segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Kadhafi está no fim

O regime de Muammar Kadhafi está caindo. Não se sabe o que virá a partir de agora na Líbia. Quais serão as conseqüências do apoio da Otan e dos Estados Unidos aos rebeldes que comemoram em Benghazi e na capital Trípoli a ainda não anunciada queda do ditador que em fevereiro prometia banhar o país de sangue (e banha há muito tempo)?

Rebeldes na capital Trípoli - Foto: Reprodução/ Al Jazeera
 O fato é que o regime sanguinário está no fim. Os rebeldes anunciaram a prisão de três dos filhos do patriarca que governa com mão de ferro e muito sangue o país há 41 anos e dizem que já controlam Trípoli. O presidente dos Estados Unidos Barack Obama manifestou-se com as seguintes palavras agora há pouco:

Nesta noite, a pressão sobre o regime de Kadafi chegou a um ponto crítico. Trípoli está escapando das mãos de um tirano. O regime dá sinais de que está caindo. O povo da Líbia está mostrando que a busca universal de dignidade e liberdade é muito mais forte que o punho de ferro de um ditador.”

Ok, sabemos o que significa o apoio da Otan e dos EUA aos rebeldes. Mas eu, na minha insignificância, saúdo a queda de Kadhafi e espero que se confirme. Ouvi agora na Al Jazeera um homem do povo, simples, em Trípoli, dizer à câmera literalmente: “We are all free”. Confesso que me emocionei.

Assista ao vivo a cobertura da rede Al Jazeera dos acontecimentos na Líbia clicando neste link:

Al Jazeera Live

4 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Intervenção das tropas da Otan, de fato, não pode ser considerado um acontecimento salutar, visto que a Otan é uma aliança militar originária da Guerra Fria, cujo objetivo era defender militarmente o bloco capitalista, e que portanto não pode ser vista como uma instituição isenta.

No entanto, especificamente no caso da Líbia, embora isso tenha sido muito pouco levado em consideração, as lideranças da insurgência desejaram e quase imploraram por uma intervenção, já que não tinham armas à altura do exército do ditador demente. Antes da Otan entrar no cenário, rebeldes conseguiam armas quase exclusivamente saqueando quartéis, em operações que causavam muitas baixas e nem sempre eram bem sucedidas. A ajuda dos países da região era insuficiente, e certamente sem a Otan a guerra contra Gaddafi teria durado mais tempo e a carnificina teria sido maior.

O problema é: depois que Gaddafi cair, a Otan vai se retirar? Os EUA vão respeitar a tal autodeterminação dos povos? Ou vão brincar de paladinos do "fim da história" da democracia de mercado, como no Iraque, onde a carnificina dura anos e não tem final à vista?

Nesse cenário de incertezas pós-Gaddafi, o desenrolar da história pode mostrar que a intervenção da Otan pode não ter minimizado o banho de sangue.

Sobre o ditador demente no Tribunal Penal Internacional, sou totalmente à favor. Mas vai continuar faltando no TPI uma porção de "cavaleiros do apocalipse" estadunidenses, a começar por baby Bush, que derramaram sangue pelo mundo à torto e à direito. Mas foi pela democracia...

Victor disse...

Os dirigentes da oposição libia ja dizem que irã privilegiar aos paises da Otan na exploração (privatização) do petroleo, pelo apoio que deram. Revelam hostilidades contra a Rússia, a China e o Brasil. (Emir Sader FB)

Paulo M disse...

Legal o comentário do Cabañas. Procede. Minha avó Milu tinha uma máxima: "De graça nem cachorro abana o rabo". Derrubar o Kadafi é um fato histórico ímpar, um passo enorme pra libertação do povo líbio e do povo árabe, mas os representantes da Otan certamente vão dar a conta de sua ajuda militar aos rebeldes líbios. Não deve ter sido à toa que a Síria hoje tratou rapidinho de declarar apoio aos insurgentes (porque também pode ser alvo militar do Ocidente, se já não é) e que a Liga Árabe cobrou da Otan um tratamento igual aos bombardeios de Israel contra posições palestinas. Deve haver mil interesses atrás disso tudo. É uma conquista histórica com reticências.

Felipe Cabañas da Silva disse...

E segundo os jornais o Brasil poderá ser retaliado na exploração de petróleo na Líbia pós-Gaddafi, por conta da abstenção na votação da zona de exclusão aérea.

Mas continuo convicto de que o Brasil agiu corretamente. Abster-se não significa, como alguns jornalistas parecem sugerir por aí, apoiar Gaddafi, mas ter cautela em relação a uma situação sem garantias.

Mas as lideranças rebeldes líbias sabem bem o que estão fazendo e que terão uma continha a pagar. Entre os principais líderes rebeldes temos Abdel Jalil, ex-ministro da justiça do próprio Gaddafi e o primeiro a desertar, ou Ali Tarhouni, um intelectual radicado nos EUA. Nenhum desses líderes nasceu ontem.