terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Portela e Imperatriz levam Bahia e cultura negra à Marquês de Sapucaí. Bravo!


Muito oportunos os enredos da Portela e da Imperatriz Leopoldinense neste carnaval 2012. Como se sabe, têm crescido preocupantemente as manifestações de preconceito e até agressões contra as religiões de origem africana e seus praticantes. Nesse contexto do Brasil de hoje, a saudação à maravilhosa cultura dos orixás e do sincretismo da terra de Nosso Senhor do Bonfim, no carnaval do Rio de Janeiro, é importante e digna de registro.

Portela homenageia negros e orixás.
Foto: Vladimir Platonow/ ABr
O lindo samba-enredo da Portela saudou a Bahia e seus orixás, com o título Bahia: E o povo na rua cantando... É feito uma reza, um ritual, focando como tema central as festas religiosas da Bahia; o não menos bonito samba da Imperatriz, com o tema Jorge, Amado Jorge, homenageou a obra de Jorge Amado, e por extensão a cultura religiosa do estado mais negro do país.

Não tenho nada contra nenhuma religião. Mas o crescimento de práticas cristãs fundamentalistas inclusive no berço da nação Bahia me assustou na última vez em que estive em Salvador.

No ano passado, acusado de “censurar cristãos”, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) escreveu uma carta ao JB em que diz: “Não, eu não persigo cristãos. Essa é a injúria mais odiosa que se pode fazer em relação à minha atuação parlamentar. Mas os fundamentalistas e fanáticos cristãos vêm perseguindo sistematicamente os adeptos da Umbanda e do Candomblé, inclusive com invasões de terreiros e violências físicas contra lalorixás e babalorixás como denunciaram várias matérias de jornais”.

Assim, a Portela e a Imperatriz são dignas de Bravos!, por colocarem na avenida a cultura do povo negro do Brasil (a Vila Isabel, que homenageou Angola, fica com menção honrosa, mas é da cultura e religiosidade brasileiras que aqui se fala).

Num paralelismo interessante entre as duas escolas, cantou a Portela na avenida:

"No mar
Procissão dos navegantes
Eu também sou almirante
De nossa Senhora Iemanjá"


E a Imperatriz:

"Ave, Bahia sagrada!
Abençoada por Oxalá!
O mar, beijando a esperança,
Descansa nos braços de Iemanjá
"

Curioso que, na madrugada de domingo para segunda-feira, a Imperatriz entrou na avenida logo após a Portela, que teve como seu ícone maior na Sapucaí a grande Clara Nunes.

Caso queiram ouvir, os enredos de ambas as escolas estão nos links abaixo:

Samba-enredo da Portela

Samba-enredo da Imperatriz


A ironia da União da Ilha

Encerro o post no meio do desfile da União da Ilha. Muito bom, pois irônico. O enredo é sobre Londres e consequentemente Grã Bretanha. A carnavalesca Maria Augusta e o gari Renato Sorriso (na foto ruim ao lado) são os reis da escola na Sapucaí. Maria Augusta faz a rainha da Inglaterra. Um gari negro (ele é gari na vida real) sambando ao lado da rainha da Inglaterra e uma mulata deslumbrante fazendo a Guarda Real são grandes sacadas da escola. Ironia.

Sou leigo em carnaval. Estou falando sem considerar os aspectos técnicos que embasam as notas dos senhores jurados.

Parece que as fantasias dos foliões da União da Ilha estavam tão pesadas que vários deles passaram mal depois do desfile.

Seja como for, pelo que já escrevi acima, ficaria feliz fosse a Portela ou a Imperatriz a campeã.

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