terça-feira, 11 de novembro de 2014

Férias!


Fui dar uma banda e já volto. Até breve!














Filé de pescada ao molho de camarão

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Xico Graziano pede a quem "sonha com ordem militar" para deixar o PSDB



Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas


Inúmeros analistas e blogueiros, desde sábado (1º. de novembro), comentaram essas manifestações de fascistas ou meros ignorantes pedindo ditadura militar, impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff e outras coisas absurdas.

Muitas páginas e textos foram dedicados a um ex-músico que se transformou numa triste caricatura decadente de si mesmo. Não sei por que dar tanta atenção, cartaz e audiência a uma figura insignificante como esse ex-rockeiro. É mais um indivíduo que vai passar à “imortalidade risível”, como diria Milan Kundera. E bota risível nisso.

Mas o fato realmente mais importante dos últimos dias foi o depoimento do Xico Graziano sobre as manifestações fascistóides que aconteceram em São Paulo contra Dilma. Segundo matéria da CartaCapital, Graziano, ex-deputado federal pelo PSDB-SP (1998-2006), chefe do gabinete do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995), ao qual é muito ligado até hoje, e que ocupou vários cargos em governos tucanos, comentou o seguinte sobre o pedido de “intervenção militar” no Brasil: “Achei absurda tal manifestação. Antidemocrática, não republicana. Ainda por cima, pedindo a volta dos militares, meu Deus, estou fora disso”, afirmou ele no Facebook, conta a revista dirigida por Mino Carta.

Graziano é um tucano de alta plumagem. Seu posicionamento é um fato político relevante no atual contexto. É pelo menos uma indicação de que uma parcela importante do PSDB ainda pretende fazer uma oposição democrática, republicana e não golpista ao governo Dilma.

É relevante porque pelo menos alguém com voz, dentro do PSDB, emite um sinal de que é preciso isolar essa trupe udenista ignorante e retrógrada que importuna o país.

Depois de dizer que a manifestação contra Dilma era "antidemocrática" e "absurda", Graziano foi "xingado" de "comunista" e ofendido com palavras de baixo calão, e publicou o seguinte texto no Facebook:

"Mexi num vespeiro da política ao postar aqui, ontem, opinião contrária ao impeachment da Dilma. Julguei a causa antidemocrática, não republicana. Não gostei daqueles discursos irados, revanchistas e reacionários. Tomei um troco bravo. Recebi centenas de comentários, críticos a maioria, de baixo nível muitos deles. Vou aprofundar a polêmica. Sigam meu raciocínio.
Existe no Brasil uma ideologia própria da direita que se encontra desamparada do sistema representativo, quer dizer, sem partido político. Sua força se mostra na rede da internet. Essa corrente luta para destruir o PT, acusando-o de querer implantar o comunismo por aqui. Defendem as liberdades individuais, combatem tenazmente a corrupção organizada no poder, desprezam totalmente as lutas sociais, mostrando-se intolerante com o direito das minorias. O Deputado Bolsonaro e o ensaísta Olavo de Carvalho são seus expoentes.
Tudo bem. Acontece que, no período das eleições presidenciais, essa tendência se articula no seio do PSDB, trazendo para nosso partido suas causas. É normal existirem as alianças eleitorais, e para tal existe o segundo turno. O problema surge quando os militantes da direita exigem que nós, os sociais democratas, encampemos sua ideologia, o que seria um absurdo.
A intolerância mostrada em minha página do facebook reflete essa incompreensão. Criticam minha coerência, decepcionam-se com os meus valores imaginando que eu deveria assumir os deles. Pior, alguns tolamente me acusam de ser “petista infiltrado”. Dá até um pouco de dó.
Ora, nós, do PSDB, nascemos inspirados na socialdemocracia europeia, com viés da esquerda. Nossa origem reside no MDB autêntico, que foi decisivo na derrubada da ditadura militar. Nós fomos decisivos na Constituinte de 1988. Fomos nós, com FHC à frente, que criamos as bases socioeconômicas do Brasil atual, inclusive as políticas de transferência de renda e as cotas.
Na complexidade do mundo contemporâneo anda difícil rotular os partidos, e as pessoas, como de “direita” ou de “esquerda”, categorias válidas no século passado, mas ultrapassadas hoje em dia. De qualquer forma, quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB. Vocês é que estão no lugar errado, não eu!

PS do blog: Não é o caso aqui de falar dos clichês repetidos ad infinitum pelas hostes tucanas ("Fomos nós, com FHC à frente, que criamos as bases socioeconômicas do Brasil atual", por exemplo), mas apenas registrar o fato político em si.

sábado, 1 de novembro de 2014

Data venia, discordo de André Singer


Jornalista e intelectual importante por sua visão relevante da economia, da sociologia e da política, André Singer não foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula por acaso. É autor de aguda análise do período iniciado com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no livro Os Sentidos do Lulismo (Companhia das Letras). Sua trajetória passa por carreira jornalística sólida, de repórter a secretário de redação da Folha de S. Paulo. Mas (e por tudo isso) sua análise na Folha de hoje, com todo o respeito, me parece simplista. Leia neste link o artigo de André Singer, "Sinais trocados".

O mundo inteiro, da América do Norte à Europa (e até na China há reverberações não desprezíveis), passa por uma crise que diversos analistas consideram a maior do capitalismo desde 1929 (acredito que com exagero).

A crise que devastou a Europa e colocou em xeque a maior potência do planeta, os Estados Unidos, é real. Mesmo assim, o Brasil “milagrosamente” conseguiu no primeiro mandato de Dilma Rousseff manter o emprego e a política do salário mínimo, e sustentar o mercado interno.

Ao contrário de crises anteriores, do final dos anos 1990, sob Fernando Henrique, o Príncipe, a escolha de Dilma não foi promover o arrocho e o desemprego, uma das faces mais cruéis do neoliberalismo. Mas isso tem custo. A escolha do governo brasileiro de colocar o Estado (e seus agentes econômicos, como os bancos estatais) a serviço de políticas públicas, e também em investimentos em infraestrutura, ou seja, investimentos de longo prazo, tem preço. Como, por exemplo, “o rombo das contas públicas”, manchete da imprensa hoje.

O ano de 2015 não era previsto como fácil por economistas de todos os matizes, de neoliberais a “desenvolvimentistas”. Fosse quem fosse o vencedor da eleição, Marina, Dilma ou Aécio, o cenário seria, e será, difícil, como há muito se sabe. A conta a pagar seria e será alta, como teria sido em quaisquer circunstâncias. Por exemplo, no caso de, hipoteticamente, José Serra ter vencido as eleições de 2010. Só que as bombásticas manchetes de Folha, Estadão e congêneres deste sábado, 1º. de novembro, sobre o rombo das contas públicas, continuam a investir no pessimismo, como fizeram ao longo de 2013 e 2014.  O artigo de André Singer, data venia, reforça esse pessimismo.

O Estado brasileiro, de 2008 para cá, precisou desenvolver uma política econômica baseada num difícil equilíbrio para, ao mesmo tempo, não sucumbir à crise nem, por outro lado, ficar refém do mercado financeiro (leia-se: especuladores). A manutenção do emprego, na contramão da crise europeia que colocou contingentes enormes de desempregados nas ruas, foi conquistada com muitas dificuldades. Como disse acima, isso tem preço. Em período histórico recente, na era FHC, as contas públicas foram à bancarrota e a opção, perversa, foi jogar a fatura nas costas do trabalhador. O país chegou a mais de 11% de desempregados, segundo o IBGE.

Quando Lula venceu a eleição em 2002, setores “progressistas” ficaram indignados com a escolha do presidente metalúrgico para a presidência do Banco Central, Henrique Meirelles. Mas não custa lembrar que Meirelles “iniciou sua gestão de presidente do Banco Central em um momento de crise econômica com o câmbio do dólar em valores próximos a R$ 4,00, taxa de juros Selic de 25% ao ano, inflação prevista para acima de 11% em 2003”. As aspas são da Wikipedia, mas os dados são esses mesmos.

Esses índices, em 2014, são os seguintes: o dólar está em R$ 2,48, a Selic em 11,25% e a inflação prevista pelo mercado para 2014 é de 6,45%.

Meirelles presidiu o BC de 2003 a 2010. Nesse período e no posterior, sob Dilma, os resultados das políticas públicas estão aí para quem quiser conferir. O “conservadorismo” de Lula na política econômica e no Banco Central esteve a serviço de uma política de distribuição de renda, o que é inegável.

Dilma tem um desafio enorme. Serão necessários ajustes para reequilibrar as contas públicas. 

Haverá impacto nas tarifas. A gasolina, calcanhar de Aquiles do mercado de consumo brasileiro, apenas como um exemplo, vai aumentar. “Não aumentou antes por causa da eleição”, dirão. Ora, e qual governo de centro-esquerda aumentaria o preço em tais circunstâncias, no meio de um dos mais difíceis processos eleitorais da história brasileira? Para entregar a presidência da República ao PSDB de Aécio Neves e Armínio Fraga?

Francamente, amigos, vão dar uma voltinha na Ucrânia e depois voltem para contar.