sexta-feira, 29 de abril de 2011

O acordo entre Fatah e Hamas e o cinismo ocidental


“A Autoridade Palestina deve decidir entre a paz com Israel e a paz com o Hamas, que quer nos destruir."

Com essas palavras hostis e ameaçadoras o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, manifestou-se a respeito do acordo histórico entre Fatah e Hamas, anunciado na última quarta-feira, 27, mas ainda não assinado oficialmente. Quer dizer, a violência permanente dos tanques contra as pedras vai continuar. Não há nada, aliás, que não seja pretexto para Israel responder com tiros e bombas. O acordo está previsto para ser assinado no dia 4 de maio, no Cairo, pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e o líder do Hamas, Khaled Mechaal.

Pedras contra tanques
(Todos os direitos reservados/Rogério Ferrari)

De qualquer maneira, a intenção dos dois grupos palestinos (chamados de “facções” pelo Estadão, vejam vocês) é de realizar eleições em menos de um ano.

Ceticismo ou cinismo?

O acordo é visto com ceticismo pelo Ocidente, diz a mídia internacional. O ministro de Relações Exteriores israelense, Avigdor Lieberman, também protestou, segundo a alemã Deutsche Welle: "Todos os membros do Hamas que estão presos na Cisjordânia serão em breve libertados. Isso significa que centenas de terroristas estarão soltos na região”, vociferou.

Ainda segundo a DW, o ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle, reagiu com as seguintes palavras ao acordo, no jornal Tagesspiegel, de Berlim: "Para nós, o Hamas não é um interlocutor, porque não trabalhamos com organizações que combatem com violência o direito de existência de Israel". Chega a ser cômico. Pois o Estado da Palestina (em árabe: دولة فلسطين) sequer existe e sua criação é bombardeada e boicotada aberta ou veladamente por todo o cínico Ocidente, que finge que não vê o terrorismo de Estado israelense.

Conflitos fratricidas entre os islâmicos do Hamas (que comanda a Faixa de Gaza) e o Fatah (que controla a Cisjordânia) – como em 2007, quando o Hamas assumiu o controle de Gaza – era uma bênção para o sionismo. Isso acabar é derrota política significativa para o governo de Netanyahu.

O Egito ser o palco do acordo Fatah-Hamas é muito simbólico. Pois foi ali, na praça Tahrir, que a “primavera árabe” atingiu uma culminância espetacular, que redundou na queda de Hosni Mubarak, um cãozinho amestrado de Israel. No atual contexto, as ameaças que pesam sobre a Líbia e a Síria são mais do que inquietantes para os israelenses.

A Síria é governada pela família Assad desde 1971. Em 2000, com a morte de Hafez al-Assad, seu filho Bashar assumiu. O regime sírio quer de volta as Colinas de Golã – anexadas na Guerra dos seis dias, em 1967. Especulou-se nos últimos dias que os regimes israelense e sírio negociavam secretamente sua devolução.

PS: A foto acima é do fotógrafo baiano Rogério Ferrari, que trabalha como fotógrafo independente e desenvolve o belo projeto Existências – Resistências. Pretendo entrevistá-lo em breve para postar aqui no blog. 

Atualizado às 23:26

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sem dar show, Santos de Muricy bate América (MEX) e deve encarar Cruzeiro nas quartas


O Santos conseguiu resultado importante ao bater o América do México na Vila Belmiro pelas oitavas-de- final da Libertadores, por 1 a 0, nesta quarta-feira, resultado muito bom a meu ver. Pelo regulamento, se o time de Muricy fizer um gol no México, os adversários precisam fazer três. E dificilmente o Santos deixará de fazer um gol no país dos aztecas.

No primeiro tempo o Alvinegro começou com dificuldades no meio de campo, onde o América exerceu forte marcação. O Peixe demonstrou nervosismo e custou a conseguir equilibrar as coisas no setor. Até cerca de 25 minutos, alguns santistas, talvez saudosos dos 10 a 0 no Naviraiense ano passado, desejaram um jogo mais agressivo e menos cauteloso, mas a cautela se provou correta porque o time correu poucos riscos, não tomou contra-ataques (um desastre constante da equipe até a chegada de Muricy) e fez um gol na hora certa para premiar a pressão que exerceu nos 20 últimos minutos. 

Paulo Henrique, com chute seco, aproveitou com precisão um passe de Neymar e colocou no canto direito do goleirão Ochoa aos 38, para fazer 1 a 0 mais do que merecidamente. Um golaço, diga-se. Prestem atenção na marcação a Neymar, três advsersários em seu encalço, enquanto o camisa 11 descobria Ganso entrando.



No segundo tempo o Santos poderia ter matado a disputa com o América e praticamente carimbado a passagem às quartas-de-final. Elano perdeu um gol feito, mas deu passe magistral para Jonathan perder outro tento desenhado (por falar em lateral direito, prefiro o aguerrido Pará ao Jonathan). E de gol perdido em gol perdido, o Peixe venceu por 1 a 0.

O Santos de hoje exibe um futebol realista. Tomou apenas dois gols em seis jogos comandados por Muricy.

Para mim, o destaque do time da Vila foi Neymar, para variar, que jogou uma barbaridade e apanhou como sempre. Por pouco não teve a mão (sim, a mão!) quebrada por um mexicano raivoso. “Faz parte do futebol”, diz a opinião pública, o senso comum idiota como sempre.

Do América o Santos deve passar. Posso errar, mas uma das quartas-de-final deve ser um espetacular Santos x Cruzeiro, para relembrar os velhos tempos.

Leia também o mais recente em esportesNo Paulistão deu a lógica: os quatro grandes nas semifinais



Atualizado às 16:16

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O humor na cultura brasileira


As relações entre a poesia modernista e a música popular da década de 1930, com foco no humor e no tom coloquial comum a ambas, é o tema do curso “A Poesia Modernista e a Canção Popular”, que Mayra Pinto (doutora pela Faculdade de Educação da USP) vai ministrar na Casa Guilherme de Almeida às quartas-feiras de maio.

Para Mayra, as relações entre cultura erudita (literatura) e popular (canção) naquele período fundador da cultura brasileira contribuíram para a formação do sujeito lírico dotado do humor presente, por exemplo, tanto na canção de Noel Rosa como na poesia de Mario de Andrade (neste, menos visível e mais irônico, na minha opinião).

Curso
“A Poesia Modernista e a Canção Popular”
Por Mayra Pinto
Quartas-feiras (4, 11, 18 e 25 de maio) das 19h30 às 21h30
Casa Guilherme de Almeida – rua Macapá, 187, Perdizes – São Paulo
Inscrições pelos telefones: (11) 3673-1883 / 3672-1391

terça-feira, 26 de abril de 2011

A revoada tucana

A crise nas hostes tucanas depois da derrota de José Serra na eleição de 2010 continua. Os desdobramentos, depois do racha generalizado, apontam para uma reordenação das lideranças conservadoras, que estão divididas e tentam, desnorteadas, achar o espaço de oposição que não sabem onde está desde o segundo mandato de Lula.

Agora há pouco (20h23), a Folha.com publicou matéria com o seguinte título: “FHC admite possibilidade de fusão entre PSDB e DEM”. O ex-presidente, conhecido por sua admiração por Maquiavel, reconhece que "existem propostas nesse sentido”. Fernando Henrique Cardoso quer liderar um movimento para ocupar o espaço de uma oposição perdida e sem ação. A Folha, note-se, tem sido diligente em divulgar sua conversão definitiva ao ideário de direita. Na semana retrasada, via web, divulgou também em primeira mão as recomendações do ex-presidente para que os empenhados na cruzada de uma nova oposição (a direita que saiu do armário) se aproximem da classe média e esqueçam o “povão”, fatia perdida do eleitorado.

Após Kassab (uma sombra de Serra) criar o partido sem rosto, outras notícias surgiram, incluindo as mais recentes: sete vereadores tucanos de São Paulo anunciaram na semana passada sua debandada do ninho. Depois, Walter Feldman, secretário municipal de Esporte e Lazer (São Paulo) e fundador do PSDB, deixou o partido atacando o grupo do governador Alckmin (“O PSDB hoje é incapaz de se constituir como partido de oposição, de se renovar e de compreender a derrota eleitoral”, vociferou Feldman). Já Alckmin parece obcecado em vingar-se do nunca engolido apoio de Serra a Kassab.

Os vereadores paulistanos parecem ter sido seduzidos pelo PSD de Kassab; Feldman disse que a saída é “seguir FHC em sua posição intelectual”.

Uma confusão dos diabos.

Só espero que uma provável (se o Príncipe falou, tá falado) fusão PSDB-DEM não resulte numa sigla PSDBEM. Seria demais, seria ridículo.

E fica a pergunta: para onde vai Aécio Neves nessa revoada, para fugir do estereótipo de novo Collor que já começa a colar nele, o neto de Tancredo?

Lei de Direitos Autorais: Minc promove consulta pública até 30 de maio


 Projeto já tinha sido objeto de consulta. Qual será o próximo ato da ministra do Ecad?

Os interessados em contribuir com a discussão da reforma da Lei de Direitos Autorais têm a última chance entre 25 de abril (ontem) e 30 de maio, período designado pelo Ministério da Cultura ao anunciar a reabertura da consulta pública, no último dia 20, cujos detalhes e procedimentos podem ser acessados neste link.

