segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Com chuva, a São Paulo progressista comemora a vitória de Fernando Haddad, do PT


Foto: Carmem Machado (clique para ampliar)
Avenida Paulista, 28 de outubro de 2012

Esse flagrante é de uma menina de cerca de seis anos dançando ao ritmo de um samba (tocaram vários ótimos na festa da vitória de Fernando Haddad na avenida Paulista), acompanhada da mãe, debaixo de uma chuva incessante que começara enquanto o prefeito eleito fazia o discurso da vitória em cima do carro de som, uma hora antes.

Essa imagem para mim é a imagem desse domingo 28 de outubro, dia de São Judas Tadeu, santo de devoção de minha mãe, Leila, que partiu deste mundo já faz 13 anos, mas certamente teria ficado muito feliz com a eleição de Haddad.

José Serra, como sempre, foi um temível adversário, e só os grandes oponentes vale a pena vencer, o que vale para o futebol, para o xadrez e para a política. Mas Haddad vence sendo elegante e mostrando que se pode fazer política em alto nível. No final dos agradecimentos no discurso da vitória, ele uniu a elegância à ironia, ao dizer: "Agradeço aos meus oponentes, porque me obrigaram nessa campanha a extrair o melhor de mim para poder superá-los numa campanha limpa e democrática".

Mas agora vamos olhar para a frente, minha gente. Como disse o próprio Haddad no discurso da vitória: “Nós fizemos um bom embate; um embate dos guerreiros que querem mudar a cidade; o embate das pessoas que militam pelo Brasil, pelo estado e pela cidade”. Vamos, pois, mudar a cidade!

E como disse Haddad também, pouco antes, no hotel na região dos Jardins onde a cúpula do PT, a imprensa e a militância aguardaram a confirmação da vitória no final da tarde e início da noite: "se São Paulo não conseguir resolver seus problemas, que cidade no Brasil e no mundo conseguirá fazê-lo? O fracasso de São Paulo seria o fracasso desse genial modelo de convivência que a humanidade desenhou ao longo dos séculos para sobreviver e ser feliz. Essa invenção insuperável do gênio humano chamada cidade".

Viva São Paulo!, viva o presidente Lula!, viva Fernando Haddad!

sábado, 27 de outubro de 2012

Datafolha: Haddad será eleito neste domingo


Foto: Paulo Pinto/Campanha Haddad (clique para ampliar)
Haddad e Gabriel Chalita em carreata neste sábado, 28

Se o Datafolha está dizendo, quem sou eu para contestar, não é mesmo? Segundo pesquisa divulgada agora há pouco pelo instituto da família Frias, Fernando Haddad está virtualmente eleito. A 24 horas do fim da votação neste domingo (28), o petista tem 58% dos votos válidos, contra 42% de José Serra (PSDB).

Não acredito em uma eventual teoria da conspiração segundo a qual tal informação teria o objetivo de desmobilizar a campanha de Haddad. Até porque, diante do quadro, muitos serristas já estão embarcando com seus carrões para pegar um belo domingo de sol no Guarujá e outras praias mais paradisíacas um pouco mais longe, no litoral norte.

A observação que faço para puxar a sardinha para Fatos Etc. é que o Datafolha confirma agora o que este blog já havia se arriscado a prever há 15 dias: São Paulo deve eleger Fernando Haddad.

E também esta semana: Nem balas de prata mudam os números a favor de Haddad.

Vamos aguardar e ir para a festa. Mas de maneira nenhuma relaxar. Que a mobilização continue.

Fernando Haddad e José Serra no debate da Globo: nada de novo no front


Foto: Paulo Pinto/Campanha Haddad
Sempre o debate da TV Globo é o mais chato. Não é mera implicância. É um formato muito "limpo", tecnologicamente "perfeito” e, consequentemente, frio, às vezes quase enfadonho. Você vê o candidato lutar contra o tempo para conseguir concatenar ideias. Um debate em estilo norte-americano. O tempo que os candidatos têm para perguntar e responder é tão curto que tudo parece virar uma espécie de assepsia jornalística.

Por conta disso, o debate da Globo entre Fernando Haddad e José Serra é mais difícil de avaliar do que os anteriores, do Uol/SBT e da Band. Mas, ironicamente, é o de maior audiência.

Seja como for, destaco no debate o cinismo de Serra e a tentativa de Haddad de tentar debater alguma coisa em termos de propostas concretas para a cidade. Como disse Haddad na quinta-feira (25), no último ato público da campanha, na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade (região central), em evento dedicado às comunidades da cultura e da educação, Serra não faz “o jogo leal e honesto da apresentação de propostas, da comparação de modelos e modos de governar. É a prática sorrateira, o rumor e o boato”.

(Por falar nisso, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, mencionou no evento na Casa de Portugal o boatos plantado pela campanha serrista segundo o qual o Enem seria cancelado. “Por que eles combatem tanto o Enem? O que resta a eles [aliados de Serra] é a sabotagem”, disse o ministro. Ele afirmou que o exame, marcado para os dias 3 e 4 de novembro, vai acontecer sem problemas.).

E assim foi no debate global desta sexta-feira, no qual Serra sorrateiramente sempre tentou inserir a questão do “mensalão” e atribuir a Haddad propostas que ele nunca fez, como acabar com as parcerias com organizações sociais na saúde, para causar medo e pânico na população.

Sobre “mensalão’, Haddad respondeu: “Serra, mais do que eu, talvez você pudesse responder, porque isso começou em Minas Gerais com o PSDB”, quando o tucano introduziu seu tema preferido, lembrando ainda que o “mensalão tucano” não foi julgado pelo STF (ah, o STF).

Um ponto alto foi quando Serra mencionou seu programa “Mãe Paulistana” como um exemplo de política pública para a mulher e Haddad retrucou: "Na minha opinião, o candidato José Serra tem uma visão muito restrita da mulher. Ele vê a mulher apenas como gestante”, para tentar explicar no exíguo tempo global que políticas públicas são mais complexas do que oferecer o parto à mulher.

Outro momento digno de nota foi sobre educação, quando Serra disse que o professor precisava ser reciclado. “Educação não é propriamente sua área – disse Haddad -, professor não é reciclado. Tô te orientando pra você não cometer esse deslize novamente”.

