terça-feira, 26 de abril de 2011

A revoada tucana

A crise nas hostes tucanas depois da derrota de José Serra na eleição de 2010 continua. Os desdobramentos, depois do racha generalizado, apontam para uma reordenação das lideranças conservadoras, que estão divididas e tentam, desnorteadas, achar o espaço de oposição que não sabem onde está desde o segundo mandato de Lula.

Agora há pouco (20h23), a Folha.com publicou matéria com o seguinte título: “FHC admite possibilidade de fusão entre PSDB e DEM”. O ex-presidente, conhecido por sua admiração por Maquiavel, reconhece que "existem propostas nesse sentido”. Fernando Henrique Cardoso quer liderar um movimento para ocupar o espaço de uma oposição perdida e sem ação. A Folha, note-se, tem sido diligente em divulgar sua conversão definitiva ao ideário de direita. Na semana retrasada, via web, divulgou também em primeira mão as recomendações do ex-presidente para que os empenhados na cruzada de uma nova oposição (a direita que saiu do armário) se aproximem da classe média e esqueçam o “povão”, fatia perdida do eleitorado.

Após Kassab (uma sombra de Serra) criar o partido sem rosto, outras notícias surgiram, incluindo as mais recentes: sete vereadores tucanos de São Paulo anunciaram na semana passada sua debandada do ninho. Depois, Walter Feldman, secretário municipal de Esporte e Lazer (São Paulo) e fundador do PSDB, deixou o partido atacando o grupo do governador Alckmin (“O PSDB hoje é incapaz de se constituir como partido de oposição, de se renovar e de compreender a derrota eleitoral”, vociferou Feldman). Já Alckmin parece obcecado em vingar-se do nunca engolido apoio de Serra a Kassab.

Os vereadores paulistanos parecem ter sido seduzidos pelo PSD de Kassab; Feldman disse que a saída é “seguir FHC em sua posição intelectual”.

Uma confusão dos diabos.

Só espero que uma provável (se o Príncipe falou, tá falado) fusão PSDB-DEM não resulte numa sigla PSDBEM. Seria demais, seria ridículo.

E fica a pergunta: para onde vai Aécio Neves nessa revoada, para fugir do estereótipo de novo Collor que já começa a colar nele, o neto de Tancredo?

5 comentários:

Maurício Ayer disse...

Sinceramente, eu não podia imaginar que a derrocada do PSDB se precipitaria tão rápido. Mas Serra levou a legenda de tal modo à direita e ao vale tudo eleitoral que deve ter ficado difícil respirar o ar ali dentro. Mas que rumo vai tomar o cenário político, isso eu vou assistir com gosto.

Eduardo Maretti disse...

Serra (que anos atrás até enganou alguns como um suposto centrista civilizado) promoveu o vale tudo eleitoral,e é a direita na prática; FHC, a direita teórica, que, na prática, fez o governo que conhecemos; Alckmin é opus dei; e de Aécio deus nos livre. De modo que o ar ali dentro acho que é irrespirável de qualquer jeito, Maurício!

abs

José Arrabal disse...


Deveras, ilustre Edu Maretti, toda essa tralha tucano-demoníaca, num justo sedex, está endereçada à lata de lixo da história. É tudo uma carcomida cambada passadista do consenso de Washington que perdeu completamente o bonde da história. Igualmente não merece qualquer crédito político esse partidinho do prefeito, mero deslavado oportunismo baseado no salve-se-quem-puder. O fato é que o Brasil mudou e a oposição parece perceber que agora são outros quinhentos. E, por não perceber que a história agora é outra, essa oposição ao Brasil o que mais faz a olhos vistos é mutuamente se apunhalar. Geraldo apunhala Moto-Serra que apunhala Aécio, enquanto FHC apunhala a si mesmo e puxa os demoníacos para a cova. Enfim, uma sangria desatada que terá a culminância de seu estado terminal nas eleições do próximo ano. Pode crer.

Sem dúvida o Presidente Lula mudou a história do Brasil! E com a Presidente Dilma consolida-se a mudança! Que venha então de vez a reforma política para pôr fim definitivo nessa turma do falecido consenso de Washington, que nada tem a dizer, a propor ou a fazer a favor do bom presente e do futuro de nosso país. É oposição agindo feito cachorrada que ladra, quando na verdade a caravana da história segue adiante e distante faz tempo!

Verdade! Os tempos agora são outros! Até minha mãe de 92 anos bem sabe disso, eleitora de Dilma, vivíssima, firme, forte e feliz!)

Com satisfação,
José Arrabal

Victor disse...

Nesse bafafá todo o Serra tá quietinho, não tem o que falar. Mas não podemos esquecer que o partido de oposição é a mídia, a caça de escândalos para infamar o PT sempre. Essa lua de mel com Dilma em breve acabará. Ainda acho, na minha inocente visão, que os ecocapitalistas será a futura oposição, isso se a Marina conseguir impor respeito naquele no PV. Outro cuidado é com o fogo "amigo" do PMDB, este já forte e especialista em barganhas políticas. A oposição é necessária em todo regime democrático, portanto sem ela não será bom. Diante de comentaristas tão nobres fica aqui a minha voz.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Eu estou adorando duas coisas: uma é ver o demo-tucanato sangrar. Cada notícia sobre abandono do barco, exonerações, desentendimentos e troca de farpas eu vibro como se fosse um gol do Corinthians. Sangria que tem o novo "partido" de Gilberto Kassab como a face mais patética. Este "político" paulista, que José Serra desenterrou dos escombros do malufismo, conseguiu o feito inédito de gerar repugnância à esquerda, à direita e ao centro, passando pela mídia e até pela família de JK!! Afinal, inaugurou uma nova modalidade de demagogia, um partido não filiado à esquerda, nem à direita e nem ao centro (????!!!!!), mas que leva a "marca" de um partido que, independentemente das posições ideológicas, teve figuras respeitáveis da política nacional e está marcado na história política do Brasil.

Outra coisa que eu estou adorando é ver a direita saindo do armário. O artigo de FHC terminou sendo desastroso. Querendo utilizar-se de sua notoriedade intelectual e política para propor rumos ao próprio partido, terminou numa espécie de auto-crítica involuntária, gerando um desconforto considerável e uma polêmica desnecessária para os próprios interesses. Mas é óbvio que o PSDB já deixou há muito tempo de lado o "povão", a "patuléia", a "choldra" desimportante. Hoje a frase de Figueiredo teria uma pertinência enorme na boca de FHC. FHC também prefere o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo. Isso sempre foi óbvio. É a direita brasileira vencendo sua timidez contemporânea. Precisamos deixar às claras quem é quem, o que não vem acontecendo na análise política brasileira nos últimos anos.