Vale lembrar que o projeto já tinha sido objeto de consulta, na gestão de Juca Ferreira. Não se pode esquecer também que a ministra Ana de Hollanda causou uma série de descontentamentos desde que assumiu o Minc. Primeiro, ao tirar a licença Creative Commons do site do ministério, o que gerou enorme repercussão e críticas de setores comprometidos com a democratização do acesso à cultura no Brasil, como registrou o sociólogo Sérgio Amadeu em entrevista a este blog.

A ministra no Senado, no início do mês
Há duas “versões” sobre os rumos que a ministra imprime ao Minc. Segundo uma delas, por trás de sua aparente defesa dos direitos dos artistas, Ana de Hollanda trabalha, na verdade, por interesses muito claros, os da indústria cultural e grandes gravadoras. “As pequenas ações da ministra apontam basicamente para a realização da agenda da indústria cultural”, disse Pablo Ortellado, do Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da USP, cerca de um mês atrás, ao Estadão.

Alhos com bugalhos
Outras versões dão conta de que a irmã de Chico Buarque na verdade mal sabe do que está falando. Ao participar de audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esportes no início deste mês, ela confundiu alhos com bugalhos ao falar de Creative Commons e redes sociais. Ao justificar a retirada do selo do CC do site do Minc, saiu-se dizendo tratar-se apenas de "uma entidade privada que oferece um serviço", e ainda: "Era uma marquinha, uma propagandinha de um serviço que uma entidade promove".

Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas e representante do Creative Commons no Brasil, foi enfático ao comentar, em matéria de O Globo: “Não faz propaganda pois ele não vende serviço nenhum. O Creative Commons é uma entidade sem fins lucrativos que funciona hoje em 70 países através de voluntários e parcerias com instituições acadêmicas que trabalham voluntariamente no projeto. No Brasil, é a Escola de Direito da FGV".

Redes sociais

Ficou mais ridículo ainda quando a ministra falou no Senado sobre rede sociais. Para Ana de Hollanda, Twitter, Facebook e Flickr são "redes livres para se comunicar" e não configuram serviços. Acontece que são empresas privadas comerciais e visam o lucro, sim: “O Facebook deve abrir capital no início de 2012 e está avaliado em US$ 50 bilhões. O Twitter ainda não tem previsão de lançar ações no mercado, mas já foi avaliado informalmente em US$ 10 bilhões, apesar dos números oficiais ficarem em ‘apenas’ US$ 3,7 bilhões”, diz a matéria acima citada.

Para mim, Ana de Hollanda tanto pode ser chamada de "ministra do Ecad" como podemos dizer que ela está muito mal preparada para o cargo que ocupa e não tem muita ideia do que significam os novos tempos na cultura do Brasil e do mundo.

Atualizado às 16:17

Imprensa se esquece dos fatos quando fala de metrô paulista

A imprensa divulgou nesta terça, 26 de abril, que o governador Geraldo Alckmin anunciou para 16 de maio a inauguração da estação Pinheiros, na Linha 4-Amarela do Metrô. “A previsão inicial era que ocorresse até o fim deste semestre”, disse o Estadão em texto que ficou como manchete de sua página na web o dia inteiro.

“Previsão inicial” é um absurdo. O jornal fica muito esquecido quando fala de metrô. Não é verdade que a previsão “inicial” era o fim deste semestre. O trecho da linha entre as estações Butantã e Pinheiros estava prometido por José Serra para outubro do ano passado.

Antes, ao assumir o governo do estado em 2007, o tucano Serra prometera que entregaria seis estações da Linha 4-Amarela em fins de 2008. Portanto, o repórter do Estadão deveria se informar melhor sobre o assunto para não parecer que o jornal se esquece tão fácil das coisas.

Em tempo: o governo paulista deu prazo até o Natal para que a Linha 4 - Amarela do Metrô opere de madrugada até a noite. Hoje, só com as estações Faria Lima, Paulista e Butantã, o funcionamento é das 8h às 15h. Com a estação Pinheiros em maio, a operação começará às 4h40, diz o governo.

A estação Butantã foi inaugurada em março após inúmeros adiamentos

segunda-feira, 25 de abril de 2011

No Paulistão só deu a lógica: Santos x São Paulo e Palmeiras x Corinthians na semifinal

O Campeonato Paulista chega à semifinal tediosamente lógico. Com a fórmula de classificar oito times para as finais, proporcionou 19 rodadas inúteis. Assisti aos quatro jogos das quartas de final. Apesar dos resultados apertados, nenhum dos quatro grandes teve maiores dificuldades e os resultados deixaram as zebras longe:

Santos 1 x 0 Ponte Preta
Corinthians 2 x 1 Oeste
São Paulo 2 x 0 Portuguesa
Palmeiras 2 x 1 Mirassol

As semifinais estão definidas com dois confrontos de quatro grandes no próximo fim de semana, 30 de abril e 1° de maio:

Santos x São Paulo (sábado, 30/04 - Morumbi - 16h)
Palmeiras x Corinthians (domingo, 1°/05 - Pacaembu - 16h)
*Atualizado às 15:32.

Reproduzo neste post, abaixo, os dois gols que me pareceram os mais bonitos entre os nove assinalados nas quatro partidas das quartas: o de Neymar e o de Valdívia.

Santos 1 x 0 Ponte Preta

O Santos bateu a Macaca por 1 a 0 sem sustos, a não ser uma bola na trave de Rômulo aos 34min do segundo tempo. Muricy Ramalho resumiu assim a evolução do time nos últimos jogos: "Não estamos tomando contra-ataque, isso está chamando atenção. Antes era um time que só atacava e não marcava. Hoje é um time que ataca e marca também".

O zagueiro Edu Dracena, muito criticado, inclusive por este blogueiro, analisou: “A colocação dos jogadores na frente da defesa melhorou bastante. Hoje todos os jogadores sabem o que fazer dentro de campo”. Em outras palavras, antes (com Adilson Batista e Martelotte) os jogadores não sabiam o que fazer dentro de campo, certo?

Veja o gol de Neymar contra a Ponte Preta (23/04/2011):




Corinthians 2 x 1 Oeste

O Corinthians massacrou o Oeste, ganhou só de 2 a 1 como poderia ter ganhado de 4 a 1, mas, nesse tipo de jogo eliminatório sem volta, um gol achado pode mudar o rumo das coisas. Se por azar não ganhasse do Oeste, o time do Parque São Jorge ficaria até 22 de maio sem jogar, quando começa o Brasileirão. Mas o Corinthians está à beira da crise. Dizem que nos bastidores a cabeça de Tite é pedida ao molho pardo ou à bolonhesa, de qualquer jeito, mesmo que ganhe o estadual.

O Alvinegro do Parque São Jorge carece de um goleiro à altura de um time campeão. Julio Cesar continua fazendo lambanças. A vitória corintiana só ficou em risco porque o gol do Oeste saiu devido a um erro duplo do arqueiro na mesma jogada, ao sair jogando mal e ainda por cima tomar o gol defensável no chute de Fábio Santos no fim do primeiro tempo, quando o time de Itápolis empatou. O atacante William substituiu Dentinho na segunda etapa e fez o gol da vitória, um belo gol, aos 20min.

São Paulo 2 x 0 Portuguesa

A vitória do São Paulo de 2 a 0 sobre a Lusa foi a mais fácil dos quatro jogos. A Portuguesa se mostrou um time inofensivo, a não ser por jogadas ocasionais que Rogério Ceni defendeu, tornando ainda mais justa a vitória tricolor, pelo detalhe de ter um goleiro que decide. Assim como tem decidido Dagoberto, que fez o segundo gol contra a Lusa.

Ilsinho foi o destaque são-paulino. Jogou com o peso de substituir Lucas (com problemas musculares, segundo se divulgou) e foi decisivo, marcando o primeiro e dando o passe para Dagoberto fechar a conta.

Palmeiras 2 x 1 Mirassol

O Mirassol deu certo trabalho ao Palmeiras na vitória de 2 a 1 do time de Felipão no Pacaembu, jogo marcado pelo golaço de Valdívia abrindo a contagem aos 10min do primeiro tempo. O Mirassol empatou no fim da primeira etapa, e a partida ficou muito parecida ao jogo Corinthians x Oeste, em que a avalanche do favorito não evitou a ameaça do pequeno.

No caso do Timão, a ameaça surgiu a partir dos erros grosseiros de Julio Cesar; no do Palmeiras, por falha coletiva da defesa. Mas a vitória palmeirense foi mais do que justa, apesar de o árbitro Guilherme Ceretta de Lima ter facilitado as coisas ao expulsar Xuxa, do Mirassol, dando o segundo amarelo com rigor exagerado e matando qualquer possibilidade de reação do time interiorano.

Abaixo, o gol de Valdívia:

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Chico César e a luta inglória contra o "forró de plástico"

Causou grande repercussão no Nordeste do país, especialmente na Paraíba, o posicionamento do músico Chico César, atual Secretário de Cultura do Estado, sobre as bandas que tocam o chamado “forró de plástico”, um lixo cultural que se dissemina como gafanhoto. César afirmou que o governo não vai pagar por apresentações dessas bandas nas festas juninas de Campina Grande.