Enfim, fico por aqui. Na certeza de que a proposta da candidatura petista representada por Fernando Haddad vai ser consagrada nas urnas. Como disse o petista no ato já mencionado na Casa de Portugal, na quinta-feira: a proposta de “reconciliar a periferia com o centro, mas sobretudo reconciliar essa cidade com o que está acontecendo no Brasil. É isso que nós precisamos fazer: redimir, libertar São Paulo. E o dia da libertação de São Paulo está com data marcada. É 28 de outubro”.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Marcos Assunção, do Palmeiras, declara apoio a Fernando Haddad


Foto: Paulo Pinto/Campanha Haddad
"Sei como é a vida das pessoas da periferia", diz volante do Palmeiras

“Estamos juntos. Confio muito nele [Haddad]. É um cara que trabalha muito pela periferia, pelas pessoas mais sofridas, que trabalha e acorda às quatro da manhã para sustentar seus filhos. É por isso que estou aqui.”

Assim o volante do Palmeiras Marcos Assunção anunciou nesta quinta-feira, 25, no Diretório Municipal do PT, seu apoio à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo.

“Eu nasci num barraco de madeira e sei como é a vida das pessoas da periferia.” O jogador, revelado pelo Rio Branco de Americana, nasceu no Jardim Rincão, em Paradas de Taipas (zona norte da capital).

Aos 36 anos e próximo de pendurar as chuteiras, Assunção comparou as carreiras de um político e um jogador de futebol. “A vida do político é igual à do jogador. Chega a hora que tem de parar para dar lugar ao mais jovem. E está aí o mais jovem, com novas ideias. Espero que ele faça da cidade de são Paulo uma cidade justa e boa de se viver”, comparou.

Rogério Ceni

Na semana passada, outro atleta de grande clube da capital também manifestou apoio a um candidato. O goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, anunciou seu voto no candidato José Serra (PSDB). “Torço muito pelo Serra”, disse o goleiro.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Nem balas de prata mudam os números a favor de Haddad


Não sou nenhum profeta, apenas um racional e otimista observador de números, fatos políticos e pesquisas eleitorais. Por isso, disse num post do dia 12 que, na minha modesta opinião, São Paulo deve eleger Fernando Haddad neste 28 de outubro.

Vejamos alguns poucos dados. Dos eleitores que declararam voto em Celso Russomanno no primeiro turno, 53% votam em Haddad no segundo, segundo o Datafolha, o instituto da família Frias, em pesquisa da semana passada. Em relação aos eleitores do peemedebista Gabriel Chalita, esse índice é de 50% para o petista e 26% para o tucano.

Ou seja, com pequena diferença, os eleitores de Russomanno e de Chalita votam em sua imensa maioria no candidato do PT e de Lula. São dados que não se pode mudar com balas de prata e manchetes, são sólidos.

Cerca de três semanas antes do primeiro turno, avaliações baseadas nas chamadas pesquisas qualitativas internas do PT davam conta de que o partido estava tendo dificuldades em convencer o eleitorado das zonas leste 2 e sul 2 (as mais pobres), onde Marta Suplicy consolidou uma hegemonia com suas políticas públicas, de que Russomanno não era propriamente um aliado: os eleitores consideravam tanto Haddad quanto Russomanno aliados, inclusive na rejeição a Serra, e votavam no candidato do PRB por achar que ele tinha mais chance contra Serra.

Findo o primeiro turno e acabada a fantasia Russomanno, esse eleitorado pouco politizado, mas anti-Serra, se bandeou para Haddad, o que as pesquisas (quantitativas) mais recentes parecem comprovar.

Já o eleitorado do peemedebista Chalita é majoritário a favor do candidato do PT porque representa uma classe média mais progressista do que a classe média truculenta apoiadora convicta do tucanato. Chalita congrega também os setores mais arejados do catolicismo paulistano. E é (ou foi, com um capital de mais de 800 mil votos) o candidato do partido do vice-presidente da República, Michel Temer, legenda com a qual o PT de Lula fechou um acordo que tentava sem sucesso desde 2004.

Para hoje, quarta-feira, 24, estão previstas duas pesquisas, Ibope e Datafolha, que devem divulgar depois ainda mais dois levantamentos, no sábado dia 27. Com manchetes e Jornal Nacional sobre mensalão e tudo, como eu disse no dia 12 de outubro, São Paulo deve eleger Fernando Haddad. Não tem mais volta.

domingo, 21 de outubro de 2012

O comício de Fernando Haddad (com Lula e Dilma) na Portuguesa


Mais do que ficar falando, reproduzo abaixo algumas aspas do comício do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, na companhia da presidente Dilma Rousseff e do presidente Lula, no ginásio da Portuguesa de Desportos, realizado no início da noite deste sábado, 20 de outubro, no qual eu estava profissionalmente.


                                                                Paulo Pinto/Divulgação
Dilma, Haddad e Lula em comício no ginásio da Portuguesa


Fernando Haddad:

- Muitos analistas políticos disseram que não estaríamos no segundo turno. Nós não só estamos no segundo turno, como temos chances concretas de ganhar a eleição. Só não podemos cometer um erro, que é o erro de achar que a eleição está ganha uma semana antes. É o único erro que nós não podemos cometer. Porque agora temos um adversário que entra em campo na última semana. É a mentira (...). É preciso fazer um trabalho na última semana casa a casa, parente a parente, para não deixar a mentira corroer o trabalho que fazemos desde janeiro.


Presidente Lula:

Sobre Haddad:

- Nós vivemos o momento mais importante da história de uma candidatura do PT aqui em São Paulo. O fenômeno que está acontecendo com este companheiro é mais importante do que aconteceu com a Marta quando ganhou, do que aconteceu com a Erundina, porque este companheiro, no conceito dos adversários, era apenas um poste. Mas eles esqueceram que o transformador pra fazer esse poste iluminar São Paulo é o povo da cidade de São Paulo.


Sobre José Serra:

- Jurava amor ao povo da Mooca, jurava amor ao povo de São Paulo. Ele não esperou a primeira enchente e caiu fora pra ser candidato a governador. Tem uma sede de poder inigualável.

- [Serra] Voltar a querer ser prefeito de São Paulo é achar que o povo é tonto.

- Daqui a pouco ele vai aparecer babando de ódio na televisão. Mas não tem que dar resposta a ele, tem que dar resposta ao povo de São Paulo.

Devia ficar quieto e disputar com essa aqui [dirigindo-se a Dilma] em 2014, ou tentar em 2018, em 2030, 2040.


