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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Por que setores da esquerda apostam na anulação do impeachment, uma causa perdida?


Agência Brasil


A campanha pela anulação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff é algo que me faz pensar. Pensava eu: será que lideranças importantes do PT, da esquerda e dos movimentos sociais acreditam nisso? Acreditam mesmo que foi desfechado um golpe, patrocinado por interesses gigantescos que miram o saque de gigantes como Petrobras, Eletrobras e bancos públicos federais, para depois permitir que esse golpe seja anulado no Supremo Tribunal Federal, que aliás foi cúmplice desse mesmo golpe, seja por omissão descarada, seja por cumplicidade escancarada?

Esta semana conversei com um importante deputado do PT que me esclareceu essa questão. Eu lhe perguntei:

- Mas, deputado, você acredita em anulação do impeachment? Isso não é ingenuidade? Você acha isso possível?

- Não é possível, é impossível - respondeu o deputado.

Em resumo, ele explicou, a defesa da anulação do impeachment é apenas parte da luta política, uma questão de marcar posição.

Na realidade, qualquer figura que transita pela política, anda pelos corredores de Brasília e conhece o jogo, sabe que essa é uma batalha apenas retórica. Líderes importantes defendem a anulação do golpe publicamente, mas em off reconhecem que é uma causa sem a mínima chance.

A questão é: se é assim, será produtivo gastar energia, verbo e verbas (para manifestações) por algo que se sabe impossível?

Claro que não é produtivo. Se não é, não entendo por que ficar defendendo publicamente uma ideia impossível. É falta de foco. A esquerda está perdida. Ao invés de pensar novas táticas e estratégias, setores da esquerda estão acreditando na disputa de um jogo que já acabou. Ou seja, pensando num jogo perdido, enquanto o jogo presente está acontecendo. Se continuar assim, vai continuar perdendo.


domingo, 8 de outubro de 2017

Obama, go home!



Foto: Agência Brasil


Por Leonardo Attuch, no Brasil247


O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, iniciou pelo Brasil a sua nova carreira de palestrante internacional. Como todo ex-presidente de relativo sucesso e certo apelo para públicos corporativos, como Bill Clinton, Tony Blair, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, Obama decidiu ganhar a vida honestamente vendendo palestras e arrecadando recursos para seu instituto – nos Estados Unidos, essa atividade ainda não foi criminalizada.

Em São Paulo, Obama repetiu suas platitudes de sempre. Disse que sistemas previdenciários precisam ser sólidos, que o mundo precisa de mais tolerância, que o futuro pertence às novas lideranças e que só progridem aqueles países que investem em educação. Um blablablá óbvio, mas que seduz engravatados dispostos a tirar suas selfies num evento com um popstar da política internacional.

No entanto, como Obama escolheu o Brasil para recolher seus primeiros dólares, é importante recordar o que foi a política externa norte-americana para o País em sua gestão. Em 2013, o site Wikileaks, de Julian Assange, e o agente Edward Snowden, da NSA, revelaram que os Estados Unidos espionaram vários líderes internacionais, como a primeira-ministra alemã Angela Merkel e a presidente Dilma Rousseff. No Brasil, o foco central da bisbilhotagem era a Petrobras e o pré-sal – um fato óbvio diante da obsessão norte-americana por garantir sua segurança energética, ainda que isso envolva guerras, invasões e apoios a golpes de estado.

Obama se viu forçado a explicar a natureza dessa espionagem num encontro de cúpula do G20 em São Petersburgo, na Rússia, em 2013, mas suas justificativas não foram convincentes e as relações Brasil-Estados Unidos permaneceram congeladas até 2015, quando ele recebeu Dilma nos Estados Unidos. Nesse período, no entanto, o golpe parlamentar de 2016 foi sendo arquitetado – ao que tudo indica, com apoio informal norte-americano. Qual foi a primeira mudança relevante no Brasil pós-golpe? O modelo de exploração do petróleo, que deixou de ser o de partilha, que garantiria mais recursos à União, e passou a ser o de concessões.

No primeiro leilão, realizado em setembro, a maior compradora foi a norte-americana Exxon. Nos próximos, virão a Chevron, a Shell e outras multinacionais. Com a partilha, previa-se que os recursos do pré-sal seriam destinados prioritariamente à educação num governo cujo lema era "Pátria Educadora". Agora, no Brasil da "Ordem e Progresso", os gastos públicos foram congelados por vinte anos e a educação será uma das primeiras vítimas. A UERJ praticamente paralisou suas atividades, o reitor da UFSC se matou, após ser vítima de um justiçamento midiático, e, em breve, será proposto o fim da gratuidade nas universidades públicas. Com a educação sucateada no Brasil, a elite, cada vez mais, envia seus filhos para universidades internacionais – o que reforça a lógica da dominação cultural.

Dizer que o futuro das nações depende de investimentos em educação é fácil, Obama. Fazer, depende de governos nacionalistas e capazes de se proteger contra dominações imperiais.

sábado, 2 de setembro de 2017

Dilma Rousseff, símbolo de resistência em um país colonizado e pusilânime



Foto: Mídia Ninja

Para quem é normalmente considerada uma figura pouco afeita à política, Dilma Rousseff mostrou na última quinta-feira, 31 de agosto, que não é bem assim. Em um discurso pausado e calmo, de quase uma hora e meia, na Associação Brasileira de Imprensa, a ex-presidente da República deixou claro que está longe de ignorar algumas algumas relações bastante sutis da política.

É interessante destacar, por exemplo, sua avaliação sobre a (aparente?) divisão no seio do grupo golpista que tomou o poder de assalto, no golpe consumado em 31 de agosto de 2016, mas que havia sido desfechado com sucesso, e desde então definitivamente, em 17 de abril na Câmara dos Deputados: “Tem uma cisão (entre os golpistas), mas tem também uma unidade entre eles: unidade pela reforma da Previdência, pela reforma trabalhista, pela entrega das terra férteis, pela entrega da Petrobras”, disse, no evento "descomemorativo" de um ano do golpe.

Dilma parece ter politicamente amadurecido anos no último ano. Deve ter aprendido muito com seus erros políticos e as justas críticas que recebeu sobre sua condução da política econômica a partir de 2014, cujo clímax foi a nomeação de Joaquim Levy para comandar a Fazenda no segundo mandato. Críticas como a de Luiz Gonzaga Belluzzo, que me disse em dezembro de 2014: "O país está entregue à ignorância dos macroeconomistas (...) Eles vão cortar renda e emprego. Só que isso vai ser feito com uma recessão."

Ou como disse André Singer esta semana: "Sou crítico a Dilma, principalmente pela nomeação de Joaquim Levy (ao ministério da Fazenda), um grande equívoco, mas faço questão de fazer justiça a ela, porque ela foi corajosa no sentido de implementar um programa que decidi chamar de ensaio desenvolvimentista"

É certo que Dilma errou e não errou pouco. Só que errar ou conduzir equivocadamente as políticas de Estado estão longe de justificar a estupidez golpista que assola este país desde que se tornou uma República. No evento da ABI, a ex-presidente afirmou que o golpe que a derrubou mostra "por que temos a mais egoísta, atrasada e irresponsável elite”. As elites de outros países, acrescentou, “pensaram em sua nação, perceberam que seu destino seria maior se elas incorporassem o destino de seu povo. No nosso caso, tivemos sempre uma imensa dificuldade de fazer os processos mais simples de inclusão”, disse ela. Para mim, o país-paradigma dessa observação de Dilma chama-se Estados Unidos da América.

