quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

SOPA, o projeto com que os EUA podem acabar com a internet livre

Você já ouviu falar do SOPA? Trata-se de uma séria ameaça à liberdade inerente, intrínseca à internet, que, caso vire realidade (uma realidade sinistra) afetará gravemente nossa liberdade de compartilhar e ter acesso a conhecimento na rede mundial. É uma proposta de lei intitulada Stop Online Piracy Act, daí a sigla SOPA (ou Lei de Combate à Pirataria Online, em português) que tramita na Câmara de Deputados dos Estados Unidos, proposta pelo deputado republicano Lamar Smith, do Texas.

Muitos blogs e sites do mundo todo aderiram nesta quarta-feira, 18, a um protesto contra a proposta. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, gigantes como Google e Wikipedia (veja neste link) aderiram aos protestos. A versão em inglês da Wikipédia (en.wikipedia.org) ficaria fora do ar nesta quarta para protestar.

Seguem abaixo trechos de três textos (que você pode ler na íntegra a partir dos links) que dão um panorama sobre essa ameaça que a Polícia do Mundo quer fazer cair sobre nossas cabeças:

Do site Sul21 (por Milton Ribeiro e Vicente Nogueira):

"SOPA é a sigla de Stop Online Piracy Act (Lei de Combate à Pirataria Online), lei antipirataria que tramita no Congresso dos Estados Unidos e que visa combater a pirataria online, ou seja, a cópia de dados, arquivos, músicas, imagens, etc., que tenham associados direitos de propriedade. O projeto amplia consideravelmente os meios legais das organizações que lutam pelos direitos de propriedade intelectual.

Se aprovado como está, o SOPA permitiria o bloqueio a sites que dão acesso ou incentivem o “roubo” de propriedade intelectual. O bloqueio funcionaria de maneira similar ao que ocorre em países como a China, o Irã e a Síria. Para que um site fosse bloqueado, bastaria ele possuir enlace (link) para conteúdo ilegal, ainda que o link em questão tenha sido postado por um visitante no espaço para comentários.

Desta forma, a lei responsabiliza o site ou blog por todo e qualquer conteúdo veiculado, seja ele de autoria própria ou não. Em sites onde não há moderação, como é o caso das redes sociais, dos microblogs (twitter) e dos portais de vídeos, a situação poderá se tornar insustentável."

Da Revista Fórum (por Adriana Delorenzo):

"Imagine que num determinado dia você entra no seu blog favorito e se depara com o seguinte aviso: Este site está bloqueado.

(...) Na prática, se um blogueiro postar algum texto e for denunciado de violação ao
copyright, não só o endereço será bloqueado na internet, como todas as referências a ele, no Google, Twitter, Wikipédia, Facebook, Youtube.

Além da SOPA, outro projeto parecido tramita no Senado norte-americano, o Protect IP Act (PIPA). “Se o SOPA e o PIPA forem aprovados, será a primeira grande derrota da cultura da liberdade diante da cultura da permissão e do vigilantismo. Será um grande retrocesso para a criatividade e para a inovação da comunicação em rede”, diz [o ciberativista Sergio] Amadeu.

(...) No Brasil, o Projeto de Lei 84, de 1999, proposto pelo então senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), foi aprovado em 2003 na Câmara dos Deputados. Em 2008, um substitutivo ao projeto foi aprovado no Senado e, por isso, o PL voltou para a Câmara. Conhecida como Lei Azeredo ou AI-5 Digital, os críticos à proposta brasileira afirmam que ela coloca em risco a liberdade na internet, ao tipificar como crime práticas comuns, como o compartilhamento de música, além de atentar contra a privacidade. Em contrapartida, os ciberativistas vêm lutando pela aprovação do Marco Civil da Internet (PL 2126/2011)
."

Da Wikipédia:

(...) Entre os opositores estão as principais empresas que atuam na Internet como o Facebook, Twitter, Google, Yahoo!, LinkedIn, Mozilla, Wikimedia, Zynga, Amazon, eBay[6][7], Reddit[8], 4chan e 9GAG. Também organizações de direitos humanos, como Repórteres Sem Fronteiras e Human Rights Watch.

(...) Membros da administração do presidente estadunidense Barack Obama fizeram um anúncio online no qual dizem que não apoiarão legislações que reduzam a liberdade de expressão, aumentem o risco da ciber-segurança ou enfraqueçam a dinâmica e a inovação na Internet global[11].

