quarta-feira, 30 de maio de 2012

Bom senso prevalece: Santos x Corinthians
fazem semifinal na Vila e no Pacaembu

Finalmente o Santos definiu e agora é oficial. Manda a primeira partida da semifinal contra o Corinthians pela Libertadores na Vila Belmiro. O time da capital usará sua “casa”, o Pacaembu. Não há dúvida de que (interesses financeiros à parte) foi a melhor solução, para o Santos e para a competição. Sem mais comentários.

Até lá, é segurar a ansiedade.

Libertadores 2012 – Semifinal

13 de junho - Vila Belmiro (21:50) – Santos x Corinthians
20 de junho - Pacaembu (21:50) – Corinthians x Santos

Os goleiros no futebol brasileiro hoje


Cavalieri, do Flu
Aproveito a folga no calendário futebolístico para escrever sobre goleiros. Acho que hoje o futebol carioca está muito mais bem servido de camisas 1 do que o paulista. O melhor goleiro no país atualmente, para mim, é Diego Cavalieri, do Fluminense, formado no Palmeiras. Jefferson, do Botafogo, tem mantido a regularidade, é um ótimo goleiro e tem futuro. Fernando Prass (Vasco) e o ex-corintiano Felipe (Flamengo), mais experientes, se não chegam a ser “craques”, são regulares e dominam a posição. Ou seja, os quatro grandes do Rio estão bem servidos. Não gosto dos badalados Victor (Grêmio) e Fábio (Cruzeiro). Muriel (Inter) parece muito bom, mas precisa de tempo.

Já os paulistas... Creio que, entre os gigantes de São Paulo, o Santos tem o melhor goleiro, e não digo isso por ser santista. Pelo contrário, às vezes a gente tende a ser mais crítico e exigente com o nosso time do que com os outros. Vai abaixo uma análise impressionista sobre os arqueiros de São Paulo, que atuam na posição tão ingrata que nem grama cresce onde eles pisam...

Foto: Ricardo Saibun/SFC
Santos (Rafael e Aranha) - Apesar de minhas críticas, Rafael é regular e tem sido decisivo em jogos em que precisa decidir. Foi assim contra o América do México pelas oitavas da Libertadores do ano passado (relembre aqui) e no jogo de volta das quartas em 2012, quando pegou um pênalti (dez anos antes, Fábio Costa havia feito uma partida milagrosa contra o Nacional do Uruguai, catando três pênaltis). No jogo de ida (Vélez 1 a 0), porém, Rafael tinha falhado feio (do que alguns santistas discordam, mas é só observar).

O goleiro tem muito reflexo. “Ué, mas goleiro tem mesmo que ter reflexo”, alguém poderia dizer. É verdade, mas muitos acabam dançando justamente por não ter. Rafael tem outra virtude: sai bem da meta e é corajoso, quando a bola vem pelo chão.

O problema é que em bolas aéreas costuma errar mais do que se espera de um grande goleiro. Seu reserva, Aranha, demonstra condições de substituí-lo, parece melhor contra a “artilharia aérea”. Mas ele só será o camisa 1 se o Santos negociar o titular, o que não vale a pena, pois este é muito mais jovem.

Em resumo, o Santos não está mal servido de goleiro. Como guarda-metas, Rafael está aquém, claro, das três lendas da história santista: Gilmar, Cejas e Rodolfo Rodrigues. Para mim ele está emparelhado com Fábio Costa (que, diga-se, felizmente escapou da morte em acidente de carro na Rio-Santos, ontem). Fábio tem três títulos com a camisa alvinegra (Brasileiro de 2002 e paulistas de 2006 e 2007) e acho que merecia um fim de carreira mais digno.
Reprodução
Goleiro falha contra Ponte Preta
Corinthians (Júlio César e Cássio) - considerado por alguns como um dos responsáveis pelo título brasileiro de 2011, o agora virtualmente ex-goleiro corintiano Júlio César encontrou o destino óbvio, e melancólico. Na minha opinião, seu grande problema é a instabilidade. Faz grandes partidas e, num campeonato longo como o Brasileiro, seus erros se diluem. Mas em mata-matas, ficou marcado por erros fatais em jogos decisivos: falhou feio na última partida do Corinthians no Brasileiro de 2010 contra o Goiás, que terminou 1 a 1 no Serra Dourada. Com a igualdade, o Timão perdeu a vaga direta para a fase de grupos da Libertadores e foi para a repescagem. Como se sabe, o resultado foi que, graças a Júlio César, o Alvinegro inspirou uma nova pizza na cidade de São Paulo, a pizza sabor Tolima.

Curioso que a falha do arqueiro naquele jogo (reposição errada e gol de presente) foi muito parecida com a que originou um dos gols da Ponte Preta nas quartas-de-final do Paulistão deste ano, quando o time deu adeus ao título paulista. Fora o frango de falta, no mesmo duelo, que terminou 3 a 2 para a Macaca. Quer dizer, Júlio César fraqueja em horas decisivas. No tênis, diríamos: tem cabeça fraca.

Já seu substituto, Cássio, começou bem, salvou o time de perder para o Vasco na Libertadores, mas é cedo para fazer uma avaliação. Parece inseguro e indeciso em bolas altas e ainda não passou por uma prova de fogo.

Palmeiras (Bruno e Deola) - Uma das grandes escolas de goleiros do país – tradição que não se sabe se será mantida – o Alviverde sofre com goleiros inseguros e que vivem sob a sombra de Marcos, um dos maiores da história do país, que se aposentou recentemente.

Reprodução
Marcos já é lenda
O clube que já teve em sua meta Oberdan Cattani, Valdir Joaquim de Moraes, Emerson Leão e Marcos, hoje não tem um arqueiro à altura nem da reserva. Deola acho mesmo um caso perdido. Posso queimar a língua, mas Bruno tem demonstrado ser equivalente. Toma gols bobos, sai mal, não sabe se sai ou se fica.

A ironia é que o ótimo Diego Cavalieri, revelado na Academia, foi negociado com o Liverpool, pois nunca seria titular com Marcos, e agora arrasa no Fluminense, enquanto o Palmeiras padece. Leia também: Marcos deixa os gramados e entra para a história.

Wagner Carmo/ Inovafoto - Vipcomm 
Ceni: mito
São Paulo (Dênis) – O jovem arqueiro são-paulino, como os palmeirense, tem de crescer à sombra de um mito, Rogério Ceni, o maior ídolo da história do clube, não só como goleiro, mas como jogador mesmo. Fora a liderança, o arrogante Rogério Ceni ganhou quase sozinho o título mundial são-paulino contra o Liverpool em 2005 e fez seu centésimo gol contra o rival Corinthians, só para citar dois feitos que me obrigaram a escrever um post, na época, muito acessado neste blog: Para não dizer que não falei de Rogério Ceni.
 
Dênis – pelo que já pude ver – tem grande reflexo. Mas já tem no currículo uma falha grotesca em decisão: na eliminação das semifinais do Paulistão, pelo Santos. A partida estava 2 a 1 para o Peixe, e, quando o Tricolor ia para o abafa, Neymar chutou de fora da área e o arqueiro ficou com as penas do frango nas mãos. É aquela coisa: é em jogos decisivos que um grande goleiro faz história. Goleiro falha, é a posição mais ingrata do futebol. Mas falhar em decisão queima a carreira.

Um grande goleiro não precisa ser espetaculoso. Tem um episódio (contado pelo Júnior, acho) do grande Flamengo de Zico, Júnior, Andrade, Leandro e companhia. Diz que, num certo jogo, o ótimo goleiro Raul levou uma bola no ângulo, e ficou parado. O apelido de Raul Plassmann era “Velho”, pela idade. Zico esbravejou: “Pô, Velho, vai na bola pelo menos! Se for pra ir só nas fáceis, jogo eu no gol”. E Raul respondeu: “Para quê ir se não vou pegar?”

Digo isso porque Rogério Ceni, como Raul, nunca foi um goleiro de dar show, voando espetacularmente em bolas fáceis ou indefensáveis, como era o ex-corintiano Dida, por exemplo. Ceni nunca precisou disso.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Com a velha receita de sempre, jornalismo marrom estilizado de Veja pauta a mídia brasileira


É a mesma receita de sempre: a revista Veja sai com uma denúncia para pôr fogo no circo, normalmente quando há algo relevante acontecendo no país ou algum interesse a ser preservado. Ou revelado, quase sempre a partir de fontes suspeitas e informações plantadas por gente como Carlinhos Cachoeira.

Por exemplo: em épocas de eleições, ou num momento em que uma CPI está instalada para supostamente apurar ligações muito sinistras entre certos políticos e o "empresário" Cachoeira e deste com um destacado jornalista da mesma revista semanal. Ligações, aliás, ignoradas por toda a "grande imprensa" que se une em favor de seus interesses cinicamente fantasiados de interesses nacionais.

