvido em discursos tucanos no escritório do partido na avenida Indianópolis, em São Paulo, quando os caciques se reúnem e falam à massa cheirosa.

Incapazes de produzir alternativas à política iniciada por Lula – que não continuou, mas rompeu com a economia dos tempos de FHC, privatista, entreguista e perversa com o mercado interno –, os tucanos têm de recorrer ao sofisma de que Lula continuou seu antecessor. É um esforço retórico em busca de sobrevivência.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Gandes atores (4): Selton Mello




No filme O Palhaço (contracenando com Paulo José)

A gente tem uma certa tendência a considerar como grandes atores aqueles que já fizeram história, os que já são lenda, os que estão perto de morrer e os que já morreram. O que é natural, já que a carreira de um grande ator, como de qualquer artista (ou mesmo um jogador de futebol), muitas vezes é entendida ao final, depois de uma longa jornada, sob a perspectiva do conjunto da obra.

Não é possível saber o que vai acontecer no futuro da carreira de Selton Mello, mas não resta dúvida de que, pelo que se viu até hoje, ele é diferenciado.  

Um grande ator tem uma capacidade inexplicável de se transformar no outro, aquele que não é: o espírito que de fato passa a existir ao incorporar aquele que, por sua vez, calmamente, docemente, se deixa possuir por meio de gestos, de nuances faciais, de um olhar, de um esgar, como um m édium.

Selton Mello tem esse dom de se transfigurar com gestos, olhares, trejeitos, tons de voz. É muito diferente e muito acima de um Rodrigo Santoro, por exemplo, ator que está mais para galã do que para bom ator, embora tenha atuações marcantes em filmes como Abril Despedaçado (2001) e Não por Acaso  (2007), entre outros. Mas Santoro – que mora em Los Angeles, sempre à espera de uma boquinha para fazer uma ponta em um filmezinho qualquer de Hollywood –, costuma interpretar otimamente um personagem que, na verdade, me parece sempre ele mesmo.  

Já Selton Mello tem mais intimidade com a arte dramática. Eu citaria três interpretações dele que me parecem ilustrativas de sua fascinante capacidade de iludir – que é uma das principais características do (grande) ator:

O Cheiro do Ralo
- em O Cheiro do Ralo (direção de Heitor Dhalia, 2007), interpreta Lourenço, dono de uma loja de objetos e “raridades”. Numa atmosfera em que o bizarro, a ironia e o humor remetem a Machado de Assis, Lourenço recebe figuras desesperadas procurando se desfazer de objetos (símbolos) importantes para elas, embora nem sempre valiosos para o comprador Lourenço.

Ao mesmo tempo que literariamente nos leva a Machado de Assis, o ótimo O Cheiro do Ralo tem fumaças de Buñuel do ponto de vista fílmico, na medida em que, com o bisturi surrealista, destrói algumas das estúpidas certezas do cotidiano pequeno-burguês.

 - em Meu Nome Não é Johnny (de Mauro Lima, 2008 – foto ao lado), como João Guilherme, Selton Mello interpreta a história real de João Guilherme Estrella, um carinha de classe média alta da zona sul do Rio de Janeiro que se envolve com o tráfico de drogas e paga o preço (alto) de suas extravagâncias.

- e em O Palhaço (2011), Selton Mello é não apenas o principal personagem, o ator mambembe Benjamin (que faz o palhaço Pangaré), mas também o diretor do filme, uma das produções nacionais mais bonitas, sensíveis e esteticamente sofisticadas das que vi em muito tempo. Nesse lindo filme, em que divide o “palco” com ninguém menos que Paulo José, os gestos, olhares, trejeitos e tons de voz de Selton Mello realmente são decisivos para que a obra, na minha modesta opinião, seja de certa forma uma continuadora da tradição inaugurada por Federico Fellini, embora já incorporando algumas técnicas posteriores ao mestre italiano, que morreu em 1993.

Os Gerais, como diria Rosa, são o cenário por si só cinematográfico onde se passa a história do filme O Palhaço, permeada pela mineirice natural a Selton, que é da cidade de Passos, a cerca de 170 km de Ribeirão Preto, norte de São Paulo.

É bom que haja um Selton Mello na dramaturgia brasileira. Embora não seja ainda maduro o suficiente para se dizer que já atingiu seu máximo, é um ator diferenciado e digno de ser parte da seção Grandes atores.

Leia também:






domingo, 28 de julho de 2013

Pensata para domingo sem missa


Reprodução
Programação do noticiário da TV aberta essa semana: como o Papa acorda, como dorme, como come, o que come, onde come, por que come, o que fala, o que pensa, o que acha, papamóvel, autopapa, aeropapa, sermões do papa, a careca do papa, a batina do papa (ou sei lá como se chama a roupa do papa), papa visitando pessoas carentes, pregações do papa sobre comportamento, moralidade, esperança e história. Na boa, cansei de papa. (Por Felipe Cabañas da Silva, no Facebook)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Mais Médicos é "política pública da maior importância social", diz Lewandowski em decisão


No STF

Valter Campanato/ABr
Hospital de Base, em Brasília  

No despacho com que negou a liminar pedida pela Associação Médica Brasileira (AMB) para derrubar o programa Mais Médicos (Medida Provisória 621/2013), do governo Federal, o ministro Ricardo Lewandowski, presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal, citou números no seu rol de argumentações para negar a suspensão da medida provisória. Destaco alguns trechos: 

dados revelados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) demonstram que, de 2003 a 2011, o número de postos de emprego formal criados para médicos supera, em 54 mil, o número de graduados no Brasil. Em outras palavras, foram apenas 93 mil formandos para uma demanda de 147 mil postos de trabalho médico, ainda que a oferta de vagas para Medicina no Brasil tenha crescido 62,8% nos últimos dez anos, segundo informações do Ministério da Saúde”.

O ministro continua:

É que o Brasil possui apenas 1,8 médicos para cada mil habitantes, desigualmente distribuídos por suas regiões, ao contrário de outros países como a Argentina (3,2), Uruguai (3,7), Portugal (3,9), Espanha (4), Austrália (3), Itália (3,5), Alemanha (3,6) ou Reino Unido (2,7)”.

Outro dado relevante divulgado pelo Ministério da Saúde a respeito dos médicos estrangeiros é que, enquanto no Brasil 1,79% dos médicos formaram-se no exterior, na Inglaterra o índice é de 40%, nos Estados Unidos da América, 25%, Canadá, 17%, e Austrália, 22%.

Vê-se, pois, que o ato impugnado configura uma política pública da maior importância social, sobretudo ante a comprovada carência de recursos humanos na área médica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, o cenário indica, ao contrário do sugerido na inicial, a existência de periculum in mora inverso, ou seja, o perigo na demora de fato existe, porém milita em favor da população. Não é dado ao Judiciário, em geral, e ao Supremo Tribunal, em particular, como regra, proceder à avaliação do mérito de políticas públicas, especialmente no tocante ao reexame dos critérios de sua oportunidade e conveniência, que são objeto de decisões cobertas pelo manto da ampla discricionariedade, própria das escolhas de cunho político.

