sexta-feira, 29 de março de 2013

São Paulo em imagens – Di Cavalcanti




A imagem é de um lindo painel de pastilhas de ninguém menos que Di Cavalcanti. Está na fachada do Edifício Triângulo, no cruzamento das ruas José Bonifácio e Quintino Bocaiúva. O prédio foi projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1955.

O detalhe lamentável é que, além de deteriorado, o painel (você pode ver a foto ampliada clicando nela)  está remendado de maneira tosca com ladrilhos sujos e que não têm nada a ver com o desenho. Se fosse uma tela, é como se tivessem colado um pedaço para remendar ou pintado com  uma tinta qualquer para corrigir algum dano.

É um incrível exemplo de duas coisas: 1) a cidade de São Paulo tem verdadeiros tesouros escondidos em sua imensidão; 2) muitos desses tesouros são ignorados não apenas pelos cidadãos que deviam zelar pelo patrimônio e a história como, pior, pelas chamadas autoridades competentes.

Imagine um painel de, sei lá, digamos, um Cézanne, em Paris, estragado pelo tempo e esculhambado pela ignorância imbecil de cidadãos que nem sabem o que estão vendo. É impensável. No Rio de Janeiro, fizeram uma estátua de Carlos Drummond de Andrade, que está em Copacabana e, vira e mexe, é depredada por criaturas que, suponho, são gorilas fugidos do zoológico, pois custa crer que cidadãos mesmo sejam capazes de fazer coisas do tipo. Pobre Brasil.

Veja também outras fotos interessantes de São Paulo clicando neste link: São Paulo em imagens

quinta-feira, 28 de março de 2013

De Mirassol e Palmeiras – e de como se vai longe pensando em goleadas históricas



Mirassol 6 x 2 Palmeiras

Reprodução
Gilson Kleina: "Temos que levantar a cabeça"
Perder do Mirassol de meia dúzia a dois não é toda hora que acontece, pra nenhum time. Ainda mais sendo o goleado o Palmeiras. Nem o Verdão jogar sem oito titulares justifica o gigante tomar sova tão implacável (Maurício Ramos, Vilson, Leandro Amaro, Henrique, Souza, Maikon Leite, Kleber Pinheiro e o eterno Valdivia não atuaram). "Temos que levantar a cabeça", disse o técnico Gilson Kleina. Deu dó mesmo foi do zagueiro Márcio Vinícius, moleque ainda, zagueiro. Foi o primeiro jogo profissional do guri. Aos 40 segundos de jogo já fazia seu gol de estreia na carreira. Um gol contra. Haja terapia. Torço pra que o garoto se refaça do trauma.

Mas goleadas assim servem pra alguma coisa. Por exemplo, faz pensar em como o Santos de Muricy tem dificuldade em fazer gol. Não fez nenhum no Alviverde, na Vila, enquanto o poderoso Mirassol fez 6 só no primeiro tempo. Jogo engraçado esse Mirassol 6 x 2 Palmeiras. Todos os 8 gols marcados no primeiro tempo.

A segunda coisa em que um placar estranho como esse me faz pensar é em goleadas inesquecíveis. Lembro de algumas:

São Paulo 2 x 7 Portuguesa – Campeonato Brasileiro (20/09/1998) – lembro de ouvir a notícia do resultado ao ligar o rádio. Motivo de comemoração. “Grande Lusa”, pensei.

Palmeiras 2 x 6 Fluminense - Brasileiro (7/11/2001) – me recordo porque eu estava desempregado. Foi um jogo num horário imbecil, dessas invenções típicas dos gêenios que gerem o futebol brasileiro. Era um dia de semana, no meio da tarde.

Vasco da Gama 7 x 1 São Paulo - Brasileiro (25/11/2001) – ou será esse de cujo resultado ouvi a notícia ao ligar o rádio, e não o São Paulo 2 x 7 Portuguesa acima? Fiquei em dúvida. Mas com certeza também foi motivo de comemoração.

Palmeiras 2 x 7 Vitória - Copa do Brasil (23/04/2003) – não me lembro deste jogo a não ser de assistir aos gols, sendo que o último foi o goleiro Marcos dando um frango, meio que como se disse: “vai tomar no...”

Santos 8 x 1 Guarani - Copa do Brasil (14/04/2010) – até postei no blog sobre esse jogo, no contexto do aniversário de 98 anos do Santos F. C., no mesmo dia dos 8 a 1 (neste link). Foi no ano da graça de 2010, quando o Santos de Neymar e Ganso encantava o Brasil e o Peixe depois veio a ser campeão da Copa do Brasil.

Ah, e já ia esquecendo...

Corinthians 7 x 1 Santos (06/11/2005) – Brasileiro – bem, esse foi do Brasileiro de 2005, a maior esculhambação da história do futebol brasileiro, o dos 11 jogos anulados pelo então presidente do STJD Luiz Zveiter (algo jamais visto em campeonato algum), o campeonato em que circulou o nome do russo Boris Berezovsky, representado no Brasil pelo iraniano Kia Joorabchian, o Grande. Berezovsky, acusado de envolvimento com a máfia russa, morreu na semana passada, sob circunstâncias ainda não esclarecidas. Foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento, em Londres.

Como se vai longe pensando em grandes goleadas!

terça-feira, 26 de março de 2013

Recepcionado pelo tucanato paulista, Aécio Neves tem o apoio de Alckmin



Publicado originalmente na Rede Brasil Atual 

George Gianni/Divulgação - PSDB
Alckmin, Aécio e FHC, ontem, em São Paulo

Em clima de campanha, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi recebido ontem à noite (25) pelos principais caciques tucanos de São Paulo em ato político realizado pelo diretório estadual do partido. Aécio chegou ao encontro acompanhado do governador paulista, Geraldo Alckmin, poucos minutos depois do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O ex-governador José Serra, que estaria de saída do PSDB devido à perda de espaço para Aécio, não apareceu, sob pretexto de que já havia marcado viagem para os Estados Unidos na mesma data.

Em seu discurso, Alckmin pela primeira vez foi claro sobre seu apoio ao senador mineiro para presidir a legend, a partir da convenção de maio, e ser o candidato tucano na sucessão presidencial de 2014: “Que você, Aécio, assuma a presidência do PSDB, percorra o Brasil, ouça o povo brasileiro, fale ao povo e una o PSDB”.