No início do mês, chegamos ao paroxismo desse alinhamento, quando o jornal O Globo, em editorial, mergulhou no pântano para sair de lá enlameado em defesa da Veja, dizendo, entre outros disparates: "Blogs e veículos de imprensa chapa branca que atuam como linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista Veja, na esteira do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Delta". Segundo o veículo dos Marinho, é uma "retaliação pelas várias reportagens da revista das quais biografias de figuras estreladas do partido saíram manchadas".

Globo que, como se sabe, tem seu maior poder concentrado na televisão, a poderosa concessão pública sob cuja sombra construiu seu império. Mas, às favas com o interesse público que, segundo a Constituição, deveria prevalecer nos serviços de concessão de rádio e televisão. Não estamos na Argentina.

E a roda-viva continua. Esta semana, mais uma "reportagem" desse símbolo do jornalismo marrom estilizado. Desta vez, Gilmar Mendes, o ministro do STF, já fonte de Veja de outros carnavais, diz ter ouvido de Lula um pedido de adiamento do julgamento do mensalão... Pronto. Passamos a semana ouvindo a repercussão em homepages e portais, para os quais o verbo negar tem importância fundamental. "Lula nega", "Jobim nega" e assim por diante. O verbo negar, para o jornalismo, é um importante recurso de retórica de entrelinhas. De tanto ser repetido (Lula nega, Lula nega, Lula nega, Lula nega) o refrão acaba se tornando uma verdade reafirmada ao contrário.

No Brasil de Veja e de Globo, quem tem que provar não é quem acusa, mas quem é acusado. Uma total inversão de valores jurídicos.

Eu "brigo" com meus amigos que deixam o costumeiro lixo de Veja importunar-lhes o fígado. Não leio essa revista, e às vezes, quando sem querer clico em um link seu na web, saio rapidamente, me persigno e fico a lembrar que, infelizmente, apesar de seu jornalismo ser um lixo, sua capa é importante. Como escreveu o jornalista Flávio Gomes, num texto de 2010: "a capa da Veja, embora a revista seja uma droga indizível, tem importância, sim. Afinal, ela é vista por alguns milhões de pessoas, repousa amarrotada durante meses em mesinhas de consultórios médicos, dentistas e despachantes, e as pessoas a notam nas bancas de jornais, ao lado de mulheres peladas. E algumas pessoas ainda puxam assunto em mesas de bares e restaurantes dizendo 'li na Veja’, e tal. São os 'formadores de opinião'. Uau."

A verdade é que a minha parte eu faço. Não leio essa revista, nem para “saber o que eles dizem” (justificativa de que meu fígado discorda), embora isso contamine o Brasil incessantemente, e ninguém sabe até quando, se até a presidente Dilma Rousseff recentemente deu entrevista e foi capa da publicação. O que eu achei que a presidente poderia não ter feito. Mas fez, afinal o governo federal é um dos maiores anunciantes do país.

Britânicos compram a brasileira Ypióca


Deu na Reuters: “O grupo britânico de bebidas Diageo anunciou nesta segunda-feira acordo para comprar a fabricante brasileira de aguardente Ypióca por cerca de 300 milhões de libras (469 milhões de dólares), aumentando presença em mercados emergentes enquanto briga por um maior espaço em tequila.

“A produtora do uísque Johnnie Walker e da vodca Smirnoff, que tem planos de ter metade das suas vendas em mercados emergentes até 2015, anunciou nesta segunda-feira acordo para comprar a marca Ypióca de sua família controladora, além de parte dos ativos de produção e distribuição da bebida.

“A Ypióca é a terceira maior marca do mercado de cachaça e líder de um segmento de rápido crescimento dessa bebida, o premium. A companhia, fundada em 1846 e com sede em Fortaleza, emprega cerca de 3,2 mil funcionários e tem cinco fábricas no país. A cachaça responde por cerca de 80 por cento da indústria brasileira de bebidas destiladas
.”

É significativo que uma das maiores empresas brasileiras do segmento deixe de ser nacional. Quanto a mim, como bebo hoje em dia muito pouca cachaça (e quando bebo, só as melhores mineiras e nunca Ypióca), tanto faz como tanto fez.

domingo, 27 de maio de 2012

Outono na cidade - São Paulo em Imagens


Essa imagem, que a fotografia não consegue reproduzir de modo algum tal como eu a vi, é a do vento carregando nuvens fantásticas. O céu em movimento, o outono na grande cidade.

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Veja também da série São Paulo em Imagens:


Verão em São Paulo com neblina, uma imagem surpreendente

Escultura de fios

Nossa Senhora do crack, rogai por nós

Ayrton Senna é o rei de Mônaco

*Publicado originalmente às 04:14 de 28/05/11

Republico esta postagem de cerca de um ano atrás porque, sem nada tirar ou pôr, continua atual. A atualização se deve à necessidade de falar de uma curiosa coincidência. Neste GP de Mônaco de 2012 Michael Schumacher poderia alcançar a única marca de Ayrton Senna que não atingiu: a hegemonia em Monte Carlo, onde Senna ganhou seis vezes contra cinco do alemão. Um sortilégio evitou que Schumacher tivesse a última chance neste domingo: ele fez a pole position, mas, punido pelo acidente em que se envolveu justamente com Bruno Senna na corrida anterior, na Espanha, ele perde cinco posições e sai em sexto. Isso é o que se chama ironia do destino. O post do ano passado está abaixo.


*Este post é apenas para lembrar que neste domingo tem o Grande Prêmio de Mônaco. Que eu não vou ver, claro. Ayrton Senna ainda é o rei de Mônaco. É o único recorde dele que o alemão Michael Schumacher não bateu.

Senna ganhou seis vezes em Mônaco: 1987, 1989, 1990, 1991, 1992 e 1993.

Schumacher venceu cinco: 1994, 1995, 1997, 1999, 2001

No vídeo abaixo, a corrida no circuito de Mônaco em 1984, quando Senna, então um ilustre iniciante, assombrou o mundo. Ele pilota o carro branquinho n° 19, da Toleman, o que a 2'08'' deste vídeo passa feito maluco por cima da zebra. Após sair em 13° no grid, progride como um bólido, ultrapassa Niki Lauda da McLaren, mas a corrida é interrompida na 32ª volta pela direção de prova, e Alain Prost (também da McLaren) festeja, constrangido, a vitória que não teria sido dele se a corrida continuasse (no túnel, após a bandeirada, Senna comemora a vitória, que entretanto, oficialmente, foi de Prost).



Veja também sobre Ayrton Senna:

A melhor volta da história

Pensamento para domingo: Senna em Interlagos (1991)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Léo, gigante, leva o Santos à semifinal da Libertadores


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Divulgação/ Santos FC

Era inacreditável aos 20 minutos do segundo tempo o Santos ainda estar em campo com Juan, com seu estilo tricolor, e Adriano, que não tinha a quem marcar, estava nervoso, já tinha cartão amarelo e era apenas mais um volante. Muricy é de fato insuportavelmente conservador. Seja como for, a dramática vitória do Santos nos pênaltis contra o Vélez Sarsfield neste 24 de maio, após o 1 a 0 no tempo normal, com um gol de Alan Kardec, de nome espírita, foi mais uma das páginas espetaculares do futebol. O Peixe pega o Corinthians na semifinal da Libertadores.

Confesso que chorei (nunca chorei de tristeza por causa de futebol: a derrota me dá raiva, e a vitória me emociona). Porque foi uma catarse: teria sido injusto o Santos cair en la Vila Belmiro perante “los gringos de mierda” que fizeram uma brincadeira escrota com a morte do nosso Chico Formiga: usando a foto do caixão do velho comandante com a bandeira do Santos, o assessor de imprensa do Vélez usou a internet para dizer que talvez aquela fosse a imagem do Santos depois do embate com eles.

Perderam.

Perderam e engoliram as cinzas da derrota na Vila Belmiro.

Neymar fez o que pôde. Jogou quase sempre sozinho contra uma floresta de marcadores, diante de um time taticamente aplicado, que joga em bloco, marca a saída de bola e não deixa brechas no campo. Mas, mesmo assim, isaolado, marcado com grande eficiência, fez jogadas lindas.

O goleiro do Vélez foi expulso (acertadamente) por uma falta em Neymar que, é importante dizer, recebeu um passe magnífico de Elano, de perna esquerda. E o gol de Kardec foi todo construído com as canhotas: de Ganso para Léo, para Kardec e gol.


Por Santos TV

Neymar não fez uma partida assim brilhante, mas de tanto que brilhou antes, nos jogos anteriores, foi recompensado pelos velhos deuses do futebol e nem precisou bater seu pênalti. Cobrando o último, Léo, o gigante Léo, deu mais uma vez sua imensa contribuição para a história do Santos. Léo é incriticável. Quando ele entrou em campo no lugar do são-paulino Juan (de quem não sei por que Muricy Ramalho gosta tanto), o que entrou em campo foi o espírito do Santos, algo que talvez Muricy ainda não tenha entendido.

Agora vamos para a semifinal com o Corinthians. O campeão brasileiro contra o campeão da América. Um jogo de brasileiros, paulistas (os cariocas já eram), e seja o que Deus quiser.

