domingo, 28 de abril de 2013

Santos x Palmeiras em forma de crônica



Foto: Ivan Storti/ Santos FC
Goleiro santista Rafael pegou dois pênaltis


Não foi um daqueles jogos pra se dizer digno das tradições desse grande clássico. Mas foi um bom jogo. O time da Vila eliminou o Palestra nas quartas e está na semifinal do Paulistão, ou Paulistinha, como queiram. O jogo terminou 1 a 1 na Vila Belmiro. Nos pênaltis, 4 a 2 pro Santos.

Vi o Santos e Palmeiras de hoje ao lado de meu pai, que é parmerense. Meu pai é um torcedor dissimulado. Desses que fazem de conta que não estão nem aí, cujo discurso é o de que “perder ou ganhar faz parte do jogo”. Dá de ombros. Quando seu Palmeiras está muito mal, no fundo do poço, ele sempre tem um discurso pronto: "Agora eu torço pro Juventus". Mas hoje não era o caso. Hoje era Santos e Palmeiras.

Devido a uma pane seca no meu carro (que ficou sem gasolina no caminho – que absurdo!), chegamos atrasados e só comecei a ver o jogo na altura em que Edu Dracena deu uma bomba e só não fez um golaço porque o goleiro Bruno, muito criticado, com razão, pela torcida alviverde, fez o improvável e salvou a meta do Palmeiras com um tapa na bola ainda mais bonito do que o lindo chute de Dracena. Eram uns 38’ do primeiro tempo, mais ou menos. O Santos já ganhava de 1 a 0, desde os 12’, e eu não vira nada até então.

De repente, Neymar não estando num dia inspirado, lá vem o comentário do meu pai: “ué, mas todo mundo não fala que esse Neymar é bom?”, cutucava, a cada momento em que o 11 do Santos deixava de fazer um gol ou errava um lance. “Neymar, nem bem”, completava meu pai, dando risada do próprio trocadilho infame. Ele é um palmeirense pentelho como todos os palmeirenses... Mas foi bom ver o Santos x Parmera com o véio dando risada da própria piada, ele que foi atropelado há três semanas por uma moto e por muita sorte hoje está bem. Acabei rindo gostosamente também.

No meio do segundo tempo, comentei na sala que eu achava que o jogo estava fácil. E estava mesmo. 1 a 0, gol perdido atrás de gol perdido. Era questão de tempo. Mas a Eminência Parda retrucou, reclamando dos gols perdidos (Neymar perdeu vários) e fazendo uma previsão pessimista: “vai acabar tomando um gol”. Não deu outra. Golaço de Kleber, do Palestra, em cabeçada fulminante e com estilo, aos 38 do segundo tempo!

No finzinho do jogo Neymar pegou a bola na lateral esquerda, na metade entre o risco do meio campo e o da linha de fundo. Driblou o marcador para dentro, chegou rápido no bico esquerdo da área, driblou dois zagueiros horizontalmente, paralelo à risca da grande área e, na meia lua, de frente, bateu de direita. Infelizmente o chute não foi feliz, e o goleiro Bruno defendeu com facilidade. Uma pena. Teria sido um golaaço, um gol antológico.

A decisão foi pros pênaltis. Como todo torcedor nessa hora só consegue antever o pior, meu pai disse: “o Santos vai ganhar. Tem jogadores melhores”. O tom continuava sendo um dar de ombros, mas o dar de ombros de um palmeirense convicto. Eu também, por prudência, preferi antever o pior. “Acho que o Palmeiras vai ganhar” – disse.

O mesmo Kleber que empatou de cabeça perdeu o primeiro dos 5 pênaltis da série alviverde: Rafael defendeu com o pé direito a bola fraca que ele bateu no meio do gol. Quando já estava 4 a 2 para o Santos, Leandro bateu no canto direito e o arqueiro santista Rafael pegou de mão trocada, com a esquerda, numa grande defesa. “Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo, torcida brasileira”, como dizia Fiori Giglioti.

Curiosamente, o goleiro palmeirense Bruno foi o melhor jogador da partida (eu daria a ele o Moto-Rádio), mas o arqueiro santista Rafael, com duas defesas, decidiu a disputa de pênaltis, após a qual meu pai imediatamente mudou de assunto.

Neymar não precisou bater o último pênalti. O Santos ganhou antes disso.