Essas avaliações podem parecer óbvias, mas não são. Vi analistas políticos destacarem a divisão que haveria entre os líderes do golpe, ou pelo menos a falta de coesão que poderia comprometer o próprio sucesso de seus planos a médio prazo. O "racha" que dentro do PSDB seria um dos mais importantes. Tudo ledo engano.

A avaliação de Dilma ("tem uma cisão, mas tem também uma unidade entre eles") é muito mais lúcida. Me faz lembrar o que disse o cientista político Vitor Marchetti, da UFABC, há um mês, quando o assunto do momento era a divisão dos tucanos entre os que queriam ficar e os que defendiam abandonar o barco de Temer: "Acredito que essa divisão do PSDB tenta dialogar com as duas pontas da sociedade: a daqueles que não toleram a corrupção e mantêm esse discurso de ‘fora todos, não aceito corrupção’ etc., mas também dialoga com a parcela para a qual o que importa é que as reformas avancem. Até a divisão do PSDB pode ter sido orquestrada”, disse Marchetti. “O partido não fechou com Temer, mas apoia a agenda de desenvolvimento segundo a agenda liberal. Eu acho, inclusive, que eles fizeram as contas, sobre quem vota a favor e quem vota contra.” Embora circunscrita ao PSDB, a análise é a mesma que Dilma faz em relação ao conjunto mais amplo dos golpistas para além do PSDB.

A fala de Dilma na ABI me parece, em certos aspectos, mais precisa do que os discursos do próprio Lula, que, apesar de seu carisma, sua liderança, sabedoria e genialidade política, às vezes soa como um populismo ultrapassado e cansativo.

Outro aspecto que tem me impressionado é a maneira como Dilma tem sido recebida pela militância e mesmo por setores mais amplos do que o próprio PT. Ela é recebida com enorme receptividade. Torturada por covardes na ditadura, primeira mulher presidente do Brasil e deposta pela "mais egoísta, atrasada e irresponsável elite", Dilma é um símbolo. Um símbolo guerreiro em um país colonizado e pusilânime.

Como já escrevi em post no ano passado: "Minha imaginação me leva, conduzido por Platão, a uma situação. Imaginemos que o Brasil fosse hoje um país que, com todas as suas características (a diversidade principalmente), estivesse no patamar de uma nação desenvolvida e politicamente respeitada, na qual as oligarquias espúrias tivessem sido reduzidas a sombras da história e não mais influenciassem a vida do país.

"Nessa hipótese platônica, governando um país que tivesse superado sua triste vocação a colônia, Dilma Rousseff seria uma presidente e líder sofisticada".

No caso brasileiro, temos ainda o congênito problema da apatia de um povo que não reage e que é tratado pela esquerda como pobre vítima. "Por que o povo está tendo seus direitos e interesses massacrados e ainda não entrou em cena aqui no Brasil, eu ainda não sei”, me disse o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) recentemente. 

Mas falar o povo brasileiro é outro assunto. Fica para outra oportunidade.

sábado, 29 de julho de 2017

Milton Leite: "Lula foi o melhor presidente da República que o Brasil já teve"



Para jornalista do SporTV, Michel Temer é "golpista" e "traidor"



Reprodução/Uol


Interessante a entrevista do jornalista e narrador Milton Leite, do SporTV, ao Uol. Milton é atualmente, na minha opinião, o melhor narrador de futebol da TV (essa questão do narrador renderia um post à parte, mas não tenho tempo para isso agora).

É que, de Milton Leite, por ser funcionário do SporTV, e portanto da Globo, não se esperaria uma entrevista em que falasse de política com tanta naturalidade como falou ao Uol. Eu li a edição do Brasil247. A original do Uol é tão editorializada que me cansou. É mais gráfica do que textual, e isso me incomoda.

Na entrevista, Milton diz que o Brasil é hoje governado por uma quadrilha. "Porque não houve crime para o impeachment (de Dilma). Acho que estamos vivendo uma fase lamentável. A gente tem uma quadrilha no poder. Tem reformas absurdas sendo feitas para tirar direitos trabalhistas, de Previdência. Estamos vivendo um dos piores momentos da história porque, diferentemente da ditadura, que foi militar e violenta do ponto de vista físico, de constrangimento e censura, agora estamos em um estado de exceção, praticamente com a permissão da Justiça”, disse.

Uma passagem da entrevista que chama a atenção é o que o jornalista tem a dizer sobre o ex-presidente Lula: "Eu acho que o Lula foi o melhor presidente da República que o Brasil já teve. Conseguiu tirar tanta gente da pobreza. Mas acho também que ele cometeu erros inaceitáveis para quem vinha de um partida popular trabalhista como ele vinha".

Sobre Michel Temer: "Esse é golpista. É traidor porque fazia parte da chapa da Dilma. Isso não dá direito de não só derrubar a Dilma, como fazer o contrário do que eles haviam se proposto a fazer. Então, esse é um político pelo qual eu não tenho o menor respeito".

E sobre Sérgio Moro, o príncipe de Curitiba: "É um juiz que ficou embevecido com o poder, com o sucesso e com a popularidade. É um cara que tem cometido uma série de arbitrariedades".

Como eu disse, a edição do Uol é editorializada (e certamente não por acaso). Então fica difícil saber por essa edição o que o Milton Leite considera "erros inaceitáveis" de Lula. Mas até eu (apesar do inconformismo de amigos próximos) tenho críticas não muito palatáveis ao Lula.

Mas, enfim, fica o registro. Registro que tem a ver com o fato de, em alguns momentos, vendo as narrações de Milton Leite, eu me pegar perguntando "mas o que será que o Milton pensa de política?". Algumas respostas ele deu nessa entrevista.

Acho interessante observar o seguinte: nem Juca Kfouri, nem José Trajano, dois dos poucos jornalistas da área esportiva que são muito respeitáveis -- que não escondem nada, nem puxam o saco de ninguém --, disseram (que eu saiba) essa frase: "Lula foi o melhor presidente da República que o Brasil já teve". Para minha surpresa, Milton Leite disse.

Abaixo seguem os links com a edição do Brasil247 e a original do Uol:


A edição original do Uol

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Dez minutos e meio com Marco Aurélio Garcia



Foto: Eduardo Maretti

A morte transforma as pessoas, na imprensa, em um título e alguns atributos. O intelectual Marco Aurélio Garcia (1941-2017), que morreu ontem, se transformou em "ex-assessor especial de Lula e Dilma". É só o que as manchetes anunciam.

O único encontro pessoal que tive com Marco Aurélio Garcia, quando pude conversar com ele em particular (e fiz a foto que ilustra este post), foi há apenas dois meses, em rápida entrevista de exatos 10 minutos e 33 segundos para a RBA, antes de um encontro reservado que ele teria com alguns jornalistas e ativistas, do qual não participei porque ainda tinha de escrever a matéria (que está aqui).

O papo foi de certa forma frustrante, já que ele era uma figura de pensamento amplo e os poucos dez minutos e meio eram claramente insuficientes para uma entrevista satisfatória, mas era o tempo que tínhamos acordado, para não atrasar o debate para o qual ele se dirigira.

Ele não falava sobre conjuntura de maneira direta e suas respostas não eram fáceis. Como era historiador, precisava construir um panorama e estabelecer inúmeras relações entre os fatos políticos e históricos para responder a uma pergunta sobre a crise política ou o que poderíamos esperar do atual cenário obscuro do país, por exemplo.

O respeito que Marco Aurélio inspirava era visível quando havia reuniões do PT. Suas aparições -- que não eram comuns, mas se restringiam a eventos importantes do partido -- eram motivo de euforia: você via alguns repórteres da grande imprensa ávidos por algumas palavras que fossem de Marco Aurélio Garcia, os mesmos repórteres que dali a pouco escreveriam as reportagens sobre o mensalão ou, mais recentemente, sobre a Lava Jato, reportagens que obviamente alimentariam e alimentam até hoje as "provas" da força-tarefa. Afinal, algumas palavras dele poderiam dar brilho a qualquer reportagem, mesmo que mentirosa ou medíocre.