Atualizado às 23:40

Boca Juniors e Corinthians estão nas semifinais da Libertadores


Flu cai de Boca. Com o perdão do trocadilho infame, a frase resume a peleja no Engenhão em que o Boca Juniors eliminou o Fluminense e se classificou para a semifinal da Libertadores, ao empatar em 1 a 1, fazendo outra vítima brasileira – o Palmeiras em 2000 e 2001, e o Santos, em 2003, foram outras.



O Fluminense fez 1 a 0 logo aos 18 minutos do primeiro tempo impondo-se com autoridade, embora tenha achado seu gol, em cobrança de falta – que nem existiu - de Tiago Carleto, com direito a desvio na zaga. A impressão, até cerca da metade do segundo, era de que mais cedo ou mais tarde o Tricolor furaria a retaguarda (e não retranca) boquense. Com 1 a 0, o time de Abel Braga precisava de mais um gol no Rio para eliminar o Boca, do qual perdera pelo placar mínimo em Buenos Aires.

Mas o segundo tempo chegou. E num jogo renhido, disputado palmo a palmo, pouco a pouco o Boca foi tomando corpo. Aos 35, mais ou menos, o Flu começou a demonstrar que não estava tão insatisfeito assim com a vitória magra de 1 a 0, e que... por que não os pênaltis? Mas aos 40 minutos o Boca tinha revertido jogo, estava indo para cima, como um fantasma que crescia diante de um Fluminense assustado, e o castigo estava a caminho. O Boca Juniors subitamente pressionava, e nesse estilo argentino impressionante e traiçoeiro, empatou a partida aos 45min do segundo tempo, com Santiago Silva. O Fluminense estava desclassificado da Libertadores, e o Boca nas semifinais.


Jogo igual e vitória corintiana




Logo depois, o Corinthians eliminou o Vasco no Pacaembu fazendo 1 a 0 num jogo dramático (em São Januário, semana passada, tinha sido 0 a 0). Paulinho, aos 43min do 2º tempo, marcou o gol da vitória corintiana nesta quarta-feira, 23. O jogo foi rigorosamente igual. Taticamente os times se propuseram a combater fazendo marcação, marcação e marcação.

A impressão era de que a experiência de jogadores tarimbados do Vasco (o goleiro Fernando Prass, o meia Juninho, o meia-atacante Diego Souza, Felipe no segundo tempo) acabaria prevalecendo. O Corinthians demonstrava nervosismo, mas seus anjos da guarda Ralf e Paulinho seguram as pontas sempre. Jorge Henrique, para variar, destoa: pilhado demais, um jogador meio burro, tacanho. Comete falta digna de cartão amarelo e ainda esbraveja. O Vasco foi mais time no amarrado primeiro tempo.

No segundo, deu-se um combate mais franco e aberto, o jogo ficou emocionante. E eis que Diego Souza de repente se vê livre penetrando cara a cara com o goleiro Cássio... Diante de todas as possibilidades que tinha (driblar para a direita, para a esquerda, fuzilar uma bomba, dar uma cavadinha, dar de bico ou qualquer outra solução), Diego fraquejou e chutou mal, tentando colocar, e o arqueiro corintiano desviou para escanteio. Aí é que está a diferença que faz um jogador diferenciado, que Diego Souza não é. Não teve a calma do craque. Tentou definir antes da hora pra se livrar o quanto antes da responsa. Num jogo como esse, parelho, igual, um erro assim não haveria de ser perdoado. E não foi.

O Corinthians espera agora o vencedor de Santos x Vélez, hoje, quinta-feira, torcendo, acho eu, para o time argentino. Que, na minha opinião, será mais fácil de ser batido do que o Santos na semi*. O Boca Juniors aguarda o confronto entre Universidad de Chile x Libertad, jogo em que La U é quase favas contadas. A ver.

*PS: Como lembrou Felipe Cabañas em seu comentário (no link comentários, abaixo), se o Vélez ganhar do Santos, o Corinthians terá de fazer a semifinal contra a outra chave (Libertad ou La U), porque "Boca Juniors e Vélez serão obrigados a se enfrentar por conta desse tosco regulamento da Libertadores".

Atualizado às 13:04

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Morre o velho Chico Formiga

Divulgação
O lendário comandante dos Meninos da Vila em 1978/79 morreu nesta terça-feira, de infarto, em sua casa, em São Vicente (litoral sul de São Paulo). Segundo o Santos Futebol Clube, ele chegou à Vila Belmiro “há exatos 62 anos” (em 22/05/1950), contratado junto ao Cruzeiro. Mineiro de Araxá, era de escorpião: nasceu no dia 11 de novembro de 1930.

Como jogador, foi zagueiro e, ainda segundo a assessoria do Peixe, “sempre apresentou soberania e muita classe, quando estava com a bola nos pés” e “não era do tipo de dar chutão”. Foi convocado para a seleção brasileira na Copa de 1958, mas foi cortado por uma contusão na virilha no período de preparação das equipes. Jogando no Santos, Formiga disputou 15 partidas pela seleção.

Em 1957, foi para o Palmeiras em troca por Jair da Rosa Pinto e do goleiro Laércio Milani e voltou à Vila em 1959, ficando até 1963.

Marcou três gols pelo Santos em 412 jogos. Estava no elenco campeão mundial em 1962, da Taça Libertadores da América (1962), da Taça Brasil de 1961 e 1962 e dos Paulistas de 1955, 1956, 1960, 1961 e 1962.

Como treinador, “inventou” o time dos Meninos da Vila campeão paulista na temporada 1978/79 (relembre aqui, na terceira parte de O Espírito do Santos). Ele foi o sexto técnico que mais vezes comandou o Alvinegro: 250 partidas, com 114 vitórias, 80 empates e 56 derrotas nos períodos de 1962/1978-1979/1982-1984/1986-1987.

Atualizado às 03:01 de 24/05/2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Favoritos do cinema (4): "Os Incompreendidos", de François Truffaut


Jean-Pierre Léaud como Antoine Doinel

Os Incompreendidos, de François Truffaut, é um desses filmes que sempre vamos assistir com emoção. A delicadeza com que o cineasta francês trata do tema da difícil adolescência de um menino rejeitado pelos pais – que odeia a escola, que descobre que a mãe tem um amante e, diante de tantas dificuldades, foge de casa – é muito diferente da proposta de permanente manifesto do cinema de seu contemporâneo, colega de Nouvelle Vague e amigo, depois inimigo, Jean-Luc Godard. Neste, a verborragia incessante assume o primeiro plano dos roteiros. Em Truffaut, especialmente em Os Incompreendidos, as palavras não comandam, não há discurso e os silêncios pontuados pela trilha sonora estão ali para dizer que nem sempre é de palavras a matéria-prima de um cinema revolucionário.

O cinema de Truffaut de Os incompreendidos (no original francês, Les quatre cents coups, de 1959) é revolucionário em si, para a época. E permanece até hoje com um frescor que me fascina sempre que vejo. Principalmente pela atuação maravilhosa do então menino Jean-Pierre Léaud, que interpreta o eterno Antoine Doinel, o incompreendido, um alter-ego de Truffaut cuja saga continua em uma série de filmes posteriores que dão continuidade ao inaugural: Beijos Proibidos (1962), Domicílio Conjugal (1968) e O Amor em Fuga (1970).

Filmado em preto & branco, Os Incompreendidos causou grande impacto quando foi lançado na França. É autobiográfico: o diretor François Truffaut tem muito em comum do personagem Antoine Doinel. De origem pobre, Truffaut também viveu dificuldades e, como se diz no belo documentário Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague (de Emmanuel Laurent), “o cinema o salvou”.

O filme é repleto de cenas sensíveis (“achados”, como se diz na poesia) como a de Antoine Doinel, para tentar conseguir vencer a inclemência do professor de redação, acendendo uma vela para Balzac. Ou suas fugas, matando aula para, por exemplo, ir ao cinema, metáfora da eterna oposição arte versus vida, realidade versus imaginação.

A célebre sequência final de Os Incompeendidos, que termina com o close de Antoine Doinel/Léaud na praia, é até hoje um dos ícones maiores de toda a história do cinema francês. Na cena lindíssima, esteticamente emocionante, ficamos suspensos pela ambigüidade da figura congelada do menino, cujo olhar, diretamente para a câmara em zoom, atravessa a tela e parece eternizar o próprio cinema de François Truffaut.

Os Incompreendidos (Les quatre cents coups, 1959)

Trailer


Elenco Jean-Pierre Léaud (Antoine Doinel)
Claire Maurier (Gilbert Doinel)
Albert Rémy (Julien Doinel)
Patrick Auffay (René)

Leia também, da série Favoritos do cinema:

Quando explode a vingança (Sergio Leone)

Era uma Vez no Oeste (Sergio Leone)

Fargo (irmãos Coen)

domingo, 20 de maio de 2012

O poder do futebol


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Foto: Divulgação/Casa Branca

O primeiro-ministro britânico David Cameron (à esquerda, comemorando), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a chenceler alemã Angela Merkel fazem uma pausa na cúpula do G-8, em Camp David, para assistir à final da Liga dos Campeões da Europa, entre Chelsea e Bayern de Munique, vencida pelo time inglês nos pênaltis depois de empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação.

