quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Lembrando Pasolini a partir da excrescência Big Brother Brasil


*Publicado originalmente às 14:18 de 07/02/11



Em 1973, o cineasta e pensador italiano Pier Paolo Pasolini fazia o seguinte comentário sobre a televisão e seu papel culturalmente desagregador e brutalmente destrutivo, analisando a massificação e a padronização da Cultura (e das culturas particulares, seus falares, dialetos e idiossincrasias):

"A responsabilidade da televisão em tudo isso é enorme. Não enquanto meio ‘técnico’, mas enquanto instrumento de poder e poder ela própria. (...) É no espírito da televisão que se manifesta concretamente o espírito do novo poder. (...) O fascismo, no fundo, não foi capaz nem de arranhar a alma do povo italiano: o novo fascismo, através dos novos meios de comunicação e informação (especialmente a televisão) não só a arranhou, mas a dilacerou, violentou, contaminou para sempre." (do livro Os Jovens Infelizes – Antologia de Ensaios Corsários, Editora Brasiliense, 1990.)

Quem leu Pasolini – o grande cineasta diretor de Mamma Roma, Accattone, Salò – os 120 Dias de Sodoma e tantos outros – fica para sempre contaminado por uma irrevogável visão crítica da Cultura, pelo inconformismo e a incapacidade de assistir a certas coisas sem indignar-se.

É com um sentimento de repulsa que escrevo sobre o asqueroso Big Brother Brasil (vulgo BBB), da TV Globo, programa pervertido, boçal e pernicioso ao qual jamais assisti. Dia desses entrei numa padaria para tomar um lanche e eis que a televisão do estabelecimento estava ligada nessa excrescência. Como eu estava morto de fome e a padaria era a única por perto, comi o lanche de costas para a TV. Ao sair, disse à moça responsável pelas “comandas” que da próxima vez que fosse ali nem entraria se a TV estivesse ligada no programa. Ela me olhou em silêncio, com um ar desdenhoso, como se o idiota fosse eu, e não disse nada.

Como temia Pasolini em relação à sua amada Itália, em nosso país a televisão – uma concessão pública, lembremos – transformou a esmagadora maioria dos brasileiros numa massa amorfa, acrítica e incapaz de julgar por si mesma (por favor, não falo de conjunturas meramente eleitorais), incapaz muito menos de preservar sua cultura e suas tradições, as culturas particulares, a criatividade, os falares. Não sei se o próprio Pasolini podia imaginar o quão baixo a televisão chegaria.

E não venham me dizer que o povo é apenas uma vítima. Como dizia Jean-Paul Sartre, “não há vítimas inocentes”.

Leia também: Favoritos do cinema (5): Pasolini

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Os caminhos da liberdade de Jean-Paul Sartre [3] – Com a morte na alma



Com a Morte na Alma é o último volume da trilogia Os Caminhos da Liberdade. A guerra é realidade, Paris é ocupada pelos nazistas, e a consciência dos personagens construídos a partir do inaugural A Idade da Razão, que nas páginas de Sursis torna-se gradativamente a consciência conflituosa e multifacetada da própria Europa, desemboca na amarga realidade de um país, a orgulhosa França, vencido.

Os personagens são levados, pela magnitude dos fatos que os superam, a entender que a História é mais forte do que as idéias de liberdade burguesa de cada indivíduo. Diante da Guerra, há como que uma suspensão dos princípios individuais, queiram ou não os personagens aceitar esse estado de coisas. Os egos se dissipam. A Europa se fragmenta. A França cai. A história sombria e sem saída toma conta das consciências e das ruas abandonadas:

Ninguém no Bulevar St.-Germain; rua Danton, ninguém. Nem mesmo as portas de ferro estavam abaixadas, os mostruários brilhavam: tinham simplesmente tirado o trinco das portas ao partirem. Era domingo. Era domingo há três dias; em Paris agora havia um só dia em toda a semana. Um domingo como outro qualquer, um pouco mais vazio que de costume, um pouco mais químico, silencioso demais, já cheio de podridões secretas (...) Longas esteiras brancas sujavam os vidros das vitrines. Daniel pensou: ‘os vidros choram’ Atrás dos vidros era uma festa: milhões de moscas zumbiam.”

