segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Brinde aos 109 anos de Drummond


Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31/10/1902 - Rio de Janeiro, 17/08/1987), nosso poeta maior, faria 109 anos nesta segunda-feira, 31 de outubro. Abaixo, um de seus mais belos poemas.


Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Leia outros poemas de Drummond:

domingo, 30 de outubro de 2011

Corinthians lidera, Neymar dá show
e o Brasileirão virou um tédio

Finda a 32ª rodada do Campeonato Brasileiro (que não é o tema principal deste post), em que o Corinthians novamente virou líder ao bater o Avaí por 2 a 1 a duras penas em São Paulo, enquanto o Vasco mais uma vez se recusou a manter a ponta ao ficar num 0 a 0 enfadonho com o São Paulo em São Januário, tudo continua com dantes no quartel de Abrantes. Tenho a impressão que o principal trunfo do Corinthians é a absoluta incompetência dos concorrentes.

Mas eu diria que o destaque não é nem o Corinthians ter voltado ao topo (com os mesmos 58 pontos do Vasco, mas uma vitória a mais), e sim o show de gala que Neymar deu no Pacaembu sábado, fazendo os quatro gols da goleada do Santos sobre o Atlético-PR por 4 a 1, “fora o frete”, como diz um amigo meu, já que o moleque marcou outros dois tentos anulados.

Quanto ao título, vamos nos restringir a Corinthians e Vasco como os favoritos. Na sequência, o time paulista joga em Minas contra o virtualmente rebaixado América-MG e depois recebe o mesmo Atlético Paranaense trucidado por Neymar, no Pacaembu. O Vasco encara o Santos na Vila e depois faz o clássico com o Botafogo no Engenhão. Portanto, em tese, nas próximas duas rodadas o Timão tem boas chances de abrir vantagem.

Antes de mudar de assunto, vejamos os gols de Neymar e de Corinthians 2 x 1 Avaí.

Neymar: barba, cabelo e bigode:





Corinthians, líder no sufoco:





Pontos corridos ou mata-matas?

Mudando de assunto, em comentário a um post anterior, o amigo corintiano Luciano sugeriu um “tópico”: “vamos ver qual a opinião da galera a respeito da volta do octogonal?”. Ou seja, os mata-matas, o sistema de disputa do título brasileiro até 2002, quando o Santos ganhou a final do Corinthians por 3 a 2 no Morumbi.

Houve um momento, antes e logo depois de instaurado o novo modelo de pontos corridos (2003), que defender os mata-matas era uma espécie de pecado. Se você defendesse a ideia, era considerado um ignorante, quase um imbecil, contrário a tudo o que é moderno e justo, o sistema europeu (o que é bom para a Europa é bom para o Brasil). Mas, ao fim da nona edição do Campeonato Brasileiro por pontos corridos, já não há tanta unanimidade assim.


Santos de Robinho: o último campeão nos mata-matas

Em favor do modelo atual, há o argumento principal de que é mais justo. Já a fórmula de jogos eliminatórios conta com outro argumento: o de que futebol é espetáculo e emoção, e portanto que se dane o sistema politicamente correto dos pontos corridos. Confesso que tenho pensado que o segundo argumento é mais convincente, e digo isso de consciência tranqüila, já que meu Santos foi campeão tanto em mata-matas (2002) como em pontos corridos (2004), assim como Fluminense, Flamengo, São Paulo e Corinthians (sem contar os títulos anteriores a 1971).

O ideal seria não um octogonal, mas um quadrangular. Classificariam os quatro primeiros. O primeiro e o quarto fariam uma semifinal em dois jogos; o segundo e o terceiro, outra. Os vencedores (os de melhor campanha jogando pelo empate) fariam as finais. O problema é que faltariam datas (semifinais e finais seriam mais quatro rodadas). Alternativas: o Brasileiro poderia ter 18 times, o que daria ao final 34 rodadas (17 por turno); mas o Brasil é muito grande e 20 equipes me parece certo; então, enxugar os estaduais seria uma solução (é um absurdo um Paulistão com 20 clubes); infelizmente as datas da seleção brasileira, digo, balcão de negócios, parecem ser inegociáveis.

O Campeonato de 2011, “o mais emocionante da era dos pontos corridos”, corre o risco de terminar melancolicamente. Isso porque não vejo nenhum dos times que podem conquistar o título com cara de campeão brasileiro. O equilíbrio se dá pela mediocridade. Num campeonato de nível alto, nem o Corinthians de Tite, nem o Vasco do interino, nem o imprevisível Flamengo ou os oscilantes Botafogo e Fluminense seriam campeões. A interferência de um calendário horrível, da seleção (balcão de negócios), da janela européia, fazem com que o tal modelo tão incensado dos pontos corridos seja discutível e muito menos justo do que na teoria.

Claro que haverá quem diga que para corintianos, vascaínos, fluminenses, botafoguenses e flamenguistas está tudo muito emocionante em 2011. Mas para mim o Campeonato Brasileiro, e não é só o deste 2011, virou um tédio.

sábado, 29 de outubro de 2011

Vida longa ao presidente Lula

Na quinta-feira, 27, o presidente (que nunca será ex-presidente) Lula comemorou 66 anos, e não deixou de lembrar num curto discurso-agradecimento a importância das redes sociais (citou o Twitter) graças às quais temos informações "em tempo real sem que as pessoas mudem aquilo que a gente quer falar".




Neste sábado, exames no Hospital Sírio-Libanês diagnosticaram um tumor em sua laringe. De minha parte, só desejo vida longa ao homem que mudou o Brasil e o maior presidente de sua história.

Nota do Hospital Sírio-Libanês (29/10/2011)
11h00

O Ex-Presidente da República, Sr. Luís Inácio Lula da Silva realizou exames no dia de hoje no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, tendo sido diagnosticado um tumor localizado de laringe.

Após avaliação multidisciplinar, foi definido tratamento inicial com quimioterapia, que será iniciado nos próximos dias. O paciente encontra-se bem e deverá realizar o tratamento em caráter ambulatorial.

A equipe médica que assiste o Ex-Presidente é coordenada pelos Profs. Drs. Roberto Kalil Filho, Paulo Hoff, Artur Katz, Luiz Paulo Kowalski, Gilberto Castro e Rubens V. de Brito Neto.

Dr. Antonio Carlos Onofre de Lira, Diretor Técnico Hospitalar

Dr. Paulo Cesar Ayroza Galvão, Diretor Clínico.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Aldo é nomeado. Qual será a próxima cabeça pedida pela mídia?

Foto: Wilson Dias/ABr
Sobre o novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B), há prós e contras. Ele perdeu o respeito que tinha de amplos setores da esquerda pelo relatório que fez para o Novo Código Florestal. Para o sociólogo Marcelo Calazans, por exemplo, em entrevista recente à Rede Brasil Atual, os interessados em “desconstruir o Código Florestal” (e portanto aprovar o novo) “são as grandes empresas do agronegócio e os ruralistas ligados a elas. Soja, cana, gado e eucalipto”.

Eu entrevistei Aldo Rebelo para o jornal Visão Oeste no ano passado sobre o novo Código Florestal. Ele é bastante esquivo. Leia aqui.

Do ponto de vista do Esporte, Copa do Mundo, relações com a FIFA e CBF, a nomeação de Aldo pode ser positiva, se ele não estiver convertido como no caso do meio ambiente, já que, tendo presidido a CPI da CBF/Nike entre 2000 e 2001, contrariou interesses do imperador Ricardo Teixeira.

Conhecido como nacionalista, se o novo ministro se mantiver distante dos interesses da FIFA, da CBF, de Teixeira; se não capitular às investidas contra leis brasileiras para facilitar os lucros da FIFA na Copa do Mundo; se de alguma maneira estiver ao lado dos que querem ver o fim do império de Teixeira, merecerá aplausos. Mas nem por isso se deve esquecer o mal que seu projeto do novo Código florestal (em tramitação no Senado) pode fazer ao Brasil, se for aprovado.

Queda sem provas

Apesar, como já disse, de não por a mão no fogo, concordo totalmente com blogueiros e analistas para os quais a queda de Orlando Silva é inaceitável tal como ocorreu, “após mais de uma semana de acusações de desvio de verba em sua pasta”, segundo o Uol/Folha de S. Paulo. Ora, acusações, sem prova, de uma revista de direita, sem escrúpulos, com seu jornalismo marrom, agora vão pautar quem sai ou quem fica no governo Dilma? A presunção de inocência se transformou definitivamente em letra morta?

Foi por isso que, quando Antonio Palocci caiu da Casa Civil, embora Palocci esteja longe de ser um santo, eu disse que sua queda era para “satisfazer a grande mídia".

Virou moda a presidente Dilma entregar a cabeça dos que a mídia quer derrubar numa bandeja. Aguardemos qual será o próximo acusado (sem provas) que ela vai demitir como querem os chefes do Quarto Poder.

