segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Neymar e Barcelona: a distância entre
o fato e o factóide

A pressa em se descobrir e divulgar para onde vai o jovem craque é apenas mais um caso da imprensa que faz lembrar o velho ditado: "quem tem pressa come cru"

O maior furo jornalístico esportivo dos últimos tempos, a “venda” de Neymar para o Barcelona, do repórter Luís Augusto Mônaco, de O Estado de S. Paulo/Jornal da Tarde, divulgada no sábado com grande alarde, não se confirmou, pelo menos por enquanto. Ou seja, é um furo n’água.

Foto: Divulgação/Santos FC

Na matéria divulgada no sábado, o texto assinado por Mônaco começa assim: “Neymar é do Barcelona. O Santos assinou contrato com o clube espanhol, que tem como Lionel Messi seu principal jogador. Pelo documento, o atacante se apresenta em janeiro de 2013”. (como santista, não acho um mau negócio, se se considerar a premissa de que cedo ou tarde o jovem craque vai embora).

Já no domingo, com apoio, claro, do jornal, tentando provavelmente diminuir os danos a sua credibilidade, o repórter assina outro texto em que o editor se esforça por dissimular o equívoco, ou, no mínimo, a pressa. O título da matéria do dia seguinte é: “Santos sempre preferiu vender o atacante Neymar para o Barcelona”, com a linha fina logo abaixo mantendo que “Presidente nega, mas novas fontes confirmam que o negócio está fechado”.

Negociação está “fechada” ou “avançada”?

O texto do domingo tenta sustentar: “Apesar do enfático desmentido do presidente santista Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, pessoas próximas à transação confirmam 'em off' a informação publicada no sábado por O Estado de S. Paulo”. Entretanto, por fim, reconhece: “Um integrante do Grupo Guia (Gestão Unificada de Inteligência e Apoio), que assessora Luís Álvaro, admitiu que a negociação com o Barcelona ‘está muito avançada’" (grifo meu).

Mais à frente: “E na Espanha uma fonte afirmou à reportagem que o vazamento da notícia ‘talvez atrase um pouco’ a finalização do negócio”, diz a reportagem do domingo, dia 4, e continua: “Entre os clubes está tudo certo, mas falta fechar o contrato com o jogador. Isso deverá ser feito pelo pai de Neymar, porque Wagner Ribeiro decidiu não cuidar mais da carreira do garoto nem falar com o Barça”.

Ora, caro leitor, convenhamos, se “só falta fechar com o jogador”, então a notícia de sábado não existe, apesar da operação de salvamento da informação, mais popularmente conhecida como “emenda ficou pior do que o soneto”. Entre a afirmação cabal “Neymar é do Barcelona” e a dissimulada emenda “a negociação está muito avançada” vai uma distância gigantesca, exatamente a distância entre o fato e o factóide.

Por fim, ao tentar salvar o furo n’água, a matéria se vale do velho expediente do off e de fontes não identificadas: “pessoas próximas à transação confirmam em off”; “na Espanha uma fonte afirmou”.

Acredito que o destino do jovem craque seja mesmo o Barcelona. Mas imaginem se, encerrado o primeiro turno da eleição presidencial de 2010, um jornal desse a manchete: “Dilma é eleita presidente”. O fato de ela ter vencido no segundo turno não salva a informação anterior.

A última notícia do jornal Marca, da Espanha, sobre o episódio é da madrugada de hoje, e traz a fala do pai de Neymar. Segundo ele, o craque “está encantado” com o interesse por seu futebol na Europa. Mas ressalva: “ele quer ficar para o centenário do Santos [em 2012]”, disse.

A palavra do clubeEm nota oficial divulgada neste domingo, o Santos F. C. nega veementemente a informação de Luís Augusto Mônaco de O Estado de S. Paulo. Leia a íntegra do comunicado neste link.

*(Atualizado às 14: 35 de 07/09/2011) - Post publicado, em versão ampliada, no Observatório da Imprensa

9 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Eduardo,

os caras querem colocar nossos craques de qualquer jeito no mundo "dourado" da Europa. Se depender deles não sobra nada. Por isso tudo a gestão atual do seu time está de parabens por resistir tanto a esse espúrio e interminavel ass[edio.