(...)

"Ante todo o exposto, indefiro o pedido de medida liminar, ante a ausência dos requisitos indispensáveis ao seu deferimento
.

Quem se interessar em ler a decisão de Lewandowski (eu, particularmente, gosto de ler decisões judiciais), pode acessá-la aqui: íntegra

Sobre o jornalismo ninja


Reprodução/Imagem do Facebook


As pessoas andam meio embasbacadas com o chamado jornalismo ninja. Como sou jornalista, teria uma série de observações a fazer sobre a proposta do grupo, que tomou corpo no contexto das manifestações de junho e julho.

A proposta ninja, aliás, não é nova. Sem falar de experiências do cinema que mergulham a câmera no coração dos acontecimentos, como no excelente documentário Vocação do Poder, de Eduardo Escorel (2005) – mas aqui estamos falando de algo mais sofisticado –, a Mídia Ninja tem uma inserção na realidade muito parecida, embora radicalizada, à incentivada já há bom tempo por portais da internet que colhem depoimentos, fotos e informações de cidadãos comuns, substituindo, na minha opinião de maneira questionável, tanto ética como jornalisticamente, o papel do jornalista.

Li, a propósito, no Observatório da Imprensa, excelente artigo de Sylvia Debossan Moretzsohn, jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense e autora de Pensando contra os fatos. Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico (Editora Revan, 2007). Por isso digo acima que teria uma série de observações a fazer. Porque Sylvia faz essas observações melhor do que eu faria. O artigo não deixa de admitir a relevância da Mídia Ninja, mas relativiza com muita competência a febre por esse jornalismo (palavras minhas) amador, por vezes ingênuo, conceitualmente antiético e que tem um aspecto que me parece muito discutível: o trabalho “de graça”, supostamente militante, que é a proposta tanto do Mídia Ninja como de portais de poderosas empresas da mídia eletrônica, uma das quais publica fotos de internautas "colaboradores" na TV interna da Linha Amarela do metrô paulistano.

Posso ser acusado de corporativista. Mas, se você é professor, por exemplo, provavelmente não encararia com bons olhos um grupo de professores que se propusesse a ensinar “de graça” e colocasse em xeque seu lugar no mercado, arduamente construído à custa do trabalho, de uma vida inteira de estudos, aperfeiçoamento e experiência. Se, sob o aspecto puramente jornalístico, o trabalho do Mídia Ninja é questionável, desse ponto de vista ético é indefensável.

Reproduzo, abaixo, alguns trechos do artigo de Sylvia Debossan Moretzsohn, que é longo (mas vale a pena: para quem quiser ler inteiro, o link do Observatório da Imprensa segue abaixo, neste post).

Repúdio à mídia corporativa

“(...) como já se tornou rotina nessas manifestações, a multidão que se aglomerou na frente da delegacia para onde foram levados os presos – foram dez no total – hostilizava ostensivamente os repórteres da mídia tradicional. O que não apenas representa uma inaceitável tentativa de silenciamento, mas é sobretudo uma incoerência: quem protesta exige que a mídia “fale a verdade”, mas ao mesmo tempo enxota os jornalistas aos gritos de “a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura” e “mídia fascista, sensacionalista”.

Seria talvez ocioso ressaltar a banalização desse adjetivo, aplicado como pecha nas mais variadas circunstâncias, mas é forçoso reconhecer que o germe do fascismo está justamente em atitudes que cerceiam a liberdade.

Não é possível rejeitar em bloco o que se produz na chamada grande imprensa, por mais que façamos, como fazemos, críticas contundentes e bem fundamentadas a toda sorte de manipulação praticada nesses meios. Se não fosse por qualquer outro exemplo, o equívoco da rejeição automática ficaria claro para quem assistiu ao Jornal das Dez, da GloboNews, um dos que divulgaram a prisão dos ninjas e, mais adiante, transmitiria a entrevista de um deles, logo após a soltura. A própria página da Ninja no Facebook, por sinal, divulgou o link para essa notícia. Se odiamos a mídia corporativa, como é que aceitamos usá-la quando ela nos favorece?

Sobre entrevista concedida pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao Mídia Ninja na sexta-feira (19/7):

Por esse texto, fica claro que o convite partiu do prefeito. E aqui reside um equívoco fundamental da equipe [do Mídia Ninja]: não perceber que a entrevista interessava à fonte. Nas discussões virtuais houve quem dissesse que isso não importava, mas esse tipo de afirmação só pode partir de quem desconhece algo elementar no jornalismo: uma coisa é ir atrás da notícia, outra é a notícia cair no nosso colo, ainda mais embrulhada em papel de presente. No longínquo tempo em que desconfiávamos das intenções das assessorias de imprensa, sabíamos distinguir uma coisa da outra. Hoje, quando as assessorias tomaram conta do processo, parece que não há diferença.

Mas, ainda que não tenha sido assim – houve comentários afirmando categoricamente que havia uma intenção prévia dos ninjas de entrevistá-lo –, seria fundamental tentar fugir da armadilha e preparar-se para um encontro em que um político experiente, embora ainda jovem, teria todas as condições de utilizar, como utilizou, essa oportunidade a seu favor.”

Jornalismo amador

A falta de qualificação para encarar um político “ensaboado”, como disseram os ninjas, mas principalmente a falta de percepção sobre a quem serviria uma situação como essa, foi flagrante para quem assistiu à entrevista [de Eduardo Paes] e acompanhou os comentários. Quem quer trabalhar com mídia tem de saber onde está pisando e como tudo isso funciona. Não é possível simplesmente dizer, apesar das belas intenções, que “é no processo, na experiência, no teste do real que se pode avançar”, como se não houvesse – com o perdão do pleonasmo – experiências anteriores. Essa autolegitimação do trabalho ignora a história do jornalismo, as inúmeras tentativas de se contrapor aos modelos dominantes em outras épocas e, principalmente, as táticas das assessorias. Daí que se tenham lançado voluntariosamente numa empreitada que acabou servindo a quem queriam criticar.”

Papel do jornalista

Finalmente, é preciso considerar o comportamento dos repórteres. Uma coisa é assumir de que lado se está, outra é ignorar a necessidade de preservar o papel de mediador que todo jornalista precisa exercer, independentemente da ideologia. Para esclarecer: mediação não significa imparcialidade, nem mesmo equilíbrio – se pensarmos na metáfora do fiel da balança –, porque o jornalismo produzido numa sociedade desigual não pode forjar um equilíbrio inexistente; significa filtrar as informações para estabelecer um quadro compreensível da realidade. Mesmo o jornalismo explicitamente militante tem essas obrigações éticas, não pode simplesmente mergulhar nos acontecimentos e ignorar suas responsabilidades.”