Sobre FHC:

- Em 1985 sentou na cadeira de prefeito antes de ganhar as eleições. Sentou na cadeira, tirou foto e no dia que abriu as urnas o prefeito era o Jânio.


Presidente Dilma Rousseff:

Sobre o baixo nível de Serra:

- O que Haddad está passando eu passei na minha eleição.

- Os argumentos que foram usados contra mim são muito parecidos com os que estão sendo usados, sorrateiramente, às vezes, contra o Fernando Haddad.

- Durante toda a campanha presidencial, disseram primeiro que eu era um poste. Depois disseram que eu não tinha competência para governar. Usaram todos os argumentos contra mim. A mesma campanha de baixo nível que fizeram contra mim, fizeram contra Haddad.


Marta Suplicy (ministra da Cultura):

- Vamos democratizar a cultura. Vamos levar cultura à periferia.


Gabriel Chalita (candidato derrotado do PMDB à prefeitura de São Paulo):

- É muito bom estar nessa campanha. É muito bom estar com o presidente Lula. É muito bom estar com essas pessoas que têm sensibilidade social.


Michel Temer (presidente do PMDB e vice-presidente da República):

- Haddad será o novo prefeito de São Paulo no próximo domingo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fernando Haddad e José Serra no SPTV



Seguem abaixo, para os leitores deste blog que são de São Paulo e os que não são, as duas edições do SPTV, da TV Globo, que vai ao ar diariamente às 19 horas, com os candidatos à prefeitura da capital paulista, José Serra (ontem) e Fernando Haddad (hoje, quarta-feira, 17).

Notem a diferença de abordagem do âncora Carlos Tramontina na condução das entrevistas. Ao tucano Serra ele dirige as questões com uma cordialidade eu diria quase antijornalística; ao petista Haddad, pelo contrário, nenhuma pergunta foi mansa. Mesmo assim, me parece, Haddad pôs Tramontina e a Globo no bolso.

Em tempo, se estão corretos os números do Ibope divulgados hoje, que dão 60% a 40% de vantagem a Haddad em votos válidos, o petista está virtualmente eleito.

Vejam as duas entrevistas:


Com José Serra (PSDB) - 16/10/2012





Com Fernando Haddad (PT) - 17/10/2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Serra e Kennedy Alencar na CBN: mais um capítulo da série tucano versus imprensa


Mais uma vez o tucano José Serra armou um barraco ao ouvir uma pergunta desagradável de um jornalista. Desta vez, o caso, mais um a demonstrar o comovente apreço de Serra pela liberdade de imprensa, se deu em entrevista ancorada por Fabíola Cidral, na CBN, na manhã desta terça-feira (16), e envolveu Kennedy Alencar, colunista da Folha de S. Paulo, titular da coluna "A Política Como Ela É", da CBN, e também da RedeTV!

Serra ficou muito irritado com a seguinte pergunta de Kennedy Alencar: “Nessa campanha de 2012 – a exemplo de 2010, quando o senhor apresentou o tema do aborto, com posicionamentos de modo moralista –, o senhor apresenta nesta campanha o apoio de uma direita intolerante, como o pastor Silas Malafaia, que disse que homossexualidade é doença e não orientação sexual. Eu pergunto ao senhor: a sua atitude é uma contradição por uma conveniência eleitoral ou o senhor se tornou um político conservador e mudou de ideia?”

Veja, ou melhor, ouça a reação do candidato do PSDB:



Leia mais:

Sem vergonha é a visão tucana do que significa liberdade de imprensa

Heródoto Barbeiro sai do Roda Viva após questionar Serra sobre pedágio

Os casos Serra versus jornalistas na eleição de 2012

Nota sobre Criação Imperfeita, de Marcelo Gleiser ("Só sei que nada sei")


LITERATURA


Acabo de ler um livro fascinante, que ganhei de presente, já faz quase dois anos, dos queridos cunhados Milton Machado Luz e Ana Rohrer. Aliás, tão fascinante quanto hermético para quem, como eu, é um leigo em física. Daqueles livros que, se você não é do ramo, mereceriam uma leitura cuidadosa, concentrada, sem distrações ou interrupções do cotidiano, para fruir simplesmente. Mas, como é muito difícil essa disponibilidade de tempo no mundo em que vivemos, li como foi possível.

Trata-se de Criação Imperfeita, de Marcelo Gleiser (editora Record), a propósito do qual aliás o tempo – como conceito da física, como motor da imaginação humana e mesmo como poesia – é um dos temas principais.


Nossa Via Láctea é apenas uma de bilhões de outras

O físico Gleiser, que muitos conhecem de documentários e programas de TV que discutem cosmologia em linguagem popular, faz uma verdadeira viagem pelo tempo através da qual tenta nos resumir os caminhos traçados pelos homens que buscaram com a ciência e a física tentar entender ou explicar os mistérios da matéria, da natureza, do tempo e do espaço, que poderíamos chamar de universo. Alguns desses homens são Pitágoras, Kepler, Newton, Faraday, Einstein, Pasteur e outros.

 A busca desses homens levou a ciência a explorar o infinito e o infinitesimal, chegando depois à física quântica e às teorias sobre surgimento e funcionamento do universo, busca que muitas vezes tentou encontrar uma prova final para um modelo científico que se adequasse à visão totalizadora e matematicamente perfeita, que expressasse de alguma forma algo como a ideia de Deus, ou a ideia da Perfeição, de um propósito lógico e ainda desconhecido de que seriam expressões os fenômenos da natureza, inclusive a vida. Para Marcelo Gleiser, o momento a que o estudo da ciência nos trouxe depois de muitos séculos de pesquisas e investigações mostra que, ao contrário da crença de que a natureza é forjada na perfeição e na simetria, na qual muitos cientistas basearam seus modelos e teorias ao longo do tempo, se mostra equivocada.

O átomo e partículas subatômicas:
como sistemas cósmicos
A natureza, o girar de planetas, estrelas e galáxias, talvez universos, ou as partículas subatômicas em seus movimentos às vezes incrivelmente análogos ao dos corpos cósmicos, a composição da matéria interestelar e dos átomos, moléculas e seres vivos, tudo isso, seguindo a visão científica de Gleiser, se deve à imperfeição e à assimetria. Não é à toa, claro, que, dividido em cinco partes, o livro tenha quatro delas assim intituladas: A assimetria do tempo, A assimetria da matéria, A assimetria da vida e A assimetria da existência. Escreve o autor: “Não há dúvida de que adoramos simetria. Basta olhar em torno para confirmar que vivemos cercados de objetos simétricos: computadores, cadeiras, carros, pratos (...) Mesmo antes do surgimento das religiões monoteístas, nas culturas do mundo inteiro ordem e simetria já eram relacionadas com o divino.”

