sábado, 28 de fevereiro de 2015

Locaute não é greve, é [tentativa de] golpe


Agência Brasil


por Sandro Ari Andrade de Miranda, no Sul21

Sempre que observamos um movimento paredista de caminhoneiros a triste lembrança do Chile volta do passado. Na época, insuflados por uma ação da Agência Norte-americana de Inteligência, a CIA, um grupo de caminhoneiros realizou uma grande paralisação no país visando conferir legitimidade ao golpe militar que culminou no assassinato do Presidente, democraticamente eleito, Salvador Allende.

O resto da história já é do conhecimento de todos. O Chile viveu uma ditadura cruel, das mais selvagens da história, que contou com requintes de selvageria, como o massacre de milhares de oposicionistas do regime num estádio de futebol.

Sendo assim, quando os caminhoneiros do Brasil realizam uma paralisação em diversos estados é preciso separar o joio do trigo, a necessidade do golpismo, a luta política democrática do mero golpismo.

Sem ingressar no mérito das reivindicações, é preciso destacar que a maior parte das organizações de trabalhadores de transporte acolheu plenamente a proposta do Governo Federal costurada pelo sempre eficiente Ministro Miguel Rosseto. Daí fica a pergunta: se as entidades de classe acolheram a proposta apresentada pelo Governo, por que algumas cidades ainda sofrem com a paralisação e bloqueio de rodovias? Quem ganha com o caos?

Com certeza, não são os caminhoneiros, que terão uma Lei que garante uma série de direitos trabalhistas sancionada na íntegra pela presidenta da República, além da isenção do pedágio para caminhões vazios e o congelamento do preço do diesel por um período mínimo de seis meses, dentre outras vantagens.

A resposta está nas entrelinhas do movimento, nas suas contradições, e na presença de atores estranhos e alheios ou contrários à pauta de reivindicação dos trabalhadores.
Sugiro olhar e fotografar a placa da maior parte dos caminhões paralisados e, com certeza, teremos uma surpresa ao ver que grande parte é de Santa Catarina ou do Paraná. Ou seja, são caminhões das grandes empresas de transportes, que emplacam os seus caminhões em estados que fazem populismo com o IPVA, e se utilizam da desinformação imposta pela mídia da direita golpista, especialmente a Rede Globo, a Folha e a Veja, para sustentar uma crise fabricada.

Há uma imensa contradição entre a Agenda dos trabalhadores rodoviários, que hoje são submetidos a jornadas humilhantes, com garantias mínimas, ou forçados a falsificar contratos de terceirização dos serviços, e o das empresas de transporte, ou ainda do grande agronegócio, que se aproveitam da fragilidade legal do trabalho da categoria para impor um regime quase escravagista e baixos valores de fretes.

Assim, muitos dos trabalhadores que hoje fazem figuração no movimento paredista são vítimas da ação deliberada do grupo dominante, e sem a menor compreensão do processo político e social defendem a agenda dos seus maiores inimigos, que são os grandes empresários do agronegócio e das grandes empresas de transporte.
Isso não greve, e sim Locaute, ou Lockout, para utilizar a expressão britânica. Trata-se de uma prática proibida pela legislação brasileira, exercitada pelos empregadores, que tem por objetivo frustrar ou dificultar o atendimento de reivindicações dos empregados.

No Locaute impende-se o acesso dos trabalhadores aos meios de trabalho, ou simplesmente é suspendido o direito ao trabalho através do uso desproporcional da força econômica. O resultado buscado pelos dirigentes dos Locautes é sempre o enfraquecimento da pauta da classe trabalhadora organizada para impor um regime de interesse do capital. Não é por acaso que figuras desconhecidas, surgem, do nada, como líderes, normalmente “laranjas” muito bem pagos pelos interessados nos resultados do movimento contra-reivindicatório.

Assim, você brasileiro que hoje sofre com a chantagem egocêntrica de um grupo de caminhoneiros que violentamente bloqueiam a circulação de caminhões, ou com a campanha de pânico imposta pela mídia golpista, especialmente a Rede Globo, fiquem certos que não são os trabalhadores que lideram o essa organização paredista, Mas aqueles que se usufruem da exploração de milhares de trabalhadores que atuam no segmento do transporte.

