quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O humor de Chico Buarque

Entre os vários pontos da ótima entrevista de Chico Buarque à revista Rolling Stone Brasil de outubro de 2011, que está nas bancas, destaque para o humor. Os assuntos tratados nela são vários (trabalho, inspiração, literatura, música, política, intimidade e fama, a irmã Ana de Hollanda, os presidentes Lula e Dilma, a relação com Caetano Veloso etc), mas destaco o senso de humor de Chico porque é digno de nota, e porque dei boas risadas lendo a entrevista.

Perguntado, por exemplo, se os fãs pedem conselhos a ele na rua, “esperando que você mude a vida deles”, o compositor de “Construção”, “As vitrines”, “Carolina”, “Te perdôo”, “Morro Dois Irmãos”, “João e Maria” e uma infindável lista de obras-primas responde: “Pode acontecer. Se eu ficar parado num lugar, pode acontecer. Por isso estou sempre andando... [risos]. Evito que as pessoas venham me pedir conselho ou opinião. Mas geralmente o que pedem mais é autógrafo. Agora, mais que autógrafo, são as fotos. Fora isso, eu não fico parado.”

Sobre “um cara da revista Veja” que o persegue, devido, segundo ele, a “um problema de muitos anos, uma questão doentia de uma revista contra um artista”, Chico diz: “Parece que o cara que manda nessa revista tem ambições literárias”, mas, conclui o próprio compositor após contar que leu um livro do tal jornalista: “o melhor que esse cara tem a fazer é ser editor da revista Veja”.

Sobre a competitividade de Caetano Veloso: “Outro dia ele viu uma foto minha, ficou com inveja da minha barriga e está criando uma maior do que a minha [risos]”. O engraçado é que o próprio Chico Buarque se diverte com suas piadas (que é, aliás, o que faz uma piada ser engraçada).

O humor, aliás, não está apenas nesta ou outras entrevistas de Chico Buarque. Várias de suas canções trazem situações dramáticas (ou não) permeadas pelo humor. É o caso, por exemplo, de “Samba do grande amor”, aquela que tem esses versos:

"Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
"

Ou uma bem antiga (“Jorge Maravilha”), que, dizia a lenda, teria sido composta em homenagem à filha do general Ernesto Geisel: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”. Mas, como você pode ver no vídeo abaixo (o segundo), o próprio Chico nega veementemente essa versão.

Um humor que não se pode dizer simplesmente que descende do humor de Noel Rosa, porque, na minha opinião, esse aspecto tem muito a ver com o caráter da pessoa do que com intenções estéticas. Mesmo que tenha sido (e foi) influenciado por Noel, Chico não incorporaria esse elemento em sua obra se não fosse, ele mesmo, uma pessoa com essa cartacterística. De qualquer maneira, há essa similaridade notória entre as obras de Chico e Noel.

Enfim, a entrevista de Chico Buarque à Rolling Stone é muito boa, inclusive porque as entrevistas dele são raras. Quando aparece, falando ou cantando, Chico é sempre bem-vindo, mesmo que seus últimos trabalhos não tenham a exuberância e a genialidade que sempre marcaram sua maravilhosa obra musical e poética.

Veja os vídeos das duas canções citadas


"Samba do grande amor"




"Jorge Maravilha"

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