Os repórteres ávidos não são bobos. Afinal, Marco Aurélio era um dos principais quadros do PT, um dos que de fato não se deixaram vencer pelo apego ao poder.

Como um dos arquitetos da política externa de Lula e Dilma, ele foi dos que preferiram atuar mais nos bastidores e na construção do que sob os holofotes.

Talvez por isso, um dos maiores trunfos da "grande imprensa" em relação a ele foi ter conseguido flagrá-lo "fazendo um gesto obsceno enquanto assistia a um telejornal", o que foi exibido em manchetes como um troféu, já que era preciso de alguma forma "pegar" Marco Aurélio. Mas nunca pegaram.

Ele se manteve íntegro até o fim.

Segundo seu amigo Roberto Amaral, do velho PSB que já não existe, Marco Aurélio tinha planos. Diz Amaral, sobre o último encontro com ele, no artigo "Tributo a Marco Aurélio de Almeida Garcia":

"Estivemos juntos, pela última vez, há cerca de dois meses. Marco Aurélio, alegre, nos apresentou seu novo apartamento paulistano, da qual destacava, como salões nobres, sua cozinha-copa-sala de estar “montada como um bistrô”, dizia ele, e o espaço reservado para sua imensa e rica biblioteca que ainda não conseguira pôr em ordem. Eu lá estava, na companhia da cineasta e produtora Cláudia Furiati que desejava seus conselhos para um filme (que ainda pretende rodar) sobre a esquerda latino-americana. A visita começou com um belíssimo jantar, elaborado por ele enquanto degustávamos um majestoso vinho sacado de sua adega. A noite não tinha pressa. Terminamos esse encontro, que eu jamais pensei ser o último, ouvindo-o dissertar sobre o plano de seu livro de memórias. O infarto traiçoeiro nos proibiu dispor de uma peça literária de grande porte, e de um depoimento crucial sobre a política brasileira de nossos dias."

Que vá em paz.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O Brasil finalmente é um "anão diplomático"



Foto: Agência Brasil

Em 2014, quando Dilma Rousseff chamou para consultas seu embaixador em Tel Aviv, a diplomacia israelense disse que o Brasil era um "anão diplomático", nas palavras do então porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor. O motivo da agressão era o fato de a presidente brasileira ter repudiado o uso desproporcional da força sionista contra os palestinos em Gaza. Três anos depois, o Brasil de fato é um "anão diplomático". Por ironia da história, justamente porque o governo Dilma foi derrubado por um golpe parlamentar que levou Temer ao poder e transformou o Brasil nesse anão.

Em termos de política externa, o governo Temer é pequeno, de fato um anão diplomático. Não apenas, mas principalmente, por sua política ideologizada e medíocre. Por exemplo ao liderar um boicote mesquinho contra a Venezuela, junto com a Argentina de Mauricio Macri, jogando no lixo a própria tradição do Itamaraty, que sempre primou pela diplomacia e o equilíbrio -- seja com Collor, Fernando Henrique, Lula ou Dilma.

"Temos uma posição, no caso da Venezuela, muito equivocada. Tudo para procurar se alinhar com a política exterior americana  (...)  Estamos manchando a imagem do Brasil com um país que respeita os outros", me disse o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães em entrevista para a RBA.

Mas o governo é um "anão diplomático" na política externa não só pela ideologização, como também por protagonizar episódios rocambolescos, risíveis mesmo, na pessoa do próprio presidente da República. No final de junho, em visita oficial à Noruega, Temer chamou o rei norueguês Harald V de "rei da Suécia". Isso num evento oficial, dirigindo-se à primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, em pessoa.

Para não dizer que é perseguição de jornalista de esquerda, o incensado colunista Bernardo Mello Franco, da Folha de S. Paulo, anotou (em 23 de junho): "A viagem de Michel Temer à Europa produziu um vexame internacional. Enquanto o presidente passeava em Oslo, o governo da Noruega anunciou que cortará pela metade a ajuda ao Fundo Amazônia. O motivo é o fracasso do Brasil no combate ao desmatamento".

"Os jovens estão muito preocupados com a desmoralização do Estado brasileiro em nível internacional", disse Samuel Pinheiro Guimarães na entrevista acima citada, ao comentar o manifesto de diplomatas brasileiros em nome do "restabelecimento do pacto democrático" do país, após a violenta repressão às manifestações em Brasília no final de maio.

E assim caminha o Brasil na segunda década do século 21. 

terça-feira, 6 de junho de 2017

Putin e Erdogan alertaram Dilma e Lula sobre manifestações de 2013, diz Fernando Haddad


"Tenho para mim que o impeachment de Dilma não ocorreria não fossem as Jornadas de Junho", diz ex-prefeito de São Paulo


Ainda bem que é Fernando Haddad quem fala, e não eu (quando falei que o início do golpe foram as manifestações de 2013, colegas e até amigos vieram pra cima de mim como se eu fosse um blasfemo).

O trecho abaixo é de Haddad publicado na Piauí, agora em junho.

"Durante os protestos de 2013 no Brasil, a percepção de alguns estudiosos da rede social já era de que as ações virtuais poderiam estar sendo patrocinadas. Não se falava ainda da Cambridge Analytica, empresa que, segundo relatos, atuou na eleição de Donald Trump, na votação do Brexit, entre outras, usando sofisticados modelos de data mining data analysis. Mas já naquela ocasião vi um estudo gráfico mostrando uma série de nós na teia de comunicação virtual, representativos de centros nervosos emissores de convocações para os atos. O que se percebia era uma movimentação na rede social com um padrão e um alcance que por geração espontânea dificilmente teria tido o êxito obtido. Bem mais tarde, eu soube que Putin e Erdogan (presidentes da Rússia e da Turquia) haviam telefonado pessoalmente para Dilma e Lula com o propósito de alertá-los sobre essa possibilidade."

A íntegra do texto de Haddad está aqui.

E, abaixo, o link de um artigo de F. William Engdahl, publicado logo após a reeleição de Dilma, em novembro de 2014, no qual o pesquisador chamou a atenção para uma coincidência envolvendo a visita do então vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao Brasil, em maio de 2013:

"Dilma Rousseff tinha uma taxa de popularidade de 70 por cento. Menos de duas semanas depois da visita de Biden ao Brasil, protestos em escala nacional convocados por um grupo bem organizado chamado 'Movimento Passe Livre', relativos a um aumento nominal de 10 por cento nas passagens de ônibus, levaram o país virtualmente a uma paralisação e se tornaram muito violentos. Os protestos ostentavam a marca de uma típica 'Revolução Colorida', ou desestabilização via Twitter, que parece seguir Biden por onde quer que ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu para 30 por cento."

O link com o artigo de Engdahl: BRICS’ Brazil President Next Washington Target

Acho que não precisa desenhar.

O único comentário que me ocorre: como podem Lula, Dilma e seus assessores serem tão ingênuos, ou "republicanos", como preferiam dizer? Certamente não foram só Putin e Erdogan que  os alertaram. Mas quantos tenham sido, foi inútil.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

O simbolismo da presença de Dilma em Curitiba



HENRIQUE FONTANA
Dilma Rousseff e Lula no aeroporto de Curitiba, com Vagner Freitas da CUT

Dilma Rousseff foi uma figura marcante na noite deste 10 de maio de 2017 em Curitiba, apesar de relegada a um óbvio e natural segundo plano. Não pelo que disse, mas por sua presença até certo ponto surpreendente. Por ter sido a primeira a discursar no ato, depois do depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro na (a partir de hoje) mundialmente famosa 13ª Vara Federal, a chamada República de Curitiba.

