Foto: Eduardo Maretti
José Dirceu é a partir de hoje um ex-preso político, depois de decisão da Seguenda Turma do Supremo Tribunal Federal que, por 3 votos a 2, revogou sua prisão preventiva. Pela segunda vez, diga-se, pois já foi preso político na época da ditadura militar.
Em fevereiro de
2015, o jurista Celso Antonio Bandeira de Mello me disse, numa entrevista em
que comentou o chamado mensalão: "Vou citar um caso paradigmático: (o Supremo Tribunal Federal) condenou, não
apenas o Genoino, mas o Dirceu de uma maneira absurda. E tão absurda que dois
expoentes da direita, a saber, Ives Gandra da Silva Martins e depois Cláudio
Lembo – que aliás é um excelente constitucionalista, um jurista de muito valor
–, os dois disseram que a condenação do Dirceu foi sem provas. Foi
absolutamente sem prova. Foi tão escandalosa que essas duas pessoas
insuspeitíssimas se manifestaram nesse mesmo sentido".
De fato, ao
proferir seu voto na Ação Penal 470 ("mensalão") a ministra Rosa
Weber foi a autora de uma afirmação de causar perplexidade e que se tornou
símbolo da perseguição a Dirceu: “Não tenho prova cabal contra Dirceu – mas vou
condená-lo porque a literatura jurídica me permite”.
Hoje, o STF finalmente concedeu Habeas Corpus e
revogou a prisão preventiva do ex-ministro, condenado pelo juiz Sérgio Moro no
âmbito da operação Lava-Jato. Votaram pelo habeas corpus a favor de Dirceu os
ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Foram vencidos o
relator, ministro Edson Fachin, e o ministro Celso de Mello, que negaram o
pedido de soltura.
Zé Dirceu e Lula
são, na minha opinião, os dois mais importantes articuladores e construtores do
PT. Não é à toa que o ex-ministro da Casa Civil de Lula foi anulado da vida
pública e tornado sinônimo de corrupção.
No final de março
passado, em carta publicada pelo site Nocaute, do jornalista Fernando Morais,
Dirceu escreve: "Moro não tem uma prova sequer de que eu tinha 'papel
central' na Petrobras. Não existe nenhum empresário ou diretor da Petrobras à
época que o afirme; não há um fato, uma licitação, um gerente, um funcionário,
que justifique ou comprove tal disparate".
A prisão
preventiva é considerada uma das mais violentas práticas da Lava Jato. “A
partir do Sérgio Moro, a prisão preventivatornou-se a regra, e não a exceção.
Vivemos num país punitivo, um país onde só a punição tem resposta”, me disse o criminalista Antonio Carlos de
Almeida Castro, o Kakay, um dos mais experientes do país, pouco tempo atrás.
As pessoas não
têm ideia de que casos como o de Dirceu são muito mais graves do que supõem.
Hoje é Dirceu, amanhã poderá ser você o preso sem prova
"preventivamente". É contra esse estado de exceção que os mais
importantes juristas do país vêm se insurgindo. Dirceu era um preso político.
Aguardemos os próximos capítulos.
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Leia também:
Na RBA: Para Bandeira de Mello, decisão do STF que liberta Dirceu é volta ao Estado de Direito
Neste blog (10 de outubro de 2012), por José Arrabal: A história vai mostrar quem é José Dirceu
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Neste blog (10 de outubro de 2012), por José Arrabal: A história vai mostrar quem é José Dirceu