À pergunta sobre a cobrança do partido para assumir a pré-candidatura, Aécio foi cauteloso. “Ainda não está na hora. Não é uma questão individual, é uma decisão que o partido vai tomar na hora certa”. Porém, o presidente do partido no estado, deputado Pedro Tobias, discursou: "A militância quer lançar candidato já". O secretário Estadual de Energia do governo Alckmin, José Aníbal, indagado pela RBA se Aécio será o candidato a presidente, também não ficou em cima do muro: “Isso ficou claro hoje”.

Ao chegar ao evento, questionado se o clima era uma indicação de que a candidatura de Aécio, na prática, está sendo lançada em São Paulo, Fernando Henrique desconversou. “Não, não, a campanha é para a presidência do partido”, afirmou. A ele coube também explicar a ausência de José Serra. Segundo o ex-presidente, Serra, a quem chamou de “dileto amigo”, viajou aos Estados Unidos para participar de uma homenagem ao economista Albert Hirschman, morto em dezembro. “Eu me sinto representado por ele lá, e espero que ele se sinta representado por mim aqui.”

O ex-governador de Minas se preocupou em afagar os correligionários paulistas, onde seu nome ainda encontra resistências. “Aqui foi que tudo começou. O PSDB do Brasil inteiro deve muito aos paulistas, às lideranças que aqui estão, a outras lideranças extraordinárias como Mário Covas e Franco Montoro, à liderança de José Serra”, declarou Aécio.

Segundo o senador, o PSDB vai entrar na campanha do ano que vem em busca “do início de um novo ciclo" e voltou a criticar o suposto "aparelhamento" da máquina pública no governo do PT, afirmando que irá substitui-lo pela "meritocracia".

Apesar do discurso recorrente dos tucanos, levantamento publicado há uma semana pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que o PSDB lidera em total de cargos de confiança (onde se daria o "aparelhamento) entre os governos estaduais.

Aécio também voltou a falar em "ética" e "eficiência". “O PSDB não tem sequer o direito de se negar a apresentar ao Brasil uma alternativa a esse modelo de governo que aí está, do ponto de vista ético, da eficiência, de uma visão mais moderna de país e de mundo.”

Também nesse ponto, dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que entre os anos 2000 e 2012 o PSDB é o terceiro partido com mais políticos cassados por corrupção (58), ficando atrás apenas do PMDB (66) e do DEM (69). O PT, alvo de Aécio, estava em 9º no ranking, com dez.

Unidade

A palavra de ordem nos discursos e nas entrevistas foi unidade. “O PSDB vai marchar junto para que possa apresentar-se ao país com força e vigor. O sentido dessa festa é de congraçamento e mostrar que estamos todos juntos”, resumiu Fernando Henrique em rápida e tumultuada coletiva ao lado de Alckmin, Aécio, do presidente nacional do partido, Sérgio Guerra, e do presidente estadual, deputado Pedro Tobias.

“Temos certeza que estamos começando a reorganizar o partido”, avaliou FHC. “À arrogância do governo [federal], vamos responder com nossa unidade”, pregou Aécio.

“Estamos aqui para mostrar que o partido está unido”, pontuou o senador Aloysio Nunes Ferreira. Sérgio Guerra também mencionou a unidade, mas foi mais claro ao rapidamente resumir “as duas coisas importantes” que tinha a dizer: “ao adversário interessa nos dividir e confundir, a nós interessa a unidade; as condições favorecem uma candidatura que, estou convencido, deve ser a de Aécio”.

No discurso à militância, o senador e ex-governador mineiro mencionou sua história pessoal, lembrou o avô Tancredo Neves e voltou a atacar os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, chamando-os de “projeto de poder do vale-tudo” e protagonista do “mais perverso aparelhamento da máquina pública”. Segundo Aécio, “o maior programa de distribuição de renda não é o Bolsa Família, é o Plano Real”.

No final do evento, quando Aécio lutava para ultrapassar uma pequena multidão que se interpunha entre ele e o carro que o aguardava à saída, uma militante se aproximou e entregou-lhe uma réstia com várias cabeças de alho e um crucifixo, dizendo: “Um presente para te proteger do José Serra”. Dando muita risada, Aécio respondeu: “José é aliado. Isso aqui vai proteger contra os adversários”.

PSDB, Aécio Neves,Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, eleições 2014

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mesmo na terceira, "dá-lhe Juve"






Por Vitor Nuzzi

A jovem se espanta com o aviso da bilheteria: é proibido entrar com camisa de times "rivais", ou seja, Corinthians, Palmeiras e São Paulo. Ela, que usava camisa do tricolor, foi perguntar para o guarda e teve a mesma resposta: não pode. No estádio Conde Rodolfo Crespi, a popular Rua Javari, na Mooca, coração paulistano, quem manda é o Juventus, que na manhã do sábado 23 disputaria uma partida de vida ou morte com o Guaratinguetá, do Vale do Paraíba. O Moleque Travesso bem que se esforçou, mas não evitou a derrota (3 a 1), a 12ª em 18 rodadas, e acabou rebaixado para a série A-3, a terceira divisão do campeonato paulista.

Mas não teve choro. Pelo contrário, parte dos 1.098 pagantes (entre eles uns 20 torcedores do Guará) subiu no alambrado ao final da partida e continuou gritando o nome do time, com direito a um "Dá-lhe, Juve" ao ritmo da "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso. A torcida do Juventus é a mais interativa do Brasil, talvez a mais fiel. E a Mooca continua sendo um território à parte no universo futebolístico paulistano.

A derrota e o rebaixamento ocorreu 30 anos depois de uma das maiores glórias do onze juventino, a conquista da Taça de Prata de 1983, o equivalente na época à segunda divisão do campeonato brasileiro, com duas vitórias (3 a 0 e 1 a 0) e uma derrota (3 a 1) para o CSA, de Alagoas. Jogavam no Moleque atletas como Deodoro (que depois seria treinador), Nelsinho Batista e Gatãozinho. O técnico era Candinho.

