sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pensamento para sexta-feira [número 33] - Vivemos numa sociedade humana ou canina?


Tenho vários amigos que têm cachorros. Não tenho nada contra cachorros, desde que não me perturbem. Mas creio que alguma coisa está errada num mundo em que as pessoas coabitam com dois, três cães dentro de apartamentos, dividem a cama com cachorros, a cozinha cheira a cachorro. Algo está errado se cada vez é mais difícil ouvir o silêncio da noite devido à sinfonia de latidos, ganidos e até uivos desses animais que muitas pessoas chamam de “filhinho”.

Foto: Edu Maretti
Praia para gente ou para animais?

“Vem com a mamãe”, “vem com o papai” são expressões comuns que humanos dirigem aos canídeos hoje em dia. Isso é normal?

Certa vez, num apartamento em que morei em Perdizes, tive o seguinte problema:

Uma mulher tinha um cocker spaniel (um dos cães mais estúpidos que há). Eu trabalhava em casa. Mas a mulher saía para trabalhar e deixava o cão lá, fechado no AP. E ele passava o dia inteiro latindo e ganindo, e a janela do meu escritório ficava de frente para a janela onde ficava o cão. Chegou um momento em que eu não conseguia mais trabalhar, me concentrar, era infernal. O que fiz? Fui à delegacia, registrei um B.O. e entreguei uma cópia ao síndico e outra pus debaixo da porta da mulher. O que fez a mulher? Foi à delegacia e contra-atacou com uma mentira, registrando um B.O. em que alegava que eu a havia ameaçado. Depois de um tempo, ela foi multada pelo condomínio. O problema ainda continuou por um tempo e parece que foi multada de novo. E, por fim, o maldito cão desapareceu e eu pude voltar a ter paz dentro de minha própria casa.

Detalhe: a mulher era psicóloga. O que me fez pensar: que ironia, pois aquela situação era um sintoma claro de uma doença social, a doença social em que, por carência afetiva e valores sociais distorcidos os cães deixaram de ser o que são (animais) e se tornaram “filhinhos”.
Foto: Edu Maretti
Solemar, Praia Grande (São Paulo)
Meses atrás, estávamos na praia e tinha uma cadela no cio rodeando por ali. E a praia foi invadida por uma matilha de cães endoidecidos (foto) que nada podia afugentar. Mães com crianças no colo abandonaram a praia com justificado medo, pois havia cachorros de todos os tipos e tamanhos, com coleiras ou não. Isso já é um problema de saúde pública. Nesse caso, cabia à prefeitura por fim àquilo e recolher todos os cães. Osasco, cidade onde trabalhei por anos, é infestada por cães em toda parte. De novo: isso é problema de saúde pública e a prefeitura tem de recolher os animais.

Por falar em praia, acho um disparate que qualquer pessoa leve seu cãozinho à praia, e isso, me desculpem, até amigos meus já vi fazer. Aí o cão – tão bonitinho, coitadinho – espalha merda pela praia e depois uma criança pega uma doença de pele ou algo pior. Está certo isso? As pessoas não têm consciência?

Cães não são gente, mas são tratados como se fossem. Há toda espécie de serviço para cães: hotéis, serviços de hidratação, corte “de cabelo” chanel (sic), shoppings com serviços especializados e, pasmem, há até seguro saúde para cães! O que é isso, senão sintoma de uma sociedade doente? Li no Estadão uma matéria sobre uma mulher que gasta R$ 2.500,00 com seu cãozinho. Quatro salários mínimos!, enquanto há mães que não têm nem um décimo disso para alimentar seus filhos.

Quando criança, eu e meus irmãos tivemos nosso cão. Mas nós o educávamos. E então, se ele começava a latir muito, o mandávamos parar. E ele, muito elegante e educado, parava. E se não parava (morávamos numa casa isolada numa rua de um bairro – Jd. Aeroporto – onde meu pai foi um dos desbravadores) sabíamos que era um alerta e era preciso ficarmos atentos. Alguém podia estar rodeando a casa. Aquele era um cão muito decente, eu diria um cão de verdade, e não um cão que incorporava a neurose de uma sociedade enferma.

Já que andamos falando de psicologia por aqui no blog, cito uma psicóloga espanhola (Ana Gutiérrez) cujo livro traduzi recentemente para a editora Paulinas, que o lançará nos próximos meses: As crianças, o medo e os contos. Nele, a autora, que é terapeuta infantil, fala da importância dos animais para as crianças nessa passagem: “Não se pode nem se deve proteger as crianças da realidade, escondendo temas desagradáveis como a morte. As crianças devem experimentar suas próprias perdas, seja de um animal, de um parente ou de um vizinho”.

Foto: Carmem Machado
Os cães sempre tiveram importância para o homem: no pastoreio, como fiel companheiro, como auxiliar na caça etc. Mas hoje, humanizados, imbecilizados e idiotas, são realmente o sintoma de uma sociedade doente. Agora mesmo, enquanto escrevo, um desses está ganindo num apartamento vizinho.

Minha avó Emiliana dizia: lugar de cachorro é no quintal. Mas não me espantarei se um dia desses sentar-me à mesa e ao meu lado, com guardanapo, cadeirinha especial e tudo, estiver um cachorro para dividir comigo a refeição de uma ceia de Natal. Isso tudo me enoja.

Para não dizerem que sou apenas um ranzinza, esse aí na foto acima sou eu, com o rottweiler de uma amiga, em sua chácara (ou seja, um cão numa função adequada, como cão de guarda).

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Corinthians e Boca vão ao Pacaembu empatados


Tudo igual. 1 a 1 em La Bombonera.

Ficam perguntas que só o jogo de volta, no Pacaembu, responderá.

Por exemplo: como vai se comportar o time de Tite tendo de se abrir para vencer o Boca Juniors? Ou não vai se abrir e, mesmo em casa, vai tentar ganhar no erro do Boca? A equipe vai simplesmente apostar que vai tirar um Ás de ouros como tirou no jogo com o Vasco, quando a sorte e a incompetência de Diego Souza ajudaram a decidir?

É o último jogo, e a equipe que marca, marca, marca e marca e tem uma defesa quase inexpugnável terá de sair da retranca com que, por competência e sorte, tem podido seguir adiante. Pois o empate levará aos pênaltis. A derrota em La Bombonera teria sido desastrosa, e o empate que veio quase que por milagre mantém tudo como começou. Faltam 90 minutos.

O esquema de um Corinthians que, na semifinal, venceu o apático Santos na Vila Belmiro por 1 a 0 com um único chute a gol e depois pôde jogar pelo empate em casa não poderá se repetir contra o Boca Juniors, a menos que a aposta seja ir para os pênaltis. Ou tirar o Ás de ouros. Até porque o Boca é mais time do que o Santos.

E esse Romarinho – assim como o Mazinho do Palmeiras – parece um iluminado (é um clichê, usado pelo narrador da Fox Sports, mas... fazer o quê?). Impressionante. Ambos entraram no fim da história para decidir.

Acho que, como disse o amigo corintiano Felipe em comentário no post anterior, essa Libertadores talvez só seja decidida no último minuto. Ou, como disse o também amigo corintiano Luciano, "o jogo será decido em SP seja qual for o placar" em Buenos Aires. Ou, pior ainda para quem (corintianos e boquenses) não está vendo de camarote, não é muito difícil que a decisão vá para os pênaltis.

PS: Está cada vez mais difícil achar vídeos de gols das partidas (ou não tem ou a qualidade é péssima). Após o jogo não achei um que prestasse. Hoje apareceu esse aqui:



Atualizado às 12:29

terça-feira, 26 de junho de 2012

Boca x Corinthians: a tradição contra o sonho


E chega então o grande dia. Boca Juniors e Corinthians começam a decidir a Copa Libertadores 2012 nesta quarta-feira, 27 de junho, em La Bombonera (e, como um luxuoso aperitivo, à tarde acontece a primeira semifinal da Eurocopa, às 15h45: vou tentar assistir para torcer pelos patrícios portugueses contra esses irritantes espanhóis).

Riquelme, o craque, e Danilo, o trunfo

O Corinthians, em sua sonhada primeira final da história. O Boca, em sua décima, tendo sido seis vezes campeão. Se ganhar mais uma, igualará o Independiente, que já levantou o caneco sete vezes (veja lista abaixo).

Das nove decisões que o Boca já disputou, cinco foram contra clubes brasileiros, das quais foi campeão em quatro oportunidades. Só perdeu uma final ante um time do Brasil, para o Santos de Pelé, em 1963. Cruzeiro (1977), Palmeiras (2000), o próprio Santos (2003) e Grêmio (2007) conheceram a impressionante mística xeneize numa final continental e levaram a pior.

