segunda-feira, 30 de junho de 2014

Brasil e Holanda por um triz



Resenha da Copa do Mundo [7 - Domingo 29 de junho]


Rafael Ribeiro/ CBF


Depois do drama brasileiro contra o Chile, da choradeira sem fim dos jogadores brasileiros e do futebol de baixo nível jogado pela seleção de Felipão, que por um triz e pelas traves não foi eliminada pelos chilenos, lembro do eu escrevi aqui no blog quando Scolari convocou os atuais 23 filhos de sua atual família em 7 de maio: “Brasil ou não, não lembro de um time campeão sem alguém pra se impor dentro de campo (...) A seleção de Felipão de 2014 tem seis jogadores que têm experiência de ter jogado a última Copa do Mundo (...) mas nenhum deles é líder (...) os jogadores da ‘família Felipão’ formam um grupo de jogadores sem brilho e inexperientes em Copa (...) Sei não. Não quero secar, mas essa seleção não tem nem líder nem pinta de campeã”.

Vi uma enquete na Espn perguntando se a choradeira dos jogadores brasileiros é positiva ou negativa para o time. Nem vi o resultado da enquete, mas, francamente, esse time não vai ser campeão chorando desse jeito. Até me emocionei com o choro do Júlio César, que queimou a minha língua e fez uma partidaça. Mas alguma coisa vai muito mal numa seleção brasileira que num mata-mata de Copa do Mundo contra (veja bem) o Chile tem como melhor em campo o goleiro. De resto, o time brasileiro tem um meio de campo medíocre, não tem reservas à altura do Brasil, seu treinador é antiquado, os laterais são fraquíssimos, os atacantes medíocres (Jô é ainda pior do que Fred) e por aí vai.

Apesar de tudo isso, acredito que passamos pela Colômbia nas quartas na sexta-feira se o time encontrar um mínimo de equilíbrio emocional e se acertar razoavelmente em campo. Mas a Colômbia do incrível camisa 10 James Rodrígues (o artilheiro do Mundial até aqui com 5 gols) sabe jogar futebol.


Holanda x México


Sneijder  arma o chute para fazer um golaço e empatar com México

Ouvi quem tenha torcido para o México e achou uma pena sua derrota para a Holanda por 2 a 1, em virada espetacular. Eu torci para a Laranja Mecânica contra o acovardado time mexicano do treinador Miguel Herrera, que, sem nenhuma razão, atribuiu a derrota ao juiz do jogo. Mas ele achou  que poderia eliminar a Holanda recuando ainda mais seu time já naturalmente fechado e tomou dois gols no fim. Castigo merecido. Reclamou do pênalti (que existiu) do zagueiro Rafa Márquez em Robben, mas se esqueceu de dizer que houve outra penalidade no primeiro tempo mais clara ainda que o árbitro português Pedro Proença preferiu não dar. Essas bravatas latino-americanas para mim já encheram o saco. O México nunca passou das oitavas em sua história em mundiais e mais uma vez chegou até onde o tamanho de seu futebol merece estar.

Castigado foi principalmente o goleiro Ochoa, um dos melhores jogadores da Copa, que estava "rezado" e defendia tudo, até sem querer. Tanto no 0 a 0 contra o Brasil quanto na derrota para a Holanda houve lances em que a bola bateu nele. Mas agora já deve estar no México. Adiós, Ochoa.  

Ganha a Copa do Mundo, que vai ser mais emocionante com uma Holanda nas fases decisivas.

Quanto ao outro jogo das oitavas, em que a Costa Rica ganhou da Grécia nos pênaltis, a única coisa a dizer é que os costa-riquenhos também já cumpriram sua missão. Vão se despedir do Brasil no sábado depois de jogar com a Holanda.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Luis Suárez e o clima de "justiça a qualquer preço"


Ótima abordagem do Arnaldo Ribeiro, da ESPN Brasil, sobre o caso do atacante uruguaio Luis Suárez e sua punição desmedida pela FIFA, a superpoderosa entidade que controla o futebol no mundo.

O jornalista comenta a reação do público brasileiro a favor da punição "exemplar" e esse clamor que paira no ar no país: "Se a gente tivesse um plebiscito no Brasil sobre pena de morte, provavelmente passaria, porque a sensação por justiça a qualquer preço é uma coisa absurda", diz Ribeiro.







Oitavas



Resenha da Copa do Mundo [6 - sexta-feira 27 de junho]


Rogério Santana/ Goverj
Belgas simpáticos em São Paulo


As oitavas de final da Copa das Copas ficaram assim:


De um lado da chave (lado esquerdo):
Brasil x Chile
Colômbia x Uruguai
França x Nigéria
Alemanha x Argélia

Do outro lado da chave (lado direito):
Holanda x México
Costa Rica x Grécia
Argentina x Suíça
Bélgica x Estados Unidos


Se a lógica mais ou menos prevalecer, as quartas-de-final serão:

Lado esquerdo:
- Brasil x Colômbia ou Uruguai (não vejo favorito entre os dois sul-americanos no duelo das oitavas)
- França x Alemanha

Lado direito:
- Holanda x Grécia ou Costa Rica (não vejo favorito entre Grécia x Costa Rica nas oitavas)
- Argentina x Bélgica ou Estados Unidos (não vejo favorito entre Bélgica x EUA nas oitavas)

Então, ainda segundo a lógica, chegando à semifinal o Brasil jogaria com o vencedor de Alemanha x França, do lado esquerdo da chave.

Do lado direito, sairia a outra semifinal: Holanda x Argentina.


É o seguinte o número de classificados por continente entre os 16 oitavo-finalistas:

5 da América do Sul, 3 da Concacaf (América do Norte e Central), 6 da Europa e 2 da África.

Acho que tá legal, a proporção. A Copa é no continente americano, e é bonito que 8 seleções das três Américas (metade dos concorrentes) estejam ainda na Copa. Até mesmo os Estados Unidos achei que passaram merecidamente. Conseguiram uma grande vitória contra Gana (assisti o segundo tempo do jogo) na primeira rodada, levaram o empate de Portugal nos estertores da partida e perderam da poderosa Alemanha de 1 a 0. Não sou da galera que torce na Copa do Mundo politicamente. “Ah, vou torcer pro Uruguai por causa do Mujica”; “ah, vou torcer contra o imperialismo”; “ah, vou torcer pros africanos”; "ah, eu não torço para colonizador".

