quinta-feira, 15 de julho de 2010

O caso Bruno na hora do almoço

Reprodução
O escabroso caso do goleiro Bruno – preso sob suspeita de matar (ou mandar matar) a ex-amante Eliza Samudio – não é chocante apenas em si (o jornal espanhol El País foi o primeiro a chamar o caso de "macabro", que eu saiba). Mas, e talvez principalmente, por revelar a mentalidade do brasileiro de classe média, se você tem a “sorte” de estar no lugar errado na hora errada.

Uma mentalidade preconceituosa, machista e hipócrita, de dar nojo. Um dia desses, eu estava almoçando num bom restaurante por quilo em Osasco, onde trabalho. Tinha ido almoçar mais cedo do que de costume porque não havia tomado café pela manhã. Por volta das 13 horas, o restaurante costuma estar cheio.

Logo depois que me sentei, um cara de cerca de 35 ou 40 anos sentou-se ao meu lado. Detesto a companhia de estranhos ao almoçar. Quando estava me levantando para pagar a conta e sair, o homem fez o mesmo, e, diante da TV ligada num noticiário que tratava (adivinhem do quê?) do caso Bruno, para meu infortúnio puxou papo. Sem mais, foi falando: “O cara [Bruno] é um imbecil”, afirmou, com o que concordei. Mas ele continuou, dizendo que “porra, é uma biscate vagabunda. Precisava matar? Dava cinco mil reais por mês pra mulher e ficava tudo certo”.

Mas o cara era pior do que a encomenda. Já chegando à fila do caixa, o imbecil continuou: “Agora, se era para matar, que fizesse direito. Deixaram pistas por todo lado...” Bem, para encurtar aquela situação bisonha, quase vomitiva, em plena hora do almoço, fingi que meu celular chamava e eu "atendi". Comecei a falar sozinho... “Não, não... Então, amanhã, hoje não. Sim, estou almoçando...” Finalmente, o sujeito pagou sua conta e saiu do recinto, e eu pude parar com aquela encenação ridícula.

Esse pequeno episódio aterrador do cotidiano revela muito mais do que parece. Não apenas a mente podre de um babaca, mas a de muitas e muitas pessoas de nosso Brasil, e não só da classe média, claro.

De qualquer maneira, tenho evitado, mais ainda, almoçar cedo depois disso.

3 comentários:

Victor disse...

São vários os pontos que podem ser comentados, mas um que me incomodou quando li é a questão do telecurso do crime que os bandidos tem quando aparece um crime espetacularizado pela na televisão. Os datenas da vida contam passo a passo os acertos e erros da polícia e dos bandidos. Eu diria que a educação a distância já começou faz tempo “Agora, se era para matar, que fizesse direito. Deixaram pistas por todo lado...” .

Paulo M disse...

Também escutei coisas desse tipo ("se era pra matar, que fizesse direito..."). É a banalização de tudo. E imaginar que o tal "caso Bruno" é certamente comum nos confins do Pará, do Amazonas, do Sertão, nos morros do Rio e nos submundos de São Paulo. O filme "Bastardos inglórios", do Tarantino, mostra a morte por estrangulamento, numa cena exageradamente violenta, que me deu arrepios na espinha. E independentemente do que tenha acontecido de fato com a Eliza Samudio, a sociedade precisa reagir. Nada como uma reforma ampla na Educação, outra no sistema penal, outra nos valores
sociais e culturais, sei lá... Por enquanto estamos bem definidos por Caetano Veloso, em "Cu do mundo".

alexandre disse...

É verdade, esses horrores existem por aí. Esses jogadores, a maioria, cresce e nasce em meio à violência, eles mesmos são filhos dessas barbaridades. Só que quando a fama vem à tona, tornam-se mais vulneráveis, e um ti´po de crime desses não passa despercebido. É um filme de horror isso. A gente se sente mal mesmo.