terça-feira, 29 de julho de 2014

De Palestina, política externa e falência moral



“Não podemos aceitar impassíveis a escalada de violência entre Israel e Palestina. Desde o princípio, o Brasil condenou o lançamento de foguetes e morteiros contra Israel e reconheceu o direito israelense de se defender. No entanto, é necessário ressaltar nossa mais veemente condenação ao uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças.”

Esta fala da presidente Dilma Rousseff, no discurso de hoje (29 de julho) na Cúpula do Mercosul, é de entendimento fácil para quem sabe ler. Ela lembrou também, para quem tem um pouco de história na cabeça, que o posicionamento da diplomacia brasileira é historicamente favorável à coexistência entre dois Estados soberanos. “O Brasil, em todos os fóruns, em todas as aberturas da Assembleia-Geral da ONU, que nós temos o privilégio de dar início, manifestou que a construção da paz naquela região do mundo passa pela construção de um Estado de Israel já operante, já construído e já sólido, e por um Estado Palestino.”

Clique na imagem para ampliar
Votação na ONU sobre investigação de genocídio na Palestina

Na semana passada, o governo brasileiro divulgou nota oficial convocando o embaixador brasileiro em Tel Aviv “para consultas” (o que na linguagem diplomática significa discordância de uma determinada política). “Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças”, disse a nota oficial do governo brasileiro.

Como resposta, o porta-voz do ministério das Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor, com a arrogância peculiar e cínica do Estado de Israel, disse que a manifestação do Planalto Central "não contribui para encorajar a calma e a estabilidade na região" e que “o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua a ser um anão diplomático".

Também na semana passada, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução que determina a formação de uma comissão internacional para investigar o genocídio na Palestina. A determinação foi aprovada por 29 votos a favor. Foram 17 abstenções e um voto contra. De quem? Dos Estados Unidos da América. Entre os 17 abstinentes, todos os europeus que votaram e Japão. Entre os que votaram a favor (contra os interesses sionistas), os países da América Latina e os dos Brics: Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul (clique na imagem acima para ver a votação por país).

Dilma também falou hoje da crise da Argentina: "O problema que atinge hoje a Argentina é uma ameaça não só a um país irmão, atinge a todo o sistema financeiro internacional. Não podemos aceitar que a ação de alguns poucos especuladores coloque em risco a estabilidade e o bem-estar de países inteiros".

O mundo está mudando. Quanta dor e sofrimento a queda do status quo que vigora desde o fim da Segunda Guerra vai custar é difícil prever, mas o mundo está mudando. Infelizmente a história é lenta demais e uma vida humana diante dela é muitíssimo curta.
 Reprodução
A falência moral de uma revista
Enquanto isso, a revista Veja que está nas bancas esta semana traz uma matéria de capa justamente sobre a política externa do governo Dilma. Diz a revista semanal na chamada de capa: “Silêncio sobre o crime do Boeing cometido pela Rússia, ataque a Israel, o alvo número 1 do terror, e, em Brasília, tratamento servil ao ditador de Cuba mostram a falência moral da política externa de Dilma”.

Não tem como alguém minimamente sensato levar a sério a afirmação da decadente publicação da Abril, que muitos ainda leem, e muitas vezes para ficar com problemas no fígado. Eu há muito tempo sequer folheio essa revista. Olho na banca a capa de vez em quando, mas geralmente nem isso.

Acho aliás curiosa a expressão “falência moral” dessa revista ao se referir a um governo que tenta construir uma relação geopolítica no mundo que coloque o Brasil como sujeito da história, juntamente com ouras nações que não aceitam mais a subserviência aos interesses norte-americanos e israelenses.

Ao falar em “falência moral”, Veja, talvez por um mecanismo inconsciente de seus chefes e capistas, parece falar de si mesma ao espelho. Pois é sua visão moribunda de política e relações internacionais que faliu moralmente. E não sou eu quem diz, são os fatos e a história que demonstram. Pelo mesmo mecanismo psicanalítico, a publicação também fala em "tratamento servil" ao ditador de Cuba. Veja tem saudade do servilismo aos Estados Unidos.

Veja tem saudade de um período quando o embaixador brasileiro nos Estados Unidos no governo militar de Castelo Branco, Juracy Magalhães, disse a célebre frase: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

Por tudo isso, as eleições deste ano no Brasil são muito importantes para o próprio Brasil, mas mais ainda para a América do Sul e América Latina, e também, ouso dizer, para o mundo.

Aécio Neves já disse que se eleito pretende “rever” a participação do Brasil no Mercosul. Como a Veja, ele defende uma política pela qual haja mais relações bilaterais. Com quem? Com os Estados Unidos da América. Uma visão de mundo moralmente falida.

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terça-feira, 22 de julho de 2014

Para lembrar: Dunga x Alex Escobar


Da seção Recordar é viver

No dia em que o Brasil bateu a Costa do Marfim por 3 a 1, pela primeira fase da Copa do Mundo de 2010 (20/06/2010), o então treinador Dunga (que volta oficialmente hoje ao comando da seleção após 4 anos) de repente se desentendeu com o jornalista Alex Escobar da Globo.





É um estilo realmente estranho para um treinador de seleção, embora Alex Escobar seja um tipo de jornalista que para mim está a anos-luz de distância do que eu considero um jornalista, e, também, apesar de muita gente considerar os xingamentos a ele dirigidos por Dunga bastante apropriados...

