segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Brinde aos 109 anos de Drummond


Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31/10/1902 - Rio de Janeiro, 17/08/1987), nosso poeta maior, faria 109 anos nesta segunda-feira, 31 de outubro. Abaixo, um de seus mais belos poemas.


Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Leia outros poemas de Drummond:

2 comentários:

Paulo M disse...

Passatempo

"O verso não, ou sim o verso?
Eis-me perdido no universo
do dizer, que, tímido, verso,
sabendo embora que o que lavra
só encontra meia palavra."

Eduardo Maretti disse...

Ao ler esses versos do teu comentário, Paulo M, pensei na frase com que me referi ao "Poema de sete faces" ("um de seus mais belos poemas"). São muitos, tantos os poemas dele que poderiam ser considerados dessa maneira, não é? Portanto, dizer que tal ou qual é "um dos melhores" de Drummond, como eu disse, na verdade é um erro.

Valeu