O ideal de beleza clássico ou a iconografia religiosa, a música séculos afora, o movimento dos astros no céu ou o ciclo da natureza com suas quatro estações, entre inúmeros outros exemplos, mostram que concebemos o mundo no qual “ordem foi equacionada com segurança e simetria com o previsível e o confiável”.

No entanto, a arte moderna veio para romper com o conforto da simetria (a música atonal, os quadros cubistas de Picasso, por exemplo).

Assim como a física. Na física, na ciência, acontece a mesma coisa, guardadas as devidas diferenças, claro. Mas, apesar de toda a evolução proporcionada pela ciência baseada na simetria “é necessária uma nova estética para a ciência, um novo tipo de beleza que substitua as antiquadas qualidades de ordem e simetria inspirada na fé monoteísta. Essa nova estética tem um princípio básico: que a natureza cria a partir do desequilíbrio”, escreve Gleiser, e não do equilíbrio e da simetria.

Claro que daí o autor entra numa zona que é árida para um leigo. Como por exemplo: os estudos teóricos que levaram à descoberta da antimatéria mostram, segundo os físicos, que se houvesse um equilíbrio (portanto a simetria) entre matéria e antimatéria, “caso matéria e antimatéria tivessem coexistido em quantidades iguais durante a infância cósmica, teriam se aniquilado em radiação de forma tão eficiente que, hoje, o universo consistiria principalmente em um banho de radiação. A vida, nesse caso, seria impossível”.

“De acordo com a mecânica quântica, é perfeitamente possível que antiátomos existam e que, portanto, possam existir galáxias de antimatéria. O anti-hidrogênio, por exemplo, já foi produzido em laboratório”, continua o autor, já aqui numa passagem menos fácil. E passagens muito menos fáceis se sucedem no livro.

Muito do que sabíamos no passado foi desmentido ou superado pela ciência contemporânea, mas para esse desmentido ou essa superação foi preciso uma inimaginável dedicação e amor ao conhecimento (ou a busca pelo conhecimento) para chegarmos ao que conhecemos hoje. Que será superado no futuro, próximo e distante. Muitos podem contestar a ciência. Mas muitas vezes a ciência se aproxima da poesia.

A origem da vida, por exemplo, continua sendo um mistério. Como ela começou na Terra. Quando? Ao que parece, entre 3,8 e 3,5 bilhões de anos, depois de um longuíssimo processo pelo qual “sistemas químicos autônomos devem ter desenvolvido membranas que os protegessem de ataques externos, permitindo que extraíssem nutrientes e energia (...) uma célula é um reator químico complexo, particularmente isolado, cuja função principal é degradar energia (...)quanto mais células houver, quanto mais eficiente for a reprodução, maior a capacidade coletiva de degradar energia”. Enfim, o assunto é inesgotável.

A busca por Deus ou por uma lógica perfeita deve ser superada para que nós, humanos, sejamos responsáveis pelo nosso destino. Até prova em contrário, estamos sozinhos no universo. Portanto, conclui o autor, devemos lutar pela preservação da vida, que, ao contrário, segundo ele, de ser fruto de um desígnio divino ou consequência da perfeição e simetria de uma natureza e universo “inteligentes”, é decorrente da assimetria e do próprio desequilíbrio das partículas subatômicas, da matéria e antimatéria que compõem o universo (ou universos, ou multiverso – estou sendo quase pueril na minha abordagem, pois o tema é muito complexo). A vida é algo muito raro, talvez único, para ser perdido pela incompetência e prepotência humanas, nos diz o livro.

É incrível pensar que a vida poderia, pelo menos teoricamente, existir sem água e carbono: "É concebível que a vida possa existir sem água como solvente, ou mesmo sem uma química baseada no carbono (...) Talvez o solvente seja a amônia e o elemento básico seja o silício", propõe Marcelo Gleiser, que faz algumas ressalvas, como: "se esse tipo de vida existir, certamente não será muito complexa".

O livro é da editora Record
Bem. Gleiser pode ser ateu. Eu posso não ser. Isso significa pouco perto do que nos sugere o autor de Criação Imperfeita. Até porque ele nunca deixa de reconhecer que, como disse Sócrates, “Só sei que nada sei”.

Como disse o próprio autor em outro livro (que não li), A Dança do Universo, “Nossa galáxia, a Via Láctea, é apenas uma entre bilhões de outras, sendo sua posição perfeitamente irrelevante. Nosso planeta não ocupa uma posição especial no sistema solar, nosso Sol não ocupa uma posição especial em nossa galáxia, e nossa galáxia não ocupa uma posição especial no Universo. O que temos de especial é a habilidade de nos maravilharmos com a beleza do cosmo".

Mas o livro de Marcelo Gleiser de que trata este post é, enfim, perdoem o clichê, uma viagem fascinante e imperdível.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

São Paulo deve eleger Fernando Haddad


Enquanto o candidato petista, com 12% de vantagem nas pesquisas em votos válidos, recebe a adesão do PMDB de Gabriel Chalita e herda a maior parte dos votos de Russomanno, o tucano ganha o apoio de PTB e PDT e declarações homofóbicas do pastor Malafaia


A eleição em São Paulo está longe de se definir. Mas a eventual vitória de Fernando Haddad já pode ser vislumbrada no horizonte. Se vier a acontecer, será uma resposta histórica e inédita das urnas ao lacerdismo golpista redivivo que assola o Brasil, amparado pelo circo do julgamento do “mensalão” a fornecer manchetes cotidianas à mídia, que, por sua vez, infelizmente para ela e felizmente para o Brasil, vê sua prepotência reacionária malograr diante das mesmas urnas que julga poder influenciar.

                                                                                        Divulgação
Gabriel Chalita e o PMDB declaram apoio a Haddad na quinta, 11

As boas notícias para a candidatura Haddad se sucederam nos últimos dias, a começar da eleição de domingo, quando ele, que nunca havia chegado ao segundo lugar nas pesquisas do instituto da família Frias, teve 1.776.317 votos (28,98%), contra 1.884.849 (30,75%), diferença de pouco mais de 100 mil votos.