– Neymar, nem bem.

sábado, 27 de abril de 2013

OAB quer punição a Bolsonaro e Feliciano por quebra de decoro parlamentar


Publicado originalmente na Rede Brasil Atual


A Procuradoria da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil está estudando aspectos técnicos e jurídicos para apresentar, na semana que vem, uma representação contra os deputados Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) por quebra de decoro parlamentar. “Eles estão divulgando vídeos e difamando pessoas se valendo da imunidade parlamentar. A representação será baseada nisso”, diz o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) da OAB, Wadih Damous.

A entidade vai pedir à Corregedoria da Câmara punição aos parlamentares devido à campanha veiculada na internet contra os deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Domingos Dutra (PT-MA) e também contra os ativistas Tatiana Lionço e Cristiano Lucas Ferreira, ambos do Distrito Federal. Em um dos vídeos, Bolsonaro seria responsável pela edição em que dissemina a ideia de que deputados a favor da promoção dos direitos da população homossexual são contrários à família.

Segundo Damous, a representação “é praticamente certa”, mas ainda depende da conclusão do estudo da procuradoria. “Essas questões técnico-jurídicas têm de ser vistas com muito cuidado. Não vou colocar a OAB numa aventura jurídica, de entrar num jogo partidário. Assim que tivermos uma petição consolidada, ingressaremos na Câmara com a representação. Espero fazer isso na semana que vem.”

"Pensar que tais absurdos partem de representantes do Estado, das estruturas do Congresso Nacional, é algo inimaginável e não podemos ficar omissos. Direitos Humanos não se loteia e não se barganha", disse ontem à noite o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB.

O tema foi discutido na quarta-feira (24) em reunião da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, da qual participaram os deputados vítimas da campanha dos deputados, representantes da secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, do Conselho Federal de Psicologia, e ativistas dos movimentos indígena, de mulheres, da população negra, do povo de terreiro e LGBT.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Espanhóis engasgam com chucrute


Alguém falou na redação, em tom de brincadeira, que as acachapantes vitórias alemãs contra os espanhóis na rodada de ida da Liga dos Campeões da Europa, entre terça e quarta-feira, representam um acontecimento simbólico. No plano da economia, a poderosa Alemanha hoje consegue se safar da crise que assola grande parte do Velho Mundo, afetando dramaticamente, por exemplo, os combalidos ibéricos Portugal e a Espanha de Real Madrid e Barcelona.

E$$a realidade de alguma maneira se refletiu no embate futebolístico? Não sei. Mas, em termos de ludopédio, este blogueiro vibrou. Ver o Barça levar uma chapuletada de 4 x 0 do Bayern não tem preço. Confesso que pode haver aí algum rancor inconsciente, mas não vou enveredar pela psicanálise para falar de futebol, aí já seria demais. Até dá pra fazer a analogia econômica, e também uma metáfora político-jurídica: a cada gol dos quatro que Lewandowski marcou, ouvia-se alguém comemorar: "chupa, Joaquim Barbosa". É impressionante a criatividade, tão rápida que no momento mesmo do gol já se cria a piada.

O fato é que o Barcelona dos jornalistas encantados e dos próprios pernósticos torcedores e “torcedores” (brasileiros com complexo de vira-lata) do time catalão desmoronou. E é no mínimo irônico que Pep Guardiola já seja o técnico do próprio Bayern para a próxima temporada. O atual treinador, Jupp Heynckes, será substituído pelo ex-treinador do Barça no time bávaro.

Quanto não ouvi dizerem que o Barcelona é tão espetacular que não precisa nem de técnico, porque seu estilo já é desenvolvido desde as escolinhas onde todos treinam como Xavi, Busquets, Iniesta, Pedro e Villa, para não falar de Messi. Qual nada! O time da Catalunha nunca mais foi o mesmo depois que Guardiola saiu, rumo à Bavária.

Veja os gols de Bayern 4 x 0 Barcelona (vale a pena: o vídeo é sensacional – deve ter sido emocionante para os torcedores alemães que estavam no estádio)




Foi também com simpatia que vi o Borussia Dortmund enfiar 4 a 1 no Real Madrid do insuportável José Mourinho, uma das personalidades mais arrogantes que o futebol mundial já produziu. Perto de Mourinho, Muricy Ramalho é um beato (e olha que para mim Muricy é um encosto na Vila Belmiro – mesmo que volte a ser campeão, no que eu não apostaria hoje).