Foi o primeiro título dos Blues na Champions League e a primeira vez que um time de Londres consegue levantar essa taça.

sábado, 19 de maio de 2012

Brasileirão começa, como sempre, esvaziado e chato


“O Brasileirão, campeonato mais disputado do mundo”, começa hoje. A afirmação do corintiano Leandro, em comentário no post anterior, soa quase como um lembrete.

E é metaforicamente um lembrete mesmo. Soa como: "Galera, não esqueça, o Brasileiro está começando, viu?". De fato é o campeonato mais disputado do mundo. Mas o Brasileiro tem sido chato e desinteressante enquanto não chega o segundo semestre, desde que se adotou aqui o sistema europeu de pontos corridos em dois turnos. Ele se inicia em meio às fases mais agudas da Libertadores e Copa do Brasil e os times mais importantes, portanto, estão focados em outra coisa.

Corinthians é o atual campeão nacional

Além disso, em um ano tem Copa América, no outro Olimpíada, no outro Copa do Mundo, no outro Copa das Confederações e assim por diante, de maneira que a desgraça da seleção brasileira, digo, balcão de negócios, chupa dos melhores times os seus craques. E tem ainda a malfadada “janela” européia, que faz com que muitos clubes comecem o campeonato com um time e terminem com outro, embora a crise européia tenha diminuído bastante o tamanho da tal janela.

Não satisfeita com esse calendário perverso, a CBF ainda marca para as primeiras rodadas jogos que deveriam estar no meio da tabela. Claro, aí deve ter o dedo da Rede Bobo, que quer clássicos para ter audiência logo no pontapé inicial. Assim, esta primeira rodada terá Corinthians x Fluminense, Vasco x Grêmio e Botafogo x São Paulo. Grandes clássicos completamente esvaziados e sem graça. Ironicamente, justo Timão (contra o Vasco) e Flu (contra o Boca) têm na semana que vem batalhas renhidas pelas quartas-de-final da Libertadores, enquanto São Paulo e Grêmio têm seus duelos pela CB. Na terceira rodada, é a vez do Santos pegar o Fluminense, quando Neymar e Ganso estarão no balcão de negócios disputando amistosos.

Não é à toa que o Santos, nos últimos dois anos, levou o Brasileiro no banho-maria. Porque não interessava (pode ser uma estratégia equivocada, mas nenhum time ganha tudo sempre e, então, prioriza-se). Vamos supor que o Corinthians ou o Flu ganhe a Libertadores. Vai cozinhar o galo do mesmo jeito, pensando por sete meses num único jogo, o do tal Mundial.

Só pega no segundo semestre

Este ano, a primeira rodada do Brasileiro depois da Olimpíada será a 16ª. Até lá, o campeonato não vai realmente espelhar o que é o futebol nacional.

Querem saber? Considerando tudo isso, acho que esse sistema de pontos corridos acaba sendo uma farsa e não tem nada a ver com o Brasil. A menos que se mudassem as distorções acima mencionadas. Os estaduais, a Copa do Brasil e a Libertadores acabam sendo muito mais empolgantes.

Se o calendário fosse mais decente, daria para conjecturar com mais prazer. Eu diria que os principais candidatos ao título brasileiro seriam o atual campeão Corinthians, Santos, Internacional, Fluminense, Grêmio e São Paulo (acho que o bom time do Vasco está em decadência e namorando com a crise: a lambança e falta de ousadia do Cristóvão Borges no jogo com o Corinthians pela Libertadores irritou ainda mais sua torcida e o próprio elenco).

E vamos então começar “o campeonato mais disputado do mundo”, é verdade, mas que só vai ser de fato interessante daqui a quase três meses.


Chelsea é campeão europeu*

Não vou fazer uma nova postagem, mas atualizo esta para registrar o título do Chelsea, campeão europeu ao bater o Bayern de Munique nos pênaltis, após empate de 1 a 1 até a prorrogação.

Nunca tive simpatia pelo time londrino, mas poucas vezes vi um título ganho com tanta raça. Começando pelo arqueiro Petr Cech, passando por Terry, Ramires (estes dois não atuaram na final), Lampard, Drogba, Torres (autor do gol que eliminou o Barcelona) e outros.

Um belíssimo e merecido título. Eu diria antológico. Incrível a trajetória do técnico Roberto Di Matteo. Um predestinado.

*Atualizado à 0:25

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Flu ou Boca? Vélez ou Santos? Corinthians ou Vasco? La U ou Libertad? Tudo indefinido


Vélez 1 x 0 Santos. Como eu disse em algum lugar, o Vélez Sarsfield não é o Guarani. Excetuando o Barcelona, não me lembro de um plano taticamente tão bem executado contra o Santos como o desse time argentino na partida de ida das quartas-de-final da Libertadores.

Mas foi um resultado doído, porque o gol que o Santos tomou (Obolo, aos 36 minutos do primeiro tempo) foi um quase-frango do goleiro Rafael. O típico "fez que foi, mas não foi, e acabou não fondo" (se tivesse ido mesmo, teria dividido; se tivesse ficado, bem posicionado, pegaria fácil no meio do gol). Continuo achando o reserva Aranha mais goleiro. Rafael nunca foi o goleiro dos meus sonhos. Ele reza demais e joga de menos.





O gol argentino começou pela lateral direita, onde o volante Henrique jogou improvisado porque Fucile e Maranhão (que fez o gol solitário na derrota para o Bolívar em La Paz nas oitavas) estão contundidos.

Até sofrer o gol, o Peixe fazia ótima partida, pragmática, administrando a posse de bola e esperando um erro do adversário para dar o bote. O Vélez, diga-se, fez uma partida perfeita. Porque esperávamos pontapés, e perdemos taticamente. E para não dizer que Neymar não tomou nenhum pontapé... tomou, sim: um. Porém, na partida como um todo, o time portenho anulou o atacante santista fechando os espaços e bloqueando Ganso, que acabou sendo uma nulidade.

Seja como for, espera-se que o presidente santista defina a Vila Belmiro como palco do jogo de volta, porque no caldeirão as chances aumentam. 1 a 0 contra, fora de casa, com o regulamento em vigor, é um resultado ingrato e perigoso. Se escolher o Pacaembu pensando na arrecadação, a possibilidade do naufrágio aumenta. Perguntado à saída da partida no estádio José Amalfitani, em Buenos Aires, sobre onde prefere jogar,  Paulo Henrique Ganso encerrou a entrevista categórico: “Na Vila”, e saiu andando.

Boca 1 x 0 Fluminense




Boca Juniors 1 x 0 Fluminense foi um grande jogo, resultado muito satisfatório ao Tricolor carioca, dadas as circunstâncias: arbitragem descaradamente contra, um jogador, o lateral Carlinhos, expulso aos 33 minutos do primeiro tempo e tudo contra.

Mas, ao contrário do arqueiro do Santos, o goleiro do Flu tem sido decisivo (a favor): graças a Diego Cavalieri, com mais uma atuação espetacular, o time de Abel Braga não saiu da Bombonera com 2 ou 3 a zero no lombo. O 1 a 0 foi um resultado quase heróico: além do poderio indiscutível do time portenho, jogar com o Boca em seu estádio é assustador porque ali parece que vale tudo, qualquer tática, de futebol ou extra-futebol.

O zagueiro boquense Schiavi, por exemplo, é um exemplo de mau-caratismo que no futebol sul-americano é incentivado por árbitros “caseiros” como esse colombiano José Buitrago (o mesmo que apitou Emelec 0 x 0 Corinthians no Equador), o que o senso comum considera normal: “isso é Libertadores”, “Libertadores é diferente” etc. etc. Como se fosse aceitável que Schiavi criminosamente pisasse na mão do camisa 2 Bruno, do Fluminense, sem levar sequer cartão amarelo.

A expulsão do lateral esquerdo do Flu, Carlinhos, merece registro. Foi expulso merecidamente por dois amarelos bem aplicados. Esse jogador foi revelado e jogou pelo Santos de 2005 a 2009. Não deixou saudades. Curiosamente, foi substituído por Tiago Carleto, também revelado pelo Santos. Que também não deu certo na Vila. É a maldição da lateral esquerda.


Enfim, com 1 a 0 contra, o Fluminense, como o Santos, corre sério risco no jogo de volta: como se sabe, o Boca e os argentinos em geral sabem e gostam de jogar fora de casa, como já demonstraram muitas vezes.

Em São Januário, uma homenagem ao não-futebol

Ontem, Vasco 0 x 0 Corinthians foi um jogo horrível. Não se sabia qual time queria perder de menos, tamanha a cautela de ambos. Balões pra todo lado, um campo em péssimas condições, enfim, um jogo de várzea. Acho quase impossível que, com o futebolzinho apresentado ontem, Vasco ou Corinthians ganhem a Libertadores.