Os defensores são os maiores grupos e empresas dependentes de direitos de autor nos Estados Unidos: Motion Picture Association of America, Recording Industry Association of America, Sony Pictures Entertainment, Time Warner, CBS entre outras.

14 comentários:

Paulo M disse...

É estranho terem os Estados Unidos precisado de tanto tempo de existência da Internet pra chegar à conclusão de que os direitos autorais estão mal regulamentados na rede. E de repente, assim, do nada, pretendem medidas drásticas, autoritárias e... Bem, deve ser maldade minha. Imagina... Descobriram agora a receita ideal da democracia e da bondade protestante e querem espalhar sua fé até mesmo entre palestinos... Mas não teria essa proposta de lei nem um pouco a ver com o medo do que o mundo possa saber sobre suas pretensões acerca do seu futuro e do futuro de todos? Se a Internet difunde tanta incerteza sobre as coisas que os americanos não dizem abertamente que estão fazendo, tipo projeto Haarp, por que simplesmente não vêm a público esclarecê-las? Cabe a eles dar o exemplo de democracia com atitudes, não com tropas. Ou estão com medo de ameaças do tipo Wikileaks? Sinceramente, está chegando a hora de alguém erguer a voz e dizer: Chega! Não é possível viver sempre vigiado por uma democracia que dizem ser herança do que Aristóteles nos ensinou. Eles são protagonistas da estupidez oculta desde o fim da segunda guerra mundial. Não vai ser sempre assim.

Unknown disse...

A sopa com o gosto mais amargo que já vi... o de censura e arrogância de quem se arvora a dono do planeta. Coremos essa sopa do cardápio... urgente!

Gabriel Megracko disse...

Que chovam aviões!
Mas a verdade é irrefutável: enquanto os homens de bem continuarem lutando pelos seus direitos no território do inimigo, estarão fadados, no mínimo, à melancolia e, no máximo, ao seu sangue escorrendo no meio-fio.
Senhores, tomem tento: o mundo fabricado pelo Estado é do Estado e, na pior circunstância, o Estado se suicida e mata todo mundo. Ou vocês acham que a esquerda algum dia terá o poder de desfabricar todas as bombas antes que sejam explodidas? A honra ferida e amargurada do moralismo provoca aquela ideia "eu vou mas levo todo mundo comigo". Agora eu falo praqueles que ingenuamente defenderam práticas que favoreceram, há milênios, a ascensão do Estado como ele é. A única via possível de satisfação pessoal e social é a deserção. Não lutem com seus corpos, não ponham suas caras na frente dos revólveres, porque eles vão atirar se você disser a coisa errada. De que vale a internet se ela pode ser monitorada? É só um mecanismo falho como era o telefone. É falho porque é equivocado desde o princípio: se fortunas são gastas para que a internet exista enquanto há crianças pretas decrépitas virando comida de abutre, nada vale a internet. Eu não pedi televisão, não pedi carros, não pedi prédios, não pedi papel para escrever livros, não pedi aceleradores de partículas, não pedi aviões nem bonecas infláveis, não pedi para o banco guardar meu dinheiro, não pedi hospitais e vai pra grana que pariu. Vocês já imaginaram se nada disso existisse, e a sociedade fosse relativamente justa, que se a vida fosse saudável e se evitasse até a morte a utilização da indústria farmacêutica que só dizem que é útil por ignorar que se tivéssemos desenvolvido apenas o nosso intelecto e o nosso conhecimento há cinco mil anos não precisaríamos de hospitais pra viver cem anos. Vão tomar nos cus os transplantes de coração! Vou morrer com o meu e virar comida de tubarão. Vou viver minha vida secreta e satisfeita e não quero mãos sujas encostando no meu cadáver.

Salvem os tibetanos, os feiticeiros e os artistas genuínos.
Passem bem.

Paulo M disse...

"Em retaliação, hackers do Anonymous tiram do ar site do FBI" era a notícia nos portais hoje cedo. Formidável.

Gabriel Megracko, teu comentário é poético, mas ausente. Os meios de comunicação são a mais abrangente maneira de manipular e manusear o poder instituído por quem espalha a fome pelo mundo. Se pensarmos assim, eles agradecerão... É como o anarquismo, que defende a bandeira da liberdade individual utópica, enquanto o capital defende a mesma bandeira (a liberdade individual, mas nada utópica) com custos altos para os povos no mundo todo. Temos que dominar a ciência, não rejeitá-la e deixar esse mar de conhecimento nas mãos de quem quer usá-lo pra nos empobrecer. Seria muito simples.