Não há uma greve legítima, esta terminou na quarta-feira, na reunião entre o movimento dos caminhoneiros e o Ministro Miguel Rosseto. Temos, isto sim, um Locaute, medida absolutamente ilegal.

Quais os motivos deste movimento, que curiosamente começou no Paraná, Estado onde o Governador, vinculado ao PSDB, enfrenta protestos diários pelas denúncias de corrupção e pelo corte dos direitos de servidores públicos, e mostra alguma forma no Rio Grande do Sul, onde o Governador Sartori promete atrasar o pagamento da folha salarial dos servidores.

Talvez a resposta sejam a tentativa de abafar as denúncias contra Aécio Neves e FHC na operação Lava-jato, ou ainda o vergonhoso escândalo do HSBC, esquecido pela mídia, e que representa o maior caso de corrupção e de lavagem de dinheiro do Planeta, ou para dar gás à sede golpista de um grupo de conservadores que não consegue aceitar a perda das eleições de outubro, ou ainda, claramente, para atrasar a sanção da Lei dos Caminhoneiros, o que traria uma imensa e justa vantagem para esta importante categoria profissional.

Se estamos diante de um Locaute, e não de uma greve, não há mais exercício da Democracia, mas sim um típico caso de polícia, e que assim deve ser tratado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.

Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A cara e os gestos do ódio: fascistas ofendem Guido Mantega em hospital


O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega acompanhava a mulher, Eliane Berger, no hospital Albert Einstein, quando foi ofendido por um grupo com gritos de “Vai para o SUS”. Eliane luta contra um câncer. O casal se retirou do local depois das ofensas.


Sheyla Lea/Agência Senado
Os eleitores tucanos convictos, que perderam a eleição, têm as mesmas atitudes e a face do ódio de seu candidato derrotado Aécio Neves





Por Felipe Cabañas da Silva

Isso diz muito não somente da intolerância política em que estamos mergulhados, de um verdadeiro ódio de classe dirigido ao Partido dos Trabalhadores, embora este seja um governo democrático, sucessivamente aprovado pelas urnas em maioria democrática, mas também da mentalidade autoritária que tomou conta do paciente-consumidor.

Os gritos "Vai para o SUS" significam: “isso aqui é nosso, de quem tem grana para bancar este hospital caro, que cobra 5 reais por um band-aid e tem lanchonete Viena. Quem não tem ou representa quem não tem, cai fora! Aqui não é o seu lugar. Mesmo que você esteja morrendo ou acompanhando a sua mulher em tratamento de câncer”.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Sobre o aborto: “Campanha pela vida: cada um cuide da sua” (de um pára-choque de caminhão)


"Desde que a pessoa tenha dinheiro para pagar,
o aborto é permitido no Brasil"
(Drauzio Varella)

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
“Aborto só será votado passando por cima do meu cadáver”,
diz presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB 

Por Tania Lima

A reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo hoje, Médico chama polícia após atender jovem que fez aborto na Grande SP, encheu-me de indignação. Os algozes do episódio, médico e policiais (o primeiro, espero mesmo que tenha seu registro cassado pelo Cremesp por violar o código de ética médica), são a personificação do que há de desumano em nossa sociedade composta de machistas e gente impiedosa.  Por que as pessoas se manifestam de forma tão contundente contra assuntos que a bem da verdade não são de sua alçada, ou pelo menos não lhes dizem respeito diretamente?

Sobre a legalidade do aborto, excluindo-se questões religiosas que não devem entrar no mérito, presumindo-se como premissa que o Estado, segundo a Constituição, é laico, e na prática deva desta forma comportar-se, há posições contrárias que não se sustentam à primeira argumentação, dada a sua fragilidade e contradição retórica.