A presença de Dilma no evento teve um caráter absolutamente simbólico. Em que pese seus notórios erros políticos (e até por eles), que seria repetitivo enumerar aqui, Dilma é quem foi derrubada pela articulação da qual Michel Temer é apenas uma marionete. Dilma cometeu erros, e não foram poucos, mas ela não pode ser, sozinha, responsabilizada pelo golpe. O seu grande erro foi o início do segundo mandato, mas aí as coisas já estavam meio difíceis (sim, inclusive por erros dela). O ciclo das commodities, que empurraram os dois mandatos de Lula, tinha acabado. E o acordo com o PMDB não foi ela quem fechou, anos antes.

A articulação que levou a marionete Temer ao poder, como se sabe, envolve interesses globais: a destruição do Brasil como nação, da Petrobras (como possibilidade de nação), uma das maiores companhias de petróleo do mundo, colocada na bacia das almas por interesses materializados pela Lava Jato, com seu pretexto de combater a corrupção.

"Tenho certeza que o país não vai continuar  por esse caminho de golpe atrás de golpe", disse Dilma em Curitiba. Os mais exigentes poderiam dizer que faltou uma preposição na frase de Dilma. Sim, faltou a preposição. Mas a frase, aparentemente simples, é carregada de muitas verdades intrínsecas. Porque estamos vendo, desde o ano passado, a comprovação de que Temer não passa mesmo de uma marionete manipulada pelas gigantescas corporações dos Estados Unidos da América, a Roma contemporânea.

E só uma nação mobilizada pode conter a Roma contemporânea. Não depende só de Lula ou de Dilma, nem de ambos juntos. O Brasil precisa ser uma nação.

sábado, 25 de março de 2017

Fernando Henrique agora se lembra de falar em democracia. Tarde demais


CINISMO


Tânia Rêgo/Agência Brasil

Depois de um golpe de Estado que recolocou o Brasil no patamar de república de bananas, e que repercutiu em todo o mundo democrático como o que de fato é, um golpe de Estado; depois da operação de entrega, em andamento, de um dos maiores tesouros nacionais conhecidos, o pré-sal; depois da consolidação do “estado de exceção no interior da democracia, capitaneado pelo Judiciário” (Pedro Serrano); depois da enxurrada de medidas que castram e abolem conquistas civis que o país levou décadas para conquistar e direitos trabalhistas de sete décadas; depois de PEC do Fim do Mundo e outras barbaridades que seu partido ajudou a fazer, Fernando Henrique Cardoso, o Nobre, agora vem reclamar do “protagonismo” da Polícia Federal e do Ministério Público.

Não há mais limite para o cinismo neste pobre país.

Questionado sobre o envolvimento generalizado de políticos e presidenciáveis na “megadelação da Odebrecht” (termo do repórter), o ex-presidente declarou em entrevista ao Valor Econômico de ontem: “A tentativa de passar a esponja não vai dar certo, a sociedade não vai aceitar isso. Agora, você pode dizer: você errou e não vai ser candidato, você errou e vai pagar por isso, você fez um crime e vai para a cadeia. Não é a mesma coisa. Todos têm erros e não estou dizendo que já que é assim, que venha o caixa dois, não é isso. Temos que responder à seguinte questão: quanto custa a democracia e quem paga. Esta é uma questão mundial, não é brasileira não. Quanto custa a democracia e quem paga, isto tem que ser posto claramente”.

Sobre o Ministério Público e a Polícia Federal, o ex-presidente declarou ao Valor: “Você não pode deixar que qualquer instituição do Estado tenha um protagonismo além do limite”.

FHC agora acaba de se lembrar da democracia, logo ele, líder de um partido que votou unanimemente pelo golpe contra Dilma Rousseff, partido que infelizmente, para ele, é citado na megadelação, mas até agora não teve um só cacique transformado em réu pela Lava Jato, enquanto Lula é perseguido como uma espécie de Lampião da política.

Que bom teria sido se o ex-companheiro do grande Ulysses Guimarães tivesse se lembrado da democracia antes. Se mesmo com as discordâncias políticas e mesmo ideológicas houvesse levantado a voz contra a ameaça quando ela ainda era uma ameaça. Mas agora é tarde, Fernando Henrique. Você perdeu seu lugar na imortalidade, como diria Milan Kundera.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Marco Aurélio sobre impeachment: "O que houve foi uma deliberação das duas casas do Congresso"


Reproduzo aqui, ipis litteris, a entrevista que fiz hoje, para a Rede Brasil Atual 


Carlos Humberto/STF


O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, refuta a ideia de que a mais alta corte do país tenha sido conivente com o impeachment, segundo a expressão jurídica, ou golpe, de acordo com o termo político utilizado pelos representantes da esquerda brasileira. “O que houve foi uma deliberação, e deliberação das duas casas do Congresso. Em segundo lugar, nós ocupamos uma cadeira de envergadura maior. E não estamos engajados em qualquer política governamental”, disse Marco Aurélio à RBA.

A reversão do impeachment de Dilma Rousseff é defendida como viável por juristas como o procurador da República Eugênio Aragão.

Empossado em 13 de junho de 1990, o ministro Marco Aurélio discorda de que o país sofreu um golpe. “Não, de forma alguma”, diz.

Como o sr. avalia a tese de que a única forma de o país sair da crise é a anulação do impeachment, cujo julgamento está no STF?

Se está no STF eu não posso antecipar qualquer ideia. Vamos aguardar. Mas, evidentemente, foi uma fase que ficou para trás. Precisamos esperar. Não conheço inclusive a articulação que se faz. Eu não poderia mesmo emitir (opinião) por uma questão de dever profissional.

Qual articulação?

A articulação nas ações. Há vários mandados de segurança no Supremo.

Há muito questionamento sobre por que o Supremo não se pronuncia, já que o impeachment é um caso muito importante. Por quê? Poderíamos explicar?

Porque a sobrecarga é inimaginável, considerando uma Suprema Corte. Nós não somos mais operadores do Direito, nós somos estivadores do Direito. É algo que, se você revela, por exemplo, a um integrante de um tribunal estrangeiro, a esse nível, ele pensa até que é irreal. Por isso é que viemos apagando simplesmente incêndios, e a jurisdição fica prejudicada em termos de celeridade.

Alguns juristas afirmam que, por omissão, o STF participa do que eles chamam de golpe. O sr. teria algum comentário sobre isso?

Não, de forma alguma. De forma alguma. Primeiro, não cogito, em si, de golpe. O que houve foi uma deliberação, e deliberação das duas casas do Congresso. Em segundo lugar, nós ocupamos uma cadeira de envergadura maior. E não estamos engajados em qualquer política governamental. A política presente no Supremo é institucional e voltada a tornar prevalecente a lei das leis da República, que é a Constituição.

O Legislativo representa a sociedade hoje?

É a premissa, e eles devem estar atentos aos anseios de sociedade.

Mas parece que não estão, não é?

Não, eu não emito impedimento a respeito. Que cada qual faça a sua parte. E apenas digo que em época de crise devemos guardar princípios, sendo até um pouco ortodoxos nessa guarda. 

Como um dos ministros mais antigos do STF, o sr. vislumbra alguma saída para o país, que continua mergulhado numa crise profunda?

Nós estamos sangrando por motivos diversos. Evidentemente, devemos procurar correção de rumos, dias melhores para o povo brasileiro.