No jogo de sábado, o Guaratinguetá nem deu chance para o Juventus pressionar. Fez 1 a 0 logo aos 4 minutos, com Cleiton. Após os 20 minutos, o time da casa deu sufoco, pôs uma bola no travessão, mas não conseguiu empatar. Depois do intervalo, com gente ainda na fila para comprar os famosos canoles do seu Antônio, o Juventus apertou e conseguiu o gol aos 8 minutos, com Pedro Rocha (qualquer semelhança com o lendário uruguaio  do Peñarol e do São Paulo é mera coincidência, mas o rapaz sabe fazer gols). Animado e apoiado pela torcida, o Moleque foi para cima, teve chances de virar o placar, mas sofreu dois gols de contra-ataque em apenas três minutos, com Renato Peixe (27 minutos) e Douglas Tanque (aos 30, fazendo fila na defesa), e se entregou.

Não teve vaia nem tentativa de agressão. A torcida cantou e certamente continuará acompanhando o Juventus da Mooca, onde ele estiver. A despedida da segunda divisão será no próximo fim de semana, contra o Comercial, em Ribeirão Preto.


sábado, 23 de março de 2013

Santos e Palmeiras fazem possível único confronto de 2013




Um dia já se enfrentaram Pelé e Ademir da Guia
Os últimos quatro anos do confronto entre Santos e Palmeiras (veja abaixo) desmentem a suposta “freguesia” alvinegra para o time da capital. De 2009 a 2012 (quatro anos é o período de uma Copa do Mundo) os times se encontraram 14 vezes. Foram 7 vitórias do Palmeiras, 5 do Santos e só 2 empates. O que mostra pequena vantagem palmeirense num cenário de equilíbrio.

A foto acima provoca nostalgia, mas vocês, mais jovens, imaginam ver Pelé e Ademir da Guia duelarem? Eu praticamente não tenho memórias específicas desse duelo, tenho apenas reminiscências.

Sobre o prélio meio murcho deste domingo de março, acho que o maior atrativo é um dado curioso: se o alvinegro e o alviverde não se encontrarem nos mata-matas do Paulistão, o encontro deste domingo pelo Campeonato Paulista poderá ter sido o primeiro e último entre ambos em 2013, já que o Palmeiras está na segunda divisão do Brasileiro.

A ressalva é que talvez venham a duelar pela Copa do Brasil... Isso porque este ano os times que estão na Libertadores (Grêmio, Fluminense, Corinthians, Atlético Mineiro e Palmeiras) disputarão a competição, a partir das oitavas-de-final.

Na possível única partida entre os rivais do Palestra e da Vila Belmiro em 2013, o Peixe joga sem Neymar. O Palmeiras, desfalcado de Henrique, Valdívia e outros menos importantes.


Confrontos de 2009 a 2012

2012

Paulista
Santos 1 x 2  Palmeiras

Brasileiro
Palmeiras 1 x 2 Santos
Santos 3 x 1 Palmeiras

2011

Paulista
Santos 0 x 1 Palmeiras

Brasileiro
Palmeiras 3 x 0 Santos
Santos 1 x 0 Palmeiras

2010

Paulista
Santos 3 x 4 Palmeiras

Brasileiro
Palmeiras 2 x 1 Santos
Santos 1 x 1 Palmeiras

2009

Paulista
Palmeiras 4 x 1 Santos
Palmeiras 1 x 2 Santos (semifinal)
Santos 2 x 1 Palmeiras (semifinal)

Brasileiro
Palmeiras 1 x 1 Santos
Santos 1 x 3 Palmeiras


O preço da Copa do Mundo


Sérgio Cabral vai entrar para a história como comandante da tropa de choque que promoveu a ação para desocupar o antigo Museu do Índio, no bairro do Maracanã.



Fotos: Tânia Rêgo/ABr










Notícia do jornal inglês Daily Mail

"Tumulto no Maracanã! Policia brasileira dispersa irado protesto
como parte das preparações para a Copa do Mundo"






quinta-feira, 21 de março de 2013

Brasil e Itália, jogo que traz lembranças e golaços


Tarde de um dos maiores clássicos do futebol mundial. Brasil x Itália. Tarde de lembranças e de golaços. Lembranças, para citar duas, como as das Copas do Mundo de 1970 (Brasil 4 a 1 na final e tricampeão) e de 1982 (Itália 3 x 2, eliminando o escrete canarinho, que ficou fora da semifinal no dia da chamada "tragédia de Sarriá"). A Itália sagrou-se campeã após bater Polônia (por 2 a 0 na semi) e Alemanha (3 a 1 na final).

E golaços como o de Oscar no jogo de hoje, Brasil 2 x 2 Itália, amistoso disputado na Suíça. O meia completou com tremenda categoria passe de Neymar depois de contra-ataque fulminante puxado pelo próprio craque santista, com a habitual velocidade, inteligência e habilidade; e o golaço de Balotelli, de cobertura, ao perceber o goleiro brasileiro Júlio César adiantado.

Belo jogo, cheio de alternativas, lá e cá, disputado por duas seleções que dispensam comentários, que têm juntas 9 Copas do Mundo. Com o primeiro tempo terminando 2 a 0 pro Brasil, a impressão era de vitória muito provável. Mas a Azzurra é sempre forte. Foi pra cima e empatou. Bom aperitivo para a Copa das Confederações no meio do ano, quando Brasil x Itália voltam a duelar, desta vez em jogo oficial.




O time de Felipão

Scolari insiste em Júlio César no gol, cujo ciclo pra mim se encerrou em 2010, depois de falhar na derrota por 2 a 1 para a Holanda, que nos desclassificou nas quartas-de-final. Muitos acham que não, mas o gol de Balotelli hoje foi uma falha do arqueiro brasileiro. “Foi no ninho da coruja”, dizem. E foi mesmo. Mas já vi muito goleiro pegar bola ali (exemplo: Rogério Ceni na final contra o Liverpool em 2005, quando o goleiro praticamente deu o título mundial ao São Paulo).

Voltando à seleção, o barco vai mesmo navegar com Felipão até 2014. Independentemente de se gostar ou não (eu não gosto) do futebol de Scolari, tenho séria impressão de que ele pode acertar, pois tem carisma, faz o esquema dele e se emplacar... Agora, com Hulk não dá. Júlio César já não deu certo antes. Mas quem no gol? Sei lá, Cavalieri, por exemplo. Qualquer um. Rafael, do Santos. O Brasil jogou em 1982 com um frangueiro (Valdir Peres) porque Telê Santana tinha birra de Leão, então o melhor goleiro do país. Ninguém lembra disso, porque Telê é um mito intocável. E em 1970 o Brasil também jogou com um goleiro muito limitado, o Félix, do Fluminense, que jogou porque Cláudio, do Santos, que deveria atuar na Copa do Mundo, machucou o joelho.

