sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Nações Unidas dizem sim à Palestina


Não podia descansar sem registrar um fato que, como eu já disse aqui, é a causa mais importante do início do século XXI: o reconhecimento da Palestina como Estado.

A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o pedido da Palestina de ser reconhecida como Estado observador na comunidade internacional. É o mesmo status que tem o Vaticano. O requerimento, apresentado pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, foi aprovado por 138 votos das 193 nações votantes. Outros 41 países se abstiveram e apenas nove votaram contra, claro que Israel e Estados Unidos entre estes. Os outros sete contrários são Canadá, República Tcheca, Palau, Nauru, Micronésia, Ilhas Marshall e Panamá.


Placar da Assembleia Geral das Nações Unidas – quinta-feira, 29/11/2012

O fato tem uma importância política e diplomática enorme. Significa que a partir de agora “o território de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental passam a ser territórios ocupados [por Israel] de um Estado já reconhecido pela ONU”, me disse o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, para matéria que vai sair nesta sexta na Rede Brasil Atual.

De resto, a posição de Israel e Estados Unidos foi fragorosamente vencida por 138 países contra nove e 41 abstenções (os que votaram envergonhadamente contra os palestinos). Entre os que se abstiveram, duas potências europeias, Alemanha e Grã-Bretanha.

A posição de Israel e Estados Unidos os isola ainda mais numa posição retrógrada que não chega nem perto do acordo de Oslo (Noruega) em 1993 (19 anos atrás), mediado pelo então presidente Bill Clinton e assinado pelo premiê israelense Yitzhak Rabin e o líder palestino Yasser Arafat. Pelo acordo de Oslo, por um momento o mundo acreditou que a paz surgira no Oriente Médio. Mas infelizmente Rabin foi assassinado por um fanático judeu ortodoxo ultradireitista e a paz dançou.

O Estado palestino agora tem poder de voz, e não ainda de voto, o que só chegará quando for admitido como Estado pleno. Mas o avanço é evidente.

Do primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não se podia esperar atitudes enobrecedoras, é preciso admitir. Como direitista que é, prefere a guerra. Com sua intransigência, Netanyahu prefere negar o acordo com o moderado Mahmoud Abbas para continuar tendo como único diálogo o diálogo da guerra com o Hamas.

Mas de Barack Obama esperava-se alguma grandeza. No episódio histórico na ONU hoje, objeto deste post, a postura dos Estados Unidos de Obama mostra que, como estadista, ele é um zero à direita.

Leia também: entrevista com o antropólogo e fotógrafo Rogério Ferrari

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Felipão e Parreira são a mesmice, mas com Mano Menezes era avacalhação


Formada por Luiz Felipe Scolari (pentacampeão em 2002) e Carlos Alberto Parreira (tetra em 94), já temos a "supercomissão" técnica que comandará a seleção do Brasil na Copa de 2014. Para resumir em uma expressão, aliás já citada na rede hoje: mais do mesmo.


Agora é suar a camisa (e a toalha) pela famiglia Scolari

Como já falei, não gosto do futebol gaúcho e tampouco do parreirismo. Acho tão enfadonho repetir e ficar falando de Felipão e Parreira. De novo! Quem aguenta? O futebol brasileiro é um dos setores em que as décadas passam e tudo continua igual, a mesma cartolagem, os mesmos manda-chuvas e coronéis; os mesmos métodos e o cinismo de sempre. No caso de Felipão e Parreira juntos, arrogância redobrada.

Um colega de redação comentou hoje: "com Felipão fica mais fácil torcer contra". O outro rebateu, ao mesmo tempo sério mas também em tom de brincadeira: "torcer contra eu não torço! Isso é coisa de paulista". Enfim, à escolha do freguês. Não sei se é torcer contra, mas para mim a seleção cada vez interessa menos. Isso chegou ao ápice com Mano Menezes, período em que a "seleção canarinho" chegou quase à avacalhação, de fato. Parreira e Felipão pelo menos impõem mais respeito... É menos pior do que Mano, reconheçamos. O futebol brasileiro é tão retrógrado que a opção pelos treinadores campeões de 1994 e 2002 se torna uma evolução, se comparada com a finada era Mano.

Dedico três linhas a futebol propriamente dito: Parreira me parece taticamente mais inteligente do que Felipão. Este, francamente, era para mim a pior opção entre os nomes especulados. Falando só de futebol, eu escolheria Luxemburgo ou Pep Guardiola. Mas até Parreira eu preferia a Felipão.

De resto, repito as palavras que disse em post de dias atrás:

Não vibrei com Parreira em 94, mas vibrei com Felipão em 2002. Porém, vibrei menos pelo treinador do que pelos achados de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Nazário nos jogos mais importantes, contra Inglaterra e Alemanha – neste, 2 a 0 na final, dois gols de Ronaldo. Vibrei até com Cafu erguendo a taça. Mas não com Scolari, que, ainda mais, hoje está totalmente ultrapassado.

Acrescento que, em 94, só vibrei com Romário. Especialmente na antológica jogada em que ele carrega a bola desde o meio campo e dá de bandeja pra Bebeto bater como um taco de sinuca, de primeira, no 1 a 0 contra os Estados Unidos. Um dos grandes gols que eu vi.

Parreira conseguiu um feito até então inédito: foi o primeiro a ganhar a final de uma Copa do Mundo nos pênaltis (em 2006, Marcello Lippi igualou a proeza com o título da Itália contra a França nas penalidades máximas). Mas de Parreira, o título de ineditismo nesse quesito ninguém tira.

E Felipão? Vamos ter que engolir.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Fora Muricy ou não?


Ricardo Saibun - Divulgação/Santos FC
Duas opiniões, opostas, sobre a questão: o Santos deve manter Muricy Ramalho ou deveria demiti-lo?

Olavo Soares, do blog Escanteio Curto (santista):

Pode soar um tanto quanto imediatista pedir a demissão de um técnico que deu ao Santos dois títulos paulistas e a tão sonhada Libertadores. Mas não há como não pensar diferente (...)

(...) o Santos, hoje, é um bando. Um time desorganizado, sem opções táticas (...) Não há criatividade ofensiva e nem mesmo uma solidez na defesa que poderia nos fazer crer que a insatisfação dos santistas com o técnico deriva de sua fama de retranqueiro.

(...) A ausência de Neymar em grande parte dos jogos deste ano era previsível (...) A previsibilidade é o que determina a falha de Muricy. Ele tinha a informação e, portanto, tinha a obrigação de saber lidar com ela. (...) Não há como fugir do óbvio outra vez: se não fosse Neymar e suas poucas aparições no Brasileiro, estaríamos na zona do rebaixamento.

(...) Por isso é hora de agradecer a Muricy pelo bom trabalho no primeiro semestre de 2011, e permitir que ele e o Santos tenham vidas novas, distantes um do outro.

Fora Muricy.


Rice Araújo, artista, ilustrador, chargista (e santista)

Eu acho que o Muricy deve continuar, sim. Claro que todos os times têm altos e baixos e se a cada curva negativa trocarmos as peças não teremos os benefícios de um grupo mais unido, sólido e estável. Não acho que a fase pela qual passa o Santos seja algo tão lastimável que só a troca do técnico consertaria.

Pra mim é uma flutuação normal de um time que tem que se reencontrar após um certo caos que ocorre após todas as mudanças, e a superexposição do Neymar, merecida diante de seu talento, deve estar causando também algumas dificuldades de relacionamento nos bastidores, o que era bem previsível que ocorresse em algum momento.