Procurar um outro sistema político?

Não, precisamos ter uma compenetração maior, principalmente da parte dos homens públicos quanto ao avanço cultural.

Avanço cultural que no nosso caso continua no século passado...

Pois é, e com um mercado desequilibrado em que os jovens não têm a menor chance de se realizarem. Isso é preocupante. Nós temos um desequilíbrio marcante entre empregos e mão de obra. Houve um crescimento demográfico desenfreado. Basta lembrar o chavão da Copa de 1970: “90 milhões de brasileiros em ação”. Hoje, em plena crise, somos quase 210 milhões, um crescimento de mais de 130% em cerca de 45 anos.


quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Crônica sobre o golpe – a República de bananas e a esperança



Algumas sementes vão virar árvores

Comentei ontem no Facebook achar engraçado que, por ingenuidade ou falta do que falar, as pessoas perguntavam na semana passada, ironizando: “Cadê a Lava Jato?, cadê o Moro?, cadê, cadê???”

Para os incautos que parecem não compreender o que se passa no país, a resposta veio ontem, com a denúncia do procurador Deltan Dallagnol contra Lula, baseada em uma apresentação tosca de powerpoint que culminou com a já histórica frase: “Não temos como provar, mas temos convicção”.

Como disse o Kiko Nogueira , parece que definitivamente “transformaram o Brasil no Paraguai”.

A verdade é que não se pode mais prever aonde chegaremos na história desta triste República de Bananas.

Mas, realmente, só os incautos (“que ou o que não revela malícia; crédulo, ingênuo” – Michaelis) poderiam esperar algo diferente em relação a nossas instituições. Na semana passada, o escritor Fernando Morais, em entrevista, afirmou: “Só um idiota completo pode imaginar que Globo, Fiesp, extrema direita, Folha, Estado, Editora Abril, Ministério Público, Policia Federal vão fazer o que fizeram para entregar a presidência da República de bandeja pro Lula de novo”.

No mesmo dia 31 em que o espetáculo farsesco do impeachment no Senado derrubou Dilma Rousseff, conversei com o velho socialista Roberto Amaral, que vaticinou: “para se precaver, no que for possível, tentarão destruir o Lula. Destruir o Lula como imagem, como símbolo, até destruí-lo como político, com essas tentativas de processá-lo para ver se até 2018 conseguem uma condenação que o afaste do processo eleitoral. Isso é um jogo tão evidente, as cartas estão tão claramente postas na mesa que eu não entendo que possa haver qualquer dúvida”. A entrevista está neste link .

Outra figura que tem o estranho hábito de teimar em compreender a conjuntura e interpretar os sinais é o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, de quem tive o privilégio de ser aluno na PUC-SP, lá se vão anos. Em novembro do ano passado, num evento na Assembleia Legislativa, ele disse que a sociedade está “enfeitiçada” pela manipulação da mídia. “Só as versões se tornam realidade, ao ponto de as pessoas não saberem mais o que é real e o que não é.”

Em março (mais de um mês antes de o impeachment passar na Câmara), em entrevista que fiz com ele, Laymert disse: “Não acho que o fascismo vai vir, ele já está aqui”. Acrescentou: “Estamos vivendo uma espécie de fascismo de rua, mas ele é concomitante com toda uma argumentação jurídica que está sendo construída, que é ilegal e inconstitucional, uma ruptura com o regime democrático e com os princípios da Constituição. Estamos vendo a construção disso tudo, através das violências jurídicas e do estabelecimento de uma nova jurisprudência, entre aspas, que lembra muito o tempo do fascismo” (a entrevista de março está aqui).

Precisamos deixar de ser crédulos. Eu deixei de clamar "Não vai ter golpe" em 17 de abril de 2016, quando daquele espetáculo dantesco na Câmara dos Deputados, que manchou a história do Brasil. O golpe foi ali, sob o comando de Eduardo Cunha, que só caiu quando não interessava mais.

É preciso reconhecer que a esquerda não está unida, como alguns fingem acreditar, e entender que é preciso bem mais do que a esquerda se unir pela democracia. É preciso a união de todos os democratas do país, de Jean Wyllys a Kátia Abreu, dos socialistas aos liberais progressistas. Não tem outra saída.

Em 26 de agosto, no decorrer do espetáculo de teatro no Senado, a senadora Gleisi Hoffmann, dirigindo-se ao presidente do STF que presidia a sessão, Ricardo Lewandwski, manifestou a angústia que milhões de brasileiros hoje sentem: “Não querem sequer que tenhamos direito à indignação? A quem vamos recorrer? Será que vamos poder recorrer ao Supremo Tribunal Federal quando a nossa Constituição é vilipendiada?”

O que se pode acrescentar a essa justa manifestação de indignação de Gleisi?

Talvez só haja uma esperança, e ela está dentro de uma frase que Lula disse hoje em seu discurso para se defender das acusações do Ministério Público: "Essa meninada que evitou o Alckmin de fechar escolas, que está vindo para as ruas para reivindicar democracia, essa meninada é o Lula multiplicado por milhões”.

O amigo José Arrabal, da geração que, como Laymert, sofreu as mazelas do regime militar, também vê motivos de otimismo na geração que vem por aí, e acredita numa nação simbolizada "em Dilma e em Rafaela Silva, a campeã olímpica da Cidade de Deus”, como disse no dia do golpe no Senado (aqui).
A esperança é essa: que as sementes (como o menino da foto deste post) deem frutos. “Para ver que algumas sementes chegam a árvores”, como escreveu minha amiga Camila Claro em dedicatória que fez num livro pra mim, em 2002, e lá se vão 14 anos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Bem-vindos ao admirável Brasil novo


Anselmo Cunha / Mídia NINJA
"Neblina de gás lacrimogênio nas ruas de Porto Alegre"  (1°/09/2016)

“Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.”

A frase é do agora não mais interino presidente da República, Michel Temer, ao tomar posse ontem, em cerimônia no Congresso Nacional. É a mesma frase protocolar proclamada por todos os presidentes. Seja Castelo Branco, seja Lula.

Mas na boca de Temer soa conforme a expressão usada por Laymert Garcia dos Santos, na entrevista de ontem: "A palavra precisa com relação ao que aconteceu com Dilma e o julgamento é: ignomínia” (leia aqui).

O professor Roberto Amaral, com quem também falei ontem, dia 31 de agosto de 2016, que vai ficar marcado como a data da ignomínia, disse: “Temer não é um sujeito do processo histórico, não é um ator, é um mamulengo. Está aí em função de uma contingência e uma necessidade”.

O professor Amaral disse mais: “Vemos o comportamento do governo de São Paulo (de Geraldo Alckmin-PSDB). Vemos as notícias de repressão às manifestações contra o golpe. Todas as aparências vão ser quebradas. Não há mais necessidade de aparências”.

Em manifestação em São Paulo contra o golpe parlamentar na noite do dia 31, a aluna da Universidade Federal do ABC Deborah Fabri, do Levante Popular da Juventude, foi atingida por estilhaços de bomba e hoje se confirmou que a jovem perdeu a visão do olho esquerdo.

Ao responder minha pergunta sobre que país espera a partir de agora, Roberto Amaral disse: “Minha expectativa é de um país em conflito”. 

E assim chegamos ao Admirável Brasil Novo.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Dilma, estadista, dá aula histórica de política e democracia no Senado



"Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes"
(Dilma Rousseff, 29 de agosto de 2016)



Marri Nogueira/Agência Senado

A defesa que a presidente Dilma Rousseff fez de si mesma no espúrio processo de impeachment no Senado Federal no dia de hoje foi histórica. O que não sou eu quem diz, mas pessoas como o jurista Luiz Moreira, para quem Dilma deu uma “aula” no Congresso. Escolhi a foto acima, apesar de haver outras melhores, porque me parece simbólica da coragem dessa mulher no contexto grotesco a que chegou o país.