O Timão esteve frente a frente com seu adversário desta quarta apenas uma vez pela Libertadores. Foi em 1991, quando o Boca eliminou a equipe brasileira com uma vitória (3 a 1) em La Bombonera e um empate (1 a 1) no Morumbi.

A última vez em que os times se enfrentaram foi em 2000, pela Copa Mercosul, e deu Boca. No jogo de ida, 3 a 0 para os xeneizes em Buenos Aires. Na volta, 2 a 2 no Pacaembu.

Favoritismo?

Quanto à final em si, já cansei de apontar favoritos nesta Libertadores e dar com os burros n’água. Pela tradição (sim, existe isso no futebol) o Boca é inquestionavelmente favorito. Mas tudo pode acontecer. Os times jogam muito parecido. A diferença é que os argentinos têm um meia que, quando inspirado, assombra e decide. Trata-se de Riquelme.

Vi a partida em que seu time eliminou La U em Santiago (0 a 0, após os 2 a 0 pro Boca no jogo de ida) e assisti a um grande jogo. Impressionante como o bom time chileno lutou até o último minuto, mandou bolas na trave e enfrentou o poderoso Boca Juniors de igual para igual.

Por incrível que pareça, o Corinthians ter eliminado o Santos na semi pode revelar-se uma ilusão. Isso porque, embora seja o meu Santos, vendo La U cair lutando como lutou, fiquei convencido de que o Peixe infelizmente era o mais fraco dos quatro semifinalistas. Não pelo time, mas pela apatia e falta de gana de vencer.

E, quem diria, o Corinthians tem em Danilo um grande trunfo. Já o vi ser muito criticado, mas a verdade é que é um jogador decisivo (fez o gol que eliminou o Santos), tem experiência e já ganhou uma Libertadores (que ironia) pelo São Paulo.

Confira os times que mais ganharam a Libertadores

7 títulos
Independiente: 1964, 1965, 1972, 1973, 1974, 1975 e 1984

6 títulos
Boca Juniors: 1977, 1978, 2000, 2001, 2003 e 2007

5 títulos
Peñarol: 1960, 1961, 1966, 1982 e 1987

4 títulos
Estudiantes: 1968, 1969, 1970 e 2009

3 títulos
Nacional: 1971, 1980 e 1988
São Paulo: 1992, 1993 e 2005
Santos: 1962, 1963, 2011
Olímpia: 1979, 1990 e 2002

Veja o post após o empate (1 a 1) em Buenos Aires aqui.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Para o La Nación do Paraguai, Brasil incentiva "violência fratricida" e quer governo fantoche


Para o jornal paraguaio La Nación, o fato de o ex-vice e agora presidente Federico Franco ter sido felicitado pelo então presidente brasileiro, juntamente com Fernando Lugo, quando a chapa ganhou as eleições em 2008, demonstrou que Luiz Inácio Lula da Silva e o Brasil reconheciam a “plena legalidade” do processo eleitoral paraguaio.

Assim, analisa o periódico, “chama muito a atenção que a presidenta Dilma Rousseff confunda” a situação atual do país vizinho como um golpe de estado. “Não há justificação nem elemento algum que permita fundamentadamente a ninguém dizer que no Paraguai houve golpe de estado”.

“Não houve militares quebrando instituições, não houve policiais quebrando instituições, não houve violência quebrando instituições”, avalia o La Nación paraguaio.

Pela singela análise do jornal, o “Brasil e os países que estão desrespeitando o processo constitucional paraguaio não têm alternativa a reconhecer imediatamente os resultados do funcionamento da Constituição Nacional, tal como vêm fazendo os países sérios da comunidade internacional”, afirma, referindo-se a Estados Unidos, Espanha, Alemanha e o Vaticano... “O Brasil não tem capacidade de decidir que parte da Constituição paraguaia se aplica e qual não se aplica”, continua.

Para o periódico, o embaixador brasileiro no Paraguai [Eduardo dos Santos] não afirmou adequadamente que o processo se deu “com absoluta normalidade” e “preferiu acomodar-se a Dilma Rousseff e mentir”. “A Embaixada do Brasil em Assunção tornou-se um instrumento da mentira, para o quê não é realmente necessária no Paraguai e deveria fechar”.

Para o diário, “o Brasil está assumindo as responsabilidades de incentivar a quebra da paz cívica”. O La Nación paraguaio vocifera ainda que “desde 1864 a República do Paraguai não sofria uma agressão tão traiçoeira de seu poderoso vizinho, disposto a promover no Paraguai a violência fratricida com o fim de instalar em Assunção um governo dependente dele, Brasil, e da Argentina”.

Na opinião do jornal, “está claro que Argentina e Brasil necessitam no Paraguai de um fantoche, que cuide de seus interesses em Itaipu, em Yaciretá e no Mercosul; Fernando Lugo assumiu o papel de agente dessas potências estrangeiras”.

Resta aqui uma pergunta: nem passa pela mente do singelo editorialista do La Nación que os Estados Unidos reconheceram tão rapidamente o golpe no Paraguai porque estão muito incomodados com o crescimento dos governos de esquerda no continente, e o golpe nesse pequeno país é uma pequena luzinha no fim do túnel? Claro que passa, mas é melhor não dizer, não é?

domingo, 24 de junho de 2012

Eurocopa chega às semifinais com dois jogaços.
E Brasileirinho ainda dá tédio


Portugal x Espanha - 27/06/2012 - 15h45
Alemanha x Itália - 28/06/2012 - 15h45

Serão dois jogaços pelas semifinais da Eurocopa 2012 esta semana. Torço pela Itália de meu avô e de Andrea Pirlo e por Portugal dos patrícios e de Cristiano Ronaldo. Futebolisticamente, também torço para a Azzurra e o lado lusitano da Penísula Ibérica.

Dos jogos das quartas-de-final, vi apenas a Itália derrotar a Inglaterra nos pênaltis neste domingo e uma parte do segundo tempo de República Tcheca 0 x 1 Portugal, na quinta-feira. A Alemanha eliminar a Grécia (4 x 2) na sexta e a Espanha despachar a fraca seleção francesa (2 x 0) no sábado não tive nem tempo nem saco de ver.

Pirlo, o maestro da Azzurra
Sobre a seleção italiana: como joga bola esse meia Andrea Pirlo, e que grande jogo esse, Itália x Inglaterra, apesar do 0 a 0. A vitória da esquadra da "bota" foi a materialização da máxima: "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Teria sido muito injusto para Pirlo - pela partidaça que fez - sua equipe ser derrotada nos pênaltis pela Inglaterra dos ótimos John Terry, Gerrard e Rooney. Basta dizer que os melhores jogadores ingleses foram o zagueiro Terry e o excelente goleiro Joe Hart (finalmente a Inglaterra parece ter encontrado um guarda-metas).

A Itália, inclusive, mostra nesta Euro um futebol taticamente mais ofensivo do que o normal, o que é um trunfo considerável, levando em conta que, mesmo quando se mantém com sua tradição defensiva, ainda assim é sempre bonito ver o time italiano jogar. O belo time da Alemanha talvez fosse favorito contra qualquer outro rival, mas não contra a Itália. Os germânicos jamais venceram a Azzurra na história da Copa do Mundo e da Eurocopa!

Já na outra semi, torço pelos portugueses porque esse futebol espanhol, que muitos acham "maravilhoso", para mim é irritante. Vamos ver se o talento e a explosão de Cristiano Ronaldo destronam esses espanhóis com sua enfadonha "posse de bola" e seus cabelinhos engomadinhos. (A Espanha é a atual campeã da Euro.)

E o Brasileirinho...

Os santistas voltamos à dura realidade da ressaca pós-Libertadores. Empate com o Coritiba na Vila (2 a 2) depois de o time da Vila estar vencendo duas vezes e a defesa (com Dracena e Maranhão) entregarem também duas vezes o empate ao Coxa.

No esvaziado dérbi paulista, o Palmeiras quase titular conseguiu ser derrotado pelos reservas do Corinthians. Felipão reclamou e falou claramente que seu time não se empenhou o suficiente. A equipe de Tite, que não tem nada a ver com isso, virou o jogo e venceu por 2 a 1.

E a Portuguesa mostra que ainda é capaz de dar uma alegriazinha à galera (lusa e outras), ao bater o São Paulo por 1 a 0 no Canindé. Vai Lusa!

Não vi nenhum jogo neste domingo do até agora chato Brasileirinho.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Goleiro e cidadão: arqueiro da seleção do Paraguai se manifesta contra golpe


Muito bacana e digno de nota o posicionamento do goleiro da seleção paraguaia de futebol, Justo Villar, contra o impeachment de Fernando Lugo, em sua conta no twitter, logo após o final do processo relâmpago que destituiu o presidente.

“Não aprendemos nunca! Os anos passam e continuamos com o fardo desta gente que só tem interesses pessoais. Nunca pensam no país”, escreveu o goleiro, que também defende as cores do Estudiantes da Argentina (país de um nível cultural bastante superior ao brasileiro).