A segunda ótima notícia foram as primeiras pesquisas do segundo turno dando de dez a onze pontos de vantagem de Haddad sobre Serra. Se estiverem corretas, são uma boa vantagem, mas não se pode achar que já ganhou. Isso porque, sendo apenas dois candidatos, a cada ponto que Serra tirar, a diferença cai em dobro. No Ibope, Haddad lidera com 48% a 37% e, em votos válidos, por 56% a 44%, 12 pontos de dianteira nos votos válidos. Então, Serra teria de subir seis pontos sobre Haddad, que cairia seis e a disputa estaria empatada. Mas é uma tarefa inglória para o tucano.

Inglória pelo cenário todo, que favorece o crescimento ou pelo menos a manutenção da liderança do petista.

1) O “grande acordo” (palavras do vice-presidente da República Michel Temer) entre PT e PMDB anunciado ontem e a entrada na campanha de Gabriel Chalita é um fator fundamental. Claro que a transferência de votos não é automática.

Mas o acordo histórico que PMDB e PT não conseguiam fechar em São Paulo desde 2004 é politicamente relevante e isola Serra – que já tem uma rejeição estratosférica – ainda mais. No anúncio, Temer ressaltou que seu partido e Chalita apoiarão a campanha petista "fortemente". Já o tucano conseguiu o minguado apoio do PTB e do PDT. Com a “neutralidade” do PRB e de Russomanno, a tendência é de que os votos deste sejam majoritariamente do PT: segundo o Datafolha, entre os que declaram ter votado em Celso Russomanno (PRB) no primeiro turno, 56% dizem preferir Haddad e apenas 25% Serra.

2) Enquanto o apoio de Chalita deve facilitar que milhares de votos católicos migrem para Haddad, Serra usa o pastor pentecostal Silas Malafaia, um homofóbico fundamentalista (ou seja, “o submundo da política”, nas palavras de Haddad), para atacar o candidato do PT. Malafaia usou o “kit gay” como tema de seu perfil no Twitter, dizendo anteontem: “Neste segundo turno em SP, vote em Serra 45. Haddad é autor do kit gay!”

Na coletiva de ontem, quando o PMDB anunciou o apoio ao PT, Haddad foi perguntado sobre os ataques moralistas de Serra e o pastor e deu sua resposta: “Espero que possamos fazer um debate pela cidade, deixar de lado essa coisa de 'eu arrebento’ (...) Ele [Serra] trouxe do Rio um pastor pra me ofender. Se ele continuar fazendo isso, eu posso responder também. Vamos ter vários debates. Se ele quiser pontuar nisso num debate, ele pode fazer, se for do interesse dele, mas eu não posso responder ao submundo da política (...), se ele quiser pautar o debate sobre tolerância, intolerância, estou disposto a conversar. Mas tem que ser ele. Não pode ser por um preposto”, disse Haddad.

PT no Brasil

Com “mensalão”, Supremo Tribunal Federal e manchetes diárias e tudo o mais, o PT foi o partido mais votado no país no primeiro turno das eleições municipais: somou 17,3 milhões de votos (4,2% a mais do que em 2008). O PMDB foi o segundo, com 16,7 milhões de votos, mas caindo 10% em relação à eleição anterior.

Já o PSDB, aliado do “mensalão” e do ministro do STF Joaquim Barbosa, caiu em relação a 2008 e teve 13,9 milhões de votos nas eleições de domingo, contra 14.6 milhões em 2008, queda de 4,8%.

O PT conquistou um total de 624 prefeituras, 12% a mais do que as 558 em 2008. Número que vai aumentar, já que o partido ainda disputa 22 prefeituras no segundo turno.

Grande SP

O mais simbólico de tudo aconteceu em Osasco. Lá, onde o PT precisou substituir às pressas o candidato João Paulo Cunha, condenado na Ação Penal 470, o “mensalão”, o povo respondeu elegendo Jorge Lapas. Ironia do destino, o tucano Celso Giglio, que tinha sido impugnado pelo TRE-SP por unanimidade, viu ontem o TSE confirmar também unanimemente (7 a 0) a decisão do tribunal paulista e o petista Lapas é o novo prefeito da cidade. Se Haddad ganhar na capital, será uma vitória mais do que espetacular e histórica.

São Paulo e Osasco, com 11,3 milhões e 700 mil habitantes respectivamente, poderão pela primeira vez na história governar juntas com governos populares, revolucionar a região oeste da Região Metropolitana de São Paulo.

Em São Bernardo, Luiz Marinho se elegeu no primeiro turno com 65.79% dos votos, dois terços do eleitorado.

Em Carapicuíba, o prefeito petista Sérgio Ribeiro ganhou de lavada.


Veja Fernando Haddad e Gabriel Chalita no encontro em que o PMDB anunciou seu apoio à candidatura petista, na quinta-feira, 11, no escritório político de Michel Temer, e entrevista de Chalita:



*Atualizado às 02:20

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A história vai mostrar quem é José Dirceu


Pela segunda vez, o Estado brasileiro condena o líder político que, com Lula e outras lideranças, construiu o Partido dos Trabalhadores. Zé Dirceu foi banido pela via totalitária no regime militar (1964-1985) e agora pela via institucional da chamada "mais alta corte do país", com o amparo da mídia nacional


Como pode José Dirceu – um homem que lutou contra a ditadura, mudou de rosto para escapar das sombras no regime dos generais e assassinos, que construiu o Partido dos Trabalhadores, legenda que com Lula e Dilma fez um governo popular que pela primeira vez na história desde Getúlio Vargas olhou para o lado dos trabalhadores e oprimidos e para os interesses nacionais, e que pela primeira vez na história, desde sempre, olhou para o nordeste do país – ser condenado como um criminoso?

Como pode José Genoino – um homem simples que, como é sabido, nunca pôs dinheiro no bolso, ao contrário de figurões da República incensados pela mídia (até hoje) lacerdista de nosso país, casado com uma mulher barbaramente torturada pelos bestiais soldados do regime de 64 – ser desrespeitado, ele e sua mulher, Rioco Kayano, por uma horda de jornalistas imberbes que não têm a menor noção da história brasileira e talvez acreditem nos miasmas emanados pelo esgoto que se conhece como revista Veja?

Deixo essas respostas para o amigo, jornalista, professor e escritor José Arrabal, contemporâneo de Zé Dirceu (com o qual teve divergências políticas, inclusive), Arrabal que foi preso e torturado pela ditadura e que, como Zé Dirceu e Genoino e Rioco Kayano, é um sobrevivente.