A equipe de Dunga, que, diga-se a bem da verdade, fazia uma Copa futebolisticamente melhor do que o grotesco time de Felipão este ano, acabou sendo eliminada nas quartas de final pela Holanda, perdendo por 2 a 1, com a ajuda do volante Felipe Mello, que foi expulso, e do goleiro Júlio César, que falhou feio no segundo gol holandês.


sábado, 19 de julho de 2014

Um brinde a João Ubaldo Ribeiro (1941-2014)



Foto: Nerivaldo Góes (ASCOM/FPC)

Uma vez, como repórter de cultura do Estadão (lá se vão 25 anos), tomei um uísque com João Ubaldo Ribeiro, acho que por ocasião da 20ª Bienal Internacional do Livro, em 1989, ano em que ele lançou o romance O Sorriso do Lagarto, que eu havia resenhado para o jornal (isso não tem na internet, naquela época ainda não existia nem Windows, a gente usava na redação um sistema DOS).

Lembro de um pequeno caso que ele contou à mesa durante aquele uísque. O caso foi que ele ficou sabendo de “fofocas” segundo as quais tinha sido visto passeando de mãos dadas com “uma moça” muito, mas muito mais jovem do que ele, no Rio de Janeiro. O que não era recomendável a um homem de 48 anos, casado. E mesmo que não fosse casado, era um pequeno escândalo, digno de ser comentado por aí.

– Só que aquela moça com quem eu estava andando é minha filha! – contou, entre risos, mas ao mesmo tempo indignado com a bisbilhotice tosca da sociedade, sedenta por saber (e falar mal) da vida alheia.

Ao contar isso, sorria aquele sorriso próprio dos baianos, divertindo-se com a estupidez dos fofoqueiros. Em João Ubaldo, o sorriso baiano ao narrar uma história fazia parte da linguagem, fosse a linguagem literária, fosse a de sua expressão facial.

Em palestras, João Ubaldo se referia a muitas pessoas como amigas (“fulano é meu amigo”; “beltrano é muito meu amigo”). Podia ser Antônio Carlos Magalhães, podia ser Jorge Amado, mas principalmente era Glauber Rocha.

Ubaldo era um ser político: todos que o conheciam minimamente sabiam que ele tinha uma amizade sincera, de irmão mesmo, pelo baiano Glauber Rocha, a quem amava, ou pelo baiano Jorge Amado, a quem igualmente amava, mas, no caso de Jorge, mais como uma espécie de padrinho espiritual-literário; e todos que o conheciam minimamente também sabiam que sua amizade pelo oligarca baiano Antônio Carlos Magalhães, ou pelo maranhense José Sarney, seu colega de Academia, era política.

João Ubaldo era um homem que transitava pela cordialidade, entendida sob a ótica mais ampla segundo o conceito de Sérgio Buarque de Holanda. Não estou dizendo que ele era o homem cordial, mas que entendia o que era esse conceito. Entendia vivendo.

Para ele, ser amigo independia de posições políticas. Podia ser o jardineiro, o senador, o cineasta, o porteiro do prédio ou o grande escritor, qualquer um desses podia ser seu amigo, se aquele cara merecesse esse epíteto, segundo o modo de ver o mundo de João Ubaldo, incapaz de trair qualquer tipo de lealdade.

Além de tudo, João Ubaldo era um grande escritor.

Quando muito jovem, muito tempo antes de conhecê-lo ou escrever sobre ele, li o livro que até hoje é o que mais gostei entre os que li de sua bibliografia: Sargento Getúlio, uma obra-prima da literatura brasileira, em exemplar do saudoso Círculo do Livro, há muito tempo extinto. Recomendo, seja em que edição for.

Enfim, espero que São Pedro, ou seja lá quem estiver ali na portaria, perdoe os pecadilhos do baiano de Itaparica João Ubaldo Ribeiro, que morreu na madrugada deste 18 de julho de 2014, e o deixe passar, e quem sabe ainda tomar uma última e prazerosa dose de uísque, de saideira.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Dilma Rousseff fala à Al Jazeera


A presidente Dilma Rousseff concedeu entrevista ao jornalista Gabriel Elizondo, da emissora de televisão Al Jazeera, do Catar em que fala de Copa do Mundo, política econômica e Brics, sobre a importância da criação do Banco de Desenvolvimento do Brics, um dos principais pontos discutidos na VI Cúpula do bloco dias 15 e 16 de julho, em Fortaleza.

Um trecho:

"Eu acredito que o Brasil se superou ao organizar essa Copa. Nós teríamos de ter a nota máxima. Primeiro, porque esperavam, muitas notícias diziam que o Brasil não tinha condição de fazer a Copa do Mundo. Não superamos só as questões concretas como garantir estádios prontos, aeroportos funcionando plenamente, uma segurança firme para garantir a segurança das seleções e chefes de estado, mas também superamos uma campanha negativa contra a Copa do Mundo do Brasil."

Assista:

domingo, 13 de julho de 2014

Alemanha é tetra no Maracanã


Resenha da Copa do Mundo [16 - domingo, 13 de julho]



Um grande e merecido título da Alemanha, a quarta Copa do Mundo de sua história. As outras foram em 1954, 1974 e 1990.