Futebol e política são coisas diferentes.

Eu, que já fui fã do futebol africano outrora representado por Camarões e mesmo Nigéria, hoje não torço para nenhum time do continente. São seleções violentas e que jogaram o pior futebol da Copa. Já na Copa passada, num jogo contra a Costa do Marfim, o meia Elano do Brasil sofreu uma entrada que quase quebrou sua perna e acabou tirando-o da Copa.

Achei ótimo que ficou um clima de Copa América, mas também não torci pra ninguém por ser bolivariano ou sul-americano. Uruguai x Itália foi um jogo em que fiquei dividido. Torci para os dois, se é que se pode dizer isso.

Admito que ainda sou meio conservador no tema futebol/Copa do Mundo. E por isso digo que teria muito mais prazer e expectativa por um Inglaterra x Holanda que poderia rolar nas quartas do que num Holanda x Costa Rica, que pode acontecer.

Adorei a classificação da Argélia, um país africano mas árabe e muçulmano. O país de Albert Camus (que adorava futebol) e dos antepassados do grande Zinedine Zidane, o melhor que vi jogar depois do fenômeno Maradona. Mas torci para a Argélia não só pela sua importância histórica e como contraponto à hegemonia ocidentalizada, especificamente a França, e sim também porque os argelinos jogaram um excelente futebol, também com raça, como os uruguaios, mas mais futebol.

Vi americanos e belgas circulando pela cidade de São Paulo hoje enquanto andei pela cidade. A Copa do Mundo está muito bonita no Brasil e espero que sabotagens, psicológicas ou não, promovidas por interesses obscuros, não atrapalhem o Gran Finale.

Em termos de futebol, o que passou, passou. Não adianta mais falar de Luis Suárez, Pirlo, Cristiano Ronaldo, Rooney. Eles estão fora da Copa, são baixas. 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Colegas e até governo uruguaio inconformados com punição "desmedida" de Luis Suárez


A suspensão de 9 jogos e quatro meses do atacante Luis Suárez pela mordida no italiano Chiellini foi drástica. Os uruguaios foram tomados de um sentimento de inconformismo misturado a bravatas de que agora estão “más unidos que nunca”, como escreveu o colega de seleção e zagueiro Jose Maria Gimenez no Twitter.

Twitter de Matias Faral, assessor de imprensa da Celeste

Até a ministra do Turismo e Esporte do Uruguai, Liliám Kechichián, se manifestou na mesma rede social: “Nos dói a sanção desmedida. Agora é ver como ajudamos ao ser humano e como esse grupo consegue o melhor de seu amor à Celeste”.

“Suárez paga por haver eliminado a Itália”, esbraveja o atacante Javier Chevantón. “És verguenza total”, tuíta ele.

Acho que a ministra tem razão numa coisa apenas: o exagero da punição. No futebol tem essa coisa de punições sumárias e “desmedidas”. O goleiro chileno Roberto Rojas, banido do futebol, é o caso mais exemplar.

De resto, como Juca Kfouri, acho uma pena que a Copa perca um de seus destaques, que deu um colorido até aqui com seu talento e raça.

Mas como querem que o cara dê uma mordida em plena Copa do Mundo e fique por isso mesmo?

Na minha opinião, dois jogos de punição já estaria de bom tamanho. Mas eu preferiria um apenas, para Suárez enfrentar o Brasil nas quartas caso a Celeste passe pela Colômbia nas oitavas. Pois vão dar para a todo o sempre a desculpa de que foram eliminados da Copa por uma armação. Gostaria de ganhar deles com Suárez em campo.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

É Neymar e mais dez. Mas Camarões é tão ruim que não dá pra tirar conclusões



Resenha da Copa do Mundo [5 - segunda-feira 21 de junho]


Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil


Brasil 4 a 1, show de Neymar, num jogo em que o time finalmente ganha certa confiança.Vírgula.

Não dá pra considerar o péssimo time de Camarões como um parâmetro, como alguns comentaristas já observaram. O pior time africano da Copa, até o jogo de hoje, não havia marcado um gol sequer. Contra qualquer time razoavelmente bem montado, Neymar não sairia gingando no meio de buracos como os da defesa e de todos os setores do time de Camarões com aquela facilidade. Mesmo assim, o arremedo de time dos Leões chegou a empatar o jogo e dar alguns sustos...

As duas laterais brasileiras são vulneráveis, principalmente no setor direito de Daniel Alves, que parece um ex-jogador em atividade (vide o gol camaronês). Será um deus-nos-acuda se o arguto e inquieto técnico do Chile, o argentino Jorge Sampaoli, souber aproveitar...

A zaga brasileira parece segura, mas até agora ainda não enfrentou um ataque poderoso, e em alguns momentos das três partidas do grupo A deixou espaços preocupantes.

O meio de campo, como também já se observou, ganhou vida com Fernandinho no lugar de Paulinho, o jogador fantasma. Mas terá encorpado o suficiente para enfrentar times mais poderosos do que Croácia, México e o pobre Camarões?

Hulk, risível no ataque, onde Fred jogou um pouquinho, um pouquinho só, a mais do que nos jogos anteriores, e fez até gol. Mas só.

O Chile no sábado vai ser um jogo interessante. Será o melhor time que o Brasil terá enfrentado na Copa. Mas a tradição, a freguesia chilena e o fato de o time de Felipão jogar em casa deve no mínimo balançar a autoconfiança do time andino, que de resto parece que já começou a fraquejar ante a ótima seleção da Holanda. O retrospecto a favor do Brasil contra o Chile em Copas do Mundo é esmagador: 4 a 2 em 1962 no Chile (semifinais), 4 a 1 em 1998 (oitavas) e 3 a 0 em 2010 (oitavas). 11 gols a favor e 3 contra.

Jornal Marca da Espanha hoje
Retrospecto não ganha jogo e acho que esse deve ser o duelo mais difícil entre as duas seleções em Copas, mas aposto na vitória brasileira. "Se Neymar não jogasse no Brasil, o que seria de nós?", questiona José Trajano. Todos os jornais do mundo, da Itália à Argentina, da França à Espanha (foto ao lado, da versão online do jornal espanhol Marca) destacam a grande atuação do camisa 10. É como dizíamos no futebol de rua: "é Neymar e mais dez".

A outra oitava já definida será um grande jogo: Holanda e México. A tarefa dos holandeses, me parece, será mais difícil do que a dos brasileiros. 

