quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ganso no Corinthians não interessa a ninguém, só às aves de rapina


Foto: Ricardo Saibun/SFC
Uma possível (para mim, hoje, improvável) ida do meia Paulo Henrique Ganso para o Corinthians não seria a primeira vez que um jogador muda de agremiação e ruma para um grande rival. Outro craque e também meia esquerda, Pita, trocou o Santos pelo São Paulo nos anos 80. Mas, depois de ficar quase sete anos na Vila Belmiro. Há casos mais célebres (abaixo, alguns de que me lembro).

O que incomoda na questão Ganso é a maneira como as coisas se desenrolam, o puro mercantilismo da situação, na qual o caráter das pessoas fica em dúvida. O racha entre Santos e o grupo DIS, ligado ao supermercado Sonda, seria a origem de tudo. A disputa teria começado devido a valores referentes às negociações de Wesley e André. O grupo DIS tem 45% dos direitos de Ganso, o Santos 45% e o atleta, 10%.

Herança
Quem é o responsável pelos direitos de Ganso estarem assim “fatiados”? O ex-presidente Marcelo Teixeira foi quem loteou esses direitos. A renovação do contrato do meia, no início de 2010, não mudou os percentuais. O documento prevê o valor da multa rescisória em 45 milhões de euros para um clube estrangeiro, mas cai para R$ 54 milhões se o “comprador” for um clube nacional.

No meio disso tudo, um garoto de 21 anos que todos exigem ter comportamento de homem maduro capaz de resolver altos negócios. A estratégia da DIS e dos representantes do jogador parece ser dar motivos para que a torcida o considere “mercenário”. Assim, estaria mais do que justificada sua saída do clube. Segundo disse o meia Elano na semana passada, o jogador está “mal assessorado” e “dividido” entre “não querer magoar o Santos e não se indispor” com seus assessores.

Ruim para todos
Por fim, embora qualquer jogador tenha direito de trabalhar onde quiser, nesse caso específico seria muito ruim para todos se o desfecho fosse a ida de Ganso para o Corinthians, menos para seus empresários e os que só o lucro satisfaz. Ruim para o atleta, que aos 21 anos ficaria marcado como um profissional antiético e “mercenário” (e quem, nessas circunstâncias, diria que não?); para o Santos, clube que nele investiu e apostou, e vê toda a celeuma envolvê-lo em semana decisiva pela Libertadores; e o Corinthians, que ficaria manchado como um clube de aluguel e presidido por um homem sem palavra.

Por tudo isso, não acredito que o desfecho seja esse. Que vá então para o Milan, se é isso que quer, mas não suje sua imagem.

Veja alguns exemplos de atletas que se mudaram para rivais:

Toninho Guerreiro (centroavante)
Do Santos: 1962 a 1969 para o São Paulo (1969 a 1973)

Pita (meia)
Do Santos (1977-1984) ao São Paulo (1984-1988)

Serginho Chulapa (centroavante)
Do São Paulo (1973-1982) ao Santos (1983-1985)

Cafu (lateral)
Saiu do São Paulo (1989-1994), foi para o Real Zaragoza, onde atuou pouco tempo, voltou ao Brasil em 1995 para o Juventude (então patrocinado pela Parmalat) alguns meses, e daí para o Palmeiras (sob patrocínio da mesma empresa).

Fábio Costa (goleiro)
Santos (2000–2003), Corinthians (2004–2005) e Santos (2006–2010)


Gilmar do Santos Neves (goleiro)
Jogou no Corinthians (1951 a 1961), de onde saiu para o Santos (1961 a 1969).

9 comentários:

Olavo Soares disse...

Belo texto.

O irritante, nessa história toda, é o fato de não ter aparecido - até agora - uma proposta concreta de um time do exterior pelo Ganso. Se ele tem tanto mercado assim, cadê as ofertas de Milan, Internazionale, Barcelona, New York Cosmos, Mazembe?

Baita forçação de barra.

Luciano disse...

é Edu... tudo culpa da lei pelé meu brother...

Tiraram todo o poder que o clube tinha... e passaram para as corjas de empresários...

No momento não acredito na vinda do Ganso para o meu Corinthians... porém... com tudo... toda via... melhor esperar...

O Lance é um jornalzinhos sensacionalista pra caramba... mas não me lembro de ler mentiras nesse diário...

Querer o Ganso eu queria... mas eh foda... mas sinceramente prefiro o Seedorf... não pelo futebol... mas pelo cansaço que eu to dessa novela Ganso ... e olha q eu sou corintiano e não santista hein...