                                                                             Alexandre Maretti
Zé Dirceu, João Paulo Cunha e o prefeito de Osasco, Emidio de Souza (2005)


Por José Arrabal

Zé Dirceu vai preso? Vai preso por uma condenação sem prova, mas a história vai recuperá-lo. A história é um lugar onde a ressurreição acontece. A história existe para isso. Veja Luiz Carlos Prestes. A história passará e mostrará quem é Zé Dirceu. Quem é José Dirceu? É um patriota que lutou contra a ditadura no Brasil. Poucas pessoas fizeram o que ele fez, e depois construiu o Partido dos Trabalhadores, um homem ao qual o Brasil só tem a agradecer. Zé Dirceu é equivalente a Marighella e Lamarca, mas é mais importante, porque ele sobreviveu. E eu pergunto: quem é Joaquim Barbosa? Um caçador de marajás.

Como pode o Supremo Tribunal Federal proibir colocar algemas no Daniel Dantas, o ministro Gilmar Mendes dar dois habeas corpus a Daniel Dantas, e o Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, quase acabar, ele, sendo preso? E Daniel Dantas está por aí, feliz da vida.

Houve coisas erradas, talvez, da parte de Zé Dirceu e do PT, mas coisas que são costumeiras na política brasileira, que houve no tempo de JK, da ditadura, que houve e há. O que acontece é que estamos vendo uma armação como sempre aconteceu neste país. Os conspiradores são os mesmos que vêm desde Carlos Lacerda, os que diziam que no governo de Getúlio Vargas existia um mar de lama passando nos subterrâneos do Catete. Getúlio se suicidou [1954], seus inimigos tomaram o poder e não tinha nenhum mar de lama no Catete. O que tinha era a Petrobras. O que tinha era Jango, ministro do Trabalho de Getúlio, dando aumento no salário mínimo dos trabalhadores.

A atitude contra a mulher de Genoino e contra Genoino, quando eles foram votar, foi um desrespeito. É uma prepotência totalitária de pessoas [os repórteres] que não têm noção da história.

Meus cumprimentos a Osasco, o olho do furacão no início desse julgamento do ‘mensalão’, que votou maciçamente no candidato do PT [Jorge Lapas], vice do também condenado João Paulo Cunha. Isso foi uma resposta do povo de Osasco ao STF e ao Joaquim Barbosa. Vai morar em Osasco, ministro Joaquim Barbosa!


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Leia texto de José Genoino:
Esse julgamento ocorre em meio a uma diuturna e sistemática campanha de ódio contra o meu partido e contra um projeto político exitoso, que incomoda setores reacionários incrustados em parcelas dos meios de comunicação, do sistema de justiça e das forças políticas que nunca aceitaram a nossa vitória

Leia a carta divulgada pela filha de José Genoino, Miruna:
A coragem é o que dá sentido à liberdade

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Lewandowski: "Genoino pode ser condenado pelo simples fato de ter sido presidente do PT"


Heloisa Cristaldo* Repórter da Agência Brasil

O julgamento da Ação Penal 470, conhecido como processo do mensalão, foi retomado na tarde de hoje (9) com intervenção do ministro-revisor Ricardo Lewandowski para rebater os argumentos apresentados pelo relator Joaquim Barbosa e pelos ministros Rosa Weber e Luiz Fux para a condenação do ex-presidente do PT José Genoino.

Lewandowski disse ter ficado “perplexo” com os argumentos dos outros magistrados. “Confirmo a informação que dei e insisto neste aspecto. Para mim, José Genoino está sendo denunciado e pode ser condenado pelo simples fato de ter sido presidente do PT na época”, explicou o ministro, ao argumentar que Genoino não teria sido o avalista do primeiro empréstimo com o publicitário Marcos Valério. Apesar das colocações, os ministros Marco Aurélio de Mello e o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, discordaram do revisor.

Com calendário alterado devido às eleições municipais do último domingo, a sessão de hoje vai definir quais réus são responsáveis pela compra de apoio político entre 2003 e 2004. O julgamento continua com as considerações do ministro Antonio Dias Toffoli.

 No momento, os ministros julgam a segunda parte do Capítulo 6 da denúncia do Ministério Público Federal (MPF), que trata das acusações de corrupção ativa imputadas a dez pessoas dos núcleos político e publicitário. Na primeira etapa deste capítulo, concluída no dia 1º de outubro, os ministros condenaram dez pessoas por corrupção passiva, entendendo que houve venda de apoio político entre partidos da base aliada. Agora, o STF define quem foram as pessoas responsáveis por comprar esses políticos.

*Colaborou Débora Zampier

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

PT e PSDB reeditam velho duelo em São Paulo

Divulgação
Haddad em coletiva na noite deste domingo, 7
Com a derrocada do chamado fenômeno Celso Russomanno do PRB e da Igreja Universal do Reino de Deus, o velho duelo PT x PSDB volta a dominar uma eleição em São Paulo. Duelo que também significa a mudança versus a manutenção de um status quo perverso que mergulha a cidade na desesperança.

Como tenho insistido na questão das pesquisas, principalmente do instituto Datafolha, cabe destacar a diferença entre os números divulgados ontem à noite e os verificados nas urnas na eleição de hoje.

O Datafolha deu ontem 2,75% a menos a Serra do que ele teve na urna. Na pesquisa, ele tinha 28% dos votos válidos (na eleição, 30,75%). Para Haddad, o erro para menos foi de quase 5% (mais exatamente 4,98%: 24% no estudo e 28,98% na urna). Já a Russomanno, o instituto da família Frias errou para mais, mas muito para mais: deu-lhe 27%, mas ele só recebeu 21,6% dos votos válidos. A diferença de 5,4% representa cerca de 380 mil votos. Talvez porque bater Russomanno seria mais fácil para Serra? Mas deixemos as teorias da conspiração para lá.
Antonio Cruz/ABr
O tucano teve quase 31% dos votos válidos
A verdade é que seria mais fácil tanto para Haddad quanto para Serra vencerem Russomanno. Tanto o petista quanto o peessedebista teriam a esmagadora maioria dos votos católicos e com certeza do empresariado paulistano temeroso de ver a cidade se aprofundar nas trevas ainda mais escuras do que sob Kassab atualmente.

Com Serra na parada, Haddad não terá esses apoios com tanta facilidade, pelo menos a parcela mais conservadora deles. Mas terá a favor a tremenda rejeição da dupla Serra-Kassab. E contra, a mídia e a exploração do mensalão.