Nas quartas-de-final nosso adversário será contra o 2º. do grupo D (Uruguai, Itália ou Costa Rica) ou 1º. do C (Colômbia).


sábado, 21 de junho de 2014

Argentina sofre, Alemanha derrapa e França surpreende


Resenha da Copa do Mundo [4 - sábado 21 de junho]



Divulgação/AFA


Injusta vitória argentina contra o Irã por 1 a 0. O futebol é impressionante. Todo mundo esperava que a Argentina passeasse frente aos persas, mas o que se viu foi os iranianos conseguirem bloquear o oponente com uma retranca eficiente e ainda terem as três melhores chances de gol, um pênalti a favor não marcado pelo juiz e, como imerecido castigo ("a bola pune"), o Irã acabou tomando um gol de Messi no finzinho do jogo. A Argentina é um time desorganizado e sem criatividade, apesar de contar com jogadores como Di María, Agüero e Higuaín. Se não fosse Messi ter feito dois gols decisivos contra Bósnia e Irã, os hermanos poderiam hoje estar amargando dois míseros empates.

Mas a vitória da Argentina acabou sendo dramática em um jogo sensacional, o que ninguém imaginava.




O empate da Alemanha com Gana em 2 a 2 foi outro belo jogo, que todo mundo esperava que fosse uma barbada, e não foi. A Alemanha cantada em prosa e verso quase perde de Gana, o que colocaria o grupo G (que ainda tem EUA e Portugal) num surpreendente equilíbrio.

A França começou desacreditada, mas depois dos 5 a 2 na Suíça, com um futebol agressivo de contra-ataques fulminantes, se credencia a pelo menos ir mais longe do que se esperava. É um time muito rápido, tecnicamente muito bom e disciplinado taticamente. Se o Brasil chegar às semifinais tendo sido primeiro do grupo A na fase de grupos e a França também chegar à semi como primeira do E, Brasil x França farão uma semifinal. Isso se a França passar pela Alemanha nas quartas (e se a Alemanha chegar às quartas...). O Brasil pega nas oitavas Chile ou Holanda e, pelo andar da carruagem, Uruguai ou Itália nas quartas.

Talvez seja cedo pra dizer isso, mas a última vez que o Brasil ganhou da França em Copas do Mundo foi em 1958 (5 a 2). Depois, foram três jogos decisivos e três vitórias francesas: 1986 (quartas-de-final, nos pênaltis), 1998 (final, 3 a 0 em Paris) e 2006 (quartas-de-final).

O Brasil, como a Argentina, é um time até aqui sem criatividade e nervoso. A responsa de jogar em casa está visivelmente pesando para o time, que, como já falei, não tem um líder em campo. A sorte é que o jogo decisivo de segunda-feira é contra o fraquíssimo Camarões.

A Costa Rica, zebra das zebras, no grupo D já garantiu uma vaga e deixou para Itália e Uruguai decidirem a outra, numa chave em que a Inglaterra caiu fora no segundo jogo. O Chile, no B, despachou a campeã Espanha d’El Rey. Quem poderia imaginar?

Uma nota: ao fazer seu 15° gol em copas do mundo, o alemão (de origem polonesa) Miroslav Klose iguala Ronaldo. Ao contrário do que se poderia esperar, muitos brasileiros não apenas aplaudem o feito do alemão como torcem para Klose superar Ronaldo. Estou entre esses brasileiros.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Crônica de Uruguai x Inglaterra num dia de céu cinza e jogo épico na cidade de São Paulo


Resenha da Copa do Mundo [3 - quinta 19 de junho]
Itaquerão em dia do épico Uruguai x Inglaterra. Ou: uma tarde que Jean-Luc Godard poderia ter filmado em São Paulo







O clima em São Paulo hoje estava totalmente apropriado para Uruguai x Inglaterra. Um clima londrino, de céu cinza, frio, e por vezes garoa fina. O clima cinza que também é típico de Montevidéu. De maneira que os deuses parecem ter entendido que até a cara do céu tinha de ser adequada a esse capítulo da história do futebol marcado para a Arena do Corinthians em Itaquera, na ZL. 

No trem da Linha 3-Vermelha do metrô de São Paulo, rumo ao Itaquerão, uruguaios e ingleses dividiam o espaço sob enorme expectativa por um jogo decisivo que era matar ou morrer para a Celeste e o English Team. Era engraçado notar como, em terra estrangeira, ingleses e uruguaios se ignoravam mutuamente dentro do trem, como se não se enxergassem.

O uruguaio Claudio Poggio demonstrava otimismo diante do desafio de sua seleção, que perdera na primeira rodada para a Costa Rica por 3 a 1 e precisava da vitória, assim como os ingleses. “Estamos indo para o estádio ver o Uruguai, vamos saber como será. Estamos com muito entusiasmo para conseguir um resultado positivo. É uma partida difícil, mas estamos otimistas porque tenemos a Suárez en la cancha”, disse ele, que chegou hoje mesmo, quinta-feira, ao Brasil.




Dois negros, africanos, estavam encostados à porta do trem do metrô, e conversavam num idioma que não era nem inglês, nem francês, nem espanhol ou italiano, nem nenhuma língua que eu conheça.

Logo adiante, no mesmo vagão, um grupo de ingleses conversava animadamente. Um jovem que se identificou como John Smith – um de milhares de jovens semelhantes a Wayne Rooney -- disse que estava achando “fantástico” estar participando da Copa do Mundo no Brasil. Contou ter estado em Manaus na estreia da seleção inglesa contra a Itália e saiu com ótima impressão da capital do Amazonas: “Very good, Manaus!”, me disse ele. Na capital do mundo tropical, a Itália havia batido a Inglaterra por 2 a 1 no sábado dia 14.




Tinha mais uruguaios do que ingleses na ZL hoje. Segundo informações das rádios, eram cerca de 3 sul-americanos para um europeu (o prefeito Fernando Haddad disse ontem que 400 mil turistas estão em São Paulo).

Mal sabiam todos esses personagens que – além do lindo espetáculo cultural, a Babel colorida em que se transformou São Paulo, contrastando com o céu cinza como os de Londres ou Montevidéu – eles eram testemunhas, e mesmo protagonistas, de um jogo épico, o melhor até aqui da Copa do Mundo.