A íntegra do artigo de Sylvia Debossan Moretzsohn: A militância e as responsabilidades do jornalismo



quinta-feira, 25 de julho de 2013

Hegemonia alvinegra


Reprodução
Ronaldinho Gaúcho, maestro

O Atlético Mineiro é o terceiro alvinegro, brasileiro, a ganhar a Libertadores nesta segunda década do século XXI.

O Santos, glorioso alvinegro da Vila Belmiro, levantou a Libertadores em 2011, superando com Neymar, finalmente, o mito da era Pelé, o mito da era da bola de capotão, e se tornou tricampeão da América.

Em 2012, o Corinthians conseguiu finalmente acabar com outro tabu, um dos maiores da história do futebol brasileiro. Ganhou a Libertadores e pôs fim a um trauma, e também a uma fonte inesgotável de piadas.

Para completar a trinca alvinegra brasileira da segunda década do século XXI, eis que o Atlético-MG de Cuca acaba de se sagrar campeão da Libertadores, com méritos, ao bater nesta quarta-feira 24 de julho, o Olímpia do Paraguai nos pênaltis, no Mineirão remodelado e transformado em arena. Parabéns sobretudo ao Cuca, que merece. E ao Ronaldinho Gaúcho, que não jogou muito nas finais, mas foi o astro do título, inegavelmente. ("Fala agora", disse ele, após a conquista, aos repórteres).

Em 2010, último ano da década passada, a primeira do século XXI, o campeão foi o Inter de Porto Alegre. Em 2009, o Estudiantes da Argentina.

Daí para trás, você pode achar facilmente os campeões anteriores em qualquer programa de busca disponível na web.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Morreu Djalma Santos, um dos gigantes do nosso futebol


Divulgação/Atlético-PR
É considerado o maior lateral-direito brasileiro de todos os tempos. Nascido em 1929, tinha 84 anos e estava internado no Hospital Dr. Hélio Angotti, em Uberaba (MG), onde vivia. Djalma teve uma parada cardiorrespiratória no início da noite de hoje, em decorrência de uma pneumonia.

O jogador marcou a história de Portuguesa (1948-1959), Palmeiras (1959-1968) e Atlético Paranaense (1968-1972). Disputou mais de cem partidas pela Seleção Brasileira de Futebol, incluídas as copas de 1954, 1958, 1962 e 1966. Disputou três jogos do Brasil na Copa de 1954, na Suíça, apenas a final da Copa de 1958, na Suécia (quando o Brasil bateu os donos da casa por 5 a 2), e seis partidas da Copa de 1962, no Chile, quando a seleção verde-e-amarela foi bicampeã ao derrotar a Tchecoslováquia por 3 a 1 na decisão.

Gerardo Lazzari
Em 2005, no Canindé

Conversei com Djalma Santos no início de 2005, quando fui, com o fotógrafo Gerardo Lazzari, fazer uma reportagem no Canindé, porque a Lusa estava se reformulando e seus dirigentes prometiam que dali pra frente tudo ia ser diferente. Djalma era o convidado de honra e foi prestigiar o evento, apoiar a reformulação, e disse que apostava nela, que a Lusa era grande e ia retomar seu caminho. Não me lembro das aspas, o que ele disse exatamente.

Era um homem bonito, educado, de fala tranquila, que passava uma energia boa. É engraçado. Entrevistei tanta gente importante, mas o papo de alguns minutos com aquele senhor magnético, cheio de energia, amável, uma lenda dos gramados, me deixou mais feliz do que muitas entrevistas. É a magia do futebol.

Numa matéria do Estadão daquele mesmo ano de 2005, alguns meses depois, Djalma, segundo a reportagem,  na sala de visitas de sua casa, tinha uma foto da seleção campeã de 58: Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. “O dedo indicador de Djalma pára diante de cada companheiro de time. "Estes já morreram", disse então, mostrando Orlando, Didi, Garrincha e Vavá. "Estes dois estão doentes. Tomara que melhorem", comentou ainda, apontando Gilmar e Bellini.

Djalma acabou indo primeiro. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Leonardo Boff acredita que papa Francisco representa ruptura


"Eu acho que esse é o papa da ruptura. Essa é a palavra que Bento 16 e João Paulo 2º mais temiam. Eles acreditavam que a igreja tinha que ter continuidade, portanto o Concílio Vaticano Segundo não poderia significar ruptura com o Primeiro. Mas não, agora há uma ruptura, a figura do papa não é mais a clássica, é outra. Francisco não começou com a reforma da cúria, começou com a reforma do papado."

Elza Fiuza/ABr
"Manifestações não foram contrao PT, a Dilma ou o Lula

A declaração é do teólogo Leonardo Boff em entrevista à revista alemã Deutsche Welle, sobre o papa Francisco., que chega ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude.

Questionado por que está tão otimista, já que os problemas da Igreja como exclusão dos divorciados, a discriminação dos homossexuais, a proibição de mulheres-sacerdotes continuam, Leonardo Boff afirmou que o papa deu indicações claras de que acena para mudanças: "Ele soube que um pároco em Roma negou o batismo ao filho de uma mulher solteira. E o papa disse: 'Esse padre está errado, porque não existe mãe solteira. Existe mãe e filho. E ela tem o direito de ver o filho batizado, porque a igreja tem que ter as portas abertas, pouco importa a condição moral da pessoa'. E ele foi mais fundo ao dizer que não se pode inventar um oitavo sacramento, proibindo os fiéis que não se enquadrem na disciplina eclesiástica de participar da vida da igreja e dos sacramentos. Até agora, os temas de moral sexual, de moral familiar, de celibato e de homossexualidade eram proibidos de serem discutidos. Se um teólogo ou um padre discutisse esse assunto, era logo censurado. Agora, ele vai permitir a discussão".

Leonardo Boff também falou sobre as manifestações de junho no Brasil: "elas não são contra o PT, a Dilma ou o Lula. Elas mostram uma insatisfação geral com o Brasil que temos, que é um país com profundas desigualdades. São 5.000 famílias brasileiras que controlam 43% de toda a riqueza nacional. Além disso, o próprio PT atingiu o seu teto. Ou ele muda e refaz a sua relação orgânica com os movimentos sociais, ou ele se transforma num partido como os demais, que buscam o poder e acabam se corrompendo".

A entrevista na íntegra neste link

sexta-feira, 19 de julho de 2013

"Não neguem a política", diz Lula aos jovens



Do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos jovens, em conferência a estudantes de ensino superior na Universidade Federal do ABC, intitulada “Brasil no mundo: mudanças e transformações”, na tarde de ontem, quinta-feira 18 de julho:

 “Quando vocês estiverem putos da vida e não estiverem gostando de ninguém, ainda assim não neguem a política. E muito menos neguem os partidos. Quando você estiver puto e quiser negar as coisas, em vez de negar a política, entre na política.”