O que se pretende com a legalização do aborto? Por mais que a resposta seja óbvia, há aqueles de julgamento apressado, que parecem entender que essa legalização traria como consequência o estímulo à pratica, e não uma política voltada para a saúde. A preguiça, pressa, falta de hábito de pensar e pesquisar etc. levam a conclusões imediatas e precipitadas e delas resulta a ideia de que a legalização incentivaria o aborto. Outra pergunta óbvia: alguém acredita mesmo no aumento de abortos em decorrência da legalização? Alguém acredita mesmo que uma mulher vá festivamente a um procedimento desses?

Embora não se possa ter uma estatística confiável do número de abortos no Brasil, uma vez que a maioria deles se dá de forma clandestina, principalmente no caso de mulheres de baixa renda, é leviano supor que a legalização provocaria o aumento do número de procedimentos. É razoável acreditar que haverá resultados positivos se forem realizados trabalhos de conscientização da população no sentido de se prevenir não apenas a gestação indesejável mas também o risco de se contrair doenças sexualmente transmissíveis.

Para os que ferozmente são contrários, levantando bandeiras em defesa da vida, detentores da verdade e da razão, com suas frases prontas e simplistas e estranhamente carentes de compaixão e solidariedade, e que dificilmente estão engajados em ações sociais práticas para a melhoria da vida dos que estão à margem (blá, blá, blás, não contam), eu sugeriria que tentassem trazer paz a seus espíritos para que pudessem, nessa condição, melhor refletir sobre o tema.

Do ponto de vista individual, a decisão pelo aborto é um direito de foro íntimo e a legalização apenas se prestaria a uma assistência no âmbito da saúde, e portanto a atuação do Estado deveria encerrar-se nesse âmbito. A questão não é ser contra ou a favor do aborto. Acho que ninguém é a favor, trata-se então de ser contra ou a favor de que se possa fazer um procedimento médico em condições de segurança.

De resto, de acordo com o grau de proximidade e liberdade oferecida, pode-se até tentar persuadir alguém a manter uma gravidez, mas é o máximo a se fazer, guardado o respeito pela decisão da mulher, que apenas a ela confere. Ser contra algo que não nos afeta diretamente deveria incluir a responsabilidade quanto às consequências dessa posição: se uma pessoa é contra, de que forma e com qual intensidade efetivamente se dispõe a ajudar?

Às mulheres contrárias, tranquilizo: você não seria obrigada a abortar. Aos homens contrários (há homens opinando!!!): você não engravidaria e então preocupação zero para você. Por fim, para acalmar todos os inflamados: a legalização do aborto não obrigará ninguém a abortar. Citando uma frase do pára-choque de um caminhão que vem a calhar (a mensagem, não o caminhão): “Campanha pela vida: cada um cuide da sua”.

PS do blog: o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, tem se manifestado contra todas as bandeiras progressistas ou que tenham a ver com o avanço dos direitos humanos no país. Sobre a descriminalização do aborto, disse ele: “Aborto só será votado passando por cima do meu cadáver”.

Leia também:




sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Pensamento para sexta-feira [56] - BARATAS (fatos reais)



"Agora eu só queria gelidamente uma coisa: matar cada barata que existe." (Clarice Lispector)

CRÔNICA DE VERÃO 2




Episódio 1

Eu costumava dizer com orgulho que moramos neste apartamento há mais de seis anos sem que nenhuma mísera barata tivesse aparecido por aqui. Sim, mais de seis anos. Estava quase me sentindo uma pessoa abençoada. Mas eis que de repente, algo aconteceu, na primeira semana de dezembro de 2014.

Eu estava pra sair de casa pra ir trabalhar quando me deu uma leve vontade de ir ao banheiro (necessidade número 2), e por prudência fui, e fui ao banheiro da área de serviço, porque a zeladoria tinha ligado minutos antes para informar que estava desligando a água do “banheiro social” por causa de um serviço de manutenção.

Fui então ao banheiro etc. Puxei a descarga, meio de costas, e quando me virei para fechar a porta do banheiro vi uma enorme barata. Mas, estranhamente, estava morta, muito morta, completamente morta.

Fiquei chocado, pois nunca tinha aparecido uma barata neste AP, nem viva, nem morta. Ela estava exatamente entre a porta, o tapetinho e a privada, onde teria sido impossível eu não tê-la visto ao entrar no banheiro ou enquanto eu estava ali, sentado.

