quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Os caminhos da liberdade de Jean-Paul Sartre [1] – A idade da razão


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Primeiro romance da trilogia Os caminhos da liberdade, o romance A idade da razão (1945) foi concebido na tensa Europa do pré-Segunda Guerra Mundial, quando as tensões e conflitos de interesses econômico-políticos e a ascensão do nazismo já faziam pairar sobre o continente as sinistras sombras da conflagração mundial.

Nesse ambiente em que a individualidade se esfumaçava, o romance, corajosamente, e traduzindo para a linguagem da ficção os preceitos da filosofia existencialista, faz prevalecerem os conflitos individuais e os problemas de consciência de pessoas comuns: o professor de filosofia Mathieu Delarue (alter-ego do próprio Jean-Paul Sartre) busca uma moral livre do modo de ser burguês e cristão (ou burguês e cartesiano, já que no livro a tensão se fragmenta entre os personagens como uma psique da própria França enquanto nação). Em Sartre, os conflitos individuais não ultrapassam a história. Os egos se espedaçam junto com a história da Europa, em particular a França, conflagrada.

Por meio de uma consciência rigorosa e crítica, porém impotente, Mathieu vive atormentado pela angústia e pela idéia de fracasso. Sua amante Marcelle convive com a paixão platônica de Mathieu pela aluna Ivich.

O homossexual Daniel, personagem considerado por alguns uma citação de André Gide, procura a liberdade anárquica no ato gratuito.

E a liberdade, para o personagem Brunet, não existe individualmente, mas apenas através do engajamento político (de esquerda).

Jacques é o homem cuja verdade consiste no casamento e numa vida “estável”. Cada um dos personagens exercita, na medida em que faz uso do livre-arbítrio, o conceito filosófico segundo o qual “o homem está condenado à liberdade”.

À maneira de Flaubert, todos os personagens de A Idade da razão são pequeno-burgueses medíocres. Ou, talvez, melhor dizendo, não-heróis.

A trilogia continua com Sursis (a obra-prima dos três livros) e Com a morte na alma. Em outra ocasião falarei dessas obras.

Leia também: Sartre resiste ao século.

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