A pior coisa que pode acontecer no mundo é aceitar a negação da política. Não existe nenhuma experiência no mundo em que a negação da política deu melhor resultado que a podridão da política (...) Os conservadores não se conformam. Sentem saudade dos tempos em que o continente era subalterno. Em que a miséria era um dado sociológico.”

Queremos ter relação com os Estados Unidos, o que não podemos é nos tornar dependentes. Por isso nos voltamos para a América Latina.”

Na década de 90, existia a dúvida de quem era o serviçal mais importante, Menem, FHC etc. Como o Brasil queria ser grande se não cuidava dos que estavam perto? Fizemos um trabalho de reconquistar confiança política. Em dois anos, aconteceram coisas extraordinárias, primeiro o Chávez, depois o Lula, o Kirchner etc. Aquilo que as pessoas jamais imaginaram que iria acontecer nós vivemos, que foi o período mais progressista, socialista e de esquerda da nossa América do Sul.”

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Google, Facebook e Microsoft cobram transparência de Obama


Charge: Rice/ Publicado originalmente no jornal Visão Oeste


Do Opera Mundi

Em raro momento de união no competitivo mercado da internet, mais de 50 empresas assinaram juntas ontem (17) uma carta para o presidente Barack Obama cobrando transparência do governo norte-americano no escândalo de espionagem. O grupo, que inclui Facebook, Google e Microsoft, também promete um comunicado conjunto para hoje (18).

A carta solicita a Washington uma série de medidas para que os usuários da internet tenham mais segurança com suas informações. Segundo o portal All Things Digital, caso o governo norte-americano não atenda à demanda, as empresas prometem revelar por elas mesmas dados da NSA (sigla em inglês para Agência Nacional de Segurança).

Todas as empresas, diz a imprensa dos EUA, querem fugir do estigma que colaboram com a administração Obama no sistema de vigilância. Na carta, também pedem a Obama permissão para publicar os documentos sobre os pedidos de acesso ao banco de dados feitos por Washington.Caso não sejam atendidos, prometem ir à justiça do país.

"Durante anos, estão sendo publicados informações básicas sobre como o governo utiliza as leis para autorizar uma investigação sem que haja nenhum interferência ou controle da Justiça. Queremos que as informações relacionadas à segurança nacional, a mesma que Washington nos solicita, seja colocada à disposição da população. Essa informação – de como é feito e de com que frequência o governo está utilizando os mecanismos legais – é importante para a sociedade", afirma a carta direcionada a Obama. 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O vampiro do Polanski


Ainda não é desta vez que vou escrever um post da série Favoritos do Cinema sobre Roman Polanski, embora este seja um dos cineastas mais abordados neste blog, porque, afinal, é não apenas um grande diretor como também uma persona cuja trajetória é em si mesma o roteiro de um grande e misterioso filme.

Não, este post é apenas para falar de um filme que revi dias atrás e que, como havia assistido há muitos anos, provavelmente em circunstâncias desfavoráveis (já que ele se apagara de minha memória), não me lembrava de nada.


Polanski e Sharon Tate em A Dança dos Vampiros (1967)

Trata-se de A Dança dos Vampiros, uma das muitas versões disponíveis no cinema sobre a mitológica criatura cujo maior sofrimento é não poder morrer e que, saindo do túmulo durante a noite, suga a vida das pessoas que encontra pela caminho.

O escritor irlandês Bram Stoker, com o clássico Drácula, foi quem deu forma ao vampiro eternizado nas telas de cinema nos três mais badalados filmes sobre o personagem que se basearam no livro de Stoker, e tirando os antigos e inesquecíveis filmes meio trash, meio cult, mas sem dúvida clássicos, interpretados por Bela Lugosi, deliciosos de ver, mas que mereceriam um post à parte.

Com “três mais badalados” me refiro a Nosferatu (de F.W. Murnau, 1922), com Max Schreck no papel do bebedor de sangue; Nosferatu - O Vampiro da Noite (de Werner Herzog, 1979), com a extraordinária interpretação de Klaus Kinski; e Drácula de Bram Stoker (de Francis Ford Coppola, 1992), a grande e caríssima produção de um diretor que dispensa comentários, cuja grandiosidade faz do intérprete do vampiro, Gary Oldman, o menos brilhante dos três atores, na minha opinião. Em A Dança dos Vampiros, Polanski faz um vampiro quase insignificante, que tem menos importância do que os outros personagens e do que os outros vampiros. Por quê?

O filme de Murnau, forjado no clima expressionista alemão que vicejava na Alemanha pós-Primeira Guerra que prenunciava com suas sombras o terrível porvir nazista, é naturalmente pessimista, e trágico; o de Herzog, igualmente erótico e pessimista (um arquétipo alemão?), entretanto substitui a tragédia pela ironia, que Klaus Kinski incorpora como um mestre; e o filme de Coppola, que privilegia a visão hollywoodiana (emblematizada pelo idiota beijo final do vampiro moribundo e a amada – a espetacular Wynona Rider), mas que tem soluções gráficas e de roteiro que só Coppola poderia fazer, como a sequência inicial, que dá ao filme uma carga histórica que os outros não têm: Coppola interpreta o Drácula de Bram Stoker como uma tragédia shakespeariana que atravessa os séculos, incorpora o ódio ao catolicismo medieval e admite o espiritismo, na medida em que deixa claro que a paixão do vampiro (Gary Oldman) pela amada (Wynona Rider) começara séculos antes.

No filme de Polanksi, de 1967 (feito portanto 45 anos depois do de Murnau e antes que os de Herzog e Coppola 12 e 25 anos, respectivamente), as referências à matriz (Bram Stoker) se diluem. Murnau, Herzog e Coppola seguiram de maneira mais ou menos fiel (mas sempre fiel) o roteiro traçado pelo escritor. Em Polanski, o roteiro é bem diverso. No entanto, é o que melhor preserva as origens nas quais todos beberam, qual seja, a cultura romena e do leste europeu, seus mitos e folclores, o figurino e o cenário a caracterizar o enredo.

Não tenho elementos para dizer quais foram as locações das filmagens de A Dança dos Vampiros, mas de fato ele filma a atmosfera meio fabulosa (na acepção do termo) de um povo camponês, não industrial, e suas crendices.

Polanski filmou a cultura anterior àquela que os outros ignoraram em seus filmes. O vampiro de Murnau é o alemão das sombras expressionistas. O de Herzog é também o alemão, de outra época, pós-Segunda Guerra. O de Coppola, embora incorpore até mesmo a questão da reencarnação, é norte-americano.

O de Polanski não. Ele admite a cultura originária, a romena. E, apesar disso, incorpora também algo que lembra (embora não explicitamente) a época do ácido lisérgico e o espírito dos anos 1960.

O próprio Polanski interpreta o segundo principal personagem do filme, o assistente do professor Abronsius. E dá a ele um caráter cômico, irônico, mas nunca trágico.