Ficha técnica

Alemanha 1 x 0 Argentina


Local:  estádio do Maracanã - Rio de Janeiro
13 de julho de 2014
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Público:  74.738 espectadores
Gol: Gotze, aos 7 minutos do segundo tempo da prorrogação

Alemanha: Neuer; Lahm, Boateng, Hummels e Howedes; Schweinsteiger e Kramer (Schurrle); Muller, Kroos e Ozil (Mertesacker); Klose (Gotze) Técnico: Joachim Low

Argentina: Romero; Zabaleta, Demichelis, Garay e Rojo; Mascherano, Biglia, Enzo Pérez (Gago) e Messi; Lavezzi (Aguero) e Higuaín (Palacio) Técnico: Alejandro Sabella


Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Schweinsteiger com a taça: mais do que justo

J.P.Engelbrecht/ PCRJ


J.P.Engelbrecht/ PCRJ


Marcello Casal Jr/ Agência Brasil


Carmem Machado

A final da Copa do Mundo


Resenha da Copa do Mundo [15 - domingo, 13 de julho]


Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Schweinsteiger, um dos símbolos da revolução do futebol alemão

Poucos times mereceram tanto ganhar a Copa do Mundo  na história como a Alemanha hoje na final contra a Argentina no Maracanã. Pelo trabalho de renovação espetacular do futebol no país, feito desde 2002, algo que mexeu com a estrutura, alavancou os investimentos em talentos com parcerias entre clubes, empresas e  governo e revolucionou o esporte, algo que tanto se defende no Brasil.

Algo que países como Brasil e Argentina ainda estão longe de fazer, ambos afundados na administração oligárquica do futebol, pela nossa CBF e pela AFA de Julio Grondona, o Ricardo Teixeira argentino, que está no poder desde 1979.

O time de Schweinsteiger, Kroos e Khedira merece o título também também pelo grande futebol que jogou na Copa, fruto desse magnífico trabalho de longo prazo.

E finalmente pela alegria, cordialidade e respeito pelo Brasil e o profissionalismo com que se mantiveram em Santa Cruz Cabrália, na Bahia, na Vila de Santo André, deixando inclusive investimentos em uma escola pública.

Porém, os alemães têm pela frente um grande time, a Argentina de Alejandro Sabella, que cresceu pouco a pouco, foi se montando taticamente durante a competição e chega à final contra a equipe de Joachim Low para fazer um jogo de igual para igual.

A Alemanha é favorita e merece o título. Torço para a Alemanha. Mas, como se sabe, o futebol muitas vezes ignora o merecimento.



quarta-feira, 9 de julho de 2014

Alemanha e Argentina fazem a negra



Resenha da Copa do Mundo [14 - quarta-feira, 9 de julho]


Valter Campanato/ Agência Brasil
Hermanos comemoram ida à final, o que não acontecia desde 1990

Torci para a Holanda, mas não fiquei insatisfeito com a classificação argentina.

Minha rivalidade com a Argentina de Di Stéfano, Maradona e Messi é apenas futebolística, e não cultural, política ou outra. Adoro Buenos Aires e lá qualquer brasileiro é sempre muito bem recebido. Admiro o futebol argentino, que encanta e surpreende, mas sobretudo encanta com sua magia, porém achava, e ainda acho, que a Holanda merece um título, pela história que construiu no futebol.

Posto isso, a Argentina merece estar na final, depois de um jogo muito ruim em que tanto os hermanos como os orange só pensaram em não perder e não tomar gol. Renegaram o ataque. Os craques Messi e Robben, muito marcados, tiveram atuação apagada. As equipes preferiram deixar na mão dos deuses e ir para a disputa de pênaltis. Nenhum dos dois mereceu ganhar o jogo e qualquer um que vencesse os pênaltis teria merecido. Foi a Argentina.

A Alemanha tem enorme favoritismo na final. Não vai fazer 7 a 1 na Argentina. Mas se der a lógica, os germânicos devem levantar a quarta Copa do Mundo, repetindo 1954, 1974 e 1990, evitando que o time de Messi conquiste o Mundial, o que conseguiu em 1978 e 1986.

Nota curiosa é que Argentina x Alemanha fazem a negra. Decidiram as copas de 1986, vencida pelos sul-americanos comandados por Maradona por 3 a 2, e de 1990, que os germânicos conquistaram por 1 a 0 graças a um pênalti inexistente marcado pelo árbitro da partida no finzinho do jogo. Pareceu-me à época que aquele pênalti a favor da Alemanha na final de 90 foi premeditado, como se a Fifa, então, se vingasse da “mano de Diós” de Maradona de quatro anos antes.

Mas na final de domingo, a Argentina vai precisar encontrar uma fórmula mágica para vencer o coração da Alemanha, que é seu meio de campo monstruoso formado por Schweinsteiger, Kroos, Khedira e Özil, e ainda com Müller circulando pelo campo.

Mascherano (que tem jogado uma barbaridade, um verdadeiro líder que o Brasil nunca teve), Biglia, Enzo Pérez e Messi foi o meio de campo argentino que enfrentou a Holanda, e que não me parece páreo para o quarteto alemão, mesmo que Di Maria volte e jogue no sacrifício. Messi fez um jogo apagado contra a Holanda. Talvez o jogo mais franco e agressivo da Alemanha favoreça seu jogo, talvez ele encontre espaços.