Diante dessa realidade inóspita, na alma e nos bulevares, em que não há futuro, o protagonista Mathieu Delarue, que nos volumes anteriores da trilogia sufocava diante de uma liberdade vã (o homem está condenado à liberdade) está agora na linha de frente, como combatente. É a consciência da liberdade.

Por meio de um ato gratuito de sacrifício, o homem ilusoriamente pode achar que é livre. O ato de matar um nazista pode ter a aparência de um ato de liberdade, de redenção, mas não o é. É a História, maior do que qualquer consciência, que o engole.


Leia também:

Os caminhos da liberdade de Jean-Paul Sartre [1] – A idade da razão

Os caminhos da liberdade [2] – Sursis

Sartre resiste ao século

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A tragédia de Oruro e a punição (branda) do Corinthians


Notícia (da EBC, hoje): "A Confederação Sul-americana de futebol definiu na noite desta quinta-feira (21) a punição para o Corinthians pela morte do torcedor do San José durante partida desta quarta-feira (20). O time brasileiro não poderá ter torcedores acompanhando os seus jogos na Taça Libertadores por até 60 dias, período em que deve haver o julgamento do caso no Tribunal Disciplinar da Conmebol.

Na prática, se o prazo for seguido à risca, a torcida do Corinthians fica proibida de ir aos estádios até o dia 22 de abril. Todos os jogos da fase de grupos da competição estão dentro deste prazo. A punição foi divulgada em documento assinado por Nestor Benitez, porta-voz da Conmebol."

Juca Kfouri (no seu blog): Só a punição esportiva pode ensinar alguma coisa aos que cometem crimes nas praças de esportes e desencorajar os candidatos a cometê-los. 
A questão não está em saber se uma pena é justa ou injusta, mas, sim, em ser exemplar numa área de atividade que deve priorizar o espírito esportivo.”

Fábio Sormani (no seu blog): Para uma confederação banana [Conmebol], conhecida por ser permissiva em relação à violência, foi um passo e tanto. Gigantesco, eu diria.
Mas foi uma punição um tanto branda pela tragédia ocorrida. O Corinthians deveria ter sofrido mais na carne o ato abominável desse desconhecido (por enquanto) torcedor que assassinou o menino boliviano de apenas 14 anos durante a partida contra o San José.
Exclusão da competição? Seria a melhor alternativa, mas a Conmebol informou que isso só ocorre em caso de manipulação de resultados.”

Opinião deste blog: concordo plenamente com os comentários acima. Alguma coisa tem que ser feita para tornar a Libertadores minimamente civilizada. Não é possível que o torneio continue a ser esse vale-tudo selvagem e lamentável. Um pequeno, ínfimo, quase insignificante passo (que nada representa perto da tragédia de Oruro) foi dado ao se instituir a suspensão com o terceiro cartão amarelo em 2012.

No ano passado, a Uefa suspendeu o PAOK Salonica, da Grécia, por uma invasão de campo de torcedores numa partida contra o Rapid Viena, da Áustria. O clube foi suspenso um ano sem poder atuar em competições europeias. Vejam bem, por uma invasão de campo.

Num caso extremo, a tragédia de Heysel (Bruxelas) , em 1985, com um saldo de 39 mortos. Os hooligans ingleses foram responsabilizados pela barbárie. E, como consequência, todos os clubes ingleses foram banidos de competições europeias por cinco anos. O protagonista da tragédia, Liverpool por seis anos.
Não vejo argumento racional para defender o Corinthians. Acho mesmo que se a punição se mantiver é ainda muito branda (e nem isso é certo, pois a Conmebol é banana mesmo e o clube paulista vai recorrer).

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PT festeja aniversário e 10 anos de governo


"Eles são implacáveis. Eles não gostam de governo de esquerda e de governo progressista", diz Lula sobre a elite brasileira


R. Stuckert Filho/PR


Da Rede Brasil Atual

O Partido dos Trabalhadores realizou na noite de hoje (20), num hotel na zona Norte de São  Paulo, o ato comemorativo pelos dez anos de governo,iniciados em 2003, começando uma série de seminários que serão realizados no país, em parceria com o Instituto Lula e a Fundação Perseu Abramo. O evento também fez parte das comemorações pelos 33 anos de fundação da legenda.

