quarta-feira, 19 de maio de 2010

A mazela da poluição sonora

Antigamente (não tão antigamente assim), uns caminhões de gás eram a própria materialização da poluição sonora, com aquela musiquinha. Nem todo mundo sabe que aquela musiquinha é uma degradação eletrônica de Pour Elise, de Beethoven.

Para conseguir espaço no “mercado”, logo surgiram outros caminhões de gás, que, para superar Pour Elise eletrônica, acionavam uma buzina violenta e ensurdecedora, bem de manhã. Uma coisa que, por não achar outro termo, só pode ser chamada de perversa.
Uma vez o cara buzinou tão agressivamente, e tão cedo, que acordei com o coração aos pulos, de susto. Eram uns caminhões clandestinos. Levantei da cama e pela janela xinguei o cara; aquilo era uma agressão inominável. Como assim, ser arrancado da cama por um idiota daqueles e ainda ficar quieto? Xingado, o motorista desceu do caminhão e ainda proferiu ameaças ao meu portão. Chamei a polícia. Deu em nada, mas hoje esses caminhões não existem mais. Ainda tem o caminhãozinho da Ultragás e outras empresas, que também incomodam, mas menos do que os de outrora.

Tem aquele miserável carro da “pamonha de Piracicaba”, que anda meio raro, mas ainda incomoda, principalmente na periferia, embora não seja mais “de Piracicaba”.

Evangélicos vs. PSIU
E, na capital de São Paulo, o PSIU foi praticamente extinto por iniciativa do vereador Apolinário (DEM) com a conivência de situação e oposição, além do prefeito, para favorecer o lobby das igrejas evangélicas, que agora podem fazer seus rituais (nem vou adjetivar) com os decibéis que quiserem, e ninguém quer interferir para não perder seus votos. Não sou só eu, que posso ser acusado de esquerdozóide ou endemoniado, quem diz. Está, por exemplo, no blog do Milton Jung, num ótimo texto de Carlos Magno Gibrail, que você pode ler clicando aqui.

E a poluição sonora, essa mazela tão grave, continua também a se manifestar por outras formas, animal e humana.

A animal (que também é humana): poodlezinhos carentes, vira-latas neuróticos, pastores alemães deturpados e outras variações caninas, não importa quais, que à noite resolvem latir, ganir, chorar e até uivar, como se estivéssemos num mundo inferior de Dante, e você não consegue nem dormir, nem assistir a um filme. Agora mesmo, 01h47 desta quarta-feira, por coincidência, uma sinfonia de cães estúpidos está latindo. E todo mundo acha normal. (Nem todo mundo. Um dia, um rapaz, num boteco em Perdizes, bairro paulistano onde eu morava, estava inconformado: "vou dar chumbinho pruns cachorros, mano, não consigo mais dormir", disse, entre goladas de cerveja. Eu argumentei a favor da vida dos cães, mas entendi os motivos dele.)

A humana
: alarmes de carros ou empresas, geralmente pequenas, que só servem para inundar o ar de barulho, já que alarmes não impedem que os carros desapareçam, e todo mundo acha normal, porque todo mundo já está louco.


Os carros de som dos políticos em campanha, que grassam como praga em cidades periféricas à capital em épocas de eleição.

E essa nova modalidade de guardas-noturnos, que andam pelos bairros com suas motinhos dando apitinhos, pra avisar que estão ali, seja para proteger, seja para roubar? Podiam proteger e roubar, mas pelo menos que fosse em silêncio, catzo.

E como não ouvir as caçambas e aqueles caminhões cujas correntes relincham metálica, acintosamente no meio da madrugada, e se você reclama os caras ainda te ameaçam? Ou os guinchos? Ou as motos com escapamento aberto ou estourando, que agridem a sociedade incessante e impunemente, noite após noite.

E ainda querem me proibir de fumar meu cigarrinho. Dou minha palavra: no dia em que o estado combater e punir os responsáveis pela malfadada poluição sonora, eu paro de fumar.

9 comentários:

Anselmo disse...

que desnecessária a crítica ao carro da pamonha de piracicaba. é um patrimônio cultural!

e o salto para o cigarro é interessante. eu só paro de beber, a exemplo de Mouzar Benedito, o maior sósia vivo do Barão de Itararé, no dia em que o mundo for bom. E paro por falta de motivo pra continuar, veja bem.

Felipe Cabañas da Silva disse...