Outro jogador que eu tiraria, do qual tenho uma antipatia atroz, é o lateral direito Daniel Alves. Que não é um mau lateral, mas se tivesse em futebol o que tem em arrogância seria um craque, o que, infelizmente para ele, não é. A lateral esquerda também está carente, nem Marcelo (do Real Madrid), nem Filipe Luís (do Atlético de Madrid, que, confesso, não conheço) satisfazem.

De resto, que zagueiros? Para o futebol brasileiro, quando tem uma seleção competitiva, zagueiro é o de menos. “Se não tem tu, vai tu mesmo!” Os quatro convocados pelo treinador gaúcho foram Dante (Bayern de Munique), David Luiz (Chelsea), Dedé (Vasco) e Thiago Silva (Paris Saint Germain). Todos são preparados pra uma Copa do Mundo. Não gosto muito de David Luiz, às vezes é afoito e pernóstico, acha que é o Luis Pereira… Mas é atrevido e arrisca; por esse lado é até interessante, já que esporte sem ousadia e risco fica muito chato.

O meio de campo talvez seja Ramires (do Chlesea, que não jogou hoje), Hernanes e Oscar? Pode até ser, mas falta um meia clássico aí, aquele que Ganso poderia ser mas, tudo indica, não será.

Reprodução
"Calado é um poeta"
Ainda sobre seleção, o Pelé disse esta semana que Felipão deveria usar a base do Corinthians para formar a equipe brasileira, porque é o time que está apresentando, segundo ele, o melhor futebol no momento. Como já disse Romário, “Pelé calado é um poeta”.

E é isso. Toda essa digressão por conta de Brasil x Itália. No intermezzo (não no sentido cronológico, mas em grau de importância) entre os jogos históricos de 1970 e 1982 teve o 0 a 0 de 1994, Brasil de Parreira tetracampeão. Esse não me marcou. Fico por aqui.

quarta-feira, 20 de março de 2013

José Serra na encruzilhada


Especulações dão conta de que José Serra não aceitaria nada menos do que a presidência do PSDB, na convenção nacional que se realizará em maio, para não deixar o partido. Para ele, a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), centro de estudos da legenda, seria obviamente muito pouco. Mas Serra, especula-se, teria planos de deixar o PSDB não para disputar a presidência, e sim o governo do estado de São Paulo. A presidência do partido deverá ser destinada a Aécio Neves, como deseja o presidente da legenda Sérgio Guerra e outros caciques.

Ontem, Aécio, o nome da preferência de oito entre dez tucanos (exceto São Paulo) à candidatura à sucessão da presidente Dilma Rousseff, se reuniu com o governador paulista Geraldo Alckmin. Na segunda, havia se reunido com o próprio Serra.

O senador de Minas declarou sobre a reunião com Serra, segundo matéria do Estadão (o jornalão se esforça para fazer crer que a paz reina nas hostes tucanas): "Foi uma conversa de convergência. Não houve nenhum tipo de exigência, embora Serra tenha credenciais para ocupar qualquer espaço no partido", disse o senador, mineiramente.

A questão é: as coisas não estão nem um pouco fáceis para Serra. Se ficar no PSDB, terá de encarar 80% dos tucanos, nacionalmente, para viabilizar uma tentativa de se recandidatar à presidência. Se as especulações procedem e ele estiver planejando sair do partido para tentar encarar Alckmin, com toda a estrutura partidária que este tem e o apoio maciço dos correligionários do interior do estado ao governador, seu caminho será igualmente difícil. Alckmin, disse a mesma matéria do Estadão, convidou Aécio para um café na semana que vem. "O café estará no bule, aguardando-o. Vamos saborear a sabedoria mineira do Aécio", disse o governador paulista. A batata de Serra está assando.

Serra está numa encruzilhada. Ou ele se conforma em disputar uma vaga ao Senado em 2014, ou talvez tenha de se contentar futuramente com algo mais modesto. A presidência do Palmeiras, quem sabe.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Cristina Kirchner e Francisco têm reunião cordial no Vaticano


A presidente argentina, Cristina Kirchner, foi a primeira chefe de Estado a visitar o papa Francisco, na manhã de hoje.Eles almoçaram juntos e tiveram uma reunião cordial no vaticano, como se pode ver pelo vídeo abaixo, que a presidente postou em sua própria página do Facebook.

O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio é apontado como oposiotor dos Kirchner. Já trocaram, ele e Cristina, cortantes farpas. Mas política, ao contrário do que muitas vezes se quer fazer crer por incautois à esuqerda e à direita, é assim: dialoga-se.






sexta-feira, 15 de março de 2013

Dilma é muito melhor no improviso


Mudando da água pro vinho, ou melhor, de papa pra Dilma, segue a inspirada coletiva da presidente hoje (15), muito mais interessante (e em alguns momentos divertida) do que quando fala com uma mise-en-scène institucional. Ela falou com os jornalistas após lançar o Plano Nacional das Relações de Consumo e Cidadania, que reúne medidas para proteção do consumidor, elaborado a partir de  propostas de órgãos de defesa do consumidor e com a participação de ministérios, agências reguladoras e do Banco Central.

Alguns trechos:

Desoneração da cesta básica: "O governo acha que é fundamental reduzir o tributo. Agora, nós precisamos que essa consciência seja também dos empresários, dos senhores donos dos supermercados, para que de fato a desoneração seja algo que todo mundo ganhe".

Perguntada por um repórter se o governo adotaria medidas repressivas contra donos de supermercados que não acompanhem a desoneração tributária, Dilma afirmou: "Minha querida, aquela ação do prende e arrebenta acabou. O governo dialoga, o governo persuade".

Sobre o papa: "eu comparecerei lá em Roma, na medida em que me convidaram e o Brasil é um país que tem uma população católica muito expressiva (...) estou representando enquanto presidente essa população católica do nosso país".

Veja a entrevista:




Em janeiro de 2012, 13 meses atrás, a presidente concedeu em Cuba uma entrevista em que mostra que seu jeito durão às vezes cede a uma boa risada. Ela falava de direitos humanos em Cuba, e se divertiu com a ansiedade e até grosseria de repórteres no afã de conseguir alguma coisa. Está aqui: De ótimo humor, Dilma concede coletiva em Cuba


quarta-feira, 13 de março de 2013

Francisco I, o novo papa da velha Igreja Católica



Reprodução
A escolha, pelo conclave concluído hoje, do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio como o novo papa, nomeado Francisco I, deve ser recebida com alívio pelos brasileiros, cristãos ou não, que sejam comprometidos com lutas políticas e almejam uma sociedade moderna (no sentido mais amplo), justa, laica e igualitária.