Com teclado e dançarinos, as bandas “de plástico” não usam sequer sanfona, estão tomando conta e, por incrível que pareça, ameaçam seriamente a cultura da região. “Nós vamos contribuir com a cultura tradicional, com o pé de serra, com Biliu de Campina, Pinto do Acordeon, entre outros”, afirmou Chico César.

Devido à polêmica causada pelas declarações, o secretário divulgou uma nota oficial em que fica clara a triste conjuntura em que uma das maiores manifestações culturais e seus principais representantes hoje são vaiados, porque a população está sendo doutrinada a ouvir a tal música de plástico.

Leia um trecho da nota do secretário e músico Chico César sobre a polêmica:

“Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava 'Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver'”.

Mas a justa luta do músico é inglória e ele recebe ataques até de parlamentares. O deputado Raniery Paulino (PMDB), por exemplo, afirmou que “o governo não pode determinar os artistas que o povo deve ou não ouvir”. Mas a mídia pode, não é, deputado?

Na nota, Chico César rebate as acusações de que está sendo intolerante: “Intolerância é excluir da programação do rádio paraibano (concessão pública) durante o ano inteiro, artistas como Parrá, Baixinho do Pandeiro, Cátia de França, Zabé da Loca, Escurinho, Beto Brito, Dejinha de Monteiro, Livardo Alves, Pinto do Acordeon, Mestre Fuba, Vital Farias, Biliu de Campina, Fuba de Taperoá, Sandra Belê e excluí-los de novo na hora em que se deve celebrar a música regional e a cultura popular".

Chico César não comprou apenas uma briga meramente cultural-ideológica. Ele tem contra si o poder midiático, os interesses financeiros, o jabá e, como se vê, até lobbies na Assembléia Legislativa.

É triste constatar que, quanto mais o tempo passa, mais Pier Paolo Pasolini tem razão.

Publicado originalmente às 16:21 de 20/04/2011

Santos está nas oitavas da Libertadores e pega América (MEX); Flu faz história na Argentina


"Não é óculos, é máscara!”, diz Neymar ao comemorar gol (muito bom!)


Santos 3 x 1 Deportivo Táchira. O Peixe conquistou a terceira vitória seguida e está nas oitavas-de-final da Libertadores. No Pacaembu, destaque para as atuações irretocáveis de Danilo, Léo, Arouca e Neymar. A classificação santista, que ficou ameaçada após o empate com o Cerro Porteño na Vila em 3 de março, se concretizou com o terceiro gol do Santos, aos 27 do segundo tempo, três minutos depois do temerário gol do Táchira, numa cobrança de falta perfeita de Chacón (pareceu-me que o goleiro Rafael estava mal colocado, foi atrasado na bola e tomou um gol defensável), quando a classificação voltou a estar ameaçada.

Veja a postura do n° 20: como parar Neymar?
(foto: Ricardo Saibun)

Enquanto o Táchira fazia 1 a 2, o Cerro Porteño saía de 2 a 0 e chegava ao 2 a 2 com o Colo Colo em plena Santiago. Naquele momento, com o empate no Chile, se por um desses golpes aziagos do futebol o Táchira achasse mais um gol, o Santos estava fora. Mas Neymar, a jóia, achou um atalho, deixou dois zagueiros na saudade (veja gols abaixo) e mandou para a área, pra Zé Love perder mas ainda conseguir atrasar a bola para Danilo decretar os 3 a 1. Não importa se o Táchira é lanterna do grupo 5, o que vale é o resultado e a classificação. (No fim, o Cerro conseguiu incrível virada pra cima do Colo Colo e ficou com o primeiro lugar, deixando o Santos em segundo.)

A grande surpresa do Santos na atual fase de recuperação é Danilo, que, de lateral direito de origem, se transformou em um segundo volante de grandes recursos. Fez o primeiro gol (um golaço) no Paraguai contra o Cerro num petardo da intermediária de pé esquerdo na vitória por 2 a 1 e participou dos três de hoje contra os venezuelanos, marcando o terceiro.

O destaque negativo foi Elano, que errou muitos passes (deu dois contra-ataques aos adversários) e não acertou a bola parada. Paulo Henrique Ganso foi discreto. Apesar de comentaristas dizerem que não, achei que foi bem no primeiro tempo, embora não brilhasse; mas, na segunda etapa, sumiu.

Com Muricy Ramalho, o time vai rapidamente assumindo uma cara de time. Pode não ganhar o título, mas é um dos favoritos.

"Máscara"
Para mim, que gosto de espetáculo, um destaque foi a cena com Neymar na descida para o vestiário, no fim do primeiro tempo. O repórter perguntou ao camisa 11 o que era aquele gesto dos óculos (feito com os dedos) na comemoração do primeiro gol. Neymar respondeu: “Não é óculos, é máscara!” Muito bom! Entendeu, professor Dorival?

Veja os gols de Santos 3 x 1 Deportivo Táchira:


Fluminense, histórico

O Fluminense fez um jogo histórico e conseguiu uma classificação épica (perdoem o clichê) ao vencer o Argentinos Juniors fora de casa por 4 a 2. Com o empate Nacional (URU) 0 x 0 América (MEX), o tricolor carioca ganhou a vaga dos uruguaios no saldo de gols.

A partida em Buenos Aires terminou em pancadaria. Os jogadores do time argentino, fora de si com a desclassificação, foram para a porrada. Bateram e apanharam, como nos velhos tempos. Mas a derrota maior, os 4 a 2, já estava na súmula. O clima em que terminou o jogo do Flu você pode conferir abaixo. O "pequeno" Conca, argentino que lutou e apanhou ao lado dos companheiros brasileiros, deve ser a partir de hoje um ídolo eterno do tricolor carioca, time do louco e genial Nelson Rodrigues.



Eu não sou daqueles ufanistas que sempre torcem pros times brasileiros na Libertadores, pelo contrário. Mas gostei da vitória do Flu. Os argentinos tiveram que enfiar a viola no saco. E, de mais a mais (como diria minha avó), um Santos x Fluminense é muito mais honesto, bem jogado, bonito e menos violento do que qualquer jogo com esses timinhos latinoamericanos, seja Táchira, seja Argentinos Juniors. Nas oitavas, o Santos pega o América do México fazendo o primeiro jogo na Vila Belmiro.

Veja os confrontos das oitavas-de-final da libertadores:

1. Cruzeiro x Once Caldas (COL)
2. Libertad (PAR) x Fluminense
3. Internacional x Peñarol (URU)
4. Junior Barranquilla (COL) x Jaguares (MEX)
5. Cerro Porteño (PAR) x Estudiantes (ARG)
6. Universidad Católica (CHI) x Grêmio
7. LDU (EQU) x Velez Sarsfield (ARG)
8. América (MEX) x Santos

*Atualizado às 02:52

terça-feira, 19 de abril de 2011

Os 70 anos de Roberto Carlos


Roberto Carlos nasceu em Cachoeiro de Itapemirim (ES) em 19 de abril de 1941. Na data de seus 70 anos, nesta terça-feira, fica aqui o registro sobre esse fenômeno da música brasileira que fez parte do cotidiano radiofônico de minha geração e que já chegou a 100 milhões de discos vendidos no mundo.

Cresci ouvindo o rádio que minha mãe, Leila, mantinha ligado durante toda a manhã nos dias de semana. Roberto era o grande ídolo dela, para quem a arte era essencial, mas não chegou a vivenciar como merecia (para uma mulher de sua geração, como Leila, nascida em 1931, gostar do “Rei” era normal, mas não de Caetano Veloso. Mas ela gostava).

Gosto do RC dos primeiros tempos. Com letra fortemente poética, “As Curvas da Estrada de Santos”, de 1969, é uma das mais emblemáticas e bonitas do repertório inicial, quando as canções refletiam uma personalidade como que situada entre Beatles e um James Dean mais comportado.

Por isso vai abaixo a canção como registro e singela homenagem.


As Curvas da Estrada de Santos (Letra)
(Roberto Carlos/Erasmo Carlos)


Se você pretende
Saber quem eu sou
Eu posso lhe dizer
Entre no meu carro
Na estrada de Santos
E você vai me conhecer.
Você vai pensar que eu
Não gosto nem mesmo de mim
E que na minha idade
Só a velocidade
Anda junto a mim

Só ando sozinho
E no meu caminho
O tempo é cada vez menor
Preciso de ajuda
Por favor me acuda
Eu vivo muito só

Se acaso numa curva
Eu me lembro do meu mundo,
Eu piso mais fundo,
Corrijo num segundo,
Não posso parar

Eu prefiro as curvas
Da estrada de Santos
Onde eu tento esquecer
Um amor que eu tive
E vi pelo espelho
Na distância se perder.
Mas se o amor que eu perdi
Eu novamente encontrar
As curvas se acabam
E na estrada de Santos
Não vou mais passar
Não! Não vou mais passar

Fiel recorre a outros santos por demandas que São Jorge não está resolvendo

Hoje a rádio CBN foi “cenário” de debates religiosos, refletindo uma certa ansiedade da Fiel torcida por ações concretas de esferas superiores para resolver algumas demandas urgentes. Aproveitando que esta terça, 19, é dia de Santo Expedito, a apresentadora Fabíola Cidral, do programa "CBN São Paulo", que sempre trata com bom humor as questões futebolísticas, não perdeu o gancho (Cidral substituiu Milton Jung no programa e Milton, por sua vez, ficou no lugar de Heródoto Barbeiro – que saiu da rádio – no matutino "Jornal da CBN". Leia aqui).