E dá ainda, sem querer, um caráter profético e macabro ao filme. A heroína, que no fim se transforma em vampira, é interpretada pela belíssima Sharon Tate, então esposa de Polanski, que foi brutalmente assassinada em 1969 por um louco chamado Charles Manson, líder de uma seita satânica, condenado à prisão perpétua, que continua até hoje preso na Penitenciária Estadual de Corcoran, na Califórnia.

A título de curiosidade, Polanski dirigiu também um dos maiores clássicos do terror, O Bebê de Rosemary, de 1968, um ano antes do crime que vitimou Sharon Tate, filme que conta a história de um jovem casal (interpretado por Mia Farrow e John Cassavetes) que se muda para um prédio habitado por estranhas pessoas que vão se revelando adoradoras do demônio. A jovem (Mia Farrow) é drogada, concebida e dá à luz uma criança: o filho das trevas.

Detalhe: o filme teve como locação o edifício Dakota, onde moraram Judy Garland e Boris Karloff. O Dakota foi cenário da ficção O Bebê de Rosemary e do real assassinato de John Lennon, que morava ali em um apartamento com Yoko Ono. Lennon foi assassinado por Mark David Chapman em 8 de dezembro de 1980 em frente ao edifício Dakota.



segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Brasil, a espionagem e a soberania


Trecho da Moção De Repúdio aprovada na Câmara dos
Deputados dia 9/07/2013, por 292 votos a 86 e 12 abstenções:

"Manifestamos o nosso repúdio à espionagem e o monitoramento de bilhões de e-mails, telefonemas e dados de empresas e cidadãos brasileiros, bem como do governo do Brasil, supostamente realizados por agências de inteligência dos Estados Unidos da América, que violam direitos de empresas e cidadãos brasileiros e atentam contra a soberania nacional. Ao mesmo tempo, externamos o nosso apoio às iniciativas do Estado brasileiro, que pretende levar este grave caso à consideração da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Internacional das Telecomunicações (UIT). Declaramos, ademais, nossa concordância com as iniciativas destinadas a criar uma agência multilateral, no âmbito do sistema das Nações Unidas, para gerir e regulamentar a rede mundial de computadores, poderoso instrumento de uso compartilhado da humanidade. Por último, externamos a nossa apreensão com a segurança do cidadão norte-americano Edward Snowden, que está refugiado, há dias, no aeroporto de Moscou."


Gustavo Lima/ Câmara dos Deputados
No Plenário da Câmara, 86 deputados votaram contra o país

Segundo a Agência Brasil hoje (segunda-feira, 15 de julho), o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, "reiterou que aguarda as informações oficiais do governo dos Estados Unidos sobre as denúncias de espionagem de cidadãos brasileiros, por agências norte-americanas", e que "considera 'insuficientes' os esclarecimentos fornecidos até o momento".

Como se sabe, na semana passada, o governo brasileiro pediu explicações ao Departamento de Estado norte-americano e à Embaixada dos Estados Unidos em Brasília sobre as denúncias. 

No dia 9, o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou a moção de repúdio acima citada, proposta pelo PT e assinada pelos líderes do PMDB, do PV, do Psol e do PCdoB, ao governo dos Estados Unidos contra a espionagem de agências norte-americanas de inteligência sobre empresas e pessoas brasileiras.

A moção de repúdio foi uma resposta às informações do ex-técnico da CIA Edward Snowden de que a Agência Nacional de Segurança Norte-Americana (NSA) manteve escritórios no Brasil para monitorar a comunicação de empresas e de brasileiros.

Por incrível que pareça, ouvi gente da “grande” imprensa chegar ao ponto de dizer o seguinte: “O dramalhão que se sucedeu à notícia de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA teria grampeado as comunicações nacionais causou chiliques generalizados” de deputados, senadores, ministros, secretários e oportunistas (Luli Radfahrer, Folha de S. Paulo, 12 de  julho de 2013). Outros disseram que o governo estava usando o fato para encobrir os efeitos das manifestações de junho.

Francamente, não sei se há exemplo no mundo de um grande país cuja classe dominante (no caso, representada pela “grande” imprensa) seja absolutamente desprovida de qualquer tipo de apego aos interesses nacionais. Mais do que isso, defensora de interesses estrangeiros. Da espionagem estrangeira, da deduragem internacional.

(Há uma coisa que eu admiro e, por assim dizer, invejo nos Estados Unidos. É que seu povo, independentemente de diferenças políticas, se une completamente quando os interesses de seu país é de algum modo ameaçado por outras nações. É muito graças a essa união, forjada em grande parte pelas cicatrizes da Guerra Civil Americana (1861-1865), que os EUA se tornaram o maior império do século XX. A também chamada Guerra de Secessão matou cerca de 1 milhão de estadunidenses, num conflito entre os sulistas conservadores, escravagistas e latifundiários, contra o norte que caminhava para suprimir o trabalho escravo rumo a um Estado definitivamente industrial.)

Voltando ao nosso Brasil, não estou aqui defendendo patriotismo ou nacionalismo, conceitos pelos quais não nutro nenhum apreço, considerando o que se cristalizou em nossa história como símbolo de patriotismo e nacionalismo.

Aqui, movidos pelo ódio de classe costumeiro,  cujo objetivo final é derrotar o primeiro governo popular desde Getúlio Vargas, os detentores dos meios de comunicação, membros da oposição obscurantista e boa parte da classe média (a definida por Marilena Chaui) não perderiam a oportunidade de apoiar qualquer intervenção, declarada ou não, para tirar Lula-Dilma do poder.

Marilena Chaui assim define a classe média: “a classe média é uma abominação política, porque é fascista; é uma abominação ética, porque é violenta; e é uma abominação cognitiva, porque é ignorante”. É a esse público – ignorante, autoritário e violento, incapaz de amar seu país, individualista e preconceituoso, representado pelos 86 deputados – que a Veja se orgulha de vender 1 milhão de exemplares por mês.

Encerro aqui a humilde peroração para listar abaixo os nomes de todos os tais 86 deputados (do DEM, PMDB, PSDB, PMN, PP, PR, PRP, PSB, PSC, PSD e PTB) que votaram contra a Moção de Repúdio aprovada na Câmara no dia 9, e pouco divulgada pela... “grande” imprensa.