O próximo ato será realizado dia 28, em Fortaleza (CE). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e a presidenta Dilma Rousseff foram os últimos a discursar. Todas as mais importantes lideranças da legenda, entre parlamentares, ministros, prefeitos e governadores, marcaram presença.

Lula fez o discurso mais veemente, misturando críticas à oposição e bom humor. Sobre o início do período de uma década de governo do partido, disse que em 2003, no começo do primeiro mandato, "tinha a convicção de que não podia errar, porque eles [a elite] são implacáveis. Eles não gostam de governo de esquerda e de governo progressista", afirmou.

Em sua fala ele mencionou os índices sociais e os que mostram a evolução do emprego, e o sucesso da política econômica de sua gestão e de Dilma para dizer que os dados estão deixando os adversários "inquietos". "Eles querem comparar. Mas nós aceitamos comparações, não temos medo de comparar, inclusive sobre corrupção", afirmou, sob aplausos, em referência ao mensalão.

A presidenta Dilma fez um discurso longo e recheado de números e estatísticas para respaldar, no discurso, "a escolha pelo social" dos governos petistas. Ironizou as dúvidas sobre a redução da energia elétrica, divulgadas pelos partidos de oposição e por setores da mídia quando do anúncio da medida, e disse que esse discurso midiático-político continua.

"O mesmo tipo de previsão equivocada e tendenciosa começa agora a se repetir em relação à capacidade do Brasil de aumentar seu ritmo de crescimento e manter a estabilidade econômica. Repito: nossos fundamentos estão cada vez mais sólidos", garantiu a presidenta. Segundo ela, o seu governo, que enfrentou "uma das maiores crises internacionais da história, está mais do que preparado para enfrentar os desafios do presente e do futuro".

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PS: a nota negativa, que muitos podem, com razão, até considerar uma nódoa, foi a presença do ex-prefeito  de São Paulo Gilberto Kassab no palanque armado para receber as autoridades. Ele foi bastante vaiado, como era de se esperar. A verdade é que esse é um reflexo da democracia brasileira. Embora tenha feito um discurso incisivo como sempre, Lula deixou bem claro em sua fala que o PT não governou sozinho nesses dez anos e que não há como governar – e nem teria sido possível mudar o Brasil – sem os partidos aliados. O PSD de Kassab faz parte da base aliada do governo no Congresso Nacional.

Isso me remete a Renan Calheiros, eleito presidente do Senado, pois muitos auto-intitulados próceres da ética andam indignados com o apoio do governo a Calheiros para presidir o Senado. Mas é bom lembrar, pois o que não falta no país são esquecidos, que o senador do PMDB foi ministro da Justiça (sim, da Justiça) do governo Fernando Henrique Cardoso.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Deva Pascovicci entra no coro "fora Muricy"


Ivan Storti/Divulgação Santos FC
O "gênio" agora adota o esquema 4-5-1
Para ver como eu não sou um chato que vive de cornetar, quando falo do Santos. Pelo menos não só eu. O Deva Pascovicci  narrador da CBN que não se furta a comentar (santista assumido), disse agora na rádio que Muricy Ramalho deve sair do Santos. 

Segundo Deva, o treinador não põe os meninos da base e o esquema tático prejudica Neymar, que não tem com quem jogar. Não precisa o Deva nem eu para ver. Para se ter uma ideia, na última partida (derrota para a Ponte Preta por 3 a 1) o time santista jogou num bizarro 4-5-1, com um atacante apenas, justamente o craque, que, cada vez mais irritado porque é sobrecarregado pelo estilo covarde do “gênio” (gênio da grosseria e do mau humor), acabou sendo expulso. 

A equipe tinha no meio campo Arouca, Renê Júnior, Marcos Assunção, Cícero e Montillo. Foi um fracasso e o time jogou uma partida horrorosa. Talvez o técnico são-paulino de coração, saudoso do estilo brucutu do velho Rubens Minelli, resolva agora jogar no 4-6-0, deixando Neymar como sexto homem de meio de campo, ajudando na marcação dos laterais adversários. 

Segundo Deva, a intenção da diretoria era que Muricy desse lucro ao time, aproveitando os jovens da base, que soubesse trabalhar com a base. Ao contrário disso, o “gênio” prefere a contratação de jogadores que não dão resultado, alguns a preço de ouro. Montillo, trazido a peso de ouro, é o maior exemplo: até agora não disse a que veio. 

