quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dilma Rousseff presidente do Brasil: notas pós-eleição e ressaca

Algumas pressões, em parte até cômicas, já viraram pautas da imprensa para a era Dilma Rousseff. No programa “Entre aspas”, da Globonews, nesta terça, vimos amostras delas. Exemplo: Dilma vai prestigiar as mulheres na formação do governo? Dilma é uma mulher sozinha? (ou seja, não casada? – sic). Como a população reagiria a eventuais casos amorosos de Dilma?

Foto: Ricardo Stuckert

Essas e outras perguntas eram dirigidas por Mônica Waldvogel, a sábia, à senadora eleita por São Paulo Marta Suplicy (PT) e à socióloga Fátima Pacheco Jordão. Ante a futilidade com que a pauta era conduzida (uma pauta para a revista Marie Claire, digamos), as entrevistadas conseguiram, dado o nível de ambas, elevar um pouco a qualidade da discussão.

Particularmente, as especulações sobre a vida privada das pessoas públicas me remetem a Oscar Wilde, que disse no ensaio A Alma do Homem sob o Socialismo que a vida privada das personalidades públicas não deveria ser objeto de interesse (cabe observar: o socialismo de Oscar Wilde no livro citado é utópico, próprio da alma dandy do escritor e poeta irlandês, e em nada embasado em instrumentos marxistas do pensamento. Marx nasceu em 1818 e Wilde, em 1854).

Acho que Dilma naturalmente vai procurar, na medida do possível, compor o ministério também com as mulheres que julgar competentes. Mas, para mim, deveria se esquivar dessa pressão tola (vinda da oposição, em forma de cobranças cínicas, ou dos movimentos sociais, em forma de pressão politicamente correta).

A eleição de Dilma Rousseff, uma mulher, ex-guerrilheira, para suceder um metalúrgico na presidência do Brasil por um partido cuja bandeira é vermelha, é algo em si extraordinário. Não vai apenas provocar uma nova abordagem da política, mas já é ela mesma, a eleição, algo revelador de uma imensa transformação na sociedade brasileira, que não é súbita e nem somente brasileira. As mulheres estão cada vez mais presentes no comando.

Dialeticamente, sendo ao mesmo tempo conseqüência dessa evolução, da maturidade do povo brasileiro, e o sinal de um futuro que continuará sendo transformador, é uma semente de novas transformações que virão naturalmente. Por exemplo, é natural que cresça a auto-estima de milhões de mulheres ainda submissas e vítimas do violento preconceito nos rincões desse enorme país.

Fora isso, quero dizer que as futricas políticas e politiqueiras que grassam nas colunas políticas da chamada grande imprensa não me atraem nesse momento.

OEA

A eleição de Dilma foi fundamental para as Américas (que o digam Evo Morales e Hugo Chávez). Foram precisas as palavras do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, ao dizer, em carta enviada à nossa presidente eleita, que sua eleição constitui “um ato de justiça” e “marcará uma nova era de prosperidade para os brasileiros que lhe permitirá aprofundar o legado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.

Entrevista

A primeira entrevista de Dilma à mídia, significativamente, foi para a TV Record, a duas jornalistas: Ana Paula Padrão e Adriana Araújo. Na entrevista, por volta dos 9min e meio, Dilma respondeu a uma pergunta interessante de Adriana: se se sentiu perseguida pela mídia durante a campanha.

Assista à primeira entrevista de Dilma Rousseff como presidente:

3 comentários:

Victor disse...

Muito bom. As perguntas da Record, embora tivessem o mesmo tema: economia e comunicação, fizeram o quebra gelo de maneira polida e pouco invasiva no que diz respeito a vida pessoal da presidenta. Os veículos agora estão badalando, nessa lua de mel, mas isso não vai durar muito. Eles continuam fazendo que chamo de think tank midiático, pensando um modo de dizer que o Brasil está no caminho errado, convidando os "especialistas" para descobrir qual o mote do "contra". A luta continua e não pára.

Ana Rohrer disse...

Estou feliz da vida! Ufa! Passou, mas realmente não podemos parar e Dilma servirá como exemplo a todos nós, pois sua vida nos mostra a garra e a determinação e isso é bem próprio do brasileiro.
Essa conquista não se encerra com a eleição, estamos apenas começando e que cada brasileiro possa continuar a fazer a sua parte nesse processo de crescimento e permanecer em estado de vigilância, pois o inimigo não descansa.
Abraços a todos e permaneçam antenados!!!

Edu Maretti disse...

No programa da Globonews citado no post, Marta Suplicy disse, muito apropriadamente, que não espera que Dilma seja melhor tratada pela mídia e oposição do que foi Lula. Porque não são pessoas que eles miram, é o projeto político e social do governo, a distribuição de renda etc que a elite tacanha brasileira não aceita. Ela própria teria tanto mais a ganhar com um país cada vez mais rico e socialmente justo. Mas não quer.