Creio que um técnico com a experiência do Muricy pode administrar os egos no vestiário e acelerar esse processo de acomodação da equipe, saindo dessa fase com um time tão unido quanto no final de 2011.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Operação da PF mostra 'banalização' da violação à privacidade

Foto: Marcelo Camargo/ABr
O superintendente da PF Roberto Troncon (centro) entre
os delegados Julio Cesar Baida (esq) e Valdemar Latance Neto
Publicado na
Rede Brasil Atual


A Operação Durkheim, deflagrada pela Polícia Federal hoje (26), prendeu 33 pessoas com mandados de prisão temporários e executou 87 mandados de busca e apreensão em seis estados: São Paulo, Goiás, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
Em entrevista coletiva, o superintendente da PF em São Paulo, Roberto Troncon, disse que a operação desbaratou dois grupos criminosos ao mesmo tempo a partir de um investigado comum às duas organizações. Um bando era especializado na espionagem ilegal da vida privada das pessoas usando a violação de sigilo fiscal, telefônico e até consulta de banco de dados criminais protegidos. O outro tinha como especialidade remessas ilegais ao exterior de recursos de origem ilícita ou não declarada.

Um senador, um ex-ministro, dois desembargadores, dois prefeitos, um banco e uma filial de emissora de televisão são vítimas dos criminosos, segundo a Polícia Federal. Investigado pela Operação Durkheim, o vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Marco Polo Del Nero, prestou depoimento pela manhã na sede da PF na capital paulista.

Troncon e dois delegados que participaram da coletiva disseram que nenhum dado sobre os acusados seria revelado, em respeito à preservação da imagem e à presunção da inocência. O processo corre em segredo de justiça. Sobre o cartola Del Nero, a única informação foi passada pelo delegado Valdemar Latance Neto: “Nesse caso, como há muita especulação, o que podemos garantir é que não diz respeito a futebol. Se ele foi indiciado ou não, essa informação está coberta por sigilo”, informou.

Latance afirmou que ficou clara nas investigações a “banalização da violação do direito à privacidade”, acrescentando: “Surpreendeu muito a grande facilidade em se obter esses dados sigilosos.” Segundo ele, há “uma quantidade imensa de vítimas das quadrilhas. Estimamos em cerca de cinco mil, sete mil, dez mil”.

Pessoas que se identificavam como “detetives” obtinham cadastros sigilosos por meio de funcionários ou pessoas ligadas a operadoras de telefonia, policiais e até um servidor público do Serpro. “Os dados sigilosos eram vendidos a preços módicos por intermediadores, por cerca de R$ 50 um extrato telefônico”, exemplificou Latance. “O cadastro chegava ao ‘consumidor final’ por 300 reais”. Os compradores adquiriam os cadastros por vários motivos, dos mais banais, como suspeita de traição, até os motivados por espionagem empresarial. Um grande escritório de advocacia estava envolvido no esquema, mas seu nome, como os outros, não foi revelado.

Do total estimado, há 180 vítimas comprovadas que tiveram sigilo fiscal, telefônico ou bancário devassados pelo grupo. Todas as vítimas identificadas, inclusive as autoridades dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, serão notificadas e ouvidas na qualidade de vítimas nas próximas semanas. De acordo com a PF, foram apreendidos R$ 600 mil e 27 veículos de luxo.

A investigação começou a partir da morte de um policial federal em Campinas (São Paulo) em dezembro de 2010. Ele teria se suicidado e antes divulgou uma série de dados sobre envolvimento de outros policiais em atos de corrupção e informações sigilosas. Daí o nome que inspirou a operação: Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês e autor do livro O Suicídio (1897).

sábado, 24 de novembro de 2012

Duas visões sobre a queda de Mano Menezes e o próximo técnico da seleção


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Muita gente acha que a seleção brasileira, cada vez mais, só serve para atrapalhar o futebol no país. Para os torcedores do Santos, isso cala mais fundo atualmente. O clube fez um esforço inédito, manteve o craque Neymar contra a investida dos poderosos Chelsea, Barcelona e Real Madrid e, no entanto, o atleta desfalcou a equipe 12 vezes durante o Brasileirão.

O Santos ganhou no Campeonato Brasileiro de 2012 cerca de 70% dos pontos que disputou com Neymar no time (faço uma estimativa tendo em mente que, em setembro, o índice era realmente de 74% dos pontos conquistados com ele em campo, e pífios 24,5% sem o craque). O índice de aproveitamento da equipe com Neymar, em torno de 70%, é o índice de aproveitamento do Fluminense, campeão brasileiro.

Voltando ao fato do dia, a súbita queda de Mano Menezes vai fazer com que as apostas sobre seu substituto se prolonguem até janeiro, quando a CBF disse que vai anunciar o treinador que comandará o balcão de negócios na Copa do Mundo. Para quem ainda torce muito pela seleção brasileira (ainda há pessoas assim?), ou no mínimo tem interesse por ela, a queda do treinador deve ser comemorada, já que com Mano acho que ganhar a Copa seria muito difícil.

No caso deste blogueiro, penso que há duas maneiras de raciocinar sobre o tema queda de Mano Menezes e quem será o sucessor.

Raciocínio 1: esquecendo o lado “balcão de negócios”

Deixando de lado por um momento o caráter balcão de negócios de tudo isso, só pensando em futebol, temos algumas opções: Vanderlei Luxemburgo? Felipão? Muricy Ramalho? Abel Braga? Tite? Pep Guardiola? Eu preferiria Luxemburgo. Na seleção ele teria que render e para isso precisaria esquecer seu complexo de manager por (apenas) menos de dois anos, até a Copa do Mundo. Teria de ser uma gestão pragmática, mas o treinador entende muito de futebol e seria o candidato a apresentar um time mais bonito de se ver jogar.

Falam que Felipão é favorito. Será? Primeiro, opinião pessoal, escola gaúcha no me gusta. Portanto eu tiraria da lista de cara também Tite. Em segundo lugar, independentemente do que eu acho, com paulistas aparentemente no comando da CBF (Marin, Marco Polo Del Nero), será que optariam por uma solução gaúcha para o comando técnico? Pode ser que sim, pode ser que não. Meu palpite é que não. Ou será que torço pra que não?

Enfim, Muricy e Luxemburgo seriam candidatos fortes numa solução paulista para a seleção. Embora carioca, Luxemburgo de certa forma se “paulistanizou”, já que suas grandes conquistas foram em São Paulo por três grandes clubes do estado: Palmeiras (1993/94 e 96), Corinthians (1998) e Santos (2004 e o menos brilhante Peixe de 2006/07).

São só especulações, mas eu não acharia a solução Guardiola ruim. Consta que inclusive ele teria se oferecido ao cargo. É preciso parar com esse corporativismo meio falso. Todos os mais cotados treinadores brasileiros cobiçam o posto vago, embora se declarem condoídos com a demissão do colega Mano. Já Guardiola com certeza faria algo mais inquietante, eu diria, do que essa mesmice de Muricy, Tite e Felipão, e até de Abel Braga. Futebolisticamente falando, por mim, ficaria entre Vanderlei e Pep. Ponto.

Raciocínio 2 – Pensando como santista

Neste caso, meu raciocínio já seria outro. Como torcedor do Peixe, eu indicaria Muricy para substituir Mano Menezes. Seria a forma mais rápida e indolor, sem traumas, de meu time se livrar do treinador. Que tem seus méritos, reconheço, mas não é um estilo que combina com o Santos. O futebol dos seus times é feio, e eu não gosto do meu time jogando feio. (Não vibrei com Parreira em 94, mas vibrei com Felipão em 2002. Porém, vibrei menos pelo treinador do que pelos achados de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Nazário nos jogos mais importantes, contra Inglaterra e Alemanha – neste, 2 a 0 na final, dois gols de Ronaldo. Vibrei até com Cafu erguendo a taça. Mas não com Scolari, que, ainda mais, hoje está totalmente ultrapassado.)