A Universidad de Chile ficou no 1 a 1 contra o Libertad, no Paraguai. Em Santiago, La U deve levar essa, mas acho que não terá chance contra Flu ou Boca, dada a falta de tradição dos chilenos na Libertadores.

Ainda acho que a competição está entre Flu ou Boca e Vélez ou Santos.

Libertadores - Tabela
Jogos de volta


23/05 - 19h30 - Fluminense x Boca Juniors
23/05 - 22h - Corinthians x Vasco
24/05 - 20h - Santos x Vélez Sarsfield
24/05 - 22h30 - Universidad do Chile x Libertad

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Receitas simples [02]: Para o frio, sopas!


Com o frio chegando, e parece que definitivamente, dou sequência às receitas simples. Neste post, com sopas. Seguem duas receitas.

Sopa de mandioquinha (para 4 pessoas)

Descasque e corte em pequenas rodelas 300 gramas de mandioquinha. Descasque e corte em rodelas um pouco maiores uma cenoura média. Corte 350g de músculo em seis pedaços. Corte em oito pedaços uma cebola grande e duas cabeças grandes de alho em quatro ou cinco pedaços cada uma (opções: pode-se, ou não, acrescentar ingredientes como pimentão, salsa escarola picada ou outros).

Numa panela de pressão, junte 2 litros de água aos ingredientes acima. Coloque sal a gosto (não ponha muito sal – é melhor acrescentar um pouco mais depois do que salgar demais definitivamente). Quando a pressão começar, abaixe o fogo e deixe cozinhar por 40 minutos. Abra a panela e, se os pedaços de mandioquinha ainda estiverem visíveis, bata uma parte no liquidificador e, se preciso, acrescente água de modo que a sopa possa cozinhar em fogo médio por mais uns 20 minutos mas não fique rala. Essa fase tem que ser feita no “olhômetro”. Se estiver sem sal, acrescente. A sopa tem de ficar cremosa. Se estiver rala, deixe cozinhar até ficar mais encorpada. Para isso, se quiser, pode acrescentar macarrãozinho de sopa. Mas não é necessário, se ela estiver grossa e cremosa.

Ao servir, tempere com queijo parmesão ralado. Sirva com torradas e azeite.


Sopa de ervilha (para 4 pessoas)

Essa é ainda mais fácil.

Lave cerca de meio pacotinho (250g) de ervilha desidratada (dessas de supermercado). Na panela de pressão, junte a ervilha, 250g de músculo em pedaços, uma cebola grande cortada, duas cabeças grandes de alho e dois litros de água. Ponha sal a gosto. Deixe cozinhar na pressão por 25 minutos. Abra a panela e veja se a sopa está cremosa (provavelmente ainda não estará). Acrescente água, mexa e deixe cozinhar mais 15 minutos sem pressão ou até os grãos da ervilha derreterem completamente, para ela ficar cremosa.

Ao servir, tempere com queijo parmesão ralado. Sirva com torradas e azeite.

Observação - Em qualquer das receitas acima, o músculo pode ser substituído por paio ou lingüiça defumada, ou mesmo bacon, o que você preferir. Eu não gosto de bacon e nem de fritar nada para fazer sopa. Prefiro cozinhar tudo junto, sem fritura.

Da série receitas simples: arroz integral, feijão, filé de pescada frita, salada de rúcula e farinha de milho

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Acidente com metrô em São Paulo deixa 33 feridos. Cadê o governador?

Fotos: Reprodução/ TV Globo

Da Agência Brasil às 12:01 desta quarta: “Aproximadamente 45 homens do Corpo de Bombeiros trabalham no resgate às vítimas do acidente ocorrido na manhã de hoje (16) entre dois trens da Linha Vermelha (Barra Funda/Corinthians Itaquera), na zona leste da capital paulista. Segundo os bombeiros, há 33 feridos. Dois deles, em estado grave”.

O acidente aconteceu entre as estações Carrão e Penha, na Linha 3 - Vermelha. As causas ainda estão sendo apuradas.

“Os feridos estão sendo levados para o Hospital Municipal do Tatuapé, Hospital das Clínicas e para a Santa Casa de São Paulo”, diz ainda a agência.

Apesar de toda a grande mídia na internet dizer que não há feridos graves, o iG afirma que “duas vítimas apresentaram ferimentos moderados, uma grávida e um homem com possível traumatismo craniano”. Ué, eu pergunto, traumatismo craniano não é grave?

Para o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, o acidente não foi por acaso. "Consideramos que a falta de profissionalismo e o avanço da terceirização e do amadorismo têm contribuído para uma série de problemas. Hoje foi mais um", disse Ciro Moraes dos Santos, segundo a Folha online.

Será muito difícil, caro leitor, ouvir os substantivos PSDB, tucanos, Geraldo Alckmin e José Serra, vinculados a episódios como esse, na grande imprensa. Apesar de o metrô ser administrado pelo governo do estado de São Paulo, ao ler a “grande imprensa” (online ou não) parece que o responsável pelo metrô é uma entidade alienígena desconhecida de um planeta distante.

Na própria matéria da Folha online acima citada o depoimento do dirigente do sindicato, com certeza editado, não menciona a palavra governo, nem nada parecido.

Superlotação: população tenta se virar
Mas o caos continua e as conseqüências da falta de investimento provocam situações cada vez mais graves.

Em agosto do ano passado, o presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Junior, afirmou: “O Metrô vem de um atraso de décadas que, somado a mais gente no sistema e à expansão lenta, cria superlotação. O que aumenta mesmo são os problemas”.

Na ocasião, ele disse ainda que, em decorrência do corte de investimentos, levará mais de 30 anos para se chegar à meta de 200 quilômetros, e que, entre 2008 e 2010, o Estado de São Paulo utilizou 37% a menos da verba disponível para o metrô (R$ 5,95 bilhões de R$ 9,58 bilhões previstos). Leia mais sobre a matéria aqui .

Segundo o Jornal Hoje, da Globo, só este ano o metrô de São Paulo teve 90 problemas técnicos e elétricos.

PS: E a Soninha Francine? Será que vai dizer que o acidente de hoje foi uma sabotagem?

Leia também: O caos nos transportes e o cinismo do governador de São Paulo


Atualizado às 13:30

terça-feira, 15 de maio de 2012

Com Hollande, uma França que fala de solidariedade e crescimento

Se a França na prática vai ser ou não um novo parâmetro político na conjuntura da Europa, onde paira a nuvem negra e sinistra da recessão, pelo menos simbolicamente já é algo alentador que o novo presidente, que tomou posse hoje, dê outra direção ao discurso em voga no país de René Descartes com Nicolas Sarkozy, cujo governo só tem um mérito: sua digníssima esposa Carla Bruni...

Como o lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade,
Arco do Triunfo é um dos símbolos da França
François Hollande, eleito no dia 6 de maio com 51,6% dos votos, é o primeiro socialista a assumir a presidência francesa depois de 17 anos da direita no poder. Hollande chega ao Palais de l'Elysèe com um discurso que se vale de palavras esquecidas do vocabulário francês: união, solidariedade e crescimento. Ele também aponta para uma política que reverta a discriminação aos imigrantes. Já inaugura o governo reunindo-se com a reacionária chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Na pauta do encontro, a crise europeia. Vale lembrar que Angela Merkel, que apoiou Nicolas Sarkozy na eleição presidencial, sequer conversou com o então candidato Hollande. Vai ter que conversar agora...

Na cerimônia de posse de François Hollande, a massa de cidadãos empunhava faixas, entre as quais algumas pediam medidas contra a crise e um governo igualitário. O que não é pedir muito, considerando que estamos falando do país que, com a Revolução Francesa em 1789, mudou a história do Ocidente universalizando os princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Quem sabe a França de Jean-Jacques Rousseau, Gustave Flaubert, Victor Hugo, Théophile Gautier, Stendhal, Baudelaire, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e tantos outros grandes reencontre o caminho perdido em busca de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, embora esta afirmação soe também um tanto quanto... romântica, de minha parte.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Mais uma vez com arte e magia, agora quem dá bola é o Santos, tricampeão paulista


A bem da verdade, o título paulista já tinha dono antes de começar a final Santos x Guarani nesta tarde, no Morumbi, onde mais uma vez o time da Vila deu a volta olímpica após bater o Bugre por 4 a 2, com dois gols de Neymar e dois de Alan Kardec (na partida de ida, 3 a 0 no mesmo estádio).

Como já disse várias vezes aqui, o Morumbi é um estádio onde o Alvinegro está acostumado a triunfar. Neymar não cansa de brilhar – e nem minhas retinas, tão fatigadas, de vê-lo brilhar com a camisa preto&branca, e, por vezes, azul. Além dos dois gols na tarde deste domingo, ele participou decisivamente dos outros dois, como se pode ver nos lances abaixo.