É possível que se o cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, fosse eleito, houvesse um recrudescimento moralista no Brasil, dificultando ainda mais a discussão de temas como a descriminalização do aborto, casamento homossexual e outros pelos quais a sociedade civil tem reivindicado avanços dos poderes estabelecidos.

Bergoglio é o primeiro papa latino-americano da história e o primeiro não europeu. Segundo se veicula em veículos de imprensa independentes, o novo papa foi vinculado ao regime militar argentino (1976-1983), o mais violento da América do Sul, responsável pela morte de 30 mil pessoas. Bergoglio estaria ligado ao sequestro e à tortura de dois jesuítas argentinos e ao rapto de bebês de presos políticos no período mais obscuro da história recente de seu país.

Reproduzo trecho de matéria de João Peres, da Rede Brasil Atual:

O próprio cardeal se orgulhava das boas relações com o comandante da Marinha [argentina] Emilio Massera, integrante da primeira Junta Militar e responsável, em 1955, por derrubar Juan Perón durante a autodenominada Revolução Gloriosa – um golpe de Estado, na realidade.
Foi na Marinha que se formou o principal campo de concentração do regime iniciado em 1976. A Escola de Mecânica (Esma, na sigla em castelhano) recebeu 5 mil prisioneiros, e menos de 200 deles saíram com vida.

(...) ansioso pela possibilidade de assumir o papado em caso de renúncia de Joseph Ratzinger, Bento XVI, Bergoglio encomendou em 2010 uma operação de ‘limpeza’ de seu nome. Segundo reportagem do jornal argentino Página12, o livro El Jesuíta foi escrito com a intenção de desfazer as más impressões criadas em torno do religioso pelo período em que comandou a Companhia de Jesus, entre 1973 e 1979” (a matéria na íntegra está aqui).

Esse aspecto digno de O Poderoso Chefão 3, de Francis Ford Coppola, não é surpreendente para quem conhece minimamente a atuação da Igreja Católica na história do mundo. Segundo o jornal espanhol El País, Bergoglio chegou a escrever uma carta a freiras carmelitas sobre a lei do casamento gay na Argentina dizendo que a oposição a essa legislação era uma "guerra de Deus" contra um "movimento do diabo", o que provocou séria reprimenda da presidente Cristina Kirchner. No entanto, o El País diz também: "Este sacerdote da Companhia de Jesus, poderosa ordem intelectual dentro da Igreja, muitas vezes em conflito com Roma e nos últimos tempos também com a Opus Dei, se distinguiu ao permitir que os padres mais progressistas de sua diocese tivessem muita liberdade. Em 2005, quando foi eleito o papa Bento XVI, Bergoglio foi o candidato da oposição, representando moderação frente ao mais extremo conservadorismo".

Seja como for, os escândalos de corrupção e pedofilia minaram muito da credibilidade da Igreja e a guinada reacionária operada desde João Paulo II não dá mostras de arrefecimento. O que, francamente, para nós, tanto faz. Mas, se era para escolher um papa latino-americano, um brasileiro poderia ser mais útil para a própria Igreja (repito, não para nós, brasileiros), visto que somos o país com mais católicos no mundo, que o Brasil é um país alçado hoje a uma importância internacional inédita em sua história e considerando ainda um fato meramente circunstancial, a realização de Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013, no Rio de Janeiro, com a presença do papa, segundo se prevê. Ou seja, um evento que no início de um papado em busca de fiéis e da recuperação da Igreja poderia capitalizar muita coisa.

***

PS (às 13:09, 14/03) - O Vaticano informou que o certo ao se referir ao nome do novo papa é dizer Francisco, e não Francisco I. Isso porque ele só será Francisco I quando houver um Francisco II. Faz sentido. Mas não vou mudar o título da postagem porque, no blogger, o título em si é gerador de um link. Se o título é mudado depois de postado, o link do título corrigido se perde e fica-se com um link de página "não existente" circulando por aí...

segunda-feira, 11 de março de 2013

Um papa brasileiro? – Considerações


Foto: Elza Fiúza/ABr
Dom Odilo Scherer, cotado no conclave
A pergunta do título tem sido feita nos últimos dias, depois que se intensificaram as especulações segundo as quais o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, seria cotado para suceder Bento XVI.

Alguns argumentam que um papa brasileiro seria notoriamente prejudicial ao Brasil, no sentido de que, investida de um poder ao mesmo tempo simbólico e concreto, a Igreja Católica passaria a exercer influência política ainda maior do que já exerce no país, cuja Constituição define o Estado como laico, mas que está longe de ter garantidos direitos quando o que está em jogo é a moral e os dogmas católicos.

Não se pode esquecer que, durante o processo eleitoral brasileiro de 2010, que culminou com a eleição da presidente Dilma Rousseff, bispos brasileiros se reuniram com Bento XVI e conseguiram do sumo pontífice uma declaração claramente contrária à candidata do PT: "Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático, que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade da pessoa, é traído em suas bases", disse o papa na época.

Até que ponto ou até onde iria a influência, em nosso país, da igreja comandada por um brasileiro não se sabe. Mas, considerando o conservadorismo do Vaticano, que exterminou do poder sua ala mais progressista a partir do pontificado de João Paulo II, pode-se ter uma ideia.

Há um outro aspecto a considerar. O crescimento do número de evangélicos no Brasil é significativo, na medida em que acompanhou na última década o decréscimo dos católicos. Os evangélicos passaram de 15,4%, em 2000, para 22,2% dos brasileiros em 2010, enquanto o número de católicos caiu de 73,8% para 64,6% na década, segundo o Censo do IBGE de 2010. Os católicos são 123,2 milhões, e os evangélicos já chegam a 42,3 milhões. O censo mostrou ainda que 8% (cerca de 15,3 milhões) não têm religião (são ateus, agnósticos ou deístas) e 2% declaram-se espíritas.

Apesar da significativa queda, o Brasil continua a ser o país com maior número de católicos no mundo. Do ponto de vista da Igreja Católica, um papa brasileiro certamente poderia estancar, ou pelo menos amenizar, a sangria de fiéis das últimas décadas, com potencial de frear ou diminuir o crescimento do neopentecostalismo. Estratégica e politicamente, talvez um papa brasileiro seja uma grande tacada do Vaticano. Mas ainda parece improvável que a solução seja essa, dado o domínio político dos europeus entre os cardeais.

Seja como for, se Odilo Scherer for o nome escolhido no conclave, em julho já haverá um evento de grande alcance e simbolismo, justamente no Brasil, a Jornada Mundial da Juventude, que será realizada em julho de 2013 no Rio de Janeiro com a presença do papa. Estará a igreja considerando esse evento como um dado relevante no processo de escolha do novo papa? Veremos.

sábado, 9 de março de 2013

Alckmin já movimenta interior de São Paulo por reeleição em 2014



Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

Divulgação
O Palácio dos Bandeirantes promoveu na tarde do dia 7 uma espécie de confraternização de prefeitos para a posse da nova diretoria da Associação dos Municípios da Araraquarense (AMA), da qual o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), é presidente de honra. No discurso em que saudou a nova diretoria da entidade, Alckmin usou um estilo de certa maneira ufanista. “Esta é a casa dos brasileiros de São Paulo”, disse.

O governador não deixou de alfinetar o PT da presidenta Dilma Rousseff. Ao mencionar a pujança da região de Araraquara, no noroeste do estado, aproveitou para falar da economia paulista como um todo. “O Brasil cresceu 0,9% em 2012, menos que países em crise, enquanto São Paulo cresceu Alckmin já movimenta interior de São Paulo por reeleição

1,3%”, comparou. Ele prevê um crescimento maior do Produto Interno Bruto (PIB) nacional este ano e, por isso, avalia, o estado deve crescer “mais do que a média do país”. Alckmin se esquivou ao ser perguntado pela reportagem sobre qual a importância política da Associação dos Municípios da Araraquarense. Mas, ao contrário de um correligionário como o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) ou mesmo do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, Alckmin não se valeu de postura agressiva.

Já o novo presidente da AMA, Eugênio José Zuliani (DEM), o Geninho, prefeito de Olímpia, perguntado pela RBA se os representantes da entidade são apenas aliados do governador, disse enfaticamente: “Claro que não”. Segundo ele, prova disso é que há diretores do PT na chapa da nova diretoria da associação. Além disso, conta, os prefeitos das cidades de Tanabi (Bel Repizo) e de José Bonifácio (Padre Edmilson), ambos também petistas, “participaram da eleição e das discussões da última assembleia e votaram o estatuto”.

“Coincidência”

Embora garanta que a AMA não “é partidária”, Eugênio José Zuliani explica o ambiente político aparentemente paroquial do evento: “Estamos focados numa região em que, por coincidência, quase 85% dos partidos que estão no poder ou são do PSDB ou fazem parte da aliança do governador Geraldo Alckmin. Obviamente que uma entidade que estiver instalada no Grande ABC vai ser mais ligada ao governo federal, mas isso são particularidades regionais”. A entidade recebida por Alckmin hoje representa 124 cidades, em um total de 2 milhões de habitantes. "A bancada de deputados estaduais e federais da nossa região (Araraquara) é muito grande", diz Eugênio Zuliani.

Mas provavelmente não foi coincidência que a cerimônia de posse da diretoria da Associação dos Municípios da Araraquarense no Palácio dos Bandeirantes foi prestigiada não apenas pelo governador como por alguns dos homens fortes de seu governo: os secretários Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Social), Edson Aparecido (Casa Civil) e Júlio Semeghini (Planejamento). Assim como por vários deputados da base governista na Assembleia Legislativa, como o presidente do PSDB no estado, Pedro Tobias, Orlando Bolçone (PSB), Carlão Pignatari (PSDB), Itamar Borges (PMDB) e Celso Giglio (PSDB).

Giglio, ex-prefeito de Osasco (região Oeste da Grande São Paulo), concorreu novamente à prefeitura da cidade em 2012, mas teve a candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral por violação à Lei da Ficha Limpa, pois teve rejeitadas as contas de sua gestão como prefeito entre 2001 e 2004. O TRE/SP proclamou Jorge Lapas (PT) como prefeito de Osasco. Celso Giglio é presidente de outra entidade municipalista aliada de Alckmin, a Associação Paulista de Municípios (APM), e na semana passada, em evento semelhante, já estivera no Palácio “a fim de apresentar os componentes de sua nova diretoria ao governador Geraldo Alckmin”, segundo o site da APM.

Entre os que discursaram hoje, o secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, deu um sinal de que a reunião de dezenas de prefeitos aliados de Alckmin no Palácio dos Bandeirantes tem um significado maior do que uma simples cerimônia festiva. Ele falou da importância da “associação que representa os nossos agentes políticos locais” e afirmou também que “nada se faz” sem esses agentes. Garcia é de Tanabi, na região de São José do Rio Preto. Alckmin, de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba. Como se vê, Alckmin vai apostar tudo no interior do estado em 2014.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Repúdio em São Paulo à nomeação do pastor Marco Feliciano à Comissão de Direitos Humanos


"Revoltados com a tomada da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara por deputados conservadores e de direita, muitos deles fundamentalistas religiosos ligados a denominações evangélicas, parlamentares do PT, do PSB e do Psol abandonaram hoje (7) o colegiado cogitando recorrer à presidência da Casa, apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) e até criar uma comissão paralela" (da Rede Brasil Atual).

Bom, os partidos que se retiraram da comissão tinham que sair mesmo, é o mínimo.

A eleição do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados é um insulto à sociedade civil.

De minha parte faço o que posso e divulgo o que acontece aqui por São Paulo:

Copio do Facebook (com uma pequena revisão, rs):


Sábado, 9 de março, às 14 horas, na tripla esquina av. Paulista/rua da Consolação/av. Rebouças (metrôs Consolação e Paulista)

Repudiamos a nomeação do Pr. Marcos Feliciano e convocamos todos os interessados a vir pra rua conosco. Venham negros, LGBTs, 'putas', cristãos que seguem os ensinamentos de Jesus Cristo de fato, punks, deficientes físicos, agnósticos, donas de casa, empresários, estudantes, professores, desempregados, judeus, ateus e toda e qualquer pessoa que cansou da avacalhação deste que é o PIOR CONGRESSO DESDE A REDEMOCRATIZAÇÃO! Apoiamos eventos paralelos em outras cidades. CHEGA!

