Fotos: Rovena Rosa/Agência Brasil
Conversei ontem (28) com o deputado federal Paulo Teixeira, do PT
de São Paulo, sobre esse embate Movimento Passe Livre x Fernando Haddad. A
conversa foi antes da manifestação marcada pelo MPL para o final da tarde, que
previa um “debate” para o qual estavam convidados o governador Alckmin e o
prefeito, que não compareceram.
Nem mesmo o MPL poderia prever que as manifestações desta semana fossem tão pequenas que o movimento fosse obrigado a marcar a próxima apenas para daqui
a quase um mês. Por quê?
Paulo Teixeira arrisca uma avaliação: “A própria juventude
acaba interpretando o MPL. Na minha opinião, existe na juventude um sentimento de
que o prefeito está atendendo (as reivindicações dos jovens), senão estaria
toda na rua hoje. A maioria dos estudantes entende o esforço de Haddad. Se você
comparar as manifestações de hoje com as de 2013, as de 2013 eram muito maiores”.
De acordo com a interpretação do deputado, os jovens (para
além do movimento MPL que os pretende representar) compreendem as ações de
Haddad na área de transporte público e mobilidade. Paulo Teixeira lembra que o prefeito ampliou a gratuidade do sistema de transporte, aumentou subsídios e o aumento dos ônibus foi abaixo da inflação. “Ele está fazendo mais do que pode diante da realidade econômica. Portanto, vejo que há uma situação em que ele está fazendo de tudo para atender, mas existem os limites. Acho que talvez tenha sido o prefeito que mais atendeu as demandas do MPL”, diz Teixeira.
O deputado diz que, ao dizer que Haddad e Alckmin são "a mesma coisa" (como dizem muitos jovens), "estão cometendo uma injustiça com Haddad".
O deputado diz que, ao dizer que Haddad e Alckmin são "a mesma coisa" (como dizem muitos jovens), "estão cometendo uma injustiça com Haddad".
É evidente que, embora limitadas pela realidade – leia-se
dificuldades econômicas –, as ações da prefeitura têm impacto na limitadíssima mobilização que o MPL conseguiu esta semana.
Apesar de os militantes do MPL estarem justificando os
protestos deste início de 2016 por “uma pauta única”, que é apenas a revogação
do aumento de R$ 3,50 para R$ 3,80, a bandeira permanente do movimento continua
sendo a tarifa zero. Tanto que em sua última publicação no Facebook (ontem), em que
marca a próxima manifestação para o dia 25 de fevereiro, a certa altura o MPL diz: “Todo aumento é um roubo porque
haver tarifa é um roubo!”
Em que pese o serviço de ônibus em São Paulo continuar muito ruim
(carros velhos, lotados e sujos), além da licitação dos transportes prometida
para 2013 estar até hoje parada, a população como um todo parece muito distante
de encampar os protestos do MPL este ano.
Provavelmente os 500 mil estudantes que potencialmente conquistaram o
passe livre desde o ano passado entendem (coletivamente) que “haver tarifa é um roubo” para toda a população é uma retórica sem bases na
realidade.
Outro fator para a pequena adesão às manifestações é que as pessoas, em geral, e os jovens, em particular, querem estar longe da extrema violência da polícia de Alckmin.
Por outro lado, muitas pessoas que poderiam estar nas ruas, e também gente progressista e de esquerda, desaprovam cabalmente o uso de máscaras por ativistas que se dizem pacíficos, mas não são. As pessoas comuns não se sentem representadas por mascarados e vândalos.
De resto, parte significativa da esquerda e movimentos sociais criticam duramente Haddad por não ter se manifestado contra a truculência da polícia de Alckmin e pelo fato de o prefeito ter ironizado a bandeira de tarifa zero do MPL na semana passada. "Podia dar almoço grátis, jantar grátis, ida para a Disney grátis", disse o prefeito.
Apesar de a frase de Haddad ter sido muito mal recebida, e
embora eu mesmo tenha diversas críticas ao prefeito e sua gestão (não apenas
relativas a transportes), me parece que a associação com a Disney é sincera e
realista (além de engraçada), ao apontar para a fantasia em que se baseia uma
reivindicação que ignora deliberadamente o fato de que a cidade de São Paulo é
uma das maiores metrópoles do mundo, com quase 12 milhões de habitantes na
cidade e cerca de 20 milhões, se se considerar a região metropolitana.
Nesse sentido, a principal bandeira do MPL (tarifa zero) é mais demagógica
do que realista (não se pode usar pequenas cidades como exemplos para dizer que a
tarifa zero é possível em São Paulo). Assim como é demagógica a posição de blogueiros
e jornalistas de esquerda que parecem morrer de medo de criticar o MPL e não
conseguem apontar nem mesmo erros clamorosos de estratégia do movimento.
Seja como for, a julgar pelo fiasco das manifestações do MPL
desta semana, os estudantes de São Paulo compreendem o que é demagogia e o que
é realidade.
Vamos aguardar as manifestações marcadas para daqui a um
mês.