Fiquei me perguntando: mas que diabo é isso? Peguei a pá e joguei a barata pela janela (no grande jardim onde há muitas árvores no condomínio), sempre me perguntando: mas como essa barata morta apareceu aí se não estava aí quando eu entrei no banheiro pra sentar na privada, num lugar tão visível que teria sido impossível eu não tê-la visto ao entrar?

Pensei no enigma, que exigiu de mim um esforço digno de Sherlock Holmes. A hipótese daquele exemplar da mais asquerosa das criaturas ter sido envenenada em alguma dedetização no condomínio, ter vindo tonta, subindo, até morrer ali, não era plausível, já que ela não estava lá quando entrei no banheiro.

Então, fez-se a luz e entendi. Antes de ir ao banheiro (estava meio frio pela manhã, apesar de ser dezembro), eu coloquei sobre o ombro uma blusa de lã azul que tinha levado à praia, nas férias, mas que ficou na mala sem uso. Como na praia tem muitas baratas e usei e abusei de um veneno de inseto, concluí, como um verdadeiro Hercule Poirot, que essa barata morta estava, já morta, desde a praia, dentro da blusa, envenenada pelo monte incalculável de baygon que esguichei nas dependências da casa da praia – pois num dos primeiros dias uma cena de horror aconteceu, quando descobrimos que baratas,  muitas, de repente corriam pelo chão da cozinha num certo início de noite, e foi aquela cena dantesca de baratas correndo até que conseguimos destruí-las todas, após descobrir que tinham feito um ninho. Enfim, a barata que apareceu morta no apartamento deve ter se escondido envenenada na blusa, e lá ficou. E justamente na hora em que me sentei na privada o maldito inseto morto caiu da blusa ali, por trás de mim, pela manga da blusa, pelas costas da blusa, sei lá.

Foi o que concluí.

Episódio 2

Está certo que a barata estava morta, mas aquilo me perturbou. Pois, morta ou não, era uma barata. Algo tinha querido dizer que já não éramos mais invulneráveis em nosso AP. Desde então, o apartamento nunca mais foi o mesmo.

E, de fato, como se aquele cadáver marrom fosse um aviso, cerca de 40 dias depois, num sábado de um calor insuportável, tarde da noite, eis que estava ali, na porta do armário da cozinha, vinda da escuridão da noite diretamente pela janela escancarada, uma gigantesca barata voadora, espreguiçando suas asas prontas para voar, logo acima de uma torta quentinha recém-tirada do forno. Com nossa súbita presença, lógico, ela voou. E todo mundo sabe o que significa uma barata voando numa cozinha de apartamento. Nem o mais bravo soldado mantém a dignidade.

A excomungada por fim se enfiou por trás de uma prateleira. Fomos tirando objeto por objeto, cada um com o cuidado e o temor de estar cutucando a mais terrível fera. Por fim, foi possível vê-la atrás de um vidro vazio, enorme, encaixada entre o frasco e a parede como se sempre tivesse estado ali. Para não correr o risco de ver o demônio de repente voar (é melhor cinco baratas tontas correndo no chão do que uma voando), já fui esguichando o veneno, com tanto gosto que poderia ter danificado a bomba que ejeta a nuvem de líquido mortífero. O animal asqueroso finalmente caiu no chão, correu, mas eu não esmoreci e continuei esguichando a nuvem, até que ela virou de costas, se debateu, e finalmente expirou (ao que parece, pois, como se sabe, as baratas têm uma característica assustadora: elas podem ressuscitar). Pelo sim, pelo não, coloquei-a na pá e atirei-a pela janela do oitavo andar.

Episódio 3

Foi hoje (12), menos de dois meses e meio após o funesto aparecimento da barata morta e pouco menos de um mês depois da barata voadora.

Por falta de opção melhor, comíamos uma pizza na sala quando, de repente, ouço um grito surdo, não escandaloso, mas de pavor, enquanto vejo algo voando baixo pela sala, que pude perceber ser um inseto ligeiramente grande, mas não muito.

