Publicado originalmente na Rede Brasil Atual
A guerra entre a Polícia Militar e a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) se agrava dia a dia. Como os dados sobre civis mortos não são divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do governo estadual, trabalha-se com estimativas, segundo as quais, mais de 3 mil civis morreram assassinados no Estado de São Paulo em 2012, sendo quase mil na capital. Na madrugada de hoje (1°), pelo menos mais cinco pessoas morreram, dois eram policiais.
Um Guarda Civil Municipal da zona sul da capital ouvido pela RBA, e que pediu anonimato, disse que os toques de recolher existem e estão se intensificando. Segundo ele, a operação na favela de Paraisópolis era esperada com antecedência pelos moradores e a ação desencadeada no dia 29 é midiática.
O guarda civil afirmou também que os PMs que estão sendo mortos seriam policiais envolvidos com corrupção e seus assassinatos decorrentes de acertos de contas. Os chamados toques de recolher seriam em muitos casos impostos por grupos de extermínio formados à sombra da PM, e não pelo PCC. A RBA apurou que em Santo André, na região do ABC paulista, houve toque de recolher esta semana.
Para o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ivan Seixas, a situação chegou a um ponto em que parece fora de controle. "Há uma sensação de descalabro tão grande que já não se sabe mais o que acontece." Na sua visão, um aspecto é inquestionável na crise: "é uma guerra particular entre a Polícia Militar e o PCC e quem está pagando o pato é a população. Há uma quantidade muito grande de pessoas sendo mortas, não necessariamente da PM, não necessariamente do PCC".
Seixas considera o clima de instabilidade "terrível e absurdo". "O estado, que deveria proteger a população, cria um clima de pânico, e as pessoas têm medo de sair à rua." De acordo com o presidente do Condepe, cinco pessoas por dia, em média, estão sendo mortas em São Paulo. "Não é por desavença pessoal, briga, é uma coisa predeterminada, é execução", diz. "O que está acontecendo é isso: o Estado resolveu fazer uma guerra em que as pessoas são mortas. Simplesmente isso. O Estado não é mantido para matar pessoas", protesta Seixas.
Para piorar a situação, não existe diálogo entre governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e a sociedade civil. "Com o Condepe não existe. Se nem o governo federal consegue um canal de diálogo com o governo do Estado, imagine se o Alckmin vai ouvir a opinião do Condepe. Não há diálogo com a sociedade, esse é o problema”, afirma Ivan Seixas.
Um comentário:
Segunda-feira teve toque de recolher na Vila Formosa. Sei disso pois leciono numa escola nas proximidades da Eduardo Cotching, importante avenida da Zona Leste. Às 16h já tinha aluno desesperado ligando pros pais por ficar sabendo do toque de recolher via celular. A diretoria liberou todo mundo umas 17h30. A ordem que ouvíamos era: ninguém nas ruas a partir das 18h. Achei que era algo grande, como há alguns anos, quando até as aulas na usp foram canceladas. Mas cheguei em casa e qual não foi minha surpresa o SPTV não deu nenhuma notícia sobre um toque de recolher na Vila Formosa. Pensei que tinha sido um mero alarde. Mas no dia seguinte na escola muitos alunos comentaram que realmente teve toque de recolher entre aproximadamente 18h e 6h. Na madrugada, depois fiquei sabendo, também teve chacina na região. É uma sensação estranha. Você não sabe o que é verdade e o que é mentira. A atuação da imprensa parece protocolar, e tem muita coisa que não está sendo noticiada. E a postura do governador, no fundo, é a velha ladainha conservadora proto-fascista: "bandido bom é bandido morto". Mas ele tem alguma inteligência e parece conseguir dizer isso de forma educadinha. E ninguém vê o que está acontecendo de fato...
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