Indo para a seleção, portanto, Muricy ficaria feliz, realizaria o sonho de todo técnico, e o Peixe poderia retomar o rumo do futebol que tem a ver com suas tradições e sua escola, as quais o técnico são-paulino é incapaz de entender, pelo menos segundo o que demonstrou até aqui, um ano e sete meses após assumir.


*Atualizado às 02:20


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Os caminhos da liberdade de Jean-Paul Sartre [1] – A idade da razão


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Primeiro romance da trilogia Os caminhos da liberdade, o romance A idade da razão (1945) foi concebido na tensa Europa do pré-Segunda Guerra Mundial, quando as tensões e conflitos de interesses econômico-políticos e a ascensão do nazismo já faziam pairar sobre o continente as sinistras sombras da conflagração mundial.

Nesse ambiente em que a individualidade se esfumaçava, o romance, corajosamente, e traduzindo para a linguagem da ficção os preceitos da filosofia existencialista, faz prevalecerem os conflitos individuais e os problemas de consciência de pessoas comuns: o professor de filosofia Mathieu Delarue (alter-ego do próprio Jean-Paul Sartre) busca uma moral livre do modo de ser burguês e cristão (ou burguês e cartesiano, já que no livro a tensão se fragmenta entre os personagens como uma psique da própria França enquanto nação). Em Sartre, os conflitos individuais não ultrapassam a história. Os egos se espedaçam junto com a história da Europa, em particular a França, conflagrada.

Por meio de uma consciência rigorosa e crítica, porém impotente, Mathieu vive atormentado pela angústia e pela idéia de fracasso. Sua amante Marcelle convive com a paixão platônica de Mathieu pela aluna Ivich.

O homossexual Daniel, personagem considerado por alguns uma citação de André Gide, procura a liberdade anárquica no ato gratuito.

E a liberdade, para o personagem Brunet, não existe individualmente, mas apenas através do engajamento político (de esquerda).

Jacques é o homem cuja verdade consiste no casamento e numa vida “estável”. Cada um dos personagens exercita, na medida em que faz uso do livre-arbítrio, o conceito filosófico segundo o qual “o homem está condenado à liberdade”.

À maneira de Flaubert, todos os personagens de A Idade da razão são pequeno-burgueses medíocres. Ou, talvez, melhor dizendo, não-heróis.

A trilogia continua com Sursis (a obra-prima dos três livros) e Com a morte na alma. Em outra ocasião falarei dessas obras.

Leia também: Sartre resiste ao século.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

De volta à segunda divisão


Dez anos depois de cair pela primeira vez, Palmeiras é rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro

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Incredulidade: o sentimento palmeirense

Por Paulo Maretti

Sob o comando de Luiz Felipe Scolari até a 24ª. rodada, o time, com elenco limitado, optou por priorizar o mata-mata do primeiro semestre e “deixar pra lá” o começo da competição nacional, acreditando que facilmente poderia reverter eventuais adversidades. Ou, em uma segunda hipótese, Felipão preferiu ficar com as honras do título da Copa do Brasil e abandonar o barco no meio do caminho do Brasileiro para que o contrapeso do título não lhe recaísse sobre as costas e não manchasse seu currículo de grife milionária (a versão de que ele foi demitido é a oficial, mas há quem diga que houve acordo entre as partes).

O técnico agora processa Edmundo por este tê-lo acusado, em comentário na Band, de fazer negócios paralelos com empresários ligados a jogadores do São Caetano, em particular, um tal de Magrão, genro do presidente do Azulão e amigo de Galeano, ex-supervisor de futebol do Palmeiras.

Lembrando o episódio envolvendo o bom meia Pedro Carmona, da base do clube: durante a gestão de Felipão, o Palmeiras recebeu proposta de um clube japonês pelo jogador. De malas prontas para embarcar, a negociação do jovem atleta foi barrada por Scolari, sob a alegação de que o jogador fazia parte de seus planos. Depois disso, o técnico nunca o pôs em campo antes dos 35 do segundo tempo. E o garoto acabou negociado, a preço de banana, com o São Caetano: “O Carmona vai para o São Caetano e vai ser vendido por lá, tem outros vários jogadores do São Caetano caindo de paraquedas aqui. Eu não posso afirmar nada, mas tudo isso é estranho”, disse na ocasião Seraphim Del Grande, ex-diretor de futebol do Palmeiras.

Sobre as pífias administrações que levaram o clube à série B (a primeira de Mustafá Contursi e agora de Arnaldo Tirone, um fantoche dele), não vou ficar repetindo o que todos já sabem. A boa notícia para os palmeirenses é que, com a queda do time hoje, cai também, de uma vez por todas, um mandatário corrupto (Contursi, inclusive investigado pela Polícia Civil). Segundo se veicula, o clube nestas eleições de 2013 já pretende afastar candidatos vinculados ao cartola.

De se ressaltar, a meu ver, o trabalho de Gilson Kleina até aqui. Melhorou muito o time e trouxe vários jogadores da base. Pôs em jogo, hoje, corajosamente, um estreante no time profissional: Bruno Dybal. Pode ser um craque ou uma fiasco, mas só assim se encontra um grande valor entre mil apostas.

Vamos, sim, inaugurar a Arena na série B. Ser grande não é ganhar sempre.

domingo, 18 de novembro de 2012

A entrevista de Dilma ao El País e o 'mensalão', segundo o jornal espanhol


Ricardo Stuckert
Dilma discursa em Cádiz, Espanha, neste domingo, 18 
O jornal El País, da Espanha, publicou hoje uma matéria baseada em conversa do jornalista Juan Luis Cebrián com a presidente Dilma Rousseff, ocorrida na última segunda-feira, dia 12. A matéria não foi publicada à toa hoje: neste domingo, Dilma discursou na sessão de abertura da 22ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Conferência Ibero-Americana, em Cádiz, na Espanha. Nela, "voltou a defender o modelo brasileiro de investimento público e abertura de mercados como antídoto contra a crise econômica mundial", segundo a Agência Brasil.

Na matéria do El País, ao contrário do que vemos comumente nas edições publicadas pela mídia brasileira, percebe-se um distanciamento interessante entre o entrevistador, o jornalista do periódico espanhol, e a entrevistada, a presidente Dilma. Distanciamento que, no entanto, não esconde um notório respeito do autor do texto e mesmo admiração que perpassam a matéria, que é bastante abrangente.

Nela, Dilma fala sobre a crise européia, sobre política econômica europeia e brasileira, sobre a época em que o Brasil vivia sob a égide do Fundo Monetário Internacional, sobre a todo poderosa chanceler alemã Angela Merkel, sobre ditadura, sobre polítca.

Fazendo um recorte, me chamou a atenção que o Uol/Folha de S.Paulo também deu chamada para a entrevista de Dilma ao El País. Na edição do veículo dos Frias, o título da matéria é: "Em entrevista a 'El País', Dilma diz que 'acata' sentenças do mensalão". O veículo do grupo editorial sediado na rua Barão de Limeira nem de longe cita, porém, a seguinte passagem da matéria de Juan Luis Cebrián:

"O julgamento, no qual [José] Dirceu assegura ter sido condenado sem provas, foi respingado de interesses políticos e de uma nebulosa campanha midiática contra os acusados cujo objetivo indubitável era manchar a figura do próprio Lula da Silva."