Enfim, a Alemanha deve ser a campeã da Copa das copas no Maracanã, no próximo domingo. A menos que o imponderável apareça, e Messi brilhe. Senão, vai ser difícil. "Vai ser difícil porque [a Argentina] tem pela frente uma Alemanha quase perfeita", disse o comentarista argentino Juan Pablo Sorín, da Espn, agora há pouco, que sabe do que está falando. Foi um grande lateral esquerdo e jogou até 2006 pela seleção argentina.

Outro comentarista do mesmo canal, o Mauro Cézar, disse uma frase interessante: "A Argentina tem mais apetite, a Alemanha tem mais time".

Enfim, a ver.



terça-feira, 8 de julho de 2014

Alemães fulminam futebol brasileiro e colocam em xeque a dinastia da CBF

Resenha da Copa do Mundo [13 - terça-feira, 8 de julho]


Marcello Casal/Agência Brasil
Miroslav Klose é o maior artilheiro das Copas do Mundo

Não sou o primeiro nem serei o último a dizer que a derrota histórica do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 no Mineirão hoje, pela semifinal da Copa do Mundo, tem um significado muito importante. É uma derrota do autoritarismo que comanda a CBF desde 1970, uma derrota da CBF de Felipão, de Parreira, de José Maria Marin, de Marco Polo Del Nero, desse esquema invulnerável que faz com que a gente questione: por que tudo muda no mundo, menos a CBF?

Durante o massacre alemão, conversei por telefone com amigos e pessoas íntimas que, de cabeça quente, vieram com as mais bizarras teorias da conspiração, que nem vou recontar porque cansa. Alguns não viram nada demais no time da Alemanha, um time “normal”, disseram, que só ganhou do Brasil de Luiz Felipe Scolari porque este errou, marcou bobeira, entregou a rapadura.

Legal foi a narrativa do meu pai, seu Oswaldo. Segundo ele, quando a Alemanha fez 2 a 0, ele foi cuidar de outras coisas. Meu pai é daqueles que dissimulam o nervosismo. Nervoso, me contou que, "fazendo outras coisas", começou a ouvir gols, e que achava que eram replays, mas não eram replays. "Eram gols mesmo!", disse, espantado.

“Isso não existe”, dizia um amigo. “Estou sonhando”, dizia outro. Outro ainda viu sintomas de um golpe de direita perpetrado pelo conluio de forças supranacionais (quiçá extraterrestres) que fizeram tudo certo para que o desfecho fosse essa tragédia. O que é cômico. Inclusive porque é arrogante, e ignora a superioridade (no caso dessa semifinal) esmagadora do adversário. Minha gente, a dinastia do futebol brasileiro acabou! Vocês não perceberam?

Em post deste blog em 7 de maio, quando Scolari convocou seus 23 jogadores, escrevi aqui: “De resto, o goleiro titular [Júlio César] e outros jogadores da ‘família Felipão’ formam um grupo de jogadores sem brilho e inexperientes em Copa, alguns dos quais eu nem conheço (...) É um time que, se Neymar não brilhar (e ele será duramente marcado), não tem muita chance (...) Sei não. Não quero secar, mas essa seleção não tem nem líder nem pinta de campeã”.

Em outros momentos, escrevi que a esse time faltavam jogadores que qualquer treinador de seleção do mundo queria ter em seu time, e citei especificamente Kaká, Robinho e Ganso, mas que Felipão, com a postura típica do autoritarismo da CBF, preteriu por nomes de sua “família”. Exemplos: o anão Bernard; o bisonho Jô; o envelhecido e lamentável Fred; o inútil Willian, que, nesta Copa, além de fazer propaganda da Guaraná Antarctica e desfilar com sua cabeleira black power, chamou a atenção por perder um pênalti na decisão contra o Chile nas oitavas; e ainda os cinco volantes convocados: Fernandinho, Luiz Gustavo, Hernanes, Paulinho e Ramires. A seleção de 1970 tinha um volante entre os 11 titulares: Clodoaldo, camisa 5, que não foi nem escalado por Zagallo, mas por Pelé, Carlos Alberto e Gerson, conta a lenda.

Pergunto: entre todos os medíocres convocados citados acima para a Copa por Felipão, não dava pra três (só três deles) darem lugar a Robinho, Kaká e Ganso? “Robinho é um mau caráter”, me disse um amigo; “Kaká não tá jogando”, me disse outro; “Ganso?”, questionou ainda outro, como se eu estivesse falando merda.

Então fomos com Neymar e mais ... Bernard, Willian, Jô, Fred, Maxwell (sabia que Maxwell era reserva de Marcelo, leitor amigo?) e mais um monte de volantes, e Felipão no comando, um técnico ultrapassado, ignorantão e paizão, coisa que não cabe mais no futebol. Enquanto estamos nessa política do século passado, a Alemanha está trabalhando faz tempo. Gosto muito do Gerd Wenzel (o velho e bom comentarista alemão da ESPN), que disse após o jogo: “A história recente do futebol alemão começou com a derrota para o Brasil na final de 2002”.

Essa administração amadora e “oligárquica” da CBF contrasta com a da seleção alemã, que é organizada, cheia de talentos e com um esquema tático espetacular, que esmagou um Brasil atônito a partir de um jogo brilhante baseado na blitzkrieg. Vejamos o que significa blitzkrieg segundo a Wikipédia: “termo alemão para guerra-relâmpago, foi uma doutrina militar em nível operacional que consistia em utilizar forças móveis em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tivessem tempo de organizar a defesa”.

Achei que foi isso. E isso é ótimo, porque futebol é uma metáfora para a guerra, e ainda bem que existe uma guerra metafórica ou poética, que o futebol incorpora.

Futebol, e futebol (o alemão) com uma eficiência tática e técnica impressionante, bonita de ver, espetacular mesmo. Méritos e palmas aos alemães.

Aos meus amigos, compadres, comensais e queridos de qualquer forma, só tenho a dizer que acho meio bobinhas as teorias da conspiração.

Aos teórico-conspiratórios, aos incrédulos, aos inconformados e aos céticos, eu digo: o esporte (e o futebol é o mais belo dos esportes) tem isso: surpreende, bate recordes, choca, estabelece novas marcas e novos marcos que daqui a décadas continuarão sendo comentados. O esporte é irônico. Perdemos do Uruguai em 1950, e da Alemanha em 2014.

A derrota humilhante e histórica do Brasil hoje para a Alemanha foi política e futebolisticamente merecida. Talvez sirva para alguma coisa. Felipão, arrogante como a CBF que manda no futebol brasileiro, não teve a dignidade de se demitir como fez o italiano Cesare Prandelli, que pediu demissão ao vivo, em plena entrevista coletiva, após a derrota para o Uruguai por 1 a 0 e a desclassificação de seu time da Copa do Mundo.

Vamos ver até quando esses caras da CBF e da Fifa, acusados de todo tipo de corrupção, vão resistir. Estão caindo pouco a pouco. É só observar o noticiário.

E, pra finalizar, palmas a Klose, o jogador que fez mais gols na história das Copas. Foram 16, contra 15 de Ronaldo.

E palmas a Neymar. Que além de ser a estrela do Brasil, de ter marcado 4 gols, tem um anjo da guarda muito forte que o impediu de estar em campo na tragédia do Mineirão. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

As semifinais



Resenha da Copa do Mundo [12 - segunda-feira, 7 de julho]


Brasil x Alemanha
Holanda x Argentina



Marcello Casal Jr/ Agência Brasil


Não tem como apontar favoritos. Com Neymar no time, jogando em casa e considerando que a Alemanha é freguesa do Brasil, o time de Felipão levaria um favoritismo, na minha opinião. Os times jogaram três partidas oficiais na história e a seleção brasileira ganhou todas: 4 a 0 (1999 - Copa das Confederações), 3 a 2 (2005 - Copa das Confederações) e 2 a 0 (2002 – final da Copa do Mundo). No total foram 21 jogos entre as duas seleções, com 12 vitórias brasileiras, 5 empates e 4 dos alemães.

A verdade é que o time brasileiro, que já era limitado, perde ainda mais “em carisma, futebol e alegria com a saída do Neymar”, como disse Paulo M. em comentário ao post anterior ao falar da Copa sem o craque brasileiro. Se o Brasil vai superar a perda e ultrapassar a eficiência germânica, seja com Willian ou Bernard, só conferindo. A escolha de Scolari deve ser Willian, que joga com Oscar no Chelsea e, além de ser mais jogador, é a solução mais óbvia também por isso.

Fala-se em garra e união para suplantar a ausência do craque do time e ter força para bater uma equipe que tem o goleiro Neuer, Lahm, Özil, Schweinsteiger, Müller e até Klose, jogador que às vezes joga, às vezes não, e pode fazer seu 16o. gol, ultrapassando Ronaldo como o jogador com o maior número de gols em todas as copas. Mais uma vez penso em como poderia ser diferente se o elenco tivesse jogadores como Ganso, Robinho e Kaká para poder usar numa hora dessa. E ainda tem que pensar na mudança na dupla de zaga, já que Thiago Silva, suspenso, será substituído por Dante.

Dante é canhoto, e David Luiz, embora destro, prefere jogar pela esquerda, mas vai ser deslocado para a direita da defesa para Dante entrar. Mudar uma defesa que está dando certo num jogo como esse... Ou seja, o time perde a força do ataque e muda a defesa contra um time organizado, forte no ataque, com uma bola parada perigosíssima, e que joga em bloco. 

Já a outra semifinal, também de impossível prognóstico, reúne um time que vem crescendo ao longo da competição (Argentina), mas perdeu Di Maria (o melhor da seleção sem contar Messi) e outro que joga com impressionante frieza (Holanda) e tem em Van Gaal um técnico que decide jogos.

Não tenho esse negócio meio bobo de torcer contra a Argentina, como muitos que ficam papagaiando uma rivalidade que, aliás, nem é tão grande para os argentinos, pois para eles os maiores rivais são historicamente Uruguai e Inglaterra.

Mas, no caso, vou torcer para a Holanda, embora às vezes a gente só descubra para quem vai torcer num jogo desse quando ele começa e a gente vê para onde o coração aponta.

Na verdade a Holanda é o único dos semifinalistas que não tem título mundial, já tendo passado perto muitas vezes e chegado ao vice-campeonato três vezes (1974, 1978 e 2010). Acredito que a Holanda mereceria um título, pela história que já construiu no futebol.

Argentina x Holanda vai ser a paixão com que os Hermanos encaram uma partida como essa contra o jogo matemático e tático com que o time de Van Gaal tem jogado nesta Copa. Falaram mal da Holanda por ter vencido a Costa Rica nos pênaltis. Mas, por incrível que pareça, dava a impressão que os holandeses tinham o tempo todo certeza de que venceriam. É impressionante a calma com que esse time joga. E às vezes é mais difícil vencer um timinho retrancado e limitado como essa Costa Rica do que um grande oponente. A Holanda chutou três bolas na trave, o goleiro consta-riquenho defendeu tudo e, ao fim, ganhou a Copa do Mundo com a classificação de um grande time.

Tenho acertado palpites aqui no blog. Disse no  post sobre as quartas de final (resenha 10) que “meu palpite é de que as semifinais serão Brasil x Alemanha e Holanda x Argentina”. E também, na resenha 11, antes de Brasil x Colômbia, que “acho que nesta sexta-feira nós passamos pela Colômbia. Meu palpite é 2 a 1”.

Os palpites anteriores eram baseados em alguma, ou muita, lógica, ao contrário das semifinais. Mas, para não perder o hábito, acho que a final vai ser Brasil x Holanda.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Eu podia estar contente e não tô



Reprodução
O nome desse animal covarde é Zúñiga




Será que agora vão acreditar que o Neymar apanha?

Quando era só no Santos "todo mundo" dizia que era “cai cai”. Se o garoto não pulasse já tinha sido machucado há muito mais tempo. Dessa vez ele nem pôde pular, foi pelas costas, foi covarde.

Será que a merda da FIFA vai voltar atrás sobre economizar nos cartões? O Ayrton Senna teve que morrer na pista pra que se mudassem os regulamentos de segurança na F1. O covarde deveria ter sido expulso quando entrou solando no joelho do Hulk, expulso, e não só ter tomado amarelo (mas nem isso tomou), mas já era alguma coisa, talvez o Neymar ainda estivesse na Copa e eu estivesse contente (eu e a maioria da torcida!).

A mordida do Luis Suárez não chega nem perto do que esse covarde do Zúñiga fez, criminoso, e a FIFA é cúmplice. Quero ver o quanto e se vão punir.

Quanto ao Neymar só nos resta torcer por sua rápida e perfeita recuperação.

Eu podia estar contente e não tô.

PS. Ainda bem que o PT comprou a Copa, imagina se não tivesse comprado.


Brasil x Colômbia: o criticado Henrique pode ser um trunfo decisivo de Felipão



Resenha da Copa do Mundo [11 - sexta-feira, 4 de julho]


Ricardo Stuckert/ CBF
Ou vai ou racha


Scolari deve colocar contra a Colômbia novamente Paulinho (para substituir Luiz Gustavo, suspenso). Mas, além disso, pelo que se viu do treino de quinta-feira (3), poderia também pôr Henrique no lugar de Fred. Não se sabe se vai apenas substituir Luiz Gustavo por Paulinho, se vai substituir Luiz Gustavo por Henrique ou se, numa mexida tática mais ousada, entraria com Paulinho no lugar de Luiz Gustavo e, como se especula, também escalar Henrique sacando Fred, fazendo o time ser aparentemente mais defensivo mas, na prática, ter mais opções de jogo do que tem com um centroavante estático esperando a bola chegar (o que é infrutífero se não tem um armador criativo, tipo Ganso, no meio de campo). Não esquecer que há ainda outro volante, Fernandinho.

Mas como assim, um volante-zagueiro (Henrique) no lugar de um centroavante (Fred)? Ainda mais Henrique, amigão do técnico, como escrevi no post anterior.

Mas acho que, ao contrário de algumas opiniões pessimistas, Henrique (ex-Palmeiras) pode ser de grande valia. Não é um craque, mas é um jogador versátil, que, além de ser da confiança de Felipão, sabe transitar com certa desenvoltura num setor amplo que vai da zaga ao meio de campo avançado. Dizem palmeirenses que Henrique sabe passar e até faz gol. Pode atuar como terceiro zagueiro num 3-5-2 ou como o volante que chega de trás para surpreender a zaga colombiana, assim como Paulinho. Talvez com Paulinho e Henrique, e sem o inoperante Fred, o poder de fogo do time aumente, até porque os laterais terão mais cobertura e até mesmo Oscar e Neymar ganham mais liberdade e apoio. 

E tem justamente o fator Neymar. Ele não fez gol no último jogo. Deve fazer na Colômbia. Alguns amigos me mandaram informações segundo as quais o treinador da Colômbia, o argentino José Pekerman, é um estudioso que ganhou do Brasil várias vezes nas disputas das seleções de base. Mas a mídia não fala que Pekerman era o treinador da Argentina na final da Copa das Confederações em 2005, quando o Brasil de Carlos Alberto Parreira massacrou os hermanos de Pekerman por 4 a 1.

Podem ser só elucubrações. Mas não acho que Henrique tenha sido a pior das piores escolhas de Felipão na convocação, como ouvi de amigos hoje. Jô, Bernard e Willian são três jogadores medíocres, para usar um termo ameno, que não deveriam estar entre os convocados e já mostraram isso. Não vejo Henrique como um problema entre os convocados, mas os três antes citados são convocações visivelmente equivocadas. Felipão se tocou de alguns erros, inclusive deixou transparecer isso no famoso papo com alguns jornalistas escolhidos por ele a dedo, esta semana.

Seja como for, repito, acho que nesta sexta-feira nós passamos pela Colômbia. Meu palpite é 2 a 1.

Para lembrar uma efeméride: hoje, 4 de julho, faz 20 anos que o Brasil de Parreira ganhou de 1 a 0 dos Estados Unidos na Copa do Mundo de 1994, sediada nos EUA, gol de Bebeto.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

As quartas de final



Resenha da Copa do Mundo [10 - quinta-feira, 3 de julho]


Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Felipão e seu capitão chorão Thiago Silva



O que espero da próxima fase da Copa do Mundo.


Brasil x Colômbia

Seria impensável antes da competição imaginar que uma partida de quartas de final da Copa do Mundo no Brasil reunindo a seleção brasileira e a colombiana fosse de difícil prognóstico. Mas a palavra para definir o que se pode esperar desse jogo é: imprevisível.

Técnica e taticamente o time de Felipão está dando nos nervos de quem entende e de quem não entende de futebol. São vários problemas conhecidos: ausência de um armador no meio de campo, ligação direta, laterais fracos, atacantes inoperantes (não apenas por não haver quem os abasteça de bolas, mas porque são fracos mesmo).  Jô é tão pior do que Fred que a opção que Scolari utilizou no treino como opção no lugar de Fred foi o volante-zagueiro Henrique, amigão do técnico. Até mesmo o “general” Felipão aparenta estar meio perdido.

Fora tudo isso, há o problema emocional. Tostão escreveu que, ao contrário da opinião geral, ele vê como positiva a emoção e a choradeira dos jogadores. “...a onda é dizer que o problema maior da seleção é emocional, que os jogadores não suportam a pressão e que choram demais, como se o choro fosse incompatível com a razão e a lucidez. Penso o contrário. O que salva a seleção é o envolvimento emocional dos jogadores”, disse. A opinião de Tostão é sempre respeitável, mas discordo dele. Como dizia minha avó, "tudo o que é demais enjoa". É choro demais. Um time emocionalmente desequilibrado, em que o capitão (Thiago Silva) pede pra não bater pênalti e fica sentado na bola chorando é meio ridículo. Espero que Tostão tenha razão, mas...

Enfim, não se pode cravar que vai dar Brasil. Mesmo assim, não sei por que, minha intuição me diz que passaremos pela Colômbia. Mas não sei se é intuição ou simples coração de torcedor.

França x Alemanha

Um jogo de difícil prognóstico. Acredito no favoritismo dos germânicos, que têm um time mais sólido e bem montado do que a equipe francesa, que tem vários talentos individuais e um jogo rápido. Mas o time, me parece, deixa muitos espaços e não é muito compacto. A Alemanha venceu a ótima Argélia num jogo espetacular pelas oitavas. A França bateu a fraca Nigéria, e não creio que tivesse superado os argelinos.

Holanda x Costa Rica

Acho quase impossível que os centro-americanos vençam os europeus nesse confronto. Parece-me o duelo mais fácil. Acredito que a Holanda, que despachou o México, vença, não com muita facilidade, mas nos 90 minutos, sem prorrogação. A Costa Rica bateu nas oitavas a limitadíssima Grécia.

Argentina x Bélgica

Um jogo em que a Argentina é favorita, para mim. Mas é um favoritismo que pode ser contrariado. O time sul-americano, que derrotou a retranqueira Suíça, tem mais talentos, mas o velho problema de sua defesa vulnerável pode comprometer. E o goleiro argentino, Romero, não é confiável. Os rápidos belgas, porém, demonstraram no dramático jogo com os Estados Unidos que, ao contrário da Suíça, sua defesa confessa, se apertada, e o time não parece destinado a se retrancar. Se se abrir contra os hermanos, perderá. Posso errar, mas acho que dá Argentina.

Semifinais

O vencedor de Brasil x Colômbia pega o que sobrar de França x Alemanha. Do outro lado vão se enfrentar os ganhadores de Argentina x Bélgica e Holanda x Costa Rica. 

Meu palpite é de que as semifinais serão Brasil x Alemanha e Holanda x Argentina.


terça-feira, 1 de julho de 2014

Crônica para argentinos e belgas em dia de céu azul em São Paulo - e saudações aos estadunidenses


Resenha da Copa do Mundo [9 - segunda-feira, 1o. de julho]


Viaduto do Chá

Hoje foi um dia em que, andando pelo metrô e pelas ruas de São Paulo, vendo incontáveis argentinos e, mais tarde, alguns belgas pelas ruas da cidade, trens, estações e plataformas do metrô, veio de repente à minha mente uma passagem da canção London, London, de Caetano.

He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree

A Copa do Mundo no Brasil, seja pelo futebol, seja pela festa, cores e línguas, é espetacular e emocionante.

No centro da maior cidade da América do Sul, as pessoas vestidas de azul, de azul e branco, de amarelo, de preto vermelho e amarelo, passam por mim felizes, brincando, umas cantando, outras silenciosas, outras simplesmente bêbadas.

And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree


Esquina do Viaduto do Chá e rua Xavier de Toledo

Num hotel em que fui para cobrir um evento político, o evento não começou enquanto o duelo Argentina x Suíça não acabou. Jornalistas, políticos, funcionários do hotel olhavam para a televisão ligada no hall. A esmagadora maioria torcendo para a Suíça. Ou melhor, contra a Argentina. Torci para a Argentina, nem que seja para fazermos com eles a sonhada final da Copa das Copas do Brasil, embora, se fosse apostar hoje, só pensando em futebol, eu talvez apostasse numa final entre Alemanha x Holanda. Eu era um dos únicos a ver aquele absurdo que acontecia no estádio de Itaquera: um time, ainda que meio desorganizado, tentando a qualquer custo chegar ao gol, por todos os meios, pelas pontas, pelo meio, por chuveirinho, numa partida em que Di Maria acabou superando Messi e finalmente pôs fim à esperança suíça.

O time de vermelho calculou que conseguiria ficar 120 minutos destruindo, destruindo e destruindo para conseguir ganhar nos pênaltis. Calcularam e quase conseguiram, mas os deuses do futebol puseram fim àquela arrogância de querer matar a alegria. Pois o que queriam os suíços senão isso? Evitar, evitar e evitar o gol. Foi para isso que entraram em campo. E foram punidos ao tomar o gol quando as cortinas estavam se fechando.

Segundo a CBN, um argentino infartou no Itaquerão diante do drama em que se transformou a partida. Morreu no hospital. Acho que não viu seu time finalmente bater a Suíça. Se assim foi, não viu um dos gols mais bonitos da Copa, a jogada de Messi vencendo na corrida e no drible a zaga suíça, o passe perfeito na diagonal e a conclusão de craque do camisa 7 da Argentina. Realmente, espetacular.

O time argentino furou o ferrolho vermelho e agora pega a estranha Bélgica nas quartas, que ganhou dos Estados Unidos por 2 a 1 em outro jogo impressionante, que foi para a prorrogação depois de 90 minutos de 0 a 0 e incontáveis gols perdidos, principalmente da Bélgica, um time habilidoso, com jogadores como Mertens, Hazard, De Bruyne e Orig, mas que, não sei se por azar ou nervosismo, perdeu um caminhão de gols enquanto o time norte-americano, bem postado, taticamente bem armado, ameaçava nos contra-ataques.

Os Estados Unidos de Zusi, Bradley e Dempsey, contra todas as expectativas, não ganharam o jogo em Salvador porque, aos 47 minutos do segundo tempo, o atacante Wondolowski perdeu um gol inacreditável quando a bola subiu e caiu aos seus pés, na frente do goleiro, e ele chutou bisonhamente para fora, para desespero do técnico deles, o alemão Jurgen Klinsmann, por ironia um dos maiores atacantes da história da Alemanha. Deu dó de Klinsmann, que pôs as mãos no rosto para tentar talvez esconder a sua incredulidade.

Como o jogo acabou 0 a 0 e na prorrogação a Bélgica fez 2 a 1, o erro do Wondolowski custou a classificação dos americanos. E perderam outro numa linda jogada ensaiada no fim da prorrogação. Pela luta, mereciam ter conseguido o empate. Pena.

Vi norte-americanos muito simpáticos torcendo feito doidos pro time deles num restaurante em São Paulo semana passada. Não torci contra eles. Pelo contrário. Sou do contra. Já disse que para mim futebol e política não têm nada a ver.


Belgas e argentinos no metrô de São Paulo. Vão se ver nas quartas

Metrô - Linha 4-Amarela


Viaduto do Chá

Clima de Copa do Mundo no metrô de São Paulo



Metrô de São Paulo. Ligação da Linha 1-Azul com a Linha 4-Amarela hoje (1° de julho) por volta do meio-dia, pouco antes de Argentina x Suíça pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo.





Alemanha 2 x 1 Argélia: um jogo para a antologia


Resenha da Copa do Mundo [8 - segunda-feira, 30 de junho]

A palavra épico está se tornando um clichê para se referir a jogos desta Copa do Mundo espetacular. Mas de novo recorro a ela para falar desse jogo impressionante, antológico, digno de adjetivos, algo de que não gosto na escrita, que foi Alemanha 2 x 1 Argélia pelas oitavas-de-final, em Porto Alegre.

Ivo Gonçalves/ PMPA


Cheguei a ficar triste com a desclassificação dos argelinos, que os alemães só conseguiram derrotar depois de lutar incessantemente por 120 minutos. Foi o único time africano para o qual torci nesta Copa. Têm um futebol insinuante, como disse o Gerd Wenzel.

Bem montado na defesa, a começar do goleiro Raïs M'Bolhi, com suas intervenções incríveis, com contra-ataques espetaculares, uma vontade quase religiosa de vencer, mas muito diferente daquela vontade bruta e ignorante que às vezes vemos em certos times. A gana do time da Argélia parece ter a ver com a biografia de seu técnico, o bósnio Vahid Halilhodzic, que vale a pena conhecer: Sobrevivente de guerra, ídolo no Nantes e cavaleiro francês: conheça Vahid Halilhodzic.

Poucas vezes vi na vida um jogo com intensidade igual. Parabéns à Argélia, o país de Albet Camus. E a Alemanha, com seu futebol tático, continua devendo.

Já a França bateu a fraca Nigéria por 2 a 0. Bem penteadinhos, os franceses pareciam que estavam jogando uma partida de futebol de praia. Com postura blasé, a seleção francesa se baseia na rapidez, na troca de bola rápida, mas tem uma defesa vulnerável, principalmente pelas alas, e meu palpite é que, se a Argélia não bateu a Alemanha, não vão ser os franceses.