Seria demasiado cansativo, para mim que estou desde o início da audiência de Dilma trabalhando, esmiuçar ou discorrer sobre o assunto. Chamou minha atenção a resposta dela a uma questão colocada pelo senador Telmário Mota (PDT-RR): “com quem a senhora vai governar (se voltar ao cargo)?”

Dilma lembrou o PMDB de Ulysses Guimarães para fazer uma análise política sobre os danos causados ao país pelo esvaziamento do centro democrático. Disse que o Brasil sempre teve um centro democrático que congregou lideranças progressistas, mas esse centro se esfacelou, o que é simbolizado pelas assombrações (termo meu) de Eduardo Cunha e Michel Temer.  

“Esse PMDB, que teve no deputado Ulysses Guimarães a sua maior força, mas não só, esse centro sofreu uma alteração profunda, deixando de ser democrático.”

“O centro democrático perdeu a hegemonia dos progressistas e passou a ter a mais retrógrada posição que o país já assistiu”, disse.

Respondendo a um senador que vai entrar para a história como alguém que jogou sua biografia no lixo, Cristovam Buarque, que ardilosamente quis saber por que ela escolheu Michel Temer duas vezes como vice de sua chapa e hoje o chama de golpista, ela lembrou o diálogo entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o delator Sérgio Machado, que veio a público em maio, em que Jucá afirma: “O Michel é Eduardo Cunha”.

Disse ainda: “Supúnhamos que (Temer) fosse desse centro democrático progressista, transformador. Achamos que representava o que havia de melhor no PMDB.”

“Quando (Jucá) disse que Michel é Cunha, quis dizer que Temer integra o grupo de Eduardo Cunha. Quando o centro democrático deixa de ser progressista e passa a ser golpista e conspirador, ele tem um líder. Michel Temer é um coadjuvante. O líder é, ou era, Eduardo Cunha”, continuou.

Luiz Moreira, a quem entrevistei, explicou por que o discurso no Senado foi histórico, entre outros motivos: “Ela responde com muita altivez essa onda misógina, de dizerem que ela é frágil, que estaria justificada essa violência por ser uma mulher e uma mulher frágil. Ela responde isso com muita personalidade, muito domínio técnico e político da questão. Dilma hoje deixa uma grande mensagem para o Brasil” (leia aqui)

Ela terminou a aula falando de economia, explicando à feroz advogada Janaina Paschoal questões que você pode ler aqui.

O que me pareceu muito importante – mais do que isso, digno de nota – foi a avaliação de que os atores políticos precisam de maturidade para superar as mesquinhas disputas políticas e o malfadado “quanto pior, melhor”, e a frase com que definiu essa necessidade: “Ou se entende esse processo ou vamos continuar a fazer mal a nós mesmos”.

É inquestionável que, se havia dúvidas de que Dilma é uma estadista, ela tratou de esclarecer que é. Se perder a votação, é porque o Brasil merece a tragédia.

sábado, 18 de junho de 2016

O fenômeno Dilma



Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma na sexta 17, na Universidade Federal de Pernambuco

A história costuma ser irônica. Mais uma prova disso é que, duramente criticada inclusive por seus pares de PT, Dilma Rousseff pode ser a via pela qual o próprio PT pode vir a se recuperar como partido, pelo menos em parte. Com toda a crise que levou o Brasil a uma das fases mais obscuras de sua história, Dilma tem protagonizado nas últimas semanas um fenômeno extremamente interessante: sua popularidade cresce a olhos vistos. Mais do que isso: ela está  superando a popularidade que poucos (ou ninguém) esperavam que poderia ter.

Dilma merece algumas das críticas já conhecidas, como o caráter centralizador de seus governos e a mediocridade de seus ministros, com algumas exceções, assim como ter entregado alguns de seus ministérios a próceres da direita - e Gilberto Kassab é o mais acabado exemplo. Mas tenho visto de maneira diferente a crítica sobre sua incapacidade de "fazer política", que, se é procedente até certo ponto, deve ser relativizada. Seria incompetência "não saber negociar" com uma geração de políticos e um Congresso que são a própria materialização da corrupção e do ideário da direita?

A própria Dilma questionou essa crítica, que se faz a ela diuturnamente (e que eu mesmo já fiz), na entrevista a Luis Nassif na segunda-feira 13 (leia aqui). “Atribuía-se a mim (o problema de) não querer negociar. Mas não tem negociação possível com certo tipo de prática”, disse, em referência a Eduardo Cunha e seu bando.

Esse "problema" ou "defeito" de Dilma é, antes, uma virtude.

Minha imaginação me leva, conduzido por Platão, a uma situação. Imaginemos que o Brasil fosse hoje um país que, com todas as suas características (a diversidade principalmente), estivesse no patamar de uma nação desenvolvida e politicamente respeitada, na qual as oligarquias espúrias tivessem sido reduzidas a sombras da história e não mais influenciassem a vida do país.

Nessa hipótese platônica, governando um país que tivesse superado sua triste vocação a colônia, Dilma Rousseff seria uma presidente e líder sofisticada. Que poderia sofrer derrotas e conquistar vitórias políticas, mas não precisaria se submeter à canalha politicagem brasileira. Sem precisar "negociar" com chefes de gangs, Dilma apenas governaria.

Embora acusada de ser uma tecnocrata, ela poderia tocar seus projetos para o pré-sal, por exemplo, o maior tesouro da indústria do petróleo descoberto neste século, e um dos principais motivos do golpe que, como se sabe, tem a mão do imperialismo (leia aqui). Digo que o pré-sal é um dos principais motivos do golpe porque não é o único: nossa água é outro.

Por falar em império, lembremos Barack Obama, para fazer uma comparação. O presidente dos Estados Unidos teve muitas dificuldades a partir de novembro de 2014, quando passou a ter minoria no Congresso. Mas a democracia norte-americana é estável e Obama não ter maioria não significa golpe. Muito longe disso. No Brasil, afrontar o mercado financeiro (como Dilma fez ao rebaixar a taxa de juros Selic entre 2012 e 2013) e se recusar a negociar com bandidos no Congresso foram gasolina no fogo do golpismo.

Por incrível que pareça, Dilma já é um passo à frente do petismo lulista. Com todos os seus erros, ela tem incendiado uma militância até outro dia adormecida, o que parecia absurdo um ano atrás, quando era considerada traidora do programa de governo com o qual se elegeu, e graças à militância do movimento social que, diga-se, deu um caráter muito além do PT a sua eleição.

Acho importante lembrar que, no contexto do apodrecido presidencialismo de coalizão brasileiro, se Dilma é responsabilizada por ser politicamente incompetente, não foi ela, mas Lula, quem fechou acordo com o PMDB de Temer e Sarney.

Não foi certamente à toa que o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, um mestre insuspeito, em artigo publicado na Folha ontem, 17, comparou Dilma Rousseff a Joana d'Arc (leia aqui).


sexta-feira, 10 de junho de 2016

Dilma: virada contra seu governo "combina com as manifestações de junho de 2013"



Roberto Stuckert Filho/ PR


Ainda há setores da esquerda que, data venia, ingenuamente, continuam a achar que as manifestações de 2013 foram um show de espontaneidade e democracia jovem.

Mas não param de surgir novas manifestações de pessoas insuspeitas, por sua posição ou conhecimento, que mencionam as estranhas coincidências, as quais permitem uma fácil associação entre, por exemplo, o que ocorreu no Brasil e a chamada Primavera Árabe, ou Revolução Colorida, como preferem alguns. Desta vez foi ninguém menos do que a própria presidente Dilma Rousseff.