PUTS...POST ABSOLUTAMENTE APOIADO!!!
Eu tenho mais um milhão de exemplos de poluição sonora... uma das coisas mais sérias, junto com igrejas evangélicas e casas noturnas: a indústria imobiliária, que começa suas obras às 5h da manhã e termina às 11h de noite, porque afinal de contas os prédios precisam ficar prontos e a grana precisa rodar...

em relação a casas noturnas, eu continuo morando na tanabi (acho que você conhece a minha rua) e consigo ouvir da minha casa as três casas noturnas de merda que parecem que disputam para ver quem faz mais barulho, é o lixo do vila country, a seringueira e o porto alcobaça... se eu ouço daqui, tenho dó de quem mora lá embaixo, perto da matarazzo e do colégio das américas...

não quero fazer uma crítica moralista à vida noturna, mas para quem já foi numa dessas boates de música eletrônica sabe que o que acontece lá dentro não é música, é ruído, é barulho sem sentido, sujeira sonora dentro de um ambiente no qual não dá pra conversar a não ser tirando urros de dentro das entranhas...

e os asqueirosos (para dizer o menos) vereadores da bancada evangélica estão conseguindo destruir o PSIU, que era a única arma que tínhamos para reagir a isso... vc pode chamar a polícia sempre que o barulho for causado por um indivíduo em sua residência particular, mas quando se trata de um estabelecimento comercial a polícia não pode intervir sem todo um processo burocrático... o cara pode fazer o que quiser... isso é democracia?? e os responsáveis por isso podem ser chamados de democratas (DEM)?? Que morram todos...

Eduardo Maretti disse...

É verdade, Felipe, me esqueci das casas noturnas. No meu caso tb não se trata de "uma crítica moralista à vida noturna". Feita a ressalva, concordo com você. No meu caso, que moro no Butantã, tem umas festas às vezes que me dão dó de quem mora perto.

E, Anselmo, a pamonha NUNCA foi de Piracicaba. Nunca vi manifestação do Iphan - Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – a respeito - hehe

Fernando Augusto disse...

Vocês criticam leis "caretas" em relação a cigarro e bebidas, mas em relação ao que os incomodam são extremamente moralizantes.

O Felipe, por exemplo, critica as casas noturnas perto de onde mora porque tocam ritmos que ele não aprecia.

Tem que haver controle da poluição sonora, mas, sinceramente, mais bom humor senhores.

Eduardo Maretti disse...

Fernando, não se trata de bom ou mau humor,mas de saúde pública. Uma vez fiz uma matéria pra uma revista chamada Dirigente Municipal (hoje extinta) dando dados, números e avaliações de técnicos (como da Cetesb), médicos e outros especialistas. Poluição sonora faz muito mal à saúde, isso é científico. E a questão política, interesses, a destruição do PSIU em prol de lobbies evangélicos, tudo isso agride a cidadania. E, portanto, o humor! Pronto, falei...

Leandro Conceição disse...

Calma, senhores.

Paulo M disse...

Barulho de motor de carro e moto sem escapamento é um inferno. Isso é sério e tem boyzinho que vomita nisso acho que sua falta de sexo. Aqui na Barão de Limeira, uma rua em que predominam as lojas de moto e auto e de peças, a coisa é ensurdecedora, estressante. Onde está a prefeitura que não aplica as leis pertinentes, se é que existem?

alexandre disse...

concordo com vcs, realmente é um problema, mas esse é o custo de se viver numa metrópole, nesses tempos,onde além dos ruídos existe todo o resto de coisas.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Fernando, não critiquei as casas noturnas perto de onde moro por conta do tipo de música. Concordo que o que escrevi pode propiciar esta interpretação. No entanto, o que penso é que determinados tipos de músicas favorecem determinados decibéis... Um barzinho com um cara num banquinho com um violão não vai fazer tanto barulho quanto o Vila Country, embora também gere muitos transtornos para quem mora a 10 metros... No entanto, moro a 300 metros do Vila Country e ainda consigo ouvir o som... Alguma coisa está muito errada... É óbvio que é preciso um controle maior de decibéis onde os decibéis são maiores... No entanto, com as ridículas e interesseiras alterações na lei do PSIU (por exemplo exigir que os decibéis sejam medidos na casa da vítima e não na do agressor e que a medição seja feita com as duas partes presentes - me corrija se estiver errado, Edu, mas acho que isso não passou na câmara) praticamente inviabilizam que as pessoas incomodadas reclamem seus direitos...

Desejo a você que não passe por transtornos com barulho, principalmente à noite, pois verá que privado de sono é praticamente impossível manter o bom humor... é questão de saúde pública, como afirmou o Edu, que não preocupa a lamentável administração Gilberto Kassab...
um abraço!