DEM – 16 votos
Abelardo Lupion – PR
Alexandre Leite – SP
Augusto Coutinho – PE
Claudio Cajado – BA
Davi Alcolumbre – AP
Eli Correa Filho – SP
Jairo Ataíde – MG
Jorge Tadeu Mudalen – SP
Júlio Campos – MT
Luiz de Deus – BA
Mandetta – MS
Mendonça Filho – PE
Onyx Lorenzoni – RS
Paulo Cesar Quartiero – RR
Rodrigo Maia – RJ
Ronaldo Caiado – GO

Total de Bancada: 20

PMDB – 12 votos
Aníbal Gomes – CE Obstrução
Darcísio Perondi – RS
Edio Lopes – RR
Fernando Jordão – RJ
Lucio Vieira Lima – BA
Marçal Filho – MS
Marcelo Almeida – PR
Mauro Mariani – SC
Osmar Terra – RS
Silas Brasileiro – MG
Valdir Colatto – SC
Wladimir Costa – PA
Total da Bancada: 64

PMN – 3 votos
Francisco Tenório – AL
Jaqueline Roriz – DF
Total da Bancada: 3

PP – 17 votos
Arthur Lira – AL
Dilceu Sperafico – PR
Esperidião Amin – SC
Iracema Portella – PI
Jair Bolsonaro – RJ
Jerônimo Goergen – RS
Lázaro Botelho – TO
Luis Carlos Heinze – RS
Luiz Fernando Faria – MG
Missionário José Olimpio – SP
Renato Andrade – MG
Renzo Braz – MG
Roberto Balestra – GO
Roberto Britto – BA
Roberto Teixeira – PE
Sandes Júnior – GO
Vilson Covatti – RS
Total da Bancada: 24

PR – 5 votos e 1 abstenção
Bernardo Santana de Vasconcellos – MG
Henrique Oliveira – AM
Maurício Quintella Lessa – AL
Paulo Freire – SP
Vicente Arruda – CE Abstenção
Total da Bancada: 24

PRP – 1 voto
Jânio Natal – BA
Total da Bancada: 2

PSB – 2 votos e 1 abstenção
Fernando Coelho Filho – PE Abstenção
Júlio Delgado – MG
Paulo Foletto – ES
Total da Bancada: 21

PSC – 8 votos
Andre Moura – SE
Costa Ferreira – MA
Deley – RJ
Lauriete – ES
Nelson Padovani – PR
Pastor Marco Feliciano – SP
Takayama – PR
Zequinha Marinho – PA
Total da Bancada: 10

PSD – 20 votos
Ademir Camilo – MG
Arolde de Oliveira – RJ
Átila Lins – AM
Carlos Souza – AM
César Halum – TO
Danrlei De Deus Hinterholz – RS
Eduardo Sciarra – PR
Eleuses Paiva – SP
Fernando Torres – BA
Guilherme Campos – SP
Hélio Santos – MA
Hugo Napoleão – PI
Jefferson Campos – SP
João Lyra – AL
José Carlos Araújo – BA
Júlio Cesar – PI
Manoel Salviano – CE
Onofre Santo Agostini – SC
Sergio Zveiter – RJ
Walter Ihoshi – SP
Total da Bancada: 32

PSDB – 2 votos e 10 abstenções
Alfredo Kaefer – PR
Andreia Zito – RJ
Antonio Carlos Mendes Thame – SP Abstenção
Antonio Imbassahy – BA Abstenção
Duarte Nogueira – SP Abstenção
Eduardo Azeredo – MG Abstenção
Jutahy Junior – BA Abstenção
Nelson Marchezan Junior – RS Abstenção
Nilson Leitão – MT Abstenção
Plínio Valério – AM
Reinaldo Azambuja – MS
Vaz de Lima – SP Abstenção
William Dib – SP Abstenção
Total da bancada: 39

PTB – 2 votos
Arnaldo Faria de Sá – SP
Sérgio Moraes – RS

Total da Bancada: 13

*Leia aqui a íntegra da Moção de Repúdio

**O termo "Total da bancada" se refere aos deputados presentes em plenário

sexta-feira, 12 de julho de 2013

De tabaco e políticas higienistas [2]



Estava para ser votado ontem, na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, projeto do senador Paulo Davim (PV-RN) que restringe os pontos de vendas de cigarros (PLS 139/2012).  A votação foi adiada por pedido de vista.

O projeto proíbe a comercialização de cigarro e produtos derivados em postos de gasolina, supermercados, estabelecimentos de venda ou consumo de alimentos, lojas de conveniência e bancas de jornal. Quer dizer, os tabagistas vão ter que apelar para estratégias de armazenamento.

Acho que a onda de proibicionismo que assola o país faz mais mal à saúde do que o cigarro. Tudo bem proibir fumar em locais fechados, bares, restaurantes etc. Mas a política de proibir pura e simplesmente é algo que a história já demonstrou ser não apenas contraproducente como burra (ou mal intencionada), e a Lei Seca que vigorou nos Estados Unidos na primeira metade do século passado é um exemplo paradigmático. Viu, senador Davim? Paradigmático.

Já escrevi aqui, no post De tabaco e políticas higienistas, no Dia Mundial sem Tabaco em 2011, o que acho sobre o assunto, reproduzindo inclusive a opinião do deputado estadual de São Paulo Adriano Diogo (PT), que escreveu, a propósito da política do ex-governador José Serra em São Paulo: 

Por trás disso tudo está a política higienista de Andrea Matarazzo, o fascismo silencioso e perverso de Serra, a síndrome por uma sociedade perfeita e sem vícios. Esta é a eugenia serrista. E qualquer semelhança com a eugenia nazista não é mera coincidência. Adolf Hitler é o precursor das campanhas públicas anti-tabagistas. Na década de 1930 e início da década de 1940 ele comandou a campanha anti-tabagista mais poderosa do mundo, que muito se assemelha à lei que foi sancionada, pois restringia o fumo em lugares públicos, além de estabelecer normas para o consumo em restaurantes e cafés”.

Como se vê, a visão serrista de saúde pública, a do moralismo e da proibição, faz escola. Moralismo e proibição que engendram a deduragem, o incentivo ao monitoramento do indivíduo e do domínio policial sobre as relações. Segundo o higienista-senador Paulo Davim, sua proposta se justifica pelo fato de o tabaco está associado ao crescimento de diversas doenças crônicas que levam à morte. “Restringir os locais onde se pode comprar cigarro constitui não apenas a imposição de maiores dificuldades para o consumo, mas também uma estratégia efetiva para reduzir sua promoção”, diz o senador.

Sugiro ao nobre parlamentar, já que ele está preocupado com a saúde dos brasileiros e com a morte, que apresente projetos contra os agrotóxicos, contra os conservantes, os refrigerantes, a propaganda de remédios na televisão, contra os alarmes sonoros que perturbam o sono das pessoas, o escapamento dos carros que exalam fumaça venenosa, o óleo diesel, os antidepressivos tarja preta e também contra a tristeza e a ignorância, que também matam, de câncer e outras enfermidades, embora mais sub-repticiamente.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A Libertadores não tem nada a ver com Deus. Mas o Galo mereceu estar na final


A mais uma vez dramática classificação do Atlético-MG, agora à final da Libertadores 2013, nos pênaltis, diante do argentino Newell's Old Boys, é mais do que justa. Pelo futebol do time (o que mais encanta no Brasil hoje), pela campanha, pela torcida apaixonada, mas principalmente pelo técnico Cuca, um cara que merece um grande título pelo trabalho que há anos vem desenvolvendo (conheço vários são-paulinos que garantem que o São Paulo campeão da Libertadores e Mundial em 2005 foi montado por ele).