Eduardo Maretti disse...

Concordo com você, Paulo M. Ocorre-me, a propósito do individualismo, uma citação que vai aqui como metáfora (pois trata de um mundo muito diferente do mundo cibernético de hoje). É um clichê, mas às vezes os clichês são úteis. Trata-se do trecho do poema "No Caminho, com Maiakóvski", do brasileiro Eduardo Alves da Costa (atribuído equivocadamente a Bertold Brecht).

"Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."

Mayra disse...

Não sabia que o Gabriel era anarquista. Tudo certo. Tá na idade! Perdão, Gabriel, pela provocação, mas não dá pra levar muito a sério o ataque à tecnologia como fruto deplorável da ideologia. A tecnologia é uma bênção, os próprios índios já sabiam disso quando os brancos trouxeram a arma de fogo: ficou infinitamente mais fácil caçar e menos trabalhoso... Há uma lei do corpo humano que pede repouso sem dor; a tecnologia é um baita respeito a essa lei. Sem falar que pra quase todo mundo a máxima lacaniana "A vida é uma festa, pena que acaba" continua a valer com toda a força. Há 500 anos a vida média de um europeu era de 25/30 anos, hoje, é quanto mesmo? Bem, continuo comunista antiga, e fico com outra máxima, agora do companheiro Che, "Champagne para todos". É isso o que a teconologia ajuda a construir também: a igualdade, a justiça, a comunicação sagrada entre os homens. Isso é a internet hoje: o meio mais subversivo de luta e, tão importante quanto isso, o meio em que cada um, cada um mesmo, tem uma voz que pode ser compartilhada com muitos. O blog do Edu, onde a gente se acostumou a conversar, é um baita exemplo disso. Que luxo libertário, não?

Deixo aqui dois links ótimos sobre o tema O primeiro é um vídeo didático sobre o que é o SOPA:
http://www.youtube.com/watch?v=5fvwoHKj6cs&feature=share

O outro é um depoimento assustador sobre como a censura à internet já está rolando descaradamente:
http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-185840-2012-01-20.html

Eduardo Maretti disse...

Excelente, muito bom mesmo o artigo de Atilio A. Boron (no Página 12) linkado acima pela Mayra. Destaco as passagens abaixo (mas leiam o texto todo, vale a pena).

... nada hay más peligroso que un imperio en decadencia: se tornan más brutales, inmorales, inescrupulosos (...)
(...) Deben cortar la comunicación “desde abajo” y “entre los de abajo” porque saben muy bien que un prerrequisito para la organización de la resistencia ante –y la ofensiva contra– la burguesía imperial y sus secuaces en la periferia es precisamente la posibilidad de establecer comunicaciones e intercambiar informaciones entre los oprimidos y las víctimas del sistema.
(...)
(...) No por nada uno de los generales del ejército estadounidense declaró en una audiencia del Congreso que “hoy la lucha antisubversiva se libra en los medios”, uno de los cuales, tal vez el más importante, es la Internet. De ahí tantos controles.

alexandre disse...

Ai, nossa senhora, esperei por muitos e muitos anos para abrir uma cervejinha geladinha. Dia seguinte dor de cabeça, resfriado, sei lá, estava maus...recorri à santa aspirina.. Que seria de mim sem ela? Depois fui ouvir o melhor do rock, stones ., tudo isso associado ao culto original das ervas. Como é bom, da erva mate à camomila. Aí pensei que poderia mais tarde assistir ao melhor que se teria pra ver em vídeo. Coppola, Clint, Chaplin, herzog, Polanski, Woody Allen,etc, quanta riqueza, meu deus. Na atmosfera zem, recorri à tv, pois não havia mais chances de me encontrar, então deparei-me com um filme que já havia visto no cinema há alguns anos: Entrevista, de Federico Fellini. Estava no inicio, por sorte. Não tive nenhuma dúvida. Era o que minha alma precisava. Parece que algo me levou ao acaso, ou o acaso me levou a algo, qdo a esmo me fui à tv, sem mais esperança. Fui dormir pensando no cinema imprescindivel de Fellini., outro gênio.