Nas partidas de volta, portanto, respectivamente no Camp Nou e no Santiago Bernabéu, Barça e Real terão de reverter as goleadas. No futebol muita coisa é possível, mas a situação dos times espanhóis é dramática. Bem feito.

Os gols de Borussia 4 x 1 no Real Madrid estão abaixo, com narração muito estranha:


terça-feira, 23 de abril de 2013

O Deus da Carnificina, de Polanski, e a mediocridade pequeno-burguesa


"É preciso educação para substituir a violência pela lei"

do personagem Alan Cowan (Christoph Waltz)


Nova York. Um menino bate num amigo de bairro ou de escola, num parque ou playground, como acontece na infância de quase todo mundo. O fato desencadeia o enredo de Deus da Carnificina (Carnage), o filme mais recente de Roman Polanski (que estreou nos cinemas por aqui já faz um bom tempo, em junho do ano passado). Se você não gosta de sangue e o nome assusta, relaxe. Não tem nada a ver com sangue, e sim com risos, pois trata-se de uma comédia. Os pais do agredido, Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly), de repente recebem a visita dos pais do agressor, Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz).

Divulgação
Jodie Foster (esq.), John C. Reilly, Christoph Waltz e Kate Winslet  

A timidez, as boas maneiras, a cordialidade e uma certa insegurança comum marcam o encontro e a relação inicial dos dois casais, que conversam sobre o problema dos filhos, e o assunto começa derivar em outros temas. Lentamente, regados a um whisky 18 anos do anfitrião, os diálogos começam a resvalar para a ironia, depois para o sarcasmo, tornam-se ríspidos, e depois para a violência; não física, mas moral.

O pai do menino agressor é um homem de negócios (Christoph Waltz) que a cada dois minutos interrompe a conversa porque tem de atender o celular para  tratar de assuntos inadiáveis; sua esposa (Kate Winslet) é uma típica pequeno-burguesa, fútil e empinada; o outro casal é formado por um bonachão (John C. Reilly) e sua esposa politicamente correta (Jodie Foster). Curiosamente, entre os quatro atores, achei Jodie a menos bem colocada no filme, com uma atuação que pareceu em alguns momentos histérica demais (perdendo a sutileza que seria mais convincente), enquanto Christoph Waltz, que faz o pai do menino agressor (o cruel coronel Hans Landa em Bastardos Inglórios de Tarantino), é o ponto alto entre os quatro – é o personagem que introduz o tema do filme, ao defender, contra a seriedade moral da mãe Penelope, e para o escândalo desta, o arquétipo sanguinário do ser humano, espécie na qual o mais forte e violento prevalece.

É claro que, a uma certa altura, o espírito do álcool toma posse de todos, e o diálogo torna-se um caos entre bêbados que desavisadamente expõem suas neuroses, suas frustrações, seus medos e suas fraquezas. Agridem-se, sutil ou expressamente, fazem as pazes, xingam-se de novo, e o clima dentro do apartamento se torna absurdo, pois nem uns vão embora nem os outros os expulsam.

Não sei se é intencional ou não (precisaria perguntar ao próprio Polanski), mas parece evidente que a situação bizarra que surge a partir de um evento banal do cotidiano e não se resolve, um impasse sem sentido e absurdo, é uma referência clara a Luis Buñuel, embora em Buñuel o absurdo seja mais misterioso e inexplicável, ou, para usar a palavra certa, surrealista.

Em Deus da Carnificina, o absurdo é mundano, direto e fútil, pois decorre da própria neurose e dos valores medíocres da classe média, com seus celulares, seus vasos de flores, seus livros de arte e seus estojos de maquiagem. Não se pode, claro, perder de vista que um dos principais alvos da metralhadora de Buñuel é a burguesia, mas não só: a riqueza poética que transforma seus filmes em alegorias não existe no filme de Polanski, onde a crítica aos valores pequeno-burgueses nova-iorquinos é explícita.

Seja como for, como sempre, vale a pena “perder” 80 minutos para ver a comédia de Polanski. A película, baseada na peça teatral Le Dieu du Carnage, de Yasmina Reza, não é uma obra-prima e é inferior ao excelente The Ghost Writer. Mas é Polanski.