Pelo visto, S. Jorge
meio desprestigiado
Fabíola Cidral (santista) perguntou ao repórter Juliano Dip, que estava na capela de Santo Expedito (zona norte), se a jornalista Cátia Toffoletto, da equipe CBN, já tinha aparecido por lá, para orar por um título corintiano da Libertadores. “Nesse caso é melhor pedir para São Judas Tadeu, o santo das causas impossíveis”, respondeu o repórter Dip.

Entrando na brincadeira, a corintiana Toffoletto informou que pediu pra Santo Expedito que saísse o estádio do Corinthians e também para que o Timão conquistasse pelo menos um título, o paulista, por ser urgente (o último título alvinegro, a Copa do Brasil de 2009, já tem quase dois anos). Cátia revelou ainda que a libertadores ela pediu para São Judas. Claro, sem menosprezar o grande São Jorge, ressalvou. O que ficou claro é que o pedido mais transcendental, a Libertadores, foi dirigido diretamente a São Judas.

Fiel recorre a Santo Expedito e São Judas

No mundo dos mortais
Aqui no mundo dos pobres mortais, porém, o estádio do Timão ainda só existe no plano das idéias, embora Cátia Toffoletto tenha dito, sobre o pedido a Santo Expedito pelo estádio: "e não é que fui atendida?". Calma, Cátia, ainda não. Ontem, segunda-feira, 18, informou-se que as obras do Fielzão devem começar apenas em maio. É que a situação do terreno em Itaquera ainda não foi regularizada. De adiamento em adiamento, já estamos quase no meio de 2011.

O empréstimo dos R$ 400 milhões do BNDES também está enrolado. "O empréstimo deve ser liberado em partes, e não de uma vez só", disse André Luiz de Oliveira, diretor-administrativo do Corinthians.

Voltando aos céus, uma questão importante: São Jorge, o padroeiro do Corinthians, não poderia se zangar ao ser relegado a causas secundárias? Esse conflito não incidiria em conflito de competências? Que terríveis conseqüências para os planos da Fiel traria São Jorge, o Santo Guerreiro, enraivecido?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O gênero "favela movie" está esgotado? Tomara, pelo bem do cinema brasileiro

O diretor André Klotzel (A Marvada Carne, Memórias Póstumas) afirmou o seguinte em entrevista ao jornal Visão Oeste, sobre o cinema rotulado de “favela movie”: “Acho que o gênero se esgotou, pode ser que consiga se renovar. Não tenho interesse em fazer”.

A favela como cenário e tema de filmes de violência explícita realmente já deu o que tinha que dar, se é que acrescentou algo à história do cinema brasileiro mais importante. Eu, particularmente, acho que esse “gênero” catalogado a partir do sucesso de Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002) não só não acrescentou nada como foi prejudicial. Já cansei de ouvir amigos reclamarem dessa cansativa insistência na estética da violência importada do cinema hollywoodiano. Insistência movida a lucro, diga-se.

Cidade de Deus: a estética da violência
Há um ano, falando de seu filme A Alegria (realizado com Marina Méliande), por ocasião de seu lançamento na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, o diretor Felipe Bragança comentou em entrevista ao Uol: “Estou muito curioso para saber qual será a reação do público francês, porque é um filme que não fala de favela, violência, tráfico, que são assuntos comumente associados ao cinema brasileiro pelo público estrangeiro. Acho que vão se surpreender”.

Além de serem apelativos, violentos e visarem o lucro na esteira do fenômeno Cidade de Deus com estética do cinema norte-americano mais pobre, esses filmes, entre os quais Carandiru (Hector Babenco, 2003), Tropa de Elite (José Padilha, 2007) e Show de Bola (Alexander Pickl, 2008) criam uma imagem estereotipada não só das favelas, como se ali só existisse a violência, o tráfico e a morte, como também do cinema brasileiro, como notou educadamente o diretor Felipe Bragança na citação acima.

Sabatella e Santoro em
Não por Acaso: ótimo cinema

Se a violência é uma das matérias primas do cinema, isso não quer dizer que essas produções reducionistas e mercadológicas chamadas “favela movie” sejam positivas ao cinema nacional, que é mais do que capaz de realizações fortes, bons ou ótimos filmes, sem apelar para tiros e sangue jorrando. Não por Acaso (Philippe Barcinski – 2007) e Viajo porque Preciso, volto porque te Amo (Marcelo Gomes e Karim Aïnouz), que já resenhei aqui, entre tantos outros, são dois exemplos de como o cinema nacional pode ir longe sem os clichês da violência e tinta vermelha nas favelas.

E não se trata aqui de fazer um libelo contra a violência no cinema. Longe disso. Eu mesmo sou um amante do bom western, pelos motivos que já disse no blog ao escrever sobre Sérgio Leone, e de filmes magistrais em que a violência é tema, como Pulp Fiction, O Poderoso Chefão etc. Trata-se apenas de dizer que, se a moda “favela movie”, limitadora e movida a dólares, além de esteticamente ruim, está esgotada, já vai tarde. Como escreveu Yana Kaufmann no Observatório da Imprensa em 12/4/2011, "Esperamos assistir em breve a evolução do cinema nacional, feita de liberdade, possibilidades e novos universos temáticos".

sábado, 16 de abril de 2011

“Flores Partidas” e “Estranhos no Paraíso”, de Jim Jarmusch: o tédio como poesia no cinema


Bill Murray como Don Johnston
em Flores Partidas

O primeiro filme do diretor norte-americano Jim Jarmusch ao qual assisti, há muitos anos, foi Estranhos no Paraíso (Stranger than Paradise, no original - 1984). Nele, um novaiorquino enfastiado, interpretado com naturalidade exemplar pelo músico John Lurie (que, no fundo, faz o papel de si mesmo), recebe uma prima, Eva, que vem da Hungria e se hospeda em seu apartamento. A chegada da moça a Nova York é uma das mais inspiradas sequências do cinema de Jarmusch: com suas malas e um ar fleumático, ela caminha pela cidade. Como faz Luis Buñuel em Paris com Catherine Deneuve em A Bela da Tarde (Belle de Jour - 1967), o caminhar de Eva é o pretexto do diretor para filmar Nova York no que ela tem de mais inóspito e, paradoxalmente, acolhedor, na belíssima sequência que parece ter sido filmada no Brooklyn, um contraponto evidente a visões mais chiques da megalópole, como a de Woody Allen, cujo olhar se volta para o lado de Manhattan.

O não-acontecer, o tédio do trio de vagabundos formado por Willie (John Lurie), Eva (Eszter Balint) e Eddie (Richard Edson) e sua vagabundagem inconseqüente e inofensiva, a poesia e a força da música blues/rock’n’roll que pontua a atmosfera, o preto e branco do filme reforçando a impressão do tédio que a tudo domina, mas nem por isso deixa de ter humor, isso é Stranger than Paradise.

Flores Partidas

Embora muito menos inspirado do que Estranhos no Paraíso, o penúltimo filme de Jarmusch, Flores Partidas (Broken Flowers, de 2005), é dominado por esse clima non sense. Mas por que esse non sense de Jarmusch, cuja matéria prima é o tédio, encanta? Porque seus filmes revelam o absurdo e a banalidade que perpassam nosso cotidiano. Um cotidiano sem culpa.

Em Flores Partidas, o cinqüentão Don Johnston (interpretado por Bill Murray) é abandonado pela namorada e em seguida recebe uma carta anônima informando-lhe que tem um filho de 19 anos, que ele nem imagina ter. Ele recebe aquela notícia com aparente indiferença e vai à casa do vizinho e amigo Winston (Jeffrey Wright), cujo hobby é estudar e “resolver” casos policiais.

O amigo o convence a fazer uma viagem de carro pelos Estados Unidos para visitar suas ex-namoradas e tentar descobrir se alguma delas é a mãe do filho perdido. O ar tedioso e absurdamente fleumático de Don tem tudo para se dissipar, agora que o filme se transforma num road movie, mas nada muda. Nem o encontro com as ex-mulheres, entre as quais Sharon Stone no papel de Laura, com a qual ele vai para a cama, é capaz de colorir um pouco o ar blasé, o tédio invencível do protagonista, que de tão persistente vira humor. Os acontecimentos na vida desse personagem estranho se sucedem, e nada o entusiasma nem decepciona.

O filme termina como começa. O encontro casual (em Jarmusch, o acaso é sempre presente) de Don com um rapaz chegando à cidade, que pode ou não ser seu filho perdido (loucura ou realidade?), é impagável.

Por tudo isso, vale a pena alugar ou comprar Flores Partidas, se você não é um psicodependente de filmes de suspense, tiros, morte e sexo.

Jarmusch é uma típica criatura do Brooklyn, e não por acaso seus filmes são habitados por esses loucos e criativos habitantes do bairro, como o próprio John Lurie e Tom Waits. O escritor Paul Auster e o ator Harvey Keitel são outros dos amigos de Jarmusch com quem ele divide ideias e estéticas e obras.

Jim Jarmusch é também diretor de outros filmes importantes, como Daunbailó (1986), Uma Noite sobre a Terra (1991) e Ghost Dog (1999). Mas sua obra prima é Dead Man (1995), com um elenco inusitado e interessante formado por Johnny Depp, Robert Mitchum (já velho), Iggy Pop e John Hurt. Mas este filme merecerá um post à parte.