Outras coisas. SOPA? Isso é coisa estranha, parece que surgem organisações para tudo. os "Anonymous", hein, Paulo m, parecem estar à frente. A mim resta assistir e torcer para os "Anonymous" nesse momento, numa guerra que pode se tornar algo sinistro. Mas parece se tornar num combate interessante. Sejamos bem vindos à nova era. A tecnologia é inevitável e também imprescindível, desde os primórdios, graças a Deus e ao ser humano, nefasto e magnífico.
E olha, edu, li o texto todo, muito interessante, ia comentar algo, mas vc já disse.

Eduardo Maretti disse...

De fato, Alexandre, "quanta riqueza". Entrevista de Fellini é lindo mesmo, quando vi (e vi 2 ou 3 vezes), me emocionei às lágrimas.

Toda essa riqueza, diga-se – no caso dos arquivos hoje disponíveis pra baixar da internet – corre riscos, pode ter o acesso muito dificultado por leis restritivas. Por isso o empenho de quem defende que a internet continue livre!

Abraços

Gabriel Megracko disse...

E o meu próprio blog? E se já a internet tá tão visada e a tendência... qual é? E todos os filmes do Fellini que eu mesmo vi? E os Karamazov? E os Beatles? E as gerações? E os contextos? E os conceitos, de socialistas a anárquicos? E as próprias formas hierárquico-anárquicas da natureza quântica? E aquela coisa "ingênua" que tá fora da "nova ordem mundial"? Eu uso os instrumentos que estão à minha disposição para estimular a desconstrução. Se a internet é materialmente produzida por mãos escravas, é algo que está fora do meu alcance individual, por ser este processo um organismo maior em tempo e espaço. Isso não quer dizer que eu não trocaria meu blog por uma condição global mais favorável a todos. Isso é uma logia de idéias que proporciona à ação objetiva, política, cotidiana uma aceleração no sentido evolutivo. Como filho da televisão e neto da internet, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que estes veículos são humanamente decadentes (não historicamente decadentes), porque não desempenham uma forma de comunicação leal; porque quando o negócio aperta, é no cara a cara que as paradas são decididas. Então, não tem essa de idade e de Fellini, porque o Buñuel concordaria comigo. A internet existe para comunicar, e não para ser sala de discussão. Claro, estou, relativamente, combatendo a minha própria ação virtual, mas isso não é contraditório, uma vez que agir utilizando artifícios produzidos por trabalho escravo industrial é bastante mais contraditório. A internet devia ser utilizada para que tivéssemos mais campo de ação em maior bloco unido, mas o que acontece é exatamente o que favorece a ascensão do Estado de Poder, em detrimento do Estado Social: a fragmentação do contato físico entre as pessoas, executada com incrível dissimulação, impregnada nos valores da Informação. E, pela zilhonésima vez as investidas da "esquerda" estão fazendo a "direita" se armar e se preparar e se precaver e premeditar e moralizar e criar novas leis e mudar de roupa e entrar sorrateira ou brutalmente nas nossas casas com BBB ou com a Polícia ou mesmo com o cancro social das Igrejas (todos acessíveis e possíveis de se trombar em qualquer esquina virtual legal e ilegal)... entretanto, tornando passível de interpretação a tendência do organismo Homem, que, repito, não se resume a um indivíduo, mas a um complexo biológico que vive há milhares de anos sob uma tendência suspeita e sempre por ele próprio contestada. Seria brincadeira de criança argumentar contra a privação dos direitos virtuais de ir e vir, mas a questão é que não posso estacar em uma fase do discurso simplesmente porque não há mais referências palpáveis, devo continuar reconsiderando e concebendo novos conceitos sem referências externas, quando não as tenho claras. É óbvio que sou a favor da boa utilização da internet, e principalmente sou a favor da conscientização, através da própria internet, de como todo esse aparato sai caro se não for utilizado com a única intenção de reduzir a dependência da matéria prima excessiva, e para isso é preciso muito desenvolvimento intelectual e espiritual. Deem uma sapeada por onde circula a grande massa de internautas e façam o balanço da qualidade das informações disponibilizadas. Vão ver que assim como em todos os veículos de informação, o que prevalece são os interesses daqueles que geram fisicamente a indústria informativa. Ou vocês acham que quando toda a população do mundo tiver acesso à internet, ela vai ser do povo? (continua)

Gabriel Megracko disse...