Leia também sobre Roman Polanski:

The Ghost Writer, um tributo a Hitchcock

A vida tormentosa de Roman Polanski

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Pensamento para sexta-feira [42] – Abril é o mais cruel dos meses



Foto: Carmem Machado


April is the cruellest month. Este é o primeiro verso do epifânico The waste land (“A terra devastada” – em tradução livre), de T. S. Eliot.

“Abril é o mais cruel dos meses.”

Impressionante como algumas sentenças adquirem aura de verdade pela força de um verso, quando o autor é um grande poeta. Mas Eliot não é mais importante do que o mês de abril. Como uma antena, ele apenas captou alguma coisa. Como poeta, conseguiu registrar.

Abril é sempre pra mim um mês estranho e marcante, com seu céu azul e o sol, e a melancolia do outono. Às vezes cruel, como diria Eliot. Por exemplo: num dia 4 de abril (acho que de 1996), um gato que tínhamos chamado Siruiz (um lindo e selvagem gato preto de olhos verdes) foi atropelado na rua Diana, em Perdizes, e morreu no dia 5. Siruiz é o nome de um personagem de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.

Meu pai, o seu Oswaldo, de 83 anos, foi atropelado no último dia 5 de abril (uma sexta-feira) de 2013, há duas semanas, na avenida João Pedro Cardoso, Jardim Aeroporto, zona sul de São Paulo, por uma moto. Ficou internado três dias num hospital municipal, pra onde foi levado numa ambulância do Samu. Por milagre, não quebrou nenhum osso do corpo. Apesar dos hematomas, escoriações, cortes e tudo o mais, está em sua casa desde a segunda-feira 8, se recuperando com galhardia. Até já estende suas roupas no varal. É um exemplo impressionante de amor à vida.

Abril também tem coisas bonitas. Na minha biografia, duas, que coincidentemente acontecem no mesmo dia 14: é o dia do aniversário de nossa querida sobrinha e afilhada Iara Terra Holtz, que mora na linda Florianópolis e completou 16 aninhos no último domingo; 14 de abril é também a data de fundação do Santos Futebol Clube, que, como os que frequentam este blog sabem, é o time do coração do blogueiro.

E tem também o dia 23 de abril, que é dia de São Jorge.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Naviraiense entra para a história pela segunda vez



Esta é a segunda oportunidade em que escrevo sobre o glorioso Naviraiense neste blog.

É que o time da cidade de Naviraí já tinha entrado para a história na cidade de Santos, litoral paulista, mais especificamente na Vila Belmiro, ao perder de 10 a 0 para o Santos de Neymar, Robinho, Ganso e companhia na Copa do Brasil de 2010, quando o clube do Mato Grosso do Sul estreou em uma postagem neste blog. Na noite de hoje, pela mesma competição, e meus amigos lusos que me desculpem, foi a vez da gloriosa Portuguesa participar da história do time de Naviraí, essa cidade que até cresceu rápido, diga-se de passagem, já que, fundada em 1963 e emancipada em 1965, já tem 50 mil habitantes.

Com o empate em 1 a 1 nesta terça, 16, após o 0 a 0 do jogo de ida no estádio do Virotão, eis que o futebol nos brinda com mais uma das suas, e o Naviraiense está na segunda fase da Copa do Brasil pela primeira vez (pega o Paysandu). A façanha inédita (o time nunca tinha passado da primeira fase) teve como palco o Canindé, depois que o elenco e quem mais o acompanhou viajaram mil quilômetros em 14 horas de ônibus para chegar a São Paulo.

A Lusa, aliás, sofre o segundo vexame em menos de uma semana: no sábado, a equipe Rubro-verde havia perdido para o Comercial, em Ribeirão Preto, por 7 a 0, pelo Grupo 3 da semifinal da segunda divisão paulista.

O Naviraiense foi fundado em 25 de novembro de 2005. Segundo a Wikipedia, "tem em seu currículo desportivo um título estadual da Série B em 2007 e um da Série A em 2009".

Vida longa ao Naviraiense. Força, Lusa!

domingo, 14 de abril de 2013

Os 101 anos do Santos Futebol Clube



Fotos: Reprodução/ Ricardo Saibun: Divulgação Santos FC


O Santos Futebol Clube completa 101 anos neste domingo. O querido time da Vila Belmiro entra em seu segundo século de existência como um dos mais gloriosos do mundo, com histórias, conquistas e lendas suficientes para encher muitos livros.