Enfim... se o Ganso vim para o corinthians eu vou ter que ligar pra vc e pro Gabriel... não vou perder a oportunidade de uma zuadinha....rs

Luciano disse...

Olávo...

O presidente do Santos tem uma proposta na mesa dele sim....

do Millan, 30 milhões de euros.

Abs.

Glauco disse...

Bem colocado, Edu. Hoje em dia a ganância estúpida de uns é tanta que nem mesmo a possibilidade de um ganho de imagem que poderia render dividendos à frente, no caso, a associação entre Ganso e a mítica camisa dez do Santos, faz sentido na negociação. Nesse incrível imbróglio, até a lógica capitalista está sendo aviltada!

Luciano, a Lei Pelé só tratou de adequar a legislação brasileira à realidade do fim do passe em todo o mundo, a partir de 1998. Como bem lembra o Edu no post, não foi a Lei Pelé que fez o Santos ter seus direitos afetados no caso Ganso, mas sim o ex-presidente do clube que resolveu vender a preço módico parte dos direitos federativos do rapaz e, assim, deixar o destino do atleta nas mãos de empresários.

Ah, sim, e como a imprensa ajuda a conturbar o ambiente...

Felipe Cabañas da Silva disse...

"Nesse incrível imbróglio, até a lógica capitalista está sendo aviltada!"

Concordo em gênero, número e grau.

Marketing negativo.

Se é pra vir pro Corinthians só pra diminuir a multa mais à frente já começa errado. O que começa errado costuma terminar errado.

Paulo M disse...

Estranha essa história com o Ganso. O comentário do Mauro Silva num dos posts abaixo, "Santos vence Colo Colo por 3 a 2...", começa a fazer muito sentido. O "Lance" não inventou isso, tanto que o A. Sanches hoje pareceu irritado com o Santos por este dificultar as transações. Mas o jornal jogou merda no ventilador no dia de o time santista viajar pra "decisão" no Paraguai, contra o Cerro. Dizer que o jogador é mercenário seria absurdo, como disse bem o Edu no post. Eu, com 21anos de idade, me sentiria impotente diante de uma máfia estilizada no futebol e insaciável de dinheiro. Torço por Paulo Henrique.

Eduardo Maretti disse...

Paulo e demais companheiros, ainda sobre a questão "mercenário", absurdo foi uns imbecis que nem santistas podem ser considerados irem à Vila Belmiro vaiar Paulo Henrique Ganso, no 0 a 1 com o Palmeiras, e chamá-lo de "mercenário", depois de um tratamento de sete meses e 2 títulos em 2010. Mas eram muito poucos perto da massa santista no estádio ou fora dele. Só que a mídia põe a voz dessa minoria no alto-falante. Assim como "a imprensa ajuda a conturbar o ambiente", como diz Glauco... Mas justo nesta semana?

Mas... se Ganso for para o rival, vai ficar mal, seja pelo prazo que for. "O que começa errado costuma terminar errado" (Felipe).

Acho que Ganso fica no Santos até o meio do ano, aí ele vai para o Milan e vovô Seedorf sai do Milan e vem para o Timão - hehe. O holandês Seedorf é um grande jogador, sempre fui fã, mas tá em fim de carreira.

Deve haver proposta do Milan para levar Ganso, sim, como diz Luciano. Só não sei se de 30 milhões.

saudações santistas!

carmem disse...

Os "torcedores" que chamaram o Ganso de "mercenário" podem muito bem ser da "turma" do Marcelo Teixeira pra dar razão à saída do jogador.

Outra coisa, a perversidade da mídia é impressionante, no programa "4 em campo da CBN", na tarde de terça, ouvi a conversa + ou - assim: como é que se faz um contrato desses em que a multa pra times do Brasil é menor que para o os do exterior e blá blá blá, como se fossem todos desinteligentes. Nem sequer mencionaram que isso foi feito pelo MT, nem sequer levantaram suspeitas de que pode ser por má fé. Ficam colocando lenha na fogueira e deixando dúvidas sobre a atual negociação. Nem todo mundo é tão bem informado pra saber que o "imbróglio" foi feito por esse sujeito, MT, que estava prestes a sair da presidência do Santos.

Eduardo Maretti disse...


Porém, Carmem, há uma pergunta que não quer calar: e se o time do Ganso for o do Marcelo Teixeira?

Hoje li na coluna do Wagner Vilaron, no Estadão, que algumas atitudes de P.H. Ganso foram encaradas pela direção do Santos como uma opção "pelo confronto". "Por exemplo, jantar com o ex-presidente Marcelo Teixeira ou participar de uma reunião onde estava o presidente do Corinthians".