Na entrevista a Luis Nassif que foi ao ar ontem na TV Brasil, Dilma fez a seguinte observação sobre a “virada” que se deu a partir de determinado momento em que sua tentativa de baixar a taxa de juros Selic desafiou setores muito poderosos do capital financeiro mundial. Lembremos que a taxa Selic era de 7,25% em abril de 2013, mas já estava a 10% no final do mesmo ano. Dilma disse: "Tem um grau de financeirização na economia brasileira em que todos os setores têm interesse na rentabilidade financeira. Havia uma grande resistência à queda da taxa de juros. Agora, se você me perguntar como é que vira, vira num momento muito estranho, porque se combina com as manifestações de junho de 2013."

Em abril, conversei com Analúcia Danilevicz Pereira, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que fez a seguinte análise: não é por acaso que a oposição, que desencadeou um bombardeio desde o primeiro dia após a reeleição de Dilma, tenha conseguido "virar o jogo", que estava a favor do governo, coincidentemente a partir das manifestações de 2013. Notem: a professora usa o mesmo termo que Dilma: “virar”. 

"Sim, este interesse (de que o governo Dilma chegue ao fim) existe. Abriu-se espaço para que a oposição, que estava extremamente fragilizada, conseguisse rapidamente um espaço de atuação. Se considerarmos o momento em que todas essas coisas acontecem, mais claramente a partir de 2013, em três anos a oposição virou o jogo no Brasil", disse Analúcia. Sobre essa e outras questões, ela usou a expressão: “Eu não acredito em coincidências”. (Leia a entrevista na íntegra: "Não acredito em coincidências", diz analista sobre interesse dos EUA na queda de Dilma).

Outro de quem ouvi análise semelhante foi o professor de Ciência Política da Universidade de Campinas (Unicamp) Armando Boito. Segundo ele, "as manifestações de junho de 2013 foram confiscadas pela direita para fortalecer o campo neoliberal ortodoxo".

Mais um, de quem li um artigo muito interessante, F. William Engdahl, engenheiro (Princeton), pós-graduado em economia comparativa (Estocolmo), pesquisador de economia, geopolítica e geologia, escreveu o seguinte, como já registrei neste blog: "Dilma Rousseff tinha uma taxa de popularidade de 70 por cento. Menos de duas semanas depois da visita de Joe Biden ao Brasil, protestos em escala nacional convocados por um grupo bem organizado chamado 'Movimento Passe Livre', relativos a um aumento nominal de 10 por cento nas passagens de ônibus, levaram o país virtualmente a uma paralisação e se tornaram muito violentos. Os protestos ostentavam a marca de uma típica 'Revolução Colorida', ou desestabilização via Twitter, que parece seguir Biden por onde quer que ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu para 30 por cento." Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, veio ao Brasil em maio de 2013. O post  com a análise de Engdahl está aqui: Dilma Rousseff, Getúlio Vargas e as coincidências.

De maneira, meus amigos, que basta um mínimo de bom senso para ver que não se trata de impertinência deste blogueiro, conforme já me acusaram. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça (Mateus – 13:9).


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Laymert Garcia dos Santos: "Golpistas sabem que o relógio corre contra eles"


Reprodução/Youtube


Publicado originalmente na RBA

Três semanas após a votação que afastou a presidenta Dilma Rousseff, dois fenômenos merecem destaque, segundo o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O primeiro é que a grande ficha começou a cair, com a reação dos movimentos organizados, mas também de setores que a gente não esperava que tivessem tanta energia, mas tiveram uma reação enorme e muito importante. Do ponto de vista do golpe, constatamos que eles têm que fazer tudo correndo, porque sabem que o relógio corre contra eles, com o crescimento da mobilização popular, diz.

“Onde os movimentos foram para a ofensiva, houve recuo de Temer. Onde não houve ofensiva, não acontece nada, continua o jogo da direita avançando.” Ele menciona como exemplos de ofensivas bem-sucedidas na reação contra o golpe os casos das mulheres (Temer voltou atrás da extinção da secretaria), da habitação (recuo nos cortes no Minha Casa, Minha Vida) e cultura (recriação do ministério).

“Apesar da mídia, a cada dia que passa você tem uma situação de rastilho de pólvora contra o golpe. Isso, do ponto de vista interno”, avalia. “Do ponto de vista externo, depois daqueles episódios grotescos do Congresso (ao votar o impeachment), houve uma reação internacional. Isso foi uma surpresa para os golpistas, que achavam que iam fazer a coisa suave e com uma aparência de legalidade. Mas isso não colou nem interna, nem externamente.”

Em entrevista à RBA em março, portanto antes do golpe, o sociólogo disse que os movimentos sociais e populares só conseguiriam obter resultados se fossem para o ataque. “A resistência não pode ser só uma coisa defensiva, tem que avançar”, afirmou.

O segundo ponto de destaque, com Dilma afastada, “foi a rapidez com que o golpe dentro do golpe se declarou”, diz o sociólogo. “Ou seja, o conflito entre os golpistas e a tentativa de transferir o poder ao PSDB – que não tinha o cacife que tinha o baixo gangsterismo do PMDB para consumar o golpe –, mas que agora quer o poder. Eu chamo de golpe dentro do golpe a tentativa de criminalizar o PMDB, que já era criminoso desde lá atrás, para transferir o poder para o PSDB”, avalia. “Tudo isso está na mídia internacional. O golpe sai do baixo clero bandido e vai para o alto clero bandido, que são os interlocutores dos americanos e da alta finança. Os outros (PMDB) foram massa de manobra nessa história, e agora vão ser queimados.”

A atuação do Judiciário está agora muito mais clara, na opinião de Laymert. “O problema principal para mim, desde meses atrás, era a Procuradoria-Geral de República e o papel do STF. Agora já escancarou que as altas instâncias do Judiciário são golpistas. Neste segundo momento, o que me espanta mais é a velocidade com que isso se explicitou, através dos vazamentos. Mas também isso faz parte da luta pelo poder dentro do golpe.”
MTST e Povo Sem Medo

Segundo o sociólogo, a “vitória” do MTST e Frente Povo sem Medo, em decorrência de sua mobilização, é importante do ponto de vista simbólico e político. A manifestação na frente da casa de Temer, em São Paulo, e depois a ocupação do escritório da Presidência da República, também na capital paulista, são dois exemplos de atos vitoriosos, em sua opinião. “Esses atos tiveram uma carga de densidade enorme e demonstram grande inteligência política.”

O mesmo se aplica às mulheres. “Eu não esperava que a politização das mulheres fosse tão forte a ponto de demonstrarem capacidade de mobilização nacional.” Para Laymert, as associações políticas feitas por elas também demonstraram inteligência política.

“Elas fizeram uma ligação, que tem tudo a ver, entre o estupro do Rio de Janeiro e o estupro, digamos, político que foi o golpe. E, mais, fizeram a ligação entre Gilmar Mendes e (Roger) Abdelmassih (médico acusado de abusar sexualmente de pacientes) e Bolsonaro. Elas fizeram ainda associações que mostram sempre a questão que está por trás do estupro, que é a impunidade.”

As ocupações em escala nacional de prédios do Ministério da Cultura e do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Funarte, pelos artistas, também surpreenderam positivamente. “A gente não esperava que isso acontecesse com essa velocidade.”

sábado, 21 de maio de 2016

A crise política e a (falta de) educação





Esta semana conversei com o cientista político Humberto Dantas sobre a situação a que o país chegou, na minha opinião uma das maiores crises de sua história desde a proclamação da República (1889), de dimensão equivalente a 1932, 1954, 1964, e muito superior a 1989-1992.