Para melhor entender a entrevista, acho que o internauta pode ir direto à fonte e ler a matéria do El País na íntegra, que está aqui:

“Las recetas que se están aplicando en Europa llevarán a una recesión brutal”

sábado, 17 de novembro de 2012

A tragédia sem fim da Palestina



Fotos: ALI ALI/Lusa/ABr
Gaza - Palestina chora em funeral do irmão Audi Naser, 10 anos, em Beit Hanun,
no Norte da Faixa de Gaza. O garoto foi morto durante ataque aéreo israelense



Beit Hanun - Palestinos carregam corpo do garoto Audi Naser, 10 anos,
durante funeral dele, em Beit Hanun, no Norte da Faixa de Gaza

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A crise na segurança pública: Alckmin, José Eduardo Cardozo e as eleições de 2014


Resgato aqui um vídeo, entre os que se encontram na Web, que mostra um pouco do que o governador Geraldo Alckmin e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disseram em coletiva na terça-feira 6 de novembro, dez dias atrás portanto, ao anunciarem no Palácio dos Bandeirantes a parceria entre os governos de São Paulo e federal para combater a onda de violência que assola o estado.




Até então, a crise envolvendo Polícia Militar e facções do crime organizado – que faz vítimas a um ritmo de no mínimo dez mortos por dia, segundo estimativas bastante otimistas – estava localizada em São Paulo.

Mas, além de São Paulo, incluindo o interior do estado, já está em Santa Catarina, Florianópolis e sua região metropolitana.

Além do drama representado pela crise na segurança propriamente dita, me parece que a situação tem uma conotação política muito evidente, pensando nas repercussões do tema na eleição de 2014. A impressão que tive, vendo o governador e o ministro se pronunciarem (in loco, lá nos Bandeirantes), foi de que a crise da segurança no fim das contas é uma armadilha na qual Alckmin caiu.

O governador de São Paulo foi obrigado a reconhecer que precisa do Ministério da Justiça e que não pode sozinho combater algo que já supera institucionalmente sua esfera de competência, apesar de ele tanto ter resistido em admitir isso.

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, falou mais do que convinha durante o processo e agora parece que sumiu de cena. Não é por acaso que o delegado geral da Polícia Civil paulista, Marcos Carneiro, está mais visível. Um dos maiores problemas da gestão em São Paulo, segundo especialistas, é que as polícias militar e civil não conversam, não têm integração (pelo contrário, disputam os holofotes), prejudicando a investigação e a inteligência, de resto essenciais na guerra contra o crime organizado. O delegado Carneiro ter mais visibilidade agora significa o governo paulista tentando dizer mais ou menos o seguinte: “olha, pessoal, a Polícia Civil não está fora do processo, não, viu?”.

Do ponto de vista político, José Eduardo Cardozo aparece de repente como um candidatável ao governo de São Paulo em 2014. No processo que redundou no acordo entre o estado e a União, o ministro da Justiça teve presença mais marcante nas entrevistas coletivas do que o próprio Alckmin, o governador.

Do ponto de vista da segurança pública, a realidade é menos glamurosa. Os toques de recolher em São Paulo continuam, e, ao invés da violência diminuir, ela parece aumentar. A situação que se vê em Florianópolis dá margem a pensar que parece uma doença e os focos da infecção estão se alastrando, o que é muito preocupante.

Atualizado à 01:30 de 17-11-2012

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

"STF deu estatuto legal a uma teoria nascida na Alemanha nazista", diz PT sobre "mensalão"


Após a distribuição de nota oficial a jornalistas presentes no diretório nacional do PT, na tarde desta quarta-feira, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, concedeu entrevista coletiva à imprensa. Nela, Falcão não acrescentou muito ao teor do texto previamente divulgado. No qual, aliás, não faltaram a ênfase e um tom há muito reclamado por petistas e mesmo não petistas perplexos diante do julgamento da ação penal 470, vulgo “mensalão”.
Foto: Uiara Lopes/PT
Leia abaixo trechos da nota oficial divulgada pela Executiva Nacional (a íntegra está em link abaixo dos trechos aqui citados).

1. O STF não garantiu o amplo direito de defesa

O STF negou aos réus que não tinham direito ao foro especial a possibilidade de recorrer a instâncias inferiores da Justiça. Suprimiu-lhes, portanto, a plenitude do direito de defesa, que é um direito fundamental da cidadania internacionalmente consagrado (...).

2. O STF deu valor de prova a indícios

Parte do STF decidiu pelas condenações, mesmo não havendo provas no processo. O julgamento não foi isento, de acordo com os autos e à luz das provas. Ao contrário, foi influenciado por um discurso paralelo e desenvolveu-se de forma “pouco ortodoxa” (segundo as palavras de um ministro do STF). Houve flexibilização do uso de provas, transferência do ônus da prova aos réus, presunções, ilações, deduções, inferências e a transformação de indícios em provas (...).

3. O domínio funcional do fato não dispensa provas

O STF deu estatuto legal a uma teoria nascida na Alemanha nazista, em 1939, atualizada em 1963 em plena Guerra Fria e considerada superada por diversos juristas. Segundo esta doutrina, considera-se autor não apenas quem executa um crime, mas quem tem ou poderia ter, devido a sua função, capacidade de decisão sobre sua realização (...).

Ao lançarem mão da teoria do domínio funcional do fato, os ministros inferiram que o ex-ministro José Dirceu, pela posição de influência que ocupava, poderia ser condenado, mesmo sem provarem que participou diretamente dos fatos apontados como crimes. Ou que, tendo conhecimento deles, não agiu (ou omitiu-se) para evitar que se consumassem. (...).

Ao admitir o ato de ofício presumido e adotar a teoria do direito do fato como responsabilidade objetiva, o STF cria um precedente perigoso: o de alguém ser condenado pelo que é, e não pelo que teria feito (...).

Trata-se de uma interpretação da lei moldada unicamente para atender a conveniência de condenar pessoas específicas e, indiretamente, atingir o partido a que estão vinculadas.

4. O risco da insegurança jurídica

As decisões do STF, em muitos pontos, prenunciam o fim do garantismo, o rebaixamento do direito de defesa, do avanço da noção de presunção de culpa em vez de inocência. E, ao inovar que a lavagem de dinheiro independe de crime antecedente, bem como ao concluir que houve compra de votos de parlamentares, o STF instaurou um clima de insegurança jurídica no País.

Pairam dúvidas se o novo paradigma se repetirá em outros julgamentos, ou, ainda, se os juízes de primeira instância e os tribunais seguirão a mesma trilha da Suprema Corte (...).

5. O STF fez um julgamento político

Sob intensa pressão da mídia conservadora—cujos veículos cumprem um papel de oposição ao governo e propagam a repulsa de uma certa elite ao PT - ministros do STF confirmaram condenações anunciadas, anteciparam votos à imprensa, pronunciaram-se fora dos autos e, por fim, imiscuiram-se em áreas reservadas ao Legislativo e ao Executivo, ferindo assim a independência entre os poderes.

Único dos poderes da República cujos integrantes independem do voto popular e detêm mandato vitalício até completarem 70 anos, o Supremo Tribunal Federal - assim como os demais poderes e todos os tribunais daqui e do exterior - faz política. E o fez, claramente, ao julgar a Ação Penal 470 (...).

