Por Paulo Maretti
Dois fatos policiais relevantes e paradoxais marcaram a semana. No primeiro, uma mulher denuncia à polícia uma execução sumária, pela própria polícia, no cemitério das Palmeiras em São Paulo. No outro, as crianças mortas por um psicótico. Nada a dizer muito além do texto do Flavio Gomes, que já basta.
Mas quando li e ouvi o diálogo desafiador da mulher com um dos policiais acusados no cemitério, senti assim como uma luz no fim do túnel: "Alguém neste mundo ainda se indigna e se levanta pelo bem-estar do outro, por algo óbvio, pelos direitos humanos, tem sensibilidade, põe até sua própria vida em jogo. Então, nem tudo está perdido".
Dois ou três dias depois, um outro crime, a barbárie, e a luz do fim do túnel apagou-se de novo.
(Texto enviado como comentário ao post Realengo: pensamento para sexta-feira)
Dois fatos policiais relevantes e paradoxais marcaram a semana. No primeiro, uma mulher denuncia à polícia uma execução sumária, pela própria polícia, no cemitério das Palmeiras em São Paulo. No outro, as crianças mortas por um psicótico. Nada a dizer muito além do texto do Flavio Gomes, que já basta.
Mas quando li e ouvi o diálogo desafiador da mulher com um dos policiais acusados no cemitério, senti assim como uma luz no fim do túnel: "Alguém neste mundo ainda se indigna e se levanta pelo bem-estar do outro, por algo óbvio, pelos direitos humanos, tem sensibilidade, põe até sua própria vida em jogo. Então, nem tudo está perdido".
Dois ou três dias depois, um outro crime, a barbárie, e a luz do fim do túnel apagou-se de novo.
(Texto enviado como comentário ao post Realengo: pensamento para sexta-feira)
6 comentários:
Paulinho, bacana a associação que você fez. Mas acho que a luz no fim do túnel continua - acredito plenamente na inteligência humana. O gesto da moça, a coragem dela, acho, são decorrência de um Brasil que está mudando, que ao longo dos últimos anos vem podendo ter confiança nas instituições. Quando aquela moça confrontou o policial criminoso, ela mostrou que conta com uma polícia decente. Isso é absolutamente novo na nossa histótia. Assim como o crime bárbaro do Rio também é assustadoramente novo. Pra mim, o horror de um fato não anula a grandeza do outro, não. É a vida seguindo na loucura, na morte, mas também na lucidez e na coragem pra seguir mais bonita.
Sei não, Mayra. Fico no meio termo entre o que manifesta você e Paulo, tendo em mente também o belo texto do Flavio Gomes "O pai do homem". Penso na frase que meu amigo Xico Santos enviou por e-mail a propósito do mesmo assunto:
"Eu sei. A espécie humana está fadada a se arrastar de volta à noite primitiva para que, só então, recomece a escalada rumo à civilização.”
(Escrito em 1912 por Jack London; extraído de “A Praga Escarlate”; Ed. Conrad, 2003).
Me lembro de um crime, nos anos 80, lá pros lados da Vila Santa Catarina, em São Paulo, em que um rapaz, depois de brigar com os pais, matou os dois, além de um bebê, irmão dele. Eu sentia nas ruas, nos dias seguintes, as pessoas chocadas, que comentavam estarrecidas sobre o ocorrido. A matança na escola do Rio agora parece algo comum exceto pela sede da grande mídia em disputar vaga nos noticiários. Transformou-se num mero espetáculo midiático. Entendo o que aconteceu no cemitério – só um grande diretor de cinema poderia construir uma cena e dois diálogos assim, no telefone com um policial e pessoalmente com outro – como algo isolado, não como decorrência de um todo social. Quanto às polícias, não sei a Federal, também não vejo avanços. Segundo a rádio CBN, a Polícia Civil de São Paulo inocentou os policiais acusados num relatório, alegando que mataram o rapaz em legítima defesa. Ora, o homem foi transportado dentro do carro da PM, o tempo todo, portando o quê? Um revólver? Estou mais para o Jack London, mesmo.
Queria expressar-me em algumas palavras aqui, neste blog acolhedor, como diria neste momento. Não tive a menor vontade de expressão depois desse fato. Sob a luz de todos esses pareceres, análises, textos e frases, me resumo em poucas palavras sobre esses episódios bárbaros. Isso tudo é apocalíptico, todos esses acontecimentos no mundo. É a manifestação do mal ( do homem ) em todos os aspéctos, é o diabo do homem se manifestando, pois tudo é permitido e tudo vira um complexo irreversível. Além de tudo, o mal humor da Terra. Gostaria de ser otimista, mas há muitos fatos que me levam a crer que, quando um estado está caótico, as mudanças são naturais e inevitáveis. Éssas coisas sempre existiram, só que em proporções menores. Hoje a população é infinitamente maior e a probabilidade desse crimes acontecerem hoje é maior em número e grau, obviamente. Esse ser, praticante desse ato covarde, (Caetano canta isso na canção O cu do mundo ) é um verme e de vermes o mundo está cheio hoje. vivem na terra para isso, apenas para isso à espreita para o mau. Mas continuamos, por acaso ou não.
Também estou mais para Jack London, Paulinho, oportunamente citado pelo Chico. É uma síntese disso tudo.
A sociedade vai criando os seus demônios. O que aconteceu, sempre aconteceu na humanidade... sempre. É um louco que resolve se matar e quer levar a gente junto. Essa é a definição desse cara. É um covarde que precisa levar... as suas almas. E é a sociedade que vai produzindo isso. Mas os loucos a gente sempre vai ter... os loucos do bem e do mal. E aconteceu aqui desse jeito. Não tem como resumir, tudo já tá dito. Bem vindos os loucos do bem como a mulher do cemitério.
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