Atualizado à 00:01

Sinopses:

Estranhos no Paraíso (Stranger than Paradise)
Lançamento: 1984 (Alemanha, EUA)
Direção: Jim Jarmusch
Elenco: John Lurie, Eszter Balint, Richard Edson

Flores Partidas (Broken Flowers)
Lançamento: 2005 (França, EUA)
Direção: Jim Jarmusch
Elenco: Bill Murray, Jeffrey Wright, Sharon Stone, Jessica Lange
Duração: 105 min

Abaixo, os trailers de Estranhos no Paraíso e Flores Partidas

De Estranhos no Paraíso, por incrível que pareça, só achei um link com a sequência de Eva (Eszter Balint) chegando à cidade legendado em japonês.



Flores Partidas:

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Aos 99 anos, Santos bate Cerro no Paraguai e ressurge na Libertadores

Depois de uma semana angustiante, de problemas com o meia Paulo Henrique Ganso e a iminente ameaça de cair da Libertadores na primeira fase, neste dia 14, data de seus 99 anos, o Santos ressurgiu ao bater o Cerro Porteño no Paraguai, por 2 a 1. Agora, o Alvinegro tem oito pontos e só precisa vencer o já eliminado Táchira na Vila Belmiro, na próxima quarta-feira, 20, às 19h30. O Colo Colo, líder, com nove, recebe o Cerro (oito pontos) em Santiago no mesmo dia e horário do jogo do Peixe.

Os gols santistas foram do prata da casa Danilo, aos 11 do primeiro tempo, e Maikon Leite, aos 2 do segundo. Benítez descontou nos acréscimos, aos 47 minutos, e a torcida viveu ainda dois minutos de sofrimento antes do apito final. Pelo pouco que vi do jogo, pois estava fechando o jornal e só assisti uns 20 minutos do segundo tempo, Ganso jogou bem. Deu um bote, roubou a bola e passou para Maikon Leite matar o goleirão no 2 a 0.

Foi a primeira vitória do técnico Muricy Ramalho no comando. Parabéns a todos os santistas, pelos 99 anos e pelo belo triunfo, com os desfalques de Neymar, Elano e Zé Eduardo.

Atualizado à 01:12

*No ano passado, o Santos comemorou seus 98 anos também vencendo. E de maneira histórica: 8 a 1 no Guarani, no jogo de ida pelas oitavas-de-final da Copa do Brasil. Confira os gols desse jogo e um pouco da história do clube: Santos: 98 anos – orgulho que nem todos podem ter. 

Veja os gols contra o Cerro Porteño pela Libertadores ontem, que o time deu de presente à torcida:

*Atualizado às 17:38

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Punição por homofobia contra Michael, do vôlei, é para inglês ver


Michael (dir.) foi xingado em Contagem

Foi noticiado hoje na imprensa que, “pela primeira vez na história do país, a Justiça Desportiva impôs uma condenação por ‘ato de homofobia’” (conforme o Estadão), referindo-se à decisão da Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) impondo multa de R$ 50 mil ao Sada/Cruzeiro.

Em 2 de abril, em Contagem (MG), a torcida da equipe mineira manifestou-se em peso com ofensas homofóbicas contra o atleta Michael, do Vôlei Futuro, em partida pela semifinal da Superliga Masculina de Vôlei. Depois do episódio, o jogador disse ser gay.

A tal punição imposta ao time mineiro é para inglês ver.

Acontece que, em esportes de alto rendimento (ou seja, dinheiro) hoje em dia, punir com R$ 50 mil um time de grande investimento e nada é a mesma coisa. O que pega, de fato, é punição esportiva, perda de pontos, de mando de campo. O Vôlei Futuro, time de Michael, protestou e disse que a denúncia que fizera citava um artigo do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) que determina a perda dos pontos do jogo ao infrator. Segundo o time de São Paulo, o procurador que cuidou do caso “alterou o parágrafo incidido, que previa apenas multa”.

O Vôlei Futuro protestou ainda pelo fato de o tribunal ter marcado a terceira partida do playoff semifinal para esta sexta-feira (às 20h30, em Contagem), no mesmo local das agressões. "A responsabilidade de tudo que acontecer, antes, durante e depois da partida será deles (STJD)”, disse a equipe paulista em nota.

Com toda razão.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ganso no Corinthians não interessa a ninguém, só às aves de rapina


Foto: Ricardo Saibun/SFC
Uma possível (para mim, hoje, improvável) ida do meia Paulo Henrique Ganso para o Corinthians não seria a primeira vez que um jogador muda de agremiação e ruma para um grande rival. Outro craque e também meia esquerda, Pita, trocou o Santos pelo São Paulo nos anos 80. Mas, depois de ficar quase sete anos na Vila Belmiro. Há casos mais célebres (abaixo, alguns de que me lembro).

O que incomoda na questão Ganso é a maneira como as coisas se desenrolam, o puro mercantilismo da situação, na qual o caráter das pessoas fica em dúvida. O racha entre Santos e o grupo DIS, ligado ao supermercado Sonda, seria a origem de tudo. A disputa teria começado devido a valores referentes às negociações de Wesley e André. O grupo DIS tem 45% dos direitos de Ganso, o Santos 45% e o atleta, 10%.

Herança
Quem é o responsável pelos direitos de Ganso estarem assim “fatiados”? O ex-presidente Marcelo Teixeira foi quem loteou esses direitos. A renovação do contrato do meia, no início de 2010, não mudou os percentuais. O documento prevê o valor da multa rescisória em 45 milhões de euros para um clube estrangeiro, mas cai para R$ 54 milhões se o “comprador” for um clube nacional.

No meio disso tudo, um garoto de 21 anos que todos exigem ter comportamento de homem maduro capaz de resolver altos negócios. A estratégia da DIS e dos representantes do jogador parece ser dar motivos para que a torcida o considere “mercenário”. Assim, estaria mais do que justificada sua saída do clube. Segundo disse o meia Elano na semana passada, o jogador está “mal assessorado” e “dividido” entre “não querer magoar o Santos e não se indispor” com seus assessores.

Ruim para todos
Por fim, embora qualquer jogador tenha direito de trabalhar onde quiser, nesse caso específico seria muito ruim para todos se o desfecho fosse a ida de Ganso para o Corinthians, menos para seus empresários e os que só o lucro satisfaz. Ruim para o atleta, que aos 21 anos ficaria marcado como um profissional antiético e “mercenário” (e quem, nessas circunstâncias, diria que não?); para o Santos, clube que nele investiu e apostou, e vê toda a celeuma envolvê-lo em semana decisiva pela Libertadores; e o Corinthians, que ficaria manchado como um clube de aluguel e presidido por um homem sem palavra.

Por tudo isso, não acredito que o desfecho seja esse. Que vá então para o Milan, se é isso que quer, mas não suje sua imagem.

Veja alguns exemplos de atletas que se mudaram para rivais:

Toninho Guerreiro (centroavante)
Do Santos: 1962 a 1969 para o São Paulo (1969 a 1973)

Pita (meia)
Do Santos (1977-1984) ao São Paulo (1984-1988)

Serginho Chulapa (centroavante)
Do São Paulo (1973-1982) ao Santos (1983-1985)

Cafu (lateral)
Saiu do São Paulo (1989-1994), foi para o Real Zaragoza, onde atuou pouco tempo, voltou ao Brasil em 1995 para o Juventude (então patrocinado pela Parmalat) alguns meses, e daí para o Palmeiras (sob patrocínio da mesma empresa).

Fábio Costa (goleiro)
Santos (2000–2003), Corinthians (2004–2005) e Santos (2006–2010)


Gilmar do Santos Neves (goleiro)
Jogou no Corinthians (1951 a 1961), de onde saiu para o Santos (1961 a 1969).

terça-feira, 12 de abril de 2011

PSDB de Alckmin tenta neutralizar "cinturão vermelho" na Grande São Paulo


Foto: Cris Castello Branco 

Por Fernando Augusto
Do Visão Oeste

A busca pelos seis milhões de eleitores das cidades da Região Metropolitana de São Paulo na eleição para prefeitos e vereadores de 2012 já começou. E o governador Geraldo Alckmin (PSDB) joga pesado para tentar reverter a vantagem petista nesses municípios, onde foi formado o que se chama de “cinturão vermelho”.

O partido nascido em São Bernardo do Campo administra treze cidades da Grande São Paulo, incluindo as de maior número de eleitores depois da capital e potências econômicas: Guarulhos e Osasco. Estima-se que 57% do eleitorado da Região Metropolitana está em prefeituras petistas, o que explica a vitória de Dilma Rousseff em 28 dos 39 municípios ano passado.

Alckmin criou em janeiro a Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano e deu ao secretário Edson Aparecido a missão de articular projetos com os prefeitos. No dia 30 de março o governador continuou sua estratégia ao lançar a Câmara de Desenvolvimento Metropolitano, colegiado composto por 11 secretarias e presidido pelo próprio Alckmin que tem o objetivo de estabelecer políticas para as cidades vizinhas à capital.

Além disso, nos próximos dias será votado na Assembleia Legislativa projeto de lei que formaliza a Região Metropolitana com 39 municípios e cria um fundo para financiamento de projetos.