Desta vez, o título é especialmente significativo. Pois é um título duplo: o de campeão de 2012 e o de tricampeão paulista, façanha poucas vezes conseguida na história. No ano do centenário. A última vez em que um clube conquistara três vezes seguidas o Campeonato Paulista havia sido o mesmo Santos, mas o de Pelé, em 1967/68/69, que também foi tri de 1960 a 62. Os outros times que levantaram o tricampeonato foram o Palestra Itália (1932 a 34) e três vezes o Corinthians (1922-24, 1928-30 e 1937-39 – quando meu avô era jovem). Depois da Libertadores de 2011, com o tricampeonato paulista de 2012 o Santos de Neymar continua avançando e igualando marcas.

E o “craque da camisa número 11”, como diria Silvio Luiz, foi o artilheiro do Paulistão com 20 gols. Ele anotou ainda sete tentos pela Libertadores, até agora. Em 24 partidas este ano (16 pelo o estadual e 8 no torneio continental), o craque mandou a bola às redes 27 vezes, média impressionante de 1,125 gol por jogo. Neymar chegou na final do Paulistão a 108 gols com a camisa do Santos, sendo aos 20 anos o maior artilheiro da era pós-Pelé e o 16° da história do clube. O 15° é Vasconcelos, que tem 111.

Foto: Bruno Giufrida - Divulgação/ Santos FC
Neymar comemora o tri na Vila

Considerando o século XXI, o Alvinegro Praiano tem um cartel de títulos invejável. Depois da fila de 17 anos sem títulos (importantes*), em 2002 o Peixe inaugurou uma era vencedora. Desde então, foram dois Brasileiros (2002 e 2004), cinco Paulistas (2006/07/10/11/12), uma Copa do Brasil (2010) e uma Libertadores (2011). O tricampeonato paulista conquistado neste domingo é um galardão à parte. É um tricampeonato. Mais uma vez com arte e magia, agora quem dá bola é o Santos.

Ficha Técnica

Santos 4 x 2 Guarani
Morumbi, São Paulo (13 de maio de 2012)

Gols: Alan Kardec, a 1min; Fabinho, aos 4min; Neymar, aos 8min; Bruno Mendes aos 16min do 1º tempo. Neymar, aos 26min e Alan Kardec aos 47min do 2º tempo

Ricardo Saibun / Divulgação Santos FC 
Muricy já está à vontade na Vila Belmiro
Santos
Rafael; Henrique, Edu Dracena, Durval e Juan (Léo); Arouca, Elano (Felipe Anderson) e Ibson; Ganso; Alan Kardec e Neymar. Técnico: Muricy Ramalho

Guarani
Emerson; Bruno Peres, Domingos, André Leone e Bruno Recife; Éwerton Páscoa (Thiaguinho), Fábio Bahia e Danilo Sacramento; Medina (Max Pardalzinho); Bruno Mendes (Ronaldo) e Fabinho. Técnico: Vadão

Árbitro : Paulo César de Oliveira
Público: 53.749
Renda: R$ 2.677.243,00

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Santos 8 x 0 Bolívar


Não vou ficar explanando (esse verbo vem do fundo do baú) sobre Santos 8 x 0 Bolívar. Nem precisa. Descrever o jogo, ou os gols? O que importa é lembrar que no triste espetáculo de La Paz o lamentável Bolívar, além da altura da capital boliviana a favor, usou de meios sujos para vencer o Santos por 2 a 1 (aqui). Furioso com esses métodos, saindo de campo na ocasião, Neymar avisou: “Libertadores não tem só ida. Vai ter a volta”.

E com dois gols marcados na partida de hoje e 106 pelo Santos na história, o Rey se tornou o maior artilheiro do clube após a era Pelé.

*Então, vejam os gols, porque imagens (em alguns casos, não em todos) valem mais do que palavras. Os oito tentos foram marcados por Elano (2), Neymar (2), Ganso (2), Alan Kardec e Borges:


Por Santos TV

Fluminense, com justiça

Com a vitória sofrida, dramática e justa do Fluminense de Abel Braga, por 2 a 1, sobre o Internacional de Dorival Júnior, no Engenhão, o Tricolor carioca pega o Boca Juniors em uma das partidas das quartas.

A vitória da Universidad de Chile por 6 a 0 sobre o Deportivo Quito (que havia vencido por 4 a 1 no jogo de ida) confirma que o time chileno é agressivo e insinuante, e faz pensar que seria interessante uma final La U x Santos. Enfim, as quartas-de-final estão definidas. A Libertadores de 2012 está forte. Só tem jogão. Façam suas apostas.

Quartas-de-final

Jogos de ida


16/05 - 19h45 - Libertad x Universidad do Chile
16/05 - 21h50 - Vasco x Corinthians
17/05 - 19h45 - Boca Juniors x Fluminense
17/05 - 22h - Vélez Sarsfield x Santos

Jogos de volta
23/05 - 19h30 - Fluminense x Boca Juniors
23/05 - 22 - Corinthians x Vasco
24/05 - 20h - Santos x Vélez Sarsfield
24/05 - 22h30 - Universidad do Chile x Libertad


*Atualizado às 14:06 (11/05/2012)

Quartas-de-final da Libertadores se definem
nesta quinta-feira


Como esperado, foi fácil a vitória do Corinthians sobre o Emelec do Equador: 3 a 0, no Pacaembu, na partida de volta pelas oitavas-de-final da Libertadores. Se há alguma coisa a dizer sobre o jogo que levou o Timão às quartas é: como é impressionante o nervosismo corintiano ante o desafio de ganhar de qualquer time sul-americano nessa competição.




O primeiro tempo do jogo terminou com o Emelec dominando um Corinthians nervoso, apesar de ter feito 1 a 0 logo aos 7 min do primeiro tempo com Fábio Santos. Contra um medíocre Emelec, os nervos podem não ser decisivos, mas, diante de um Vasco, um Santos ou um Vélez, o Corinthians não tem chance se jogar como atuou contra o Emelec. Posso errar, mas o pragmatismo de Tite não passa das semifinais, se passar das quartas, quando para mim o Vasco é favorito.

O adversário do time de Tite nas quartas vai ser o Vasco da Gama de Cristóvão Borges, que, fora de casa, bateu o argentino Lanús nos pênaltis, após dois resultados iguais (2 a 1 para os cariocas no Rio e igual placar para os hermanos em Lanús). Costumo torcer contra os times brasileiros na Libertadores. Para mim, a rivalidade fala mais alto do que aquele papo furado global de Corinthians (ou Vasco, ou Santos, ou Palmeiras, ou São Paulo, ou Flamengo etc) “é o Brasil na Libertadores”.

Mas hoje seria uma judiação o bravo Cristóvão Borges e o goleiro Fernando Prass caírem. O arqueiro bateu roupa no segundo gol do Lanús, mas, como sempre defendo os (bons, nunca os maus) goleiros, acho que seria injusto o Vasco cair por uma falha, sim, mas de um jogador que tem sido um guerreiro na esquadra cruz-maltina, seu goleiro Fernando Prass.

Desse lado da chave, o Vélez Sarsfield eliminou facilmente o Nacional de Medellín e pegará nas quartas-de-final o Santos, que deve passar pelo Bolívar nesta quinta-feira (toc toc toc).

Do outro lado da chave, o chileno Unión Española não deu nem para começar diante do Boca Juniors, com atuação soberba do veterano Riquelme. O Boca começa a gostar da competição nos mata-matas, isso é sabido, um clichê. Mas há de se considerar que o adversário do time argentino nas oitavas era fraco e o Boca só confirmou um favoritismo cabal. Seu oponente nas quartas será bem melhor, o vencedor de Fluminense x Internacional. Acho que dá Flu.

Os jogos das quartas-de-final da Libertadores, ainda com pendências, serão os seguintes:

Corinthians x Vasco
Vélez x Santos ou Bolívar

Libertad x Deportivo Quito ou Universidad de Chile
Boca Juniors x Inter ou Fluminense

Nesta quinta-feira a tabela estará definida.

Veja a tabela completa das quartas-de-final neste post

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Elio Gaspari usa metrô ou transporte público?


O colunista Elio Gaspari publicou hoje na Folha de S. Paulo (para assinantes) um arrazoado sobre a reclamação, por parte de alunos e professores da USP, da dificuldade para achar vagas para seus veículos no campus, já que, com a nova estação de metrô Butantã, “a patuleia passou a usar as vias públicas da universidade para estacionar seus carros”.

Como é normal na mídia (qualquer pretexto serve para tentar desmoralizar a USP) Gaspari critica a reclamação e os privilégios da comunidade uspiana: “Poucas vezes a demofobia do andar de cima nacional exibiu-se com tamanha clareza. A choldra paga impostos, a USP fica com 5,04% da arrecadação do ICMS e neste ano receberá R$ 3,9 bilhões da Viúva”, discorre Gaspari. “É absurdo querer impedir que os demais contribuintes usem esse espaço público.”

A abordagem do articulista, baseada em meias-verdades, merece reparos, pois tanto alunos e professores da USP quanto as pessoas em geral são vítimas do descaso para com o transporte público em São Paulo.