A vitória por 2 a 1, graças a dois golaços de Luis Suárez, que o Uruguai construiu com talento e coração, virtualmente elimina a Inglaterra, time do qual mais uma vez se falou tanto, e que mais uma vez não deu em nada, como acontece desde 1966, quando ganhou seu único título mundial em casa.

É curioso, como notou o comentarista Mauro Cezar Pereira, da ESPN, que a Inglaterra protagonizou as duas partidas mais espetaculares da Copa do Mundo até esta quinta-feira 19, mas por ironia está virtualmente eliminada, depois de perder para Itália e Uruguai pelo mesmo placar de 2 a 1.

Somando tudo, foi uma tarde emocionante, como uma epifania que só o futebol pode proporcionar.



Clima apropriado para um Uruguai x Inglaterra



Casal inglês olha o Itaquerão pela janela do metrô



Uruguaio otimista chega ao Itaquerão


terça-feira, 17 de junho de 2014

Brasil e México foi 0 a 0, mas foi um bom jogo


Resenha da Copa do Mundo [2 - terça 14 de junho]




Rafael Ribeiro/CBF


Apesar de muitas reclamações que já ouvi, achei esse 0 a 0 de Brasil e México daqueles 0 a 0 que eu gostava no jogo de botão. Muito bom jogo. Tático. E o goleiro Ochoa foi o nome do jogo. Fora outras defesas, salvou no primeiro e segundo tempo dois gols de Neymar que seriam golaços. No primeiro, uma cabeçada e, no segundo, uma bola que chutou de esquerda depois de matar no peito, ambos ao estilo de Pelé. Enfim, achei um jogo ótimo de ver e o inconformismo é o normal, do brasileiro orgulhoso que não pode admitir um empate. A defesa da cabeçada lembrou, vagamente, a de Gordon Banks em 70 em finalização de Pelé, embora a do goleiro inglês tenha sido mais difícil e impressionante.

Mas o México é um adversário respeitável faz tempo. Pra mim, um empate normal. A Itália campeã do mundo em 1982, que eliminou o Brasil de Telê Santana com Falcão, Zico e Sócrates, se classificou na fase de grupos depois de uma campanha medíocre de três empates: 0 a 0 com a Polônia, 1 a 1 com o Peru e 1 a 1 com Camarões.

Voltando a 2014, fala-se só em Neymar e na dependência da seleção brasileira de Neymar. Nesse momento ouço um repórter perguntar isso ao Felipão na coletiva. “Neymar não ganha sozinho”, responde o técnico gaúcho, ao estilo paizão, com a postura louvável, própria do paizão, de proteger seu camisa 10. Uma postura nobre. Mas ele não menciona que esse time não tem nenhum meia, nem na reserva, entre os 23 convocados.

Hoje, o time começou com três volantes (Luiz Gustavo, Paulinho e Ramires) e assim jogou boa parte do jogo. Oscar, a mim, não convence. É uma espécie de aspirante a Kaká que nunca chegará a um Kaká. Seu reserva, Willian, é um jogador mediano.

E ninguém fala que Fred e Paulinho são, pelo menos até este segundo jogo, duas nulidades. O reserva de Fred, Jô, entrou e o time melhorou na movimentação, já que Fred fica plantado como um coqueiro. Mas Jô é o único reserva realmente de ataque, avante, como se dizia antigamente. Bernard entrou no lugar de Ramires mas pouco fez, pois Bernard corre como um coelho e não é propriamente um jogador inteligente.

De maneira que não vejo por que jogadores como Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Ganso e até Kaká não pudessem estar na seleção. Que time não quereria esse quarteto, mesmo que pra ficar no banco, ou não? Seria melhor do que Jô, Bernard, Hernanes, Willian e Hulk. Mas a família Felipão pressupõe hierarquia, e na hierarquia do paizão Felipão cabem só os moleques em quem ele manda e ele sabe que obedecem.

Seja como for, achei Brasil 0 x 0 México um jogo bom, que foi ficando emocionante e aberto no segundo tempo e assim continuou até os minutos finais.

Acho que batemos Camarões. Mas, seja ou não fácil, iremos para as oitavas e aí pegaremos Holanda, Espanha ou Chile. Jogando o que jogou contra Croácia e México, o Brasil poderia hoje passar pela Espanha ou Chile, mas não passaria pela Holanda.


Caetano Veloso: "Há Copa, o metrô anda, muita gente que nem sabe onde fica a Bósnia gritou o nome desse país"



"Estávamos longe dos palavrões dirigidos a Dilma no Itaquerão. Esses, não dá para perdoar", diz compositor depois de ir ao Maracanã ver Argentina 2 x 1 Bósnia.

Caetano na estreia da Argentina no Maracanã

Texto do Caetano publicado em sua página no Facebook

Sobre o jogo Argentina x Bósnia, ontem na estreia do #Maracanã na#Copa2014:
"Fui com meu filho mais novo ver Argentina x Bósnia no Maracanã. Fomos de metrô. A estação da General Osório estava cheia. Gostei de ver tantos argentinos nas plataformas. Muitas camisas celeste-e-branco nos vagões (meu filho, admirador do futebol portenho desde pequeno - quando era fã de Riquelme - e devoto de Messi, usava uma camisa do uniforme B da seleção argentina) mas foram os mexicanos que fizeram mais barulho dentro do trem, gritando "México, México" e girando uma matraca ensurdecedora. 

Adorei ir vendo as estações se seguirem: General Osório, Cantagalo, Siqueira Campos, Cardeal Arco Verde, Botafogo, Glória, Cinelândia, Carioca, Uruguaiana, Presidente Vargas, tudo me trazendo à mente as zonas da cidade acima. Não sei se na Uruguaiana ou na Central (talvez antes), tivemos de trocar de linha, passando da que vai para o Uruguai para a que vai para a Pavuna. Na espera do trem em que prosseguiríamos, tivemos um trailer do que a multidão argentina faria no Maracanã: grupos enormes de rapazes de azul e branco puxando cânticos lúdico-bélicos com voz mais próxima à de coro de ópera das torcidas italianas do que das guturalidades bárbaras dos ingleses. Na estação Maracanã, um largo rio desse coral dominava a passarela. Já nas arquibancadas, ouvíamos com emoção os refrãos. Esperávamos alguma torcida brasileira contra a Argentina. Mas os gritos de "Olê olê olê olá, Bosniá, Bosniá" só cresceram quando o time argentino pareceu bem menos enérgico do que a torcida - e os bósnios ameaçaram dominar. 