Uma verdade é indefensável. O Estado (entidade imensa de incontáveis trentáculos) é em si corrupto, seja no Brasil, na França, nos EUA, na Líbia, no Casaquistão. Um governo que prima pela cidadania e pelos interesses desse mesmo Estado deve combater a corrupção implacavelmente, afastar os bandidos, os corruptos e os incompetentes. O fato de haver corupção em qualquer ministério não é prova de que o ministro é corrupto. Se for, que pague. É simples.

Se algum dia a mídia tiver interesse em abrir a caixa de Pandora das privatizações do governo FHC – principalmente da Vale – o fedor tomaria conta do país inteiro. Mas nunca houve interesse em ir fundo nesses assuntos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PSD: o partido onde os ricos se encontram


Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Kassab, o chefe
Do site Congresso em Foco

Ele foi anunciado em março por seu criador como um partido que não é de direita, nem de esquerda, nem de centro. Sete meses após a famosa declaração do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o Partido Social Democrático (PSD) nasce oficialmente hoje no Congresso como uma legenda de ricos e empresários. A maioria deles, ruralistas. Mais da metade da nova bancada tem na atividade empresarial sua principal ocupação. A soma dos bens declarados à Justiça eleitoral pelos congressistas do PSD também faz dele o segundo partido mais rico do Parlamento, atrás apenas do PMDB.

Entre titulares, suplentes e licenciados, o PSD havia arrebanhado 57 deputados e dois senadores até a última segunda-feira. Um número que ainda pode crescer. Desses 59 nomes, 42 (71%) são empresários urbanos ou rurais. Praticamente o mesmo número atua na defesa do agronegócio, como integrantes da bancada ruralista. Juntos, os discípulos do prefeito paulistano no Congresso acumulam um patrimônio de R$ 367,6 milhões. Ou seja, embora representem apenas 8,8% dos congressistas, eles respondem por quase 20% do total de R$ 1,94 bilhão declarado em bens pelos 667 parlamentares que exerceram mandato na atual legislatura.

O PSD abriga o parlamentar mais rico de todo o Congresso, o deputado João Lyra (AL), usineiro dono de uma fortuna declarada de R$ 240,4 milhões, acusado de trabalho escravo no Supremo Tribunal Federal (STF). Outros dois deputados do novo partido também somam mais de R$ 10 milhões em bens, Paulo Magalhães (BA) e Roberto Dorner (MT). Ao todo, 34 representantes do partido de Kassab no Congresso informaram à Justiça possuir mais de R$ 1 milhão em bens.

Leia matéria do Congresso em Foco na íntegra clicando neste link

Leia também sobre as mazelas da administração de Gilberto Kassab em São Paulo: A cidade de Gilberto Kassab

Os melhores termos de busca do terceiro
trimestre de 2011

Com algum atraso, seguem os melhores termos de busca do terceiro trimestre de 2011 (julho, agosto e setembro), os termos que os internautas digitaram no Google ou outros sites de busca para chegar a este blog (se quiser, acesse outros posts da série em link ao fm deste). O último post da série havia sido o que abarcou todo o primeiro semestre de 2011.

Os termos de busca estão em itálico. Eu tento responder as questões, mas, como sempre, só tento.


Melhores termos de busca de julho, agosto e setembro de 2011

qual a principal ocupaçao de neymar
Resposta do blog: – futebol!

qual jornalista carioca e flamenguista nao gostou da convocaçao do Ronaldinho
– Com certeza, Renato Maurício Prado. Confira: Renato Maurício Prado detona Mano Menezes

o que poderiam ser consideradas lutas inglórias
– Uma das possíveis respostas a esta difícil, amplíssima questão, seria, por exemplo, a luta do Corinthians por uma Libertadores. Mas me intrigou tanto esta dúvida quase metafísica de um internauta que fiz uma meticulosa busca no meu próprio blog para achar uma resposta, e concluí que a “luta inglória” que o trouxe aqui foi o post sobre a luta inglória do músico Chico César contra o chamado ““forró de plástico””.

a dilma russeff governa o estado de são paulo?
Não.

torcedor do flamengo na queda de kadafi
É possível, mas eu não tenho post sobre isso, nem fotos, nem provas.

uma hora, o mundo vai acabar
– É possível, mas não acabou em 21 de maio de 2011, nem em 21 de outubro de 2011.

o mundo vai acabar em bosta
Para este leitor, recomendo a leitura de Freud, caso não tenha condições de fazer uma terapia.

como comprar um bom lençol?
– Nas melhores casas do ramo.

o que um sao paulino disse para um corinthiano
– Pelo menos neste blog, menos do que os corintianos dizem aos são-paulinos.

"suponha que o corinthians lidera o campeonato de futebol e m são paulo está em quinto lugar, enquanto o santos está entre os dois. se o palmeiras está logo à frente da ponte preta e a ponte preta está atrás do santos na classificação geral, qual desses times está em segundo lugar:"
– Palavra que alguém chegou ao meu blog digitando o período acima. Mas só o matemático Oswald de Souza poderia resolver essa equação. Eu mesmo, que estudei engenharia (e depois desistir para ser jornalista), que era bom de Exatas etc, não tenho condições de responder.

canhão perceguidor para teatro mercado livre
– Querido (imagino) produtor de teatro, consulte o site do Mercado Livre de fato, e também um dicionário.

e=mc2 astrologos
– Na medida em que os astrólogos, digamos assim, auscultam a imensidão do universo usando a mitologia e o símbolo, talvez essa junção da velocidade da luz calculada por Einstein com a curiosidade de saber as influências dos astros na nossa vida faça algum sentido. Só posso dizer, como disse Sócrates (não o ex-jogador do Corinthians, mas o filósofo), que só sei que nada sei.

escultar novo cd do chico Buarque
– Jamais escultei, não esculto e nunca escultarei um CD de Chico Buarque.

Você pode acessar posts da série melhores termos de busca clicando neste link.

*Atualizado à 00:15 de 29/10/2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O futuro sombrio da Líbia

O que acontecerá com a Líbia após a queda e morte de Muammar Kadhafi? Com a intervenção decisiva da Otan, apoiada inicialmente pelos Estados Unidos, os rebeldes se insurgiram contra o regime que já durava 42 anos e o derrotaram sob o custo de milhares de mortos.

Bandeira de 1951 volta a vigorar
 Mas, agora, depois da fase do festim macabro instaurado com a execução do ex-líder, o país parece encaminhar-se para um destino semelhante ao do Iraque pós- Sadam Hussein. Apesar das exortações (como sempre, hipócritas e teatrais) das lideranças ocidentais, a começar de Barack Obama, para que a Líbia agora se dirija à santa democracia, “A Líbia é tribal de A a Z. Há 140 tribos”, como escreveu o jornalista Pepe Escobar no Asia Times Online, em artigo de fevereiro deste ano (mas muito atual e elucidativo da realidade do país), reproduzido em português no Viomundo no início da “revolução” líbia (leia aqui).

“Resultado inevitável desse sistema político tribal – continuava então Escobar –, foi o esmagamento de qualquer sociedade civil baseada em instituições democráticas.” E ainda: “Seja lá o que for que venha a emergir desse vulcão, não parece haver meio de evitar que a Líbia seja partida em territórios tribais. Não é exagero dizer que, para a juventude – tribal – líbia, que foi às ruas para lutar contra o regime super armado de Gaddafi, a peste é a mentalidade tribal. Não será varrida da noite para o dia.”

E infelizmente o caos parece confirmar, pelo menos nesse início pós- Kadhafi, as expectativas mais pessimistas. Nesta segunda-feira, cerca de 100 pessoas ou mais morreram e pelo menos 50 ficaram feridas na explosão de um depósito de combustível em Sirte (cidade de Kadhafi), segundo disse à AFP Leith Mohamed, do Conselho Nacional de Transição (CNT). No mesmo dia, a ONG Human Rights Watch (HRW) disse ter encontrado 53 corpos em estado de decomposição, provavelmente de partidários ou aliados de Kadhafi, com sinais de execução sumária.

De acordo com Leslie Gelb, presidente emérito do Council on Foreign Relations, citado pela BBC, “os grupos que se uniram para lutar contra Kadhafi têm pouco em comum. Acho muito provável que comecem a lutar uns contra os outros, e a matar uns aos outros".

Enquanto isso, conforme as agências internacionais divulgaram na mesma segunda-feira, o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT) do país, Mustafá Abdul Jalil, afirmou que Líbia será regida pela lei islâmica, a Sharia.

Mulheres

Uma mulher citada pela AFP disse o seguinte: "É chocante e insultante constatar que depois do sacrifício de milhares de líbios pela liberdade, a prioridade dos novos líderes é permitir que os homens casem em segredo (...) Nós não vencemos Golias para viver na Inquisição", afirmou a mulher de 40 anos. Para essa mulher, que conhece o que se passa com as mulheres no Irã e na Arábia Saudita, não é muito reconfortante que Mustafá Abdul Jalil tenha feito uma ressalva: "Quero certificar a comunidade internacional de que nós, líbios, somos muçulmanos moderados".

Está prevista para duas semanas a definição do novo governo provisório líbio. Espero de coração que o título deste post seja desmentido pela história.