Reforçando: não é a internet que vai permitir uma grande reviravolta nos valores sociais. Mesmo a "Arte" é um veículo vendido. São as pessoas que podem gerir isto ou aquilo de forma natural e justa. Os mecanismos criados pelo Homem não têm nenhum valor ou defeito que Ele próprio não tenha.
Sobre isso de as iniciativas da "esquerda" acordarem a "direita", tem o esclarecedor Homem Revoltado, do Camus. O conflito não ocorre só entre nações ou entre homens diferentes, mas ocorre imediata e proporcionalmente dentro do próprio indivíduo. Ao lutar contra algo, ele luta exatamente contra o que há incorporado dentro dele mesmo e que se identifica, a contragosto, com o que ele combate, e quando ele abate o que o incomoda, imediatamente opera um pedaço seu e, ao contrário do que imaginou antes da luta, não pode reconstruir ou regenerar o que foi perdido e tem que aprender a aceitar a realidade absoluta e amargar um mundo para sempre vítima de um crime contra a ordem natural. O Hemingway entende muito bem isso.
Enfim, sem finail poético, desta vez, sem final nenhum... porque isso é um tema base e não começa nem acaba, nem quando a gente nasce nem quando a gente morre.

Eduardo Maretti disse...

Caro Megracko, francamente, foge à minha capacidade entender o que pode querer dizer "formas hierárquico-anárquicas da natureza quântica". Eu precisaria ler Kant e Fritjof Capra para tentar entender esse conceito, mas não vou ter tempo.

Também não entendo qual o motivo de seu combate. Por que combater a ideia aqui defendida pelas pessoas de que é preciso lutar por nossos direitos, direitos os quais você, eu e milhões usufruem, e que custaram luta e sangue de tantos? (Ghandi, Martin Luther King por exemplo, tantos no Brasil e no mundo). Nós vivemos ainda hoje sob a égide de valores que foram instaurados a partir do Renascimento e que politicamente culminaram na Revolução francesa em 1789. Isso são fatos, não pseudo-filosofia.

O que têm a ver Fellini, Karamazov,Beatles e as gerações com a necessidade de se lutar para que a internet continue livre e possamos estar aqui agora debatendo bobagens ou não?

Como assim, "a internet é materialmente produzida por mãos escravas"?

A questão não é "alcance individual".

A internet JÁ provocou uma grande reviravolta nos valores sociais, ela mudou o mundo e é disso que se trata concretamente nesta discussão. Se não fossem as mídias sociais, a internet, os blogs e a militância cibernética, POR EXEMPLO, você hoje seria um brasileiro governado pelo José Serra, e isso seria muito ruim para você e para o Brasil. E é disso que eles têm medo, é por isso que a direita quer aprovar no Congresso um projeto de lei apelidado pelos ciberativistas de AI 5 digital (informe-se) para limitar a internet livre. E é disso que estamos falando. E a militância contra esse projeto é importante, porque senão ele passa. Na França e na Espanha foram aprovadas leis restritivas. Nos EUA tentaram (o que seria catastrófico, pelo poder político dos Estados Unidos), mas a repercussão mundial provocada por pessoas que vão desde esse humilde blogueiro, como muitos e muitos outros, até grandes empresas como Wikipédia e Google (você usa Wikipédia e Google?) fez com que o deputado republicano recuasse. Isso foi uma vitória, parcial ainda, porque a luta continua de ambos os lados.

Buñuel não tem nada a ver com isso,ele morreu há muito tempo, portanto não pode concordar com quem quer que seja sobre a discussão aqui travada. Ele morreu antes de existir internet, que é do que se está falando neste post. Hemingway e Camus (que viveu um período historicamente muito específico, era um argelino que viveu a opressão colonialista da França sobre seu país) entendiam de muitas coisas, mas como Buñuel eles estão mortos.

Salve a liberdade, para que todos (inclusive tibetanos, feiticeiros e os artistas genuínos) possam se manifestar e manifestar sua cultura, sua arte e seus costumes.

Gabriel Megracko disse...

Caro e caros...