O gol da Bósnia encorajou o narcisismo das pequenas diferenças que alimenta a rivalidade entre argentinos e brasileiros. Os torcedores argentinos tinham tomado conta do Maracanã desde a entrada do seu time. O gol contra (será que é a regra nesta Copa?) silenciou os pouquíssmos torcedores bósnios e os muitos brasileiros que os apoiavam. Meu filho profetizou que Ibisevic traria força à Bósnia. E seu gol excitou a torcida anti-rioplatense. 

O Maracanã cheio de argentinos torcendo era uma beleza. Senti a força do sentimento de nacionalidade como uma coisa que encontra no futebol um canal de expressão sem vergonha. Meus olhos se encheram de lágrimas. A rivalidade Brasil-Argentina me fazia sorrir. Uma três vezes pintou eco de começo de briga em algum lugar: os assentos batucavam com as pessoas levantando-se de repente para ver (e possivelmnete defender-se). Mas nada cresceu. Uns brasileiros à nossa frente, que vaiavam os argentinos e louvavam a Bósnia, revelaram-se ao substituir a frase "soy argentino", num cântico, por "sou vascaíno" - e por dizerem, ao ver que um brigão expulso lá no alto vestia camisa rubronegra, "só podia ser flamenguista". O fato é que, quando os torcedores brasileiros em peso decidiram responder ao "olê olê Messi" com um "olê olá Neymar", Messi, que parecia inativo, fez um daqueles gols precisos e surpreendentes que só ele faz. Ele pareceu instigado. 

Foi um diálogo Brasil-Argentina de grande profundidade. No todo, para mim, foi uma experiência exaltante e, de algum modo secreto, animadora. Há Copa, o metrô anda, muita gente que nem sabe onde fica a Bósnia gritou o nome desse país, e nossa íntima Argentina chegou a brilhar num corisco, sem que houvesse tempo e ritmo para que hostilidades brutas aflorassem. Estávamos longe dos palavrões dirigidos a Dilma no Itaquerão. Esses, não dá para perdoar."
#CaetanoVeloso #Caetano #Abraçaço #AbraçaçoNoMundo#AbraçaçoNaCopa #ArgentinaXBósnia #CopaDoMundo

sábado, 14 de junho de 2014

A Itália de Pirlo, a Holanda de Robben e a Costa Rica de Campbell


Resenha da Copa do Mundo [1 - sábado 14 de junho]


O destaques dos três primeiros dias da Copa, na minha opinião, são os citados no título do post.

Pirlo, o maestro italiano
Começando pelo fim, baita jogo esse Itália 2 x 1 Inglaterra na belíssima Arena da Amazônia. O meia italiano Pirlo, como joga bola! Com sua experiência e idade "avançada" (35 anos), faz o jogo acontecer. "É aquele cara que a gente vê jogar e diz 'como parece fácil'", como disse Milton Leite. A Itália -- com seu jogo clássico de sempre -- foi superior e mereceu vencer. Que golaço, o primeiro da Azzurra, pela construção de toda a jogada, a deixada de Pirlo e a conclusão precisa, de longe, de Marchisio. A Inglaterra poderia até ter empatado, lutou o quanto pôde, mas no fim acabou sucumbindo à superioridade italiana e ao calor de Manaus. Os ingleses fazem agora um jogo de vida ou morte contra o Uruguai, que perdeu inapelavelmente para a Costa Rica por 3 a 1. Acho muito, mas muito difícil que a Celeste Olímpica derrube o English Team, e quem perder tá fora. O time uruguaio é lento, sem criatividade, envelhecido, dá muito chutão e não mostrou nenhum futebol. E sem o grande Luizito Suarez nas melhores condições, poupado contra a Costa Rica na estreia porque se recupera de uma cirurgia, fica dramático. No grupo D devem se classificar Itália e Inglaterra. A Costa Rica tem chance e o Uruguai ainda também, mas a Celeste vai precisar jogar futebol, o que não fez na derrota para os costa-riquenhos.

O gol de Marchisio foi uma pintura:



O outro grande jogo da Copa até aqui foi a espetacular goleada da Holanda sobre a campeã mundial Espanha. Foi de 5 a 1 mas poderia ter sido mais. Robben marcou dois gols, deu um show e no segundo deixou o goleiro Casillas no chão. Não tem preço. A Espanha parece um time decadente e cansado. No mesmo grupo B, o Chile bateu a Austrália por 3 a 1. Tá certo, os cangurus devem perder de todo mundo. Mas se o Chile estiver inspirado contra a Espanha dia 18, vai despachar o time de El Rey. Arriba, Chile!

Dessa partida, dois foram os golaços: o primeiro (de Van Persie) e o quinto da Holanda, de Robben:








A retrospectiva chega no Brasil. Vendo e revendo um monte de vezes o pênalti no Fred, continuo achando que não foi um pênalti claro. Eu não marcaria e a decisão do juiz deu margem a que os contra o Brasil dissessem: "tá vendo, não falei, tá comprado!?" Mas se o pênalti não foi claro, também não foi esse escândalo que estão falando.No lance, o 9 brasileiro cai para trás, o que indica que foi puxado. Se esse puxão foi o suficiente pra matar a jogada dele ou se ele foi apenas malandro, só Fred e Deus sabem. Mas, quando o cara dobra o joelho e simplesmente cai, ele não cai para trás. Acho exagerado esse carnaval midiático todo denunciando o "roubo" do juiz. O pênalti marcado no Diego Costa da Espanha foi igualmente duvidoso e quase ninguém falou nada. E a Espanha foi massacrada pela Laranja Mecânica. O Brasil ganharia da Croácia de qualquer jeito.

Destaque também foi esse Campbell, o meia da Costa Rica que destruiu a defesa uruguaia nos 3 a 1 em Fortaleza. Muito bom jogador. Pra mim, até aqui, a revelação do Mundial.

O primeiro gol de Neymar contra a Croácia merece entrar na resenha, pois foi um dos quatro mais bonitos dos 28 marcados até este sábado 14.






Copa do Mundo, Dilma Rousseff e o mau-caratismo da elite branca brasileira


Não há muito o que dizer diante de imagens que, como se vê, valem sempre mais do que várias palavras.

O mais emblemático não é nem a manifestação vulgar e vergonhosa de meia dúzia de pessoas endinheiradas na ala vip da Arena da Zona Leste e seus "xingamentos raivosos (...) típicos de quem não sabe conviver com a divergência, mesmo em relação a uma governante legitimamente eleita pelo povo brasileiro", como bem escreveu Juca Kfouri em seu blog.