Sempre quando tem – em redações, mesas de bar, arquibancada etc – aquele velho papo de “qual a camisa mais bonita?”, citam-se as do Grêmio, do Cruzeiro, a tradicional do Palmeiras, a do Juventus, todas merecedoras de registro, com destaque para as dos times de Porto Alegre e, principalmente, da Mooca.

Mas sempre achei, realmente, o uniforme branco do Santos o mais bonito (o listrado vestido por Pelé na foto acima o clube não usa mais, o que é uma pena: tenho memória de grandes jogos com essa camisa, mas o regulamento que proíbe os times de jogarem com calções da mesma cor e a obsessão do presidente Laor pelo comemorativo mas já insuportável uniforme azul parece que relegaram a bela combinação ao esquecimento).

(Hoje em dia a gente vê muita gente andar vestida com uniformes de times estrangeiros. Daí, alguém poderia dizer que o uniforme do Real Madrid também é branco. Mas não é a mesma coisa, porque no uniforme se estampa algo essencial: o escudo do clube. O escudo do Real lembra a realeza – no sentido político, não metafórico: o Real é o clube dos reis de Espanha. Ponto. Entre as de times não brasileiros, gosto da camisa da Inter de Milão. E por aqui encerro os parênteses.)

Não obstante, a palavra realeza, no sentido futebolístico e metafórico, tem a ver com o Santos de Pelé e de Neymar, dois símbolos da coroa, embora haja tantos nomes que seria cansativo enumerar... Feitiço, Dorval, Mengálvio, Pagão, Coutinho, Pepe, Edu, Mauro Ramos de Oliveira, Ramos Delgado, Cejas, Clodoaldo, Serginho Chulapa, Elano, Diego, Robinho, figuras que encarnam o espírito do Santos, entre muitas outras.

Com algumas horas de antecedência da data (14 de abril) do aniversário, o Peixe, mais do que classificado para a próxima fase do estadual, presenteou sua torcida com uma goleada de 4 a 0 diante da pobre equipe da União Barbarense, no interior paulista. Registre-se que Neymar fez os quatro gols, e ainda teve um anulado. Apesar da insignificância do jogo em si (num campeonato já por si só inexpressivo), é digno de nota, pois não é todo dia que um atacante faz 4 gols num jogo. E também porque é bom para calar a boca da torcida do Santos – uma das mais chatas do mundo, que chegou até a vaiar Neymar recentemente.



O clube hoje

Outra nota a registrar é que, por ocasião de seus 101 anos, o time da Vila está é dando desgosto à torcida. O futebol que vem apresentando (apesar dos 4 a 0 no time de Santa Bárbara) é muito ruim, fruto dos conceitos de Muricy Ramalho, um treinador covarde taticamente e também no trato com seus comandados, além de grosso e arrogante; e o clube vem sendo administrado por um grupo de neoliberais tucanóides, investidores e banqueiros cuja propalada modernidade está dando com os burro n’água.

Após uma auspiciosa gestão entre 2010 e 2011, quando conquistou a Copa do Brasil, a Libertadores (Muricy apenas organizou um baita time que o lamentável Adilson Batista tinha desconstruído) e dois Paulistas, o time não dá sinais de sair do marasmo em que se encontra. As performances nos campeonatos brasileiros de 2011 e 2012 foram lamentáveis. No Mundial contra o Barcelona e na Libertadores de 2011 diante do Corinthians, o time caiu de modo pusilânime. Perder para o Barça era natural; para o Corinthians, normal, já que clássico é clássico. Mas não da forma como perdeu ambos os duelos.

E, por fim, o fato é que o presidente do clube, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, com seu nome de barão do café, infelizmente está sempre no hospital e ninguém sabe quem comanda.

E a era Neymar está chegando ao fim, sob o comando tosco de Muricy Ramalho, um treinador que definitivamente não me representa.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Zé Celso fala sobre os 100 primeiros dias do governo Fernando Haddad em São Paulo



Por José Celso Martinez Corrêa 
Reprodução
Estes 100 dias começaram com o reconhecimento da cultura como valor de Infraestrutura de SamPã já com a nomeação de Juca Ferreira para a Secretaria de Cultura. Um quadro de porte ministerial capaz de assumir a renovação cultural transversal necessária em todos os domínios desta metrópole carente em todas as áreas: trânsito, diferenças abismais de condições de vida de seus moradores e consequente violência.

