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sexta-feira, 5 de junho de 2015

A (feliz) campanha do Boticário e a doença da homofobia



Reprodução/Youtube


Ainda não conhecia e acabo de ver a polêmica peça publicitária d' O Boticário  para o Dia dos Namorados (você pode assistir em link abaixo neste post).

A primeira observação é que a campanha é muito feliz, enquanto propaganda em si. Criativa e delicada. Em segundo lugar, a peça é oportuna, diante da onda reacionária que está em todos os segmentos da sociedade brasileira por parte de pessoas que não entendem a realidade ou fingem que estão em outro planeta.

Curiosamente, um "consumidor" encaminhou uma reclamação a um site da grande imprensa para dizer que "o Boticário perdeu a noção da realidade, empurrando essa propaganda que desrespeita a família brasileira. Não tenho preconceito mas acho que a propaganda é inapropriada para a TV aberta", disse o missivista, concluindo: "a partir de hoje não compro mais nem um só sabonete lá e eu era cliente".

O destaque da fala do tal consumidor é a cômica frase "o Boticário perdeu a noção da realidade". De qual realidade essa pessoa está falando? É também típica a observação "Não tenho preconceito mas...", com a qual os preconceituosos costumam abrir suas perorações.

Dias atrás o pastor Silas Malafaia – esse porta-voz do obscurantismo medieval – "conclamou" seus seguidores evangélicos a não comprar no Boticário depois da campanha. O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), que não serve para nada, pois é controlado pelas próprias empresas de propaganda, abriu um processo para "julgar" a peça do Boticário devido às reclamações que recebeu.

Curioso que os homofóbicos preocupados com a saúde mental de uma sociedade doente (aliás, de uma doença da qual eles próprios são o principal sintoma), não se preocupam com a excrescência do Big Brother da TV Globo.

Também não se preocupam com as campanhas publicitárias de carro, que descaradamente incentivam a velocidade e o poder de imbecis que compram suas máquinas e saem pelas ruas atropelando o bom senso e matando pessoas.

Ou as piores publicidades que existem, as de medicamentos, que incentivam a automedicação e o uso de substâncias cujos verdadeiros efeitos ninguém, a não ser os laboratórios, conhece.

Estas sim, as propagandas de drogas, deveriam ser proibidas pelo Estado, mas os governos que se sucedem não têm coragem de se impor contra esse tipo de abuso, reféns covardes que são da "liberdade de expressão" em nome da qual tudo pode. 

O incentivo ao consumo de drogas de laboratório e à insanidade de motoristas cujos brilhantes automóveis são armas de matar nas ruas do país – isso, sim, deveria ser proibido. 

sábado, 30 de agosto de 2014

Marina se dobra a Malafaia. Imagine Marina presidente



Malafaia comemora no Twitter o recuo de Marina e ataca Jean Wyllys









Marina Silva deu a primeira grande brecha em sua campanha. Apenas 24 horas depois de lançar seu programa de governo, no qual defendia o casamento civil entre homossexuais, ela voltou atrás. A campanha da candidata alegou, em nota oficial, que o recuo foi causado por “uma falha de diagramação”. “Agora, a nova redação não defende alterações na legislação. Ressalta apenas a garantia 'de direitos oriundo da união civil entre pessoas do mesmo sexo', o que já foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”, esclarece matéria do Correio Braziliense. Ontem, no lançamento do seu programa de governo, Marina Silva já  havia dito, sobre o aborto, que defende o que prevê a lei já existente.

Mas isso não é tudo. A candidata do PSB recuou após pressão feita pelo deputado Silas Malafaia em sua conta no Twitter. Depois da divulgação do programa de governo de Marina, Malafaia chamou a proposta sobre a causa LGBT de “vergonha pior do que do PT e do PSDB”.  "Aguardo até segunda uma posição de Marina. Se isso não acontecer, na terça será a mais dura fala que já dei até hoje sobre um presidenciável", escreveu no twitter.

 O jornalista Ricardo Noblat, que todo mundo sabe não ser nenhum esquerdista que come criancinha, escreveu: "Pegou mal. Ontem, Marina retificou parte do seu programa de governo sobre energia nuclear. Hoje, sobre LGBT. O que de fato ela pensa?"

