Acho tão ingênuo as pessoas se dizerem decepcionadas com Barack Obama. Explico: quando ele ganhou a eleição em 2008, muitos acharam que agora as coisas iam mudar. A maior potência da Terra, o império americano, o país de setores e regiões racistas, tão bem retratado no filme Mississipi em chamas, de Alan Parker, elegera um negro, e ainda por cima democrata, presidente da República.
Não me decepcionei com Obama porque nunca achei que Obama fosse mudar o mundo, fazer os Estados Unidos se tornarem um exportador de liberdade e paz, esquecer o protecionismo de seus agricultores e trabalhar pela completa igualdade entre os povos. Sou realista. Mesmo que queira ou quisesse, nem com Platão como secretário de Estado Obama conseguiria. Mas dizer que Obama é igual a Bush parece um pouco a avaliação meio adolescente de partidos brasileiros como PSOL e PSTU, segundo os quais Lula ou Dilma = FHC.
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O casal Obama, em 2008 |
Há quatro anos eu era editor do jornal Visão Oeste, de Osasco, um veículo da chamada mídia independente, feito por valorosos companheiros, e lá dei uma manchete sobre a vitória de Obama na época: “O mundo mudou”. Lembro de alguém ter me falado que eu estava exagerando. Não estava, até porque, para mim, a mudança era simbólica, mas nem por isso menos importante. Foi bonito, então, o discurso da vitória do presidente negro: “Hello, Chicago!”. Assim como foi bonito ele, Michelle e as duas filhas no dia da posse. Uma família negra, tremendamente charmosa, na Casa Branca.
Vendo Michelle na época, me ocorre, como me ocorreu hoje, a linda canção "Neide Candolina", de Caetano:
"Preta chique, essa preta é bem linda
Essa preta é muito fina
Essa preta é toda glória do brau
Preta preta essa preta é correta
Essa preta é mesmo preta
É democrata social racial."
Bem, mas voltando à realidade, engana-se quem pensa que Michelle Obama é apenas charmosa e que só Obama, além de charme, possui a capacidade masculina do comando. Michelle é muito mais influente e forte do que se pensa e não será surpresa se se tornar uma candidata potencial à Casa Branca. O mundo e a política são cheios de surpresas.
Voltando à atualidade, Barack Obama conseguiu se reeleger mesmo tendo feito um governo muito difícil, em meio a uma crise, a inciada em 2008, que não inventou, mas herdou (aliás, no Brasil, a direita de traço udenista torceu para a crise americana contaminar o Brasil e arrastar o governo Lula pelo bueiro, mas a direita udenista e a mídia se deram mal, e continuam se dando, como se viu nas últimas eleições municipais no país).
Obama não mudou o mundo como Lula mudou o Brasil, nem se poderia esperar tanto. E nem se poderia esperar que Lula e Dilma mudassem tanto o imenso Brasil de dimensões continentais como se muda uma cidade ou um pequeno país.
Mas, sejamos pragmáticos. Se Romney ganhasse, se os republicanos ganhassem, seria outro retrocesso e o mundo estaria mais próximo da intransigência e da guerra do que está hoje.
Voltando ao simbólico, é melhor o charme de Obama e Michelle do que os cabelos engomados e a cara de insanidade protestante dos republicanos.
Um comentário:
Gostei da crônica! Decerto vc é bom jornalista, porém é bem mais um excelente escritor de literatura, daí, quando associa seu brilho de cronista ao sabor do jornalista que é, tudo fica bem melhor. Valeu!
Além disso, vale aqui só mais um comentário para bem dizer que a cara, mais o modo de mauricinho engomado e plastificado do candidato republicano derrotado é tal qual o jeitão dos demo-tucanos brasileiro, pode crer. Um lembra o outro, pois repare bem... o tucano Alvaro Dias é um clone escrito do Mitt Romney. E o mesmo se pode dizer de FHC, no caso um envelhecido Mitt Romney clonado. É bem conforme sempre me lembrava meu bravo avô espanhol: "Um gambá cheira o outro!" Verdade!!!
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