Após segunda derrota seguida, e jogando um futebol medonho, Muricy falou ontem em "acertar" time do Santos. Ele está na Vila há quase 2 anos e ainda está falando em acertar? Só pode ser brincadeira. Como eu disse ontem no Facebook, o Santos só vai se "acertar" depois que se livrar desse farsante que ganha 500 mil por mês para apresentar o lixo de futebol que se vê. E o Laor? De férias? Luis Álvaro só aparece na entrega de troféus. É um presidente totalmente omisso.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Meteoro cai na Rússia e asteroide passa raspando na Terra





O vídeo acima mostra um meteoro que caiu hoje na região de Tcheliabinsk, nos Montes Urais, na Rússia, ferindo cerca de mil pessoas. Coincidentemente ou não, as agências espaciais mais importantes do mundo observam a rota do asteroide de 45 metros, batizado de 2012 DA 14, que passará justamente hoje a uma distância ínfima de 27,7 mil kilômetros da Terra, às 17:24 desta sexta-feira (horário de Brasília), 15 de fevereiro. 27 mil quilômetros equivale a 27 vezes a viagem São Paulo-Brasília, ou seja, em termos cósmicos é nada.

Bem, a NASA diz que o meteoro da Rússia e o asteróide que passará raspando não têm nada a ver um com outro. Esperemos que não mesmo, embora, se tiver relação, só vamos ficar sabendo depois...

PS (à meia noite e meia de sábado, 16/02/2013):  Não aconteceu nada. Hoje já é amanhã. 'Tamo junto.

Leia tambémMelancolia, o filme de Lars von Trier – o apocalipse como ficção ou metáfora

Os caminhos da liberdade de Jean-Paul Sartre [2] – Sursis


A bela edição do Círculo do Livro
Tinha eu meus 20, 21 anos, quando li Sursis, o segundo livro da trilogia  Os Caminhos da Liberdade, de Jean-Paul Sartre. Nunca tinha lido Sartre e não me preocupei com o fato de A Idade da Razão ser a primeira obra da trilogia (nem lembro se sabia disso).

Só depois (quando somos jovens não temos a preocupação com o passar do tempo e a ordem das coisas muitas vezes nos é indiferente) é que fui ler os romances pela ordem, até chegar à terceira parte, Com a Morte na Alma. E só depois ainda li uma frase do filósofo e romancista francês: “eu sou os livros que li”, uma sentença bem francesa, diga-se, mas que me calou fundo, pois eu poderia dizer que não seria exatamente o que sou se não tivesse mergulhado nessa profundíssima discussão em torno do espírito humano (particularmente europeu) que Sartre constrói com sua trilogia.

O ambiente, em Sursis, não é mais apenas contaminado pelos sinais longínquos da guerra: a Segunda Guerra Mundial já é iminente na tensão crescente do romance, não apenas na narrativa e diálogos, mas na própria estrutura e no encadeamento do texto. As ideias, diálogos e a consciência mesma dos personagens muitas vezes se misturam num mesmo período, às vezes na mesma frase, como se a consciência europeia da conflagração fosse se materializando paulatina e implacavelmente na mente não do professor Mathieu, de sua amante Marcelle, da jovem Ivich, mas de todos eles, como se eles fossem sendo possuídos por uma consciência maior, a consciência da Europa.

Sursis é, em termos de linguagem, o mais complexo romance da trilogia, talvez o melhor. No livro, Sartre escreve uma das mais belas passagens sobre a ilusão do homem do século XX, a ilusão do homem que, terminada a Primeira Guerra, achou que tinha conquistado a paz: “Anos e anos de paz futura se haviam depositado previamente nas coisas (…) pegar o relógio, um trinco de porta, a mão de uma mulher, era tomar a paz nas mãos. O após guerra era um começo. O começo da paz (…) O jazz era um começo, e o cinema (…) E o surrealismo. E o comunismo. O tempo, a paz, eram a mesma coisa. Agora esse futuro está aqui, a meus pés, morto (…) Olhava os vinte anos que vivera serenos (…) e os via agora como tinham sido: um número finito de dias comprimidos entre dois altos muros sem esperança (…) que figuraria nos manuais de história sob a denominação de ‘Entre duas guerras`”.