Mais do que ninguém, o treinador do Galo mereceu a façanha

Porém, não posso ser cínico e dizer que torci pro Galo. Por dois motivos: 1) acredito que se o Galo caísse hoje Cuca, talvez, considerasse encerrado o ciclo no clube mineiro, e, quem sabe, olhasse para os lados do litoral paulista, onde o Santos está precisando de um treinador exatamente como ele (o próprio treinador disse recentemente que deseja um dia voltar à Vila Belmiro, onde também hoje o Santos vergonhosamente empatou pela Copa do Brasil, por 1 a 1, com um time chamado Crac - sic - de Goiás, parece que lanterna da Série C do Brasileiro!); 2) quando o Atlético eliminou o Tijuana do México graças a uma defesa de pênalti do goleiro Victor nos estertores da partida, vi jogadores do time brasileiro falarem tanto no “Senhor que nos abençoou” que me deu bode.

Jogador brasileiro não ganha jogo, quem ganha é o “Senhor que abençoa”. Fala sério. Se Deus existe, com certeza não está preocupado com futebol, até porque, pelo menos no Brasil, todo mundo reza e ficaria difícil para Ele decidir. Qual seria o critério de Deus? “Se macumba decidisse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado”. 

“De modos que” (como diria o folclórico presidente corintiano Vicente Mateus) não aguento mais jogador de futebol evangélico. Pelo menos Cuca é católico. É até engraçado, já que Minas (quem conhece sabe) é talvez o estado mais católico do Brasil, se bem que hoje em dia não se pode saber, já que o pentecostalismo já invadiu até a Bahia de Todos os Santos.

Voltando ao futebol, o Newell's Old Boys, que é um belo time, não soube aproveitar o enorme talento de Maxi Rodríguez  no meio campo e ficou apostando na considerável vantagem de 2 a 0 que trouxe da Argentina. Defendeu demais para um time que sabe tocar a bola e poderia ter sido mais ousado.

O Galo quase morreu pela boca graças ao nervosismo do time, que se irradiou pelas arquibancadas e impediu que produzisse o mesmo futebol de alto nível que o levou até a semifinal e, agora, à final da Libertadores. Na verdade, há um terceiro motivo para eu não ter torcido para o time de Minas hoje: é que eu nunca torço para time brasileiro na Libertadores, a não ser para o meu time (os corintianos, no ano passado, mesmo os que me conhecem, não entenderam isso). 

Enfim, a final, Atlético-MG x Olímpia, não tem favorito. É o futebol mais envolvente e bonito da equipe de Belo Horizonte contra o jogo mais pragmático, e traiçoeiro, dos paraguaios. O Galo nunca ganhou uma Libertadores. O Olímpia tem algo que pode pesar muito, a tradição, pois é tricampeão da Libertadores (1979, 1990 e 2002). Os maiores inimigos do Galo, porém, são a ansiedade e os nervos, do time e da torcida.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O Mercado Público de Porto Alegre



Fotos: Edu Maretti/Carmem Machado (clique para ampliar)


Triste ter ocorrido o incêndio que semidestruiu o lindo Mercado Público de Porto Alegre.

O mercado foi inaugurado em 3 de outubro de 1869, a partir de projeto de 1861 do engenheiro Frederico Heydtmann, em estilo neoclássico (hoje, após muitas reformas, o estilo não pode ser especificado).

Em 1912 foi construído o segundo pavimento para abrigar escritórios comerciais e industriais e repartições públicas.



O Mercado Público passou por vários sinistros, como enchentes, incêndios e até ameaças de demolição. Sofreu incêndios em 1912, 1976 e 1979.

Sob a gestão do prefeito Telmo Thompson Flores, correu risco de ser demolido para a construção de uma avenida. Flores foi prefeito de Porto Alegre (1969-1975) nomeado pela ditadura militar.

Em 12 de dezembro de 1979, o Mercado Público foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre (Lei 4.317/77).

Desejo pronta recuperação ao mercado.



*As fotos são de junho de 2010.

**Com informações da prefeitura de Porto Alegre

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O cinema, a arte e a vida, segundo Federico Fellini



Acabo de ler um livro delicioso: A arte da visão – conversa com Goffredo Fofi e Gianni Volpi (edição Martins Fontes). Trata-se de uma série de diálogos, ou uma entrevista, dos críticos italianos do título com Federico Fellini. Não tem preço saber o que um gênio como Fellini tem a dizer sobre cinema e – curiosidade das curiosidades – sua impressão sobre seu próprio cinema, e também sobre a vida, a Itália, Roma, as mulheres e a cultura, amigos de ofício, entre muitos outros assuntos.

Fellini é um dos cineastas mais importantes da história do cinema. Há quem goste e quem não goste de seus filmes, mas basta ter um pouco de sensibilidade para pelo menos respeitar o diretor de Amarcord, 8 ½, A Doce Vida, Julieta dos Espíritos, A Estrada da Vida e tantos outros. O livro é curto, infelizmente. A entrevista propriamente dita tem apenas 60 páginas, após as quais é inevitável a sensação de “quero mais”, pois é muito pouco.

Nelas, Fellini fala, entre outros, de temas como a mentira, Jung e Kafka, linguagens, Rosselini, patrocínio no cinema, o futuro e o cinema, Pasolini, amigos. O livro traz ainda oito lindas fotos de Paul Ronald feitas no set de 8 ½, a opinião de vários cineastas norte-americanos importantes sobre Fellini e sua obra (“Fellini visto dos Estados Unidos”) e a visão do próprio diretor sobre cada um de seus filmes (“Fellini segundo Fellini”).

Muito interessante, do ponto de vista estético, a passagem em que o cineasta discorre sobre seu mestre Roberto Rosselini. “Rosselini (...) aceitava o que existia e ali estava o seu extraordinário talento: ele conseguia fotografar as coisas, o ar, a luz, e conferia a elas uma aparência de acontecimento único, mesmo quando havia um fundo de invenção mais forte... O neorrealismo é exclusivamente ele.”

Sobre C. G. Jung: “Acho que Jung conseguiu me sugerir, como Kafka, um ponto de vista convincente, mais razoável que racional, mas passível de interpretar não tanto a fábula onírica, os símbolos, mas nossas contradições, sugestões, encantamentos, magias, recordações sempre gerando recordações (...) uma chave bem espectral, iniciática, ocultista, mas sem dúvida psicológica; portanto, seja como for, tem relação com a razão”.

Sobre Giulieta Masina, sua mulher e atriz de alguns de seus filmes, como A Estrada da Vida e Julieta dos Espíritos: “Ela me parece uma atriz singularmente talentosa para expressar de imediato o espanto, o sobressalto, as alegrias frenéticas e o entristecimento cômico de um clown. É isso, Giulieta é uma atriz-clown, uma autêntica palhaça”.

Sobre o tema mulher (comentando o seu próprio filme Julieta dos Espíritos): “...o homem livre não pode prescindir de uma mulher livre”.