Em 1992, com a queda de Collor, e Itamar Franco como seu sucessor, finalmente o horizonte clareou e o país começou a sair das trevas de então, após 21 anos de regime militar, sucedido por um governo "civil" em 1985, presidido por José Sarney, justamente um dos líderes civis da ditadura e um dos maiores representantes do fenômeno brasileiro conhecido como coronelismo.

Bem, mas, voltando, Humberto Dantas fez uma observação com a qual concordo absolutamente, a propósito da escolha de André Moura (PSC-SE), aliado de Eduardo Cunha e acusado de uma série de crimes, para a liderança do governo Temer na Câmara. Dantas avalia que esse fato simbólico deve ser analisado sob uma perspectiva mais profunda do que a abordagem superficial, que já se tornou clichê, segundo a qual uma reforma política serviria como panaceia para resolver a crise de representação do sistema político. Diz Humberto Dantas:

“Mudar o sistema não é exatamente o meu passo. A minha reforma política é educar. Questiona-se como uma figura como essa é ministro, como aquela outra (André Moura) é líder do governo. Mas a questão é muito mais grave: como um fulano como esse é deputado federal? Que eleitores votam num sujeito acusado de homicídio? O que é o Legislativo para a sociedade brasileira?”

A questão colocada por Humberto me remete a uma análise de André Singer, em seu fundamental Os sentidos do lulismo (Companhia das Letras). Segundo Singer, a população que ascendeu socialmente, beneficiada pelos programas sociais e pela política de inclusão dos governos do PT, não trouxe consigo, nessa ascensão, os valores da solidariedade próprios da esquerda.

Por quê? Porque, penso eu (e pensam muitos), não houve um investimento (financeiro e político) estruturante na educação (e na educação política) desde 2003, apesar da gestão histórica de Fernando Haddad como ministro da Educação de Lula, um ministro muito sofisticado para um país que trata a educação de maneira canalha. Se Haddad não tivesse feito nada no cargo de ministro (mas fez bastante), só o fato de ter sido mentor do ProUni já justificaria seu trabalho.

Contudo, a população de dezenas de milhões de pessoas incluídas por Lula e Dilma foi incentivada durante mais de uma década a comprar, comprar e comprar. Comprar carro, geladeira, fogão, ar-condicionado, mais carro, mais geladeira... Mas esses milhões de pessoas que descobriram o consumo não sabem nem o que é pré-sal, Brics ou soberania, embora muitas delas tenham sido beneficiadas pelo Bolsa Família e ProUni.

A falta de investimento financeiro e político (por meio de reforma constitucional e/ou de reforma profunda e estruturante do Plano Nacional de Educação), quando Lula ou Dilma tinham 80% de aprovação, se revelou fatal no processo de mais de 13 anos iniciado em 2003.

Fui até xingado por amig@s, por ter criticado a inação de Lula/Dilma na Educação, apesar da grande gestão de Haddad. Mas esses amig@s não entenderam nada, nem mesmo a dialética.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Monumento ao cinismo


Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Haveria muitas coisas a dizer, análises políticas, previsões, conjecturas sobre tudo isso, inclusive sobre o discurso de posse do novo presidente da República do Brasil. Eu começaria dizendo que, desde 17 de abril de 2016, deixei de usar o termo “não vai ter golpe”, que muita gente e muitos amigos, acredito que ingenuamente ou movidos pela fé (mas a fé faiou), continuaram usando. Para mim, o golpe foi dado naquela data e falei isso a várias pessoas.

Mas, hoje, como milhões de brasileiros ainda perplexos, só quero registrar duas coisas. A foto aqui publicada e o seguinte trecho do discurso de posse de Michel Temer, um dos maiores monumentos ao cinismo que vi na vida:

“Faço questão, e espero que sirva de exemplo, de declarar meu absoluto respeito institucional à senhora presidente Dilma Rousseff. Não discuto aqui as razões pelas quais foi afastada. Quero apenas sublinhar a importância do respeito às instituições e a observância à liturgia nas questões, no trato das questões institucionais. É uma coisa que nós temos que recuperar no nosso País. Uma certa cerimônia não pessoal, mas uma cerimônia institucional, uma cerimônia em que as palavras não sejam propagadoras do mal-estar entre os brasileiros, mas, ao contrário, que sejam propagadoras da pacificação, da paz, da harmonia, da solidariedade, da moderação, do equilíbrio entre todos os brasileiros.”

Foi o que disse Michel Temer.

Valeu, querida!!


Reprodução/Facebook

Tá dominado. Esta noite a gente dorme com a trama consolidada. Último capítulo da novela em plena quarta-feira. Depois de pagar o mico do voo da vitória (aquele do Aécio com o Luciano Hulk), que não chegou pelas urnas, a oposição se fortaleceu pelos descontentes e se valeu de toda sorte de sujeira pra mudar o rumo da trama e chegar até a decisão de hoje.

A seu favor, tudo e todos, desde o eleitor desinformado até os altos magistrados do país que recebem dos cofres públicos para decidir politicamente o que deveria ser pautado sempre pela Constituição Federal. Mas nada tão determinante quanto a mídia comercial, que será marcada na história pelo seu protagonismo na derrubada do governo Dilma e na pretensa trajetória pela exterminação do PT.

Os que enxergam o tamanho da injustiça cometida contra Dilma Rousseff estão de coração apertado ao ver a canalhice de uma corja descomprometida com o povo brasileiro. Na plateia animada tem de tudo, incluindo um bando de ignorantes que nem faz ideia do que seja neoliberalismo, estado mínimo e coisas do tipo. Gente raivosa, manhosa, que não aceita a forma LEGAL de se atingir objetivos. 

Dilma será condenada pelas tais pedaladas fiscais por gente da pior espécie, uma porcentagem altíssima de indiciados.

Mas a indignação seletiva do povo leitor da Veja é que mais revolta. Gente que zomba de uma mulher digna com as cinco letras. Gente que deveria se orgulhar de termos a primeira mulher no comando do país. Gente que deveria refletir sobre as críticas rasas alugadas de direitistas que ganham a vida para espalhar ideias a mal informados no Facebook. Gente que podia bem pensar se a vida tá assim tão ruim quanto a revolta com o governo faz parecer.

Mas duas coisas me martelam. Esses caras desqualificados que meteram a Dilma nessa piada internacional chamada impeachment esqueceram que precisarão de governabilidade, e que também 2018 está aí. Aposto que cada eleitor do governo legítimo de Dilma escolherá criteriosamente, como nunca o fez, seus próximos representantes. Muito golpista vai dançar, a começar por uma certa senadora a quem dei meu voto de confiança e que hoje nos apunhala.

Dilma, eu sei que você é forte. Você é minha presidenta, você me representa, porque você é o tipo de mulher que eu sou e a maioria das mulheres da minha família e amigas é: guerreira pra cacete. Esta noite eu te daria um forte abraço e um Rivotril, cara coração valente.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

"Objetivo final é a destruição do PT e sobretudo o afastamento definitivo, não de Cunha, mas de Lula"


O sempre imprescindível Mino Carta (com sua inseparável garrafa de vinho):

"O sr. Cunha, de alguma forma, paga o pato, para que não o paguem muitos outros tão sujos quanto ele (...) Teoricamente deveria haver um recurso (contra o impeachment) a esta nossa Suprema Corte, a qual já mostrou onde quer chegar. Então não há o que esperar de um recurso, admissível à luz de uma Constituição rasgada, enquanto estamos assistindo ao enterro do Estado de Direito."

Veja o vídeo: