quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Senado aprova projeto de Serra contra Petrobras com anuência do governo – em troca de quê?


Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Sessão foi conduzida por Renan Calheiros, presidente do Senado

Por 40 votos a 26 o Senado aprovou o projeto de José Serra na noite de hoje, como queriam a Chevron, a Shell e outras multinacionais do petróleo, e, caso a Câmara confirme a votação, acaba a participação obrigatória da Petrobras na exploração do petróleo da camada  do pré-sal.

O registro do senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, em sua conta no twitter, é a mais pura verdade. De maneira nenhuma o PLS 131/2015 teria sido aprovado, muito menos com tamanha folga, sem, no mínimo, a anuência do governo.



Assim, os sonhos vão acabando, um a um.

Em sua defesa do voto contra o projeto de Serra, Requião lembrou que “o Wikileaks assegurou que o senador Serra havia prometido (à petroleira Chevron) acabar com o domínio do setor pela Petrobras”.

O senador estava se referindo a notícia conhecida, de 2009, divulgada até na “grande imprensa”, segundo a qual, de acordo com o site Wikileaks, Serra teria prometido a uma representante da petroleira Chevron que, se vencesse as eleições em 2010, mudaria a legislação que rege as regras do pré-sal. Serra respondeu no plenário que isso é uma “infâmia”. 

Mas o fato é que ele está a um passo de conseguir fazer seu projeto virar lei.

Resta saber o que, nos bastidores, foi negociado. O que o governo ganha com isso? A julgar pela importância do negócio, não deve ser pouca coisa.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Liminar a favor de Lula e reeleição de Picciani no mesmo dia é demais para a mídia golpista


Quando você quer saber se há notícias positivas para o país, uma das maneiras mais eficientes de se conseguir essa informação é visitar colunas e blogs de gente como Josias de Souza. Hoje o país amanheceu com a notícia de que o conselheiro-relator Valter Shuenquener de Araújo, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), decidira na noite anterior suspender o depoimento que o ex-presidente Lula e sua mulher, Marisa Letícia, dariam pela manhã, sobre o caso do Condomínio Solaris.


"64 neles", diz camiseta de manifestante em frente ao Fórum onde Lula não depôs

O aspecto positivo da notícia se revelava logo de cara no título do post do jornalista da Folha, publicado às 06:19 da manhã, que registrava seu inconformismo indisfarçado já no título: “Fuga de depoimento carboniza imagem de Lula”.

“Lula sempre foi visto pelos devotos que o seguem como um mito. Ao fugir dos questionamentos do promotor Cassio Conserino, a quem acusa de perseguição, portou-se como alguém que descobriu que também está sujeito à condição humana. Potencializou, de resto, a impressão de que não dispõe de uma defesa consistente”, vociferou o jornalista.

Para Josias de Souza, como para Ricardo Noblat e toda a inumerável lista de assemelhados, o desrespeito à presunção de inocência, ao direito de defesa, à garantia da imparcialidade da jurisdição e outros princípios constitucionais, fundamentais a uma nação sadia, de nada valem diante da urgência em devolver o país a seus verdadeiros donos, as oligarquias de que falava Leonel Brizola e, mais além, aos Estados Unidos da América, cujos interesses estão acima de tudo para essa oligarquia apátrida.

Assim como de nada vale para eles o manifesto de centenas de advogados e juristas importantes, divulgado em janeiro, no qual manifestaram “publicamente indignação e repúdio ao regime de supressão episódica de direitos e garantias que está contaminando o sistema de justiça do país”.

Josias de Souza, Ricardo Noblat e assemelhados são adeptos do jornalismo “imparcial”, aquele mesmo que aprendíamos na faculdade como sendo um dos princípios básicos da profissão, mas depois soubemos tratar-se de uma hipótese improvável.

“Na fase em que ainda tocava trombone sob o telhado de vidro, Lula se comportava como um homem que lambe o dedo depois de enfiá-lo num favo de mel”, continua Josias em seu irrefreável inconformismo diante de uma decisão que lhe tirou o doce da boca, ele que já esperava se lambuzar com o espetáculo midiático do depoimento de Lula que não houve, por enquanto.

Mas, acima de tudo, o que mais impressiona na passagem do parágrafo acima é o ódio manifesto nas palavras do blogueiro-jornalista da Folha. Um ódio verdadeiramente assustador, o mesmo que alimentou durante anos a horda de neofascistas que hoje atacam pessoas simplesmente pela cor da camisa ou da bandeira que essas pessoas usam.

Gustavo Lima/ Câmara dos Deputados
Cunha e oposição tiveram que engolir Picciani 

Mas o dia de quarta-feira (17) prosseguiu, e, como se não bastasse a liminar concedida pelo CNMP suspendendo o depoimento de Lula, eis que Leonardo Picciani, o candidato de Dilma Rousseff, venceu a disputa contra Hugo Motta, apoiado por Eduardo Cunha, e se manteve na liderança do PMDB na Câmara. Mais uma derrota que Eduardo Cunha sentiu como um soco no fígado desferido por um George Foreman.

Um líder de bancada tem inúmeras responsabilidades, como indicar os candidatos a presidente das comissões a que tem direito seu partido ou bloco, solicitar votação secreta, regime de prioridade para propostas, adiamento de votação de propostas em regime de urgência etc. É um aliado e tanto que Dilma continua a ter. Por isso, Josias de Souza mais uma vez exprime o seu ódio incontível: “Ao marchar de forma resoluta em direção à desagregação, o PMDB está apenas homenageando a sua índole”.

É demais, mesmo. Duas notícias boas para o governo no mesmo dia ninguém aguenta.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Hillary Clinton diz que "Terra já deve ter sido visitada por alienígenas" e promete investigação


Divulgação/hillaryclinton.com         
"Sim, vou chegar ao fundo dessa história", promete Hillary

A questão OVNI é uma das mais apaixonantes discussões da atualidade. Alienígenas existem? Já estiveram na Terra ou - segundo creem alguns - na verdade estão por aqui? Normalmente, cientistas tradicionais e pessoas de "bom senso" costumam ridicularizar quem acredita "nessas coisas". Mas há cada vez  mais indicações de que as autoridades mundiais têm mais e mais dificuldades de esconder a verdade.

A candidata democrata à presidência dos Estados Unidos Hillary Clinton deu uma entrevista bombástica no penúltimo dia de 2015 cujo teor foi reproduzido pelo Huffington Post e vários outros veículos. Hillary disse: "a Terra já deve ter sido visitada por alienígenas". Em outro momento da entrevista, a ex-secretária de Estado afirmou: "Sim, vou chegar ao fundo dessa história (...)"

É evidente, no posicionamento de Hillary, a influência de John Podesta, coordenador da campanha da democrata à presidência e um dos mais próximos assessores do presidente Barrack Obama em 2014.

Podesta é antigo defensor da divulgação de arquivos secretos sobre OVNIs e é óbvio que uma pessoa com a posição dele (assessor de Bill Clinton, de Obama e de Hillary) não está simplesmente criando um "factoide".

A entrevista bombástica de Hillary foi concedida ao repórter Daymond Steer, do diário Conway Daily Sun, que o Huffington Post repercutiu. (Podesta) "Fez-me pessoalmente prometer que vamos obter as informações. De uma forma ou de outra. Talvez pudéssemos ter, tipo, uma força-tarefa para ir para a Área 51", disse Hillary.

Em 2002, em uma coletiva de imprensa, Podesta declarou: "É hora de abrir os livros sobre questões que permaneceram no escuro, sobre a questão de investigações do governo sobre OVNIs. É hora de descobrir a verdade sobre o que está lá fora. Nós devemos fazer isso, realmente, porque é certo, porque o povo americano, francamente, pode lidar com a verdade, e devemos fazê-lo porque é a lei".

Ao deixar a assessoria de Obama para se dedicar à campanha de Hillary no ano passado, Podesta afirmou, em sua conta no Twiter, que seu "maior fracasso de 2014" foi não ter conseguido a divulgação sobre arquivos ufológicos (abaixo).

Podesta lamenta não conseguir "a divulgação dos arquivos ufológicos"

Como diria Shakespeare, "há mais mistérios entre o céu e a terra do que possa supor nossa vã filosofia". Talvez os próximos anos sejam aqueles em que finalmente vamos conhecer pelo menos parte do mistério dos aliens, sobre os quais cada vez mais pessoas de alto escalão têm falado, como o próprio Podesta, o ex-ministro da Defesa do Canadá Paul Hellyer, e agora Hillary Clinton, entre outros.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

O carnaval dos chatos – crônica para o Rei Momo



Imagem mostra arco-íris na zona nordeste
da cidade de São Paulo (Foto: Carmem Machado)


Várias e queridas pessoas do meu convívio adoram carnaval. Eu também adoro carnaval, mas por motivos diferentes.

Nesses quatro dias de liberdade, a cidade de São Paulo fica convidativa. Sem trânsito, pois milhões de pessoas estão ausentes, já que preferem a estrada, onde reencontram a neurose dos congestionamentos-monstro. Eu prefiro descansar.

Ou tomar uma cerveja no sossego da minha sala, ou na companhia de amigos agradáveis num barzinho agradável, pra colocar assuntos em dia, jogar conversa fora, contar causos.

Ou ver filmes. Sou dos que ainda alugam filmes, já que aqui no Butantã tem uma locadora, a SQP*, razoável, embora tenha perdido parte do acervo anos atrás num assalto. 

Mas também pode ser que chova o tempo todo. E que me desculpem os amigos que adoram carnaval no sentido ortodoxo (até porque a culpa não é minha, e sim da natureza), mas um carnavalzinho com chuva, como a que cai exatamente agora, à meia-noite em ponto no relógio do computador, na barra inferior à direita (agora já marca 00:01), é delicioso!