Esses pontos necessitam da criação de outros valores culturais para este caos asfixiado pela cultura da especulação imobiliária tecno-burocrática-dinheirista com seu poder ainda nas mãos de Papai$ões e Mamãe$onas nesta Capital do Capital.

O valor dado à Cultura por Haddad, que vem de seu amor por esta cidade tão mal-amada, desafia apaixonadamente os Tecno-Artistas de todas as periferias: a cidade tem como inspiração esses pontos mais críticos pra sua imaginação criadora encontrar as saídas do dia a dia e também as estruturais.

A nomeação de John Neschling para o Teatro Municipal – que já está sendo desencalhado e ocupando o lugar que merece na cidade como ponto de encontro de todas as SamPãs – é outro fator.

Modéstia à parte, menciono como bons ventos destes 100 dias até o fato de Haddad ter tido a coragem de me convidar – mesmo sabendo que em torno de minha pessoa existe uma zecelsofobia de quem não é nem unanimidade – a participar do Conselho da Cidade, o primeiro convite em minha vida que recebi para ocupar uma função pública.
Aliás, deste conselho, desde representante da Bolsa de Valores fazem parte até demônios apontados pelo infeliz Feliciano, ponta de lança de um golpe no Estado Laico Brasileiro: gays, lésbicas, negros, travestis etc... Quer mais cultura nestes tempos que isso?

Há fatos concretos como as medidas diante das tempestades deste ano de iniciar a construção de tubulação maior pros rios da Pompéia, resolvendo o funcionamento permanente da Fábrica Cultural do Sesc Pompéia do 'arquiteto' mais contemporâneo internacional de hoje: Lina Bo Bardi.

Estas obras preparam assim o Centenário de Achi-Lina Bardi em 2014 sem as enchentes  que propiciavam até a pesca no fim da rua principal desta Fábrica da Cultura Paulistana.

A semeadura cultural inicial está sendo muito forte. 100 dias ainda não bastam mas apontam pra uma Primavera Cultural nunca vista na Paulicéia Desvairada - repito: na DESVAIRADA.

José Celso Martinez Corrêa
Presidente da Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona

*******

*Zé Celso é um dos convidados pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para participar do conselho consultivo com 200 integrantes, instalado no final de março, composto por empresários, artistas, sindicalistas, representantes de religiões e movimentos sociais para discutir temas para a cidade, como o Plano de Metas e Plano Diretor, entre outros.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Pensamento para sexta-feira [41] – García Lorca



Panorama cego de Nova York


Se não são os pássaros
cobertos de cinza,
se não são os gemidos que golpeiam as janelas da boda,
serão as delicadas criaturas do ar
que manam o sangue novo pela escuridão inextinguível.
Mas não, não são os pássaros,
porque os pássaros estão prestes a ser bois;
podem ser rochas brancas com a ajuda da lua
e são sempre rapazes feridos
antes que os juízes revelem a teia.

    Todos compreendem a dor que se relaciona com a morte,
mas a verdadeira dor não está presente no espírito.
Não está no ar nem em nossa vida,
nem nestes terraços cheios de fumaça.
A verdadeira dor que mantém despertas as coisas
é uma pequena queimadura infinita
nos olhos inocentes dos outros sistemas.

    Um traje abandonado pesa tanto nos ombros
que muitas vezes o céu os agrupa em ásperas manadas.
E as que morrem de parto sabem na última hora
que todo rumor será pedra e toda pegada latido.
Nós ignoramos que o pensamento tem arrabaldes
onde o filósofo é devorado pelos chineses e larvas.
E alguns meninos idiotas encontraram pelas cozinhas
pequenas andorinhas com muletas
que sabiam pronunciar a palavra amor.

    Não, não são os pássaros.
Não é um pássaro o que expressa a turva febre da laguna,
nem a ânsia de assassínio que nos oprime a cada momento,
nem o metálico rumor de suicídio que nos anima a cada madrugada.
É uma cápsula de ar onde nos dói o mundo todo,
é um pequeno espaço vivo ao louco uníssono da luz,
é uma escada indefinível onde as nuvens e rosas olvidam
à gritaria chinesa que ferve no desembarcadouro do sangue.