O arqueiro disse também na rede social: “não merecemos isso! Principalmente o povo que está na praça”, referindo-se à multidão que esperava o resultado da votação do impeachment na praça em frente ao Congresso, cujos protestos foram reprimidos pela polícia.

Fico pensando que distância entre esse futebolista e os nossos brasileirinhos nos gramados do país afora, que só sabem dizer “o senhor me abençoou”, “bom dia amigass! e noixxx”, “na resenha com...” e outras pérolas culturais.

O chefe de Estado do país vizinho foi derrubado pelo Congresso sob o pretexto de “fraco desempenho de suas funções”. Ele foi responsabilizado, entre outros episódios, por um confronto entre forças policiais e trabalhadores sem-terra, há uma semana, que terminou com 17 mortos (11 de trabalhadores e seis policiais na região de Curuguaty).

Ainda o episódio Erundina: purismo e maniqueísmo não têm nada a ver com política


No meio de discussões nos comentários a post anterior a respeito do barulhento caso Erundina-Haddad-Maluf-Lula, escrevi que, naquele momento, a discussão era “para lá de inconclusiva” e que todas as posições eram “passíveis de ser relativizadas, inclusive a minha”.

Digo isso porque temos a tendência de falar e entender política sob um viés maniqueísta e às vezes purista, quando sabemos que tanto uma lente como outra distorcem a realidade.

Enfim, o episódio Erundina desta semana foi marcado pelo purismo e pelo maniqueísmo. E a verdade é que a ingenuidade perpassa tanto o maniqueísmo como o purismo ou “idealismo”. Política não é feita por nem para puros e santos. Não existe democracia sem acordos e táticas. Não se governa um país, um estado ou uma cidade como São Paulo como se governa um grêmio estudantil, como querem fazer parecer os partidos supostamente de extrema esquerda cuja prática, na verdade, serve aos interesses da direita.

Erundina não é santa

Antonio Cruz/ABr
Haddad: à procura de vice
Erundina não é santa, embora eu mesmo tenha aparentemente enveredado pelo purismo ao dizer durante a semana que, ao renunciar à chapa com Fernando Haddad, a ex-prefeita tinha sido “fiel ao seu passado”. Faltou, de minha parte, explicitar que, ao dizer “fiel ao seu passado”, eu me referia à sua gestão como prefeita em São Paulo, com um governo popular de esquerda inédito na história da conservadora capital paulista. Não quis dizer que Erundina era ou é pura e seu passado (estritamente político) é um mar de rosas do idealismo.

É preciso, portanto, distinguir o passado político em si do passado histórico como prefeita (nordestina e mulher) que venceu uma eleição democraticamente, para espanto de muitos, e tentou fazer um administração pela primeira vez voltada para as classes menos favorecidas. Pois, como lembrou José Arrabal em post anterior neste blog, o erro de Erundina esta semana foi o segundo grande equívoco político de sua trajetória: ela “errou e quebrou a cara (...) ao aceitar de modo personalista um ministério no governo de Itamar Franco. Nada fez ou pôde fazer de bom no Ministério e deixou o cargo humilhada, ciente de que cometera uma grande bobagem na sua história política pessoal”.

Wilson Dias/ABr
Preterida em nome da renovação
Votos na periferia

De Lula, o que cabe notar é que ele tem adotado algumas atitudes até certo ponto caudilhescas. O episódio com Maluf foi uma delas, assim como o foi sua decisão irrevogável e até certo ponto antidemocrática dentro das hostes petistas ao praticamente impor o nome de Fernando Haddad em nome da renovação dos quadros do partido. Esta, se é uma justificativa considerável, é por outro lado um pouco contraditória com a urgência de “derrotar o demo-tucanato em São Paulo”. Pois nunca foi totalmente convincente o argumento de que a taxa de rejeição de Marta Suplicy seria fatal no segundo turno. Marta tem um eleitorado fiel e importante nas periferias da cidade. Haddad, ainda não.

Como Dilma Rousseff, que era chamada de “poste” até alçar vôo por si própria, impor ao processo político sua personalidade discreta mas marcante e descolar-se da figura do presidente Lula, Haddad tem a mesma árdua tarefa pela frente. Como a campanha ainda nem começou, há tempo. O problema é que Dilma, para se eleger, contou com o esmagador apoio do Nordeste do país, mas não se sabe se, analogicamente, as periferias de São Paulo serão tão decisivas como precisam ser para Haddad vencer. Não se sabe, fazendo as contas de quantos votos a aliança com Maluf trará e quantos vai tirar de Haddad, se todo esse imbróglio terá, ao fim e ao cabo, sido positivo ou negativo para a candidatura petista.

Existe um dado sociológico relevante em São Paulo. Aqui, as classes C e D não são tão sensíveis aos benefícios evidentes que os governos Lula e Dilma lhe proporcionaram e continuam proporcionando. Aqui, os pobres, nordestinos ou não, querem ser como os ricos. Não estão tão preocupados em ter um transporte público decente, porque seu sonho é ter um carro O km. E é esse enorme eleitorado, cujo voto é totalmente volátil e sensível a chantagens eleitorais, que Haddad tem de conquistar.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pois é


Bem, rojões por toda a parte, buzinas perto e longe, como uma comemoração de título. Vou ao bar comprar cigarro e o bar está tomado por pessoas vestidas de preto, em festa, meio estupidificadas. Como se tivessem conquistado um título. Incrível. Quanta carência. Para eles, ganhar do Santos é como se fosse um título, que ainda estão longe de ganhar, porque ainda têm o Boca Juniors pela frente.

Em algum momento aqui no blog (não lembro onde) e também para pessoas próximas eu já disse que perder a Libertadores (para um clube que é tricampeão e ganhou no ano passado) não tinha tanta importância assim neste 2012 (para mim). Afinal, quem sabe, a geração de Neymar consiga finalmente se dedicar ao Campeonato Brasileiro, o único título que falta a essa geração.

Acho que o Boca (se confirmar amanhã a vantagem de 2 a 0 conquistada contra La U em La Bombonera no jogo de ida) não vai ser um adversário tão pusilânime como foi o Santos de Muricy Ramalho diante do Corinthians nesta semifinal da Libertadores. O Boca vai ser uma parada mais dura.

Esta cara de bobo é a cara do Santos de Muricy

Muricy é muito ruim. Mas muito ruim mesmo. Sou santista: creiam-me. Não é à toa que nunca ganhou um mata-mata contra time brasileiro em Libertadores. Acho que está na hora de as pessoas que “entendem” de futebol reconhecerem que muitas vezes são atribuídos ao técnico os méritos que são do clube, e não do “genial” treinador. Dorival Junior nunca havia ganhado nada importante (a não ser que se considere o campeonato mineiro importante, que Dorival ganhou com o Cruzeiro), até ir para o Santos. Muricy Ramalho fracassara em todas as Libertadores que disputou, até ganhar com o Santos. Quem é mais? Dorival e Muricy ou o Santos? É óbvio que é o Santos Futebol Clube. O cara e seu staff ganham 500 mil por mês para fazer isso?

De maneira que, se eu tivesse a varinha de condão, mandava Muricy Ramalho embora hoje mesmo. E não vou repetir aqui os porquês, pois quem acompanha o blog sabe que já falei um monte de vezes sobre a covardia tática de Muricy. Mas o presidente Laor parece que gosta muito de Muricy. Luis Álvaro deveria meditar mais sobre a velha questão custo-benefício.

Voltando a Corinthians 1 x 1 Santos, após terminar o primeiro tempo vencendo por 1 a 0, o time de Muricy tomou um gol de várzea logo de cara no início do segundo: uma faltinha que qualquer time tem que defender, para o Santos foi fatal, com a colaboração sempre marcante do horrível Durval e do sempre invisível Juan. Muricy é são-paulino, e por isso adora o jogadorzinho Juan, que já fizera lambanças homéricas no São Paulo (que não o queria mais nem pintado de ouro) e ainda piores no Flamengo (em 2008, Juan fez uma partida grotesca e foi um dos principais responsáveis pela eliminação do Rubro-negro na derrota para o América do México em pleno Maracanã por 3 a 0).


Muricy, perdido e arrogante como sempre quando enfrenta grande times em mata-matas, só tentou fazer alguma coisa aos 30 do segundo tempo! Meu deus, que cara inseguro!

Palmas para o Corinthians, e vaias para o Santos de Muricy Ramalho, que, como ouvi na sala da minha casa, fez o papel de um timinho (concordo). Ganso fez uma partida grotesca e sem comentários. Se continuar nessa toada, daqui a um ano ele não valerá mais nada no mercado. Se quiser mudar de time, talvez consiga jogar em algum time menor do que o Santos na primeira divisão do Brasileiro ou na segunda divisão da Europa.