Leia a íntegra da nota oficial  neste link.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A voz das provas


Jânio de Freitas

(Publicado na Folha de S. Paulo)

Foi uma das coincidências de tipo raro, por sua oportunidade milimétrica e preciosa. Várias peculiaridades do julgamento no STF, ontem, foram antecedidos pela manchete ao pé da pág. A6 da Folha de domingo, título de uma entrevista com o eminente jurista alemão Claus Roxin: "Participação no comando de esquema tem de ser provada". O subtítulo realçava tratar-se de "um dos responsáveis por teoria citada no julgamento do STF", o "domínio do fato". A expressão refere-se ao conhecimento de uma ocorrência, em princípio criminosa, por alguém com posição de realce nas circunstâncias do ocorrido. É um fator fundamental na condenação de José Dirceu, por ocupar o Gabinete Civil da na época do esquema Valério/PT.

As jornalistas Cristina Grillo e Denise Menchen perguntaram ao jurista alemão se "o dever de conhecer os atos de um subordinado não implica corresponsabilidade". Claus Roxin: "A posição hierárquica não fundamenta, sob nenhuma circunstância, o domínio do fato. O mero ter que saber não basta". E citou, como exemplo, a condenação do ex-presidente peruano Alberto Fujimori, na qual a teoria do "domínio do fato" foi aplicada com a exigência de provas (existentes) do seu comprometimento nos crimes. A teoria de Roxin foi adotada, entre outros, pelo Tribunal Penal Internacional.

Tanto na exposição em que pediu a condenação de José Dirceu como agora no caótico arranjo de fixação das penas, o relator Joaquim Barbosa se expandiu em imputações compostas só de palavras, sem provas. E, em muitos casos, sem sequer a possibilidade de se serem encontradas. Tem sido o comportamento reiterado em relação à quase totalidade dos réus.

Em um dos muitos exemplos que fundamentaram a definição de pena, foi José Dirceu quem "negociou com os bancos os empréstimos". Se assim foi, é preciso reconsiderar a peça de acusação e dispensar Marcos Valério de boa parte dos 40 anos a que está condenado. A alternativa é impossível: seria apresentar alguma comprovação de que os empréstimos bancários tiveram outro negociador --o que não existiu segundo a própria denúncia.

Outro exemplo: a repetida acusação de que José Dirceu pôs "em risco o regime democrático". O regime não sofreu risco algum, em tempo algum desde que o então presidente José Sarney conseguiu neutralizar os saudosos infiltrados no Ministério da Defesa, no Gabinete Militar e no SNI do seu governo. A atribuição de tanto poder a José Dirceu seria até risível, pelo descontrole da deformação, não servisse para encaminhar os votos dos seguidores de Joaquim Barbosa.

Mais um exemplo, só como atestado do método geral. Sobre Simone Vasconcelos foi onerada com a acusação de que "atuou intensamente", fórmula, aliás, repetida de réu em réu. Era uma funcionária da agência de Marcos Valério, por ele mandada levar pacotes com dinheiro a vários dos também processados. Não há prova de que soubesse o motivo real das entregas, mesmo admitindo desde a CPI, com seus depoimentos de sinceridade incomum no caso, suspeitar de motivo imoral. Passou de portadora eventual a membro de quadrilha e condenada nessa condição.

Ignoro se alguém imaginou absolvições de acusados de mensalão. Não faltam otimistas, nem mal informados. Mas até entre os mais entusiastas de condenações crescem o reconhecimento crítico do descritério dominante, na decisão das condenações, e o mal-estar com o destempero do relator Joaquim Barbosa. Nada disso "tonifica" o Supremo, como disse ontem seu presidente Ayres Britto. Decepciona e deprecia-o --o que é péssimo para dentro e para fora do país.

domingo, 11 de novembro de 2012

Fluminense de Fred e Cavalieri conquista Brasileiro de 2012 de maneira indiscutível


Reprodução
Centroavante é o artilheiro do campeonato, com 19 gols

Independentemente de minhas ressalvas, de um certo enfado quanto ao Brasileirão de futebol deste ano, o título do Fluminense, campeão de 2012, é mais do que indiscutível. Com a vitória sobre o valente, mas impotente Palmeiras por 3 a 2 em Presidente Prudente, o time de Nelson Rodrigues e Chico Buarque chega a seu quarto título nacional (o Robertão de 1970 e os Brasileiros de 1984, 2010 e 2012) e mergulha o Verdão ainda mais na segunda divisão.

Se é certo que um grande time começa com um grande goleiro, então o Tricolor das Laranjeiras já começa com uma formação campeã. Pois Diego Cavalieri – ironicamente formado nas categorias de base do Palmeiras, o que fez questão de lembrar ao final do jogo – foi um monstro na conquista do galardão. Talvez o melhor do time, junto com o matador Fred.

Se atrás o time tem uma muralha defendendo os três paus, ajudado pelo ótimo zagueiro Gum e uma equipe bem armada pelo pragmático Abel Braga, na frente o Flu tem o faro de gols, o carisma e a liderança de Fred, artilheiro do campeonato, até aqui com 19 gols (três a mais do que Luis Fabiano do São Paulo). O campeão brasileiro de 2012 tem o melhor ataque (59 gols) e a melhor defesa (28). Em 35 jogos, 22 vitórias, 10 empates e apenas 3 derrotas. Com 35 rodadas, faltando três, o time de Abel Braga tem 76 pontos, 5 a mais do que o Corinthians ao final do campeonato do ano passado após os 38 rounds regulamentares. Então, não há o que discutir.

O caro time do Fluminense, com um ótimo plantel, o que facilita que mantenha o equilíbrio mesmo quando desfalcado de alguns astros, se dá ao luxo de poder prescindir de Deco, outro grande jogador, que não tem condições físicas de disputar todas as partidas. Quando joga, desequilibra com a Inteligência e a cadência; quando ele não atua, o aguerrimento do time cuida de suprir sua falta.

Sobre o Palmeiras, nada a acrescentar em relação ao já dito aqui. Parabéns ao Fluminense, legítimo campeão brasileiro de 2012.

Seguem os gols do jogo do título do Tricolor carioca:



Relembre o post sobre o título do time das Laranjeiras em 2010: Fluminense conquista um título mais do que merecido .

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Pensamento para sexta-feira [39] – A natureza



A águia é um dos animais mais bonitos da Terra

Sou daqueles que nunca mataram passarinho quando moleque. Desse ponto de vista, sempre fui politicamente correto... Nem com estilingue, nem com espingardinha de chumbo, como a gente dizia antigamente, eu matei passarinho. A única coisa que matei com espingardinha de chumbo, que eu e meus irmãos tínhamos, foi um camundongo, que estava nadando na piscina da casa de um amigo, e isso já faz mais de 30 anos. Tudo bem, ratos são dignos de matar*. Aliás, até insetos tenho dó de matar, exceto baratas, formigas, pernilongos, aqueles mosquitos escrotos de banheiro e coisas do tipo, criaturas que já me inspiraram um post neste blog, um dos mais lidos que já publiquei aqui.

Naquele post sobre insetos não falei dos tais mosquitinhos de banheiro, um dos insetos mais repugnantes que existe. Abelha, um inseto nobre, não mato de jeito nenhum, pelo contrário, tento até salvar quando vejo uma se afogando numa piscina. Assim como não mato lagartixas, essas figuras tão simpáticas. Como pode, matar lagartixa? Me d ecepcionei muito com pessoas que eu achava legais e depois descobri que matavam lagartixas. É sério.

Mas, voltando aos passarinhos. São muito bonitinhos e tal, mas quando um sabiá dá de ficar cantando aquele som repetitivo (os sabiás começam a cantar no meio da madrugada, entre 3 e 4 da matina) que parece um relógio, é impossível dormir, quando por acaso sua hora de dormir coincide com o despertar deles.