Eu muitas vezes me perdi
para buscar a queimadura que mantém despertas as coisas
e só encontrei marinheiros atirados sobre as varandilhas
e pequenas criaturas do céu enterradas sob a neve.
Mas a verdadeira dor estava em outras praças
onde os peixes cristalizados agonizavam dentro dos troncos;
praças do céu estranho para as antigas estátuas ilesas
e para a terna intimidade dos vulcões.

    Não há dor na voz. Só existem os dentes,
mas dentes que calarão isolados pelo raso negro.
Não há dor na voz. Aqui só existe a Terra.
A terra com suas portas de sempre
que levam ao rubor dos frutos.


Extraído de Federico García Lorca - Obra Poética Completa
(Editora Universidade de Brasília /Martins Fontes - 1989)
Tradução: William Agel de Melo



quarta-feira, 3 de abril de 2013

Público-alvo



Do  Futepoca



Exemplo prático para observar a quem a Veja se dirige: "Você", o leitor próximo, que interessa à publicação da editora Abril, é um homem, branco, classe média/rico, tipo executivo - com cara de desconsolo por um "direito" (privilégio) perdido; "Ela", o ser distante, estranho e indesejável, é uma mulher, negra, nordestina, pobre, com pouco estudo - e a revista dá a entender que, por isso mesmo, decide errado (prejudicando "Você"). Ou seja, "A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes" (Karl Marx). Situe-se. E observe o discurso e sua direção.

PS do blog: para quem não sabe, a capa da direita está nas bancas esta semana, após a aprovação, na semana passada, da chamada PEC das Domésticas, promulgada ontem, dia 2.

PS 2: concordo com o comentário de alguém, no post do Futepoca: "surpreende positivamente que a Veja chame a PEC de 'marco civilizatório'". Seja como for, nunca podemos esquecer do poder das imagens. Que fica nas bancas de jornais por uma semana. Toda a propaganda é baseada em imagens. De Stalin ou das agências publicitárias de hoje.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Em 1° de abril começou a ditadura no Brasil e a de Franco na Espanha


Curiosas coincidências nos prega a história. Como se sabe, na noite de 31 de março para 1° de abril de 1964, deu-se o golpe militar no Brasil, que derrubou o presidente João Goulart e instaurou a ditadura que perdurou no Brasil por 21 anos. Há 49 anos, portanto, tinha início um dos períodos mais obscuros da história brasileira, que nos causou tantos danos que ainda hoje é difícil medir seus efeitos devastadores, dos quais, talvez, o que fizeram com a educação seja o mais pernicioso. Ela foi aos poucos sendo sistematicamente mediocrizada ao longo das décadas. Quando estudei, ainda se ensinava francês na escola estadual. Filhos da classe média e média alta procuravam as escolas estaduais, sentavam-se nas mesmas carteiras que os meninos pobres. Isso tudo acabou. Hoje vemos o resultado dessa devastação social e cultural.

Mas eu falava de coincidências. Há 74 anos, no mesmo 1° de abril, mas em 1939, terminava a Guerra Civil Espanhola, um dos mais sangrentos conflitos da Europa no século XX, e começava um período de terror sem fim, a ditadura de Francisco Franco. A Guerra Civil na Espanha, como a brasileira, é chocante por ser um conflito fratricida. A diferença é que, embora seja difícil chegar a dados exatos, estima-se que morreram 400 mil espanhóis na Guerra Civil.

Entre eles o poeta Federico Garcia Lorca, assassinado em 1936 pelos fascistas com apenas 38 anos. Sobre ele, disse seu companheiro de surrealismo e cineasta Luis Buñuel: "De todos os seres que conheci, Federico é o mais marcante. Não falo nem de seu teatro, nem de sua poesia, falo dele. A obra-prima era ele" (no livro Meu Último Suspiro, ed. Nova Fronteira).

É difícil de se quantificar o número de mortos no regime franquista (1939-1976), como o da Guerra Civil. Mas estima-se que, durante todo o período, o fascismo espanhol matou entre 1 e 2 milhões de espanhóis.

Abaixo, documento assinado pelo ditador Francisco Franco, em que anuncia o fim da Guerra Civil, dando início ao período de terror que só terminaria em 1976.

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Fonte: Wikimedia Commons