É com um estranho fervor, como diria Borges, que alguns livros persistem em nossa memória. Sursis, do mestre Sartre, para mim, é um deles. Um livro que, além de tudo, me provoca uma estranha sensação de atualidade. Espero que não estejamos hoje todos nós vivendo uma grande ilusão como a dos personagens da Europa do entre-guerras de Sursis.

Leia também:

Os caminhos da liberdade de Jean-Paul Sartre [1] – A idade da razão

Sartre resiste ao século

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Grandes atores (2)


Henry Fonda (1905–1982)


Como Frank, no filme do diretor italiano Sergio Leone

Na cena do duelo final do épico Era uma Vez no Oeste (Sergio Leone, 1968), os dois contendores, Frank (Henry Fonda) e Harmonica (Charles Bronson), estão se preparando para o último embate da vida de um ou outro. Bronson, que talvez tenha feito nesse filme sua única interpretação digna de nota na carreira, olha fixo ao homem com quem tem contas a acertar. Enquanto caminha, na cena impressionante, Bronson fixa o oponente com um olhar penetrante e parado, enquanto Frank/Fonda demonstra apenas com a expressão facial, e principalmente o olhar, que a dúvida assalta seu espírito. A certeza contra a dúvida precede o duelo de fato.

A cena em que culmina o maior western de todos os tempos é simbólica da grandeza de Henry Fonda. O personagem de Bronson evidentemente tinha de ter a certeza, mas não seria qualquer um que poderia interpretar a dúvida. Coube a Fonda, no filme do diretor italiano. A dúvida exige muito de um ator.

Era uma Vez no Oeste, que traz ainda Claudia Cardinale, Jason Robards e outros, vale a pena ser visto se você gosta de assistir a filmes motivado por atuações de grandes atores. Se não fosse suficiente o elenco estelar e a música maravilhosa de Ennio Morricone, Henry Fonda sozinho já bastaria como motivo para assistir a essa obra-prima que é o filme de Leone (post neste link: Favoritos do cinema (3): Era uma vez no Oeste).

Vi recentemente um filme que reúne nada menos do que Henry Fonda com Alfred Hitchcock: O Homem Errado (1956). O protagonista Manny Balestrero (Fonda), um homem pacato de classe média, é envolvido num crime que aparentemente não cometeu, e uma sucessão de acontecimentos kafkianos o vai enredando na trama. Curiosamente (porque é uma película pouco falada) é um dos melhores filmes que vi do mestre Hitchcock. Comparando o icônico Janela Indiscreta, por exemplo, com O Homem Errado, dois filmes do mesmo genial diretor inglês, é possível entender por que um ator pode ser a alma de um filme, enquanto outro apenas “lê” o roteiro.

Demorou muito tempo pra eu entender por que não gostei tanto assim de Janela Indiscreta (um filme intocável para a crítica), e enfim entendi que a atuação limitada e inexpressiva de James Stewart contribui decisivamente para isso, além, talvez, do esquematismo formal e frio que enfraquece a trama e o suspense. Enquanto este filme é prejudicado por esses fatores, em O Homem Errado Hitchcock acerta no ator (Fonda), enquanto no outro erra (Stweart). Assim é com Henry Fonda. Seus personagens ganham vida, enquanto os de outros atores não saem do papel (do roteiro).

 Leia também:

Gandes atores (número zero): Vincent D'Onofrio: um grande ator nem sempre é um superstar

Gandes atores (1): Anthony Hopkins, Gene Hackman, Marlon Brando, Rod Steiger


Gandes atores (3): Paulo José: Macunaíma, Quincas Berro D'Água e O Palhaço

"Malandro" e genial, Gaúcho desequilibra e Galo bate São Paulo na estreia da Libertadores


Um jogaço no Estádio Independência. Atlético Mineiro 2 x 1 São Paulo pela primeira rodada da Libertadores foi o primeiro grande jogo de 2013 (até então, havia sido Santos 3 x 1 São Paulo pelo Paulista). Diria mesmo um dos melhores que vi nos último meses. Não é comum uma partida jogada com tamanha intensidade e, ao mesmo tempo, tecnicamente tão boa. Ronaldinho Gaúcho, na frente, com a malandragem e alguns lampejos da genialidade de outrora, e Réver, com atuação incrível na zaga, e de quebra autor do segundo gol do Galo, foram os destaques.