O mais emblemático é a abordagem desse gesto grosseiro da elite branca brasileira, ressentida e mau caráter, pela "grande" imprensa, sem exceção, abordagem muito bem ilustrada pelas capas dos dois maiores jornais de São Paulo, igualmente grosseiras, ressentidas e mau caráter.








quinta-feira, 12 de junho de 2014

Brasil abate a Croácia com Neymar decisivo e ajuda do juiz japonês


Resenha da Copa do Mundo [número zero - quinta-feira 12 de junho]


Ricardo Stuckert/CBF


A vitória brasileira contra a Croácia por 3 a 1 na abertura da Copa teria sido categórica se não fosse o pênalti cavado pelo Fred que o árbitro resolveu dar, e que proporcionou o gol de desempate brasileiro. A marcação da penalidade pelo juiz japonêsYushi Nishimura tirou um pouco o brilho da partida. Embora tecnicamente deixando a desejar até então, o jogo estava bonito, equilibrado, como uma partida de xadrez interessante, 1 a 1, com um gol contra esquisito de Marcelo, que pra mim não teve culpa na jogada, e um lindo gol de Neymar em chute mascado que no fim entrou como uma tacada de sinuca. Coisas de Neymar. Depois do jogo, o guri formado na Vila Belmiro explicou: "todos os meus gols são meio mascados mesmo", com o sorrisinho maroto de sempre.

Oscar surpreendeu, pelo menos a mim, e jogou muito bem, infiltrando-se a partir da direita e desarmando, dando sangue. Merecia o gol que fez de bico para dar números finais ao marcador. O volante Luiz Gustavo, com seu bigodinho à la anos 40, foi muito bem; Hulk, uma nulidade; e Fred cavou o pênalti, e mais nada.

Na zaga, a lateral direita de Daniel Alves tomou seguidas bolas nas costas, e numa delas saiu o gol croata. Esse é um problema que num jogo eliminatório, contra uma seleção mais forte, pode ser fatal. Tem que ser corrigido. Thiago Silva e David Luiz foram razoavelmente bem na zaga. Mas o ataque croata não foi muito efetivo como ameaça constante, apenas fustigava um pouco nos contra-ataques. O lateral esquerdo Marcelo não me dá segurança. O volante Paulinho foi apático.

Falta um meia nesse time, nem que fosse pra ficar no banco como opção para um jogo amarrado, que precise de alguém para pensar no meio de campo, dar aquele passe que às vezes desmonta uma defesa. Pode parecer babaca dizer isso agora, mas eu teria levado o Ganso para fazer esse papel de ficar no banco, como um 10 reserva. Não tem nenhum meia na seleção, nem titular nem reserva.

E Neymar... Bem, Neymar fez dois gols.

Acho que passaremos fácil pelo México. Mas Camarões me dá certo medo, porque pelo que ouvi falar é um time que bate, bate bem. Infelizmente, os times africanos, que décadas atrás encantaram o mundo com seu futebol talentoso, alegre e irreverente, adotaram nas últimas décadas um estilo que privilegia o pontapé. Na Copa de 2010, o meia Elano foi tirado da competição por uma entrada criminosa de um jogador da Costa do Marfim que por milagre não quebrou a perna do jogador brasileiro. Foi um dos jogos mais violentos daquele Mundial. Torcerei para Camarões não fazer a mesma coisa em 2014.

A lamentar, a grosseria tacanha do público paulista na Arena do Corinthians, na famosa ZL, dirigindo palavras de baixo calão à presidente Dilma Rousseff. O paulista não consegue deixar de ser idiota. Muitas vezes tenho vergonha de ser paulista. 

São Paulo se veste de verde e amarelo no dia da abertura da Copa




Um rolê rápido pela cidade de São Paulo entre o Butantã e a avenida Paulista via metrô, entre 14 e 15 horas deste 12 de junho



Linha 4-Amarela do Metrô


Linha 4-Amarela do Metrô


avenida Paulista


avenida Paulista


avenida Paulista



avenida Paulista


Conjunto Nacional - avenida Paulista


Metrô - Linha 2-Verde

Greve dos metroviários mostra ao PSTU que PT e PSDB não são a mesma coisa




Tropa de choque e metroviários se encontram na segunda, 9
Acredito pia, mas piamente mesmo, que o Sindicato dos Metroviários de São Paulo teria se saído politicamente bem e, do ponto de vista dos interesses da categoria, vitorioso, se tivesse negociado ao estilo do velho Luiz Inácio Lula da Silva quando era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo. Nesse caso, interesses políticos à parte, como negociadores maduros, os dirigentes do sindicato poderiam ter aceitado a mediação do TRT da 2ª. Região, que fixou o reajuste em 8,7%, cerca de 3% acima da inflação, considerando uma média entre todos os índices. Teriam unido os interesses da categoria e da população, encerrando a greve no domingo, quando o TRT declarou-a abusiva.

Mas o sindicato preferiu o confronto, e perdeu. É mais fácil partir para o discurso juvenil segundo o qual o governo é o mal e nós somos o bem. "Temos orgulho dos cinco dias que fizemos (de greve). Mas temos de reconhecer a realidade da categoria", admitiu, tardiamente, o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Junior, oriundo do PSTU, na noite desta quarta-feira (11), quando a entidade decidiu desistir da greve que pretendia reiniciar justamente na data de abertura da Copa do Mundo no Brasil, neste 12 de junho, no estádio do Corinthians em Itaquera.

Cansei de ouvir, e continuo ouvindo, de membros, militantes e dirigentes do PSTU e do PSOL, que o PT e o PSDB são a mesma coisa. O desfecho da greve dos metroviários mostra de maneira didática como essa avaliação está equivocada. Nenhum governo petista adotaria o autoritarismo do estilo Alckmin nas negociações. Num governo do PT, no mínimo as 42 demissões nem teriam ocorrido. E alguns pontos, talvez décimos percentuais, teriam sido conquistados a mais.

Alckmin sabia que 9 mil funcionários têm mais voz do que uma diretoria que insistia no confronto contra o governo do Estado e o TRT. 9 mil funcionários representam cerca de 30 mil pessoas (considerando que cada trabalhador tem uma família de 3 a 4 pessoas).

