sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Neymar e os “gênios”

Maior craque do futebol brasileiro atual, menino é vítima de estratégias burras, falta de sensibilidade e intreresses intermináveis

Fotos:  Divulgação/Santos FC
O craque...
Na partida de ontem, em que o Atlético-MG venceu o Santos por 2 a 1, mais uma vez o garoto Neymar virou a polêmica, ou seja, manchete. Direto ao ponto: achei (não tem outro termo) uma imbecilidade sua escalação no jogo. Em ótimo texto do jornalista Marco Antônio Astoni em seu blog (Neymar e nós), enviado pelo amigo Olavo do Escanteio Curto, que revela um episódio emblemático da personalidade do jovem astro (sensível e humano, e não um “monstro”), ele fala da pressão “monstruosa” sobre o jogador (*), exercida por dirigentes, torcida, patrocinadores, empresários, agentes. Eu incluo aí o treinador Muricy Ramalho.

Há cerca de um ano, Dorival Júnior caiu porque foi incompetente e quis aparecer em cima de Neymar, adotando postura autoritária, arcaica e burra (relembre aqui), mas apoiada pela mídia moralista.

Maratona insana

Neymar fez ontem seu 59º jogo no ano, média de quase seis por mês na temporada, fora treinos e viagens. Na terça-feira, atuou pela seleção brasileira, digo, balcão de negócios, e apanhou, como sempre, dos mexicanos. A viagem de volta ao Brasil foi turbulenta e cansativa. O avião fretado por alguns clubes para trazer os jogadores do México chegou ao Brasil na quinta-feira. E mesmo assim o sábio Muricy Ramalho mandou o jogador a campo. Um gênio, esse Muricy. Pena que nunca admite em errinho sequer.

Antes, de maneira que me pareceu cínica, o treinador falou sobre a disposição de Neymar: “Muitas vezes, precisamos dar um tempo, tirá-lo um pouco do campo. Se deixar, ele joga todo dia”, disse o professor. Falácia, retórica e cinismo. Então por que o mandou a campo? Depois – como é humano, embora patrocinadores, o técnico, torcida, clube etc entendam que ele é um robô – o garoto foi expulso numa partida em que sofreu, segundo li, 12 faltas!

...e o gênio
E o senhor Muricy Ramalho ainda acha que a culpa é do garoto? Não é só cansaço físico. O esgotamento mental, o estresse, também atinge um atleta. Se os patrocinadores exigem a presença do menino em campo sempre, a estratégia se revelou um equívoco estúpido ontem. Com estratégia mais inteligente, Neymar poderia ter ficado no banco (vide Adriano Imperador) e ter sido paparicado o tempo todo pelas câmeras. Teria sido poupado de mais de dez faltas, poderia ter até jogado um pouco e estaria bem para pegar o Grêmio.

Mitificação

Mas prevaleceu a estratégia (de marketing, da comissão técnica, dos interesses gerais) de mandá-lo ao jogo. E o Muricy, ao contrário do que quer fazer parecer, é subserviente aos interesses. Sua valentia só se revela com seus comandados e quando resolve dar patadas em jornalistas que não levantam a bola para ele.

Querem saber de uma coisa? Estou farto da mitificação dos treinadores de futebol, que, me parece, começou com Telê Santana, que perdeu duas Copas do Mundo tendo nas mãos times magníficos – ainda vou escrever sobre Telê. Antigamente, técnico era técnico e os artistas é que estavam em primeiro plano. Essa elevação dos “professores” à categoria de astros é um dos maiores problemas do futebol atual. Muricy, claro, é um bom técnico, apesar de seu estilo parreirista e teimoso, que é tema para outro post.

Para terminar, estou começando a achar que Neymar terá mais paz na Europa, onde poderá dividir o brilho de sua estrela com outros da constelação do futebol. Aqui, não sei até que ponto ele vai suportar a pressão, as “estratágias” e a burrice.

*Atualizado às 14:37 (15/10/2011)

6 comentários:

alexandre disse...