Podia ser um besouro, mas imediatamente eu soube: era outra barata. Outra! Seis anos sem nada, nenhuma, e de repente, em 70 dias, uma morta e duas vivas!

Esta, embora menor, também era voadora (é melhor 5 baratas tontas grandes no chão do que uma média voando). E a maldita voou da sala para dentro do quarto. Já fiquei imaginando ter que dormir na sala ou, tarde da noite, desmontar o quarto atrás do famigerado inseto em algum dos infinitos cantos, dobras de roupa, interior de sapatos, por trás do colchão ou qualquer outro esconderijo onde pudesse entrar. Porque, se tem uma coisa que eu não faço, é dormir com uma barata no quarto. Mas, por sorte, ela estava na parede.

Sabem qual é a palava que designa fobia de baratas? Catsaridafobia. Ou seja, até o nome para esse medo causa repugnância.

Quando tirei o chinelo para destruí-la, ela voou, e veio na minha direção. Era só acertá-la em cheio, estava fácil, afinal sou ágil e mato até as ligeiras moscas com facilidade. Mas acontece que baratas são como espíritos que se materializam para perturbar as pessoas, e então errei a chinelada e, evidentemente, ela veio diretamente pra cima de mim, bateu na minha perna e correu para um lado, enquanto, claro, eu fui para o outro. Acho que não gritei, mas a única testemunha presente na casa (que havia gritado antes) afirma que sim.

Vi que ela se enfiou por baixo do criado-mudo. Peguei o veneno e esguichei. Arrastei o móvel e... cadê? Nada. Vários minutos depois, reapareceu correndo, embora tonta, na minha direção. Vi que esta era bem nojenta, meio esbranquiçada. Mais veneno. Com gosto. Ela rodopiou, correu mais um pouco e, filha da puta, entrou numa fresta do armário embutido, no canto da parede. Enfiei o bico do baygon no buraco e injetei uma dose aparentemente letal, até porque aquele buraco não tem saída, a não ser por onde ela entrou. Mas a desgraçada não saiu. Ficou lá. Acredito que tenha morrido. Mas baratas muitas vezes gostam de te deixar na dúvida. Mesmo mortas, como fantasmas em forma de insetos.

É por isso tudo, além do calor intolerável (e pelos relatos nos links abaixo), que eu odeio o verão.


Leia também da série insetos (fatos reais!)

Pensamento para sexta-feira: Eu e os insetos (ou, motivos para ter medo de insetos)

A volta da vespa noturna

A personalidade das moscas


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Vereadores de São Paulo aprovam projeto que autoriza animais em ônibus; Haddad precisa vetar



O prefeito Fernando Haddad tem a obrigação e o dever de vetar o projeto de lei 131/2013, do vereador David Soares (PSD), aprovado nesta quarta-feira (11), que autoriza o transporte de animais domésticos em ônibus municipais da capital paulista.

Como se já não bastasse a dificuldade que é andar de ônibus, sempre lotados, por mais que qualquer administração faça para melhorar essa realidade, agora teremos que conviver com animais disputando espaço com trabalhadores, estudantes e todo tipo de pessoas, inclusive deficientes?

Esse projeto é uma excrescência.

Leia também, da série vivemos numa sociedade humana ou canina? 


Vivemos numa sociedade humana ou canina?


Espetáculo jurídico-midiático de denúncias sem prova ameaça direitos individuais


José Cruz/ABr
“Querem acabar com o regime de partilha da Petrobras"
Da entrevista coletiva do presidente do PT, Rui Falcão, ontem (11), em São Paulo, destaco a afirmação de que todos os cidadãos estão ameaçados pela violação de direitos individuais que acontece hoje no país a pretexto de se apurar denúncias de corrupção na Petrobras: "Amanhã ou depois qualquer um de nós pode ser alvo dessa arbitrariedade.”

Há incautos sedentos por punição, mas não há só incautos. Há gente de má fé também. Os vulgos golpistas, que defendem interesses inconfessáveis nas entrelinhas das manchetes dos jornais impressos e televisivos. 