“Bastaram quatro tuites do pastor Malafaia para que, em apenas 24 horas, a candidata se esquecesse dos compromissos de ontem, anunciados em um ato público transmitido por televisão, e desmentisse seu próprio programa de governo, impresso em cores e divulgado pelas redes”, escreveu o deputado do PSOL do Rio de Janeiro Jean Wyllys no Facebook. “Marina, você não merece a confiança do povo brasileiro!”, acrescentou o parlamentar.

Imaginem Marina presidente do Brasil. Cedendo a pressões das bancadas mais reacionárias da política brasileira e do Congresso Nacional. Manipulável por neopentecostais, ruralistas, banqueiros e grandes empresários. E com uma fraqueza política comparável a Collor e Jânio Quadros.

Seria o pior dos mundos.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Homofobia: Justiça nega prisão de agressor de pai e filho

Por Raoni Scandiuzzi
Da Rede Brasil Atual


Dois dos seis agressores que espancaram um pai e um filho, na madrugada de sexta-feira (15), durante uma exposição agropecuária de São João da Boa Vista, foram identificados pela polícia. O pedido de prisão preventiva feito pelo delegado titular do 1º Distrito Policial, Fernando Zucarelli, foi negado pela Justiça.

As vítimas foram interpeladas por um grupo de seis jovens e questionadas se eram gays, antes de serem atacadas. Um dos rapazes que confessou a participação negou, em seu depoimento, ter agido por discriminação sexual. Segundo o delegado Zucarelli, não há data marcada para ouvir o outro identificado.

Há mais de dez anos, tramita no Congresso Nacional uma lei para criminalizar a homofobia, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/06. Pela dificuldade de acordo com a bancada religiosa da Casa, foi elaborado um novo projeto, batizado de Lei Alexandre Ivo, para tratar do tema.

Alexandre Ivo, de 14 anos, foi assassinado brutalmente por um grupo de skinheads quando voltava de uma festa, em São Gonçalo (RJ). A suposição de que o garoto seria homossexual, teria movido a ação violenta da gangue.

As organizações de defesa dos direitos humanos e do respeito à liberdade de orientação sexual criticam a morosidade na tramitação da lei e veem no conservadorismo do Congresso Nacional um dos grandes empecilhos ao combate à violência movida pelo preconceito e a discriminação.

Autônomo, de 42 anos, o homem que teve um pedaço da orelha cortada estava abraçado ao filho quando ambos foram interpelados – eles não se viam havia dois meses. "Eu não sou gay, meu filho não é gay, mas a gente não tem nada contra. E aí se a gente fosse? E quem é? Meu Deus, se a pessoa não tiver o direito de viver como ela acha que deve, o que a gente faz", disse ele, em entrevista a Tatiana Fávaro, d'O Estado de S. Paulo.

Leia também sobre episódio da agressão na avenida Paulista: Truculência do povo das sombras [1] – avenida Paulista

terça-feira, 28 de junho de 2011

Myrian Rios, Bolsonaros e a reação esperneiam, mas “a História é um carro alegre”

As declarações da atriz e deputada estadual Myrian Rios (PDT-RJ) não merecem a relevância que recebem. Não que as “ideias” manifestadas pela ex-esposa de Roberto Carlos não sejam condenáveis. São, e foram rebatidas categoricamente em nota oficial da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), que você pode ler aqui.

Mas esses soluços de reação me fazem lembrar a célebre frase de Regina Duarte, outrora “namoradinha do Brasil”, quando disse “eu tenho muito medo”, em 2002. São manifestações naturais quando transformações históricas e irrevogáveis estão em curso. Muitos setores não entenderam ainda o que significa estar em 2011, o primeiro ano da segunda década do século XXI, e simplesmente reagem. Reagem em vão.

(Parênteses: note-se que a deputada católica extremamente praticante é do partido, o PDT, de ninguém menos do que o deputado federal Brizola Neto. Precisa dizer mais alguma coisa? Precisa, e provavelmente por isso a deputada Myrian Rios logo veio a público pedir desculpas pelas ideias temerárias que andou defendendo em discurso na Assembleia Legislativa fluminense).

O fato é que os passos rumo a uma nação laica, com cada vez menos preconceitos e discriminação, estão sendo dados, e não só em retórica, luta ou discurso, mas juridicamente também. Jurisprudências vão se consolidando de maneira cabal, o que mostra o caráter inexorável da evolução.

Exemplos recentes mas já clássicos:

- O reconhecimento, por 10 votos a zero, pelo Supremo Tribunal Federal, da união homoafetiva, no início de maio (leia aqui).