Esse discurso não é nem um pouco contra o tema proposto aqui. Ao contrário disso, sua intenção é abrir, justamente em um campo em que confio, possibilidades de se acelerar e enraizar o processo pelo qual lutamos todos juntos. É longo falar de internet, porque dentro dela há todo um complexo de caminhos possíveis. Neste lugar-comum, Fatos Etc., há a união de um bloco informado, porque ele comunica. Não é uma sala de discussão, não é isso o que disse. É por isso que me arrisco a ir um pouco mais adiante.
Milito pelas mesmas coisas que vocês, diariamente, na medida das possibilidades de comunicação, mas sempre que possível. Essa oposição suposta por você, Edu, não é real. Não faço uma oposição, só fiz um gancho para uma questão seguinte, que seria "e uma vez tendo a internet 'nas mãos', o que é feito dela?" Não estou falando de você, de mim e dos companheiros, estou falando que por trás dessa aparente liberdade está escondido um tempo obscuro, em que a chuva de "grandes ideias" que circulam pelos meios virtuais dilui as coisas que de fato importam. Você acha que somos maioria? O resultado final da internet é mais ou menos o mesmo que tiveram os demais veículos controlados pelas grandes empresas. O que movimenta a internet não são a cultura e a arte, são os grandes negócios, porque sem eles a internet não se sustentaria, porque se ela não desse lucro, mesmo que fique no zero de lucro e déficit, não interessaria. Gostaria muito de acreditar que toda a liberdade que a internet dá, ela também não tira... mas não sei... Mas é óbvio que não tenho nada que tirar do seu post. Só estou levantando a questão de se essa não seria mais uma luta que no final acaba com algumas "vitórias" concedidas apenas para baixar a poeira. É óbvio também que na minha opinião este lugar-comum agrega pessoas que fazem bom uso da internet e têm sempre um sentido evolutivo, às vezes mais acelerado, às vezes menos, mas nunca contra o desenvolvimento material ou espiritual. E claro, não estou desistindo de lutar, só continuo propondo a luta pela deserção desse mundo supersaturado... e propondo a formação de núcleos independentes, na internet ou fora dela. O problema é que na internet nunca se tem paz para elaborar uma cultura independente sem interferências propositais e despropositadas. Não sei se foi a internet a responsável pelo movimento que se arma no mundo. Acredito mais nas pessoas que diariamente militam pela compreensão da vida. A internet é um veículo como em outros tempos foi a imprensa. E se me tiram esse veículo, "eu invento outro". (continua)

Gabriel Megracko disse...

E, me explicando, pra não parecer charlatanice, por "formas hierárquico-anárquicas da natureza quântica", quero dizer que, mesmo considerando a organização da vida pelo prisma quântico --- ou seja, as formas elementares de formação da natureza (luz, tempo, sistemas do micro, como o do átomo e sistemas do macro, como o do sistema solar, paralelamente etc), o que, se pensado juntamente com a realidade social, gera uma concepção anárquica de organização --- ainda assim, nos processos anárquicos de organização há a hierarquia na manifestação da matéria e da energia. E isso está levantado no meio de tantos outros temas aos quais temos acesso através da internet: "E o meu próprio blog? E todos os filmes do Fellini? E os Karamazov? E os Beatles? E as gerações? E os contextos? E os conceitos, de socialistas a anárquicos? E aquela coisa 'ingênua' que tá fora da 'nova ordem mundial'?" Quero dizer que reconheço o valor da internet quanto a ser fonte de conhecimento, e depois levanto a hipótese de a internet ser, acima de tudo, um interesse de mercado... e a massa de internautas não está nem aí para o que nós temos a informar, e quando o negócio aperta, quem faz congresso, assim como a um século atrás foi feito com a maconha, são os Estados Unidos e seus cúmplices de interesses. Ou seja, dentro e fora da internet, quem manda é a força bruta, virtual ou real. E, como a internet, em termos de material, é gerida por caras e órgãos cujo lucro e a reputação estarão sempre acima dos interesses do conhecimento, tem o fato de algumas coisas básicas serem obscurecidas. Mesmo sendo a internet toda essa fonte de informação que é, não ensina, por exemplo (ou, se ensina, é sem dúvida uma contrapartida), que é a partir do contato vivo entre as pessoas que as mudanças (revoluções, transformações etc.) podem ser elaboradas sem serem desvirtuadas em seu período de gestação.
Fui claro? Rsss... não muito, né... Não me levem a mal. Não é porque vocês, e outros que não são frequentadores tão assíduos, são meus grandes amigos que vou deixar de forçar um pouco.

Beijos.