Geraldo Alckmin também tem aumentado a presença na região Oeste da Grande São Paulo. Em Carapicuíba esteve duas vezes nos últimos 15 dias. Inaugurou reforma e modernização da estação da CPTM dia 24 e anunciou na segunda-feira, 4, investimento de R$ 21,1 milhões para ampliação da Fatec e obras viárias na cidade.

O prefeito petista Sergio Ribeiro tem comparecido aos palanques e foi ao lançamento da Câmara de Desenvolvimento. Seu possível adversário na eleição do ano que vem, o deputado estadual Marcos Neves (PSC), aliado de Alckmin, também.

PT já se movimenta

A bancada petista na Assembleia Legislativa já reage ao interesse do governador pela Região Metropolitana. Na quarta-feira, 6, em reunião com os deputados estaduais e prefeitos como Emidio de Souza (Osasco) e Sergio Ribeiro, o partido discutiu como vai se posicionar. O PT, que tem a maior bancada na Casa, com 24 parlamentares, deve lançar um projeto substitutivo ao que será votado.

Sobre decisões referentes a políticas públicas para a Região Metropolitana, o deputado estadual osasquense Marcos Martins diz que deve haver mais diálogo com os municípios. “Se for só para ter o nome [Região Metropolitana] e não houver melhorias, não há necessidade”, diz.

Publicado originalmente no jornal Visão Oeste em 08/04/2011, sob o título "Partidos se mobilizam"

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Domingo difícil para comentar futebol: você não sabe se dorme ou se vê o jogo

No “minuto de silêncio” pelas vítimas da chacina na escola em Realengo, no Rio, foi constrangedor a bateria da torcida (realmente não sei se do São Paulo ou do Noroeste) insistir em fazer barulho enquanto os jogadores dos dois times faziam uma roda para homenagear os mortos. O Luciano do Valle chamou a atenção para essa grosseria tosca.

Sobre futebol propriamente dito, um domingo difícil para comentar.

O campeonato paulista está numa fase que você não sabe se dorme ou se vê o jogo. Eu sempre defendi os estaduais, mas com 23 datas (19 na fase de classificação mais quatro nos mata-matas) é insustentável. Com a nova fórmula mediocrizante em 2011 de se classificarem oito times (e não quatro, como nos anos anteriores) para as fases finais, a Federação Paulista de Futebol conseguiu afastar até pessoas que defendem o estadual.

Os times grandes paulistas expõem a integridade de jogadores como Neymar e Lucas (para citar os dois melhores) em 19 rodadas que, na prática, não valem nada. Os clássicos são o único atrativo, agora que o sistema de disputa é feito para que Santos, Corinthians, Palmeiras e São Paulo se classifiquem. São Caetano (8°, 26 pontos), Paulista (9°) e Portuguesa (10°), ambos com 25, disputam a última vaga no G-8. As outras sete equipes já estão definidas, até esta penúltima rodada, nessa ordem: Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos, Oeste, Mirassol e Ponte Preta. Torço para que a 8ª vaga seja da Lusa, que conseguiu importante vitória contra o Paulista em Jundiaí no sábado por 1 a 0, desde que, havendo um duelo com o Santos, o xerife Domingos não esteja em campo.

Uma palavra sobre cada um dos grandes:


Muricy e Neymar na estreia/ Foto: Divulgação SFC

Da estréia de Muricy Ramalho pelo Santos não se poderia esperar muito, tanto pelo contexto acima quanto pela situação do time hoje, que luta na quinta-feira, 14, contra o Cerro Porteño pela permanência na Libertadores, tendo que vencer lá no Paraguai. O 0 a 0 fora de casa com o Americana (esse time de aluguel que era Guaratinguetá e se mudou de endereço e de nome) não muda nada na programação do Peixe, que jogou com time misto. Começou no 4-3-3 variando para o 4-4-2 no segundo tempo. Não ver o volante Adriano em campo já foi significativo. Vai ser mais difícil com Muricy o Santos continuar tomando gols absurdos em contra-ataques mesmo vencendo o jogo, como aconteceu nos dois jogos com o Colo Colo, principalmente o da Vila.

O Palmeiras segue em vôo de cruzeiro no Paulistão. Com a vitória tranqüila sobre o Grêmio Prudente, sábado, por 2 a 0, lidera o campeonato. Resta saber se o time vai corresponder ao que espera a torcida palestrina, que não agüenta mais, nos últimos anos, ver o time perder na hora em que de fato a onça bebe água. Na quarta-feira, o time de Felipão pega o Santo André pela Copa do Brasil.


Adriano: marketing arriscado/ Foto: Reprodução
 O Corinthians só tem o Paulistão no semestre. Perdeu do São Caetano de 2 a 1 neste domingo e luta com o Santos pela 3ª ou 4 ª vaga na última rodada do Paulistão. O que não significa nada. Ficar em 1° ou 4° dá na mesma. O azar vai ser do time grande grande do G-4que pegar a Ponte Preta nas quartas, porque vai ter que jogar um pouco mais. No Timão, a notícia do dia, além da derrota para o Azulão, foi a apresentação de Adriano, que tem tudo para emplacar a alcunha Gordo 2. Acho que esse casamento Gordo 2 e Corinthians não vai dar em nada.

E o São Paulo também segue em vôo de cruzeiro, no Paulistão (mas passou pelo Santa Cruz no sufoco, pela Copa do Brasil), o que a fácil vitória sobre o Noroeste em Bauru, por 3 a 1, confirma. No dia 20, o Tricolor enfrenta o Goiás no Serra Dourada pela CB, o torneio que Rogério Ceni um dia disse que não se imaginava jogando, mas está jogando, e dando duro, pra ver se encurta o caminho à Libertadores.

Atualizado às 21:54

sábado, 9 de abril de 2011

Onde a luz no fim do túnel?

Por Paulo Maretti

Dois fatos policiais relevantes e paradoxais marcaram a semana. No primeiro, uma mulher denuncia à polícia uma execução sumária, pela própria polícia, no cemitério das Palmeiras em São Paulo. No outro, as crianças mortas por um psicótico. Nada a dizer muito além do texto do Flavio Gomes, que já basta.

Mas quando li e ouvi o diálogo desafiador da mulher com um dos policiais acusados no cemitério, senti assim como uma luz no fim do túnel: "Alguém neste mundo ainda se indigna e se levanta pelo bem-estar do outro, por algo óbvio, pelos direitos humanos, tem sensibilidade, põe até sua própria vida em jogo. Então, nem tudo está perdido".

Dois ou três dias depois, um outro crime, a barbárie, e a luz do fim do túnel apagou-se de novo.

(Texto enviado como comentário ao post Realengo: pensamento para sexta-feira)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Em prova de história, governo de MG inclui questão que vincula Lula a corrupção

A Secretaria de Educação do governo de Minas Gerais, do tucano Antonio Anastasia, sucessor de Aécio Neves, aplicou em fevereiro uma prova do Programa de Avaliação de Aprendizagem Escolar 2011 a alunos do ensino médio com uma questão vinculando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao “mensalão”.

Uma das questões do exame, de história, trazia uma charge adulterada do cartunista Jean, publicada na Folha de S. Paulo em 2007. O enunciado da questão 17 (código 326580) era o seguinte: “Ao se referir à distribuição de boletins em porta de fábrica, essa charge:” A resposta considerada certa, alternativa D, segundo a própria secretaria, era: “sugere, ironicamente, uma relação entre os movimentos sindicais do início da década de 1980 e o ‘mensalão’, refletindo sobre o processo histórico que levou os mesmos personagens de uma luta pela valorização do trabalhador à corrupção política".

A charge original publicada na Folha foi intitulada “CPMF" e nela Lula distribui "favores" e "cargos" a políticos. Na prova, o título é "Operação Abafa", e Lula dá dinheiro mesmo.

“Se o aluno não tiver a visão do governo do Estado, vai ser mal avaliado", protestou o deputado estadual Rogério Correia (PT). Depois da aberração ter repercutido em todo o país entre ontem e hoje, a Secretaria de Educação reconheceu o erro.

Os tucanos acusam os governos petistas de aparelhar o estado. Como caracterizar então tal prática? A gente aqui em São Paulo sabe do nível rasteiro da educação nas escolas estaduais, de onde as crianças e jovens saem mal sabendo ler e escrever. Pelo visto, em Minas é pior.  

Realengo: pensamento para sexta-feira

Sou um jornalista que fecha o jornal às quintas-feiras. Não só, mas também por isso, às sextas, quando tem a ver, eu publico um pensamento para sexta-feira.

Portanto, tive de encarar os fatos do Realengo como jornalista, o que é uma merda, porque você tem de editar as coisas, ver o que não quer, ler o que machuca, ouvir o que perturba. Antes, de manhã, na padaria onde tomei café, só se falava nisso. “É a globalização”, comentou um cara ao meu lado diante das imagens da TV, como se falasse do resultado de uma partida de futebol da noite anterior. Parece que a banalização da violência tornou as pessoas insensíveis.

E só depois do fechamento do jornal, muitas horas depois, é que li o texto do Flavio Gomes, que me emocionou, e por isso vai abaixo, como pensamento para sexta-feira.

O Pai do Homem - Flavio Gomes

São Paulo - Então...