Se você confirmou presença online, não deixe de comparecer pessoalmente. Vamos mostrar essa força!

Vejam um pronunciamento do novo presidente da Comissão de Direitos Humanos clique neste link.

Petição que pede a destituição de Feliciano da CDHM, clique aqui.

Em tempo: o evento não é anti-evangélico. Demonstrações de ódio religioso não serão toleradas.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Lula: "Tenho orgulho de ter convivido e trabalhado com ele pela integração da América Latina"



Foto: Ricardo Stuckert/PR (Arquivo/Instituto Lula)
Na 4ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Unasul
(Georgetown, Guiana, 26/11/2010)


Nota divulgada pelo ex-presidente Lula

Foi com muita tristeza que recebi a notícia do falecimento do presidente Hugo Chávez. Tenho orgulho de ter convivido e trabalhado com ele pela integração da América Latina e por um mundo mais justo. Eu me solidarizo com o povo venezuelano, com os familiares e correligionários de Chávez, neste dia tão triste, mas tenho a confiança de que seu exemplo de amor à pátria e sua dedicação à causa dos menos favorecidos continuarão iluminando o futuro da Venezuela.

Luiz Inácio Lula da Silva

"Vá chafurdar no lixo", diz Joaquim Barbosa a repórter



Ao ser abordado pelo repórter Felipe Recondo, de O Estado de S. Paulo, nesta terça-feira, 5, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, mandou o profissional ir "chafurdar no lixo". O áudio está abaixo, seguido da transcrição do edificante diálogo.





– Ministro, tudo bem? Como o senhor está vendo...

– Não estou vendo nada. Me deixa em paz, rapaz. Me deixa em paz! Vá chafurdar no lixo como você faz sempre.

– O que que isso, ministro, o que é que houve?

– Eu estou te pedindo. Me deixe em paz. Eu já disso isso várias vezes ao senhor, várias!

– Mas eu tenho que fazer pergunta, é o meu trabalho, ministro.

– Mas eu não tenho nada que dizer. Eu não sei. Eu não quero nem saber o que o senhor está tratando.


segunda-feira, 4 de março de 2013

Grandes atores (3)


Paulo José

Paulo José, em O Palhaço, dirigido por Selton Mello


Este post é para falar de um filme e continuar a série grandes atores.

O grande ator é Paulo José; o filme, O Palhaço, de Selton Mello.

Grande talento, o Selton Mello, que deve ser saudado como uma aparição importante no cinema brasileiro recente.

Paulo José, que foi casado com a grande (e morta tão precocemente) Dina Sfat, é um ator capaz de fazer qualquer coisa. Em Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, por exemplo, ele interpreta o próprio “herói de nossa gente” e também a mãe de Macunaíma. O herói criado por Mario de Andrade é vivido no mesmo filme pelo gigante Grande Otelo (Macunaíma criança) e pelo próprio Paulo José (Macunaíma adulto). Precisa dizer que o filme não seria o que é se não fosse Paulo José e Grande Otelo? Precisa, porque é muito forte dizer as coisas quando elas são verdade.

Paulo José dispensa apresentações. Trabalhou em incontáveis filmes, novelas e séries de TV. Em Quincas Berro D'Água (2010), dirigido por Sérgio Machado, por exemplo, um entre muitos, ele interpreta o mítico personagem Quincas Berro D’Água, criado por Jorge Amado. Interpreta um morto. Imaginem, interpretar Quincas Berro D’Água.

Em O Palhaço, ele faz o palhaço mais velho de uma trupe de circo mambembe que viaja pelas Minas Gerais em busca de trabalhos, encantando cidades e pessoas. Ele é pai de Benjamin, o palhaço Pangaré (Selton Mello, que dá seu show particular como o filho do palhaço velho), que vive uma angústia existencial: não quer mais ser palhaço, não quer seguir o caminho do pai, mas não sabe ser outra coisa.

É bonito, e ao mesmo tempo inquietante, como a arte transforma obras que amamos em coisas ultrapassadas. Ao ver O Palhaço, pensei muito em Bye Bye Brasil (1979) de Cacá Diegues, aquele da trilha de Chico Buarque, uma das mais lindas canções da MPB que existem (parceria de Chico com Roberto Menescal). Selton Mello com certeza tem Bye Bye Brasil como uma referência. Mas quão mais longe vai com seu filme! As referências do diretor de O Palhaço remontam a Fellini. E não é exagero dizer que emociona como Fellini.


Selton Mello, como o palhaço Pangaré, no filme que dirige

As referências do filme de Selton Mello, é bom dizer, incluem não apenas o grande cinema, mas também a parte chamada brega da cultura brasileira: a trilha sonora tem peças que causariam arrepios a setores cult da sociedade tupiniquim, mas que fazem parte do imaginário nostálgico que o rádio ajudou a disseminar ao longos das décadas a partir dos anos 1970. “Tudo Passará”, de Nelson Ned, por exemplo. Perfeito. Selton Mello está mais para Fellini do que para Godard. Há quem não goste do estilo blasé de Selton Mello, que se pode ver também, como ator, no ótimo filme O Cheiro do Ralo (2007), dirigido por Heitor Dhalia. Mas eu acho muito bom.

O roteiro de O Palhaço, aliás (do próprio Selton Mello e Marcelo Vindicatto), é brilhante. Não é um roteiro explicativo, daqueles que procuram encadear as coisas de maneira didática. As cenas e sequências (e portanto a história) são truncadas como a vida. Mas o fio da meada não se perde. O fio da meada é o circo. A fotografia (sob a direção de Adrian Teijido), que enquadra os planos fundos quase infinitos dos Gerais (o diretor nasceu na cidade de Passos), é ampla como Minas, e ao mesmo tempo intimista em algumas cenas em que a poeira domina o quadro.

Bem, saúdo e recomendo a quem lê este post o precioso filme O Palhaço, que além de tudo emociona, embora não provoque aquela emoção vulgar que Buñuel considerava perniciosa.

E saúdo Paulo José. Um ator universal nem sempre atua em Hollywood.