E digo tudo isso com a ressalva: os santistas não temos muito do que reclamar, pois ganhamos muitos títulos nos últimos anos, e por isso os rivais estão putos conosco.

Mas repito o que já disse antes no blog: tem alguma coisa mal explicada no Santos hoje. O Santos de Muricy Ramalho.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Por mais respeito que mereça, Erundina errou outra vez. Urge derrotar demo-tucanato


Vaidade, personalismo e rancor são péssimos instrumentos na política

Por José Arrabal



Lembrando Winston Churchill: "aliança com o demônio"

Vale recordar aqui uma frase do primeiro-ministro inglês, Winston Churchill, por ocasião da II Grande Guerra: "Se Hitler invadisse o Inferno, eu cogitaria uma aliança com o demônio".

O mesmo se pode parafrasear na atual urgência de se derrotar o demo-tucanato paulista por sua presença notoriamente nefasta e anti-popular em São Paulo - estado e município.

Por maior respeito que ela mereça, entendo que Luiza Erundina errou historicamente ao retirar-se da chapa da candidatura de Fernando Haddad.

Errou do mesmo modo que anteriormente errou e quebrou a cara devido a esse seu erro, ao aceitar de modo personalista um ministério no governo de Itamar Franco. Nada fez ou pode fazer de bom no Ministério e deixou o cargo humilhada, ciente de que cometera uma grande bobagem na sua história política pessoal.

Desconheço os bastidores das razões que levaram à atual renúncia de Luiza Erundina. Sei que na manhã de ontem, em entrevista pública, ela se confirmou com veemência como candidata a vice na candidatura de Fernando Haddad. No entardecer, mudou de ideia. Por conta disso não creio que foram razões éticas que a levaram à sua renúncia. Que ética é essa que muda da manhã para a tarde? Verdade é que vaidade, personalismo sectário e rancor são péssimos instrumentos na política. Lição que Luiza Erundina e mesmo Marta Suplicy parecem não compreender.

Verdade também é que urge derrotar o demo-tucanato em São Paulo - município e estado. O certo é que a vitória de Fernando Haddad em sua candidatura à prefeitura de São Paulo, além de ser um valiosa esperança pública de uma boa administração popular na cidade, será um passo fundamental para derrotar o governador Geraldo Alckmin em suas pretensões de reeleição daqui a dois anos.

Com Erundina ou sem Erundina na chapa, é isso que deve nos mobilizar a todos a favor da vitória da candidatura popular de Fernando Haddad. São Paulo - município e estado - não pode sucumbir por mais tempo à tragédia neoliberal, tacanha, dilapidadora e anti-popular do demo-tucanato na região.

Bem se sabe que existe um bem sucedido projeto histórico nacional em andamento vitorioso a favor dos interesses do Brasil, da brasilidade e do povo trabalhador brasileiro construído e levado adiante em nosso país desde o governo do presidente Lula. Projeto que a presidenta Dilma Rousseff consolida com vigor crescente e grande aceitação nacional.

A presença do demo-tucanato governando São Paulo tudo faz para impedir e destruir o bom porvir desse projeto popular posto em andamento pelo governo da União nas gestões presidenciais de Lula e Dilma.

Fato que Luiza Erundina devia considerar para ajudar com sua presença junto da chapa com Fernando Haddad, sem qualquer gesto de vaidade, rancor ou personalismo possivelmente presentes em sua renúncia à candidatura a vice-prefeita. Ainda bem que seu partido - o PSB - manteve-se ao lado de Fernando Haddad.

Winston Churchill estava certo, em sua consideração durante a II Grande Guerra. O presidente Lula igualmente está certo, ao somar alianças viáveis para derrotar a tragédia administrativa e antipopular do demo-tucanato paulista.

Bem se sabe quem é e o que faz essa gente do demo-tucanato, que manda no estado há décadas. Bem se sabe quem é José Serra, o que é sabidamente ainda pior.

A questão que urge agora e sempre, nesta campanha municipal para conquistar a prefeitura paulistana, é e será somarmos forças a favor da candidatura de Fernando Haddad. Sem vacilar!

Até a vitória, com firmeza! Viva o Povo Trabalhador Brasileiro! Viva o Brasil!

"Nossa alma vai estar em campo", diz
capitão Edu Dracena



O texto abaixo foi postado pelo capitão do Santos, Edu Dracena, no Facebook, nesta terça-feira, 19, véspera do jogo de volta com o Corinthians pela semifinal da Libertadores, quando o Peixe precisa vencer por 1 a 0 (para ir aos pênaltis) ou por qualquer outro placar para eliminar o rival:

Queria agradecer a torcida santista pelas mensagens recebidas e dizer uma coisa: este grupo do Santos acostumou-se a grandes decisões.

Nos últimos 3 anos, passamos por momentos de muita pressão. O 2° tempo contra o Santo André, em 2010, com 8 jogadores em campo; as viradas sobre Atlético-MG e Grêmio, na Copa do Brasil; semifinais fora de casa contra o São Paulo, no Morumbi, em 2011 e 2012; a Libertadores inteira, especialmente aquele jogo contra o Cerro, na primeira fase. Sem 3 titulares, tendo que ganhar e no aniversário do Clube.


Tem grupo que encara situações como essa com preocupação. O nosso encara com mais vontade ainda de fazer história.


É esse o nosso sentimento. Na quarta-feira que vem, podem escrever: vamos jogar o nosso verdadeiro futebol. Nossa alma vai estar em campo. Pelo Santos, por nós e por vocês
.”

terça-feira, 19 de junho de 2012

Com aliança desastrosa com Maluf, PT de Lula ganha um minuto e meio de TV e perde Erundina


O “tiro no pé” que representou o efusivo encontro de Lula e Fernando Haddad com Maluf, com direito a fotos de capa na grande imprensa e largos sorrisos, foi um tiro de espingarda 12.

Agora deixa de ser relevante se a ex-prefeita e atual deputada federal Luiza Erundina (PSB) já sabia, antes, da aliança com Maluf e só resolveu abandonar o barco de Haddad por se sentir desprestigiada, já que, segundo o jornalista Renato Rovai, ela “considerou desrespeito” a foto de Lula estampada em todos os lugares enquanto o ex-presidente não foi prestigiá-la, e esperou um sinal público de Lula que não veio.

O que agora é relevante é que, na prática, o PT de Lula trocou os abraços de jiboia do Maluf e um minuto e meio na TV pelo importantíssimo apoio de Erundina e a enorme militância que viria junto. A deputada pelo menos se manteve fiel ao seu passado.

Curioso notar que a outra ex-prefeita petista, a senadora Marta Suplicy, tampouco parece disposta a entrar no barco da campanha petista com muito entusiasmo. Está distante e silenciosa desde que lhe foi imposta goela abaixo a vontade de Lula de lançar Haddad. Os efeitos dos atos de Lula de uns tempos para cá, francamente, são desastrosos para quem é considerado um gênio político até por gente da oposição a ele.

Com tudo isso, tucanos, kassabistas e asseclas devem estar estourando champanhe nos palácios e mansões. Não só pelo fato da adesão de Erundina ter sido rápida como um relâmpago, mas porque o desastre do episódio colocará o PT na defesa e vai dar munição à oposição e à mídia pelo resto da campanha. Com o perdão da pergunta, de que lado Lula está?

Erundina: com Maluf, "vai ser difícil" engajamento da militância



Impressionante a capacidade que o PT tem de dar tiros no pé. Após duas grandes notícias em poucos dias – o crescimento de cinco pontos percentuais de Fernando Haddad no Datafolha e a entrada de Luiza Erundina na chapa de Haddad – eis que o ex-presidente Lula e o próprio candidato à prefeitura paulistana cedem às condições de Paulo Maluf para obter o apoio deste e hoje aparecem os três sorridentes nas capas dos jornais. Esse acordo tem o potencial de neutralizar em grande parte o capital que a entrada de Erundina traz (ou traria) à campanha? Só o tempo vai dizer. Mas a óbvia capacidade de liderança da ex-prefeita como um fator de mobilização e entusiasmo da militância certamente arrefeceu.

A deputada Erundina (PSB-SP) falou à Rede Brasil Atual sobre a aliança com Maluf. Perguntada se a aliança é desconfortável, ela disse: “É mais do que isso, é constrangedor.” A ex-prefeita afirmou ainda que o novo fato veio como “um balde de água fria” para ela e a militância.

E como convencer a militância a se engajar na campanha? “Vai ser muito mais difícil”, avalia. Antes mesmo de o acordo ser oficializado, “[os militantes] já diziam: ‘não vamos nos engajar se essa questão ficar definida a favor da aliança com Maluf’”, afirmou a deputada socialista.