A situação do metrô paulistano
1) Gaspari não usa nem uma linha em sua análise sobre democracia nos espaços públicos para constatar o óbvio: o incrível atraso do sistema do metrô paulistano em relação a qualquer grande cidade e a absoluta precariedade do transporte em São Paulo. Graças a isso, qualquer estação nova fica imediatamente superlotada por multidões.

Na segunda década do século XXI, a maior universidade (pública) do país não tem uma estação sequer dentro de seu campus. Se as pessoas estacionam seus carros nas ruas da USP provocando sentimentos “demofóbicos” na comunidade uspiana, talvez não o fizessem se o sistema de transporte fosse decente.

Quem mora em áreas do Butantã próximas à USP, como o Jardim Bonfiglioli, viu o número de veículos das linhas de ônibus diminuírem a olhos vistos. O cobrador de uma dessas linhas disse a uma pessoa que conheço que “a empresa tirou alguns carros” depois da inauguração do metrô. Um absurdo. Vi outro dia uma cidadã protestar que chega a ficar meia hora no ponto de ônibus que a levaria ao metrô em dez ou quinze minutos.

Pergunto: o que Elio Gaspari sugere? Que as pessoas usem a velha sola de sapato por quatro, cinco km para se transportar até o metrô? Quem conhece a estação Butantã perto da USP sabe que estacionar no local sem invadir o espaço do campus, principalmente de manhã, é quase impossível, pois os gênios do governo estadual e da prefeitura responsáveis pelo projeto urbanístico do entorno não reservaram espaços para estacionamentos públicos. Eu mesmo já fiquei rodando por ali por muito tempo sem encontrar onde parar o carro num dia em que até estacionamentos privados estavam lotados. No geral, a obra do metrô Butantã, enquanto parte de um contexto maior na realidade urbana, é um lixo.

2) Pergunto ainda: a política, que vigora desde sempre, de privilegiar o transporte individual em detrimento do público, não é também uma execrável forma de "demofobia" (termo usado por Gaspari para atacar alunos e professores da USP)?

Não custa lembrar que o metrô paulistano está muito aquém da demanda. E que o transporte público na cidade governada por Gilberto Kassab é uma vergonha e só faz piorar. Desde 1995, o tucanato governa o estado (responsável pelo metrô) e a ampliação do sistema é lento como os passos de um cágado. A incensada revista inglesa The Economist, no fim de março, publicou o seguinte: "Os 71 Km da rede de metrô de São Paulo são minúsculos para uma cidade de 19 milhões de habitantes. Isso dificilmente seria digno de nota em outras cidades internacionais", afirmou a publicação, e ainda: "O metrô da Cidade do México tem mais de 200 Km de extensão. O de Seul, quase 400 Km. Até mesmo Santiago, com um quarto do tamanho de São Paulo, tem uma rede de metrô 40% maior", diz a revista.

The Economist: até em Santiago metrô é maior que em SP
3) A carência de transporte na cidade é tamanha que a esperada Linha 4 Amarela do metrô, inaugurada há poucos meses, já está entupida, principalmente na ligação com o ramal da avenida Paulista. O projeto dessa interligação é um exemplo de incompetência. As pessoas são conduzidas como gado por corredores, esteiras e escadas rolantes superlotados como se estivessem num estádio de futebol em dia de clássico.

Recentemente, a escada rolante travou e de repente várias pessoas caíram por cima de uma grávida. A culpa disso tudo é de quem, da população que precisa de metrô? Não, é dos governos tucanos que levaram quase duas décadas para ampliar o sistema a uma média ridícula de 1,6 km por ano desde que o PSDB assumiu o controle do estado, em 1995, segundo CartaCapital.

Leia também:

O caos nos transportes e o cinismo do governador de São Paulo

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O humor e a ironia em Noel Rosa

Mayra Pinto lança nesta terça-feira, 8, na Livraria da Vila, em São Paulo (a partir das 18h30), Noel Rosa – O Humor na Canção  (pela Ateliê Editorial), resultado de suas pesquisas para a tese de doutorado pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

No livro, a autora explora a obra do compositor carioca criado na Vila Isabel, cuja “voz fala sobre o universo social da pobreza, pouco retratado até então na canção popular urbana, muito menos sob um viés crítico”, explica ela na introdução.

Voz que possuía uma característica muito particular que atravessou toda a sua trajetória musical e poética: “Embora haja canções líricas de sua autoria, a absoluta maioria das composições está atravessada pelas categorias do humor e da ironia, as quais, quase sempre, compõem uma enunciação da experiência como fracasso social em diferentes frentes: econômicas, culturais, afetivas etc. (...) Essa experiência de fracasso na obra de Noel Rosa dramatiza-se em inúmeras personagens, mas a mais frequente é o sambista-pobre”, continua.

Como sou amigo de Mayra, posso dizer que a escolha do tema tem muito a ver com ela mesma, que é uma pessoa acostumada a dar risada dos dramas da vida. E não há nada mais dramático do que o paradoxo que envolveu a vida de Noel: debochando e rindo das agruras da existência, ele, que tinha tuberculose, morreu em 4 de maio de 1937, aos 26 anos.

Abaixo, entrevista com Mayra Pinto, feita por telefone.

Fatos Etc. – O que te motivou ou inspirou a escrever sobre Noel Rosa, o humor e a ironia?

Mayra Pinto – A história é bem absurda, porque quem deu o estalo para pensar Noel Rosa e o humor foi o Bakhtin, que é um teórico russo. Eu tinha lido um livro dele, um clássico, A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Ele desenvolve toda uma teoria do humor e faz uma análise muito brilhante da obra de Rabelais e mostra as intersecções na produção erudita do Rabelais com a cultura popular da Idade Média. E, a partir disso, fiquei pensando se por acaso na cultura brasileira não existiria um Rabelais nosso, ou algo semelhante, dado que a nossa cultura, em vários momentos, tem muito essa intersecção entre a cultura popular e a erudita, e comecei a pesquisar e vi que isso vem do século XIX. E no Noel eu acabei encontrando isso, justamente porque ele trabalha as categorias do humor, e aí você tem sátira, deboche, ironia... E ao mesmo tempo é um discurso muito sofisticado, poeticamente, discursivamente. Isso não existia antes dele na música popular.

Todo grande artista deixa heranças e ecos nas gerações posteriores. É possível ver ecos da obra de Noel na MPB contemporânea, sem contar Chico Buarque, já que em Chico essa herança é óbvia?

Compositor morreu aos 26 anos
(risos)  Mas eu vejo ecos de Noel não numa obra especificamente, ecos que estão no Chico, no Caetano, em todo mundo de uma certa forma, porque Noel estabeleceu o que eu chamo de uma matriz discursiva na produção da canção. O que é essa matriz discursiva? É justamente a competência ao fazer esse imbricamento entre a linguagem musical e a linguagem poética. E a competência está ali de tal forma que você não vê nenhum esforço, nada forçado, é a coisa mais natural do mundo. O Luiz Tatit falou que quando a gente escuta Noel é como se o samba sempre tivesse existido, de tão familiar que aquilo soa. O mais original e próprio de Noel Rosa é essa competência de trabalhar bem o discurso poético com o discurso musical. Eu acho que ele deixou isso para todos os grandes letristas da música popular brasileira. Por exemplo, letristas como Paulo Sérgio Pinheiro, Paulinho da Viola. Esses caras não vão tanto pela linha do humor, da ironia, mas são herdeiros na medida em que aprenderam e começaram a partir do nível de um Noel Rosa. Na MPB paulistana você tinha o Rumo, o Premeditando o Breque... E mesmo Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, todo esse momento da década de 80, que teve uma produção estética interessante, explosiva e bem experimental, vamos dizer assim, todo esse povo foi atravessado pelo humor e suas categorias, são obras bem irônicas. O Rumo tem um disco bacana chamado Rumo aos Antigos, em que eles gravaram canções não só do Noel, mas do Sinhô, do Lamartine Babo, com uma leitura moderna, genial, dessas canções antigas dos anos 20 e 30.

A obra de Noel Rosa é um pouco posterior ao modernismo paulista, também carregado de humor e ironia. Na sua opinião, Noel manifesta alguma influência do modernismo ou o compositor é uma matriz independente?

Não dá pra perceber, é muito difícil comprovar isso. Noel era um cara razoavelmente bem informado e culto, chegou até o primeiro ano da faculdade de medicina etc., mas não sei até que ponto ele lia poesia moderna. Tem um samba em que ele tira sarro dos futuristas, dos poetas futuristas, nessa coisa dos futuristas fazerem um discurso non sense. Agora, conversa com o movimento modernista ou leitura dos modernistas eu acho que não houve nada, ou muito pouco. No meu livro tem uma passagem, que eu cito, em que ele fala sobre a poesia parnasiana, como se a poesia do tempo dele ainda fosse a poesia parnasiana. É um discurso bonito em que ele fala que finalmente a arte chegou no povo e o povo influenciou a arte por intermédio do samba. E que os poetas do samba saíram do ranço do academicismo, como ele chama, e se deixaram influenciar pela arte do povo. Nesse discurso dá pra entender que ele está falando dos parnasianos, que na época faziam sucesso.

