quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Umas linhas sobre Anselmo Duarte (1920-2009)


Quando Anselmo Duarte morreu, há cinco dias, este blog não existia. Por isso mesmo, me permito algumas linhas, mesmo que atrasadas.

As abordagens em torno da morte do ator e diretor em São Paulo, no último dia 7, aos 89 anos, insistiram, claro, na informação de que ele foi o único brasileiro a ganhar a Palma de Ouro em Cannes como diretor. O que é justo.

Anselmo Duarte começou a carreira como ator no filme inacabado It's all true, de Orson Welles (1942). Com O Pagador de Promessas, ele conseguiu colocar nas telas uma nova maneira de dirigir atores, que em nosso cinema tinham (e em muitos casos ainda têm) aquela característica irritante que o próprio diretor ressaltou, em entrevista: "[A interpretação dos atores dos filmes brasileiros] era muito teatral, era uma pantomima, gritos, parecia que estavam num palco, não num filme", explicou. Ele dizia que não gostava de atuar como ator.

Anselmo Duarte não se dava bem com o pessoal do Cinema Novo, com carradas de razão. Para os cinemanovistas (Glauber Rocha à frente), ou você fazia um cinema de vanguarda ("revolucionário") ou não significava nada. Uma visão excludente e preconceituosa. No II Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, em Salvador (BA), em 2006, o qual cobri para a revista Fórum, o cineasta Eduardo Escorel tocou no assunto. Disse que um dos maiores erros do Cinema Novo foi ter renegado o que tinha sido feito antes dele. Caso de Anselmo, oriundo dos estúdios da Vera Cruz.

Como se tivesse sido pecado ter existido antes do Cinema Novo. Ao ganhar a Palma de Ouro em Cannes, em 1962, Anselmo Duarte concorreu, entre outros, com filmes como O anjo exterminador (Luis Buñuel) e O eclipse (Antonioni). Talvez, por trás das críticas dos cinemanovistas a Anselmo Duarte, houvesse um motivo menos nobre do que a estética. Talvez fosse a inveja, esse sentimento tão mesquinho que foi incluído entre os sete pecados capitais.

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