- a decisão do juiz Fernando Henrique Pinto, da 2ª Vara da Família e das Sucessões de Jacareí (SP), autorizando esta semana que o casal gay Sérgio Kauffman e Luiz André Moresi realizasse um casamento civil (esta decisão já foi influência do entendimento do STF sobre união homoafetiva).

- o Estado laico também foi contemplado em maio de 2008, quando o STF considerou constitucionais as pesquisas com células-tronco embrionárias no país, uma decisão que derrotou as inclinações mais obscurantistas da sociedade, representadas no próprio Supremo, e deu aval para que a Ciência possa se desenvolver no país.

E outras decisões virão.

É certo que, como vimos na estratégia sórdida da campanha eleitoral tucana em 2010; nas agressões homofóbicas persistentes; ou na repressão covarde da polícia paulista à Marcha da Maconha em São Paulo, não se pode baixar a guarda. Mas, até neste caso, em julgamento neste junho de 2011, o STF deu um basta à intolerância, declarando liberadas as manifestações desse tipo, em nome da liberdade de manifestação e expressão.

Não se pode baixar a guarda, tampouco, no combate ao famigerado AI-5 digital, uma sombra que paira sobre as liberdades introduzidas pela internet na vida das pessoas e na própria forma de fazer política, combate urgente a ser travado nas instâncias de luta adequadas (das redes sociais ao Congresso Nacional).

Apesar de tudo, ao contrário dos soluços reacionários, as lutas é que não têm sido vãs, e as vitórias delas decorrentes são notórias, como vimos. Outras Reginas Duartes e Myrian Rios, outros Bolsonaros e quetais continuarão esperneando e vociferando. Mas, como escreveu Pablo Milanes em Canción por La Unidad de Latino América, interpretada lindamente por Chico Buarque e Milton Nascimento:

“A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue”

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Punição por homofobia contra Michael, do vôlei, é para inglês ver


Michael (dir.) foi xingado em Contagem

Foi noticiado hoje na imprensa que, “pela primeira vez na história do país, a Justiça Desportiva impôs uma condenação por ‘ato de homofobia’” (conforme o Estadão), referindo-se à decisão da Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) impondo multa de R$ 50 mil ao Sada/Cruzeiro.

Em 2 de abril, em Contagem (MG), a torcida da equipe mineira manifestou-se em peso com ofensas homofóbicas contra o atleta Michael, do Vôlei Futuro, em partida pela semifinal da Superliga Masculina de Vôlei. Depois do episódio, o jogador disse ser gay.

A tal punição imposta ao time mineiro é para inglês ver.

Acontece que, em esportes de alto rendimento (ou seja, dinheiro) hoje em dia, punir com R$ 50 mil um time de grande investimento e nada é a mesma coisa. O que pega, de fato, é punição esportiva, perda de pontos, de mando de campo. O Vôlei Futuro, time de Michael, protestou e disse que a denúncia que fizera citava um artigo do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) que determina a perda dos pontos do jogo ao infrator. Segundo o time de São Paulo, o procurador que cuidou do caso “alterou o parágrafo incidido, que previa apenas multa”.

O Vôlei Futuro protestou ainda pelo fato de o tribunal ter marcado a terceira partida do playoff semifinal para esta sexta-feira (às 20h30, em Contagem), no mesmo local das agressões. "A responsabilidade de tudo que acontecer, antes, durante e depois da partida será deles (STJD)”, disse a equipe paulista em nota.

Com toda razão.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Professor espera que, desta vez, Bolsonaro "tenha o que merece"

Ricardo Dias/ Foto: Eduardo Metroviche

Professor do departamento de Comunicação Social do Unifieo, em Osasco, Ricardo Dias falou ao blog sobre o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Na última segunda-feira, no programa CQC, ao responder a uma pergunta da cantora Preta Gil sobre o que ele diria se seu filho se apaixonasse por uma negra, o parlamentar afirmou: “não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja”.

Diante da repercussão, em entrevista a Terra Magazine o deputado disse, depois, que tinha entendido a pergunta errado: “Eu entendi que ela me perguntou o que eu faria se meu filho namorasse um gay”. Leia depoimento do professor Ricardo Dias.