Sobre Pasolini: “Eu o procurei e ele chegou com seu passinho flexível, tímido, com os óculos pretos, e foi logo simpático comigo, eu o senti como uma espécie de irmãozinho, adorável, delicado e moleque, apedrejador, desses que ficam atirando pedras nos rios”.
Diretores americanos

É particularmente interessante saber o que os cineastas dos Estados Unidos pensam de Fellini, no capítulo que traz as opiniões de Woody Allen, Robert Altman, Oliver Stone, Milos Forman e outros.

Me chamou a atenção o que diz Jim Jarmusch de Fellini, por ser um cineasta de uma geração posterior (nascido em 1953), com uma visão muito particular do cinema e que transita pelo underground e a estética do Brooklyn: “No seu último filme, A Voz da Lua (...) tem uma parte maravilhosa, é a parte em que os três irmãos (...) conseguem capturar a lua e trazê-la para a Terra. Quando a polícia os interroga e lhes pergunta se foi difícil, o mais velho responde que não, porque a lua é uma mulher que se esconde, mas, no fundo, deseja ser capturada. Por alguma razão, esse momento do filme é para mim uma das coisas mais belas que já vi no cinema”.

Bem, a parte final do livro, em que Fellini fala, um por um, de seus filmes, é em si um documento para se ter na estante, como arquivo e como livro de consulta, como se já não o fosse todo esse pequeno (fisicamente) grande livro.

É um livro que, ao terminar de ler, você pensa: “que pena que já li esse livro. Nunca mais vou ter o prazer de o ler pela primeira vez”.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

"Estão todos loucos", diz Cristina Kirchner sobre atentado a avião de Evo Morales




"Definitivamente estão todos loucos. Chefe de Estado e seu avião têm imunidade total. Não pode ser esse grau de impunidade", disse a presidente argentina, Cristina Kirchner, diante do atentado (pois como denominar de outra maneira?) sofrido pelo presidente boliviano Evo Morales.

Até o momento em que posto aqui, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, ainda não se havia se pronunciado sobre o caso, ao contrário de Equador, Uruguai e Venezuela. “Esperamos a solidariedade do governo brasileiro. Esperamos um pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff a exemplo de outros presidentes da região que se manifestaram em apoio ao presidente Morales”, disse o embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano Talavera, à Agência Brasil agora há pouco*.

Evo voltava de Moscou, na Rússia, ontem, quando a tripulação de seu avião foi informada de que não poderia ingressar nos espaços aéreos de Itália, Portugal, Espanha e França, que alegaram motivos técnicos para barrar a passagem do voo do presidente da Bolívia.

O motivo real seria a suspeita de que o avião presidencial transportasse o ex-técnico da CIA Edward Snowden, procurado pelas autoridades dos Estados Unidos.

O voo de Morales foi obrigado a mudar sua trajetória e pousar em Viena, na Áustria. Evo Morales disse nesta quarta-feira, segundo o site Opera Mundi, que a proibição de voo em terras europeias reflete uma "política imperial que busca amedrontar e ameaçar a todos os países e governos que pensam diferente e não se rendem a interesses hegemônicos".

Ainda em Viena, pouco antes de embarcar rumo a La Paz, Morales ressaltou que "não nos deixaremos ser intimidados, esse é o tempo dos povos".

*PS [Atualizado às 23:46] – Este post foi postado às 12:36 de quarta-feira (3). Às 16:15, o Blog do Planalto divulgou nota oficial do governo brasileiro, assinado pela presidente da República. A nota me pareceu contundente, embora atrasada. Mas também pode ser que Dilma (e não estou sendo irônico) não tenha tido tempo de se manifestar antes, pois quem acompanhou o noticiário hoje viu que a presidente brasileira tinha muita coisa a fazer e não podia se pronunciar sobre assunto tão sério sem estar devidamente informada.

Abaixo, a nota na íntegra (e só agora por falta de tempo):

O governo brasileiro expressa sua indignação e repúdio ao constrangimento imposto ao presidente Evo Morales por alguns países europeus, que impediram o sobrevoo do avião presidencial boliviano por seu espaço aéreo, depois de haver autorizado seu trânsito.

O noticiado pretexto dessa atitude inaceitável – a suposta presença de Edward Snowden no avião do Presidente –, além de fantasiosa, é grave desrespeito ao Direito e às práticas internacionais e às normas civilizadas de convivência entre as nações. Acarretou, o que é mais grave, risco de vida para o dirigente boliviano e seus colaboradores.

Causa surpresa e espanto que a postura de certos governos europeus tenha sido adotada ao mesmo momento em que alguns desses mesmos governos denunciavam a espionagem de seus funcionários por parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas ações comprometiam um futuro acordo comercial entre este país e a União Europeia.

O constrangimento ao presidente Morales atinge não só à Bolívia, mas a toda América Latina. Compromete o diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações entre eles. Exige pronta explicação e correspondentes escusas por parte dos países envolvidos nesta provocação.

O governo brasileiro expressa sua mais ampla solidariedade ao presidente Evo Morales e encaminhará iniciativas em todas instâncias multilaterais, especialmente em nosso continente, para que situações como essa nunca mais se repitam.

Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil

terça-feira, 2 de julho de 2013

Sobre a reeleição


Há quem esteja vislumbrando no cenário político pré-plebiscitário uma série de conspirações com vistas a mudar as regras do jogo para colocar um basta na série de governos de centro-esquerda no país.

Uma das teses ventiladas seria colocar no plebiscito a possibilidade de se acabar com a reeleição. Consideremos a hipótese. Perguntar-se-ia à população, por exemplo: "você é a favor ou contra a reeleição para o cargo de presidente da República?"

Sempre no terreno das suposições, vamos imaginar que no plebiscito ganhe o "não" à reeleição. Mesmo assim, seria um enorme risco que a direita correria tentando a aventura.

Se o povo achar que a questão do mandato presidencial e a reeleição devem ser objeto da reforma política, uma proposta para mudar tal regra precisaria de uma proposta de emenda constitucional. Mudar a Constituição exige quórum qualificado no Congresso – 308 deputados e 49 senadores, três quintos das duas Casas Legislativas, em dois turnos de votação.

Não é fácil aprovar. Mas é claro que, se o povo achar melhor acabar a reeleição, serão muito poucos os deputados e senadores que terão a coragem de votar contra o desejo manifesto em plebiscito, negando a chamada "voz das ruas". Eles podem ser tudo, mas têm senso de autopreservação...

Mas, mesmo assim, a mudança só valeria para 2018, a não ser que a ideia do fim da reeleição esteja sendo gestada com indisfarçáveis fins obscuros, para valer em 2014. Aí seria, de fato, um golpe.

Nesse caso, se a presidente Dilma Rousseff viesse a sofrer esse golpe baixo, um personagem muito mais difícil de ser batido poderia ser obrigado a reentrar na cena eleitoral: Lula.

Desse modo, a direita teria dado um tiro fatal no próprio pé.