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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Obama, o caipira de Taubaté, a Síria e a espionagem



Apesar de algumas vozes acharem que o governo brasileiro e, particularmente, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram muito cautelosos sobre a questão da espionagem norte-americana, na minha modesta opinião o tom adotado por Cardozo foi adequado.

Relembrando: segundo documentos vazados pelo ex-analista da NSA Edward Snowden, a presidente Dilma Rousseff foi espionada pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos, que tiveram acesso a conversas telefônicas e e-mails trocados por Dilma com dezenas de assessores.

“Agora vêm informações que, se confirmadas, são muito graves. Violam a soberania do país. São violações à privacidade de nossa chefe de Estado e dos cidadãos brasileiros, que deve ser defendida de forma intransigente pelo Estado brasileiro”, disse Cardozo.

O que os mais esquerdistas (ouvi alguns) queriam? Que o Brasil rompesse relações diplomáticas com os Estados Unidos? Bem, acho que o Brasil já ultrapassou a adolescência histórica.

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Enquanto isso, os Estados Unidos estão prestes a atacar a Síria. "O que tem a ver o cu com as calças?", perguntaria um caipira de Taubaté, por exemplo (mas o linguajar seria outro: "que que tem a vê o cu cas carça?"). Ora, tem tudo a ver.

Os EUA são o xerife do mundo. Obama é o Pat Garret do momento. A diferença entre Obama e Bush é apenas a porcentagem de melanina na pele.

Fico a pensar: o que fará a Rússia diante da concretização de um ataque à Síria, que, junto com o Egito (Estado hoje desmantelado por um golpe militar), tem sido ao longo das últimas décadas a grande ameaça geopolítica e militar ao sionismo? (ressalva: o Egito de Mubarak, domesticado, esteve ao longo dos últimos 40 anos a serviço de EUA/Israel, enquanto a Síria sempre se manteve na aliança oposta, com a Rússia e o anti-sionismo).

E a gigantesca e silenciosa China, que, como a Rússia, faz parte do Conselho de Segurança permanente da ONU?

É possível que o mundo esteja na iminência de ter de refazer suas fronteiras. Alguma coisa, na verdade muita coisa, está fora da ordem. E algo vai acontecer.


sábado, 15 de maio de 2010

A missão ousada e arriscada de Lula no Oriente

O protagonismo do Brasil cresce ainda mais no tabuleiro geopolítico mundial, com a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estes dias, à Rússia. Ele estará hoje, sábado, no Catar e domingo no Irã, onde se encontra com o presidente Mahmoud Ahmadinejad.

A missão do presidente brasileiro recebeu apoio incondicional da Rússia, como “talvez a última oportunidade antes da adoção das medidas que todos conhecemos no marco do Conselho de Segurança das Nações Unidas", nas palavras do presidente russo Dmitri Medvedev nesta sexta-feira, 14, em entrevista coletiva no Kremlin.

Lula e Medvedev, no Kremlin
Os EUA pressionam para que as sanções contra o Irã sejam aprovadas no Conselho de Segurança da ONU, no qual apenas cinco países, os membros permanentes, têm poder de veto: Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China.

Lula e seu chanceler, Celso Amorim, defendem a tese de que as sanções exigidas pelo governo Obama só agravariam o conflito, que ainda se mantém no âmbito diplomático. Quanto a Obama, na questão iraniana suas posições não diferem do governo Bush, é triste admitir. Pelo menos na retórica, é justo ressalvar. Os EUA continuam a agir como o eterno ventríloquo de Israel, e não o contrário.

O The New York Times abordou o tema, hoje (sexta-feira), enfatizando o óbvio: que a posição brasileira é a de que sanções provavelmente intensificariam o conflito. Mas o mais importante diário dos EUA, sem perder uma espécie de elegância na abordagem, usa o depoimento de fontes para criticar duramente a posição brasileira, na pessoa de Lula.

O NYT menciona preocupações no Brasil de que um fracasso na tentativa de Lula dialogar com Teerã colocaria “Mr. da Silva” como um “amador” em seu intento de conseguir um assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança. “Críticos no Brasil questionam por que ‘Mr. da Silva’ abraçou o Irã nos últimos meses sob o risco de se indispor com os Estados Unidos”, diz o jornal.

Finalmente, cita uma fonte, que é Michael Shifter, presidente da Inter-American Dialogue, de Washington, especializada em política exterior. “Há uma sensação em Washington que parte disso é uma tremenda autoconfiança de Lula, que ele acredita ser um mágico que pode operar milagres e conseguir o que outros tentaram e não conseguiram.” O diário estadunidense ironiza, dizendo que, enquanto Lula afirma acreditar que suas chances de êxito no encontro com Ahmadinejad são de 99%, o colega russo Medvedev diz serem de 30%.

Enfim, o New York Times expressa a posição de Washington. Que muitas vezes não precisamos nem traduzir, porque está nas páginas de nossos próprios jornais, como se pôde constatar quando da visita de Lula ao Oriente Médio.

O atual lance do presidente do Brasil no tabuleiro do xadrez mundial é ousado, mas arriscado. Porque ele desafia interesses políticos de Titãs.

O Brasil nunca chegou a tal protagonismo na cena internacional, em que, historicamente, sempre partilhou do princípio nefasto segundo o qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.

Princípio que, envernizado e recoberto de enfeites light, corremos o risco de voltar a viver se José Serra ganhar a eleição. Mas esse já é outro assunto.

Leia a matéria do New York times aqui. (Lógico, se quiser).