O capital eleitoral de Celso Russomanno (1.324.021 votos) e do peemedebista Gabriel Chalita (833.255) soma 2.157.276, que serão disputados com unhas e dentes já a partir desta segunda-feira.

Osasco

Além da eleição paulistana que leva Haddad ao segundo turno com votação que nenhuma pesquisa registrou, boa notícia, entre muitas outras, vem de Osasco. O candidato do PT, Jorge Lapas, tem 60% dos votos válidos. A votação do tucano Celso Giglio não foi contabilizada. Mas lá está muito conturbado. Estou muito cansado para explicar tudo. Você pode entender melhor lendo aqui.

sábado, 6 de outubro de 2012

Diferença entre Ibope e Datafolha está na manipulação da margem de erro


As duas últimas pesquisas mais esperadas na véspera da eleição municipal foram divulgadas. Datafolha e Ibope, este há alguns minutos. O instituto do Grupo Folha da família Frias mantém a aparente manipulação da margem de erro. Não tem vergonha mesmo, vai até o fim em sua aposta. Coerente. Trabalha por Serra.

A diferença entre ambos os levantamentos é muito significativa, dado o equilíbrio da disputa. Vejam os números de intenção de voto e rejeição de Ibope e Datafolha deste sábado 6 de outubro.

Intenção de voto:

Ibope

Celso Russomanno (PRB) – 22%
Fernando Haddad (PT) – 22%
José Serra (PSDB) – 22%
Gabriel Chalita (PMDB) – 11%
Soninha (PPS) – 4%

Datafolha

José Serra (PSDB) – 24%
Celso Russomanno (PRB) - 23%
Fernando Haddad (PT) – 20%
Gabriel Chalita (PMDB) – 11%
Soninha (PPS) – 4%

Índice de rejeição dos candidatos que podem ir ao 2° turno:

Ibope

Serra - 39%
Haddad - 22%
Russomanno - 22%

Datafolha

Serra - 42%
Russomanno - 30%
Haddad - 25%

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Russomanno, Haddad e Serra. Tudo pode acontecer


Foto: Eduardo Maretti
Candidato do PRB: do céu ao inferno?
Segundo divulgado nas redes sociais nesta sexta-feira (5), o tracking diário do PT mostra um inacreditável e rigoroso empate entre os três principais candidatos à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (PRB), Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB), a dois dias da eleição. Os três estariam com 22% das intenções de voto. Algo inimaginável há alguns dias. Até então, as apostas eram sobre quem seria o adversário do candidato da Igreja Universal do Reino de Deus no segundo turno. Hoje, já se fala que é cada vez mais possível que Serra e Haddad sejam os escolhidos pelo eleitor para avançar.

Haddad tem contra si alguns fatores conjugados, com destaque para dois: o circo do julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal, curiosamente coincidente com a eleição, uma verdadeira fábrica de manchetes a alimentar a mídia paulista na semana decisiva; e as pesquisas dos grandes institutos, principalmente Datafolha, para o qual parece impossível Haddad estar à frente de Serra. Sabe-se que o eleitor menos politizado tende a escolher candidatos que disputam a liderança e o Datafolha já protagonizou histórias obscuras, como se pode lembrar aqui.

É provável que no levantamento que será divulgado amanhã, sábado, o instituto do Grupo Folha tenha que fazer algumas correções, aproximar-se mais da realidade. Segundo o Datafolha de três dias atrás, Russomanno teria 25% (queda de 10 pontos em 15 dias), contra 23% de Serra e 19% de Haddad, apenas 8 acima de Chalita, com 11% (estranho). É muito difícil acreditar que Serra tenha vantagem de 4 pontos sobre Haddad com sua enorme rejeição (45%, contra 26% tanto do petista como do perrebista). Amanhã também será divulgada pesquisa Ibope. Ambos os institutos devem cravar empate técnico entre os três. Ou seja, vão deixar o mistério para as urnas resolverem, pois esta eleição se tornou imprevisível.

Ao que parece, um dos motores da impressionante derrocada de Russomanno seria o movimento dos católicos, que estariam roubando seus votos e pulverizando-os entre Serra, Haddad e Chalita. A favor de Haddad, o fato de que Russomanno está sangrando nas regiões leste 2 e sul 2, onde o PT historicamente vence.

O estranho no Datafolha é que Russomanno caiu 5 pontos na leste 2 em uma semana, mas Haddad subiu ali apenas um, contra 5 de Serra. Mesmo com comício com a presença de Lula e Dilma em Itaquera/Guaianases, redutos do PT? Hum, muito estranho (o comício aconteceu dia 1° e a pesquisa realizada dias 2 e 3). O mesmo ocorre na região sul 2: queda de Russomanno e subida maior de Serra do que Haddad. Estranho...

Seja como for, a militância do lado petista pode ser decisiva nos últimos dois dias, assim como a estrutura partidária que tanto Serra quanto Haddad têm, e Russomanno não. Ouvi de petistas hoje que Serra seria menos pior do que Russomanno. Mas isso fica para outro post.

PS [*às 14:06] - O tracking do PT de hoje, sábado, 6, dá Haddad com 23%, Russomanno com 22%, Serra com 21%.

Pensamento para sexta-feira [38] – Gabriel Megracko



De repente, não mais que de repente

Tive um dia maravilhoso!
As ideias brilhavam
As mulheres cantavam
Soprava um ventinho gostoso!

Andei pelas luas
conheci uma Dama
E um pretendente a meu Amigo!

Decidi pela piedade que clama!
e tirei do caldo da rua um mendigo
Dei-lhe comida e ofereci abrigo
Já se via na sua boca o sorriso
da sorte nascida da lama

Começo da tarde, andei pensativo
... coisas que logo perderam a voz
Mas fiz os deveres meditativo
uma coisa de cada vez
até estar em plena paz de espírito
Sentia-me leve como plana o albatroz
Senti enfim que não pensava em mais nada

Findei o trabalho e fui embora pra casa
no pôr do sol de outono na calçada
Perdoaria até o meu pior algoz
nessa hora gentil e iluminada!
O mundo parecia inesperadamente belo
tão longe da morte e do perigo

Eis então que fez-se o elo!
O encontro das águas no sertão do infinito
Obra de arte a sair do prelo

Na travessia da última rua
já no nascimento da terceira lua
com os olhos serenos e tranquilos
vi o encontro do Céu e do Inferno

Foi um ônibus que estraçalhou um velho

Do blog/caderno de poesia Soulstício


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Não acredito em bruxas nem em surpresas das margens de erro, mas que las hay...



