sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Pensamento para sexta-feira [62] - Baladeur de Ozzie Gheirart



Diego Limberti


A música de Ozzie Gheirart, segundo ele, é produzida "de forma caseira, usando garage band". O próprio autor assim define seu trabalho:

"O projeto Baladeur saiu do meu doutorado - em antropologia. É um personagem que aposta no pensamento poético como possibilidade de reinventar a vida. Seria um flaneur do mundo contemporâneo.
Ele transita por diversas camadas da realidade e aproveita a pluralidade de formas criativas para se expressar. Como o nome Baladeur tem vários sentidos (walkman em inglês; balada é caminhada, é um tipo de poema e um tipo de composição musical), tento mesclar diversas linguagens e narrativas.
Para compor, utilizei ferramentas simples, a que qualquer pessoa tem acesso: computador, celular etc. Convidei artistas para participar, músicos, pintores, poetas, estilistas etc. O projeto é coletivo e investi pouquíssimo dinheiro.
A música é eletrônica, mas na sua totalidade flerta com vários estilos. Em especial, o rock." 

Ouça clicando neste link: Naquele Dia/Je Suis Trilili by Baladeur



sábado, 15 de agosto de 2015

Agustín Mario Cejas (1945-2015)



Reprodução


Cejas era um dos meus ídolos na infância. Em certo momento, para mim, o goleiro argentino era lo más grande de todos. Quando comecei a me ligar em futebol, a torcer e sofrer pelo Santos com suas camisas brancas ou listradas alvinegras, eu gostava de jogar no gol. Brincava de ser goleiro, e nessas ocasiões eu era ele. Como é bom ser criança. Apesar da beleza do manto branco ou listrado, eu "sonhava ter aquela camisa azul com detalhes em preto", como disse o amigo santista Roberto Iizuka no Facebook.

Mas Cejas também jogava com uma camisa preta, e também com uma camisa cinza. Foi ele quem me fez a partir de então ser sempre atento aos goleiros, ter sempre admiração por eles, querer ser um deles.

Agustín Mario Cejas nasceu em Buenos Aires (1945), onde morreu nesta sexta-feira, 14 de agosto de 2015, aos 70 anos, de Alzheimer. Começou a carreira no Racing de Avellaneda. Jogou no Santos de 1970 a 1974, período em que atuou no Alvinegro em 253 jogos.

Conta a lenda (que me foi passada pelo primo e amigo palmeirense Marco Ferreira, pois não vi o lance) que certa vez o lateral direito Nelinho, do Cruzeiro, ia bater um pênalti. Todos daquela época lembram da bomba de Nelinho. Ele correu para a bola e bateu. No centro do gol, de pé, sem sair do lugar, Cejas encaixou o bólido. Parece que foi assim. Ouviu-se numa fração de segundo o som surdo do pé batendo na bola e ela batendo no peito do goleiro, um som em duas sílabas: tu-du.

Cejas foi um dos grandes que fizeram a camisa do Santos reluzir e que justificam o "orgulho que nem todos podem ter", que é o orgulho de ser torcedor do Santos Futebol Clube.

Descanse em paz.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

No tabuleiro político, Eduardo Cunha é o bispo, que tem vida curta no xadrez




Está na Folha de S. Paulo online desta quinta-feira 13 a manifestação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre as manobras jurídicas (como se não bastassem as políticas) do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do glorioso PMDB do Rio de Janeiro. Diz Janot:

"O inquérito investiga criminalmente a pessoa de Eduardo Cunha, que tem plenitude de meios para assegurar sua defesa em juízo e, como seria de se esperar, está representado por advogado. O investigado solicitou a intervenção da advocacia pública em seu favor, sob o parco disfarce do discurso da defesa de prerrogativa institucional. O que se tem, então, é um agravo em matéria criminal em que a Câmara dos Deputados figura como recorrente, mas cujo objeto só a Eduardo Cunha interessa (...)

"O agravo em questão evoca, em pleno século XXI, decantado vício de formação da sociedade brasileira: a confusão do público com o privado."

A matéria da Folha está aqui.

Mesmo quem não é familiarizado com termos jurídicos há de reconhecer nas palavras de Rodrigo Janot um cenário nebuloso para Cunha na seara jurídica. O cenário pode ficar ainda mais carregado de nuvens escuras para o presidente da Câmara (e aí já politicamente) se Renan Calheiros mantiver o acordo negociado com o Palácio do Planalto desde a semana passada. Nesse caso, o Senado presidido por Renan seria o freio às sandices de Cunha na Câmara. Porque seria Eduardo Cunha contra Renan, Michel Temer e o governo.