Ela disse que o fato novo é uma “lamentável notícia” e que, se tivesse sabido antes que o acordo seria fechado, “com certa iria fazer exigência em relação a isso”.

Ouça a entrevista na íntegra:



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domingo, 17 de junho de 2012

Sartre resiste ao século XXI


Nesta quinta-feira, Jean-Paul Sartre faria 107 anos. Ele nasceu em 21 de junho de 1905 e morreu em 15 de abril de 1980. Incrível como o tempo passa. Alguns dizem que o século XX foi “o século de Sartre”. Outros pensam diferente: nos anos de dissipação moral, política e social em que vivemos neste século XXI, é natural que o filósofo, escritor e dramaturgo Sartre esteja fora de moda. A avaliação de um pensador fundamental como ele, segundo um conceito tão simplista (estar ou não na moda), é bem própria de um tempo em que tanto os objetos nas prateleiras como a mente, os corpos e as paixões humanas são descartáveis. Mas Sartre continua sendo essencial.


Parafraseando a fala de Paulo Francis sobre Regis Debray e Bernard Henri-Lévy: quando se considera que gente como Jean Baudrillard é levada a sério, “dá saudades de Camus e Sartre, com todas as suas incoerências e contradições”. De fato, o pensador francês Baudrillard era, nos primeiros anos do século XXI, o protótipo do modismo intelectual, apesar de, nascido em 1929, ser apenas 24 anos mais velho do que o autor de A idade da razão. Em entrevista à revista Época (o semanário de Roberto Marinho) em 2003, o filósofo da moda Baudrillard dizia, pernóstico: “Sou um dissidente da verdade. Não creio na idéia de discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável (...). Procuro refletir por caminhos oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa (...) Para simplificar, examino a vida que acontece no momento, como um fotógrafo”.

Ora, é bastante coerente a opção pela dissidência da verdade num mundo comandado pelo mercado, pela fragmentação e pelo individualismo; nesse contexto, é cômoda e cínica a dissimulação, e a reflexão “por caminhos oblíquos”. É confortável a escolha pela fragmentação num momento histórico que se constrói em nome mesmo do fragmento. A premissa por trás do discurso de Baudrillard é o não-comprometimento, a falta de fé (entendida como conceito filosófico, e não religioso). Pode-se, segundo essa premissa, mudar de idéia sem culpa como se troca de carro ou camiseta, pode-se fazer orações fervorosas no altar do deus Fragmento sem medo das contradições, pois o que se diz hoje se desdiz amanhã: não há verdade. Se não há verdade, todas são admissíveis. Pode-se, para usar um termo do existencialismo francês, não escolher.


Mas Baudrillard já está morto, tanto física (faleceu em 2007) quanto filosoficamente (pois não passou de uma efêmera moda).

Caetano usou frase de Sartre na Tropicália
Voltemos a Sartre. Jean-Paul Sartre defendeu sua Idéia, mesmo admitindo-se suas contradições. Seduziu e influenciou intelectualmente muitos daqueles que buscavam o conhecimento e a contestação a partir dos anos 40 e ao longo de toda a segunda metade do século XX, passando pelos anos 60, por maio de 68, e deixando marcas indeléveis em movimentos como o Tropicalismo, como reconheceu Caetano Veloso e Tom Zé. Uma das mais conhecidas canções tropicalistas, Alegria, Alegria, diz no célebre verso: “Sem lenço sem documento/nada no bolso ou nas mãos”. É uma citação. Em As Palavras, Sartre escreve: "O que eu amo em minha loucura é que ela me protegeu, desde o primeiro dia, contra as seduções da elite: nunca me julguei feliz proprietário de um talento: minha única preocupação era salvar-me – nada nas mãos, nada nos bolsos – pelo trabalho e pela fé". Claro: fé, aqui, não é a fé religiosa.

É muito conhecida a máxima sartreana segundo a qual “o homem está condenado à liberdade”. Ao justificar filosoficamente que a existência precede a essência, ele esclarece o que seria essa condenação a ser livre: “O existencialismo ateu (...) Declara (...) que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana (...) Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade pela sua existência. E (...) não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens."

Principal expoente do Existencialismo francês juntamente com Albert Camus, e influenciado por Martin Heidegger e Husserl, Sartre chegou ao cume de seus escritos propriamente filosóficos com o hermético O Ser e o Nada (1943). No campo do embate filosófico, atacou (em Questão de Método) e foi violentamente atacado pelo marxista Georg Lukács (em Existencialismo ou marxismo?), para quem o existencialismo francês era uma filosofia niilista pequeno-burguesa.

Porém, humanista e ateu, valendo-se da verdade existencialista segundo a qual “o homem está condenado à liberdade” (o que pressupõe a escolha), Sartre posicionou-se, como militante, ao lado de causas que julgou corretas em nome desse humanismo, o que, para ele, e segundo muitos equivocadamente, justificava sua simpatia pelo regime de Fidel Castro ou por Mao Tsé Tung.

Mas é com sua obra literária de ficção e teatro – permeada, obviamente, pelos conceitos filosóficos – que Sartre atingiu o grande público (a mim, inclusive) e alastrou sua influência. Seu primeiro romance, A Náusea (1938), introduz no gênero romance alguns dos conceitos filosóficos do Existencialismo. O protagonista Antoine Roquentin é um historiador que escreve a biografia de um excêntrico personagem do século XVIII, o marquês de Rollebon. Roquentin vive assolado pela melancolia e seu único interlocutor é um bizarro homem denominado Autodidata.

É na trilogia Os caminhos da liberdade que o autor consolida sua carreira de romancista. O primeiro volume, A idade da razão (1945), é ambientado na tensa Europa pré-Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto em que a individualidade se esfumaçava, o romance traduz para a ficção alguns preceitos da filosofia existencialista: o professor de filosofia Mathieu Delarue, protagnista principal (na trilogia, há vários protagonistas cujas consciências como que se fundem numa espécie de consciência da Europa), busca uma moral livre do modo de ser burguês e cristão. Com uma visão de mundo rigorosa e crítica, vive imerso na angústia e atormentado pela idéia de fracasso.

Se a trilogia é inteira uma obra-prima, o auge da concentração e da forma sartreanas se dá no segundo volume, Sursis (1945), cuja trama se desenvolve na Europa à beira da conflagração. Numa das mais belas páginas da literatura européia do século XX, lemos a seguinte reflexão sobre o engodo que havia sido a paz do entre-guerras, amarga constatação de um continente que outra vez já respira a morte: “Anos e anos de paz futura se haviam depositado previamente nas coisas (…) pegar o relógio, um trinco de porta, a mão de uma mulher, era tomar a paz nas mãos. O após guerra era um começo. O começo da paz (…) O jazz era um começo, e o cinema (…) E o surrealismo. E o comunismo. O tempo, a paz, eram a mesma coisa. Agora esse futuro está aqui, a meus pés, morto (…) Olhava os vinte anos que vivera serenos (…) e os via agora como tinham sido: um número finito de dias comprimidos entre dois altos muros sem esperança (…) que figuraria nos manuais de história sob a denominação de ‘Entre duas guerras`”.

Sartre e Simone de Beauvoir
Com A morte na alma (1949), título muito sintomático, encerra-se a trilogia Os caminhos da Liberdade. A vida de Sartre chega ao fim em 15 de abril de 1980. Em A cerimônia do adeus (1981), livro de memórias no qual descreve o fim do escritor, sua companheira Simone de Beauvoir, no mais característico estilo existencialista, escreve ao mesmo tempo emocionada e implacável: “Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo”.

Texto originalmente escrito para a revista Fórum em junho de 2005,
por ocasião dos 100 anos do nascimento e 25 anos da morte de Jean-Paul Sartre



Revisado e atualizado para esta postagem

sexta-feira, 15 de junho de 2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Corinthians de Tite dá um banho no apático Santos de Muricy em plena Vila Belmiro


Vamos por partes.

A ansiedade corintiana é tão grande que antes mesmo de um novo post já há comentário no post anterior para falar de humildade! E depois os amigos corintianos dizem que não estão nem aí para a Libertadores. Enfim, os comentários que tenho são os seguintes:

1) Como disse o Luiz Carlos Azenha no seu blog Viomundo em 15 de novembro de 2010: “Eu acho o ‘corintianismo’ tedioso. Ele se sustenta na teoria segundo a qual o corintiano teria direito à redenção por ter sofrido muito, fora mas especialmente dentro do campo. Sofredor? Para mim sofredor é o torcedor do Radium de Mococa, da Esportiva de Guaratinguetá e do Noroeste de Bauru. Torcerei apaixonadamente contra o Corinthians!”



