segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Morre Estamira. Cineasta Marcos Prado manifesta revolta pela falência das instituições públicas

Estamira Gomes de Sousa, protagonista do documentário Estamira (2005), dirigido por Marcos Prado (veja trailer em link abaixo), morreu na quinta-feira, 28, no Rio de Janeiro, aos 70 anos. O filme, uma das obras-primas do cinema brasileiro de todos os tempos, mostra o cotidiano de uma catadora de lixo no aterro sanitário no bairro de Gramacho, localizado no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.


Foto: Reprodução
 Estamira é uma esquizofrênica. Uma mulher que foi estuprada na juventude e, depois de muitas vicissitudes, se tornou Estamira. O propósito deste post não é falar do filme Estamira (que todos os brasileiros deveriam ver e mereceria um post à parte), mas apenas registrar a morte dessa mulher absurda, visceral, que a sensibilidade do olhar poético de Marcos Prado registrou.

Marcos Prado que, em sua página no Facebook, escreveu o seguinte sobre a morte de Estamira: "Caros amigos, é com tristeza no coração que vos trago a notícia que há poucas horas atrás, Dona Estamira partiu dessa para uma melhor. Para aqueles que a conheceram, pessoalmente ou nas telas de cinema, sugiro um pensamento de luz para ela seguir seu caminho espiritual. Saravá, como diria meu amigo Marco Aurêlio Marcondes".

O cineasta manifestou sua revolta pela maneira como ela morreu: "Estamira ficou invisível pela falência e deficiência de nossas instituições públicas! Morreu depois de ficar dois dias esperando por atendimento nos corredores da morte do nosso maravilhoso serviço público de saúde do Miguel Couto. Ela estava com uma grave infecção no braço, mas foi tardiamente atendida. Obrigado meus políticos de Brasília, do Rio de Janeiro, que roubam nosso dinheiro e enfiam sei lá onde".

Trailer de Estamira:



Apenas para registrar: o evento de sábado, 30, na Marina da Glória, quando celebridades mundiais participaram do sorteio das Eliminatórias da Copa do Mundo, custou R$ 30 milhões bancados pelos cofres do governo estadual e da prefeitura do Rio de Janeiro.

4 comentários:

Gabriel Megracko disse...

Deus a louve.

carmem disse...

Acho que deus estava entediado esses dias e resolveu levar dois espíritos inquietos pra movimentar o céu.

Paulo M disse...

A personagem-atriz, e real, mais bem traduzida pela ficção, figura nietzschiana. Pixote também morreu assim, esquecido. Bem lembrado pelo post essa dinheirama gasta em eventos de luxo com cobertura da mídia.

Mayra disse...

Carminha! A Amy e a Estamira no céu?? Sei não, amiga...

Falando sério, como a arte ajuda a gente a viver de um jeito menos besta, não?! Quando e como seria possível conhecer toda a poesia de uma Estamira não fosse o filme brilhante?!! Que privilégio poder conhecer um pouco aquela explosão de sentidos que a Estamira criava e criava e criava; a cena final, como síntese desse poema ininterrupto que era a cabeça dela, é uma das coisas mais lindas que já vi.