sexta-feira, 29 de abril de 2011

O acordo entre Fatah e Hamas e o cinismo ocidental


“A Autoridade Palestina deve decidir entre a paz com Israel e a paz com o Hamas, que quer nos destruir."

Com essas palavras hostis e ameaçadoras o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, manifestou-se a respeito do acordo histórico entre Fatah e Hamas, anunciado na última quarta-feira, 27, mas ainda não assinado oficialmente. Quer dizer, a violência permanente dos tanques contra as pedras vai continuar. Não há nada, aliás, que não seja pretexto para Israel responder com tiros e bombas. O acordo está previsto para ser assinado no dia 4 de maio, no Cairo, pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e o líder do Hamas, Khaled Mechaal.

Pedras contra tanques
(Todos os direitos reservados/Rogério Ferrari)

De qualquer maneira, a intenção dos dois grupos palestinos (chamados de “facções” pelo Estadão, vejam vocês) é de realizar eleições em menos de um ano.

Ceticismo ou cinismo?

O acordo é visto com ceticismo pelo Ocidente, diz a mídia internacional. O ministro de Relações Exteriores israelense, Avigdor Lieberman, também protestou, segundo a alemã Deutsche Welle: "Todos os membros do Hamas que estão presos na Cisjordânia serão em breve libertados. Isso significa que centenas de terroristas estarão soltos na região”, vociferou.

Ainda segundo a DW, o ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle, reagiu com as seguintes palavras ao acordo, no jornal Tagesspiegel, de Berlim: "Para nós, o Hamas não é um interlocutor, porque não trabalhamos com organizações que combatem com violência o direito de existência de Israel". Chega a ser cômico. Pois o Estado da Palestina (em árabe: دولة فلسطين) sequer existe e sua criação é bombardeada e boicotada aberta ou veladamente por todo o cínico Ocidente, que finge que não vê o terrorismo de Estado israelense.

Conflitos fratricidas entre os islâmicos do Hamas (que comanda a Faixa de Gaza) e o Fatah (que controla a Cisjordânia) – como em 2007, quando o Hamas assumiu o controle de Gaza – era uma bênção para o sionismo. Isso acabar é derrota política significativa para o governo de Netanyahu.

O Egito ser o palco do acordo Fatah-Hamas é muito simbólico. Pois foi ali, na praça Tahrir, que a “primavera árabe” atingiu uma culminância espetacular, que redundou na queda de Hosni Mubarak, um cãozinho amestrado de Israel. No atual contexto, as ameaças que pesam sobre a Líbia e a Síria são mais do que inquietantes para os israelenses.

A Síria é governada pela família Assad desde 1971. Em 2000, com a morte de Hafez al-Assad, seu filho Bashar assumiu. O regime sírio quer de volta as Colinas de Golã – anexadas na Guerra dos seis dias, em 1967. Especulou-se nos últimos dias que os regimes israelense e sírio negociavam secretamente sua devolução.

PS: A foto acima é do fotógrafo baiano Rogério Ferrari, que trabalha como fotógrafo independente e desenvolve o belo projeto Existências – Resistências. Pretendo entrevistá-lo em breve para postar aqui no blog. 

Atualizado às 23:26

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