PS: Mantenho neste post a grafia que eu uso para o nome Muammar Kadhafi assim como a usada por Pepe Escobar, citado (Gaddafi). Como eu disse em post anterior, pode-se usar Muammar Kadhafi, Muamar Gaddafi, Mu'ammar al-Qadhdhafi, Muamar Gadafi, Muammar al-Kadhafi etc, pois as possibilidades de grafia do nome do ex-líder líbio são muitas.

*Já sobre o tema Muammar Kadhafi, as acusações de terrorismo que pesam contra ele, especificamente a explosão do avião da Pan Am sobre a cidade escocesa de Lockerbie, em 1988, os julgamentos, as teorias e versões sobre o fato, recomendo o texto de Vladimir Aras, soteropolitano, membro do Ministério Público Federal: Kadafi e o atentado de Lockerbie

*Atualizado às 15:49

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Émerson Leão está de volta e é o novo técnico
do São Paulo

A missão óbvia do treinador será levar o time a uma das vagas à Libertadores. Se o time ganhar motivação com o novo comandante, deve ultrapassar o oscilante Fluminense e conquistá-la.


Reprodução
Leão é um personagem que faz falta no futebol, onde, como quase tudo hoje em dia, tudo é politicamente correto. O tipo general do técnico é uma das coisas divertidas no esporte, principalmente nas coletivas.

Acho que Leão tem muitas semelhanças com Felipão. Ambos são vencedores, e os dois são temidos pelos jogadores nos clubes onde desembarcam. E correm o risco de não terem mais clima para trabalhar, se não adotarem uma postura um pouco menos beligerante. Senão, chegará um dia em que não haverá um atleta na face da Terra que queira trabalhar com Leão e Felipão.

Mas os próprios torcedores são-paulinos gostam de Leão, de modo geral. Segundo muitos deles, foi o treinador que montou o time que veio a ser campeão mundial em 2005. Na época, lembro do então ténico Paulo Autuori que, tendo conquistado o título na final contra o Liverpool, declarou que a conquista era também de Émerson Leão.

Dos títulos de Leão, o mais espetacular e bonito foi o Brasileiro de 2002 com o Santos, quando o clube saiu de uma fila de 18 anos numa final antológica com o Corinthians de Parreira com duas vitórias (2 a 0 e 3 a 2). Com o Alvinegro da Vila, Leão ganhou também a hoje extinta Copa Conmebol de 1998, conquistada numa final dramática contra o Rosário Central na Argentina que terminou 0 a 0. Sua passagem pelo Santos em 2008, porém, foi fracssada. Outro grande título do treinador foi o Brasileiro de 1987 pelo Sport.

Depois de uma fase bem-humorada na carreira (ele próprio já disse que trabalhar com Robinho e Diego em 2002 fez com que se tornasse uma pessoa mais tolerante e alegre), Leão voltou ao seu estilo de sempre. O último título que conquistou no futebol, aliás, foi o Campeonato Paulista de 2005, justamente com o São Paulo. Porém sua última passagem em um clube do país, o Goiás, no ano passado, foi desastrosa.

Lusa sobe
Notícia digna de nota foi a ascensão da Portuguesa para a Primeira Divisão em 2012. Parabéns à Lusa, que caiu duas vezes para série B. Em 2002 o time foi rebaixado e voltou apenas em 2007. Mas ficou apenas um ano na elite, voltando a cair em 2008. Três anos depois, o velho e tradicional clube está de volta. Vamos ver se para ficar.

Atualizado às 15:55

domingo, 23 de outubro de 2011

Uol tenta desmoralizar o Enem


Notícia publicada no portal Globo.com
às 13:59: “O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio 2011, o Enem, é ‘Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado’. Os textos de referência são os artigos ‘Liberdade sem fio’, da revista ‘Galileu’ e ‘A internet tem ouvidos e memória’, do portal Terra. Há ainda uma tirinha do cartunista André Dahmer, da série ‘Quadrinhos dos anos 10’.”

De acordo com O Globo, “A informação contraria o boato de que o tema da redação teria vazado neste sábado (22). Segundo estudantes de Petrolina, em Pernambuco, a proposta da banca relacionava 'o povo indígena e a Justiça brasileira'. O Ministério da Educação (MEC) já havia negado, ontem, o vazamento. O órgão assegurou que as provas estavam lacradas sob a proteção do Exército.”

Repercussão no Uol às 15:08: “O jornal O Globo em seu site divulgou o tema da redação do Enem 2011: ‘Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado’. A nota foi publicada no site com horário de 13h59 - a reportagem do Uol visualizou a matéria pela primeira vez às 14h34. Os primeiros candidatos só poderiam começar a sair dos locais de prova às 15h”.

A matéria do Uol cita o Ministério da Educação e diz que, “Segundo a pasta, isso não configura quebra de sigilo da prova, uma vez que o tema foi divulgado depois de o início da mesma. Para o MEC, o fato não configura falha na segurança”.

O que a matéria do Uol quer sugerir e incutir na cabeça das pessoas, pelas entrelinhas, é: o fato configura falha na segurança.

O que eu quero observar com este post é o seguinte: a necessidade que a mídia tem de atacar o Enem é cristalina. Porém, apesar desse esforço, até a notícia do site do Globo reconhece, como mostrado acima (vou repetir), que a “informação contraria o boato de que o tema da redação teria vazado neste sábado (22)”. Isso porque, como vimos, segundo O Globo, estudantes de Petrolina, em Pernambuco "disseram que a proposta da banca relacionava ‘o povo indígena e a Justiça brasileira’”, o que não se confirmou.

Referindo-se à matéria do Globo, O Uol manteve durante boa parte do domingo a informação na home do portal com a chamada “Jornal divulga proposta de redação do Enem antes da liberação dos candidatos”. Ou seja, o intuito óbvio é colocar o sistema Enem sob suspeita, embora seja uma forçada de barra.

De acordo com a matéria do Uol, "um aluno que estava dentro de um local de prova passou o tema" à reportagem. Eu pergunto: por que esse aluno tinha tanto interesse em passar a informação à reportagem? Quem é esse aluno?

Esse é um tema para se refletir. O Enem desagrada muita gente poderosa que quer o Estado longe da educação.

sábado, 22 de outubro de 2011

E o mundo não se acabou – Adriana Calcanhotto

E assim chegamos ao sétimo dia, sábado 22 de outubro, e o mundo não acabou. Amanhã o sol entra em escorpião. Cantemos o samba (composto por Assis Valente).





Enviado pelo amigo Flávio Munhoz, a propósito do post anterior

Atualizado à 00:46 de 25/10/2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Tenho certeza de que o mundo não vai acabar hoje


Este visual pode aparecer no sábado, ou não

Amigos, este post é só para avisar a todos vocês que o mundo não vai acabar hoje, 21 de outubro de 2011, Ok?

O engenheiro civil aposentado Harold Camping, presidente de um grupo evangélico cristão na Califórnia (EUA) chamado Family Radio, havia profetizado o fim dos tempos para 21 de maio. Não rolou. Aliás, o mesmo grupo de adoradores do juízo final já tinha errado sua primeira previsão (se quiser perder tempo, relembre aqui), segundo a qual a Terra iria acabar em 1994. Não acabou em 94 nem em 21 de maio de 2011 e o cara resolveu marcar nova data, hoje.

E tenho convicção de que os torcedores da Portuguesa verão seu time na primeira divisão em 2012. Acreditem!

Se o Corinthians estiver na Libertadores no ano que vem, dizem alguns que o risco de o mundo acabar aumenta. Isso porque existe a crença de que o apocalipse, nas Escrituras, precede esse título do Timão. Porém, para outros, se o Alvinegro do Parque São Jorge ganhar a Libertadores, não será o mundo que vai acabar, e sim a graça do futebol!

Enfim, prezados, há coisas que, acredito, vão acontecer com certeza antes do fim do mundo. Nas artes, como o planeta não acabará hoje, em 2012 Woody Allen lançará um novo filme, por exemplo. O que acho ótimo, porque, como já ficou claro neste blog, Woody Allen “é que nem pizza: mesmo quando é ruim, é bom”.

Na questão tributária, creio que o IPI vai ser majorado para os carros importados, apesar de o Supremo Tribunal Federal ter suspendido o aumento imediato (notícia de hoje). É que o ministro Marco Aurélio achou por bem fazer respeitar o princípio da nonagesimalidade (o tributo só pode entrar em vigor 90 dias após ser instituído por lei, e parece que o IPI pode ser considerado uma contribuição social – estarei errado? –, como me ensinou um meu amigo e professor tributarista). Mas que vigorará, vigorará (*Por e-mail, meu amigo e professor tributarista esclarece a questão do julgamento do STF - veja comentário 4, clicando no link "comentários" deste post, abaixo - atualizado às 17:46).

Finalmente, consultei o Climatempo. Como o mundo não vai acabar nesta sexta-feira, teremos um dia aprazível no sábado. “Sol com algumas nuvens. Não chove” (a foto acima é uma tentativa de previsão do tempo), e a temperatura vai variar entre 12° e 28°.