2) Falando do jogo em si. Mais do que a merecida vitória corintiana na Vila Belmiro por 1 a 0, nesta quarta-feira 13, o que me impressionou foi a apatia, a falta de iniciativa tática, a maneira como o Santos se comportou contra o muito bem montado time do técnico Tite, que (perdoem o chavão) deu um banho tático no como sempre covarde Muricy Ramalho, que é incapaz de “mudar o jogo”, de surpreender, de sair do marasmo de seu plano tático baseado num pragmatismo que Tite exerce com mais competência. Émerson fez um golaço, mas pela décima-enésima vez a lateral-direita santista (como a esquerda) era uma avenida. Como lateral, o velho Pará (que Muricy dispensou) faria papel bem melhor do que o volante Henrique (não é culpa dele) improvisado.

Enquanto o Corinthians jogou o tempo todo em bloco, movimentando-se coletivamente, de fato como um time, cobrindo todos os espaços do campo, o Santos jogou “espalhado”, com buracos imensos entre os setores da equipe. Um time amarrado e sem iniciativa, cujos jogadores andavam em campo. Pergunto: o técnico não tem responsabilidade sobre isso? A apatia santista foi tamanha que prefiro pensar nos méritos do Corinthians (que são muitos) do que enveredar pela teoria da conspiração e ir por análises estranhas ao jogo (tipo: haveria algo oculto nos bastidores da Vila Belmiro que possam explicar tal apatia?). Sabe-se de bastidores que há muita gente descontente com o trabalho de Muricy na Vila, gente que acha (como eu) que o treinador não tem tática alguma a não ser deixar para Neymar resolver. Neymar que hoje, como o time todo, não jogou nada.

Como falei em post anterior, o Santos padece da falta de laterais. No futebol de hoje, sem laterais não há jogo. Para além disso, o time de Muricy Ramalho não está preparado para ser ousado. Diante do jogo solidário e implacável do time de Tite, o arremedo de time do Muricy não encontrou alternativas, porque ousadia não é uma palavra do dicionário de Muricy, se é que a personagem alguma vez pegou um dicionário nas mãos.

3) Com todas as ressalvas acima, usando outro chavão, “não há nada perdido”, nem ganho. O Santos continua sendo tão temível como antes, apesar de seu treinador, que às vésperas do jogo com o Barcelona disse que não tinha muito o que fazer, e dias atrás afirmou que perder a semifinal para o Corinthians “não é o fim do mundo”. Um papo de treinador que fraqueja ao enfrentar grandes times. Em resumo, um treinador covarde que engana bem, mas não a mim.

No jogo de volta, se o Peixe fizer um gol antes, o duelo vai virar um “deus-nos-acuda” emocionante. Mas, para reverter o revés que sofreu em casa, o time da Vila vai precisar pelo menos demonstrar vontade de jogar. Porque o time que se apresentou nesta quarta-feira na Vila foi uma farsa.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Santos x Corinthians fazem "jogo do século" pela Libertadores


Nos bons tempos do boxe, quando havia uma grande luta (como Muhammad Ali x Joe Frazier, por exemplo) costumava-se dizer: “a luta do século”. Claro que era “força de expressão”. Houve muitas “lutas do século”. Mas o termo cabe perfeitamente ao duelo Santos x Corinthians pela semifinal da Libertadortes nas quartas-feiras, 13 e 20 de junho. E, no caso, não apenas no sentido figurado, pois para alguns este é de fato o encontro do século entre os alvinegros, embora para mim a decisão do Brasileirão de 2002 tenha sido mais importante.

Ricardo Saibun - Divulgação/ Santos F.C.
Alessandro terá a infeliz missão de marcar Neymar pela esquerda

Com Neymar em campo, e se de quebra Paulo Henrique Ganso jogar na Vila Belmiro, creio que se pode dizer que o Santos é favorito para ir à final em busca do quarto título, o que alguns corintianos reconhecem, inclusive neste blog. Mas “clássico é clássico e vice-versa”, como diz a sabedoria popular, e é arriscado para qualquer time enfrentar o Corinthians com a soberba do favoritismo. O Timão nunca chegou à final da competição.

Bem montado, entrosado como um todo e sólido na defesa, apoiada pelo meio de campo com Paulinho e Ralf, o Corinthians tomou só dois gols nesta edição da Libertadores, mas, é preciso dizer, enfrentou um grande time, o Vasco (**), enquanto o Santos teve em seu caminho duas potências do futebol sul-americano, Internacional e Vélez Sarsfield, tendo passado por ambos.

Pontos fracos

Tanto o time de Muricy Ramalho quanto a equipe de Tite têm problemas e pontos fracos. O Alvinegro da Vila tem laterais ruins e uma defesa que tem sido segura, mas pode ser considerada lenta. Para sua sorte, o maior defeito do time da capital é justamente seu ataque, que, se já é normalmente limitado, piorou ainda mais com a péssima fase de Liédson. Nesse mata-mata isso pode ser fatal, pois raramente o Santos deixa de fazer gols. Outro problema do Santos de Muricy é tático. É montado com base no famoso “dá no Neymar”. Se o craque não está bem, o time cai absurdamente, pois parece que o treinador não tem opções e variações de ataque.

Este é o quinto mata-mata entre os rivais neste século. Nos anteriores, o Peixe levou a melhor em dois (finais do Brasileiro de 2002 e do Paulistão de 2011), enquanto o Timão se deu bem nos outros dois (semifinal do Paulista de 2001 e final de 2009*). Não quero fazer previsões estranhas ao futebol em si, mas achei esquisito a Conmebol escalar o juiz carioca Marcelo de Lima Henrique para o jogo na Vila, um árbitro que nunca apitou uma partida de Libertadores na vida.

Se Ganso não tiver condições, Borges (o popular Borges manteiga) deve entrar no ataque e Alan Kardec ser recuado para o meio. Eu poria Léo no lugar de Ganso. O veterano lateral pode ser considerado responsável pelo time ter batido o Vélez nas quartas. Daria mais movimentação contra a muralha corintiana.

As escalações devem ser as seguintes:

Santos: Rafael, Henrique, Edu Dracena, Durval, Juan; Adriano, Arouca, Elano, Ganso, Neymar; Alan Kardec

Corinthians: Cássio; Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Danilo e Alex; Jorge Henrique e Emerson Sheik.

**Errare humanum est - Eu disse no terceiro parágrafo deste post que o Corinthians "não enfrentou nenhum grande time" nesta Libertadores. Errei. Enfrentou o Vasco da Gama.


Grêmio x Palmeiras

Pena que não poderei ver o primeiro duelo entre Luiz Felipe Scolari x Vanderlei Luxemburgo pela semifinal da Copa do Brasil, no mesmo dia e horário de Santos x Corinthians. O jogo será no Olímpico. Já a partida de volta entre Palmeiras e Grêmio será na quinta-feira, dia 21, na Arena Barueri, e esta poderei assistir. Acho que o Grêmio tem um favoritismo claro contra o Verdão.

*Atualizado às 20:54

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Rússia, Dinamarca, Itália e Shevchenko, destaques da primeira rodada da Euro 2012


Com 35 anos, Shevchenko mostra categoria e faro de gol

Amanhã vou falar de Santos x Corinthians. Hoje só um pequeno balanço da Eurocopa. Encerrada a primeira rodada, dos jogos e times que pude ver, a equipe que mais me agradou foi a Rússia. Só depois de ter achado o time muito bom na vitória de 4 a 1 sobre a República Tcheca é que entendi por quê: o técnico é o holandês Dick Advocaat. Um time rapidíssimo baseado em contra-ataques fulminantes, que perdia muitos gols mas encontrou o caminho da goleada após a entrada do ótimo Pavlyuchenko no lugar do medíocre Kerzhakov, que perdeu gols a rodo antes de sair.

Gostei do jogo Polônia x Grécia, mas mais pela dramaticidade e emoção do que pelo jogo em si.

Francamente? Francamente, adorei a derrota da Holanda para a Dinamarca, por 1 a 0. Não, não estou virando defensor de futebol feio, de resultados ou da retranca. Adoro futebol bem jogado e bonito, ofensivo. Mas, primeiro: a Holanda, na Copa do Mundo, parecia um time de cavalos, no qual o gol parecia ter tanta importância quanto os coices. Segundo: acho que a cor da camisa da Holanda (para quem eu torcia sempre desde 1974) deveria mudar de cor, para amarelo. Não existe seleção que amarela mais. E, em terceiro, não adianta nada esse estilo de toquinho pra lá e pra cá (que já me encheu o saco) se não balançar as redes. Palmas à Dinamarca, país pelo qual tenho tanta simpatia por seus gênios, como Kierkegaard e Andersen,que transfiro essa simpatia para o futebol. E parece que o velho estilo de futebol holandês fulminante, que eu tanto admirava, hoje veste vermelho e se chama Rússia. A conferir.

Nota sobre a Itália: contra a Espanha (atual campeã do mundo, a mais paparicada de todas as seleções) a velha Azzurra mostra que não há crise capaz de abater a força de seu futebol. Em 1982, o futebol italiano estava numa crise semelhante à de hoje, ninguém dava um tostão furado por sua seleção, e o resultado foi que o time de Paolo Rossi despachou o mitológico Brasil de Telê Santana (ainda vou escrever sobre Telê e explicar por que acho que ele tem de ser desmitificado). Em 2006, apostava-se em todo mundo, menos na Itália, que foi lá e levantou o tetra. Na estreia da Euro, no domingo, a Itália mostrou que pode chegar lá.

Preferi ver o Brasil olímpico contra a seleção principal da Argentina do que Alemanha e Portugal. Mesmo assim, enquanto vi os germânicos contra os lusos, achei muito meia-boca.

O destaque final da primeira rodada: Shevchenko, que, com seus 35 anos e meio desacreditado, mostrou que conhece tudo dentro da área e marcou dois gols de cabeça, daqueles que mostram o que um camisa 9 (embora ele vista a 7) deve fazer, na vitória de sua Ucrânia contra a Suécia por 2 a 1, hoje.

A primeira rodada da Euro 2012

Polônia 1 x 1 Grécia
Rússia 4 x 1 Rep. Tcheca

Holanda 0 x 1 Dinamarca
Alemanha 1 x 0 Portugal

Espanha 1 x 1 Itália
Irlanda 1 x 3 Croácia

França 1 x 1 Inglaterra
Ucrânia 2 x 1 Suécia

Rio+20: expectativas sobre o que o Brasil tem a apresentar

Segundo matéria da Agência Brasil, órgão do governo, "a dois dias da abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, de 13 a 22 de junho, o mundo se volta para o Rio de Janeiro. No que depender do Brasil, o encontro se tornará uma referência internacional na defesa do meio ambiente com desenvolvimento sustentável e inclusão social. Para os brasileiros, é fundamental concentrar as discussões na erradicação da pobreza como elemento essencial à sustentabilidade".

Porém, o que se tem visto na prática, pelo menos de acordo com ambientalistas, é que, como este blog tem dito, a gestão do Meio Ambiente no governo Dilma (assim como Cultura) não tem agradado. A pauta mais polêmica dos últimos tempos, o novo Código Florestal, mostra isso. Nem o veto parcial da presidente Dilma Rousseff no fim de maio, nem a publicação da Medida Provisória 571/2012, para preencher lacunas legais, agradaram.

O diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, por exemplo, disse à CartaCapital no fim do mês passado que "a presidenta, ao contrário do que disseram seus ministros, manteve os dispositivos de anistia aos desmatadores e reduziu a Área de Proteção Permanente (APP)”. Já Marcio Astrini, coordenador de campanhas do Greenpeace, à mesma revista, afirmou: “O [novo] Código Florestal se preocupa com anistiar quem desmatou no passado e dar crédito a quem desmatar no futuro”.

Resta saber o que de concreto vai ser colocado na pauta pelo Brasil na Rio+20. Esperemos.

sábado, 9 de junho de 2012

Dá-lhe, Maria

Divulgação

Incontestável. Maria Sharapova conquistou neste sábado seu primeiro título de Roland Garros e completou o Grand Slam de carreira ao bater a italiana Sara Errani por fáceis 2 sets a 0 (6/3 e 6/2).

A russa já tinha conquistado Wimbledon (em 2004, com apenas 17 anos), US Open (2006) e Australian Open (2008). E é a sexta tenista da história, na era aberta, a levantar os quatro títulos mais importantes do tênis na carreira. Antes dela, conseguiram a façanha Margaret Court, Chris Evert, Martina Navratilova, Steffi Graf e Serena Williams.

Apesar de excepcional jogadora, Sharapova não é a melhor tenista que já vi jogar. A melhor de todas (que vi) foi Steffi Graf. Na maravilhosa final de Paris em 1999, Graf fez a final contra a suíça Martina Hings, queridinha de todos na época (inclusive minha), e arrasou a moça tão espetacularmente que a derrotada não conseguiu evitar uma crise histérica, desabando em lágrimas.

Seja como for, com seu jogo consistente, aliando golpes violentos a um estilo altamente técnico, e tendo superado problemas físicos que punham sua carreira em dúvida, Maria Sharapova não está à toa entre as melhores de todos os tempos.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Roland Garros, Eurocopa, Brasil x Argentina... Enquanto Santos x Corinthians não chega

O rei de Paris

Feriadão, frio, chuva. Enquanto começa a Eurocopa*, prefiro sintonizar a TV no jogaço de tênis Roger Federer x Novak Djokovic** pela semifinal de Roland Garros, para ver quem vai à final contra Rafael Nadal, o rei de Paris: se ganhar en 2012, o espanhol será o maior vencedor no saibro parisiense na história, ultrapassando o lendário sueco Bjorn Borg, conhecido como Ice Borg pela frieza com que jogava. Ambos têm hoje seis títulos cada. Federer, que é freguês de Nadal, ganhou uma vez em Paris (2009), quando o espanhol estava fora de combate por problemas físicos. E Djoko nunca ganhou em Roland Garros.

O troféu europeu
Já a Eurocopa vai ser o programa de futebol mais importante do mês, tirando a Libertadores, que na próxima quarta-feira terá o duelo de gigantes Santos x Corinthians pela semifinal na Vila, e o jogo de amanhã entre a seleção olímpica de Mano Menezes contra a principal da Argentina. Jogo que para mim será importante principalmente quando acabar e Neymar estiver inteirinho da silva para pegar o Timão. Com Neymar o Peixe é favorito; sem Neymar, não. O Brasileirão continua igual a café morno, uma droga.

Quanto à Eurocopa, há quase unanimidade quanto ao favoritismo de Espanha, Alemanha e Holanda. Talvez a França, em processo de renovação, seja uma surpresa. Por algum motivo, acho que a Espanha não leva desta vez. Domingo, aliás, um jogão: Espanha x Itália.

PS:
* Belo jogo (vi o segundo tempo) na abertura da Euro 2012, Polônia 1 x 1 Grécia. Destaque para o goleiro polonês reserva Tyton. Após pênalti e expulsão do titular Szczesny, o grandalhão entrou e pegou a cobrança de Karagounis, salvando a equipe da casa em plena capital Varsóvia (a Eurocopa tem duas sedes este ano: Polônia e Ucrânia).

** Novak Djokovic deu uma surra em Roger Federer (3 sets a 0 - 6-4, 7-5, 6-3) e fará a final de Roland Garros contra Rafael Nadal.

Atualizado Às 15:28

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Veja o trânsito de Vênus


O vídeo é do observatório Solar Dynamics Observatory (SDO), uma sonda não-tripulada da NASA. Sem palavras.



5 e 6 de junho de 2012

terça-feira, 5 de junho de 2012

O trânsito de Vênus e a imaginação do homem


Na cena inicial do filme Visão – sobre a vida de Hildegard von Bingen (2009), um grupo de pessoas está orando à luz de muitas velas. Alguns se penitenciam e a voz do que parece ser um pregador diz: “esperemos por Deus em silêncio”. É a passagem do 11° para o 12ª século de nossa era. Nas trevas mal iluminadas, ouvem-se choros e lamentos. Eles esperam o fim do mundo. Mas eis que o dia amanhece. O mundo não acabou e, para aquelas pessoas, é como se fosse um milagre.

Clique na imagem para ampliar
Imagem do trânsito de Vênus - Reprodução/ NASA

Estamos a mais de 900 anos dos fatos do filme, mais exatamente a 914 anos (considerando que a película fala de uma figura histórica que nasceu no ano de 1098) e nesse exato momento, em 5 de junho de 2012, milhões de pessoas estão fascinadas com o episódio astronômico do trânsito de Vênus pelo Sol – sob a nossa perspectiva, claro, de pobres terráqueos. O trânsito do planeta que em nosso céu também chamamos de Estrela da manhã se dá entre 22h04 GMT (19h04 em Brasília) e terminará às 04h55 GMT (1h55 em Brasília).

Incontáveis conjecturas, fantasias, associações, cálculos e teorias proliferam por todas as partes do mundo. Há quem se lembre dos maias e de interpretações mistificadoras que preveem o fim do mundo para 21 de dezembro de 2012 (mas até essa teoria, para desespero dos adoradores do apocalipse, já parece ter sido superada, com a descoberta recente de uma habitação na Guatemala dentro da qual estaria o calendário maia mais antigo já descoberto: neste, do século IX, não seriam 13, mas 17 os ciclos – chamados baktun –, e portanto não estamos no fim dos tempos nem mesmo segundo os maias).

Voltando ao assunto do post, o trânsito de Vênus nada mais significa que a simples passagem do planeta Vênus entre o Sol e a Terra. Não que, para mim, não haja interferência dos astros na Terra ou de planetas e satélites e o sol, ou sóis, entre si. Negar isso seria negar a matemática. Mas o fato de o Sol, Vênus e a Terra estarem alinhados entre hoje e amanhã só significa que o Sol, Vênus e a Terra estarão alinhados entre hoje e amanhã, fenômeno realmente fascinante que dá margem à imaginação, o que já ocorreu em outros momentos, como nos anos de 1631, 1639, 1761, 1769, 1874, 1882, 2004 e 2012, e só voltará a acontecer em 2117, quando todos vocês que estão lendo este post e eu já estaremos mortos.

O Planeta X, ou Niburu

Sobre fatos fascinantes da astronomia, ainda estamos por saber se existe ou não o planeta X, ou Nibiru, como o chamavam os sumérios. Esse povo que habitou a Mesopotâmia entre 5 e 6 mil anos atrás e deixou a primeira linguagem escrita (cuneiforme) de que se tem notícia conhecia o sistema solar tal como o conhecemos hoje e todos os seus astros: Sol, Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão e Lua. Mas eles também conheciam o planeta Nibiru, como o chamavam, que teria uma órbita elíptica e passaria pelo nosso sistema solar a cada 3,6 mil anos.

Reprodução/Clique para ampliar
Sumérios deixaram legado impressionante

Sabemos que pouco do que a ciência descobre hoje chega ao nosso conhecimento, pois muitas descobertas não são divulgadas por vários motivos e interesses. Às vezes as informações vazam. Em 1982, o jornal The Washington Post publicou matéria com o então cientista-chefe do Infrared Astronomical Satellite (IRAS), Gerry Neugebauer, segundo a qual um corpo celeste do tamanho de Júpiter transitava “na direção da constelação de Órion” (leia aqui).

Estaríamos, talvez (mas isso não se confirma nem se desmente), na iminência de conhecer Nibiru, pois há quem diga que ele passaria próximo da Terra em breve. Vamos aguardar, minha gente. Eu adoraria poder comprovar algo tão fantástico. Mas estou a anos-luz de distância de profetas do apocalipse. Cruz credo.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Jornalismo esportivo acabou


Acabou pelo menos na televisão. Dias atrás, assistindo a um jogo da Libertadores da América, quase no fim da partida dei-me conta de que aquela também era uma data de Copa do Brasil. E que, ligado na Fox Sports, eu não tinha informação de como estavam os duelos desta competição nacional, simplesmente ignorada pela emissora que transmitia a Libertadores, como se o torneio nacional não existisse.

Na TV do plim-plim não existe Olimpíada
A mesma "estratégia" pôde ser observada na transmissão global do jogo da seleção brasileira neste domingo. Como notou o Uol, não se ouviu na TV Globo, durante o duelo em que os mexicanos deram um chocolate e venceram o time de Mano Menezes por 2 a 0 em Dallas (EUA), nenhuma vez a menção de que aquela seleção está se preparando para a Olimpíada de Londres (eu não vejo futebol nessa emissora quando a transmissão é de Galvão Bueno). A informação de que o time do Brasil, formado quase inteiro por jogadores jovens, está enfrentando as seleções principais de outros países também foi ignorada.
Na outra, só há Libertadores

Em suma, a Fox Sports não fala de uma competição transmitida pelas concorrentes (Sportv e ESPN), a Globo ignora o maior evento esportivo do mundo porque os direitos de transmissão para a TV aberta pertencem à Record, e por aí vai. E assim o “jornalismo” esportivo vai se transformando numa fantasia, um objeto comercial travestido de informação. Uma vergonha, como dizia aquele âncora que se manifestou sobre os garis de modo absurdo no final de 2009.

É o cúmulo a maior rede de televisão do país simplesmente fazer de conta que não existem Jogos Olímpicos (eles se preocupam com a tal credibilidade?). Ou uma empresa que detém os direitos de transmissão da Libertadores em TV fechada fingir que não há futebol no Brasil a não ser o que faz parte da competição que eles transmitem.

Como jornalista que sou, sempre entendi minha profissão como uma prática que precisa também ser um serviço. No fundo, a informação é um serviço. Ou deveria ser. Ou era.

sábado, 2 de junho de 2012

Tucanos estão assombrados com Lula


Valter Campanato/ABr
De fato, o minguante PSDB está assombrado com a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presença de Lula com Fernando Haddad no programa do Ratinho causou tamanha indignação nas hostes tucanas que me fez lembrar um episódio durante a campanha eleitoral de 2010.

Estávamos em um táxi, reta final da campanha presidencial. O motorista, um nordestino da Paraíba (não lembro de que cidade) era caladão. Carmem mencionou a eleição, querendo saber dele em quem votaria. Um pouco relutante, disse que ia votar na Dilma. Sua relutância, percebemos depois, era porque não queria polêmicas (ou, quiçá, arrogância tucana) dentro do seu táxi. Pois foi só falarmos que nós também íamos votar em Dilma Rousseff que ele desatou a falar. “Eu voto em quem o presidente mandar”, disse. “E olha, se estiver difícil em 2014 e o homem se candidatar, nem o diabo pode com ele”. E depois explicou que nunca um presidente tinha “olhado pelo povo” do nordeste como Lula. “Onde eu morava não tinha nem luz, e agora tem. As pessoas têm geladeira, televisão”, explicou.

O tucanato, os kassabistas e os demos não sabem como esconder seu pavor pela presença de Lula na campanha de Haddad, cuja candidatura foi lançada oficialmente neste sábado. Porque sabem que não há cabo eleitoral mais poderoso do que Lula.

PPS (o partido da Soninha Francine) e PSDB disseram que entrarão com representação na Justiça contra o PT, o ex-presidente Lula e o SBT por propaganda eleitoral antecipada em favor do pré-candidato à prefeitura paulistana, pela participação no programa do Ratinho.

 Gozado que eles não reclamam de coisas sórdidas como as capas de Veja, com seu jornalismo marrom estilizado que chega a um milhão de assinantes, ou da tal revista Free São Paulo, distribuída aos milhares pela cidade esta semana fazendo ilações entre a morte de Celso Daniel e o PT, e que já anuncia que a campanha este ano vai ser uma baixaria.

De resto, os líderes tucanos acusam o golpe que representa a presença de Lula na campanha de Haddad. É só entrar na página do PSDB na internet para constatar isso. O edificante “Sérgio Guerra critica postura antidemocrática de Lula”. Ou Aécio Neves, um líder mais importante do que o fanfarrão Guerra, afirma: “As últimas declarações do presidente Lula só acentuam a necessidade de retorno do PSDB para garantir a liberdade de imprensa e o respeito às instituições”, afirmou ele, sobre a presença de Lula no Ratinho, quando o ex-presidente afirmou que “não permitirá” a volta dos tucanos à presidência da República. Só mesmo rindo da luta tucana para “garantir a liberdade de imprensa e o respeito às instituições”.

O mais engraçado e irônico é que, ao entrar na homepage do partido de José Serra, me deparei com um aviso do Windows no alto da página, que avisava numa tarja amarela: “Esta página possui conteúdo suspeito”. E dava duas opções: “Não carregar (recomendado). Carregar mesmo assim”.

Não me culpem nem acusem de nada, por favor. Vão reclamar com o Bill Gates.

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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pensamento para sexta-feira [número 31] – Nunca discuta com um cobrador de ônibus (fatos reais!)



O Grito, de Edvard Munch

Por Alexandre Indiana

Hoje pensei que fosse tomar uma surra! Papo de cobrador de ônibus. 14 horas. Entrei como sempre, a fim de obter bilhete de metrô. Perguntei ao cobrador se tinha bilhete e ele respondeu que não. Comecei a reclamar, dizendo que a porra da empresa tinha que fornecer e que isso acontecia toda hora. O cara fez cara feia e falou: “desce e pega outro e já era”. Foi o que ia fazer, quando não sei por que cargas d'água fiz um gesto com a mão, tipo vá se danar, mas não disse nada. Nem era pra ele na verdade.

O cara levantou-se da cadeira, pulou a catraca e veio pra cima. Era um touro, físico de peão, do tipo taludo e alto. A porta não abria e pensei: fodeu. Tomei um chute na bunda e nisso a porta se abrindo e eu saindo, não esperando que ela se abrisse por completo. É patético, mas fiquei assustado. Pensei que o cara ia me dar um tiro, sei lá. Desci e o filho da puta desceu também. Daí comecei a correr e o cara correndo atrás de mim. Meu Deus, como corri hoje. Graças a Deus fui mais rápido. Vi o cara a uma boa distância e então pude respirar aliviado. Comecei a falar de longe coisas, tipo "vou anotar o n° do ônibus, seu animal". E o cara voltou a me perseguir, mas já não dava pra ele me alcançar. Finalmente ele se foi e fui me recuperando. Que horror.