Leia também:

Gandes atores (número zero): Vincent D'Onofrio: um grande ator nem sempre é um superstar

Gandes atores (1): Anthony Hopkins, Gene Hackman, Marlon Brando, Rod Steiger

Gandes atores (2): Henry Fonda

sexta-feira, 1 de março de 2013

Tempo de se sentir aidética


Fotos: Elza Fiúza/ABr


Por Camila Claro*

Os fatos desta narrativa aconteceram comigo no início de 2012, portanto trata-se de uma história real, mas decantada pela memória. Sou filha de médica e, conscientizada precocemente sobre as necessidades do sistema de saúde, mantenho desde os 18 anos o hábito de doar sangue. Já fiz doações para diversos hospitais, algumas destinadas a pacientes específicos, mas na maioria das vezes com o intuito de abastecer os estoques das instituições, além de ter convencido amigos a participar do processo. Quando mais jovem, até lamentava que meu tipo sanguíneo fosse A positivo, o mais comum entre os brasileiros, portanto o menos necessário. Achava ser uma dessas ironias do destino o fato da única pessoa que conhecia do tipo O negativo (o chamado “doador universal”) ter repulsa à visão de sangue.

Familiarizada com o procedimento dos hemonúcleos, eu sabia que algum tempo depois das doações receberia em casa uma carteirinha confirmando a sorologia negativa para sífilis, hepatite B e C, HIV, HTLV, doença de chagas, etc. Ela chegava em um envelope pequeno, branco, com o logotipo do hospital. Daquela vez, porém, chegou um envelope grande, em papel pardo, com a inscrição “Confidencial” e meu nome, sem nenhum sinal do remetente. Dentro dele, uma carta solicitando que eu telefonasse para o hemonúcleo e marcasse um horário para receber orientações médicas. O texto esclarecia que as informações não seriam divulgadas por telefone, nem antes da data agendada, nem a outra pessoa que não o próprio doador.

A consulta foi agendada para uma data dali a três semanas, portanto mais de um mês distante da última doação. Hoje esse prazo me parece compreensível, uma tentativa de cobrir qualquer janela imunológica, mas para quem recebe o envelope pardo e fica sem saber, nem vagamente, qual o problema detectado nos exames, trata-se de uma espera bastante longa, na qual sobra tempo para conjecturar hipóteses. Por exemplo:

– Será que fui picada por um inseto transmissor de doenças como dengue e Chagas?

Instrumentos da manicure eram esterilizados?
– Será que as agulhas do acupunturista eram esterilizadas? E os instrumentos do dentista e da manicure?

– Posso ter sido contaminada durante uma relação sexual?

– Meu parceiro pode estar contaminado? Será que ele usa drogas injetáveis ou me traiu?

– E se eu estiver grávida e tiver contaminado o bebê?

A maioria das hipóteses anteriores não chegava a me assustar, mas certamente teriam preocupado uma pessoa mais paranoica ou hipocondríaca. Eu estava certa de não ter me exposto a nenhuma das situações tradicionais de contágio, contudo o fato de conhecer casos bizarros relacionados na literatura médica contribuía para a sensação de insegurança. Em um desses casos, uma mulher atendida no Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, foi identificada como portadora do HIV depois de ter sido mordida pelo filho portador, que estava em crise convulsiva e havia antes mordido a própria língua. Teria eu entrado em contato com o sangue de alguém em alguma situação estranha da qual já nem me lembrava?

Tudo que eu podia fazer era me questionar e argumentar seguindo um raciocínio lógico. As palavras eram como pedaços de terra firme através dos quais eu caminhava por um pântano silencioso, no qual as conexões permanecem submersas. Era como avaliar a melhor trilha em um terreno recoberto de estatísticas. Por exemplo, calcula-se que a chance de aquisição do HIV em uma relação anal passiva única com parceiro infectado é de 1 a 2%, o que matematicamente significa que poderíamos ter dezenas de relações sexuais desse tipo sem proteção nem contágio. Mas quem se arriscaria? Ou melhor, quem poderia manter a tranquilidade se tivesse se arriscado?

Enfim chegou o dia da consulta com a médica do hemonúcleo. Sentada na sala de espera, percebi que as pessoas ali presentes não eram simples doadoras. O clima descontraído que eu normalmente encontrava no local fora substituído por uma nítida tensão. As pessoas olhavam o relógio, mexiam-se ansiosamente nas cadeiras e faziam perguntas em voz baixa à recepcionista. Resolvi tirar da mochila meu envelope “confidencial” e deixá-lo a vista em uma tentativa de romper o isolamento envergonhado que se instalara entre os presentes. Deu certo. Uma mulher puxou papo e disse ter recebido a mesma mensagem. Ela falou que “se garantia”, mas não podia garantir o marido. Aquelas semanas de espera entre a recepção da carta e a consulta pareciam ter criado uma crise em seu casamento.

Entrei no consultório e fui informada que o resultado dos meus testes ELISA 1 e 2 (do inglês “Enzyme-Linked Immuno Sorbent Assay”), ambos usados no diagnóstico da infecção por HIV, fora “indeterminado”. Em um momento assim percebemos como são poderosas as palavras. Eu queria ouvir “negativo”, havia me preparado para ouvir “positivo”, mas o que significaria aquele “indeterminado”? Na prática significava que meu sangue doado anteriormente seria descartado e eu deveria repetir o exame. Não havia elementos suficientes para confirmar ou descartar a infecção por HIV. Depois de tanta espera, eu continuaria sem qualquer informação objetiva, e o pior, teria que aguardar mais algumas semanas até obter o novo resultado.

Essa é a metodologia adotada pelo banco de sangue, mas é claro que, tendo plano de saúde e mãe médica, eu não ficaria esperando de mãos atadas. Fui a outro hospital e a um laboratório independente no mesmo dia e retirei outras duas amostras de sangue para exames com resultados mais rápidos. Felizmente foram ambos negativos. O mesmo não aconteceu com a amostra colhida no hemonúcleo, que novamente apontou um resultado “indeterminado”.

A “indeterminação” não me preocupou desta vez, a não ser por um motivo: fiquei cadastrada como persona non grata nos hemocentros do Brasil inteiro, que atuam segundo um sistema unificado e descentralizado, o SUS. Isto significa que estou impedida de realizar doações até obter, através dos exames realizados no próprio hemonúcleo, um resultado determinando a sorologia negativa para HIV. Enquanto isso, o governo gasta milhões de reais em campanhas e material publicitário para incentivar doações e descarta voluntários com tatuagem e homossexuais assumidos.

*Camila Claro é jornalista