Depois de ler o que pude, ouvir o rádio e ver a TV, peguei meu carro, era dia de folga, jornalista folga de quinta-feira, fui até a oficina, vi os dois Weber que colocaram no Meianov, ligamos o carro, o motor ficou com um ronco legal, depois descemos lá onde eles fazem funilaria e pintura, a peruinha já está toda raspada, sem motor, descobrimos a cor original. Descobrir a cor original de um carro de 55 anos é algo emocionante para quem gosta deles, dos carros. Foi arrancar o forro do teto e lá estava o azul, Azul Firenze, segundo o amigo das cores, intocada a pintura, uma coisa bacana, ajuda muito na restauração, mesmo que o Azul Firenze não seja lindo, eu tinha a ideia de fazer creme e vinho, ou branco Lotus e azul-marinho. Mas ela era azul, ora bolas, e se nasceu assim, que continue assim. Acho que será azul, e também encontrei o número do chassi, é umas das únicas 173 fabricadas em 1956, creio que o mais correto seja mesmo fazê-la como era quando saiu da fábrica e tal.

Depois fui ao centro da cidade, com um trânsito curiosamente bom, atrás de um emblema e de umas calotas, o trânsito curiosamente bom.

As irrelevâncias nos movem. Tudo que fiz hoje foi irrelevante, ver uns carburadores, descobrir uma cor, procurar uns emblemas e umas calotas. Foi tudo que consegui fazer. Mergulhar na irrelevância e na indiferença.

O rapaz que entrou na escola atirando não se encaixa em nenhum perfil que permita esbravejar. Até onde se sabe, não era traficante, ladrão, fugitivo. Não era militante de nenhum partido, não lutava jiu-jítsu, não era um skinhead, não pertencia a nenhuma torcida organizada. Até onde se sabe, não usava drogas, não bebia, não era pedófilo, não era evangélico, não era muçulmano, não era judeu, não era cristão, não era xiita, não era sunita, não tirava racha na rua, não tinha suásticas tatuadas na pele, não pertencia a nenhuma seita, não era gótico, não era punk, não ouvia Bossa Nova, não usava piercing, não era rico, não era pobre, não era gordo, não era magro, não estava em liberdade condicional, não tinha passagem pela polícia, não vivia no Complexo do Alemão, não era do Jardim Ângela, não morava numa cobertura da Vieira Souto, não era nada. Segundo sua irmã, ele era estranho.

Estranho.

Seu nome era Wellington de Oliveira, um nome bem brasileiro, há milhares de Wellingtons, Washingtons, Andersons. O Brasil tem um estranho fascínio por W e por nomes que terminam em “on”. Wanderson, Jackson, Jobson, Richarlyson. Ele era um Wellington de Oliveira.

Quando não se pode culpar traficantes, fugitivos, ladrões, militantes, lutadores, skinheads, nazistas, torcedores organizados, drogados, cristãos, bêbados, pedófilos, muçulmanos, góticos, magros, evangélicos, rachadores, punks, gordos, xiitas, ricos, pobres, nem o prefeito, nem o governador, nem a presidenta, nem o ministro, nem o secretário, nem a polícia, nem o senador, nem o deputado, nem a diretora da escola, nem o médico, nem o professor, culpamos quem?

Culpamos quem?

Quando não podemos culpar ninguém, chegou a hora de assumir o que somos. Uma espécie fracassada, violenta, agressiva, condenada à extinção. Uma espécie habituada à barbárie, e que não se imagine que “nos transformamos em”. Sempre fomos assim, indecentes, obscenos, há séculos nos matando em guerras, inquisições, pogroms, chacinas, massacres, genocídios, atropelamentos, assassinatos, latrocínios, torturas, execuções. E pragas, pestes, terremotos, incêndios, tsunamis, deslizamentos, enchentes. Um moto-contínuo de mortes, mortes, mortes, e vinganças, vinganças, vinganças, ódio.

A criança é o pai do homem. Guardo um pequeno cartão com essa frase no meu carro, há anos está lá, era o convite da formatura do meu mais velho no pré-primário. Não o guardo como mantra ou guia espiritual. Está lá porque está lá, porque o carro que nos levou à formatura do pré ainda está comigo, e lá ficaram o cartão e a frase. De vez em quando uso o cartão, de papel de alta gramatura, cartolina, talvez, porque quando o vidro sobe levanta uma rebarba da forração da porta, e o cartão serve para colocar a forração no lugar. É um uso banal, irrelevante, coloco o cartão entre o vidro e a forração da porta, e tudo fica no lugar, tudo volta ao seu lugar. Um uso banal e irrelevante, mas que me faz ler essa frase todos os dias, ou, pelo menos, quando preciso colocar a forração da porta no lugar.

A criança é o pai do homem.

Wellington ajudou a nos matar mais um pouco hoje. É um erro, Wellington, matar-nos aos poucos. Da próxima vez, Wellington, mate-nos a nós, direto, sem intermediários.

Mate o homem, Wellington, não seus pais
.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Santos vence Colo Colo por 3 a 2, mas situação na tabela não é fácil


Brincadeira é crime para
os defensores da lei e da ordem
 Quando Neymar fez 3 a 0 contra o Colo Colo, um “gol de Pelé” aos 6 minutos do segundo tempo, a torcida do Santos não podia imaginar que o show viraria um drama, com a expulsão de Neymar, Zé Love e Elano e dois gols do Colo Colo (aos 36 e 41 minutos do segundo tempo) que levaram a partida a um inesperado 3 a 2. A vitória dramática manteve o Peixe vivo na Libertadores. Mas a situação está difícil.

Neymar foi expulso por colocar uma máscara dele mesmo para comemorar o golaço. Um gesto que na hora não houve quem não achasse bacana. Já tinha cartão amarelo, tomou o segundo, que virou vermelho. Justo, segundo o defensor da lei e da ordem Maurício Noriega, do Sportv, que mostrou um livrinho com as regras do futebol para concluir que o juiz agiu corretamente, pois Neymar deveria pelo menos conhecer a regra, como Noriega, O Grande, conhece.

Jornalismo inútil
Sinceramente, punir a alegria me parece escroto. Cartão vermelho para Maurício Noriega, péssimo como sempre. Não que eu defenda a indisciplina, a anarquia e o descumprimento das leis. Mas estamos falando de futebol, de gol, de alegria. Um atacante pode levar pancadas durante 90 minutos, mas merece ser expulso por comemorar um gol numa brincadeira que não trouxe nenhuma conseqüência a não ser fazer as pessoas rirem. Um jornalista que nesse contexto concorda em punir a alegria e não questiona “a lei e a ordem”, como Noriega, não serve para nada a não ser semear o conformismo.

Imaturidade
Tirando a alegria punida de Neymar, de modo geral o Santos demonstrou nervosismo, imaturidade e falta de comando, conjugação que na Libertadores costuma ser fatal. A postura do time por pouco não resultou na virtual eliminação nesta quarta-feira mesmo. A expulsão de Zé Love foi justa. Léo poderia ter sido expulso por um carrinho que deu. O time poderia ter vencido de goleada, mas, sem equilíbrio tático e emocional, literalmente sem técnico, porque Martelotte não é técnico, entrou na catimba dos chilenos.

Veja os gols de Santos 3 x 2 Colo Colo.



Mas, digam, o que quiserem, o árbitro uruguaio Sergio Pezzotta operou o time da Vila, na Vila. O matreiro técnico argentino do Colo Colo Américo Gallego fez e aconteceu na beira do gramado, catimbou, foi advertido algumas vezes. De repente, o juiz vai até o banco de reservas do Santos e dá cartão vermelho para Elano, que já tinha sido substituído. A expulsão foi porque Elano jogou uma toalhinha no treinador adversário, que já era pra ter sido expulso. E... Maurício Noriega, o defensor da lei e da ordem, apóia o árbitro uruguaio.

Só resta vencer
Contra o Cerro Porteño, fora de casa, dia 14, quinta-feira, o Santos, desfalcado de Neymar, Zé Love e Elano, vai ser comandado por Muricy Ramalho. Um empate no Paraguai virtualmente eliminará o Alvinegro da Vila na primeira fase. Veja a classificação hoje, na tabela abaixo. Suponha que, na penúltima rodada, o Peixe empate com o Cerro em Assunção e o Colo Colo vença o Táchira (resultado mais do que provável). Assim, na última rodada, Colo Colo e Cerro, com 9 pontos, poderão fazer um jogo de compadres, pois um empate levaria os dois times a 10. O Santos, contra o Táchira, mesmo que fizer 20 a 0, só poderia chegar a 9.

O Santos depende de si próprio, mas não está nada fácil. Tem de vencer o Cerro fora de casa, dia 14, data em que completará 99 anos de existência.



Penúltima rodada

12/04/2011
22h30 - Colo-Colo x Deportivo Táchira
14/04/2011
18h15 - Cerro Porteño x Santos

Última rodada

20/04/2011

19h30 - Colo-Colo x Cerro Porteño
19h30 - Santos x Deportivo Táchira

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O primeiro discurso de Aécio Neves é de opositor civilizado e tucano até a alma

A mídia estava ansiosa pelo primeiro discurso de Aécio Neves (PSDB-MG) na tribuna do Senado nesta quarta-feira, tendo como mote os primeiros 100 dias do governo Dilma Rousseff. O Uol deu a chamada “Em estreia na tribuna do Senado, Aécio critica Dilma e pede ‘choque de realidade’”. Pergunto: que realidade?