Cai uma chuva bela e torrencial (que está fazendo falta a São Paulo), e imagino que, se essa chuva estiver caindo no Sambódromo paulistano agora, os desfiles das escolas de samba (que têm de começar o carnaval exatamente quando a chuva começou no Butantã) não vão ser muito animados. A chuva tem o poder de estragar um desfile, seja de uma escola de samba, seja de um bloco rico, seja de um humilde bloco.

Eu sou do bloco mais humilde de todos, o Bloco dos Chatos, que comemora o carnaval sem carnaval. Viva o carnaval! 

Amanhã cedo vou tomar um café-com-leite e pão com manteiga sem nenhuma pressa.

*PS (no carnaval seguinte, de 2015): O que falei acima sobre a locadora SQP, no Butantã, não é mais verdade. Infelizmente, acuadas pelos novos tempos, a Regina e a Cida estão vendendo os DVDs e vão fechar a locadora. Tempos românticos, quando se alugavam filmes nas locadoras, que vão embora.

Publicado originalmente em 01/03/14 à 01:16



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Favoritos do cinema (12): O Palhaço,
de Selton Mello



Selton Mello (centro) como o palhaço Pangaré

O Palhaço (2011, direção de Selton Mello), que revi recentemente, é sem dúvida um dos melhores filmes brasileiros do século XXI. No filme, o próprio Selton Mello interpreta o artista de circo Benjamin, que faz o palhaço Pangaré de uma trupe de circo mambembe que viaja pelas Minas Gerais, encantando cidades e pessoas.

O roteiro do filme é do próprio Selton Mello e Marcelo Vindicatto. Não é um roteiro explicativo, do tipo que procura encadear didaticamente a sucessão de fatos e sequências fílmicas. As cenas e sequências (e portanto a história) são truncadas como a vida. Mas o fio da meada não se perde, porque o fio da meada é o circo. A fotografia (sob a direção de Adrian Teijido) é primorosa enquadrando os planos fundos quase infinitos das Minas Gerais.

O precioso filme, que além de tudo emociona - embora não provoque a emoção vulgar que Buñuel considerava perniciosa -, traz ainda um prêmio extra para quem gosta de cinema e atores: Paulo José, que faz o palhaço mais velho do circo e pai de Benjamin/Pangaré (Selton Mello).

Benjamin vive uma angústia existencial, que é inerente ao ser humano: não é feliz com o que faz, não quer mais ser palhaço, não quer seguir o caminho do pai, mas não sabe ser outra coisa. É aquela velha e universal sentença de um personagem de Graham Greene: o homem sempre quer aquilo que não tem.


Com Paulo José 

O Palhaço não pode ser reduzido a um gênero, pois o filme não é apenas uma comédia, um drama, um filme de autor (como se dizia antigamente): é tudo isso ao mesmo tempo.

O personagem Benjamin (Selton) tem o caráter fleumático, quase abúlico, que o ator ensaiou em filme anterior, O Cheiro do Ralo (direção de Heitor Dhalia, 2007), em que interpreta Lourenço, dono de uma loja de objetos e “raridades”, imerso em uma atmosfera bizarra e cômica.

Várias cenas de O Palhaço têm uma característica incomum, rara no cinema, que só grandes diretores são capazes de criar, a qual Federico Fellini soube trabalhar como ninguém: emocionam sem se valer de artifícios baratos. A emoção é emanada às vezes pelo simples silêncio em um diálogo, pelo comportamento singelo de uma personagem (como no diálogo de Benjamin com uma moça gorda na frente de um bar de estrada), por um acontecimento cuja intensidade não se mede pela ação (recurso enfadonho nos filmes hollywoodianos), pelos olhares ou pela delicadeza da interação de dois personagens, como em várias cenas entre o pai e o filho palhaços.

"Eu faço todo mundo rir, mas quem é que vai me fazer rir?", diz o palhaço Benjamin à moça, à porta do bar. A frase seria um clichê, não estivesse tão impregnada da história e sua atmosfera poética. A poesia, como já mostrou Drummond, é construída  por aquilo que ninguém, a não ser o poeta, enxerga como poesia, arrancada das coisas e versos mais (aparentemente) simples.

Mas se o filme comove e emociona, também faz rir. Principalmente pela atuação de Selton com seu personagem que parece um psicótico, mas na verdade é sensível (o contrário do psicótico) e poético.


Benjamin em busca de identidade, sem a fantasia de Pangaré

 A procura de identidade, drama vivido por Benjamin, tema central do filme, recorrente na literatura, no cinema e na arte, poderia também ser outro clichê, mas a narrativa e o roteiro parecem, inclusive, procurar deliberadamente os clichês, para desconstruí-los e dotá-los de um novo significado.

Deveria lembrar a mais do que óbvia associação de O Palhaço, e seu Circo Esperança, com a Caravana Rolidei de Bye, Bye Brasil (Cacá Diegues, 1979). Mas aqui seria realmente um clichê deste blogueiro, até porque eu mesmo já falei sobre isso.

Lamento que não possa recomendar ao leitor ir à locadora mais próxima alugar O Palhaço, para assistir numa noite dessas. As locadoras não existem mais. Tem que procurar em outras mídias.


Publicado originalmente em 19 de jan de 2016 às 22:19


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