Fatos Etc - Como o senhor recebe as declarações racistas e homofóbicas do deputado Bolsonaro ao programa CQC?
Ricardo Dias - É uma pessoa desclassificada, uma pessoa desprezível. Nós sabemos que ele tem um histórico de denúncias, de ter sido denunciado por crimes e não ter sido condenado. Eu imagino o seguinte: se o tipo de declaração que ele deu já não tem algum propósito no sentido de criar essa dúvida na cabeça das pessoas. Então, na verdade, ele estava se referindo ao negro ou estava se referindo aos homossexuais? Como se uma declaração dessas, com relação aos homossexuais, não fosse também passível de crime de homofobia. Mas eu fico pensando se ele não fez isso de propósito para confundir qualquer julgamento por parte da Justiça. Eu espero que isso não aconteça e que ele, se possível, seja condenado não só por racismo, como também por homofobia.

O mais assustador é que ele é um homem público, eleito deputado federal, que deliberadamente comete um crime inafiançável que é o racismo, como se nada o amedrontasse. O senhor teme a impunidade mais uma vez, nesse caso?
Temo. Temo sim, porque a questão foi colocada nesses termos, para causar dúvida. E infelizmente nós sabemos que, por questões jurídicas, é em dúvida pro-réu [In dubio pro reo, princípio jurídico da presunção da inocência]. Mas nós estamos sentindo bons ventos soprando com relação à Justiça, que tem se posicionado de forma cada vez mais coerente, mais clara. Então quem sabe desta vez ele tenha o que merece.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Truculência do povo das sombras [1] – avenida Paulista

O povo das sombras não se cansa de atacar. Como se sabe, na manhã de domingo quatro menores  de idade e Jonathan Lauton Domingues, de 19 anos, todos de classe média, foram presos em flagrante depois de, segundo a polícia, espancar quatro jovens em três momentos diferentes, gratuitamente, feito pitbulls enfurecidos, na madrugada do mesmo dia. Ou melhor, por um motivo: as vítimas serem homossexuais, ainda de acordo com a polícia.

Eles foram soltos após audiência na Vara da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça (TJ) no domingo, 15. Os quatro adolescentes (três de 16 anos e um de 17) vão responder por ato infracional. Já Jonathan responderá, em liberdade, pelos crimes de lesão corporal, roubo e formação de quadrilha. Segundo o TJ, ele não tem antecedentes criminais e possui residência fixa.

Veja reportagem da Rede Record:



O pai de Jonathan, Eliezer Domingues Lima, deu a seguinte justificativa para a suposta atitude do filho: "É um menino muito bonito e foi assediado por homossexuais. Ele pediu para parar, eles não pararam. Aí, virou briga".

Se algum conselho adiantasse, eu diria a esse pai que procure tratamento para seu “menino bonito”. Vamos, hipoteticamente, admitir que o rapaz tenha mesmo sido paquerado. E daí? Seria motivo para reagir como um cão raivoso? Sim, se o agressor tiver problemas psicológicos, como enormes dúvidas inconscientes sobre sua própria masculinidade.

Apesar da covardia homicida, dos danos físicos e morais, a lei protege os menores e a Justiça brasileira se encarrega de socorrer o maior de idade. A mãe de um dos suspeitos da agressão, que não quis se identificar, disse que os jovens “saíram para se divertir, para pegar as menininhas na balada”. E só.

Segundo o Estadão, o promotor da Infância e Juventude Thales Cezar de Oliveira saiu-se com essa pérola: “...deixar alguém internado por briga, em um país em que não se consegue levar um assaltante para a cadeia...”

Mayara Petruso
O ataque aos nordestinos, emblematizado pela estudante Mayara Petruso e decorrente da vitória de Dilma Rousseff, não é isolado e nem casual. Não estou dizendo que tucanos são responsáveis por quaisquer atos de violência, mas parte da sociedade brasileira manifesta uma intolerância inaceitável.

O povo das sombras não pára de mostrar sua face. E a Justiça, a sua benevolência para com quem pode pagar bons e caros advogados.

PS: Durante a campanha eleitoral, escrevi alguns posts, na série intitulada “Episódios da truculência tucana”, que perdeu o sentido após as eleições. Vou continuar a idéia, sem definir uma periodicidade, com outra série similar, “Truculência do povo das sombras”.

O próximo será o episódio de uma amiga que, depois de quase ser atropelada por um carro em marcha à ré, ainda foi xingada e ameaçada de agressão por um homem emocionalmente descontrolado, como se ela fosse culpada de estar atrás do automóvel.