O senador e ex-governador mineiro usou a velha ladainha, mais batida que bife de coxão-duro, de que as mudanças que proporcionaram o avanço do país devem muito às “mudanças estruturais do governo Fernando Henrique”. Como o quê? Como as privatizações, disse Aécio. Muito bem. A Vale ter sido entregue a preço de banana foi uma mudança estrutural, de fato. “Ao contrário do que alguns querem fazer crer, o país não nasceu ontem”, ensinou o parlamentar, repisando a ideia de que talvez o governo Lula nada teria sido se não fosse o Príncipe FHC, além de Itamar.

Aécio discursou usando a imagem que querem grudar nele a qualquer custo, a do opositor civilizado: “Estarei como homem do diálogo, como sempre fui, que não teme o enfrentamento e o debate nem as oportunidades de convergência”. Desajuste fiscal, risco de desindustrialização e a ameaça da inflação foram os temas usados por ele para ilustrar o fato de que o Brasil precisa de um “choque de realidade”.

Para um discurso tão aguardado, deve ter sido decepcionante, embora houvesse os que, para consumo público, tenham visto um grande estadista na tribuna.

Nos próximos três anos vai ser assim: um processo ininterrupto na (tentativa de) desconstrução da figura de Lula, de separação do ex-presidente da atual chefe de Estado Dilma (o que os editoriais dos jornalões já vêm fazendo). Por outro lado, será feito o esforço sistemático de se construir a figura de Aécio como o homem predestinado a reconduzir o Brasil ao seu destino.

Não tem como não reconhecer que Aécio é mais civilizado e menos truculento do que José Serra. O problema é saber o quanto dessa civilidade é apenas aparência.

Leia também sobre a importância do estado de MG em 2014.

Paul McCartney volta ao Brasil em maio e tocará no Engenhão

Para os inconformados que, como eu, perderam o show de Paul McCartney no ano passado no Morumbi, em São Paulo, a chance de se livrar da penitência e da culpa eterna está perto: o beatle fará dois shows no estádio do Engenhão, zona Norte do Rio de Janeiro*, no próximo mês de maio, dias 21 e 22 (sábado e domingo).

A Planmusic Entretenimento, produtora que trará a lenda ao país, deve divulgar os detalhes na manhã desta quinta-feira, provavelmente valor dos ingressos etc, assim como se o evento será mesmo realizado em duas datas.

Relembre pelo link abaixo alguns momentos marcantes do show do Morumbi, em novembro de 2010.

O show de Paul McCartney em São Paulo: post para um consolo impossível

PS: *Atualizado às 18:15

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Santos acerta contratação de Muricy Ramalho, diz colunista

Segundo o site do Estadão, o Santos fechou a contratação do técnico Muricy Ramalho. A informação, por estranho quer pareça, foi dada pela colunista Sonia Racy agora há pouco.

Eu não tenho muito o que comentar nesta nota, já que o que tinha a dizer está num post do dia 22 de março: "Hoje só Muricy pode dar um jeito no Santos". Continuo achando isso. Espero que a notícia se confirme.

Saudações santistas.

O aúdio com o furo de Sônia Racy está aqui.
(Atualizado às 16:09)

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Furo confirmado (05/04/2011).

E o furo da colunista Sonia Racy de ontem se confirmou. O próprio Muricy afirmou que está tudo certo. Enfim, o que mais o Santos precisa, comando, ele terá. O treinador diz que vai ao estádio amanhã, embora não vá treinar a equipe ainda. "À noite [desta terça-feira] será feito o anúncio e amanhã vou à Vila Belmiro ver o jogo, ao vestiário dar abraço nos jogadores".

Ele estreia no fim de semana, contra o Americana, no interior, pelo Campeonato Paulista.

domingo, 3 de abril de 2011

Palmeiras bate Santos na Vila à moda gaúcha

Com a vitória de 1 a 0 na Vila Belmiro neste domingo, o Palmeiras conseguiu completar seis jogos (dois anos em abril) sem perder do Santos. A vitória foi justa, mas com ressalvas.

A estratégia do Palmeiras foi começar o jogo intimidando na porrada, a conhecida estratégia gaúcha-Felipão de jogar futebol, com direito a três cotoveladas em Neymar em poucos minutos, uma das quais de Kleber; o zagueiro Danilo do Palmeiras defendeu com a mão, dentro da área, uma bola chutada pelo Danilo santista e o árbitro considerou normal. Para o juiz, não houve “intenção”, como diria Arnaldo César Coelho. É como eu sempre digo: não existe mais pênalti com a mão. Virou um festival de cortadas de vôlei dentro da área e nunca há “intenção”. Antigamente a gente dizia “bola na mão” ou “mão na bola”. Hoje se diz “intenção”, e nunca há intenção.

Mesmo com tudo isso, o Santos foi melhor no primeiro tempo e merecia ter ido ao intervalo com vantagem no marcador.

No segundo tempo, Paulo Henrique Ganso continuou não aparecendo no jogo (mal ouvi seu nome durante os 90 minutos). Ganso foi Zero. Neymar fez o que pôde. Mas não teve apoio do meio de campo, que não se apresentou. Sem Ganso, uma nulidade, e sem poder contar com Elano, muito bem bloqueado pelo meio campo verde, o Santos ainda teve outra nulidade no meio campo, o volante Adriano. Apesar de tudo, Neymar protagonizou os lances mais bonitos do jogo, chamando a zaga alviverde pra dançar quando pôde.

Mas o Palmeiras fez o jogo certo. Apostou no erro e venceu de goleada, 1 a 0, com méritos. O pessoal com quem eu vi o jogo ouviu quando eu disse, dois minutos antes do gol palmeirense, que “o Palmeiras está mais perto do gol que o Santos”. E o impressionante Gladiador, que apanhou como Neymar, empurrou pra dentro aos 34min do segundo tempo.

Vitória justa, mas demasiadamente gaúcha, do Palmeiras. O Santos agora tem três dias para se concentrar no Colo Colo, jogo que tem que vencer ou vencer pela Libertadores na quarta-feira.

Veja o gol de Santos 0 x 1 Palmeiras com a narração de Oscar Ulisses (Rádio Globo):

sábado, 2 de abril de 2011

Santos x Palmeiras na Vila Belmiro. Como sempre, imprevisível

O Palmeiras é líder do Campeonato Paulista com uma defesa sólida: tomou seis gols no estadual, o que representa média impressionante de 0,37 gols sofridos em média, nas 16 partidas disputadas. Mas no domingo terá pela frente o Santos de Neymar na Vila Belmiro, time com o melhor ataque do Paulistão, com 37 gols (2,31 por jogo). Elano, com 10, é artilheiro da competição junto com Liedson, do Corinthians.

Ano passado, Neymar com a camisa 100 e 1 a 1 na Vila

O Alviverde não ganhou nenhum dos dois clássicos disputados no estadual. Empatou com o São Paulo (1 a 1) e perdeu do Corinthians (1 a 0). O Alvinegro da Vila bateu o São Paulo por 2 a 0 e perdeu do Corinthians de 3 a 1.O Santos não vence o rival desde abril de 2009, quando o eliminou na semifinal do Paulistão com duas vitórias por 2 a 1, na Vila e no Palestra. Desde então, foram três triunfos palmeirenses e dois empates.

No ano passado, Palmeiras 4 a 3 em plena Vila Belmiro pelo Paulistão. No Brasileiro, o time do Parque Antarctica venceu no primeiro turno (2 x 1) e, na volta, foi 1 a 1 na baixada santista.

Para o Santos, uma vitória no clássico será muito importante para ter o astral alto na partida mais importante do time no ano, contra o chileno Colo Colo, quarta, dia 6, pela Libertadores, quando o Peixe, à espera de Muricy Ramalho, tem que vencer ou vencer, se quiser continuar na competição.

Há um ano
Em 14 de março de 2010 escrevi aqui um pequeno histórico antes do clássico que o Palmeiras viria a vencer por 4 a 3, apesar do favoritismo do Santos. Curioso que esse texto pode ser lido como se tivesse sido escrito hoje:

Santos x Palmeiras – Clássico de tradição e grandes jogos

Leia também sobre a vitória do Palmeiras por 4 a 3 no Paulistão de 2010

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A simbologia, o fato e a foto

 Este post entra na série "Pensamento para sexta-feira"

Acho essa foto de José Cruz (Agência Brasil) impressionante.


José Cruz/ ABr


Mas não é só o símbolo ou o fato político. É a foto em si. O enquadramento, as personagens flagradas cada uma em sua grandeza particular. O olhar de Dilma Rousseff (o centro da foto, o centro da história) fixo em algo que parece estar na mão do corpo do morto; a composição das três mulheres no quadro, fechando um primeiro plano em que formam um triângulo; a perplexidade diante da morte, congelada nos gestos de todas as personagens; o tempo histórico, que a fotografia incorpora como se fosse um filme.

Faz lembrar A Imortalidade, de Milan Kundera.

Observação: a imagem postada aqui é em baixa resolução e graficamente pequena. Mas ela pode ser melhor entendida se vista em alta resolução aqui, neste link.

Se agências nacionais e internacionais têm flagrantes muito parecidos com esse, não interessa. O fato é que essa, das que vi, é a foto.