Já na editoria de notícias internacionais, com o perdão da pieguice, o mundo acabou foi para Muammar Kadhafi, Muamar Gaddafi, Mu'ammar al-Qadhdhafi, Muamar Gadafi, Muammar al-Kadhafi etc. (As possibilidades de grafia do nome do ex-líder líbio são muitas.)

Mas sobre esse tema, Líbia, eu falarei em outro post em breve. Prometo, já que o mundo não vai acabar hoje.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Santos 2 x 0 Botafogo

Esta semana, alguns santistas lembraram do fatídico título brasileiro ganho pelo Botafogo em 1995, no Pacaembu (eu e outros santistas estávamos lá), quando, com um empate em 1 a 1, sob arbitragem de Márcio Rezende de Freitas, o time carioca ganhou o Brasileirão. Esses santistas não vão jamais perdoar o Botafogo de Túlio e do goleiro Wágner por aquele jogo em que o Santos tinha jogadores que mereciam ser campeões, principalmente Giovanni, Marcelo Passos e o goleiro Edinho.

Outros da nação santista, os mais anticorintianos, chegaram a sugerir esta semana a hipótese de o Alvinegro da Vila amolecer para o time de Caio Júnior, que, se ganhasse, teria chegado à liderança do Brasileirão de 2011 e estaria um ponto à frente do Corinthians, faltando oito rodadas para o fim do campeonato.

Os amigos corintianos, por outro lado, estavam na expectativa: O Santos vai jogar ou entregar?

Como santista, não me identifico definitivamente com nenhuma das duas posições acima (contra o Botafogo ou contra o Corinthians). Porque o Santos hoje (ontem) tinha que jogar. E porque:

1) a culpa do roubo de 1995 não é do Botafogo. Havia um problema político entre Santos FC e CBF, que estava determinada a não deixar o Santos ser campeão. Eu perdôo o Botafogo de Garrincha e Nilton Santos, um time que foi tão grande e ganhou tão poucos títulos nacionais: apenas a Taça Brasil de 1968 e o Brasileiro de 1995, naquelas circunstâncias;

2) eu nunca consegui torcer contra o meu time, independentemente dos interesses de qualquer rival. Não vou torcer para o Santos perder do Botafogo para o Corinthians se dar mal. O problema de Botafogo e Corinthians não tem nada a ver com o Santos. O gol de Neymar hoje (ontem, pois já passa da meia-noite) já vale o ingresso. Gol de craque, de bico.

O Botafogo que resolva seus problemas, mas não na Vila Belmiro.

Veja os gols de Santos 2 x 0 Botafogo (preste atenção ao golaço de Neymar):

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O humor de Chico Buarque

Entre os vários pontos da ótima entrevista de Chico Buarque à revista Rolling Stone Brasil de outubro de 2011, que está nas bancas, destaque para o humor. Os assuntos tratados nela são vários (trabalho, inspiração, literatura, música, política, intimidade e fama, a irmã Ana de Hollanda, os presidentes Lula e Dilma, a relação com Caetano Veloso etc), mas destaco o senso de humor de Chico porque é digno de nota, e porque dei boas risadas lendo a entrevista.

Perguntado, por exemplo, se os fãs pedem conselhos a ele na rua, “esperando que você mude a vida deles”, o compositor de “Construção”, “As vitrines”, “Carolina”, “Te perdôo”, “Morro Dois Irmãos”, “João e Maria” e uma infindável lista de obras-primas responde: “Pode acontecer. Se eu ficar parado num lugar, pode acontecer. Por isso estou sempre andando... [risos]. Evito que as pessoas venham me pedir conselho ou opinião. Mas geralmente o que pedem mais é autógrafo. Agora, mais que autógrafo, são as fotos. Fora isso, eu não fico parado.”

Sobre “um cara da revista Veja” que o persegue, devido, segundo ele, a “um problema de muitos anos, uma questão doentia de uma revista contra um artista”, Chico diz: “Parece que o cara que manda nessa revista tem ambições literárias”, mas, conclui o próprio compositor após contar que leu um livro do tal jornalista: “o melhor que esse cara tem a fazer é ser editor da revista Veja”.

Sobre a competitividade de Caetano Veloso: “Outro dia ele viu uma foto minha, ficou com inveja da minha barriga e está criando uma maior do que a minha [risos]”. O engraçado é que o próprio Chico Buarque se diverte com suas piadas (que é, aliás, o que faz uma piada ser engraçada).

O humor, aliás, não está apenas nesta ou outras entrevistas de Chico Buarque. Várias de suas canções trazem situações dramáticas (ou não) permeadas pelo humor. É o caso, por exemplo, de “Samba do grande amor”, aquela que tem esses versos:

"Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
"

Ou uma bem antiga (“Jorge Maravilha”), que, dizia a lenda, teria sido composta em homenagem à filha do general Ernesto Geisel: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”. Mas, como você pode ver no vídeo abaixo (o segundo), o próprio Chico nega veementemente essa versão.

Um humor que não se pode dizer simplesmente que descende do humor de Noel Rosa, porque, na minha opinião, esse aspecto tem muito a ver com o caráter da pessoa do que com intenções estéticas. Mesmo que tenha sido (e foi) influenciado por Noel, Chico não incorporaria esse elemento em sua obra se não fosse, ele mesmo, uma pessoa com essa cartacterística. De qualquer maneira, há essa similaridade notória entre as obras de Chico e Noel.

Enfim, a entrevista de Chico Buarque à Rolling Stone é muito boa, inclusive porque as entrevistas dele são raras. Quando aparece, falando ou cantando, Chico é sempre bem-vindo, mesmo que seus últimos trabalhos não tenham a exuberância e a genialidade que sempre marcaram sua maravilhosa obra musical e poética.

Veja os vídeos das duas canções citadas


"Samba do grande amor"




"Jorge Maravilha"

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ministério do Esporte, politica e Direito


1) O Ministério do Esporte

Orlando Silva - Foto: Renato Araújo ABr
É fato que a chamada grande imprensa não acredita (quando não lhe convém) no mandamento constitucional da presunção de inocência, que é, aliás, muito anterior à nossa Constituição, e remonta à Revolução Francesa.

Segundo Flávio Mirza, professor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da UERJ e professor da Universidade Candido Mendes: “De um lado, regra processual, segundo a qual o acusado não é obrigado a fornecer provas de sua inocência, que é presumida; de outro, regra de tratamento, impedindo a adoção de medidas restritivas da liberdade do acusado, ressalvados os casos de absoluta necessidade.”

Mas direitos como esse, para nossa mídia, são mero detalhe, a não ser quando cabem em seus conceitos de liberdade de expressão. Isso tudo já é tão sabido que se torna enfadonho repetir. No caso do ministro do Esporte, Orlando Silva, mais uma vez o ônus da prova [da inocência], com o auxílio das manchetes, cabe ao acusado. Falar de Veja, uma revista reconhecida por inventar informações, que usa de artifícios ilegais para obter informações? Vou me privar desse incômodo, pelo menos neste post.

Mas não é o caso também de botar a mão no fogo pelo ministro Orlando Silva, do PCdoB. Partido que, apesar de ser fiel aliado do governo Lula e agora do governo Dilma, tem se afastado de causas cidadãs. Por exemplo, com o deputado Aldo Rebelo, de São Paulo, cujo substitutivo do projeto de lei do chamado Novo Código Florestal é uma afronta tão grande aos conceitos preservacionistas e tão favorável à bancada ruralista no Congresso, que é indefensável sob qualquer análise sensata.

Voltando ao Ministério do Esporte, comandado desde 2006 por Orlando Silva, existem informações disponíveis sobre convênios estranhos há muito tempo, que permitiram repasses de verbas públicas a obscuras entidades (como igrejas, por exemplo) responsáveis por implantar núcleos de esporte do programa Segundo Tempo. Com uma rápida pesquisa na rede, o internauta acha coisas sobre isso.

Então, é simples assim: que se investigue. Se o ministro tiver culpa no cartório, que pague por isso. Se não, a mídia vai dar manchetes? Claro que não. Orlando Silva deveria continuar ministro enquanto as dúvidas não se dissipam? Nessas circusntâncias, em alguns países, as investigações são incompatíveis com a manutenção do cargo. Mas é inadmissível que Veja , com seu jornalismo de esgoto, se outorgue o direito de derrubar ministros com denúncias sem prova.

A FIFA e a Abril

Observação oportuna é a seguinte: uma simples visita ao site oficial da FIFA dá uma informação relevante: a editora Abril, com logotipo e tudo, é “Apoiadora oficial para mídia impressa” da Copa do Mundo de 2014. Para comprovar isso, basta acessar o site, neste link, e ir ao fim da página exibida. Lá você verá os logos dos parceiros da FIFA e da "apoiadora" Abril.

