terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
O nome do samba é Mangueira
A Mangueira falou de si mesma e do samba. "Eu sou o samba/ A voz do morro", no enredo Vou Festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira.
Egocêntrica, digamos assim, e grandiosa. Como numa proposta modernista, não defendeu causas a não ser a da arte pela arte, do samba pelo samba.
Eu - e acho que ninguém - nunca tinha visto uma escola silenciar a bateria dessa maneira. Como se o coração da escola parasse para que seu espírito se fundisse às arquibancadas, como numa espécie de samba-enredo à capela ressoando em milhares de vozes. A Mangueira tem esse caráter espiritual.
Tão impressionante que até a tagarelice dos globais Luís Roberto e Glenda Kozlowski emudeceu. Infelizmente, quando a bateria retomou eles voltaram a falar.
Se emocionou até a mim, na sala de minha casa, imagino quem estava na avenida. O cara que postou o vídeo abaixo no You Tube comentou o seguinte: "A história do desfile das escolas de samba pode ser agora dividida em antes e depois do desfile da Mangueira de 2012".
É possível.
Não retiro o que disse no post anterior (abaixo), que, pelos enredos, ficaria feliz se a campeã fosse Portela ou Imperatriz. Mas, torcer, torço pela Mangueira.
Segue abaixo a histórica passagem da parada da bateria neste desfile de 2012. E a letra do samba.
Vou Festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira
(autores: Lequinho, Igor Leal, Junior Fionda e Paulinho de Carvalho)
Salve a tribo dos bambas
Um doce refúgio de inspiração
Salve o novo Palácio do Samba onde um simples verso se torna canção
Debaixo da tamarineira um índio guerreiro me fez recordar
Um lugar, um berço popular
Seguindo com os pés no chão
Raiz que se tornou religião
Da boêmia dos antigos carnavais
Não esquecerei jamais
Firma o batuque
Que eu quero sambar (Me leva)
Já começou a festa
Esqueça a dor da vida
Caciqueando na Avenida
Sim, vi o bloco passando
O nobre rezando e o povo a cantar
Sim, é o nó na garganta
Ver o Bafo da Onça a desfilar
Chora, chegou a hora eu não vou ligar
Minha cultura é arte popular
Nasceu em ‘Fundo de Quintal’
Sou imortal e eu vou viver
Agonizar não é morrer
Mangueira fez o meu sonho acontecer
O povo não perde o prazer de cantar
O povo liberto que a voz ecoou
Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou
Vem festejar
Na palma da mão
Eu sou o samba, a voz do morro
Não dá pra conter tamanha emoção
Cacique e Mangueira num só coração
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6 comentários:
Olá Edu, realmente enovador e muito audacioso este feito da bateria da Mangueira. Temos somente que esperar para ver se os julgadores compreenderam esta nova proposta de desfile, afinal, a bateria é a alma da escola no desfile e o fato de ela parar por tanto tempo e tantas vezes e o puxador do samba também parar não sei se será visto com bons olhos pelos julgadores. Na minha humilde opinião, a Mangueira estava bonita mas achei seu desfile muito truncado, por algumas vezes haviam alas se misturando e carros parados por alguns segundos à mais. A população gostou da novidade mas resta saber o que os julgadores pensaram deste desfile.
Nao consegui me desligar da tv quando a Mangueira estava na avenida. Realmente fiquei emocionado. As únicas escolas que vi por inteiro, Portela e Mangueira e a Imperatriz, essa do começo para a metade. Mas no final, uma integrante passista da Mangueira disse, aos microfones da Rede Globo, que nos primeiros momentos houve um problema técnico com a transmissão do som e os microfones pararam de funcionar. entao foi aí o acidente, o que fez com que o procedente das outras paradas da bateria tenha sido proposital, tamanho efeito acidentalmente oportuno. Aí veio-me a frase de Miró, que a arte tambem depende de seus acidente para torná-la ainda maior. Nao digo isso exatamente em suas palavras, mas o sentido é mais ou menos esse.
abraços carnavalescos
Mas, apesar de ter havido um problema com o som no início, as paradas, inclusive a "paradona", que durou quase 3 minutos (do vídeo postado) e as que se seguiram, já estavam programadas no roteiro do desfile da escola.
Se eu fosse carnavalesco, seria salgueirense, he he, por simpatia, digamos. Fizeram um carnaval fraquinho este ano, pelo pouco que vi. Assisti também meia hora de Mangueira (também adorei), um trecho da Portela (gostei também) e um outro trecho da Imperatriz, escola com a qual não simpatizo, num primeiro momento. Este ano estava divina e, se vencer, também se fará justiça. Seu samba é belo e melódico, em grande estilo e homenagem a Jorge Amado. Não assisti outras, falam bem da Vila. Acho meio estranho esse papo de jurados (fantasmas, pois sequer são apresentados ao público)aplicarem notas usando critérios que muitas vezes escapam ao conhecimento da maioria e à sensibilidade popular. Deveriam pensar em algo mais democrático, pois frequentemente o resultado final frustra essa sensibilidade. Então, é ver...
Bom, ganhou a Unidos da Tijuca. Não gostei, não. Sou leigo, mas parece uma escola de brancos!
Comecei torcendo pra Mangueira, mas logo vi que não dava e me dividi entre torcer pela Vila Isabel (com a qual simpatizo) e contra a Beija Flor (odeio a Beija Flor). No fim, pra mim tava valendo a Vila (que nem vi, pois desfilou de manhã) ou o Salgueiro, mas o título ficou com esse sabor de feijão sem sal com o título da Tijuca.
As pessoas mais leigas como eu, que veem pela TV, tendem a julgar os desfiles por enredo e samba-enredo. A Mangueira por exemplo empolgou pela bateria (com três 10 e um 9.9, ou seja, a "paradona" foi aprovada tb pelos julgadores) e o samba, com ótimo desempenho em harmonia tb. Mas, a julgar pelo resultado, parece que não fez um desfile nota 10 mesmo.
E é isso aí.
Eu não entendo nada de carnaval. Tenho uma simpatia pela Mangueira por causa de mestre Cartola, praticamente o único sambista que posso dizer que aprecio de verdade. Achei o samba-enredo da Mangueira esse ano muito melhor que o da Tijuca, e a bateria foi espetacular, ao que parece revolucionária.
Mas a Unidos da Tijuca, de fato, é uma escola de brancos, já que o bairro da Tijuca é um bairro de classe média - decadente, dirão alguns, por causa da evasão populacional causada pelo crescimento das favelas em volta. Interessante (ou não), que o morro do Salgueiro - junto com o do Borel - é justamente um dos "problemas" enfrentados pela classe média tijucana, e a Acadêmicos do Salgueiro disputou ponto a ponto o carnaval com a Tijuca. Ganhou a Tijuca, uma escola que na minha visão de "ruim da cabeça e doente do pé" parece mesmo uma escola sem sal nem açúcar. Rio de Janeiro, terra de contrastes...
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