terça-feira, 31 de janeiro de 2012

De ótimo humor, Dilma concede coletiva em Cuba


Como se sabe, a presidente Dilma Rousseff não foi a Davos, na semana passada, enquanto, em clara sinalização da condução de seu governo à esquerda, confirmava presença no Fórum Social Mundial em Porto alegre e sua visita (primeira oficial) a Cuba, onde está hoje, terça-feira, 31. Na Ilha de Fidel Castro, Dilma deu excelente entrevista coletiva, em que fala de política internacional, sobre direitos humanos e as relações Brasil-Cuba. Com ótimo humor (nunca vi Dilma rir tanto), ela não conseguiu conter o riso em alguns momentos.

Trechos:

"Vamos começar a falar de direitos humanos no Brasil, vamos começar a falar de direitos humanos nos Estados Unidos, a respeito de uma base aqui [Cuba] chamada Guantánamo, vamos falar de direitos humanos em todos os lugares."

"Interessante a forma como a mídia analisa meus atos. Eu fico estarrecida", afirmou, entre risos que não conseguiu conter, ao responder uma pergunta inaudível, mas que provavelmente criticava sua política internacional, para completar: "O Brasil faz política internacional com todos os países.Somos um povo pacífico."

Dilma termina a entrevista dando risada, ao ser questionada sobre a situação do ministro das Cidades, Mário Negromonte, acusado de irregularidades: "Vocês são insistentes, inteligentes e rápidos", disse a presidente, sem conseguir segurar um ataque de riso. Depois, emendou: "as questões relativas ao Brasil discutimos no Brasil, a partir de quinta-feira".

Veja a entrevista:

3 comentários:

Paulo M disse...

"Concordo em falar de direitos humanos dentro de uma perspectiva multilateral." Essa frase é fundamental, porque há décadas engolimos uma perspectiva de direitos humanos ditada unilateralmente pelo Norte, pelos EUA, segundo SUAS perspectivas. O Brasil vai a Cuba ajudar e receber ajuda em troca, não sugar ou impor sanções com ameaça de bombardear crianças e mulheres grávidas levando na mala o argumento eterno e universal dos direitos humanos. O povo brasileiro está bem representado, pela Dilma, em seu espírito humano, receptivo e pacífico.

Felipe Cabañas da Silva disse...

É, de fato, muito hipócrita esse alvoroço brasileiro em criticar os direitos humanos em Cuba, sendo que as condições carcerárias de 99% dos presos no Brasil estão muito longe de ser um exemplo humanitário. Ninguém fala, por exemplo, que prisão brasileira não dá alimento para preso em dia de visitas. Nesses dias, são obrigados a comer o que levam as visitas, e se eles não tiverem visitas, ou passam fome, ou comem restos dos outros.
É também muito comum presos não serem alimentados em dias de audiência, para não terem forças de se defender ou reagir. Ou que a tortura continua sim sendo um método empregado no Brasil pelas forças da ordem, para arrancar confissões ou informações. Os métodos e a intensidade podem ter mudado, mas a essência é a mesma: impingir dor física ou psicológica a fim de obter o resultado procurado.
Enfim, exemplos de violações de direitos humanos temos às centenas tanto em Cuba como no Brasil ou nos EUA, como bem coloca a Presidente.

Uma mazela, porém, não justifica a outra. O regime cubano é, de fato, jurássico, e precisa ser criticado em diversas matérias. A esquerda latino-americana parece que ainda tem medo de criticar o velho partidão cubano, e tende a cair no conto do vigário de que qualquer crítica a Cuba, no Brasil por exemplo, é uma conspiração anticomunista por parte da imprensa burguesa, o que termina constituindo nada mais que uma crítica rasteira que não contribui em nada.

Agora o regime cubano viu que ou abre as portas ao capitalismo ou colapsa, e a tendência é que Cuba siga o modelo chinês: o pior do capitalismo junto com o pior do socialismo, ou seja, um capitalismo selvagem na economia e na política aquele velho socialismo dogmático, antidemocrático e aferrado a ideias fossilizadas.

E tem dirigente cubano ainda discursando que "a revolução está só começando". Eu acho que a diplomacia dilmista vai no caminho correto de fazer política internacional com todos, mas não pode deixar que essas relações pareçam uma mera legitimação das ideias do outro. Nesse sentido, acho que o Brasil pode ter um papel democrático interessante, não deixando de colocar as necessárias críticas.

Eduardo Maretti disse...

Concordo em parte com suas ponderações, Felipe. Como diria minha vó Emiliana, "nem tanto ao céu, nem tanto à terra".

Mas não estou pessimista em relação a Cuba. Pelo contrário. Não acho de modo algum que a tendência de Cuba seja seguir um modelo, segundo tu (como diria um santista de Santos - hehe), "o pior do capitalismo junto com o pior do socialismo". É muito diferente. A China se impõe ao mundo, com sua mão-de-obra semi-escrava, sua política protecionista em larga escala etc. etc., como sabemos. Já Cuba é um país pequeno, que tem a apresentar ao mundo, por exemplo, sua medicina de ponta na qual, inclusive, personalidades importantes vão se tratar de diversas moléstias, mas é um país repito pequeno, sufocado por um bloqueio canalha há 5 décadas, que dependeu da União Soviética até a queda do Muro de Berlim e hoje depende do grande Brasil que é a potência da América Latina atual. Cuba vai preservar suas características tropicais, acho que vai evoluir para uma democracia que preservará também os valores da revolução.