Zé Roberto, flamenguista, São Paulo

alexandre disse...

Só falta o Santos ser campeão mundial contra o barcelona com um gol de Neymar.

carmem disse...

Pois é, Alexandre, a nossa torcida é exatamente essa diferentemente dos urubus que especulam o contrário: e se o Neymar perder um gol "feito" contra o Barcelona? Aff! Não é fácil tirar dessa gente o complexo de vira-lata, ou será má-fé?
ps. caso o Santos chegue na final, é claro.

Paulo M disse...

Acho que é má-fé mesmo. Mas existe boa-fé em futebol?

alexandre disse...

Olha, Carmem, Paulo, tudo são hipóteses. Mas se isso vier a acontercer, Barça X Santos, certamente os dois times tentarão a virória sem dúvidas. Se o santos por ventura ganhar, Neymar pode ser(será) a diferença, marcando um gol ou não. Eles querem negociar o menino antes do mundial. O Brasil é o melhor futebol do mundo e hoje conseguimos segurar os craques por mais tempo do que antes. É esperar.A briga tá quente.

Danilo A. disse...

Até que enfim encontrei alguém que mexeu na ferida do setor esportivo do Estadão. Desde que vi a matéria, fiquei desconfiado por nenhum meio de comunicação (fora o As e o Marca) ter sequer ecoado o furo do Estadão.

Pois bem, o furo vai se revelando barriga, como eu temia.

Veja a notícia de agora, escrita pelo próprio Monaco (em colaboração): http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,neymar-fez-exames-medicos-para-o-real-madrid,774066,0.htm

O pior é que o jornal tenta ainda disfarçar as coisas, dizendo "ó, aquilo que o BARCELONA considerava impossível está prestes a se tornar realidade". É brincadeira?

Lembro que o Monaco mencionou, em áudio pra justificar o furo, que o Wagner Ribeiro era uma de suas fontes. Segundo o próprio Ribeiro, Neymar havia rompido com o empresário pró-Real para assinar com o Barça.

A impressão que me dá é que o jornalista foi usado pelo Ribeiro para obrigar o Madrid a aumentar a proposta amplificando (quer dizer, dando como certa) a concorrência do Barcelona.

Enfim, um desastre jornalístico.

Que alguém apure direito essa história.

Eduardo Maretti disse...

É, Danilo, a imprensa esportiva brasileira vive de uma relação promíscua com jogadores, empresários e dirigentes e, por ingenuidade ou outros motivos que é melhor nem mencionar, desrespeitam os mais básicos princípios jornalísticos.

Ontem, o Uol, citando o próprio Estadão, dizia: "Jornal: Barça aposta em acerto rápido e pode anunciar Neymar um dia após o clássico".

http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/brasileiro/serie-a/ultimas-noticias/2011/09/17/jornal-barca-aposta-em-acerto-rapido-e-pode-anunciar-neymar-um-dia-apos-o-classico.htm

Enfim, cada dia é um furo novo. Brincadeira.

Vou torcer para que, se tiver que assinar seja com quem for, Neymar fique para o centenário.

Obrigado pela visita. Apareça sempre.

Danilo A. disse...

Estadão hoje noticia a venda do Neymar para o Real Madrid.

Uma hipótese que também está na minha cabeça é a de que o jornalista tenha recebido uma bolada pra fazer o jogo do Ribeiro e tirar dinheiro do Madrid.

Claro, seria um escândalo que isso tivesse acontecido, e logo no Estadão, mas é uma possibilidade. A coisa foi muito esquisita, muito mesmo.

Ou o Monaco agiu de má-fé ou foi ingênuo demais. Das duas formas, péssimo jornalismo.

Eduardo Maretti disse...

Barcelona, Real Madrid,Barcelona, Real Madrid... parece aquela brincadeira bem-me-quer,mal-me-quer.

Mas nada melhor do que a palavra do próprio Neymar, na coletiva de ontem:

http://fatosetc.blogspot.com/2011/09/neymar-e-barcelona-distancia-entre-o.html