No primeiro tempo o time paulista foi sufocado pela marcação implacável da equipe mineira, que chutou sete vezes a gol contra nenhuma do adversário. No segundo, fisicamente mais bem preparado, o São Paulo foi crescendo pouco a pouco até que, já dominando a partida, quando parecia na iminência de empatar, Ronaldinho decidiu de novo, ele que já havia feito a jogada do tento inaugural na pura malandragem e categoria – colocando-se na banheira para receber uma bola em cobrança de lateral e dar de bandeja para Jô, aos 13 da primeira etapa, só empurrar para as redes. E Aos 27 do segundo tempo, gol de Réver (após jogada sensacional de Gaúcho, que deixou dois marcadores na saudade e cruzou na cabeça do zagueirão). Galo 2 a 0.

Quando parecia que a partida estava decidida, Aloísio diminuiu aproveitando passe de Luís Fabiano, que, na falta da bola que não chegava na frente, foi buscá-la para servir o atacante que entrara no lugar do zagueiro Paulo Miranda.

Correndo o risco do contra-ataque, o São Paulo se lançou à frente. E quem achava que o jogo estava decidido ainda viu Ganso (que entrara no lugar de Jádson) chutar para fora uma bola da entrada da área que passou triscando a trave esquerda do goleiro Victor, aos 47. Ganso, quem diria, não passa de reserva no time do Morumbi. Na verdade, talvez devesse ter entrado antes, mas não no lugar de Jádson, que dava movimentação ao time e poderia muito bem jogar com Ganso na segunda etapa.

Realmente um baita jogo. Com a gana com que jogou hoje (ontem), o Atlético-MG será um time difícil de ser batido nesta Libertadores. O Galo e o São Paulo estão no grupo 3, junto com o argentino Arsenal Sarandí e o sempre presente e inofensivo The Strongest, “o mais forte”, da Bolívia.

(Este ano vou ter de me contentar em falar de outros times que não o meu Santos quando tratar de Libertadores, já que em 2012 o Santos de Muricy fez um papelão e foi eliminado pelo Corinthians na semifinal).

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Pensamento para sexta-feira [40] – Harmonia e desarmonia



Teoria de conjuntos
(Mario Benedetti)


Cada corpo tem
sua harmonia e
sua desarmonia.
Em alguns casos
a soma de harmonias
pode ser quase 
enjoativa.
Em outros
o conjunto
de desarmonias
produz algo melhor
que a beleza.

*Poema e ilustração enviados por e-mail pelo amigo Sérgio Alves
(clique na imagem para ampliar)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Julian Assange lança livro e aparece na mídia brasileira


O criador (ou um dos criadores) do WikiLeaks está em evidência no Brasil. Certamente não é à toa que aparece na mídia brasileira esta semana.

No dia 4 passado, o programa Milênio, da Globonews, exibiu (às 23h30) uma entrevista exclusiva e “inédita”. Mas, antes, O Estado de S. Paulo publicara (3 de fevereiro de 2013, às 2h 06) entrevista exclusiva, feita por Jamil Chade, com Assange. Numa matéria datada de antes ainda, dia 2 (às 7:46), na CartaCapital, Gianni Carta escrevia um texto mais prolixo, impressionista e, digamos assim, egocêntrico (confesso que às vezes prefiro a objetividade).

O australiano, acusado de crimes sexuais na Suécia, que quer sua extradição, está há sete meses asilado na Embaixada do Equador em Londres. Sua aparição na mídia brasileira tem um motivo: ele tem um livro sendo lançado no Brasil: Cypherpunks, Liberdade e o Futuro da Internet, pela Boitempo Editorial. Segundo a editora, “a obra é resultado de reflexões de Assange e de um grupo vanguardista de pensadores rebeldes e ativistas que atuam nas linhas de frente da batalha em defesa do ciberespaço (Jacob Appelbaum, Andy Müller--Maguhn e Jérémie Zimmermann). A questão fundamental que o livro apresenta é: a comunicação eletrônica vai nos emancipar ou nos escravizar?”.