Nesta quinta-feira, a maioria dessas 30 mil pessoas vai ver Brasil x Croácia com um certo alívio, pois são humanas, não estão muito a fim de confronto. Querem tomar sua cervejinha sossegadas, e não servir aos interesses políticos de um grupo que comanda o sindicato e diz que PT e PSDB são a mesma coisa.

Alckmin pode ser tudo, menos tolo.



domingo, 8 de junho de 2014

Greve do metrô e contradições políticas. Ou: a matemática não mente




Ligação da Linha 4-Amarela com a Linha 2-Verde do metrô 

Como jornalista, aprendi a tentar chegar o mais próximo da verdade e ser imparcial o mais possível. Digo "o mais próximo" e "o mais possível" porque, ao contrário do que aprendemos no banco da faculdade, o jornalismo não é imparcial e nem está sempre em busca da verdade, como qualquer um que tenha senso crítico percebe ao ler a "grande" imprensa, principalmente os jornais paulistas, udenistas, Folha e Estadão. De resto, quem me conhece e acompanha este blog sabe o que penso politicamente.

Ressalvas feitas, seguem aqui rápidas impressões sobre a greve dos metroviários em São Paulo. Por mais que o governo Alckmin seja violento e perverso, em relação ao movimento grevista, deflagrado pelo sindicato comandado pelo PSTU, a decisão do TRT-SP de declarar a greve abusiva é mais do que correta. A praxis política do PSTU tem aparência de esquerda, mas seus resultados são sempre favoráveis à direita,  e isso á fato, independe da minha opinião.

A matemática não mente. Todos os índices que medem a inflação mostram que os 8,7% a que o governo do estado de São Paulo chegou para oferecer à categoria representam aumento real. São os seguintes os números que mostram a inflação dos 12 meses (maio de 2013 a abril de 2014) medidos pelos principais índices:  IPCA (IBGE - 6,37%), INPC (IBGE - 6,08%), (IPC-FIPE-5,36%), ICV (DIEESE-6,55%).

Mais do que isso. Como mostra matéria do R7, "os metroviários têm conseguido aumentos salariais maiores que a inflação e que a média obtida pelos empregados do setor de transportes. Enquanto os empregados do setor tiveram 4,9% de aumento real entre 2011 e 2013, segundo o Dieese, os metroviários tiveram 6,26%".

Se a questão matemática não vale, então recorro à questão política. Para matéria que fiz pra RBA, falei com a cientista política Maria Victoria Benevides, que, quem conhece sabe, é uma pensadora de esquerda. Diz Maria Victoria sobre a greve dos metroviários: "Eu pessoalmente tenho uma posição radical em relação à greve de transportes. Sou favorável ao direito de greve, é um direito constitucional, mas acho que sempre existe um lado de responsabilidade de quem faz greve que deveria ser cumprido, porque quem acaba pagando o dano que a greve causa é o povo trabalhador. Não é o patrão nem o capital (...) Acho que, como em outros países democráticos, a greve deve ser decidida com o compromisso de manter serviços (...) O que mais me incomoda é ver o povo todo abandonado, à noite, na chuva, no frio, com criança no colo, gente doente, gente que se não aparecer no trabalho não ganha, criança que se não for à escola não come."

Para terminar, ressalto que a justiça trabalhista, no contexto geral do Judiciário do país, é a única que historicamente adota posicionamento equilibrado e a favor do trabalhador, e quem tem alguma experiência (profissional ou pessoal) com a Justiça do Trabalho sabe disso. De maneira que o TRT-SP ter declarado a greve dos metroviários abusiva, na minha modesta opinião, deve ser respeitada, em detrimento de teorias da conspiração juvenis.

Entre a Justiça do Trabalho e o PSTU, eu fico com a primeira. O PSTU detesta negociar, não gosta da democracia e sua praxis é estranhamente favorável à direita.

Fora tudo isso, tem uma ironia: a longo prazo e politicamente, uma greve como essa favorece a política perversa do governo Alckmin e/ou PSDB pela privatização das linhas do metrô. Por quê? Porque nos últimos dias, enquanto milhões de pessoas (trabalhadores e na maioria gente pobre) ficou no limbo, sem transporte, segundo a lógica perversa segundo a qual o interesse de uma categoria tem de prevalecer diante do interesse, do trabalho e da vida de milhões de pessoas, a Linha 4-Amarela, passível de muitas críticas, inclusive minhas, foi a que salvou as pessoas do caos deflagrado com a greve. Isso, é óbvio, explícita ou subliminarmente, mais cedo ou mais tarde vai ser usado pelos tucanos. Ponto.

Acho que está na hora de alguém ter coragem de dizer que o direito à greve em serviços essenciais tem de ter limites muito bem delimitados, e que o direito de uma minoria (uma categoria) não pode prevalecer sobre o direito de milhões de pessoas. O termo democracia vem do grego antigo δημοκρατία (dēmokratía) ou "governo do povo". 


quinta-feira, 5 de junho de 2014

Iniesta tem razão – e aqui em casa vai ter Copa


Para o companheiro José Arrabal


 


Tenho lido e ouvido muitas coisas sobre os motivos pelos quais se deve torcer para o Brasil ou contra o Brasil. Esta torcida pelo #VaiTerCopa ou #NãoVaiTerCopa embute muito mais significados do que parece. #VaiTerCopa ou #NãoVaiTerCopa é o sintoma de um país dividido.

Um dos componentes que alimentam a torcida para que tudo dê errado, para que o Brasil perca a Copa, para que os estádios desabem, para que nossa realização seja um fracasso e acabe em vergonha, vergonha incorporada justamente num dos nossos maiores símbolos e orgulho, o futebol, é o ódio insano a Lula, ao PT e a Dilma. Uma das parcelas da sociedade que torcem contra não suporta a ideia da distribuição de renda, e não tolera que um operário tenha tido a ousadia, mesmo sendo conciliador, de mudar alguns parâmetros das políticas públicas etc etc. “Somos contra tudo o que está aí”, dizem. Direitistas insanos e incendiários do PSTU, por exemplo, dizem, ou expressam, a mesma coisa.

Há outros que torcem contra porque simplesmente virou moda e também os que torcem contra sem saber por quê, o que no fim dá no mesmo. Não falo em moda à toa. A Ellus, conhecida marca de roupas usada por jovens, lançou uma absurda campanha na São Paulo Fashion Week este ano em que se viam camisetas pretas (que são vistas nas ruas hoje) com a frase estampada em letras garrafais: “Abaixo Este País Atrasado”.