E o joão-de-barro? Que passarinho incrível, essa criaturazinha que canta (meio caoticamente, mas canta) e constrói. Aqui onde moro tem ninhos de joão-de-barro. São incríveis. Mas de manhã são irritantes. Do nada, explode de repente um estardalhaço que mais parece um despertador. Dura alguns segundos. Se é fim de semana ou feriado, você acorda meio de súbito.

Isso irrita, pois não era pra você acordar (é sábado!), mas aí você lembra que é sábado e pode voltar a dormir, dá um suspiro, vira de lado, ajeita o travesseiro e... de repente, mais um bombardeio sonoro dos joões-de-barro. Os intervalos entre os bombardeios variam. Dá pra ter uma ideia do som que eles fazem neste link (é obviamente editado, pois os intervalos entre as explosões de canto na realidade são maiores): canto do joão-de-barro.

Mas o bem-te-vi é curioso. Ele nunca é chato.

E as baitacas, tão brasileirinhas? Nossa, são verdadeiramente escandalosas, chegam a me irritar. Mas pelo menos são diurnas. Começam a cantar (mas gritam) todas ao mesmo tempo, em bandos, voando ou nas árvores. Dura alguns minutos, e depois pára. Como o alvoroço das baitacas não dura muito, não chegam a irritar tanto. Mas as baitacas me parecem um pouco neuróticas. “Neurótico é você”, diria Freud talvez. Ok, reconheço que baitacas berrando em bando é melhor do que seres humanos buzinando com seus carros em todos os lugares de São Paulo.

Tirando essas coisas mais estúpidas como "cidadãos" (na verdade energúmenos) buzinando seus automóveis (ou seus cérebros), passarinhos às vezes são chatos, sim.

A natureza é a mata, as lindas praias, o canto dos pássaros e as aves de rapina (a águia, por exemplo, é um dos mais lindos animais que há na Terra), o lobo, o tigre, o barulho do mar e o próprio mar, as nuvens e a lua atravessando as nuvens, mas é também às vezes (às vezes, pois não sou um mal-humorado inveterado, como pode parecer), às vezes a natureza é a pentelhação do canto do sabiá, a doença, a morte, o verme que come a carne morta.

Um casal de namorados está feliz da vida numa praça bucólica, numa cidade de interior, perto da natureza... Vão para casa e um dia depois acham um carrapato estrela no corpo de cada um. Com ela não acontece nada, mas ele pega a febre maculosa (transmitida pela espécie conhecida como carrapato estrela, comum no interior de São Paulo) e morre. Isso acontece, e é natural, o carrapato estrela é natureza.

A natureza é maravilhosa, epifânica. Mas é também sombria. Curioso que pensar nisso me remete a dois personagens muito diferentes, mais de um século distantes entre si, que falam desse lado não-perfeito da natureza que nós procuramos ocultar: o físico Marcelo Gleiser, autor de Criação Imperfeita, e o poeta Charles Baudelaire, autor de As flores do Mal. O que nós procuramos ocultar? Que a natureza é a vida e é também a morte.

*Coloquei o asterisco na frase "ratos são dignos de matar" porque me lembrei da minha mãe, Leila, que odiava o Jerry, o ratinho do Tom & Jerry, porque ela não se conformava com aquele ratinho ganhando sempre. Nunca o Tom ganhava, e isso era muito irritante no "desenho animado" de Hanna Barbera.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

É melhor o charme de Obama e Michelle do que os cabelos engomados dos republicanos


Acho tão ingênuo as pessoas se dizerem decepcionadas com Barack Obama. Explico: quando ele ganhou a eleição em 2008, muitos acharam que agora as coisas iam mudar. A maior potência da Terra, o império americano, o país de setores e regiões racistas, tão bem retratado no filme Mississipi em chamas, de Alan Parker, elegera um negro, e ainda por cima democrata, presidente da República.

Não me decepcionei com Obama porque nunca achei que Obama fosse mudar o mundo, fazer os Estados Unidos se tornarem um exportador de liberdade e paz, esquecer o protecionismo de seus agricultores e trabalhar pela completa igualdade entre os povos. Sou realista. Mesmo que queira ou quisesse, nem com Platão como secretário de Estado Obama conseguiria. Mas dizer que Obama é igual a Bush parece um pouco a avaliação meio adolescente de partidos brasileiros como PSOL e PSTU, segundo os quais Lula ou Dilma = FHC.


Reprodução
O casal Obama, em 2008

Há quatro anos eu era editor do jornal Visão Oeste, de Osasco, um veículo da chamada mídia independente, feito por valorosos companheiros, e lá dei uma manchete sobre a vitória de Obama na época: “O mundo mudou”. Lembro de alguém ter me falado que eu estava exagerando. Não estava, até porque, para mim, a mudança era simbólica, mas nem por isso menos importante. Foi bonito, então, o discurso da vitória do presidente negro: “Hello, Chicago!”. Assim como foi bonito ele, Michelle e as duas filhas no dia da posse. Uma família negra, tremendamente charmosa, na Casa Branca.

Vendo Michelle na época, me ocorre, como me ocorreu hoje, a linda canção "Neide Candolina", de Caetano:

"Preta chique, essa preta é bem linda
Essa preta é muito fina
Essa preta é toda glória do brau

Preta preta essa preta é correta
Essa preta é mesmo preta
É democrata social racial."


Bem, mas voltando à realidade, engana-se quem pensa que Michelle Obama é apenas charmosa e que só Obama, além de charme, possui a capacidade masculina do comando. Michelle é muito mais influente e forte do que se pensa e não será surpresa se se tornar uma candidata potencial à Casa Branca. O mundo e a política são cheios de surpresas.

Voltando à atualidade, Barack Obama conseguiu se reeleger mesmo tendo feito um governo muito difícil, em meio a uma crise, a inciada em 2008, que não inventou, mas herdou (aliás, no Brasil, a direita de traço udenista torceu para a crise americana contaminar o Brasil e arrastar o governo Lula pelo bueiro, mas a direita udenista e a mídia se deram mal, e continuam se dando, como se viu nas últimas eleições municipais no país).

Obama não mudou o mundo como Lula mudou o Brasil, nem se poderia esperar tanto. E nem se poderia esperar que Lula e Dilma mudassem tanto o imenso Brasil de dimensões continentais como se muda uma cidade ou um pequeno país.

Mas, sejamos pragmáticos. Se Romney ganhasse, se os republicanos ganhassem, seria outro retrocesso e o mundo estaria mais próximo da intransigência e da guerra do que está hoje.

Voltando ao simbólico, é melhor o charme de Obama e Michelle do que os cabelos engomados e a cara de insanidade protestante dos republicanos.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Transferência de presos é prioritária na parceria contra a violência em São Paulo


É muito significativo esse episódio político-institucional. Não quero opinar porque é uma reportagem. Só opino dizendo que deu-se um passo no rumo daquilo de que muito se falou durante tanto tempo (por especialistas, juristas, cientistas políticos etc.), ou seja, a necessidade de se superar diferenças político-partidárias para se chegar a resultados no combate à violência em São Paulo. Pelo menos aparentemente, parece que os primeiros passos estão sendo dados. Oxalá sejam passos firmes.

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

Foto: José Luís da Conceição
Alckmin e Cardozo, no Palácio dos Bandeirantes (6/11/2012)
Nos pronunciamentos que fizeram hoje (6) na sede do governo do Estado, o Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, após reunião em que se definiram as diretrizes da atuação conjunta para tentar superar a crise da segurança pública, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), foram colocados diante de uma questão: por mais importante que seja a parceria entre São Paulo e União, o que será feito imediatamente para combater a onda de violência na cidade de São Paulo, onde todas as noites têm morrido de cinco a dez pessoas assassinadas. De ontem para hoje, 11 pessoas foram mortas. Em outubro, o número chegou a absurdas 192 vítimas.

“A primeira reunião será para desenhar o plano de contenção, para ser apresentado na próxima segunda-feira, para operação imediata”, disse Cardozo, referindo-se a “atuações de contenção nas áreas terrestre, marítima e aérea”, anunciada minutos antes, “que terá forças conjuntas fiscalizando os pontos que dão acesso ao estado”.

Depois de formatada, ou desenhada, segundo a expressão de Cardozo, a operação que se espera permanente envolverá, em terra, Polícia Rodoviária Estadual e Polícia Federal, com apoio da Secretaria de Segurança Pública, Secretaria da Fazenda e a Receita Federal, entre outros órgãos federais e estaduais. “Isso se colocará também em relação aos aeroportos e os portos, em especial o porto de Santos”, explicou Cardozo.

Um dos objetivos principais da parceria é identificar a origem do dinheiro que financia o crime organizado no estado e “asfixiar financeiramente” as operações do Primeiro Comando da Capital (PCC) e outras organizações criminosas.

Seis focos

A parceria se resume em seis focos: uma agência de atuação integrada, unindo as "inteligências" das polícias do estado (rodoviária, militar, civil, sistema penitenciário) e da União (Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e órgãos do Ministério da Justiça); política penitenciária; ações de contenção, que devem fiscalizar os acessos ao estado; enfrentamento ao crack; desenvolvimento e utilização da política científica de São Paulo, inclusive em apoio a outros estados; e o centro de comando e controle integrado.

A criação de uma agência de atuação integrada, que desenvolverá, segundo Cardozo, um trabalho de inteligência para nortear ações preventivas e repressivas, será o principal ponto da parceria. A coordenação de reuniões e trabalhos da agência será feita pelo superintendente regional da Polícia Federal em São Paulo, Roberto Ciciliati Troncon Filho, e pelo secretário adjunto de Segurança Pública de São Paulo, Jair Burgui Manzano.

A agência será formada pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça e Receita Federal. Pelo governo estadual farão parte a Secretaria de Segurança Publica, a Secretaria de Administração Penitenciária, a Secretaria da Fazenda, as polícias Militar e Civil e o Ministério Público Estadual. Além desses, o Tribunal de Justiça de São Paulo também foi convidado a integrar a agência.

Outra ação da recém-anunciada parceria que promete ser rápida é a relativa a assuntos penitenciários, que promoverá a transferência de presos, por exemplo. "Não informaremos data de transferência nem nomes, por uma razão muito simples: dados de segurança pública não se comenta. Não se trata de esconder, mas temos razões de segurança", afirmou o ministro. Alckmin previu reação das "organizações criminosas": "Quanto mais se age, mais reação”. O governador disse que a parceria não vai "retroceder um milímetro" e que, contra as esperadas reações, usará "perseverança e ação integrada".

Ainda sobre a questão da urgência das ações, como Cardozo, o governador citou a transferência de presos envolvidos em crimes e assassinatos contra policiais. “Essa transferência nós estamos procurando acelerar”, disse. “Há necessidade de autorização judicial para transferências, mas já está tudo bastante adiantado. Tivemos uma reunião de trabalho bastante proveitosa, com medidas práticas e objetivas, e vamos ter bons resultados a curto prazo”, disse Alckmin.

O envolvimento do governo federal se dá porque a situação em SP chegou no limite? Para José Eduardo Cardozo, não. “Polítícas de segurança pública têm de ser tratadas em conjunto. Não são políticas de governo, mas de Estado, e, juntando as nossas forças de segurança, chegaremos a bons resultados”.

O ministro da Justiça respondeu sobre a eventual presença de forças de segurança nacionais em São Paulo e disse que “não há a necessidade de que nesse momento se utilizem forças armadas”. Segundo ele, a política de combate ao crack será também outra das medidas a ser adotas com urgência, com a utilização na cidade do programa “Crack, é possível vencer!”, do governo federal. “Implicará definição de áreas e usuários, que serão encaminhados aos serviços de saúde, aos trabalhos conjuntos dos governos estadual e federal na área de assistência social”, explicou.

Cardozo citou ainda atuação comunitária da polícia usando bases comunitárias móveis e videomonitoramento, possibilitando “ações de segurança e de enfrentamento à droga” ao mesmo tempo.

Geraldo Alckmin também comentou uma eventual participação de tropas ou forças nacionais na parceria, mas deixou uma frase no ar: “Não [serão necessárias], temos 100 mil policiais. Mas tudo o que puder ser positivo, eficaz, que traga eficácia ao trabalho... A parceria é ilimitada”.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A quatro rodadas do fim, esvaziado e chato, Brasileirão tem quase tudo decidido


Nota triste é o virtual rebaixamento do Palmeiras pela segunda vez em dez anos
Reprodução
Imagem comovente da palmeirense
em Araraquara, no último domingo
Faltando quatro rodadas para o fim do Brasileirão, só mesmo em respeito à matemática e à tradição do Palmeiras, como disse Antero Greco, não se crava com certeza que o Alviverde está virtualmente rebaixado à segunda divisão dez anos depois de seu primeiro descenso. À época, o time tinha ficado órfão da Parmalat e era treinado por Vanderlei Luxemburgo, que saiu do clube no início daquele Brasileirão.

Ele foi substituído por Levir Culpi. A equipe tinha alguns jogadores que qualquer torcedor queria em seu time, como Marcos, o lateral direito Arce, o meia Zinho. Mas as divisões internas, as eternas brigas fratricidas na Academia, como em 2012, falaram mais alto.

Curiosamente, como em 2002, o Palmeiras de hoje tinha um treinador cobiçado, Luiz Felipe Scolari, que também saiu do clube antes da queda, deixando o time nas mãos de um treinador promissor, Gilson Kleina, mas pouco experiente para segurar o rojão.

E ironicamente, ao contrário de 2002, talvez a "tragédia" de 2012 tivesse sido evitada se  Felipão tivesse saído antes. Com inúmeras contratações equivocadas, opções técnicas e táticas às vezes inexplicáveis e outros erros, o treinador deixou o cube à beira do abismo. Claro, uma diretoria pífia e o pífio presidente Arnaldo Tirone ajudaram na trajetória lamentável, de que a comovente imagem da jovem palmeirense aos prantos no empate em 2 a 2 com o Botafogo, no último domingo, em Araraquara, é fiel expressão.

Lamento, sinceramente, pelos palmeirenses.

De resto, no início do Campeonato Brasileiro, em 19 de maio, no post Brasileirão começa, como sempre, esvaziado e chato, escrevi que, se o calendário fosse mais "decente", os times que eu consideraria favoritos ao título seriam "o atual campeão Corinthians, Santos, Internacional, Fluminense, Grêmio e São Paulo (acho que o bom time do Vasco está em decadência e namorando com a crise...)".

Teremos mais cerca de um mês de um campeonato esvaziado e chato. Campeão decidido, rebaixados quase definidos e G-4 idem. Um bocejar interminável.

Bem, chato ou não, até que não fui tão mal. Acertei três dos quatro times no G-4 e, entre eles, o Fluminense, virtualmente campeão brasileiro de 2012.

domingo, 4 de novembro de 2012

Santos x Cruzeiro: o significado de um clássico


Em 1966, os craques Dirceu Lopes, Pelé e Tostão

Com o perdão da palavra, esse Campeonato Brasileiro de 2012 deve ser reservado à lata do lixo da história do futebol.

Não porque o meu Santos esteja claudicante, mas porque o futebol brasileiro reservou ao seu campeonato nacional – que deveria ser o mais importante do país - um papel secundário no calendário.

Apesar de tudo, da seleção brasileira (balcão de negócios) que tomou conta do calendário, do lixo futebolístico, da arbitragem suspeita a favor do Fluminense, ainda há comentaristas e “bate-bolas” de TV que incrivelmente ainda tentam vender o produto (Brasileirão) como se esse engodo merecesse algum crédito. Claro, eles só tentam vender o seu peixe. Mas a verdade é que esse campeonato é um dos piores que já vi na minha vida.

Mesmo assim, esse Cruzeiro 0 x 4 Santos no estádio Independência deste sábado tem um valor histórico. Tive um vizinho anos atrás, um mineiro chamado Bráulio, que era um cruzeirense roxo. Mais velho do que eu, ele me disse um dia que tinha se tornado torcedor do Cruzeiro depois da fantástica conquista do time de Piazza, Dirceu Lopes, Natal, Tostão e companhia contra o Santos de Pelé em 1966, quando a equipe alviceleste derrotou o Peixe no Pacaembu por 3 a 2 e se sagrou campeã da Taça Brasil.

Não vi e nem sabia quanto tinha sido o jogo hoje, pois estava no aniversário de uma pessoa muito querida (palmeirense, por sinal), algo muito mais importante do que um mero jogo de futebol, e só agora fiquei sabendo que o Santos goleou por 4 a 0 o Cruzeiro em Minas, ao chegar em casa e ligar o computador para ver se algo tinha acontecido no mundo.

Ricardo Saibun/Divulgação Santos FC
Em 2012, um único craque: Neymar

E fiquei sabendo que a torcida cruzeirense aplaudiu e cantou o nome de Neymar, que deu um show e acabou com a Raposa em seus domínios. Coisas de um clássico, de um Santos x Cruzeiro. Pena que perdi o contato com meu antigo vizinho Bráulio, porque senão amanhã a gente ia se encontrar e prosear sobre mais essa página desse grande clássico do futebol brasileiro, infelizmente borrado por esse lixo ético chamado Confederação Brasileira de Futebol, também conhecida como CBF.

Bem, o Santos bancou Neymar, apesar do desejo dos urubus colonizados da mídia brasileira que queriam vê-lo envergando a camisa do Barcelona ou do Real Madrid. E, apesar do investimento e da atitude inédita, o Santos bancou a permanência de Neymar no país e no clube para quê? Para o balcão de negócios conhecido como seleção brasileira, comandado pelo senhor Mano Menezes, usá-lo o ano todo.

O Campeonato Brasileiro hoje, sinceramente, é uma mera formalidade do calendário. Os grandes clássicos são a única coisa que interessa. E eu sou a favor da volta do mata-mata. É a única maneira dessa porcaria voltar a ter sentido e emoção.

Veja os gols de Cruzeiro 0 x 4 Santos neste 3/11/2012:

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Acordo entre Planalto e governo de SP sobre segurança pública decorre das eleições


O post anterior, publicado logo abaixo, ficou frio depois da notícia mais quente que tivemos após as eleições, a de que o governo de São Paulo, premido por uma situação insustentável, finalmente cedeu e acabou aceitando ajuda federal para conter a violência no estado, provocada pela guerra entre PCC e Polícia Militar, depois de intensa troca de acusações, durante a semana, entre o governo de Geraldo Alckmin (via seu secretário de Segurança, Antonio Ferreira Pinto) e o Ministério da Justiça.

Segundo divulga o Blog do Planalto, a parceria entre o até então arrogante governo paulista e o Planalto se deu após telefonema da presidente da República a Alckmin:

"A ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, anunciou que a presidenta Dilma Rousseff, em ligação ao governador Geraldo Alckmin nesta quinta-feira (1º), ofereceu todo apoio para que São Paulo enfrente o problema da violência. Ficou agendada para a próxima semana uma reunião entre o Ministério da Justiça e representantes do governo paulista para estudar parcerias para o setor."

De acordo com a Agência Brasil, "os termos da parceria serão definidos pelos dois governos em uma reunião marcada para o começo da próxima semana. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, será o enviado do governo federal ao encontro".

Penso que a notícia é muito positiva, pois me parece que, se concretizada, a parceria decorre das eleições municipais, que mostraram a urgente necessidade de renovar o pensamento, as relações entre as esferas de poder (municipal, estadual e federal), a relação do Estado com a cidadania.

A truculência e a intransigência foram vencidas nas eleições em São Paulo. A renovação, impulsionada pela vontade das urnas, tem de ser concreta. O governador Alckmin sabe disso, e disso depende sua própria sobrevivência política. Ele sabe muito bem que precisa articular para varrer José Serra da cena política paulista.

O apoio enfático do candidato Gabriel Chalita (do PMDB, mas muito ligado a Alckmin) a Fernando Haddad no segundo turno não foi à toa. Chalita defendeu "uma nova maneira de fazer política". Se Alckmin mantém a arrogância e a intransigência, ele vai pelo mesmo ralo que engoliu Serra.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Segurança pública: clima é 'terrível e absurdo' em São Paulo, diz presidente do Condepe


Publicado originalmente na Rede Brasil Atual


A guerra entre a Polícia Militar e a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) se agrava dia a dia. Como os dados sobre civis mortos não são divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do governo estadual, trabalha-se com estimativas, segundo as quais, mais de 3 mil civis morreram assassinados no Estado de São Paulo em 2012, sendo quase mil na capital. Na madrugada de hoje (1°), pelo menos mais cinco pessoas morreram, dois eram policiais.

Um Guarda Civil Municipal da zona sul da capital ouvido pela RBA, e que pediu anonimato, disse que os toques de recolher existem e estão se intensificando. Segundo ele, a operação na favela de Paraisópolis era esperada com antecedência pelos moradores e a ação desencadeada no dia 29 é midiática.

O guarda civil afirmou também que os PMs que estão sendo mortos seriam policiais envolvidos com corrupção e seus assassinatos decorrentes de acertos de contas. Os chamados toques de recolher seriam em muitos casos impostos por grupos de extermínio formados à sombra da PM, e não pelo PCC. A RBA apurou que em Santo André, na região do ABC paulista, houve toque de recolher esta semana.

Para o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ivan Seixas, a situação chegou a um ponto em que parece fora de controle. "Há uma sensação de descalabro tão grande que já não se sabe mais o que acontece." Na sua visão, um aspecto é inquestionável na crise: "é uma guerra particular entre a Polícia Militar e o PCC e quem está pagando o pato é a população. Há uma quantidade muito grande de pessoas sendo mortas, não necessariamente da PM, não necessariamente do PCC".

Seixas considera o clima de instabilidade "terrível e absurdo". "O estado, que deveria proteger a população, cria um clima de pânico, e as pessoas têm medo de sair à rua." De acordo com o presidente do Condepe, cinco pessoas por dia, em média, estão sendo mortas em São Paulo. "Não é por desavença pessoal, briga, é uma coisa predeterminada, é execução", diz. "O que está acontecendo é isso: o Estado resolveu fazer uma guerra em que as pessoas são mortas. Simplesmente isso. O Estado não é mantido para matar pessoas", protesta Seixas.

Para piorar a situação, não existe diálogo entre governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e a sociedade civil. "Com o Condepe não existe. Se nem o governo federal consegue um canal de diálogo com o governo do Estado, imagine se o Alckmin vai ouvir a opinião do Condepe. Não há diálogo com a sociedade, esse é o problema”, afirma Ivan Seixas.