Causou grande repercussão no Nordeste do país, especialmente na Paraíba, o posicionamento do músico Chico César, atual Secretário de Cultura do Estado, sobre as bandas que tocam o chamado “forró de plástico”, um lixo cultural que se dissemina como gafanhoto. César afirmou que o governo não vai pagar por apresentações dessas bandas nas festas juninas de Campina Grande.
Com teclado e dançarinos, as bandas “de plástico” não usam sequer sanfona, estão tomando conta e, por incrível que pareça, ameaçam seriamente a cultura da região. “Nós vamos contribuir com a cultura tradicional, com o pé de serra, com Biliu de Campina, Pinto do Acordeon, entre outros”, afirmou Chico César.
Devido à polêmica causada pelas declarações, o secretário divulgou uma nota oficial em que fica clara a triste conjuntura em que uma das maiores manifestações culturais e seus principais representantes hoje são vaiados, porque a população está sendo doutrinada a ouvir a tal música de plástico.
Leia um trecho da nota do secretário e músico Chico César sobre a polêmica:
“Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla sertaneja, gritava 'Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver'”.
Mas a justa luta do músico é inglória e ele recebe ataques até de parlamentares. O deputado Raniery Paulino (PMDB), por exemplo, afirmou que “o governo não pode determinar os artistas que o povo deve ou não ouvir”. Mas a mídia pode, não é, deputado?
Na nota, Chico César rebate as acusações de que está sendo intolerante: “Intolerância é excluir da programação do rádio paraibano (concessão pública) durante o ano inteiro, artistas como Parrá, Baixinho do Pandeiro, Cátia de França, Zabé da Loca, Escurinho, Beto Brito, Dejinha de Monteiro, Livardo Alves, Pinto do Acordeon, Mestre Fuba, Vital Farias, Biliu de Campina, Fuba de Taperoá, Sandra Belê e excluí-los de novo na hora em que se deve celebrar a música regional e a cultura popular".
Chico César não comprou apenas uma briga meramente cultural-ideológica. Ele tem contra si o poder midiático, os interesses financeiros, o jabá e, como se vê, até lobbies na Assembléia Legislativa.
É triste constatar que, quanto mais o tempo passa, mais Pier Paolo Pasolini tem razão.
Publicado originalmente às 16:21 de 20/04/2011
3 comentários:
Nossa, que desastre. Não sabia que o Chico César estava secretário de cultura. Muito legal isso, pelo menos, com a voz/poder que ele tem, a denúncia pode ser feita e ampliada sobre o triste estado cultural da Paraíba.
Pô, grande Chico Cézar. O Pior vai ser qdo não houver mais pessoas assim, que brigam por algo de valor, pela sobrevivência da cultura popular. Não é só o triste estado cultural da Paraíba, mas brasileiro também. Tudo parece degradado pelo dinheiro. É o lucro pela massificação cada vez maior, mais fácil e mais rápida e atrativa, e claro, qto mais vulgar o produto, melhor. É como jogar açucar a uma formiga. Logo juntarão milhares. É preciso lucro. E as culturas regionais e tradicionais pagam por isso.
Obrigado pelo link. Vou ver mais tarde, em casa, pois é meio longo para assistir no trabalho
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