Não precisa dizer que estou curioso para ler o livro. Mas estou. Do que li e vi a respeito, destaco duas passagens da entrevista do Estadão:


O presidente (do Equador) Rafael Correa ataca muito a imprensa. O que o sr. acha disso?

Deveria atacar mais. A primeira responsabilidade da imprensa é a precisão e a verdade. O grande problema na América Latina é a concentração na mídia. Há seis famílias que controlam 70% da imprensa no Brasil, mas o problema é muito pior em vários países. Na Suécia, 60% da imprensa é controlada por uma editora. Na Austrália, 60% da imprensa escrita é controlada por (Rupert) Murdoch. Portanto, quando falamos em liberdade de expressão, temos de incluir a liberdade de distribuição, uma das coisas mais importantes que a internet nos deu.

(...)

O sr. disse que publicará cerca de um milhão de documentos em 2013. Algo sobre o Brasil?

Sim. Publicaremos muito sobre o Brasil neste ano.

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Leia também: Jacob Appelbaum, segundo a Rolling Stone

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Imprensa trata eleições no Congresso Nacional com abordagem rasa e meias-verdades


As manchetes dos dois jornalões paulistas desta terça-feira são sintomáticas. “Eleito, Alves desafia STF e apoia mandato de mensaleiro”, diz o Estadão.  Nova direção da Câmara ameaça desobedecer STF”, dispara a Folha.
Rodolfo Stuckert/Agência Câmara

Não discuto aqui se as eleições de Renan Calheiros para a presidência do Senado e de Henrique Eduardo Alves para comandar a Câmara dos Deputados são éticas ou não. Politicamente, são legítimas. Afinal, foram indicações do PMDB e nenhum dos dois perdeu seus direitos políticos. Nem proponho discutir se o PMDB (que tem o vice-presidente da República Michel Temer e os presidentes das duas casas legislativas) tem hoje um acúmulo de poder preocupante (de fato é).

A questão é: as coberturas dos dois diários são rasas. São editorializadas e pouco sutis em suas intenções (continuar o processo de tornar a política sinônimo de sujeira e, ao mesmo tempo, continuar disseminando a tal judicialização da política – o Judiciário é quem manda e ponto final). Mas o problema maior é realmente como são pobres e despolitizantes em sua abordagem. Os jornais passam a ideia de que há um bando de corruptos lutando contra um grupo de 11 vestais investidos de grandeza e soberba, os ministros do STF.

N
enhum dos dois jornais informa que o artigo 55, inciso VI da Constituição determina “que perderá o mandato o deputado ou senador que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado”, ressalvando em ser parágrafo 2° que a questão "será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta”.

E o artigo 15 da chamada Carta Magna, por sua vez, determina a “perda ou suspensão” dos direitos políticos por “condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem os seus efeitos”. Em primeiro lugar, as sentenças não foram transitadas em julgado ainda.

Em segundo, como se vê, há um conflito entre os dois dispositivos (artigos 15 e 55 da Constituição). No julgamento em que o STF decidiu que os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT) perdem os mandatos automaticamente após condenados no julgamento do “mensalão”, o tribunal resolveu a contradição segundo uma interpretação, aliás legitimamente contestada por inúmeros membros do Parlamento, independentemente de Estadão, Folha, Globo e Veja acharem que eles estão “desobedecendo” o sacrossanto Supremo Tribunal Federal.

Em resumo, ao dizer que a questão da perda dos mandatos será decidida no Legislativo e que a palavra final “é da Câmara”, o novo presidente da Casa está fazendo uma interpretação da Constituição. Ponto. Se haverá desdobramentos mais fortes, se a beligerância descambará para um conflito claro e indisfarçável entre os poderes, não se sabe. Mas é no que apostam os jornalões. Eles apostam no caos e na criminalização da política. Cada vez mais arrogantes e udenistas, e por outro lado com tiragens menores e com menos credibilidade, à medida em que passa o tempo.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Duelo entre Neymar e Ganso termina com vitória do Santos ao som de 'olé' na Vila Belmiro


Santos e São Paulo fizeram um belo jogo na baixada santista, pela quinta rodada do Paulista. Uma partida que valeu tão somente pela rivalidade, já que o campeonato estadual tem um regulamento estúpido, feito para que, ao final de 19 intermináveis rodadas, todos os quatro grandes estejam nos mata-matas decisivos.