2) Deputado Romário, Messi e Pelé

Foto: José Cruz - ABr
E, para relaxar, já que estamos em esporte e política, não custa lembrar a entrevista coletiva do deputado federal Romário (PSB-RJ) nesta terça-feira, no Centro de Imprensa do Pan, em Guadalajara. Perguntado sobre a propalada comparação de Lionel Messi com Pelé, ele respondeu: "Não se pode dizer que está na história do futebol um jogador [Messi] que ainda não ganhou uma Copa do Mundo pelo seu país. Primeiro, ele tem que tentar ser um Maradona. Depois, um Romário. E depois, Pelé".

Concordo com o deputado Romário, que está fazendo um trabalho surpreendente na Câmara dos Deputados, para quem dele não esperava nada.


Lisboa, Nova York, Roma, Madrid... A indignação está em toda parte


A violência em Roma (não por acaso, o país governado por Berlusconi) e o movimento pacífico e impressionante em Portugal e Espanha no sábado, 15, estão aí para ser registrados e serão páginas da história contada no futuro. Os jovens e excluídos pelas leis do “mercado” reagem contra a opressão, principalmente no países cujas economias sucumbem. Os líderes? São os anônimos das redes sociais.

Muito sintomática a declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, em Pequim, Liu Weimin: "Nós sentimos que existem questões levantadas por esse movimento que devem ser avaliadas". O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban ki-moon, afirmou: "Olhar apenas para os assuntos econômicos internos não dará respostas à essa crise econômica internacional, que é muito séria". Nesta segunda-feira, 17, completou-se um mês do início do movimento Occupy Wall Street.  

Veja alguns vídeos das manifestações dos indignados:

Reportagem e depoimentos em Portugal (manifestações em 15 de outubro)



Manifestação em Lisboa



Puerta del Sol - Madrid


Roma (70 feridos, três gravemente)


Times Square (Nova York) – 70 presos

domingo, 16 de outubro de 2011

Mês do mestre!

LITERATURA


Por José Arrabal

Dentre todas as profissões, entendo que três são as fundamentais.
Fundamental é ser Médico, ao tratar da saúde da vida.
Fundamental é ser Orientador Religioso, ao cuidar do encontro com Deus.
Fundamental é ser Professor, ao ensinar a viver.
As demais profissões, com suas evidentes importâncias, são devedoras dessas três que considero fundamentais.

A
inda que homem de variados ofícios, em minha trajetória profissional sinto-me sempre Professor. Leciono desde os dezessete anos de idade, quando pela primeira vez entrei em sala de aula para alfabetizar adultos carentes num curso gratuito de Supletivo. Creio, entretanto, que também ensino ao exercer minhas atividades de Jornalista. E há em mim claro propósito de educar, ensinar a viver, nas ocasiões em que sou Escritor às voltas com ensaios, prosa de ficção ou poesia.

Este é o mês do Mestre. No quinze de outubro comemoramos o Dia do Professor. Vastas, intensas e agradecidas são as recordações afetivas que trago de meus Mestres.

Sem jamais esquecer, lembro com evidência da ocasião em que mamãe levou-me ao encontro daquela que iria me alfabetizar, bem no limiar dos anos cinqüenta do século passado.

Em silêncio ouvi a conversa das duas, de minha mãe e da Mestra. Desta, logo me agradaram o sorriso, mais seu nome rápido e amplo – Zoé - que depois soube por meu pai ser, em grego, Vida.

(Estranho acaso das significações: em meus seis primeiros meses de existência, tive por mãe-de-leite uma senhora libanesa de vastos seios chamada Málake, que, em árabe, quer dizer Liberdade. Aos seis anos, vi-me entregue à Vida, em sua sala de aula no Grupo Escolar Monteiro da Silva, na cidade capixaba onde nasci, Mimoso do Sul. Vida & Liberdade que em mim se associam de modo essencial.)

A Professora, ao ensinar, não nos trouxe o B-A-BÁ. Com firme intuição de moderna educadora, em sala de aula lia histórias para nós. Lia com vivo sorriso, voz clara, gostosa encenação. Era um bocado divertido ouvir suas histórias.

Se nos percebia mais atraídos por alguma palavra do enredo da história lida, escrevia no quadro negro e em muitos modos de escrever - com letra de forma, manuscrita, maiúscula e minúscula – essa palavra, nos despertando a atenção para esses seus desenhos caligrafados na lousa.

Daí passávamos a repetir com a Professora a tal palavra, a princípio em voz baixa, num sussurro que progressivamente se elevava e nos levava à voz alta, quando, sob regência da Mestra, retornávamos ao sussurro de início. Então fazíamos do verbo registrado verso musicado com melodia parodiada de alguma canção bem conhecida de todos nós.

Assim brincávamos com as palavras em sala de aula.

Foto: Edu Maretti
Lembro bem, quando de uma das histórias ressaltou-se a palavra Caracol, que foi para a lousa toda encaracolada.

Claro que nos encaracolamos na sala, numa andança coletiva a princípio vagarosa até corrermos repetindo de múltiplos modos caracol-caracol-caracol.

Passados três meses de aulas, eis que num sábado, um pouco antes da hora do almoço, de olho em páginas de jornal que cobriam o piso recentemente encerado da sala de minha casa de infância, intrigado, interroguei a meu pai:

- O que é epóca? – pronunciei assim, com a tônica na segunda sílaba.

- Epóca? – estranhou papai.

- Sim, Epóca... Aqui! – apontei a palavra registrada no jornal.

- Época ! Época ! – corrigiu papai e, feliz, levantou-me do chão, seguro por suas mãos para o melhor abraço de minha vida. – Ele já sabe ler! Ele já sabe ler! – e logo levou a notícia a mamãe, com tamanho entusiasmo que a bem da verdade livrou-me da vergonha de ter lido errado, certo de que não era mau reconhecer e corrigir um erro.

Ao almoçar, honraram-me com o melhor pedaço de frango e bem maior fatia de pudim na sobremesa.

Na segunda-feira, papai e mamãe deram-me de presente uma caixa com um tabuleiro e muitas peças de madeira, meu jogo de palavras cruzadas que tenho comigo até hoje junto de outras lembranças de infância, relíquias preciosas de minha história pessoal, evidentes testemunhas de que viver é bom e aprender também, com liberdade e prazer.

Palavras cruzadas que levei para a escola já no dia seguinte e com elas vivenciamos feliz farra, através de brincadeiras sugeridas por Dona Zoé, o que mais nos encaminhou à arte de escrever.

Entendo que assim cresceu em mim o gosto por ler e escrever, no seio do prazer de recordar histórias da vida vivida. Bons sabores que sempre me encaminham, agradecido, a homenagear os Mestres que tive no decorrer de minha formação cultural, grato igualmente a todos os que me ensinaram algum lance de dados para o aprimoramento da vida.

Verdade é que, se aprendemos a viver com nossos cinco sentidos, sempre há o que aprender com alguém mais, além dos Professores nas salas de aula. Para tanto basta termos nossos sentidos receptivos, livres de preconceitos excludentes. Outubro é o mês do Mestre.

Mês de todos, se vivemos associados por valores fraternos e solidários.

Decerto bem melhor será a vida, ao nos cumprimentarmos uns aos outros deste modo, desde a manhã:

- Bom dia, Professor!

xxxxxxxxxxxxxxx

José Arrabal é professor universitário, jornalista, escritor. Autor de “Nacional e o Popular na Cultura Brasileira: Teatro” (Editora Brasiliense), “Sherlocks on the Rocks nas Diretas Já”, “A Sociedade de Todos os Povos” (Editora Manole), “A Princesa Raga-Si”, “Lendas Brasileiras, Vol 1/Vol. 2” (Editora Paulinas), entre outros.


Texto publicado originalmente na revista Direcional Educador/Out.-2011 [josearrabal@uol.com.br]

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Neymar e os “gênios”

Maior craque do futebol brasileiro atual, menino é vítima de estratégias burras, falta de sensibilidade e intreresses intermináveis

Fotos:  Divulgação/Santos FC
O craque...
Na partida de ontem, em que o Atlético-MG venceu o Santos por 2 a 1, mais uma vez o garoto Neymar virou a polêmica, ou seja, manchete. Direto ao ponto: achei (não tem outro termo) uma imbecilidade sua escalação no jogo. Em ótimo texto do jornalista Marco Antônio Astoni em seu blog (Neymar e nós), enviado pelo amigo Olavo do Escanteio Curto, que revela um episódio emblemático da personalidade do jovem astro (sensível e humano, e não um “monstro”), ele fala da pressão “monstruosa” sobre o jogador (*), exercida por dirigentes, torcida, patrocinadores, empresários, agentes. Eu incluo aí o treinador Muricy Ramalho.

Há cerca de um ano, Dorival Júnior caiu porque foi incompetente e quis aparecer em cima de Neymar, adotando postura autoritária, arcaica e burra (relembre aqui), mas apoiada pela mídia moralista.

Maratona insana

Neymar fez ontem seu 59º jogo no ano, média de quase seis por mês na temporada, fora treinos e viagens. Na terça-feira, atuou pela seleção brasileira, digo, balcão de negócios, e apanhou, como sempre, dos mexicanos. A viagem de volta ao Brasil foi turbulenta e cansativa. O avião fretado por alguns clubes para trazer os jogadores do México chegou ao Brasil na quinta-feira. E mesmo assim o sábio Muricy Ramalho mandou o jogador a campo. Um gênio, esse Muricy. Pena que nunca admite em errinho sequer.

Antes, de maneira que me pareceu cínica, o treinador falou sobre a disposição de Neymar: “Muitas vezes, precisamos dar um tempo, tirá-lo um pouco do campo. Se deixar, ele joga todo dia”, disse o professor. Falácia, retórica e cinismo. Então por que o mandou a campo? Depois – como é humano, embora patrocinadores, o técnico, torcida, clube etc entendam que ele é um robô – o garoto foi expulso numa partida em que sofreu, segundo li, 12 faltas!

...e o gênio
E o senhor Muricy Ramalho ainda acha que a culpa é do garoto? Não é só cansaço físico. O esgotamento mental, o estresse, também atinge um atleta. Se os patrocinadores exigem a presença do menino em campo sempre, a estratégia se revelou um equívoco estúpido ontem. Com estratégia mais inteligente, Neymar poderia ter ficado no banco (vide Adriano Imperador) e ter sido paparicado o tempo todo pelas câmeras. Teria sido poupado de mais de dez faltas, poderia ter até jogado um pouco e estaria bem para pegar o Grêmio.

Mitificação

Mas prevaleceu a estratégia (de marketing, da comissão técnica, dos interesses gerais) de mandá-lo ao jogo. E o Muricy, ao contrário do que quer fazer parecer, é subserviente aos interesses. Sua valentia só se revela com seus comandados e quando resolve dar patadas em jornalistas que não levantam a bola para ele.

Querem saber de uma coisa? Estou farto da mitificação dos treinadores de futebol, que, me parece, começou com Telê Santana, que perdeu duas Copas do Mundo tendo nas mãos times magníficos – ainda vou escrever sobre Telê. Antigamente, técnico era técnico e os artistas é que estavam em primeiro plano. Essa elevação dos “professores” à categoria de astros é um dos maiores problemas do futebol atual. Muricy, claro, é um bom técnico, apesar de seu estilo parreirista e teimoso, que é tema para outro post.

Para terminar, estou começando a achar que Neymar terá mais paz na Europa, onde poderá dividir o brilho de sua estrela com outros da constelação do futebol. Aqui, não sei até que ponto ele vai suportar a pressão, as “estratágias” e a burrice.

*Atualizado às 14:37 (15/10/2011)

Pensamento para sexta-feira [21] – Imagem



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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Para onde vai o Palmeiras? – o caso João Vítor

Cinco meses atrás escrevi um post intitulado “Para onde vai o Palmeiras?”. Embora tratasse do impasse que rondava o clube na questão do contrato com a WTorre para a construção da arena, havia outra realidade: “Eliminado do Paulistão pelo rival Corinthians e virtualmente fora da Copa do Brasil após a incrível derrota de 6 a 0 que levou do Coritiba, não passa um dia sem polêmica. Sinceridade de Marcos, protestos da torcida, brigas internas no elenco e entre conselheiros, questionamentos ao antes unânime Luiz Felipe Scolari... Para onde vai o Palmeiras?”


O autoritário e o rebelde

Quase um semestre depois, a interminável crise do clube chegou a seu ápice com a covarde agressão ao volante João Vítor por marginais travestidos de torcedores. A pífia resposta do presidente Arnaldo Tirone e do clube se resumiu a uma nota oficial neutra – que só contribui para aumentar a revolta do elenco – em que afirma: “A direção do Palmeiras vai aguardar as investigações policiais para se pronunciar novamente sobre o caso”.

Como vários comentaristas já disseram, uma hora dessas vai acontecer um homicídio e aí talvez alguém tome uma providência. Vágner Love foi agredido por marginais em uma agência bancária e saiu do Palestra. Hostilizado, Diego Souza deixou o clube e hoje brilha no Vasco. Quem vai querer jogar no Palmeiras?

Veja a agressão a João Vítor:



Contratado em junho de 2010, Felipão não conseguiu nada no Palmeiras a não ser rachar o elenco, provocar revoltas com sua posição autoritária de eterno acusador e, diz-se, hoje, a maioria do elenco o detesta.

Após o episódio João Vítor, Kléber e o treinador teriam batido boca em tom elevado. Segundo o iG, o atleta “levantou a voz contra o técnico, que chamou os jogadores de covardes por não enfrentarem a torcida. ‘Vocês estão em 25 aqui e eles estão em 15 lá’”, teria dito o treinador. "Eles tentaram te agredir? Eles tentaram queimar sua casa? Esses caras andam armados", teria devolvido o atacante. "Não é possível que tudo aqui sobre para os jogadores. Sempre a culpa é nossa”, disse Kléber. Que está, nesse caso, coberto de razão. Scolari teria dito à direção que ou sai Kléber ou ele. O atacante foi cortado da delegação que viajou ao Rio para enfrentar o Flamengo.

Ainda de acordo com o iG, “a frase ‘rezem para não cair’ é ouvida nos corredores do clube”. Acho improvável que, com 40 pontos, o Palmeiras seja rebaixado, pois o time tem 13 a mais que o primeiro clube na zona da degola. Mas a pergunta que fica continua sendo a mesma: para onde vai o Palmeiras?

A batalha pela CPI das emendas na Assembleia Legislativa de São Paulo

Dos três deputados petistas com quem conversei nesta terça-feira, 11, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), sobre suas expectativas em relação à aprovação ou não da CPI do chamado “escândalo das emendas”, um acha “difícil” (a aprovação), outro sorriu com ironia e deboche (ou seja, acha muito difícil) e um terceiro aposta em ganhar apoio dos insatisfeitos com o governo de Geraldo Alckmin. O PT diz ter 28 dos 32 votos necessários à aprovação da CPI.

Para lembrar, o tal escândalo foi instaurado depois que o deputado Roque Barbiere (PTB) disse, em entrevista ao jornal Folha da Região, de Araçatuba (SP), que de 25% a 30% dos parlamentares vendem as indicações de emendas. Há uma insinuação subliminar nos grandes jornais – não explicitada, mas dita nas entrelinhas – tentando confundir, incutir no cidadão comum que só lê manchetes ou análises superficiais a ideia de que as emendas são em si mesmas corrupção.

Não são, elas estão previstas na Constituição, é bom que o leitor saiba, apesar de dizer isso parecer didático demais. Citando a Agência Brasil: “Os deputados estaduais têm direito de apresentar anualmente, ao governo do estado, indicações para o repasse de até R$ 2 milhões em verbas para obras, hospitais e projetos de interesses de seus redutos eleitorais”.

O que está em discussão de fato é a suposta venda dessas emendas, com as quais os deputados teoricamente satisfazem as demandas de suas bases. Mas, como se sabe, as demandas que são satisfeitas não são necessariamente as das comunidades, bairros e cidades, mas as do capital que financia as campanhas. Daí o apoio de vários setores e movimentos sociais ao financiamento público das campanhas, em nome da transparência.

O deputado licenciado Bruno Covas (atualmente secretário de Meio Ambiente do governo Alckmin e pré-candidato à prefeitura paulistana) era esperado hoje no Conselho de Ética da Alesp para explicar sua declaração na qual admitiu ter recebido uma oferta de vender uma indicação de emenda.

Mas Covas não foi (porque oficialmente o convite não lhe foi entregue), e esse anticlímax virou objeto de bate-boca entre governistas e oposicionistas. Em resumo, o deputado Hélio Nishimoto (PSDB), presidente do Conselho de Ética, fez uma manobra para não convidar Covas. Os petistas protestam pelo fato de o neto de Mário Covas se esquivar de esclarecer o que sabe, usando o pretexto meramente regimental de Nishimoto. Ao invés de sua presença física, Bruno Covas apenas divulgou uma nota na qual usa de retórica e nada diz de concreto. Isso enfureceu os petistas. “Ele vai justificar através dessa notinha que teve [aprovados] R$ 8,5 milhões [em emendas] num único ano, sendo que nós [outros deputados considerados suspeitos pelo escândalo] não conseguimos nem R$ 2 milhões?”, questionou Enio Tatto (PT).

Para Adriano Diogo, “todos os fatos estão sendo gerados no Palácio [dos Bandeirantes], mas todos os 94 deputados somos denunciados”. “A Assembleia não tem para onde correr a não ser criar a CPI”, para salvar a reputação da Casa, argumentou o deputado. Não sei se esse apelo ao espírito de corpo vai funcionar. Pois, se abrir a Caixa de Pandora, vai sobrar pra muita gente.

Cá para nós. A estratégia oculta é desmoralizar a emenda parlamentar, que é constitucionalmente legítima, mas está sendo vendida como sinônimo de corrupção. É mais ou menos como aquela idéia (que só serve à direita) de que “os políticos são todos corruptos”.

Atualizado à 01:16

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A demissão de Rafinha Bastos da Band

Claro que o língua solta Rafinha Bastos não vai ficar desempregado. Mas, ao contrário do que achava o pessoal para quem seu afastamento na semana passada, devido ao episódio Wanessa Camargo (leia aqui), era encenação, sua demissão da Band parece ter se consumado.

As colunas especializadas dizem hoje que ele pediu demissão da emissora, porque "não saberia como se comportar no CQC" após a polêmica, segundo a coluna de Flávio Ricco, do Uol. O Estadão informa que, "nesta segunda-feira, 10, Bastos já nem era mais considerado parte integrante do time do programa".

Ainda de acordo com O Estado de S. Paulo, Rafinha teria enviado um e-mail à reportagem do jornal dizendo que sua demissão "é a mais pura verdade. Tenho muito a dizer, mas este não é o melhor momento".

Como eu disse acima, ele não ficará desempregado. Record, como RedeTV! e SBT disputariam seu passe. Nesses casos (como quando um treinador de futebol famoso cai de um time) não se sabe se o cara pediu demissão ou foi demitido. O fato é que, dessa vez, ele se queimou, ou pelo menos ficou chamuscado, e vai ter que domar a sua língua.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Faltando dez rodadas, Brasileirão chega à reta final esvaziado pela CBF

Uma constatação paradoxal. Apesar de muita gente querer o fim dos campeonatos estaduais, estes são hoje – e em parte a Copa do Brasil – o momento em que o torcedor dos grandes times podem ver a força máxima, os craques, em campo.

Foto: na seleção, não pegou Flu
Foto: Wagner Carmo VIPCOMM

O Campeonato Brasileiro, em tese, é o mais importante do país. Em tese. Na prática, fica espremido pelo calendário do segundo semestre, invadido por uma intolerável sequência de jogos da seleção brasileira, digo, balcão de negócios. A competição que deveria ser a coroação do futebol nacional é relegada pela CBF a uma quase desimportante e às vezes enfadonha sequência de jogos.

Neste domingo, a 28ª do Brasileiro, em sua reta final, com lutas renhidas em cima e em baixo da tabela, reservava um Flamengo x Fluminense empolgante, ambos lutando pelo G-4 e quiçá o título, e um Santos x Palmeiras sempre tradicional, com tabu em jogo, apenas para citar dois exemplos. Mas Neymar, Ronaldinho Gaúcho e Fred estão na seleção, assim como outros (Dedé do Vasco, Jeferson do Botafogo, Lucas do São Paulo).

Craque enfrenta maratona insana
Foto: Ricardo Saibun - Santos FC
Não à toa, com o calendário burro e (não tem outra explicação) mal intencionado, o Alvinegro da Vila não brilhou no Brasileirão das últimas duas temporadas, embora tenha levantado quatro títulos (dois paulistas, uma Copa do Brasil e a Libertadores) em 2010 e 2011. Os chefões da CBF preferem que o Brasileirão seja esvaziado e assim continuará. Na semana passada foi divulgado o calendário de 2012, que será igual ao deste ano. Em 2011, Neymar começou o ano, já em janeiro, na seleção sub-20, disputando pelo balcão de negocinhos o Sul-Americano da categoria. A maratona à qual o jovem craque é submetido é insana, mas o espetáculo (lucros da CBF, TV Globo etc) tem que continuar, não é mesmo?

E, por essas e outras, cada vez mais pessoas desprezam ou torcem contra o time que outrora se chamava Canarinho. O torcedor prefere seu clube, e os clubes são os maiores prejudicados pelo balcão de negócios que a CBF chama de seleção brasileira.

Corinthians líder

Não digo tudo para diminuir ou desmerecer a liderança conquistada pelo Corinthians após bater o bom time do Atlético Goianiense por 3 a 0, com a facilidade com que se tira o doce da mão de uma criança. Com a vitória corintiana e a derrota do Vasco para o Inter (3 a 0), o tropeço do Botafogo (2 a 2) ante o Bahia e o empate do São Paulo (3 a 3) com o Cruzeiro quarta-feira passada, o time do Parque São Jorge reassume a liderança em um momento chave. Só o Flamengo, que derrotou o Fluminense (3 a 2), que eu achava fora da briga semanas atrás, reentrou na briga.

Veja os gols da fácil vitória corintiana:




Os próximos jogos dos times que disputam o título, no meio de semana, são:

São Paulo x Internacional
Corinthians x Botafogo
Flamengo x Palmeiras
Atlético-PR x Vasco
Fluminense x Coritiba

A propósito, os clubes que têm atletas na seleção vão usá-los no dia seguinte a mais um amistoso (contra o México) sem a menor importância ou siginificado do time de Mano Menezes? Mas, enfim, deixando as consequências da politicalha de lado, o Corinthians (51 pontos) tem boa chance de aumentar a vantagem sobre Vasco (50), São Paulo (47) e Botafogo (46). O Flamengo, que pega o desmotivado Palmeiras, pode encostar, caso o Timão tropece no sempre perigoso Botafogo, que adora engrossar em São Paulo.

A julgar pela 28ª rodada, o Alvinegro do Parque São Jorge, caso aumente a vantagem na 29ª, já pode começar a ser apontado como favorito. Ou não?

Santos 1 x 0 Palmeiras e fim de tabu

E o Santos, finalmente, bateu o Palmeiras, a asa negra, após sete jogos. Desfalcados (o Peixe sem Neymar, Elano, Arouca, Felipe Anderson, Ganso e outros; o Verdão sem Valdívia, Kléber, Luan e Marcos), fizeram um jogo fraco. Mas não podia se esperar muito com o Santos cumprindo tabela e o Palmeiras quase isso. O time de Felipão, apático, não parece capz de reação a partir da derrota na Vila Belmiro.

A última vitória peixeira havia sido na semifinal do Paulista de 2009. Pelo Brasileirão, fazia cinco anos que o Alviverde não perdia do rival.

Aí abaixo, o 20° gol de Borges no Brasileiro, que acabou com o tabu



Atualizado às 15:20

domingo, 9 de outubro de 2011

Guga e Moyá, para matar a saudade

Gustavo Kuerten venceu o espanhol Carlos Moyá num jogo de exibição (Desafio Internacional de Tênis) no sábado, 8, em São José, região metropolitana de Florianópolis, por dois 2 sets a 1 (6/4, 2/6 e 6/3). Mas em alguns momentos deu para matar a saudade do grande Guga com sua esquerda espetacular e única. Só vi o vídeo tape hoje.

Reprodução/ Sportv
Como escrevi aqui, assim como os domingos nunca mais foram os mesmos depois da morte de Ayrton Senna, o tênis para mim perdeu muito de seu encanto depois que Guga abandonou as quadras em 2008, por problemas físicos. O tenista que conquistou três vezes Roland Garros, tem um total de 20 títulos e ficou 43 semanas como líder do ranking mundial é inigualável, não só por seu jogo único, intenso e marcado por aquela esquerda impressionante, mas também por seu carisma e irreverência.

O auge de Guga foi o ano de 2000. Naquela temporada avassaladora , em que ganhou o bi de Roland Garros, o torneio de Santiago e os masters series de Hamburgo e Indianápolis, o ano terminou com a conquista antológica do Masters Cup realizado em Portugal. Para ganhar aquele título, ele bateu na sequência Yevgeny Kafelnikov e os monstros sagrados Pete Sampras e Andre Agassi.

Amigo do tenista brasileiro, Carlos Moyá, que encerrou a carreira em 2010, conquistou Roland Garros em 1998 e liderou o ranking da ATP em 1999 por duas semanas. Curiosamente, Moyá conquistou 20 títulos na carreira, como Guga.

Atualizado às 23:20

PS - (às 13:59 de 10/09/2011): Errata - em 2000, Guga conquistou o bicampeonato do Grand Slam de Roland Garros, e não o tri, como dizia o post (já corrigido). Ele levantou esse troféu em Paris nos anos de 1997, 2000 e 2001.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Occupy Wall Street contra o Tea Party
e o dedo de Al Gore


Reprodução
Saudemos o movimento Occupy Wall Street. Porque é uma reação ao Tea Party. E o combate aos dobermans da ideologia deve ser sistemático e incessante.

Mas o sentimento de euforia não pode ocultar o fato de que nada acontece nos Estados Unidos por acaso. Há pouco mais de dois meses, Al Gore – o democrata derrotado por George W. Bush nas eleições de 2000 – deu entrevista a um programa semanal importante de atualidades políticas, chamado Countdown, do apresentador Keith Olbermann, em que disse isso: “Nós precisamos ter uma primavera americana. Uma mudança não violenta, onde as pessoas das bases voltem a se envolver. Não no estilo do Tea Party. Há pessoas sinceramente aborrecidas com o Tea Party”, disse Al Gore na entrevista, que foi ao ar em 2 de agosto de 2011.

Al Gore, que não é bobo, já se posicionava então como liderança de um movimento de oposição àquele “financiado com o dinheiro semeado pelos bilionários de extrema-direita”, segundo suas palavras. E, claro, usando muito bem a idéia da primavera árabe que seduziu o mundo pouco antes.

E o democrata não ficava por aí. Citou a Fox News como um dos instrumentos que possibilitaram a criação dessa “agenda de direita”. A entrevista de Gore de dois meses atrás foi divulgada pela Current TV, canal de televisão independente dirigido pelo próprio Al Gore e pelo empresário Joel Hyatt.

O desencadear do movimento Occupy Wall Street como contraposição ao truculento Tea Party é auspicioso. Até porque, simbolicamente, confirma a terceira lei de Newton (desculpem a analogia), segundo a qual a toda ação corresponde uma reação. Mas é também necessário reconhecer – sob a premissa de que nada na chamada América do Norte se dá por acaso – que em tudo isso tem no mínimo um dedo de Al Gore. Ou seja, de parte significativa do establishment dos Estados Unidos. O que é uma evolução, considerando que Bush foi eleito graças a financiamento pesado da indústria armamentista norte-americana.

Em benefício do otimismo, e contra meu ceticismo (motivado por tragédias como a da Palestina), é importante dizer que, na velocidade da história hoje (Paul Virilio), com a aliança movimentos sociais + internet, as coisas podem estar mudando até mesmo nos Estados Unidos da América, oprimidos por uma crise econômica que não tem precedentes nem em 1929, porque a de hoje é mais profunda e global.

Ao ver a revolta nos EUA, não consigo tirar da cabeça a imagem (talvez arbitrária?) desses meninos dos condomínios que há por aí, meninos e meninas que, com 11, 12, 13 anos, não sabem sequer atravessar uma rua, pegar um ônibus, conversar com um mendigo, e quando vivem essas experiências é como se fizessem uma revolução.

Espero sinceramente que a “primavera americana” seja um pouco mais do que um movimento de reacomodação das insatisfações pequeno-burguesas dos Estados Unidos. Algo Anonymous, espontâneo, concreto. Até acho que pode ser, porque quando Barack Obama disse “Yes, We can”, muitos lá acreditaram, e talvez não estejam a fim de deixar de acreditar.

Para acessar a página do movimento, clique neste link: Occupy Wall Street

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Alemanha dos ingênuos e dos astutos


CINEMA/ NAZISMO

Vale muito a pena assistir ao ótimo filme Um Homem Bom, alugando ou comprando o DVD. Leia resenha (atualizado às 16:20 de 6 de outubro/2011)


Um homem tolo

Por Felipe Cabañas da Silva

Não dava muito por este filme, a não ser pela presença de Viggo Mortensen, este brilhante ator americano de pai dinamarquês que passei a respeitar depois de assistir a Senhores do Crime (2007), de Cronenberg. Mas achei um filme excelente, com mais uma atuação digna de nota de Mortensen.  

Viggo Mortensen e Jodie Whittaker no filme


Como Bastardos Inglórios, este é também um filme sobre a Alemanha nazista onde não há mocinhos e bandidos. Em Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino - 2009) há os violentos sanguinários e os violentos moderados, todos com alma selvagem.

Em Um Homem Bom, há os tolos e os astutos, todos apenas humanos. O escritor e professor de literatura John Halder é um intelectual brilhante que leciona na universidade e escreve um livro sobre um ato de eutanásia por amor (um homem ama uma mulher que tem um problema de saúde incurável e abranda seu sofrimento, ao que parece lhe dando veneno). Os responsáveis pela censura literária do Terceiro Reich se interessam pelo livro e passam a cortejar Halder, já que o nazismo era simpático à eutanásia.

Halder aos poucos vai se embrenhando nas teias do partido nazista, por não adotar uma atitude mais firme de recusa – na época (por volta do ano de 1935) ainda era tempo de sair da Alemanha, como muitos intelectuais fizeram – e termina na passividade completa. O personagem Halder é um exemplo de “homem das letras” que, por despreocupação ideológica e pela falta de atitude crítica, termina impotente frente às determinações de uma conjuntura política. Um ótimo filme que proporciona a reflexão de que literatura e literatos acríticos são facilmente cooptados.

* Felipe Cabañas da Silva é autor do blog Versejar (poesia)

Ficha técnica:

Um Homem Bom (Good - 2008 - Inglaterra, 96 min)
Direção: Vicente Amorim
Elenco: Viggo Mortensen, Jodie Whittaker,Jason Isaacs

Atualizado às 23:59

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Rafinha Bastos procurou e achou

Quero falar em poucas linhas, e sob dois pontos de vista, a respeito do caso do humorista Rafinha Bastos, polêmica da semana, afastado do programa CQC desta segunda-feira por ter feito há 15 dias uma piada mais do que grosseira sobre Wanessa Camargo. Disse ele sobre a cantora, que está grávida: “comeria ela e o bebê”.

1) Minha avó Emiliana costumava dizer: “quem procura, acha”. Incauto (duvido) ou consciente da influência das pessoas com quem mexeu, o humorista apenas deu continuidade à série de grosserias (e a intenção não é recordá-las aqui) que lhe servem como marketing, pois bobo ele não é e a imagem do post mostra que suas polêmicas estão de acordo com seus conceitos de humor. Só que a piada que motivou seu afastamento atingiu alvos mais poderosos do que seu objeto, pois Wanessa Camargo é casada com Marcus Buaiz, muito amigo e sócio de Ronaldo (ele mesmo, o Fenômeno). Daí à interferência de Ronaldo, garoto propaganda da Claro, uma das grandes anunciantes do país, é apenas uma consequência óbvia.

É claro que aí tem a questão cultural para a qual algumas pessoas chamaram a atenção no Twitter, como a advogada Regina Sampaio (@BrazilPalestine), que escreveu nesta terça, 4: “Enfim aprendi com o caso @rafinhabastos q vc pode tudo desde q ñ mexa com quem o capital acha importante”.

Verdade. Mas é também verdade que a insolência, a prepotência, as grosserias e a falta de respeito de Rafinha Bastos em algum momento tinham que esbarrar em alguma oposição. E, se é verdade que a cultura do “você-sabe-com-quem-está-falndo” é retrógrada e nefasta, é também verdade que, como dizia dona Emiliana, “quem procura, acha”. E ainda bem que o humorista achou algo para frear sua falta de limites.

2) O segundo ponto de vista é mais profundo e diz respeito à terível influência da televisão nos hábitos e gostos da sociedade, vulgarizando-os, destruindo as culturas originais e enchendo as salas com os mais perniciosos programas. Pier Paolo Pasolini escreveu há quase 40 anos: “O fascismo, no fundo, não foi capaz nem de arranhar a alma do povo italiano: o novo fascismo, através dos novos meios de comunicação e informação (especialmente a televisão) não só a arranhou, mas a dilacerou, violentou, contaminou para sempre”.

Não vou repetir o que já escrevi a respeito, ao falar sobre um programa que é o paradigma do papel nocivo da TV na vida das pessoas. Neste link: A excrescência chamada Big Brother Brasil.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A FIFA, o governo brasileiro e a Copa do Mundo

Na sexta-feira passada, 30 de setembro, foi noticiado pela Folha de S. Paulo que a “Fifa pediu ao governo brasileiro que, durante o período de realização da Copa do Mundo no país, em 2014, suspendesse o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto do Idoso e o Estatuto do Torcedor”.

Traduzindo: tudo para facilitar a “entidade máxima do futebol” a organizar o gigantesco evento esportivo no Brasil de acordo com suas próprias leis e regras. Quando li a informação, a primeira coisa que me ocorreu, e até postei no Twitter, foi: "isso é alguma piada?"

A desfaçatez (não tem outra palavra ) do pedido da FIFA prova cabalmente que as entidades que regem o futebol – FIFA, CBF, AFA, Conmebol, Uefa – se consideram acima da lei (escrevi um artigo que toca no tema para o Observatório da Imprensa, em 2005, ano de ocorrências estranhas no futebol brasileiro: A culpa é do Giovanni). E essas entidades não cansam de demonstrar essa prepotência. Mas tentar interferir em leis federais e estaduais do Brasil para aumentar seus negócios – muitos dos quais denunciados mundo afora como, no mínimo, suspeitos – já passa de qualquer limite aceitável.

Por isso, espero que se confirme a posição do governo brasileiro, sobre a qual nota da coluna da Mônica Bergamo (para assinantes) desta segunda-feira diz o seguinte:

A presidente Dilma Rousseff pretende resistir à pressão da Fifa e não deve recuar da decisão de permitir a meia-entrada nos jogos da Copa de 2014. ‘Minha querida, isso é uma lei brasileira’, disse ela à coluna. ‘E não pode mudar. Não é uma questão de querer ou não querer.’ A meia-entrada para os que têm mais de 60 anos está prevista no Estatuto do Idoso. Ingressos de estudantes são regulados por leis estaduais.”

Na nota acima, só não gostei muito do verbo “resistir”. Não se trata de resistir, mas simplesmente de dizer não à FIFA, e ponto.

Atualizado às 22:50