quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pão de Açúcar e Carrefour: mais uma vez, quem vai se ferrar é o consumidor

Se a fusão se concretizar, o cidadão vai pagar do seu bolso a omissão do governo brasileiro quanto à sua função de regulador do mercado


A rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, zona Oeste de São Paulo, é um dos centros comerciais de varejo mais importantes da capital paulista e mesmo da Grande São Paulo. Ali, você encontra de tudo, principalmente roupas, móveis e eletroeletrônicos.

Mas as coisas estão mudando por ali. Por exemplo: você entra numa loja do Ponto Frio para saber quanto custa um aparelho eletrônico, digamos uma TV 32’’. O preço é R$ 1.199,90. Você olha o produto, pede informações sobre ele e diz ao vendedor que volta depois. Você sai e, na loja ao lado, a Casas Bahia, pergunta o preço do mesmo aparelho. A vendedora, com um sorrisinho maroto, diz:

– É o mesmo preço da casa ao lado. É do mesmo dono.

Isso já aconteceu comigo e acontece a toda hora. Cada vez mais, no Brasil. E onde está o Conselho Administrativo de Defesa Econômica*, o famoso Cade, subordinado ao Ministério da Justiça?

Um grande empresário da região de Osasco, numa entrevista em seu escritório há três ou quatro anos, me disse que, se o Cade funcionasse, a Gerdau, potência na produção de aço no país, não faria o que quer no mercado.

Sobre a polêmica, e ainda não concretizada, fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Júnior, disse o seguinte hoje, publicado em toda a imprensa: "A concentração gera aumento de preços. No mínimo, desestimula a queda. Tira um concorrente peso-pesado do mercado. A fusão vai gerar uma concentração bastante pesada. Quando junta os dois, gera uma empresa que passa a ser a terceira maior empresa brasileira, só atrás da Petrobras e da Vale".

Pellizzaro Júnior continua: "A grande pergunta é: qual é a função do BNDES? Ele tem função de fomento, não de lucro. Isso traz benefício para o brasileiro? Enquanto a gente vê micro e pequenas empresas pagando juros acima da realidade, vê dinheiro público nessa operação que não é produtiva, mas especulativa".

Você discorda da avaliação do presidente da entidade de dirigentes lojistas? Não tem como. A questão, como se vê, vai da indústria ao comércio. Pois a questão da concentração econômica também está no cerne da fusão entre Sadia e Perdigão, que redundou na BRF - Brasil Foods. E também estava no cerne da criação da Ambev.

A crítica mais cabal à operação de fusão Pão de Açúcar-Carrefour é a que acusa o BNDES, uma instituição pública, de participar de um negócio que vai prejudicar enormemente um único ator social: o consumidor. Que, cada vez mais, está submetido à vontade vampiresca dos oligopólios, com a bênção do governo brasileiro. Seja o governo de Fernando Henrique, seja o de Lula ou Dilma Rousseff.

Atualizado às 12:01

3 comentários:

Mayra disse...

A POLÍTICA econômica não mudou nada. A gente segue imersa no capitalismo pra lá de selvagem.

Felipe Cabañas da Silva disse...

Excelente crítica. E lembrar também que fusões sempre geram demissões em massa. O efeito macro de uma fusão no varejo de alimentos é mais gritante para o consumidor. O preço dos alimentos será inflacionado com toda a certeza, mas não podemos esquecer dos trabalhadores.

Quando o Estado não cumpre seu papel regulatório a selvageria do mercado impera. Isso é neoliberalismo. Teoricamente estamos há mais de oito anos sob um governo de esquerda que deveria se mostrar mais enérgico em situações como essa...

Victor disse...

Lembrar tb que as concentrações destes conglomerados geram fechamento de lojas pequenas, porque compram menos e pagarão mais caro, por isso vendem terão preço maior para os seus clientes. Seria legal se todos parassem de comprar nos shoppings e nas grandes redes de supermercados como as do Ladrão de Açúcar. A preferência deveria ser o pequeno comércio de rua. Mas isso é um sonho.