No amistoso de luxo (como são todos os clássicos da fase de classificação do Campeonato Paulista) disputado no lindo tapete da Vila, o destaque era o duelo Neymar vs. Paulo Henrique Ganso, que fazia hoje sua primeira partida contra o Santos que o revelou. Não deu pro Ganso, que saiu no segundo tempo sem ter feito grande coisa, ao som de vaias e da torcida alvinegra cantando “olé”, no alçapão.

O São Paulo jogou bem melhor no primeiro tempo. Ocupou os espaços a partir de uma eficiente marcação, forte na saída de bola do Peixe e sobretudo em Neymar.

Veja os gols de Santos 3 x 1 São Paulo:


Neymar estava apagado. Mas Neymar é assim: mesmo quando não brilha, ele brilha. Deu um totó (a matada de bola na jogada é digna de ser vista) para Miralles fazer 1 a 0 aos 38 do primeiro tempo. O São Paulo jogara melhor durante todo o primeiro tempo, mas futebol é assim: não tem justiça. Quem tem craque leva a melhor.

Logo no início do segundo tempo, o craque pegou a bola no meio de campo (o que o vídeo acima não reproduz, pois só mostra o fim da jogada) e desembestou zaga são-paulina adentro, e só foi parado no pênalti claro cometido por Paulo Miranda. 2 a 0.

Os são-paulinos reclamam da anulação de um gol por impedimento, em que o jogador impedido, Rodolpho, não teria participado da jogada. Ora, é claro que participou. Rodolpho e o autor do gol, Luis Fabiano, dividiram a bola com o goleiro. Pergunto: como se pode considerar legal um gol em que um avante impedido divide a bola com o goleiro e outro faz o gol? O cara não participiu da jogada? Me desculpem os comentaristas da Globo e da Band, mas o gol foi anulado corretamente.

Jádson fez um belo gol de falta aos 19 do segundo tempo, diminuindo para o time do Jardim Leonor, mas àquela altura o Tricolor não teria mais forças para chegar ao empate. O terceiro gol foi novamente do argentino Miralles, num cruzamento cirúrgico de... Neymar, quatro minutos depois. Aos 23 da segunda etapa, o placar estava definido.

Ainda bem para o Santos que Muricy, desta vez, teve a “coragem” de escalar Miralles no lugar do (sinto dizer isso) lamentável André. Ao fim e ao cabo, a verdade é que o São Paulo tomou olé na Vila Belmiro. 3 a 1 foi pouco. Se a bola que Montillo mandou na trave tivesse entrado, já seria 4 a 1. E estaria de bom tamanho, considerando o que foi o segundo tempo.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Dia de Iemanjá


Para registrar o dia 2 de fevereiro: Gal Costa, maravilhosa, interpreta "Rainha do Mar", de Dorival Caymmi, em gravação de programa para a TV italiana RAI, em 1978.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A missa católica e a lei seca – recomendações


Por mais sério que pareça, e é (afinal é uma nota oficial da Arquidiocese de Curitiba), não se pode deixar de observar que uma fina ironia perpassa o texto assinado pelo arcebispo Dom Moacyr José Vitti, no qual orienta os religiosos da capital paranaense sobre como se comportar com a nova lei seca, que entrou em vigor em todo o país em 2013. Ou será que não há ironia e estou imaginando coisas, motivado por algum sentimento anticlerical?

Foto: Carmem Machado


A íntegra da nota da Arquidiocese:

"Nossa orientação aos padres é que procurem reduzir ao máximo a ingestão do vinho (com álcool) durante as missas, lembrando de que se trata do sangue de Cristo. É importante também que os padres estejam sempre munidos com a carteirinha de padre, para atestarem que são sacerdotes e estão ao serviço da Igreja. Os que preferirem substituir o vinho com o álcool pelo sem, ou pelo suco de uva, poderão fazê-lo, pois já estão autorizados pelo arcebispo."

Leia também uma recomendação completamente contrária à da Arquidiocese:

Embriagai-vos (de Charles Baudelaire)

O documento no site oficial da Igreja Católica na capital do Paraná está aqui: Nota oficial da Arquidiocese de Curitiba - nova lei seca,