Inúmeros sites publicaram a carta do historiador e cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, que dispensa apresentações, ao presidente do PSB, Roberto
Amaral, sobre o partido ter permitido que Marina Silva "entrasse" na legenda. Não sei onde a carta foi publicada primeiro. Mas é um documento contundente que deve ser registrado e reproduzido. Na carta, Moniz Bandeira recomenda a Roberto Amaral "que renuncie à presidência do PSB" e afirma que "a Sra. Marina Silva joga e afunda (o PSB) na lixeira".
Reprodução/Youtube/Café na Política
“Estimado colega, Prof. Dr. Roberto Amaral
Presidente do PSB,
A Srª Marina Silva tinha um percentual de intenções de voto
bem maior do que o do governador Eduardo Campos, mas não conseguiu registrar
seu partido – Rede Sustentabilidade –
e sair com sua própria candidatura à presidência da República.
O governador Eduardo Campos permitiu que ela entrasse no PSB
e se tornasse candidata a vice na sua chapa. Imaginou que seu percentual de
intenções de voto lhe seria transferido.
Nada lhe transferiu e ele não saiu de um percentual entre 8%
e 10%. Trágico equívoco.
Para mim era evidente que Sra. Marina Silva não entrou no
PSB, com maior percentual de intenções de voto que o candidato à presidência,
para ser apenas vice.
A cabeça de chapa teria de ser ela própria. Era certamente
seu objetivo e dos interesses que representa, como o demonstram as declarações
que fez, contrárias às diretrizes ideológicas do PSB e às linhas da soberana
política exterior do Brasil.
Agourei que algum revés poderia ocorrer e levá-la à cabeça
da chapa, como candidata do PSB à Presidência.
Antes de que ela fosse admitida no PSB e se tornasse a
candidata a vice, comentei essa premonição com grande advogado Durval de
Noronha Goyos, meu querido amigo, e ele transmitiu ao governador Eduardo Campos
minha advertência.
Seria um perigo se a Sra. Marina Silva, com percentual de
intenções de voto bem maior do que o dele, fosse candidata a vice. Ela jamais
se conformaria, nem os interesses que a produziram e lhe promoveram o nome,
através da mídia, com uma posição subalterna, secundária, na chapa de um
candidato com menor peso nas pesquisas.
O governador Eduardo Campos não acreditou. Mas infelizmente
minha premonição se realizou, sob a forma de um desastre de avião. Pode, por
favor, confirmar o que escrevo com o Dr. Durval de Noronha Goyos, que era amigo
do governador Eduardo Campos.
Uma vez que há muitos anos estou a pesquisar sobre as shadow
wars e seus métodos e técnicas de regime change,
de nada duvido. E o fato foi que conveio um acidente e apagou a vida do
governador Eduardo Campos. E assim se abriu o caminho para a Sra. Marina Silva
tornar-se a candidata à presidência do Brasil.
Afigura-me bastante estranho que ela se recuse a revelar,
como noticiou a Folha de S.Paulo, o nome das entidades que pagaram
conferências, num total (que foi, declarado) de R$1,6 milhão (um milhão e
seiscentos mil reais), desde 2011, durante três anos em que não trabalhou.
Alegou a exigência de confidencialidade. Por que a confidencialidade? É
compreensível porque talvez sejam fontes escusas. O segredo pode significar
confirmação.
Fui membro do PSB, antes de 1964, ao tempo do notável
jurista João Mangabeira. Porém, agora, é triste assistir que a Sra. Marina
Silva joga e afunda na lixeira a tradicional sigla, cuja história escrevi tanto
em um prólogo à 8ª edição do meu livro O Governo João Goulart, publicado pela
Editora UNESP, quanto em O Ano Vermelho, a ser reeditado (4a edição), pela
Civilização Brasileira, no próximo ano.
As declarações da Sra. Marina Silva contra o Mercosul, a
favor do subordinação e alinhamento com os Estados Unidos, contra o direito de
Cuba à autodeterminação, e outras, feitas em vários lugares e na entrevista ao
Latin Post, de 18 de setembro, enxovalham ainda mais a sigla do PSB, um
respeitado partido que foi, mas do qual, desastrosamente, agora ela é candidata
à presidência do Brasil.
Lamento muitíssimo expressar-lhe, aberta e francamente, o
que sinto e penso a respeito da posição do PSB, ao aceitar e manter a Sra.
Marina Silva como candidata à Presidência do Brasil.
Aos 78 anos, não estou filiado ao PSB nem a qualquer outro
partido. Sou apenas cientista político e historiador, um livre pensador,
independente. Mas por ser o senhor um homem digno e honrado, e em função do
respeito que lhe tenho, permita-me recomendar-lhe que renuncie à presidência do
PSB, antes da reunião da Executiva, convocada para sexta-feira, 27 de setembro.
Se não o fizer – mais uma vez, por favor, me perdoe dizer-lhe – estará imolando
seu próprio nome juntamente com a sigla.
As declarações da Sra. Marina Silva são radicalmente
incompatíveis com as linhas tradicionais do PSB. Revelam, desde já, que ela
pretende voltar aos tempos da ditadura do general Humberto Castelo Branco e
proclamar a dependência do Brasil, como o general Juracy Magalhães, embaixador
em Washington, que declarou: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o
Brasil.”
Cordialmente,
Prof. Dr. Dres. h.c. Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira”