quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A violência em Homs, minha história e o que importa ao mundo: qual o futuro da Síria?



Batalha em Homs/ Reprodução: Vídeo You Tube

A crise síria e a violência na cidade de Homs, supostamente perpetrada pelo governo de Bashar al-Assad, além de triste, tem algo de pessoal para mim na distância das décadas e, por que não, dos séculos.

É que uma curiosa e dupla coincidência me liga, mesmo que longinquamente, à história de Homs: o avô materno (que não conheci) de minha mulher, Carmem, que se chamava Nadin Hussni, veio dessa cidade hoje com pouco menos de 1 milhão de habitantes, localizada a oeste da Síria e a 150 km de Damasco.

Também veio da cidade o pai de outra pessoa que conheci muito tempo antes de Carmem. Muitos tiveram o melhor amigo da infância e adolescência, aquele com quem você divide dúvidas e inquietações, aprende junto e descobre que com ele é capaz de mudar o mundo. O tempo passa, os amigos viram adultos e a vida segue, cada um no seu rumo, e o mundo continua. Essa personagem em minha vida chamou-se Ibraim Salum Barchim, filho de Hanna Ibraim Barchim, que veio também de Homs. Tanto os ascendentes de Carmem como de Ibraim são da minoria cristã da Síria.

Para quem acredita em desígnios espirituais, reencarnação etc., essa coincidência por certo tem muito significado, mas não se trata aqui de discutir isso. E sim apenas constatar que os acontecimentos em Homs têm o poder de mexer comigo de uma maneira que não existiria se eu não tivesse nem a mais distante ligação com essa cidade, afinal meu filho Gabriel tem entre os sangues que correm em suas veias também uma parcela do sangue sírio de Homs.

Qual é a verdade?

A verdade é que as informações sobre o que acontece em Homs e na Síria hoje são desencontradas e estão muito longe de ser claras, sejam quais forem as fontes. Uma das mais gabaritadas, o jornalista Pepe Escobar, diz o seguinte no blog redecastorphoto: a crise síria “está fazendo aumentar os temores, no mundo em desenvolvimento, de uma insurreição armada apoiada pelo ocidente, para tentar recriar, na Síria, o caos criado na Líbia”. Segundo Escobar, o governo Assad não cai porque mais da metade da população síria ainda o apoia.

O jornalista afirmou no início do mês que “o número de mortos [nos conflitos] divulgado pela ONU (...) não discrimina as vítimas favoráveis ao governo e da oposição; e a ONU simplesmente ignorou a morte de mais de 2.000 soldados do exército sírio.”

Já o jornal argentino de esquerda Página12, que também questiona o cinismo ocidental, não poupa porém os “progressistas do mundo” que fecham os olhos para a “matança de Homs”: “onde estarão as forças de esquerda que se escandalizaram com os bombardeios da OTAN na Líbia e agora parecem emudecidos como se a moral e os valores valessem em um território e não em outro?”, escreveu Eduardo Febbro.

Na semana passada, a jornalista americana Marie Colvin (do britânico Sunday Times) e o fotógrafo francês Rémi Ochlik (Paris Match) morreram vítimas de bombardeios em Homs. Mas ninguém pode dizer de fato quais foram os autores do ataque que os vitimou.

Futuro obscuro

O atual presidente sírio herdou o poder de seu pai Hafez al-Assad, que governou de 1970 até 2000, quando morreu. O partido Baath (ou Ba'ath ) dos Assad é secular, e, diferentemente dos que governam inúmeros países do Oriente Médio, não tem diretrizes religiosas. A Síria sob os Assad é aliada histórica da União Soviética e por consequência da Rússia. Cerca de 90% dos sírios são muçulmanos (75% sunitas e 15% outras tendência). Os cristão são talvez pouco menos de 10% .

O temor maior dos detentores do poder e também dos minoritários cristãos é que a “insurreição” leve o país a ser governado por muçulmanos fundamentalistas, o que não interessa nem mesmo aos Estados Unidos e seus aliados. O que interessa aos EUA e seus aliados é derrubar Assad e dividir o país.

Mas, diferentemente do que aconteceu na Líbia, Rússia e China sustentam Assad e, com seu poder de veto na ONU, bloqueiam e bloquearão qualquer tentativa legal do Ocidente de intervir na Síria e derrubar Assad com aval das Nações Unidas. Geopoliticamente, a Síria é fundamental para os interesses americanos, por um lado, e russos e chineses do outro. A queda de Damasco representaria para os EUA ganhar um território fundamental para minar a “ameaça” iraniana e enfraquecer o que veem como séria ameaça a Israel. Russos e chineses não podem aceitar tal hegemonia americana. E Israel já avisou que está em seus planos um ataque ao Irã "em breve", sem avisar os Estados Unidos.

E assim está o mundo na segunda década do século XXI.

Abaixo, na íntegra, os textos citados neste post:

Síria: sombras por trás do espelho, por Pepe Escobar

La matanza de Homs, por Eduardo Febbro

Leia também: “Primavera árabe” foi apenas um espasmo de luz nas trevas do Oriente Médio?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Time que chamam de seleção brasileira ganha da poderosa Bósnia


Treinador sorri feliz após gol de Hulk
A seleção de Mano Menezes (também conhecido por Mané Menezes*) foi muito mal no jogo em que venceu a Bósnia por 2 a 1 na Suíça. O placar foi injusto não porque o time brasileiro tenha ganhado, mas principalmente porque o resultado que refletiria melhor a partida teria sido um 0 a 0.

Na defesa, o goleiro Julio Cesar (não sei por que continua jogando) frangou grotescamente a única bola que foi em seu gol e depois ficou olhando e apalpando a chuteira como para dizer que a culpa foi dela. Pobre chuteira. Em auxílio ao ataque (sic) bósnio, o zagueiro David Luiz (do Chelsea) teve atuação bisonha. Além de ruim, é arrogante, pois a toda hora desembesta com a bola dominada rumo ao ataque e quase sempre perde, assim como perde divididas e leva dribles de futebol de várzea.

Diante do atacante que vem com a bola dominada, corre para trás e de lado, como um caranguejo (pelo Chelsea também é inseguro, tendo dado de bandeja na semana passada um gol ao Nápoli ao entrar como uma moça em dividida que perdeu para o uruguaio Cavani). No gol da Bósnia, o zagueirão cabeludo (que deve ter um ótimo empresário) fez o serviço completo. Saiu jogando, entregou de presente e voltou como caranguejo. Exemplar.





O meio de campo brasileiro com três volantes, Sandro (Elias), Fernandinho (não sei nem quem é) e Hernanes pode ter a ver com a Bósnia ou a seleção da Grécia, mas não com o Brasil. Ou alguém vai me convencer que Hernanes é meia ou atacante só porque ficava despencando pela direita como um cachorro que cai de mudança? Essa formação defensivista e tosca coloca uma dúvida improcedente: Ronaldinho Gaúcho ou Ganso? Por que levar Ganso para deixá-lo no banco de Ronaldinho? Ora, independentemente do Gaúcho estar mal, a questão não é essa.

A questão é que Ganso e Ronaldinho ou Ganso e Kaká, por exemplo, são opções que mostrariam um meio de campo mais próximo do que era o futebol brasileiro. Mesmo assim, próximo pero no mucho. O meio de campo de 1982, minha gente, era Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. O de 1970, Clodoaldo, Gerson e Rivelino (alguns colocam Pelé como meio-campista, eu não). Quem viu, viu.

E na frente, no jogo de hoje, tivemos Neymar quase isolado pela esquerda e Damião grandão perdido numa floresta de zagueiros (em termos de marcação e fechar espaços, esse time da Bósnia é de fato muito bom!). Depois, o corajoso Mané Menezes pôs Ganso no lugar de Gaúcho e ainda o super-herói Hulk (o apelido é muito apropriado) no de Hernanes. Damião saiu para entrar Lucas, e Ganso ficou atrás tentando passar bolas à frente, mas sem ter com quem jogar no meio. Ruim, muito ruim. No fim, Hulk cruzou uma bomba para a área e o zagueirão rebateu pra dentro.

Salvaram-se o zagueiro Thiago Silva (que jogou por ele e pelas madeixas de David Luiz), os laterais Daniel Alves e Marcelo, além de Neymar na frente, que pelo menos tentou se movimentar num time absolutamente estático e sem criatividade. Em suma, horrível.

*Não sei se foi o corintiano Leandro que imventou a oportuna alcunha Mané Menezes. Pelo sim, pelo não, fica dado o crédito.


Atualizado às 19:42

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Os ganhadores do Oscar de 2012


Asghar Farhadi na festa do Oscar
Woody Allen, com Melhor Roteiro (por Meia-Noite em Paris, sobre o qual escrevi aqui), e Asghar Farhadi, diretor de A Separação, ganhador de Melhor Filme Estrangeiro (Irã), são os meus destaques entre 
os ganhadores do Oscar de 2012. Um prêmio que, como se sabe, não é necessariamente indicativo de qualidade, mas obedece a critérios de mercado, da indústria do cinema americano – leia-se Hollywood. Seja como for, Meia Noite em Paris é imperdível e Asghar Farhadi é um grande diretor, autor de uma pequena obra-prima que já abordei no blog: Procurando Elly, disponível nas locadoras. Ainda não vi A Separação, mas não deixarei de assistir.


Confira a lista dos ganhadores

Melhor filme:- O Artista– Direção: Michel Hazanavicius

Melhor diretor: Michel Hazanavicius – por O ArtistaMelhor atriz: Meryl Streep – em A Dama de Ferro

Melhor ator: Jean Dujardin – em O Artista

Melhor ator coadjuvante: Christopher Plummer – em Toda Forma de Amor

Melhor atriz coadjuvante: Octavia Spencer – em Histórias Cruzadas


Melhor roteiro: Woody Allen – por Meia-Noite em Paris)

Melhor Roteiro Adaptado: Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash – por Os Descendentes



Melhor Filme Estrangeiro: A Separação – direção: Asghar Farhadi (Irã)

Melhor Animação: Rango – de Gore Verbinski

Melhor Curta de Animação: The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore – de William Joyce e Breon Oldenburg

Melhor Documentário: Undefeated – direção de TJ Martin, Dan Lindsay e Richard Middlemas

Melhor Documentário Curta Metragem: Saving Face – de Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chemoy

Melhor Trilha Sonora: Ludovic Bource – em O Artista

Melhor canção: "Man or Muppet" – de Os Muppets

Melhor Direção de Arte: Dante Ferretti e Francesca Lo Schiavo – por A Invenção de Hugo CabretMelhor Fotografia: Robert Richardson – A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Edição: Kirk Baxter e Angus Wall – Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres

Melhor Mixagem de Som: Tom Fleischman e John Midgley – A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Edição de Som: Philip Stockton e Eugene Gearty – A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Efeitos Visuais: Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Hennemg – A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Maquiagem: Mark Coulier e J. Roy Helle – A Dama de Ferro

Melhor Figurino: Mark Bridges – O Artista

Melhor Curta Metragem: The Shore – de Terry George e Oorlagh George

Golfinhos têm consciência de si mesmos e se reconhecem no espelho, dizem cientistas



É preciso acabar com a barbárie perpetrada pelos japoneses

Reprodução
A inteligência dos golfinhos tem intrigado os cientistas há muito tempo. Mas, por outro lado, essas criaturas fantásticas ainda são vítimas da inexplicável sede de sangue dos cruéis caçadores japoneses, diante da omissão do mundo civilizado. Pessoas com a mentalidade racionalista dizem que tal prática absurda se justificaria por ser da cultura do Japão. Mas algo cultural seria um direito?

Pois bem, chama a atenção uma notícia publicada pelo jornal espanhol ABC, no último dia 24, que diz: “Não apenas os símios. Os golfinhos e as baleias também devem ser tratados como ‘pessoas’ não-humanas, com direito à vida e à liberdade, segundo propõem prestigiosos cientistas reunidos na conferência anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, em inglês), a maior do mundo, que aconteceu estes dias em Vancouver (Canadá)”.

Segundo especialistas em conservação e comportamento animal, golfinhos e baleias “são suficientemente inteligentes para que recebam as mesmas considerações éticas que os seres humanos, o que implica pôr fim a sua caça, cativeiro ou abusos”. Esses especialistas apóiam a criação de uma Declaração dos direitos dos Cetáceos. Os cientistas dessa corrente defendem a tese de que os golfinhos “têm consciência de si mesmos, reconhecem sua imagem no espelho e sabem quem são”, segundo a matéria do jornal ABC. Isso é comovente e extraordinário.

Sinceramente, apoio totalmente que seja aprovada uma Declaração dos direitos dos Cetáceos.

Vocês podem achar que estou viajando. Há tantos direitos humanos descumpridos, inclusive no nosso Brasil! Ok, mas uma coisa exclui a outra? Não.

Não é possível que o mundo ainda permita a caça a golfinhos e baleias. O mundo tem que dar um basta à barbárie japonesa.

A matéria do jornal ABC está neste link: Los delfines son «personas no humanas»

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Meia dúzia a um


Santos 6 x 1 Ponte Preta. Neymar (2), Edu Dracena (2), Paulo Henrique Ganso e Ferron (contra) marcaram para o Peixe, e Uendel descontou para a Macaca na espetacular goleada na Arena Barueri pela décima rodada do Paulistão 2012, neste sábado.



Ressalto:

1 - a dupla Ganso e Neymar está cada vez mais parecida à que encantou o país no primeiro semestre de 2010, com partidas memoráveis que a de hoje fez lembrar. Nem Muricy Ramalho com seu pragmatismo está sendo capaz de evitar o show. Neymar brilhou e estraçalhou, sem nunca fugir da porrada, mas, como isso já é rotina, a melhor notícia de hoje foi a grande partida de Ganso, nos dois tempos. O camisa 10 evolui a cada jogo e está cada vez mais consistente. Notem, no sexto gol do Peixe, a jogada de gênio dele ao passar para Neymar.

2Arouca jogou uma bar-ba-ri-da-de. Achei bacana Elano ter sido intensamente aplaudido ao entrar em campo aos 15 do segundo tempo e mesmo depois, enquanto o jogo transcorria. O Ibson, nos quase 60 minutos em que atuou, perdeu um gol, errou vários passes e pouco apareceu. Mais um pouco e a insistência do treinador em manter Elano no banco do ex-flamenguista vai começar a parecer provocação.

3 – Que fase vive o 9 Borges. Num jogo em que seu time fez seis gols, o centroavante não estufou as redes.

4 - A Ponte Preta não é um timinho, pelo contrário. E por isso a vitória por meia dúzia a um tem um valor especial. Certo que a Macaca terminou o jogo com 8 jogadores, mas esse seria o normal se as arbitragens coibissem a violência sempre (parece até que a grita do presidente Luis Alvaro, que ligou até para o coronel Marinho, o chefe da arbitragem, depois da absurda violência do Comercial, teve algum efeito). Os jogadores da Ponte foram expulsos corretamente, dois tomaram o segundo amarelo com por faltas em Neymar e uma por infração em Juan (nesta o juiz foi mais rigoroso, pois o ponte-pretano ainda não tinha amarelo).

Pena que na partida contra o Guarani (que faz ótima campanha) em Campinas, quarta-feira, não terá a presença de Neymar e Ganso, que jogarão na terça pela seleção brasileira, digo, balcão de negócios, contra a poderosa Bósnia.

Ah, já ia esquecendo. O Corinthians de Tite venceu o Botafogo de Ribeirão Preto no Pacaembu pelo elástico placar de 1 a 0. Infelizmente, a Fiel não pôde comemorar desta vez mais uma sonora goleada como nos 2 a 0 contra a Portuguesa...

Para Boris Casoy, Lula e o PT mataram Eliana Tranchesi, dona da Daslu





Vocês devem se lembrar do solerte âncora da Band, em janeiro de 2010, fazendo um comentário sobre garis, que, segundo o jornalista, são "o mais baixo na escala do trabalho". Se não lembram, está aqui:

Boris Casoy, os lixeiros e o ano novo

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A cidadania e as comunidades, por enquanto, estão fora da Copa do Mundo no Brasil

Por falta de tempo, não comentei aqui a excelente série de reportagens da ESPN Brasil sobre a situação das comunidades afetadas pelas obras da Copa do Mundo no Brasil, no sempre imperdível programa Histórias do Esporte, que vi num dos dias de carnaval.

As oportunidades de “progresso”, pelo que se deduz da reportagem, se restringem praticamente aos donos do capital que investem no mercado imobiliário e nas grandes obras viárias nas cidades que sediarão a Copa.

“A segunda Copa no Brasil será dos Brasileiros? Deixará legados aos brasileiros?”, questiona a reportagem na introdução, com locução do ótimo Luis Alberto Volpe.

Reprodução
Crianças na zona Leste de São Paulo: elas terão direito a quê?


“Em Manaus, o direito mais elementar é desrespeitado”, diz a matéria, mostrando uma líder comunitária questionando o “nosso” dinheiro investido em obras de estádio. Imaginem, para que servirá uma super-arena em Manaus passados os 30 dias da Copa? Em Brasília, outra arena fantástica para 70 mil pessoas que depois será um elefante branco. Quem jogará lá? Brasiliense e Gama?

Higienização

No Rio de Janeiro, o projeto de higienização urbana que vitima as pessoas mais simples é mais cruel, pela magnitude e simbolismo do futebol na Cidade Maravilhosa, o que realça a enorme contradição entre interesse público e “interesse público”. Orlando S. Junior, sociólogo, diz à ESPN Brasil que o processo é um desrespeito à dignidade humana e não tem a menor transparência. A comunidade não é nem consultada nem participa das decisões que promovem a “limpeza” para retirar a população humilde de onde mora. “A gente não consegue nem dormir”, diz Nadia Datsi, sobre as máquinas praticamente em seu quintal, com medo de que “a qualquer momento” a polícia apareça para despejar os moradores.

Ainda no Rio, defensores públicos (os advogados do povo) estão afastados do contexto, sob a omissão do governo federal.

Em Fortaleza, há um campinho de uns moleques que jogam bola em seu bairro. Justamente esses, que são o símbolo da riqueza ludopédica do Brasil, serão expulsos, pois o campinho da comunidade Montese está na rota do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e de suas casas. É um triste paradoxo. Logo ao lado deles, há um motel, mas este não está ameaçado.

No local, muitas pessoas vivem há 60, 70 anos. Esses verdadeiros degredados, diz o governo do Ceará, serão indenizados e “receberão um imóvel dentro do programa Minha Casa Minha Vida quitado pelo governo do Estado”, como se pode ver em matéria de Nicolau Soares para a Rede Brasil Atual. Será? A verdade é que a população dessas comunidades de Fortaleza está desorientada e sem informação sobre seu destino.

São Paulo e Cuiabá

Em São Paulo, a população vai sofrer o preço do progresso. Não tanto pelas obras do estádio do Corinthians em si, mas pelas obras do entorno e as adequações urbanas necessárias para que o mundo veja a Copa do Brasil com imagens de “boniteza”, como disse de maneira tão pungente um morador humilde de Itaquera à reportagem da ESPN Brasil. Essa população terá imóveis do Minha Casa, Minha Vida?

Em Cuiabá (MT), as obras estão adiantadas, mas igualmente há pouca transparência e quase nenhum “controle social”. “Tem gente que não quer estádio, mas saúde.” A líder comunitária Francisca Xavier ironiza: “Eles dizem que é em benefício do povo”. O secretário extraordinário da Copa na cidade, Eder de Moraes, responde com uma frase emblemática: “Não podemos focar o interesse público em uma pessoa, que age em causa própria”.

Esta é uma total inversão de valores, que confunde o interesse público de fato (o que está no artigo 5° da constituição) com interesses privados focados no retorno, em lucro, das centenas de milhões de reais investidos. A mensagem que mais me marcou na matéria televisiva foi isso: justamente esses meninos cujos campinhos serão eliminados do mapa, em Fortaleza ou São Paulo, são aqueles que mais deveriam ser incentivados, seja com projeto como os CEUS que Marta Suplicy fez na capital paulista, seja com investimentos em esportes mesmo, que lhes dessem outra opção para serem cidadãos que não fossem as ruas.

E assim caminham as obras para a Copa do Mundo no Brasil.

Este post é também fruto da necessidade de fazer uma revisão, no mínimo um intervalo para reflexão, em relação ao que escrevi aqui no post sobre o Itaquerão, em agosto de 2010. E olha que eu nem falei aqui sobre a questão jurídica, a tal Lei Geral da Copa, que é outro assunto.

Você pode ver alguns vídeos da série de reportagens da ESPN Brasil clicando neste link

São Paulo em imagens – Estação da Luz



Clique nas fotos para ampliar




Fotos: Eduardo Maretti


Outras fotos de São Paulo em Imagens:

Escultura de fios

Verão em São Paulo

Nossa Senhora do crack, rogai por nós

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Das cinzas do carnaval, emerge o futebol

Boa essa do título para uma quarta-feira de cinzas, hein! Mereço um cartão amarelo. Mas a verdade é que o Paulistão – hoje um treino de luxo – é tecnicamente um desastre. As equipes do interior são muito fracas, e também violentas, e os grandes só fazem azeitar as engrenagens para a temporada. (A única coisa a se destacar neste longo feriado momesco vem da Itália: a vitória do Nápoli por 3 a 1 contra o Chelsea, pelo jogo de ida das oitavas-de-final da Champions League, num belíssimo jogo.)

Ressalva feita e parêntese fechado, a vitória de 2 a 0 do Santos sobre o Comercial em Barueri foi categórica. O time de Ribeirão Preto, do treinador Márcio Fernandes, com marcação quase implacável, retranca e botinadas, cumpriu o script. Fazer o quê? Pode parecer chororô, mas a tolerância da arbitragem em São Paulo com a violência é acintosa. A truculência dos brucutus viceja contra qualquer um que se sobressaia da mediocridade geral, mas Neymar é a vítima maior. O rodízio de faltas incentivadas por árbitros bananas como esse senhor Aurélio Santanna Martins é revoltante.

Mesmo assim, o primeiro gol do Peixe, de Ibson, saiu de jogada espetacular dele, Neymar. Observem no vídeo o momento em que ele passa para Ibson. São cinco os jogadores do adversário que, embolados, ficam na saudade. A defesa do Comercial quase faz um strike de si mesma. Um golaço. Na falta que originou o segundo gol, podem dizer que Neymar faz teatro. Mas se o cara acerta aquele carrinho de jeito, quebra a perna do moleque. E como é que fica? Precisa o que mais para dar cartão vermelho, quebrar a perna?





Violência e mediocridade do adversário à parte, Ganso volta aos poucos a jogar bem, mas ainda não está no nível do primeiro semestre de 2010. Fez um belo primeiro tempo: passes precisos, inteligência no meio, e foi bem até voltando para marcar. Porém, não manteve o mesmo nível no segundo tempo e às vezes parece afoito ao tentar dar de primeira bolas que deveriam ser mais cadenciadas ou pensadas.

Elano entrou na segunda etapa e mostrou que, se e quando estiver em forma, dá de dez no Ibson. Alan Kardec (cujo pé direito um zagueiro do Comercial quase quebrou num pisão, no fim do jogo) fez em um minuto o que Borges não conseguiu em toda a partida. Ao volante Henrique, prefiro muito mais o jovem Ânderson Carvalho. O lateral Juan tem sido agradável surpresa; resta saber como será ante times mais poderosos, tipo o Internacional, pela Libertadores, dia 7 de março, o primeiro jogo decisivo do Santos em 2012, pois, se perder, ficará bastante desconfortável na tabela.

Timão bate fácil a apequenada Portuguesa

O que se pode ressaltar de Portuguesa 0 x 2 Corinthians no Pacaembu (a Lusa preferiu mandar seu jogo na casa do Timão) é que, na mesma toada de sempre, a equipe de Tite vai levando. O jogo foi muito ruim. A Portuguesa, infelizmente, pelo que vi hoje, não tem time para se manter na primeira divisão do Brasileiro que começa em maio. A natimorta “Barcelusa” não tem poder de fogo, nem criação, nem pegada, nem nada. Sem ambição, é uma equipe a perseguir tediosamente o fim da partida sem acreditar em si mesma. Consegue se manter numa honrosa 10ª posição terminada a nona rodada do campeonato, sem ainda ter chegado ao G-8 de um campeonato de baixo nível. A Portuguesa definitivamente só é “grande” na tradição.

No Corinthians, não sei por que o ágil e bom atacante Willian ainda não é titular. O lateral Fábio Santos é uma peça chave e o meia Danilo vai superando desconfianças e se firmando como uma peça importante a cada jogo, apesar do fantasma do recém-chegado Douglas, mais um gordo para fazer dieta e companhia a Adriano no Parque São Jorge.

Os gols de Portuguesa 0 x 2 Corinthians


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O nome do samba é Mangueira


A Mangueira falou de si mesma e do samba. "Eu sou o samba/ A voz do morro", no enredo Vou Festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira.

Egocêntrica, digamos assim, e grandiosa. Como numa proposta modernista, não defendeu causas a não ser a da arte pela arte, do samba pelo samba.

Eu - e acho que ninguém - nunca tinha visto uma escola silenciar a bateria dessa maneira. Como se o coração da escola parasse para que seu espírito se fundisse às arquibancadas, como numa espécie de samba-enredo à capela ressoando em milhares de vozes. A Mangueira tem esse caráter espiritual.

Tão impressionante que até a tagarelice dos globais Luís Roberto e Glenda Kozlowski emudeceu. Infelizmente, quando a bateria retomou eles voltaram a falar.

Se emocionou até a mim, na sala de minha casa, imagino quem estava na avenida. O cara que postou o vídeo abaixo no You Tube comentou o seguinte: "A história do desfile das escolas de samba pode ser agora dividida em antes e depois do desfile da Mangueira de 2012".

É possível.

Não retiro o que disse no post anterior (abaixo), que, pelos enredos, ficaria feliz se a campeã fosse Portela ou Imperatriz. Mas, torcer, torço pela Mangueira.

Segue abaixo a histórica passagem da parada da bateria neste desfile de 2012. E a letra do samba.




Vou Festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira
(autores: Lequinho, Igor Leal, Junior Fionda e Paulinho de Carvalho)

Salve a tribo dos bambas
Um doce refúgio de inspiração
Salve o novo Palácio do Samba onde um simples verso se torna canção
Debaixo da tamarineira um índio guerreiro me fez recordar
Um lugar, um berço popular
Seguindo com os pés no chão
Raiz que se tornou religião
Da boêmia dos antigos carnavais
Não esquecerei jamais

Firma o batuque
Que eu quero sambar (Me leva)
Já começou a festa
Esqueça a dor da vida
Caciqueando na Avenida

Sim, vi o bloco passando
O nobre rezando e o povo a cantar
Sim, é o nó na garganta
Ver o Bafo da Onça a desfilar
Chora, chegou a hora eu não vou ligar
Minha cultura é arte popular
Nasceu em ‘Fundo de Quintal’
Sou imortal e eu vou viver
Agonizar não é morrer
Mangueira fez o meu sonho acontecer
O povo não perde o prazer de cantar
O povo liberto que a voz ecoou
Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou

Vem festejar
Na palma da mão
Eu sou o samba, a voz do morro
Não dá pra conter tamanha emoção
Cacique e Mangueira num só coração

Portela e Imperatriz levam Bahia e cultura negra à Marquês de Sapucaí. Bravo!


Muito oportunos os enredos da Portela e da Imperatriz Leopoldinense neste carnaval 2012. Como se sabe, têm crescido preocupantemente as manifestações de preconceito e até agressões contra as religiões de origem africana e seus praticantes. Nesse contexto do Brasil de hoje, a saudação à maravilhosa cultura dos orixás e do sincretismo da terra de Nosso Senhor do Bonfim, no carnaval do Rio de Janeiro, é importante e digna de registro.

Portela homenageia negros e orixás.
Foto: Vladimir Platonow/ ABr
O lindo samba-enredo da Portela saudou a Bahia e seus orixás, com o título Bahia: E o povo na rua cantando... É feito uma reza, um ritual, focando como tema central as festas religiosas da Bahia; o não menos bonito samba da Imperatriz, com o tema Jorge, Amado Jorge, homenageou a obra de Jorge Amado, e por extensão a cultura religiosa do estado mais negro do país.

Não tenho nada contra nenhuma religião. Mas o crescimento de práticas cristãs fundamentalistas inclusive no berço da nação Bahia me assustou na última vez em que estive em Salvador.

No ano passado, acusado de “censurar cristãos”, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) escreveu uma carta ao JB em que diz: “Não, eu não persigo cristãos. Essa é a injúria mais odiosa que se pode fazer em relação à minha atuação parlamentar. Mas os fundamentalistas e fanáticos cristãos vêm perseguindo sistematicamente os adeptos da Umbanda e do Candomblé, inclusive com invasões de terreiros e violências físicas contra lalorixás e babalorixás como denunciaram várias matérias de jornais”.

Assim, a Portela e a Imperatriz são dignas de Bravos!, por colocarem na avenida a cultura do povo negro do Brasil (a Vila Isabel, que homenageou Angola, fica com menção honrosa, mas é da cultura e religiosidade brasileiras que aqui se fala).

Num paralelismo interessante entre as duas escolas, cantou a Portela na avenida:

"No mar
Procissão dos navegantes
Eu também sou almirante
De nossa Senhora Iemanjá"


E a Imperatriz:

"Ave, Bahia sagrada!
Abençoada por Oxalá!
O mar, beijando a esperança,
Descansa nos braços de Iemanjá
"

Curioso que, na madrugada de domingo para segunda-feira, a Imperatriz entrou na avenida logo após a Portela, que teve como seu ícone maior na Sapucaí a grande Clara Nunes.

Caso queiram ouvir, os enredos de ambas as escolas estão nos links abaixo:

Samba-enredo da Portela

Samba-enredo da Imperatriz


A ironia da União da Ilha

Encerro o post no meio do desfile da União da Ilha. Muito bom, pois irônico. O enredo é sobre Londres e consequentemente Grã Bretanha. A carnavalesca Maria Augusta e o gari Renato Sorriso (na foto ruim ao lado) são os reis da escola na Sapucaí. Maria Augusta faz a rainha da Inglaterra. Um gari negro (ele é gari na vida real) sambando ao lado da rainha da Inglaterra e uma mulata deslumbrante fazendo a Guarda Real são grandes sacadas da escola. Ironia.

Sou leigo em carnaval. Estou falando sem considerar os aspectos técnicos que embasam as notas dos senhores jurados.

Parece que as fantasias dos foliões da União da Ilha estavam tão pesadas que vários deles passaram mal depois do desfile.

Seja como for, pelo que já escrevi acima, ficaria feliz fosse a Portela ou a Imperatriz a campeã.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A vida de Hildegard von Bingen – filme fascinante sobre uma mulher além de seu tempo


CINEMA

Para não perder o hábito vai aqui um post para quem prefere filmes a carnaval.

O indicado da vez (vi recentemente) chama-se Visão – sobre a vida de Hildegard von Bingen (2009), da diretora Margarethe von Trotta. Trata-se da história da abadessa do título (abadessa é a irmã superiora de um mosteiro ou convento). Apesar do tema aparentemente circunspecto, árido ou mesmo chato, começo por dizer que é um belíssimo filme, que, parece, não foi lançado no Brasil (não tem na 2001, por exemplo). Mas se encontra com camelôs e qualquer um pode baixar na internet nos dias de hoje, não é?


Barbara Sukowa: atuação magistral

A direção da alemã Margarethe Von Trotta é primorosa. A atriz Barbara Sukowa interpreta Hildegard von Bingen magistralmente. Do mesmo modo, Heino Ferch faz o irmão Volmer, apoiador e braço direito de Hildegard, de resto, numa obra em que a direção de atores é um dos pontos altos (o que para mim é fundamental em um filme). Luzes e sombras contrastam, a metaforizar a época.

Século XII

Hildegard von Bingen foi uma monja beneditina alemã nascida em Bermersheim vor der Höhe, em 1098, que morreu no Mosteiro de Rupertsberg em 1179. Além de religiosa e teóloga, foi escritora e compositora. Conhecia profundamente as plantas medicinais e desenvolveu métodos usando-as como médica informal. Tinha visões de criaturas (anjos?) e fatos místicos. Escreveu livros considerados avançados para sua época inspirados por essas visões, tratados sobre ciência natural, obras teológicas, entre as quais os estudiosos destacam Liber divinorum operum ("Livro das obras divinas"), sobre o prólogo do Evangelho de São João e sobre o livro do Gênesis. Legou uma obra grandiosa e por vezes hermética que está sendo cada vez mais estudada, a partir da segunda metade do século XX.

Uma mulher além do seu tempo

Filme foi rodado em mosteiros medievais
Como diz um texto em português publicado no Deutsche Welle e assinado por Carlos Albuquerque, “Ela aprendeu a olhar os lírios dos campos e a ver neles a presença divina que também levaria à cura de doenças. Para ela, o homem saudável estava em sintonia com Deus. Hildegard aliou a antiga medicina dos gregos, propagada por Galeno, à fé cristã. Para ela, micro e macrocosmo interagem lado a lado em sua percepção do homem e de Deus. Para honrar a Deus, o homem teria que interagir com seu meio-ambiente”. Segundo outro texto, este mais focado no filme (por Augusto Valente), do mesmo veículo alemão (entre os brasileiros não achei nada interessante), “Hoje, as farmácias vendem as ervas medicinais que foram pela primeira vez sistematicamente descritas e utilizadas por ela para fins medicinais”.

Porém, a influência dessa mulher incrível – que sofria de insistentes problemas de saúde e enxaquecas associados a sua visões – vai além do que produziu, pois, com sua personalidade marcante e agressiva, a abadessa impressiona por ter representado um papel de enorme significado e altamente atuante em plena Idade Média. Vejam, estamos falando do fim do século XI e início do XII. Hildegard von Bingen conseguiu realizar o impensável para uma mulher em plena escuridão de um mundo dominado por homens poderosos que, no entanto, segundo sua biografia, ela desafiava quando precisava atingir um objetivo.

Heino Ferch como o irmão Volmer
Segundo o filme de Margarethe Von Trotta, que pesquisou exaustivamente a biografia e a correspondência da abadessa, mesmo sendo hoje considerada “santa”, embora nunca oficializada como tal, Hildegard tinha atitudes e sentimentos bastante humanos (o que a distancia da pieguice de personalidades ou personagens perfeitos), como o ciúme e a possessividade, por exemplo em relação a sua noviça preferida.

Uma sequência do filme, rodado em mosteiros medievais, é emblemática da história e atuação dessa personalidade impressionante. As freiras recolhem ao mosteiro um homem cheio de feridas provocadas por autoflagelação. Ao recebê-lo, Hildegard lhe pergunta: “Você se flagelou?” O infeliz reponde: “Eu queria sofrer como ele sofreu por nós”. Ela devolve: “Aquele que mata a carne mata a alma que nele habita. Deus quer misericórdia, não sacrifícios”. Na belíssima cena, depois de indicar às irmãs a erva recomendada para tratamentos das horríveis feridas, ela diz ao enfermo: “A música também pode ajudar a curar suas feridas... e sua alma”. Segue-se a maravilhosa interpretação de uma freira ao violino, de uma música sacra composta por aquela que os mais simples – ao contrário da Igreja – entendem ser uma santa. Segundo os registros, ela previu sua morte para 17 de setembro de 1179, o que de fato ocorreu.

Não vi, mas fiquei muito curioso para assistir Rosa Luxemburgo, essa personagem tão interessante, com a mesma atriz no papel principal, dirigida por Von Trotta.

Trailer oficial:




Se quiser indicações sobre outros filmes “impróprios” para o carnaval, leia também:

Cinema para quem precisa - Indicações de filmes para um carnaval sem folia (2011)

Cinema para quem não pula carnaval (2010)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Santos de Muricy joga na defesa contra o “mais forte” da Bolívia e perde de virada

E o Corinthians de Tite começa Libertadores empatando com o Táchira, como o Peixe em 2011


Mesmo descontando a altitude de 3.600 metros de La Paz, não tem desculpa a péssima estreia do Santos na Libertadores, com a derrota inesperada para o The Strongest, “o mais forte”, por 2 a 1, de virada. O mais forte (sic) da Bolívia derrota o campeão da América.

O belo gol do sempre péssimo volante Henrique, aos 9 minutos do primeiro tempo, já indicava que essa era uma partida anormal. Os bolivianos empataram aos 33 minutos, pegando a defesa santista de calça curta: o time que está ganhando levar o empate de contra-ataque é sempre muito criticável.





Muricy não começou com Juan na lateral esquerda e Fucile na direita, como se esperava (Pará entrou na direita e Fucile, improvisado na esquerda). Deve ter tido motivos (*ver 14° comentário), Juan não joga há muito tempo. Ibson iniciou a partida e, como Elano, que o substituiu no segundo tempo, pouco apresentou. Nos 90 minutos, Neymar fez muitas jogadas, tentou, fez o que pôde, mas me pareceu isolado. Chega à frente e não tem com quem jogar. Ganso, abaixo da crítica, embora tenha cobrado a falta que resultou no gol peixeiro.

Quando Elano entrou aos 12 do segundo tempo no lugar do (como sempre) apagado Ibson, o narrador da Fox Sports narrou em espanhol que Elano “é um símbolo daquele Santos de Diego e Robinho”. De fato é, mas infelizmente Elano e depois Neymar perderam gols feitos.

O Alvinegro foi mantendo a célebre fama de perder muitos gols. Aos 40 da etapa final, Alan Kardec desperdiçou outro de vários tentos jogados fora (mas Neymar demorou a passar a bola). O Santos – que fez cera desde a primeira etapa – já jogava pelo empate fazia tempo. Segurou, segurou, segurou, recuou tanto, tomou tanta pressão do “mais forte” da Bolívia que Rodrigo Ramallo aproveitou a bobeira geral e mandou para as redes no último dos incontáveis escanteios batidos pelos bolivianos, nos descontos do segundo tempo.

Com todo o respeito, estrear sendo derrotado pelo mais forte da Bolívia não é um bom augúrio. Espero queimar a língua, santistas.

PS (às 20:55 do dia seguinte): Faço esse adendo porque ouvi comentários segundo os quais o Santos pressionou o portentoso The Strongest em parte do jogo. Curioso como podem ser diferentes as visões de uma mesma partida. Respeito, mas não vi o Alvinegro pressionando. Vi um primeiro tempo que foi lá e cá (na categoria santista e correria boliviana). O time de Muricy só ia nos contra-ataques. O Santos podia até ter goleado ante a defesa fraca e ingênua, se não tivesse desperdiçado um caminhão de gols. Mas nos contra-ataques, não na pressão.


*Timão estreia como o Santos em 2011




E o Corinthians começa empatando com o venezuelano Deportivo Táchira em 1 a 1, resultado comemorado como vitória pelo histérico Tite à beira do gramado. Curiosamente, a estreia do Santos na Libertadores de 2011 tembém foi contra o Táchira, e o jogo acabou igualmente empatado, só que em 0 a 0. O que foi considerado um resultado muito ruim pela comunidade santista, inclusive este blogueiro, como ficou registrado no post sobre o jogo em 16 de fevereiro de 2011.

Na época, o Peixe era treinado por Adilson Batista, que demonstrou total incompetência para treinar um grande time como o Santos e por isso foi demitido (se não fosse, o time não teria sido campeão). Interessante como estreias idênticas (empate contra o mesmo fraquíssimo time) podem ser encaradas de modo tão diferente. Mas a verdade é que a estreia do Corinthians não foi nem um pouco empolgante, apesar da histeria fiel.

Não esqueçamos que o empate corintiano só foi possível porque o juiz da partida, o colombiano Wilmar Roldán, anulou um gol legítimo do time da casa no segundo tempo quando estava 1 a 0 para o Táchira, atendendo a uma sinalização equivocada do bandeirinha. Segundo o sábio Arnaldo César Coelho, consultado pelo narrador Cléber Machado, o atacante do Táchira estava impedido, apesar de seu pé estar "na mesma linha". Isso porque "o ombro estava adiantado", disse o sábio. A norma da FIFA segundo a qual, na dúvida, deve se beneficiar o ataque, não existe para Arnaldo. A regra é clara.

Seja como for, nesta quarta, dos times brasileiros, apenas o Flamengo estreou com um resultado aceitável, o empate em 1 a 1 com o Lanús na Argentina.

*Atualizado à 00:30

TVA anuncia acordo com Fox Sports. Net não tem resposta


**Atualizado às 16:15

A Fox Sports anuncia em seu site na internet a programação dos jogos da Libertadores desta semana. É a seguinte:

15/02 – Quarta-feira
19h45 - The Strongest (BOL) x Santos (ao vivo)
22h00 - Deportivo Táchira (VEN) x Corinthians (ao vivo)*
00h00 - Lanús (ARG) x Flamengo (VT)

(*Corintianos e flamenguistas não têm com que se preocupar, pois os jogos serão transmitidos para as respectivas praças pela TV Globo.)

Os assinantes da TVA, segundo a operadora, já terão o sinal da Fox Sports a partir desta quarta-feira, no canal 50, boa notícia para os torcedores do Santos. A própria TVA diz em seu blog oficial: “A partir da próxima quarta-feira, dia 15 [de fevereiro, hoje portanto], o Fox Sports estará disponível para todos os assinantes da tecnologia Cabo digital e Fibra TV (São Paulo e Curitiba), no canal 50 e 350 (HD), e sem custo adicional”.

Já a Net continua sem Fox Sports, sem transmissão e sem resposta ao seu assinante. Falei com a assessoria de imprensa da operadora que, agora há pouco, afirmou que não havia nenhuma novidade e que, se houvesse, "no final da tarde", me ligaria.

Se o assinante (consumidor, faço questão de ressaltar) quiser ligar para o que eles chamam de “central de relacionamento” (tel.: 4004-7777), ao conseguir ser atendido vai ouvir que não há canal Fox Sports na grade e muito menos Libertadores, e mais nehuma informação. Os santistas assinantes da Net, portanto, não terão transmissão, a princípio. Mas podem ver pela internet neste link: http://www.rojadirecta.me.

**Além da TVA, a Fox Sports já está nas operadoras CTBC, GVT, NEO TV, Nossa TV, Oi TV, RCA e Telefônica.

Abaixo, segue comentário de Enio Luiz Salgado Ribeiro, postado no post anterior sobre o mesmo assunto.

Vale pela indignação e ironia.

Gostaria de sugerir a Globosat, depois da operadora SKY BRASIL pedir para os assinantes reclamarem com a operadora Fox para passarem os jogos da Taça Santander Libertadores nos canais dela, como FX e Speed por exemplo, que a Globosat adote o mesmo procedimento com relação ao Campeonato Gaúcho e Brasileirão 2012.

Com essa brilhante ideias da operadora Sky, voces podem passar esses jogos nos canais GNT, Sportv 1,2 e 3, Multishow, Universal, Globonews, Canal Brasil, Megapix, Viva, Combate, Sexy Hot, Playboy e nos 5 canais Telecines. Só com esses canais já teremos 21 canais à disposição das operadoras, assim economizaria banda satelital para elas. Os jogos em HD poderiam ser transmitidos nos 5 Telecines HD, no Multishow HD, no Megapix HD, no Off e no Globosat HD, podendo assim ser transmitido 9 jogos em HD simultaneos, sem contar o canal eventual onde hoje é transmitido o Combate HD e PFC HD e ai teriamos 10 canais HD.

Acho que seria uma excelente ideia essa dada pela operadora Sky, e tambem muito interessante para a Globosat pois reduzia bastante os custos.

Gostaria de uma resposta sobre essa minha solicitação, pois dependo dela para providenciar o cancelamento do pacote PFC que pago 52,90 mensais.

E parem de cortar as propagandas da Libertadores com vinhetas da SKY, que péssima maneira de lidar com a situação, mascarando conteúdo dessa maneira desrespeitosa a inteligência dos assinantes.

Todos, SKY, FOX, GLOBOSAT, estão dando um exemplo claro de como perder milhões em Marketing construído por anos, confiabilidade, transparência e respeito diante do público e assinantes.

No aguardo.

Obrigado
Enio Luiz Salgado Ribeiro
Assinante Sky"

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Kassab: a soma que diminui


Por Valter Pomar

Dizem que a quantidade se transforma em qualidade. Assim passou no ato comemorativo do aniversário de 32 anos do Partido dos Trabalhadores, quando o presidente do PSD foi recebido com uma sonora vaia. Vaia, é bom dizer, que em boa medida saiu da boca de gente graúda do Partido: prefeitos, deputados e lideranças nacionais. Não de uma minoria de esquerda, não das bases, mas de dirigentes de diferentes talantes.

Registre-se algo óbvio: a vaia era para Kassab, mas também para os que desejam aliar-se com Kassab. As pesquisas de opinião registram: trata-se de um prefeito mal avaliado. Muito mal avaliado. O mais importante, contudo, é o motivo da má avaliação: seu governo piorou a vida do povo da capital paulista.

Os defensores da aliança com Kassab desconsideram ou minimizam programa, pesquisas e o impacto que esta aliança teria sobre a unidade partidária. Concentram-se apenas numa aritmética: é preciso retomar São Paulo, para isto precisamos de aliados, Kassab tem a nos oferecer de vice o senhor Meirelles (aquele, dos juros altos) etc. e tal.

Mesmo desconsiderando coisas menores como ideologia e coerência, trata-se de uma aposta de risco. Lançar dois ex-ministros de Lula, ambos debutantes numa eleição paulistana-nacional, desagradando de saída parte dos apoiadores e acreditando que a aliança com Kassab coloca mais do que tira.

Em certo sentido, estamos diante de um remake de 2003-2004, quando se tentou transformar a política de alianças do governo federal em política de alianças do Partido. Com um agravante: a derrota de 2004 e a crise de 2005 se deram num contexto nacional e internacional ainda favoráveis.

Hoje vivemos uma situação muito distinta. As fórmulas políticas e econômicas que foram suficientes durante o governo Lula, estão se demonstrando insuficientes neste início de governo Dilma. É por isto que o país cresce, mas cresce menos; o emprego cresce, mas cresce menos; a renda cresce, mas cresce menos; a desigualdade cai, mas cai menos.

Noutras palavras: a situação ainda está boa, mas o horizonte de curto prazo é muito complicado, exigindo uma nova estratégia e a adoção imediata de medidas mais audaciosas, especialmente no terreno dos juros e do câmbio.

A complicação tem um componente político: embora a direita partidária esteja com dificuldades, a direita midiática está a todo vapor, cumprindo o roteiro apontado pelo tucano-mor, a saber, disputar a “nova classe média” com o PT.

Da nossa parte, a disputa começa por afirmar que não é média, não é classe, nem é nova. O que está em disputa é um setor da classe trabalhadora, que graças às políticas do governo Lula e do governo Dilma experimentaram um crescimento na sua capacidade de consumo. A grande disputa reside exatamente em fazer este setor compreender, pensar e agir como parte da classe trabalhadora. O que nos leva a perguntar por que cargas d´água nossa presidenta insiste em falar de um “país de classe média”....

Neste contexto, a aliança com Kassab é uma dupla âncora. Para além de uma opção eleitoralmente equivocada, revela uma opção conservadora na disputa ideológica. Uma opção por aliados privatistas, violentos contra os pobres, ideologicamente reacionários. Que não nos permitirão marcar a diferença e, portanto, deixarão a porta aberta para que candidaturas da direita apelem para um voto coerente.

Um filme que já vimos.

Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do PT

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Chuva em São Paulo


Esses dois vídeos tecnicamente ruins são interessantes como "retrato" deste domingo em São Paulo. Impressionante como chove sem parar.

A chuva vista da janela do condomínio onde moro, mas sobretudo ouvida da janela do condomínio onde moro. A certa altura (1 minuto) do vídeo abaixo, percebem-se gritos e vivas, uma corneta, uma comemoração no ar, através da chuva. É que o São Paulo acabara de perder um pênalti contra o Corinthians. Jadson perdeu, e fez-se justiça ao vareio que o Tricolor, violento como sempre, tomou do Timão na partida.




Bem mais tarde, às 11 e meia da noite, o cenário na capital paulista era obviamente escuro, noturno. Mas o som continuava o mesmo: chuva, chuva e mais chuva.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Pensamento para sexta-feira [número 25] – Eu e os insetos (fatos reais!)

CRÔNICA DE VERÃO



Foto: Gabriel Maretti (clique em qualquer foto para ampliar)
Imagine uma dessa esvoaçando no seu pescoço

Moro num bairro (Butantã, em São Paulo) onde ainda há muita vegetação. Por aqui, até sapo se ouve à noite. Isso é muito bom, viva a natureza! Mas no verão os inconvenientes não são poucos. O calor literalmente infernal como o dos últimos dias em São Paulo nos faz prisioneiros de uma modorra invencível, incômoda. A menos que eu esteja à beira da praia desfrutando de uma boa cerveja gelada, o calor verdadeiramente me irrita.

E freqüentes episódios com insetos que resolvem me atacar sem mais nem menos estão me dando cada vez mais saudades do inverno. Por que insetos me atacam, sempre traiçoeiramente, à noite? Ora, porque está muito quente, as janelas ficam abertas, algumas luzes acesas, e então eles vêm. Não sou entomologista, mas essa explicação é fácil.

Umas semanas atrás estava eu falando de política ao telefone com uma amiga. Senti um pequeno arranhão nas costas, logo acima da nádega direita, mas não liguei, até que, instantes antes de levar a mão para coçar, o negócio já estava me arranhando de fato, forte... Assustado, bati a mão no local atacado e saiu voando um besouro, que ainda veio pra cima de mim, voando. Ele estava tentando me devorar, suponho. Maldito! A natureza é satânica também, como defendia Baudelaire. Aquele besouro me deu arrepios.

Foto: Eduardo Maretti
Esse besouro gosta de carne de camarão e humana

E eu, que sou um radical defensor da natureza, que canso de devolver as criaturas que invadem meu lar pela janela para voltarem para seu lugar, que nunca matei um passarinho sequer (nem com estilingue, nem espingardinha de pressão) eu não tive piedade de esguichar nesse besouro uma dose mais do que letal de Baygon. Incrível a força daquelas garras, minhas costas ficaram com um vergão vermelho que levou três dias para desaparecer. O besouro era igual (mas maior) a esse aí da foto acima, que uns três verões atrás pousou no prato do meu último e suculento camarão! O da foto teve melhor sorte, não me lembro de tê-lo matado, apesar da afronta de pousar sobre meu camarão.

À noite, sempre à noite, outro episódio, esse no verão passado, se deu com um inseto estranho. Eu não o conhecia. Ele parece uma pequena mariposa noturna. Quando o tal pousou na porta do armário embutido, cheguei perto para ver, e ele tinha antenas nervosas, parecendo mais uma vespa disfarçada de mariposa. Me dei mal quando meu espírito de protetor da natureza resolveu agir. Oh céus. Fui pô-lo numa caixinha para jogá-lo pela janela, devolvê-lo à linda natureza, mas ele escapou e, aparentemente com raiva, veio para cima de mim. Dei-lhe um tapa com o jornal que virou minha arma, ele caiu mas retomou o ataque. E a cena, mais cômica do que dramática, depois de um embate, terminou com a vespa-borboleta desaparecendo. Passei um tempo com medo de que o bicho surgisse de alguma sombra e me atacasse, mas nunca mais o vi.

Foto: Eduardo Maretti
Essa aí é uma mariposa vaidosa, pousada no espelho
O inseto esquisito voltou a me visitar neste verão de 2012. Desta vez esguichei-lhe álcool, e o bicho demorou muito, vários minutos, a se render. Joguei-o pela janela, não sei se sobreviveu.

E as mariposas que entram feito baratas tontas nessas noites de verão, procurando a lâmpada que para elas é o sol? Algumas são escuras e enormes. O pior é quando entram e você não vê. De repente, está você alegre e feliz com sua cervejinha e dá de cara com aquele monstro que parece um morcego. Já dei de cara com essas mariposas-morcego e o susto foi tal que, por um instante, pensei estar sendo visitado pelo conde Drácula em um de seus disfarces insidiosos. Recentemente, na semana passada, uma das não muito grandes entrou pela janela e veio direto ao meu pescoço. Éramos dois, eu ela, a nos debater apavorados. Meu deus, que susto, de novo. Meu impulso foi matá-la, mas fiquei com dó, e para sua sorte ela pousou na janela e foi fácil empurrá-la para fora.

Foto: Carmem Machado
O inseto cuida da sua prole (credo)
Já faz uma semana que não sofro ataques. Isso me preocupa, pois quanto mais o tempo passa, mais parece iminente uma nova investida. Talvez de um besouro, de uma vespa noturna, uma mariposa gigante, um enxame de filhotes (deve ser terrível!) como os da foto acima, ou sabe-se lá qual criatura dessa vez.

Show!




Antes de postar uma crônica sobre minhas difíceis relações com o verão e os insetos, para a série “Pensamento para sexta-feira”, publico esta nota para falar sobre a espetacular atuação de Neymar na vitória do Santos sobre o Botafogo de Ribeirão Preto, pela sexta rodada do Paulistão, por 4 a 1, no velho Estádio Santa Cruz que viu nascer Sócrates. O campeonato estadual está tão ruim que não tenho me animado a comentar. Mas Neymar é impressionante. Depois de apanhar o primeiro tempo inteiro, num jogo em que seu time parecia contaminado pelo calor e pela falta de criatividade e de vontade, o craque que acaba de fazer 20 anos resolveu mudar a história da partida que o Peixe perdia até 31 minutos da segunda etapa.

A marcação implacável, por mais implacável que seja, uma hora acaba cansando. E o Santos praticamente assistiu Neymar destruir sozinho a pesada zaga botafoguense. Ele empatou de cabeça aos 31, em jogada quase idêntica ao gol contra o Palmeiras, cruzamento de Ganso em cobrança de falta; roubou uma bola, driblou a zaga, sofreu pênalti, cobrou e desempatou aos 33. Após receber passe primoroso de Felipe Ânderson, fez um gol de cavadinha que quase quebrou a espinha do goleiro; e fez uma grande jogada dando o quarto gol de bandeja a Felipe Ânderson, retribuindo o passe que recebera no terceiro.

Os gols de Santos 4 x 1 Botafogo:




Observações que não querem calar
:

- Felipe Ânderson dá dinâmica, inteligência, movimentação e criatividade ao meio de campo santista. Penso que ele poderia muito bem jogar na meia direita. Sairia quem? Elano, embora Elano tenha jogado mais adiantado, e portanto melhor, nas duas últimas partidas (contra Palmeiras e Botafogo). Mas ele continua sem a melhor condição (física ou mental).

- Fucile estreou muito bem. Finalmente o Santos tem um lateral direito, que, aliás, pode jogar também na esquerda. Não é à toa que defendeu a seleção uruguaia quarta colocada na Copa do Mundo de 2010.

- O momento é de Alan Kardec, para jogar no ataque com Neymar. Borges tem que segurar o banco por um tempo. Não está resolvendo. Mas Kardec ainda está meio sem saber onde se colocar. Acho que cabe ao professor Muricy arrumar isso.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Chico Buarque inspira Toada para João e Maria, no Café Piu Piu


O Núcleo Toada apresenta neste domingo dois shows inspirados em Chico Buarque. Uma Toada para João e Maria, o amor segundo Chico Buarque e Segunda Toada para João e Maria, Chico Buarque Lado B.

As apresentações serão no velho Café Piu-Piu, no Bixiga, em São Paulo, domingo, 12 de fevereiro, a partir das 20h.

“Os shows contam e cantam a história de um casal como tantos outros, tendo como fio condutor as músicas de Chico Buarque e citações de diversos autores”, diz Lilian de Lima, do Núcleo Toada.

Voz e roteiro: Lilian de Lima e Rodrigo Mercadante
Direção Musical, voz e violão: William Guedes
Sanfona e voz: Aloísio Oliver
Direção Geral: “Uma Toada”: Milton Morales Filho
Percussão, baixo e voz: “Segunda Toada”: Maurício Damasceno

Couvert artístico: R$ 20,00
Café Piu-Piu – rua 13 de Maio, 134
Tel: (11) 3258-8066

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Briga de Fox e Globosat tira Libertadores do torcedor (consumidor) brasileiro

Quanto mais o tempo passa, mais o torcedor (leia-se consumidor) paga o pato pelos monopólios. Quem reclamava do monopólio da transmissão dos jogos da Libertadores pela Globosat (Sportv e Sky), agora pode dizer: “eu era feliz e não sabia”. Triste.

Ricardo Saibun / Santos FC
Campeão, Santos terá no máximo um jogo na TV!
Para quem não sabe, a Fox Sports agora é dona dos direitos da Libertadores. Ainda não há (e haverá?) acordo com a Globosat, portanto a emissora norte-americana (aquela mesma de extrema direita do magnata Rupert Murdoch) não tem um canal para transmitir os jogos no Brasil. Como a Fox exerceu seu direito de exclusividade, os canais Globosat perderam a regalia. E, como represália, estão dificultando a assinatura de um contrato com a Fox para disponibilizar um canal para as transmissões.

A TV Globo só vai transmitir jogos em sua grade como de costume, os do horário de 22 horas de quarta-feira. Privilégio de Corinthians e Flamengo. Isso significa que o jogo de estreia do Fluminense, hoje, contra o Arsenal Sarandí, não terá TV, nem aberta nem paga. Quem quiser, pode ver por canais de pouca abrangência (Oi, TV, Telefônica e Nossa TV), ou tentar ver, pela internet no endereço http://www.rojadirecta.me/.

Pode ser que o quadro mude, mas por enquanto não há novidades.Caso o imbróglio persista, os torcedores do Santos também ficarão a ver navios no primeiro jogo do time, dia 15, às 19h45, e em quase todos os outros. Campeão da Libertadores, o Peixe pode ter apenas um jogo transmitido na fase de grupos! As últimas informações, segundo o portal Terra, são de que as negociações continuam.

Não entendo ainda por que o canal da Fox disponível nos pacotes da Net e Sky não transmitirá as partidas, como fez na repescagem.

Onde está a Anatel para fazer valer a voz do Estado contra esse gangsterismo? Ou isso não é gangsterismo?

Leia também: o que esperar de Corinthians, Flamengo, Fluminense, Inter, Santos e Vasco na Libertadores .


*Atualizado às 14:46

Clint Eastwood é bom até em propaganda. Obama agradece


Um comercial de dois minutos da montadora norte-americana Chrysler, com o ator Clint Eastwood, que foi ao ar no intervalo do Super Bowl, a final do futebol americano, no domingo, fez um enorme sucesso e foi considerado como mensagem claramente pró-Barack Obama. Isso porque este é ano de eleições nos Estados Unidos.

A conotação política é clara: "os times estão discutindo o que fazer para ganhar o jogo no segundo tempo. É intervalo também na América", diz Clint no anúncio, o que seria uma alusão ao período entre os dois mandatos (o atual e o futuro) de Obama. Com a crise de 2008, a Chrysler quase foi à falência. "Detroit está nos mostrando que pode ser feito", afirma Eastwood, referindo-se ao coração da indústria automobilística dos EUA. No final do comercial, a mensagem parece ainda mais óbvia: "Nós nos levantaremos novamente e quando fizermos isso o mundo vai escutar o barulho de nossos motores. Sim, é intervalo na América. E o nosso segundo tempo já vai começar”.




O belíssimo comercial me fez pensar no medonho anúncio da Fiat aqui no Brasil, com aquela música pavorosa do tal Michel Teló, e em como está cada vez mais nojento e sem criatividade o mercado publicitário brasileiro.

Enfim, posto aqui também porque sou um fã do grande Clint Eastwood de Os Imperdoáveis e outros filmes. Estou aliás devendo a mim mesmo um post sobre Os Imperdoáveis para a Série “Favoritos do cinema”, que por falta de tempo até agora só tem dois posts (sobre Quando Explode a Vingança  e sobre Fargo).

A propósito, está em cartaz nos cinemas o novo filme de Clint, J. Edgar, sobre a vida de J. Edgar Hoover, o controverso diretor do FBI. Que ainda não vi.

Sobre a obra anterior do diretor (de 2010), escrevi aqui: O velho e bom Clint Eastwood em cartaz com Além da Vida.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Palmeiras bate Santos em Presidente Prudente de virada com gol contra de Maranhão



Por Paulo Maretti

Em jogo válido pela quinta rodada do Campeonato Paulista 2012, o Palmeiras venceu o Santos por 2 a 1, de virada, nos cinco minutos finais da partida, em Presidente Prudente.

O Palmeiras entrou em campo decidido, nos primeiros 20 minutos, a invadir a praia adversária, mas, como sempre, esbarrou na defesa rival e num futebol limitado pelas atuações fracas de seus homens de frente, Luan e Fernandão. O Santos, defensivo e cauteloso nesse início, sentiu mais o calor da região oeste paulista e o ar seco longe do mar.

Depois dos 20 minutos do primeiro tempo, o time alvinegro saiu pro jogo, procurou espaços e encontrou os pés (e a cabeça) de Neymar, que faria seu centésimo tento na carreira, à queima-roupa, e aos 20 anos, após cobrança de falta de Paulo Henrique.

Mas isso foi aos 25 da segunda etapa. Antes, no intervalo, Muricy tirou Borges, com dores, e pôs o bom Alan Kardec. Não sei se por razão ou engano meu, vendo o jogo, achei que o Kardek estava fora de posição, e rendeu pouco pela esquerda, ou bem menos do que o vejo fazer quando enfiado no meio da área.



E o jogo estava esmorecendo, esmorecendo, do começo de um segundo tempo fraco até esses 25 minutos, quando eu já quase dormia e Neymar testou a bola pras redes palmeirenses. O garoto reacendeu a vitalidade histórica do clássico e me fez pensar: “Começou a peleja.” Daí pra frente, mais na base da vontade do que da técnica, o Santos x Palmeiras ficou aberto e ganhou emoção, até que, aos 41, Ibson, o substituto de Elano, levou o segundo amarelo e deixou a equipe praiana com um a menos. Fernandão empatou de cabeça, em escanteio cobrado por Marcos Assunção, e Maranhão (contra) virou para o Palmeiras.

Na saída para o intervalo, Neymar reclamou, com sobras de razão, do calor excessivo: “Muito quente, tá difícil jogar.” Ao final da partida, reclamou da arbitragem, pra mim, sem razão. Ou Ibson, que antes levou cartão amarelo justamente, não fez a falta por trás em Daniel Carvalho?

O erro da arbitragem no jogo foi ter “esquecido” os cartões no vestiário antes do primeiro tempo. A falta bizzarra de Cicinho em Neymar, depois de um drible de craque do atacante santista, era até pra cartão vermelho se o juiz fosse rigoroso. E o pontapé de Ganso em Valdívia pelas costas (que por consequência pode ter sentido a contusão que o tirou de campo) era, idem, merecedor de punição com amarelo. Ou será que o chileno está mais é sentado num salário que o exime de compromissos com o clube (diz ele) de seu coração? O fato é que Daniel Carvalho o substituiu e jogou, jogou melhor, acima do peso, mas com vontade de decidir.

Santos x Palmeiras não promete muito com Felipão e Muricy no banco


Confira abaixo a retrospectiva dos últimos anos


Hoje tem um Santos x Palmeiras meio borocoxô. O clássico de grande tradição e jogos memoráveis terá no banco Muricy Ramalho contra Luiz Felipe Scolari, o que diminui muito a beleza do futebol tradicional da academia verde e do futebol alegre alvinegro. Fora isso, início de temporada, e consequentemente times ainda muito aquém da melhor forma física, principalmente o Santos, cujos titulares só voltaram a jogar na última quinta-feira, com fraca atuação frente ao Oeste (1 x 1). Além do mais, a partida, que deveria ser na Vila, perde a magia em Presidente Prudente.

Jogo "pegado" deve prevalecer com Muricy e Felipão

O clássico tradicionalmente é imprevisível e sua história é repleta de grandes partidas. Mas, com Felipão e Muricy no banco, não creio que a tradição se confirme. A ver.

A retrospectiva mais recente

No segundo turno do Brasileirão de 2010, ao fazer 1 a 0 na Vila (gol de Borges), o Santos finalmente pôs fim a um jejum contra o rival Palmeiras, a asa negra santista entre os grandes do futebol paulista. Depois da vitória do Peixe em abril de 2009, na semifinal do Paulistão, foram sete partidas em que o Verdão empatou ou venceu.

2009

Paulistão
Palmeiras 4 x 1 Santos
Palmeiras 1 x 2 Santos (semifinal)
Santos 2 x 1 Palmeiras (semifinal)

Brasileiro
Palmeiras 1 x 1 Santos
Santos 1 x 3 Palmeiras

2010

Paulistão
Santos 3 x 4 Palmeiras

Brasileirão
Palmeiras 2 x 1 Santos
Santos 1 x 1 Palmeiras

2011

Paulistão
Santos 0 x 1 Palmeiras

Brasileiro
Palmeiras 3 x 0 Santos
Santos 1 x 0 Palmeiras

Na década

Nesta década, a vantagem é alviverde. Destaque para 2002, quando o Peixe foi campeão brasileiro mas, mesmo com Diego e Robinho, não passou de 1 a 1 com o Verdão na Vila (o campeonato era de turno único e só houve um jogo). Em 2003, o Palmeiras jogou a segunda divisão do Campeonato Brasileiro e não houve duelo entre os times, já que eles não se encontraram pelo estadual.

Em 2004, 2 a 2 pelo Paulistão e, pelo Brasileiro, ano em que o Santos seria novamente campeão nacional, o Alviverde de Vágner Love enfiou 4 a 0 em plena Vila Belmiro no primeiro turno. No returno, 2 a 1 para o Peixe na capital. Mas o Santos não era mais o time de Robinho e Diego (que nunca bateu o rival).

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Favoritos do cinema (3): Era uma vez no Oeste - Sergio Leone e o faroeste de cinéfilo italiano


 
Só um homem sai vivo desta. E três
deles não são o Charles Bronson

Por Nicolau Soares
(publicado originalmente no blog A Horda)

A cena é a seguinte: três homens de aparência bruta estão parados numa estação de trem. Impassíveis, aguardam, com a paciência de quem tem uma missão a cumprir. Não movem um músculo, até que o transporte chega. Sem uma palavra, se dirigem ao local de desembarque. O trem parte, e ninguém aparece, deixando os três desconcertados por um momento. Quando a máquina termina de passar, um som de gaita anuncia o recém-chegado.

- Frank mandou vocês?, pergunta o estranho, sorridente.
- Sim, ele mandou, responde o homem do meio.
- E onde está meu cavalo?

Os três riem alto.

- Parece que trouxemos um cavalo a menos!

O sorriso desaparece do rosto do estranho da gaita.

- Não. Vocês trouxeram dois a mais.

Esse é o começo de Era Uma Vez no Oeste, obra prima do diretor Sérgio Leone e clássico absoluto do gênero que ficou conhecido como “faroeste espaguete”. O apelido dado aos filmes de bangue-bangue que um bando de italianos encasquetou de fazer nas décadas de 1960 e 1970 – e que revelaram o monstro Clint Eastwood – desperta certo desdém nos apreciadores de westerns, mas é algo totalmente despropositado, pelo menos no que diz respeito aos filmes de Leone. O ragazzo sabia o que estava fazendo.

O gênero do faroeste nasceu, obviamente, nos Estados Unidos, terra que teve na conquista do oeste um de seus episódios mais importantes. Do ponto de vista histórico, tratou-se de uma série de conflitos expansionistas travados pelos primeiros estadunidenses contra quem eles vissem pela frente: franceses, mexicanos, texanos (chegou a ser um país independente), outros americanos e índios, muitos e muitos índios morreram na sede dos EUA em ampliar seu território. Nada inocente.

Charles Bronson, o Harmonica de Era uma vez no Oeste

Em Hollywood, porém, essa história sangrenta assumiu contornos épicos. Não era a ação imperialista e agressiva de um povo mais forte atropelando os vizinhos mais fracos, mas a saga de um povo bravo, heróico e bem intencionado para construir uma nação. É a luta do homem para dominar a natureza e impor a modernidade e conquistar a própria a liberdade– mesmo que o conceito de “natureza” inclua uns bichos de duas pernas e pele avermelhada. Você vai achar isso nos faroestes de Howard Hawks, Anthony Mann e, principalmente, John Ford, o rei dos westerns e maior alimentador do mito da América livre – que mais tarde ele próprio veio questionar, mas isso é outra história.

O interessante de notar aqui é a proximidade dos fatos históricos com os filmes que eles narravam. Para se ter uma idéia, o xerife Wyatt Earp, personagem dos mais citados, morreu em 1929, quando a arte cinematográfica já estava a todo vapor – diz a sábia Wikipédia que ele chegou a conhecer John Ford, Tom Mix e John Wayne, astros do gênero. Isso quer dizer que os roteiristas que escreveram as primeiras histórias de bangue-bangue estavam contando histórias que ouviram do próprio personagem, do tio dele, do avô, do velhinho com um olho falso e um dente de outro que bebericava no boteco perto de casa. Eles estavam falando de gente de verdade.

Tudo isso para chegar na grande peculiaridade do western spaguetti: os italianos não tinham nenhum velho manguaça que conheceu Billy the Kid, nenhuma velhinha da rua deles tinha tido caso com o Buffalo Bill. Eles não tinham nada a ver com aquilo. Então por que diabos resolveram fazer faroeste? Porque eles gostavam pra caramba de cinema.

Foi no cinema que os Sergios Leone, Corbucci e Sollima, diretores destacados do gênero, viram os grandes heróis da conquista do oeste. Eles não viram nem ouviram a história do supracitado WyattEarp perseguindo o bando de Ike Clanton, eles viram Henry Fonda ir atrás de Grant Withersem Paixão dos Fortes, filmado em 1946 por John Ford. E eles adoraram.

O que eles viram foram personagens violentos, fortes e impressionantemente habilidosos com seus revólveres – que raramente ficavam sem balas. Eles viram heróis que escapavam de tiroteios impossíveis sem levar um tiro. Viram duelos ao por do sol de arrepiar. Eles não estavam nem aí para a conquista do oeste, eles queriam é mostrar dois fodões se detonando.

A linda Claudia Cardinale deixou todo
mundo de queixo caído. Eu inclusive

Em Era Uma Vez no Oeste, os fodões são um jovem (e já muito feio) Charles Bronson, o tocador de gaita do primeiro parágrafo (que matou seus três “caronas”, by the way), conhecido no filme apenas como Harmonica (gaita em inglês), Henry Fonda, já veterano, como o cruel pistoleiro de aluguel Frank, que vem aterrorizando a região para facilitar a expansão de uma estrada de ferro, e Jason Robards, que interpreta o fora-da-lei Cheyenne, que não gosta do jugo de Frank, mas só se mete depois de conhecer a quarta personagem forte da trama, dessa vez uma fodona: a maravilhosa Cláudia Cardinale, que interpreta a viúva Jill McBrain, que resiste em vender suas terras e se torna alvo de Frank. O resto da história importa muito pouco: o que pega mesmo são as interpretações marcantes (Henry Fonda dá medo) e os confrontos dos personagens, como o relatado no começo. Filmaço.

xxxxxxxx

PS do blog:
não quis fazer esta observação na abertura deste ótimo texto sobre western para não interferir na edição original, do Nicolau. Dizer alguma coisa antes da foto que abre o post seria um desrespeito. Mas a observação é que hoje é sábado. Se estiver sem nada pra fazer, Era uma vez no Oeste é uma opção que você não esquecerá, se tiver sensibilidade.


Leia também: Favoritos do cinema: "Quando explode a vingança", de Sergio Leone