Esperta como é, a indústria da moda ou pega carona em uma onda que vê se formar, ou ela mesma, se for capaz de criar essa onda, a cria. Não vou discutir estratégias de marketing aqui. Só não custa lembrar que a Ellus é acusada de utilizar trabalho escravo em sua produção. Esse é só um tipo de gente ou empresa que fomenta a moda segundo a qual o Brasil não presta, que vai dar errado, que tudo o que tem a ver com a Copa do Mundo é uma merda.

Se o Brasil não presta, vamos protestar. Vamos protestar contra tudo, vamos quebrar pontos de ônibus, vamos quebrar e incendiar ônibus, bancos, vidraças e lojas, vamos despedaçar nosso orgulho, nossa fama de país pacífico que recebe todas as raças e credos de braços abertos, vamos vilipendiar nosso futebol e nossa seleção, afinal para que serve o futebol a não ser para 22 otários correrem atrás de uma bola, não é mesmo?

De que servirá ganhar a Copa do Mundo se isso vai instaurar um clima positivo no país justamente às vésperas das eleições, e isso vai beneficiar a reeleição de Dilma Rousseff? Estão em jogo bilhões de dólares apenas no que vale a Petrobras.

Mas não é só isso, claro. Há os “politizados”, que protestam porque é importante protestar, porque protestar é um direito constitucional, porque, segundo dizem, o país está uma merda, a saúde está aos frangalhos, o transporte público não funciona, a educação idem, falta teto para morar, e os sem teto resolveram que agora, no período de Copa do Mundo (quando os protestos ganham mais visibilidade) e durante a gestão de Fernando Haddad, é a hora de botar pra quebrar. Vamos botar pra quebrar! Mal se lembram dos sistemáticos e estranhos incêndios que vitimavam comunidades e favelas até antes de Haddad tomar posse.

Recentemente, o meia Iniesta, um dos maiores jogadores de futebol do mundo na atualidade – aliás, autor do gol que deu o título à Espanha na Copa de 2010 na África do Sul – se manifestou sobre os protestos no Brasil: “É a Copa no país do futebol e não há nada mais belo do que isso. Todos deveriam festejar. Não sou ninguém para falar dos outros, especialmente sobre os problemas do Brasil. Só digo que é algo muito estranho”, disse Iniesta.

Achei muito interessante o que disse o craque espanhol. E me remeteu imediatamente à lembrança de um jovem espanhol que conheci há cerca de um ano no centro de São Paulo, exatamente na rua São Bento. Esse jovem estava na companhia de um meu colega de trabalho na Rede Brasil Atual. Conversamos um pouco, ele contou que estava no Brasil à procura de uma chance na vida, que na Espanha estava “una mierda, sin trabajo, sin possibilidades de vida”. E que veio para o Brasil porque tinha parentes que lhe contavam que aqui dava pra começar a vida, que tinha trabalho para um jovem. “Para un joven”!

Nunca mais o vi, mas era um menino quase imberbe, igual a esses que formam a multidão de jovens brasileiros mal ou bem intencionados que protestam, protestam e protestam, sem saber por exemplo que há até estrangeiros que vêm se tratar de Aids no Brasil, porque em seus ricos países não têm condições de pagar, e aqui encontraram o SUS.

Me lembro também de Nelson Rodrigues, e aqui reconheço que estou apelando a um clichê. Nelson que, revoltado com a babação dos brasileiros diante do futebol dos gringos, criou a expressão “complexo de vira-lata”, para se referir aos que viam o próprio esplendor, no futebol dos outros, diante do nosso pobre futebol de pernas tortas.

A palavra “complexo” me remete a outro tema. A psicologia, a psicanálise, a psique de um certo tipo de brasileiro que não quer dar certo. Freud tratou desse tema, na abordagem de indivíduos que boicotam a si mesmos, mas, se me permitem a licença, transponho esse conceito a um plano geral, para falar de um outro indivíduo, o brasileiro com complexo de vira-lata, característica de uma multidão composta por muitos:

1) os de “direita”, como os da banda da massa cheirosa e seus discípulos espirituais, que acreditam que tudo pode ir no rumo de seus desejos se nosso futebol fizer jus ao epíteto da Ellus, e querem que o Brasil pegue fogo, fracasse, perca a Copa do Mundo, que os estádios desabem;

2) os de “esquerda”, que, por má-fé, ingenuidade ou adolescência tardia, e por um problema psicanalítico, querem que o Brasil pegue fogo, fracasse, perca a Copa do Mundo, e que os estádios desabem. Muitos desses “se acham”. Consideram-se de “esquerda”. Até votaram no Lula e na Dilma, mas entendem que é muito importante protestar, que é legal, que é daora, que é constitucional, que é revolucionário, que é politicamente correto, que é quase assim como um gigantesco grafite em cinemascope, um grafite em movimento, tá ligado? Assim, se tudo der certo, um dia talvez sejamos uma imensa Cuba.

Então, dizem eles, #NãoVaiTerCopa. Também dizem: “somos contra tudo o que está aí”.

Alguns desse tipo conhecem história mas estão confusos, não sabem se comemoram o gol de Neymar ou se apoiam os protestos que comandante Fidel aprovaria (alguns vão a Cuba e voltam mais confusos ainda). Outros não conhecem história e não sabem que muitos foram torturados e mortos para que chegássemos aonde chegamos. Outros, ainda, não gostam ou não entendem nada de futebol, e embarcam na onda porque se sentem apoiados no seu não gostar ou não entender de futebol.

Disse Lula a CartaCapital esta semana: "O jovem hoje com 18 anos tinha 6 anos quando ganhei a primeira eleição, 14 anos quando deixei de ser presidente da República. Se ele tentar se informar pela televisão, ele é analfabeto político. Se tentar se informar pela imprensa escrita, com raríssimas exceções, ele também será um analfabeto político. A tentativa midiática é mostrar tudo pelo negativo. Agora, se nós tivermos a capacidade de dizer que certamente o pai dele viveu num mundo pior do que o dele, e se começarmos a mostrar como a mudança se deu, tenho certeza de que ele vai compreender que ainda falta muito, mas que em 12 anos passos adiante foram dados."

Enfim, acho triste, triste mesmo, que nossa Copa do Mundo tenha que ser assim.

Iniesta tem razão.