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Os próximos lances no tabuleiro vão definir o papel de Eduardo Cunha no xadrez político do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff. Especificamente quanto a essa partida, acredito que terminará no final de 2015. Nela, penso eu, Cunha terá desempenhado o papel do traiçoeiro bispo.

Numa partida de xadrez (e quem joga só um pouquinho de xadrez sabe disso) o bispo normalmente tem vida curta, embora eficiente para golpes diagonais, que são muito perigosos. Mas tem menos abrangência do que o cavalo. Seja como for, a vida do bispo deve necessariamente ser mais curta do que a da torre, da rainha e do rei. Em alguns acasos, até mais curta do que a de alguns peões.

sábado, 8 de agosto de 2015

O que está por trás da atitude da Globo?



Cadu Gomes/Fotos Públicas


A pergunta que muitos se fazem após o editorial do jornal O Globo desta sexta-feira (7) e a edição do Jornal Nacional do mesmo dia é: o que está por trás da atitude da Globo?

Pergunta-se: a Globo está desembarcando do golpe ou está tramando algo sinistro, como pretendem os teóricos da conspiração? Não pretendo aqui e agora ser profeta e me apressar a responder essa questão.

Mas, aos fatos. No editorial d’O Globo intitulado “Manipulação do Congresso ultrapassa limites” (leia aqui), o jornal faz pesada crítica a Eduardo Cunha. “Mesmo o mais ingênuo baixo-clero entende que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), age de forma assumida como oposição ao governo Dilma na tentativa de demonstrar força para escapar de ser denunciado ao Supremo, condenado e perder o mandato, por envolvimento nas traficâncias financeiras desvendadas pela Lava-Jato”, diz o editorial, que questiona, em alusão explícita a Cunha: “vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país?”

O diário continua, acrescentando a ironia ao se referir ao posicionamento do PSDB: “Até há pouco, o presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros (AL), igualmente investigado na Lava-Jato, agia na mesma direção, sempre com o apoio jovial e inconsequente dos tucanos. Porém, na terça, antes de almoço com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Renan declarou não ser governista, mas também não atuar como oposicionista (...) e descartou a aprovação desses projetos-bomba pelo Congresso”.

Mas o posicionamento estranho (e de fato surpreendente) da família Marinho não para por aí. Chego em casa e, pelo facebook do camarada Felipe Cabañas, vou ao site Pragmatismo Político, que informa que o Jornal Nacional desta sexta “dedicou mais de 3 minutos veiculando sonoras de Dilma Rousseff rebatendo críticas durante um discurso e sendo aplaudida por populares”. Diz o site que o JN “mostrou um protesto que reuniu centenas de manifestantes contra o ataque a bomba que atingiu o Instituto Lula na última semana” e que “houve, ainda [no JN], matéria a respeito do aeroporto de Claudio, de Aécio Neves, e críticas ao suposto atropelo de Eduardo Cunha por colocar em votação a aprovação das contas dos ex-presidentes Itamar, FHC e Lula”. (Veja a edição do JN  aqui.)

(Nota deste blog: a pressa em aprovar as contas de Itamar, FHC e Lula se deve à pressa que Eduardo Cunha tem em julgar as contas de Dilma, o que obviamente não pode ser feito antes de “limpar a pauta” que já está criando teias de aranha na Câmara.)

"O que teria levado a família Marinho a cravar posição contra o impeachment da presidente e chamar de irresponsáveis os que querem tirá-la do cargo para o qual foi eleita até 2018?", pergunta Pragmatismo Político.

Não é mera coincidência que a Fiesp e sua congênere do Rio de Janeiro, a Fierj, tenham divulgado nesta mesma sexta uma nota conjunta pedindo diálogo em nome da “estabilidade institucional do Brasil”.

“Para Fiesp e Firjan, é o momento de ‘colocar de lado ambições pessoais ou partidárias’ e mirar os interesses do país. E os representantes escolhidos pelo povo devem ‘agir em nome dos que os elegeram para defender pleitos legítimos e fundados no melhor interesse da Nação’", informa nota da Rede Brasil Atual.

Ao que parece, o presidente da Câmara está cercado e se consolidou o entendimento de que ele deve cair. Eduardo Cunha está no fim de seus lamentáveis 15 minutos de (sórdida) fama.

Outras questões envolvem o enorme destaque que a mídia (inclusive de esquerda) tem dado aos movimentos do vice-presidente Michel Temer. Não se pode tirar conclusões no atual e movediço cenário. Mas os fatos autorizam uma suposição: a de que Temer pode ser o nome que está sendo preparado por amplos setores não para substituir Dilma após um golpe, que não virá, mas para suceder Dilma na eleição de 2018.

A semana que vem promete.

Como cantou Chico Buarque: "O que será que será/ Que andam suspirando pelas alcovas?"