Querido edu, não vou entrar na questão pque não estou muito por dentro do que ocorreu. Algumas estrelas, não só do fut, mas também de outros segmentos não aguentam essa pressão, pelo preço que se paga pela fama, principalmente qdo há um gênio em cena. Mas acredito que o Neymar, apesar de sua pouca idade já é suficientemente maduro e tem os pés no chão para lidar com certas situações. Mas de toda forma já é um dos melhores negócios do futebol atual. Muita grana em jogo. O fut e a imprensa brasileira são muito atrasados na maneira como se comportam. A última pela prática de um jornalismo pobre, sensacionalista e muitas vezes mentiroso, para simplesmente tornar um acontecimento banal numa bola de neve. Esse é o modo e o meio que o Felipão usa e bem, p ex, leva as coisas a público, o que deveria ser cobrado de seus atletas de forma reservada, afins de preservá-los e preservar o clube também. isso não é leal. O Felipão é um corneteiro e gosta de briga. E concordo também, hoje o que predomina é a "estrela" do técnico, eles estão aparecendo mais do que os jogdores, e isso é um grotesco equívoco para o futebol brasileiro. Tem de se rever esses conceitos, jà é hora.

Eduardo Maretti disse...

Neymar pode ser "suficientemente maduro" e "ter os pés no chão para lidar com certas situações". Mas nem mesmo quem deveria em público defendê-lo, como Muricy, o defende da interminável pancadaria de que esse craque é vítima (e não só ele).

Fiquei decepcionado com Muricy Ramalho. Só tem culhão para levantar a voz contra os que não têm voz.

Dizer que Neymar tem que se acostumar a apanhar, como ele disse, é muito pobre.

Paulo M disse...

O Alex, do Fenerbhace, em resposta a um interesse do Palmeiras em repatriá-lo, uns dois anos atrás, disse que não viria porque lá na Turquia ele tinha tempo pra dividir com a família e os amigos, e que o calendário do futebol brasileiro é cruel, não dá espaço. Assino embaixo o texto do post. O Muricy tem que pensar no Mundial Interclubes desde ontem, se quiser ter boas chances de beliscá-lo.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Interessante enfoque esse sobre os treinadores. Eu acrescentaria que isso se intensifica com a "pragmatização" do futebol, influência, justamente, dos europeus pernas-de-pau: quando falta talento sobra técnica, tática e razão. E o futebol brasileiro foi ficando cerebral, covarde, pragmático, e daí em diante mais sujeito ao pragmatismo do dinheiro, dos grandes interesses corporativos e marqueteiros, que é a instituição máxima do futebol atual - que FIFA que nada!

Os treinadores passaram a ser a linha de frente do futebol, e não mais os atletas. Daí essas superstars da prancheta, os "professores" José Mourinho, Pep Guardiola, Felipão e etc. Foi-se o tempo em que você colocava dois times num gramado e mandava bronca, sem ficar pensando em 1001 estratégias. Tudo perde a naturalidade, a ingenuidade e a criatividade. Daí o cabimento total de um novo lema no futebol: Ousadia! Acho que essa é a mensagem do Neymar.

alexandre disse...

É verdade, Felipe, Ousadia.`´E por isso que os grandes jogadores se sobressaem..pela ousadia inteligência e simplicidade. E parece que é isso que os técnicos temem, que esses craques sejam auto-suficientes para os times. Como pode um garoto de 19 ou vinte anos comandar um time? Somente em casos isolados, mas isso não é um caso típico.

Eduardo Maretti disse...

Curioso vocês falarem de ousadia. Em seu perfil no Twitter, o Neymar colocou a seguinte frase: "Feliz, ousado e filho de Deus"! hehe Muito bom.

Muito legais os comentários do Paulo M (a lembrança do Alex), do Felipe ("um novo lema no futebol: Ousadia! Acho que essa é a mensagem do Neymar") e do Alexandre ("parece que é isso que os técnicos temem, que esses craques sejam auto-suficientes").

Abraços