Por Paulo Donizetti de Souza (Revista do Brasil)
na Rede Brasil Atual

No início da tarde [de quarta-feira, 3], circulou em alguns sites o resultado de uma pesquisa telefônica diária feita por um instituto para o PT. O chamado “tracking” – sondagem diária feita, prática comum a todos os partidos que têm candidatos competitivos – ratificava a queda de Celso Russomanno, do PRB, atribuindo-lhe 29% das intenções de voto. Em segundo aparecia o petista Fernando Haddad, com 21%, seguido pelo tucano José Serra, com 16%.

No início da noite, veio o resultado do Datafolha: 25% para Russomanno, 23% para Serra e 19% para Haddad. Ambos acusaram também um leve movimento de subida de Gabriel Chalita (PMDB), na casa dos 12%. A chamada “margem de erro” é de dois pontos para mais ou para menos.

O cenário faz lembrar a eleição para governador de 1998. Na sexta-feira, 2 de outubro, a dois dias da eleição, o instituto da empresa Folha da Manhã trazia Paulo Maluf folgado na liderança, com 31%, seguido pelo conservador Francisco Rossi (18%), o candidato do PSDB à reeleição Mario Covas (16%) e a petista Marta Suplicy (15%).

A tendência era causar um rebuliço no segmento do eleitorado que refutava a hipótese de ver Maluf e Rossi. E estimular uma movimentação em direção ao chamado voto útil. E o rebuliço se confirmou.

No domingo, Maluf fechou a votação com 32%. Covas acabou saltando para 22,95% e Marta, para 22,5%. Rossi acabou em quarto, com 17,11%. A pergunta é: seria possível, em três dias, Covas crescer 6 pontos e Marta avançar 7,5 pontos? (Rossi, curiosamente, ficou na margem de erro.) Ou será que havia indicadores de que Marta crescia mais do que Covas e poderia ser ela a mais forte concorrente a chegar ao segundo turno para enfrentar Maluf?

A seguir o “pânico” provocado pelo Datafolha, migraram mais votos de Marta para Covas. Para se ter ideia, bastaria a Marta permanecer com 38 mil desses votos migrados para que fosse ela a classificada.

Resta uma reflexão ao eleitorado que pretende votar em Fernando Haddad ou em Gabriel Chalita, possíveis vítimas de um suposto pânico em direção ao voto anti-Russomanno: seria o Datafolha, instituto vinculado ao jornal que age assumidamente como principal “partido de oposição” ao PT, capaz de manipular o resultado de uma pesquisa com vistas a beneficiar José Serra?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sobre as eleições na cidade de São Paulo


Esta é uma das eleições mais esquisitas da história recente da cidade de São Paulo.

Celso Russomanno, de um partido insignificante como era o partido de Fernando Collor nas eleições presidenciais de 1989, se aproveitou do vácuo deixado pela briga PT x PSDB e se cacifou de tal forma que hoje os partidos de Lula e de FHC sem veem na iminência de sequer ir ao segundo turno, e deixar o terceiro maior orçamento do país (atrás apenas do Brasil e do Estado de SP) nas mãos de um aventureiro.

Um aventureiro descendente do malufismo. Não podemos esquecer que destruir o malufismo era uma obsessão do PSDB de Mário Covas, causa abraçada por vários setores da “grande” imprensa paulista, o grupo Estado à frente, nos anos 90.

O tempo passou, e houve o catastrófico duplo mandato de Fernando Henrique Cardoso, cujo maior e tenebroso símbolo foi a venda da Vale do Rio Doce (ou seja, da riqueza do subsolo brasileiro, dos minérios, da terra do país), sob financiamento do Estado, leia-se BNDES. E depois veio o incrivelmente bem sucedido duplo mandato de Lula, cujos feitos são inegáveis na história do Brasil (não é intenção deste post enumerá-los), e continuam sendo sob Dilma Rousseff.

Podemos fazer críticas, como as que consideram que, com toda a popularidade e o poder que esta acarreta, Lula/Dilma poderiam ter avançado mais na tentativa de democratizar os meios de comunicação. Continuamos reféns dos podres poderes das poucas famílias que detêm o controle da mídia (Globo, Folha, Estadão, Abril, fora o loteamento de frequências de rádio e tv), que manipulam informações a seu bel prazer, mas continuam contando com gordas verbas publicitárias federais. Entra aí o Supremo Tribunal Federal, com o espetáculo sórdido e anti-republicano do julgamento do “mensalão”. Não tivemos, como a Argentina teve, uma Ley de Medios. Porém, devemos também reconhecer que o Brasil é um país muito mais complexo do que o país de Cristina Kirchner. Ponto para nós.

E, em que pese tudo isso (mídia, STF etc), o Brasil avança. Só em São Paulo é que as coisas insistem em se manter tradicionais, em se manter TFP, truculentas. Aqui ainda continuam acreditando que a Revolução Constitucionalista de 1932 foi progressista, quando na verdade foi a manifestação dos arquétipos paulistanos mais arraigados, reacionários e egoístas, provenientes da sociedade dos barões do café.

E por causa da rejeição da elite paulistana à classe trabalhadora, do ódio de classe que aqui viceja contra Lula e o que ele representa, do ódio racista de São Paulo, mais uma vez a capital está à beira do abismo, que, na atual conjuntura, representa Celso Russomanno, uma espécie de fusão entre o janismo e o malufismo.

Fernando Haddad e José Serra estão supostamente cabeça a cabeça para ir ao segundo turno contra o candidato do neomalufismo. Isso é o que dizem as pesquisas. Mas até que ponto se pode crer nas pesquisas?

No seu afã de combater o PT, Rede Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, STF, Veja etc. estão trabalhando por Serra contra Haddad. Ao que parece, Russomanno já está no segundo turno. Russomanno da Igreja Universal contra Serra da Globo. O "pior dos mundos". O problema para o grupo dos oligarcas ligados à Globo é que, se Serra for para o segundo turno, Russomanno será o prefeito. Não que com Serra seria melhor para São Paulo. A questão não é essa. A questão é que São Paulo, politicamente, com Serra ou Russomanno, continuará um lugar chato de se viver. Um lugar opressivo, "protofascista", como diz Marilena Chaui. E a oligarquia terá vencido aqui, mais uma vez.