Repórteres aparentemente bem intencionados não estão nem aí para o que seus editores fazem com suas apurações. As apurações viram manchetes. As manchetes alimentam juízes. Que alimentam manchetes. Que alimentam juízes.

Desde 2005, o espetáculo midiático de denúncias sem provas é exibido pela mídia, alimentado por atitudes espetaculosas e ilegais de juízes a serviço não se comenta de quem. 

“Não podemos admitir que, em nome do combate à corrupção, se viole o Estado democrático de direito e se condicione uma investigação para cima de um partido”, disse Rui Falcão. “(Querem) acabar com o regime de partilha. Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda) já falou em fim de regime de partilha, Fernando Henrique insinuou isso, vários colunistas têm se manifestado, o presidente da Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha). Querem voltar o regime de concessão, e em ultima instância lá na frente privatizar a empresa.”

Rui Falcão disse que o PT quer esclarecimentos da Polícia Federal e do Ministério Público sobre o processo de investigação e vazamentos de informações considerados seletivos na operação Lava Jato, conduzida também por delegados da PF que manifestaram no facebook preferências eleitorais em 2014, por Aécio Neves. Mas essas postagens, disse Falcão, foram apagadas por seus autores.

“O que eu vejo é uma divulgação de vazamentos, de vazamentos seletivos."

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Franklin Martins, André Singer e Bernardo Kucinski debatem comunicações e poder


O lançamento do livro Cartas a Lula, do cientista político Bernardo Kucisnki, reuniu em uma mesa de debates, na tarde-noite de hoje (4), o próprio autor (ex-assessor da Presidência da República no primeiro mandato de Lula), o também cientista político André Singer (ex-secretário de Imprensa do Palácio do Planalto e porta-voz da Presidência da República no primeiro governo Lula -- 2003-2007), o jornalista Franklin Martins (ministro-chefe da Secom no primeiro mandato de Lula), o advogado Joaquim Ernesto Palhares (diretor do site Carta Maior) e o ex-candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL, Gilberto Maringoni.

Na mesa de debate, temas como a conjuntura política e o papel da mídia no processo político e nas eleições, passadas e futuras. Destaco algumas falas dos debatedores:

Franklin Martins:  "Precisamos, mais dia, menos dia, enfrentar questões políticas como a democratização dos meios de comunicação e a reforma política. Acho extremamente importante que estejamos aqui, tendo ganho as eleições. Porque [pelo clima que se estabeleceu entre as pessoas do campo progressista] parece que perdemos. Mas se tivéssemos perdido, estaríamos discutindo como evitar que se entregasse o pré-sal [aos Estados Unidos], ou que acabasse o regime de partilha [modelo pelo qual a produção de um determinado campo de petróleo é compartilhado pelo consórcio vencedor do certame e pela União – pelo regime, vence o leilão quem oferecer ao governo a parcela maior].

“Há risco de retrocesso? Há. Mas há conquistas [ascensão social da população], foram fincadas raízes."

Joaquim Ernesto Palhares: "Fica um gosto amargo de derrota por não termos constituído um veículo de comunicação. [O governo] deveria ter colocado R$ 30 bilhões na EBC para constituir uma poderosa rede de comunicação. Eles [a  mídia, principalmente a Globo] formaram uma consciência da população que quase nos levaram à derrota. Tenho receio de que as próximas eleições estão perdidas, se algo não for feito".

Franklin Martins: "Não cabe ao governo criar veículos de imprensa, cabe à sociedade, aos partidos".

André Singer: "Não tenho convicção sobre o papel da comunicação [como indutora de vantagem político-eleitoral aos setores da direita]. Se fosse tão fundamental, [o PT] não teria vencido as eleições de 2006, 2010 e 2014. Não nego a importância da comunicação, mas não dou a mesma centralidade que os companheiros [da mesa: Franklin Martins, Bernardo Kucinski e Gilberto Maringoni].

Bernardo Kucinski: "Precisaria explicar [à população] como começou a corrupção na Petrobras, porque [a ideia de corrupção, pelo bombardeio da mídia] ficou atrelada ao petismo. Mas a corrupção começou há décadas".