Em termos de pesquisa acadêmica, foi fácil ou difícil encontrar trabalhos sobre MPB?

Está ótimo fazer pesquisa sobre MPB hoje no Brasil. Sobretudo do ponto de vista da historiografia. Foi uma surpresa para mim, que não sou dessa área... Eu sou de letras. Mas a historiografia está bem adiantada. O que me ajudou muito foi o acervo digital do Instituto Moreira Salles, onde você tem acesso às coleções, por exemplo, de Tinhorão e Pixinguinha, entre outras. Outro exemplo é uma caixa organizada por um professor de biologia, Omar Jubran, com todas as canções do Noel e um baita livreto com todas as letras. Foi uma fonte de pesquisa incrível. Enfim, a gente já está num momento em que pesquisa sobre música popular brasileira pode ser feita com bastante seriedade.

Serviço:
Lançamento
Noel Rosa – o Humor na Canção, de Mayra Pinto (Ateliê Editorial)
Livraria da Vila: rua Fradique Coutinho, 915 – Vila Madalena (São Paulo)
8 de maio de 2012, a partir das 18h30

domingo, 6 de maio de 2012

Santos faz 3 a 0, é virtualmente tricampeão paulista e Neymar iguala outro feito da era Pelé


Foto: Ricardo Saibun/Santos FC
Camisa 11 chega a 104 gols, igualando Chulapa e João Paulo

Ao derrotar o Guarani no Morumbi por 3 a 0 sem se esforçar muito neste domingo 6 de maio, com uniforme azul, o Santos é virtualmente tricampeão paulista, título que ninguém ganha em São Paulo desde 1969, quando o próprio Alvinegro Praiano o conquistou. Depois de levantar a terceira Libertadores no ano passado, o tri estadual é mais um feito que a geração de Neymar (liderada pelo próprio) iguala aos triunfos da era Pelé.

E mais: com os dois gols marcados contra o Bugre, Neymar é o artilheiro do Paulistão (18 gols) e chega a 104 tentos com a camisa alvinegra, igualando Serginho Chulapa e João Paulo. Falta um para o jovem craque da camisa 11 ser o maior artilheiro da história do Santos pós-Pelé.

Quanto ao jogo de ida das finais do Paulistão propriamente dito, imagino que para os não santistas, e que portanto viram o jogo “de camarote”, foi uma partida até chata. Apesar do equilíbrio inicial, do jogo morno, a impressão era de que o Peixe não ficaria muito tempo no 0 a 0. E Ganso fez o serviço aos 42 da etapa inicial.

Sem falsa modéstia: Ganso
comemora imitando maestro
O Guarani atuou com valentia, marcou bem (e, diga-se, com lealdade, como havia prometido o técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão), fez o que pôde, mas a diferença entre os times é abissal. Até mesmo fisicamente, pois o time campineiro, já desfalcado na partida de seu atacante Fumagalli, lesionado, perdeu também contundido o importante camisa 4 Neto. Na medida em que o tempo passava, ia ficando mais e mais fragilizado. A rigor, a única grande chance de gol da equipe do interior foi um chute do lateral Bruno Recife aos 50 segundos do segundo tempo, que o goleiro Aranha desviou providencialmente e bateu na trave.

Lateral esquerda, o calcanhar de Aquiles do Peixe

De resto, a torcida do Santos deve estar preocupada com a lateral esquerda, setor que com Juan é muito vulnerável no time de Muricy Ramalho: os zagueiros Durval e Dracena têm de se revezar constantemente para cobrir as costas desse fraquíssimo lateral, que não à toa ficou encostado no São Paulo até o Santos ir buscá-lo por total falta de opção. Espera-se que o veterano Léo esteja sendo guardado para duelos mais importantes, pela Libertadores, pois mesmo o frágil Guarani penetrou com facilidade pela esquerda várias vezes. Se Léo não está mesmo 100% fisicamente, o Santos corre risco de sofrer sérios revezes por aquele setor quando enfrentar equipes mais fortes.

Sem o volante Adriano (que tomou hoje o terceiro amarelo) para a finalíssima contra o Bugre, Muricy, por outro lado, poderá escalar Henrique em seu lugar, jogador que critiquei e queimou minha língua, e que volta à sua posição original no próximo domingo, depois de atuar (e muito bem) improvisado na lateral direita, posição esta que Maranhão reassumirá após cumprir suspensão nesta primeira partida.

Libertadores

Mas, antes do jogo protocolar com o Guarani, o Peixe precisa ganhar do Bolívar na quinta-feira, 10, para se classificar às quartas-de-final da Libertadores. Parece barbada. Depois é que serão elas, como dizia minha avó, pois o adversário, depois do Bolívar, deve ser o Vélez Sarfield, que já ganhou do Atlético Nacional (COL) em Medellín, no jogo de ida, por 1 a 0.




Ficha Técnica

Guarani 0 x 3 Santos
Morumbi - 6 de maio de 2012

Guarani: Emerson; Bruno Peres (Thiaguinho), Domingos, Neto (André Leone) e Bruno Recife; Éwerton Páscoa (Willian Favoni), Fábio Bahia, Danilo Sacramento e Medina; Bruno Mendes e Fabinho Souza. Técnico: Vadão
Santos: Aranha; Henrique, Edu Dracena, Durval e Juan; Adriano, Arouca, Elano (Ibson) e Paulo Henrique Ganso; Alan Kardec e Neymar. Técnico: Muricy Ramalho

Cartões amarelos: Ewerton Pascoa e Fábio Bahia (Guarani); Adriano e Henrique (Santos)
Gols: Ganso, aos 42 minutos do primeiro tempo; e Neymar, aos 20 e aos 46 do segundo
Árbitro: Wilson Luiz Seneme

sábado, 5 de maio de 2012

Fatos da semana: STF declara ProUni constitucional
e Dilma dá xeque no mercado financeiro



Pelos muitos afazeres, e portanto falta de tempo, não falei aqui antes sobre os dois fatos da semana. O primeiro é o Programa Universidade para Todos (ProUni), considerado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ontem, 3 de maio. O segundo fato da semana é a presidente Dilma, que, nesta semana, dedicou-se a demonstrar que, se alguém tinha alguma dúvida, ela é a chefe de Estado.

Fato 1: o STF declarou válido o ProUni por 7 votos a 1 (o voto vencido foi do ministro Marco Aurélio de Mello: uma no cravo, outra na ferradura). O julgamento estava no tribunal desde 2004. A ação contra o ProUni foi ajuizada por três entidades: Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenem), pelo DEM e pela Federação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (Fenafisp).

Estudantes fazem o ProUni - Foto: Wilson Dias/ ABr

O ProUni foi atacado de todas as maneiras pela mídia (querendo desmoralizá-lo). Só essa campanha bastante virulenta, em si mesma, já demonstrou que por algum motivo o ProUni contraria interesses. Quais? Basta se informar e ver aonde leva o fio da meada.

Eu sou paulista da cidade de São Paulo. Aqui, se viu como o tucanato (o ex-governador José Serra e o atual, Alckmin) tratou a educação: com a polícia armada com seus porretes e gás de pimenta. Logo, para resumir a ópera, a declaração de legalidade do ProUni pelo STF é bastante importante.

Do ponto de vista político, é óbvio o dividendo que a decisão da "Corte Suprema" agrega à campanha de Fernando Haddad na cidade de São Paulo. A gestão de Haddad no Ministério da Educação foi ferozmente combatida pela mídia paulista, como no caso do Enem.

Fato 2: A presidente Dilma Rousseff falou grosso esta semana, e, como notaram até jornalistas do sistema Globo (no caso, a Globo News), seu governo deu um recado bastante claro na área econômica, e sob esse aspecto está indo bem mais longe do que o governo do presidente Lula.


Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ ABr
Dilma Rousseff, entre Guido Mantega (dir.) e Michel Temer

Quando o Banco do Brasil anuncia (na manhã desta sexta-feira, 4) uma nova redução nas taxas de juros para pessoa física, entre outras medidas, está dizendo para o mercado, o adorado deus mercado, que ele não pode tudo, e a mensagem é explícita: o governo pode não concordar totalmente com as “leis do mercado”.

O “mercado” chantageia, veladamente ameaça, mas fica numa situação difícil no tabuleiro de xadrez, já que uma instituição poderosa como o BB está dizendo: “os clientes que tiverem conta salário no BB e aderirem ao programa Bom pra Todos não pagarão mais do que 3,94% ao mês em nenhuma modalidade de crédito pessoal”.

A Caixa Econômica Federal já anuncia há semanas cortes de juros significativos. A mídia tenta timidamente, e em vão, se apegar à questão aritmética de uma alegada perda na caderneta de poupança. Perda largamente compensada com a queda de juros oficializada nas medidas adotadas pelos bancos federais.

Vamos ver como o “mercado” sai desse xeque. Se é que sai.