terça-feira, 16 de novembro de 2010

Truculência do povo das sombras [1] – avenida Paulista

O povo das sombras não se cansa de atacar. Como se sabe, na manhã de domingo quatro menores  de idade e Jonathan Lauton Domingues, de 19 anos, todos de classe média, foram presos em flagrante depois de, segundo a polícia, espancar quatro jovens em três momentos diferentes, gratuitamente, feito pitbulls enfurecidos, na madrugada do mesmo dia. Ou melhor, por um motivo: as vítimas serem homossexuais, ainda de acordo com a polícia.

Eles foram soltos após audiência na Vara da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça (TJ) no domingo, 15. Os quatro adolescentes (três de 16 anos e um de 17) vão responder por ato infracional. Já Jonathan responderá, em liberdade, pelos crimes de lesão corporal, roubo e formação de quadrilha. Segundo o TJ, ele não tem antecedentes criminais e possui residência fixa.

Veja reportagem da Rede Record:



O pai de Jonathan, Eliezer Domingues Lima, deu a seguinte justificativa para a suposta atitude do filho: "É um menino muito bonito e foi assediado por homossexuais. Ele pediu para parar, eles não pararam. Aí, virou briga".

Se algum conselho adiantasse, eu diria a esse pai que procure tratamento para seu “menino bonito”. Vamos, hipoteticamente, admitir que o rapaz tenha mesmo sido paquerado. E daí? Seria motivo para reagir como um cão raivoso? Sim, se o agressor tiver problemas psicológicos, como enormes dúvidas inconscientes sobre sua própria masculinidade.

Apesar da covardia homicida, dos danos físicos e morais, a lei protege os menores e a Justiça brasileira se encarrega de socorrer o maior de idade. A mãe de um dos suspeitos da agressão, que não quis se identificar, disse que os jovens “saíram para se divertir, para pegar as menininhas na balada”. E só.

Segundo o Estadão, o promotor da Infância e Juventude Thales Cezar de Oliveira saiu-se com essa pérola: “...deixar alguém internado por briga, em um país em que não se consegue levar um assaltante para a cadeia...”

Mayara Petruso
O ataque aos nordestinos, emblematizado pela estudante Mayara Petruso e decorrente da vitória de Dilma Rousseff, não é isolado e nem casual. Não estou dizendo que tucanos são responsáveis por quaisquer atos de violência, mas parte da sociedade brasileira manifesta uma intolerância inaceitável.

O povo das sombras não pára de mostrar sua face. E a Justiça, a sua benevolência para com quem pode pagar bons e caros advogados.

PS: Durante a campanha eleitoral, escrevi alguns posts, na série intitulada “Episódios da truculência tucana”, que perdeu o sentido após as eleições. Vou continuar a idéia, sem definir uma periodicidade, com outra série similar, “Truculência do povo das sombras”.

O próximo será o episódio de uma amiga que, depois de quase ser atropelada por um carro em marcha à ré, ainda foi xingada e ameaçada de agressão por um homem emocionalmente descontrolado, como se ela fosse culpada de estar atrás do automóvel.

3 comentários:

Paulo M disse...

Aí reside o perigo: dessa maneira vai-se recriando o fascismo nas ruas. Quanto menos (ou menos apropriadamente) se aplicam as leis penais, mais gente se utiliza da "liberdade de expressão" pra defender, por exemplo, a pena de morte: "Tem que linchar, tem que pôr na cadeira elétrica..." Quando aparecer um líder político carismático que defenda tais princípios, terá apoio popular, porque o povo se fode dia a dia e vê gente "bacana" e criminosa no bem-bom. Pra que serve a porcaria do Código Penal? Pra dar mais dinheiro a editores já milionários? Justiça é bom e todo mundo gosta, senão o povo vai linchar, e vão-se criando linchadores.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Ao mesmo tempo que existe um discurso, inclusive midiático, de liberalização dos costumes e tolerância, existe uma estrutura social que não se aceita questionar.

O sujeito do valor, bem sucedido da sociedade capitalista, continua a ser branco, heterossexual, de preferência cristão, embora após a aliança ocidental com os sionistas se tenha criado uma ideia de que existe uma "civilização judaico-cristã".

Todo mundo "aceita" o homossexualismo, inclusive porque já se tornou politicamente correto tolerar o homossexualismo, mas a mentalidade continua sendo: "É veado? Tudo bem, mas não chega perto de mim!", despropósito que já ouvi da boca de pelo menos uma dúzia de pessoas.

"Homossexualismo? Tudo bem, mas o mesmo direito para casais gays e casais heteros não. Casais gays adotar filhos? De jeito nenhum. Eles não podem proporcionar uma família estruturada para uma criança", como se a família branca, heterossexual e cristã não tivesse o seu lado perverso e desestruturado.

Conheci tantos lares heterossexuais instáveis, a começar pelo meu próprio, que ouvir esse tipo de baboseira me dá náuseas.

Enquanto a tolerância for só discurso e não tiver concretização social, a mentalidade medieval de certas pessoas vai continuar a se manifestar pelas ruas...

Maurício Ayer disse...

No Rio também houve agressão a jovens homossexuais que participavam da Parada Gay em Copacabana. Um homem levou um tiro que, por sorte, não atingiu nenhum órgão vital.

É realmente execrável o que vem ocorrendo, que não é novidade mas parece que veio mais à tona – ou encontrou maior "legitimidade" – após a campanha eleitoral tucana. Vamos levar anos para nos refazer do estrago e retrocesso provocado nesses poucos meses.